O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

The Beliefs of the Blob - Christopher J. Fettweis (Foreign Policy Research Institut - Elsevier)

Vou disponibilizar esse importante artigo por completo. Aguardem. 

The Beliefs of the Blob

https://doi.org/10.1016/j.orbis.2022.12.006Get rights and content

Abstract

The conventional wisdom of US foreign policy has at its core a set of widely held yet underexamined beliefs. Together, these notions constitute the essence of what has become tendentiously known as “the blob,” or the official mind of US national security. Debates and analyses can proceed more productively if foreign policy beliefs, rather than the people who hold them, are moved to the center of analysis. The blob is a mindset, not a group of individuals—one that is based on a few basic assumptions about the world and the United States’ place in it. This article describes what those beliefs are and how they influence US foreign policy.

Access through your organization

Check access to the full text by signing in through your organization.

Access through your organization

Section snippets

Beliefs and International Behavior

As long as people run countries, beliefs will explain behavior of states. In their simplest form, beliefs are ideas that have become internalized and accepted as true, often without much further analysis.

Belief #1: The United States Is the Indispensable Nation. It Must Lead the World.

The first, most basic blob belief is that the United States is not a normal country in a normal time. And to the extent that it is abnormal, of course, it is better. Americans have always combined a feeling of divine providence with a mission to spread their ideals around the world and battle evil wherever it lurks. It is this sense of a destiny, of history’s call, that most obviously separates the United States from other countries. It would not occur to the lead diplomat of other counties to

Belief #2: The World Is Dangerous

The second major blob belief concerns the security environment in which the indispensable nation finds itself. Although the evidence regarding international conflict and violence may indicate that the world is a more peaceful place than ever before, few in the blob agree.

Belief #3: Our Rivals are Realists

Former US National Security Advisor John Bolton gave voice to one of the iron rules of perception in international politics when he said in June 2020 that “other world leaders are hardcore realists.”24 Indeed, for members of the blob, the other is always a “realist.” We have principles that drive our decisions, but they act almost exclusively in pursuit of their interests. This is particularly true for any state with which we have even a mild...

Belief #4: Robust US Engagement Mitigates Global Turmoil

The world wars supposedly taught future American grand strategists two lessons: First, without active US involvement, the Old World will descend into chaos; and second, it is an illusion to believe that the United States can remain aloof from such chaos. ...

Belief #5: Credibility Is a Valuable Asset Worth Fighting For

During a press conference in August 2012, President Barack Obama famously (or infamously) noted that his administration had been very clear to the Assad regime in Syria that “a red line for us is we start seeing a whole bunch of chemical weapons moving around or being utilized.” If that happened, he said, it “would change my calculus. That would change my equation.”

Belief #6: Dictators Should Not Be Appeased

Our national obsession with credibility contributes to the final central belief of the blob. Of the many apparent lessons people learned from World War II, none is more important to the official mind than those relating to the Munich conference of 1938. The common narrative goes like this: British Prime Minister Neville Chamberlain led an allied coalition that backed down in the face of Adolf Hitler’s demand to annex part of Czechoslovakia. This appeasement, or irresolution in the face of...

Looking to the Future

Better policy will not come by replacing the professionals with amateurs but rather by improving the profession—by asking those devising and executing US foreign policy to examine their most basic beliefs. Policymakers, like everyone else, have little time to contemplate the assumptions upon which their worldview is built. But if they do not, if they instead carry on under the impression that their underexamined beliefs reflect international reality, then the United States will careen from

(...)

Azerbaijão: a esquina de Dede Korkut na Rota das Sedas - Paulo Antonio Pereira Pinto

Azerbaijão: a esquina de Dede Korkut na Rota das Sedas

 

Paulo Antonio Pereira Pinto

Embaixador aposentado; serviu no Cáucaso.

 

Quem são, no Azerbaijão, os azeris: turcos iranianos ou iranianos turcos? Consta que, no início da formação desta nacionalidade, lá pelo Século XIV, o bom ancião Dede Korkut ficava, em área hoje ocupada pelo país, na esquina da Rota das Sedas, e “narrando, espalhava por toda a parte” a epopeia deste povo tão antigo.

A questão não tem apenas o interesse literário sobre a principal narrativa oral dos “povos turcos” – entre eles os azeris, que reverenciam a imagem de Dede Korkut.

Isto porque, o Azerbaijão, como outros estados que se emanciparam da União Soviética, a partir da década de 1990, enfrentam hoje, entre outros, os problemas do estabelecimento de identidades nacionais viáveis e da reconstrução de suas instituições culturais e educacionais – conforme tenho reiterado em sucessivos artigos publicados neste espaço.

                                                       II

Ademais, aquele país vive momento de crescente inserção econômica internacional, em virtude de crescente importância estratégica de seus recursos energéticos. Começa também a participar ativamente da pauta multilateral referente a mudanças climáticas, enquanto se candidata a membro dos BRICS.

O Azerbaijão é palco de história rica e antiga e, da mesma forma que seus vizinhos no Cáucaso, tem sido cenário de batalhas há mais de um milênio. Há evidência de ocupação humana em seu território, desde a Idade da Pedra.

Localizada na convergência de diferentes civilizações, a região foi invadida e disputada por grandes impérios e personagens famosos, como Alexandre o Grande, o General Romano Pompeu, o conquistador mongol Gengis Khan, e o Tzar Pedro o Grande. 

Cartograficamente, o Azerbaijão estende-se do Noroeste do Irã, ao Mar Cáspio, a Leste. Faz fronteira, a Oeste, com a Armênia e Turquia. Ao Norte, situam-se a Geórgia e a Rússia. A nação azeri encontra-se, hoje, dividida em duas partes. A que ocupa o território do país independente, a partir de 1991. E ao Sul, a que habita na parte meridional iraniana. Esta divisão ocorreu em 1828, a partir de tratado entre os Impérios da Pérsia e da Rússia.

Apenas cerca de oito milhões dos nacionais azeris vivem no Azerbaijão. Entre 20 e 30 milhões habitam, ao Sul, no Irã. Estima-se, ainda, que quase dois milhões se encontrem na Turquia e número idêntico na Rússia. Grupos significativos residem na Geórgia, Iraque e Ucrânia.

Há versões distintas sobre a origem étnica desta população, cuja língua é conhecida como azeri e, hoje, segue, majoritariamente o Islã Xiita. 

Hoje, o Azerbaijão, quando reconhecido, conforme mencionado em texto meu anterior, é identificado por situar-se na “esquina do mundo”.

Especialistas e simpatizantes identificam, naquele país, fronteiras entre a Europa e a Ásia, entre o Ocidente e o Oriente, entre o Mundo Cristão e o Muçulmano, entre áreas de influências atuais da Rússia, Irã e Turquia e, na condição de ex-integrante da União Soviética, entre um sistema centralmente planificado e um de economia de mercado. 

                                                              III

Daí, ser importante encontrar algo que defina a identidade cultural azeri. Este esforço leva, inevitavelmente, ao estudo do personagem Dede Korkut.

Trata-se da figura maior da história épica dos oguzes, que  formaram um dos principais ramos dos povos túrquicos, entre os séculos VIII e XI, e são considerados  ancestrais dos turcos modernos. Estes incluem, entre outros: azeris, turcos da Turquia, turcomenos, turcos qashqais do Irã, turcos do Khorassan e gagaúzes, que, em conjunto, representam mais de 100 milhões de pessoas.

 As narrativas místicas fazem parte da herança cultural dos “Estados turcos”, que incluem, hoje, a Turquia, o Azerbaijão e o Turcomenistão, e, em menor grau, o Casaquistão e o Kyrgystão. Para os povos que se consideram turcos, especialmente os que se identificam como “oguzes”, o livro Dede Korkut é o principal registro de sua identidade étnica, história, costumes e de seus sistemas de valores, através da História.

Nos contos, lugares, batalhas, armas, intrigas, cavalos, palácios, fontes e jardins saltam à imaginação. O leitor, então, passa a sonhar como se estivesse assistindo a um filme. Trata-se, como já foi dito, de uma película épica, a definir a consciência coletiva de um povo. Segundo especialistas no assunto, Dede Korkut teria, para o mundo turco e, nesse contexto, para a nacionalidade azeri, o mesmo papel de definição de uma identidade unificadora, que, no Ocidente teriam tido epopeias como a Ilíada e a Odisseia. 

Várias datas são sugeridas para o desenrolar das narrativas de Dede Korkut. A maioria dos estudiosos concordaria que o período mais provável seria o do século XV, na medida em que as tradições orais mencionadas registrariam conflitos entre os oguzes e seus rivais turcos na Ásia Central. Outros autores, no entanto, situam os acontecimentos como ocorridos ainda nos século VIII. A grande dificuldade para o estabelecimento mais preciso das datas deve-se ao fato de que os povos em questão eram nômades, sem deixarem registros por escrito, prevalecendo as narrativas orais.

Os contos épicos de Dede Korkut encontram-se entre os melhores, registrados oralmente, na língua turca. Para especialistas, não há dúvida de que os fatos ocorridos teriam acontecido no território, hoje ocupado pelo Azerbaijão. Na esquina da Rota das Sedas, conforme já foi dito, por ser Baku, então, centro comercial da maior importância, no intercâmbio de bens e convergência de culturas, entre a Europa e a Ásia Central.

Tratam de lutas pela liberdade em época durante a qual os oguzes eram um povo pastoril, em fase de transição para o conceito de uma etnia turca mais ampla. Ocorria, mais uma vez, de um ponto de inflexão na história da região – enquanto o Islã começava a predominar na região, coincidindo com a adoção de um estilo de vida mais sedentário, possivelmente no século XIV.

Hoje publicado em diferentes idiomas, o Dede Korkut registra, como já mencionado, narrativas orais, ora com escritos em prosa, ora em versos. Conclui-se que a epopeia é composta por dezesseis histórias. As doze principais compreendem período posterior à adoção do Islã, pelos turcos. Os heróis, portanto, são retratados como “bons muçulmanos”, enquanto há referências aos infiéis, como vilões. Mas há referências, também a mitologia prevalecente no período anterior à introdução do Islã. 

O personagem Dede Korkut é entendido como o “Vovô Korkut”, uma mistura de curandeiro, profeta e narrador de estórias. É desenhado como um respeitável idoso, de cabelos e barbas brancos. O décimo segundo capítulo faz a compilação de dizeres atribuídos a ele. Representa, portanto, um líder mais velho – conselheiro ou sábio – resolvendo as dificuldades com as quais se confrontam os membros da tribo.

No Brasil, foi publicado um primeiro livro de autor azeri, “O Manuscrito Inacabado”, escrito pelo Prof. Kamal Abdullayev[1], tendo, como pano de fundo, tramas da referida epopeia. Segundo o Prof. Claude Allibert, a obra relata parte desta tradição oral “neste momento em que, a nação azerbaijana reencontra sua identidade, resgata o passado épico e o articula com o presente de um povo que recupera suas raízes”.

Sempre de acordo com o já citado Prof. Claude Allibert, a epopeia Dede Korkut é recitada desde o século IX “atualizada através de técnicas narrativas modernas: micronarrativas, pluralidade de narradores, mudanças de épocas repentinas, retomada de uma mesma passagem que se completa em seguida, adoção de diferentes pontos de vista em torno de uma mesma situação, o que deixa um importante trabalho de compreensão ao leitor, que deve construir sua própria interpretação. A astúcia, a crueldade, e a beleza de certa violência guerreira, nem sempre contida, podendo explodir de modo brutal nos confrontos e nos castigos demoníacos, recobrem a atmosfera oriental arcaica que remete o leitor europeu à história mongol.” 

                                                                  IV

Retorna-se, neste ponto, ao argumento citado acima sobre a problemática atual dos estados emancipados da URSS, no que diz respeito à recuperação de suas identidades nacionais e reconstrução de mecanismos institucionais.

Cabe recordar, a propósito, que, na década de 1960, quando se tornaram independentes a maioria das ex-colônias europeias, na Ásia e África, havia um mundo bipolarizado com escolhas de sistemas de governança mais simples e bem definidos: o socialista ou o capitalista. Era, então, possível a um país recém-independente escolher, como modelo, um ou outro. Como consequência, um poderoso aliado e grupo significativo de simpatizantes era imediatamente adquirido.

Quando emergiram da União Soviética, no entanto, as novas repúblicas tiveram que inserir-se, a partir de 1991, em emaranhado de “geometrias político-econômicas variáveis”, que não lhes garantia aliados automáticos. 

 Além disso, com a globalização já em vigor, receberam prontas cobranças sobre como adotar modernas legislações para formas de governança que respeitassem direitos humanos, meio ambiente, propriedades industriais e intelectuais e outras maneiras de comportamento internacional então aceitáveis. 

Conforme já foi dito em texto anterior, o Azerbaijão vive momento de crescente inserção econômica internacional, em virtude da importância estratégica de seus recursos energéticos. Este esforço, no entanto, não é descolado do exercício de resgate de sua identidade cultural.  Daí, a reflexão sobre suas tradições, como narrativas orais, não desperta apenas curiosidade literária.

Há historiadores que afirmam ter Dede Korkut vivido, no século XIV, ao Sul do Cáucaso, por 295 anos. Chego a acreditar, pois, visitei em 2011 – como Embaixador do Brasil - a região de montanhas de Lerik, na parte meridional do Azerbaijão, onde existe uma povoação conhecida pela longevidade de seus habitantes, vários com mais de 100 anos de idade. Isto seria explicado por um microclima que combinaria umidade, tipo de alimentação, um determinado chá, mel de abelhas raras, muitas caminhadas e qualidade de água.

Lá encontrei um cidadão que alegava ter 137 anos. Entre as perguntas rotineiras que lhe formulei, ficou a relativa à melhor época de sua vida. Criticou, a propósito, a parte final do Império Russo, no início do século passado, que abraçava então o Sul do Cáucaso, sem oferecer boas condições materiais à população azeri. 

Bom mesmo, para sua vizinhança - alegou politicamente correto - tem sido o período iniciado com a liderança atual da família Aliyev, autoritariamente no poder em Baku, a partir de 1993.

 

[1]  O Manuscrito Inacabado. Por Kamal Abdullayev. Ideia. João Pessoa. 2009. 


Para onde vão os BRICS? - Andrés Sérbin (Academia.Edu)

Para onde vão os BRICS?

Andrés Sérbin

Academia.Edu, 28/10/2024

 

https://www.mundomultipolar.org/2024/11/andres-serbin-para-onde-vao-os-brics.html

Ao mencionar a recente cimeira dos BRICS+ em Kazan, muitos meios de comunicação e analistas ocidentais parecem prestar mais atenção ao fato de a Rússia, ao conseguir a participação de 36 países na reunião, ter tentado mostrar que não está isolada internacionalmente, apesar da guerra com a Ucrânia e Sanções ocidentais. 

Mas para além do facto de este ser um aspecto importante no esforço feito por Moscou para uma realização bem sucedida da cúpula e da abundância de análises descritivas focadas no peso geopolítico e econômico dos BRICS+ no processo de transição global, muitas vezes perde-se de vista do facto de que a emergência dos BRICS desde o início do século e a sua subsequente expansão e peso crescente se devem não só a um interesse geopolítico das economias emergentes mas também à necessidade de participar de forma mais inclusiva nos mecanismos globais capaz de enfrentar outros aspectos da policrise que acompanha esta transição: cooperação econômica, desenvolvimento, alterações climáticas, fluxos migratórios, conectividade noutros espaços geográficos e transformação tecnológica, entre outros.

É por isso que a agenda desta cúpula dos BRICS abordou questões geoeconômicas e de desenvolvimento, juntamente com a necessidade de promover um multilateralismo eficaz no quadro de uma das dimensões da policrise global – a crise dos mecanismos de governação global associados à ONU e a Bretton Woods promovida e desenvolvido pelo Ocidente e a complexa transição para um mundo multipolar. 

Neste sentido, porém, muitos dos participantes sublinharam que o estabelecimento de uma ordem mundial mais inclusiva “não vai contra ninguém”, mas antes procura reposicionar os atores emergentes no funcionamento desta nova ordem. Entre outras razões, porque não existe um consenso claro no grupo sobre a estrutura que um sistema multipolar irá adoptar no quadro desta transição.

Os BRICS+ não são um bloco homogêneo e de facto, embora nesta cúpula tenham decidido incorporar novos países “parceiros”, funciona como um clube de economias emergentes com queixas pendentes em relação ao Ocidente, mas sem a coesão necessária para avançar alguns pontos altos de sua agenda. 

Mas como aponta um analista, o bloco é, ao mesmo tempo, um laboratório no qual experimenta o desenvolvimento de novos mecanismos, plataformas e instituições, num deslocamento do modelo ocidental de governança global para um que reúne predominantemente nações com um peso crescente na economia internacional.

Os contornos deste modelo – predominantemente eurasiano – diferem e apresentam nuances distintas entre os países membros do bloco. Em primeiro lugar, porque nem todos concordam com uma narrativa radicalmente antiocidental e em muitos casos optam por desenvolver, em busca de alternativas à ordem mundial existente, uma visão não ocidental com características próprias. 

Em segundo lugar, porque apesar dos apelos que os BRICS+ aspiram a serem os porta-vozes do Sul Global, há uma diferenciação entre o chamado Oriente Global – representado pela China, Rússia e Irã – com narrativas manifestamente antiocidentais mas com nuances próprias , e um Sul Global heterogéneo dos países emergentes da Ásia, África e América Latina que em muitos casos estão associados a uma posição de não alinhamento e que procuram nos BRICS equilibrar e expandir as suas relações num mundo interdependente mas cada vez mais multipolar. 

E em terceiro lugar, porque para além da diversidade geográfica dos actuais membros do BRICS+, o peso da componente Oriente Global faz com que o bloco aspire a uma maior sinergia com instituições predominantemente eurasianas como a Organização de Cooperação de Xangai (OCS), com a qual existe uma convergência crescente. sobre questões geoeconômicas está a desenvolver-se sob a liderança do conjunto China-Rússia; como a convergência entre a União Económica Eurasiática promovida pela Rússia e a Iniciativa Nova da Rota da Seda (ou Belt and Road Iniciative) desenvolvida pela China, e mesmo como a ASEAN que tenta equilibrar os seus laços com a China e o Ocidente. Só para citar alguns. 

Esta procura de sinergias com organizações regionais não ocidentais, juntamente com o desenvolvimento de diferentes e crescentes mecanismos para o desenvolvimento de infra-estruturas e conectividade, transformam a Eurásia numa complexa rede de interligações institucionais e comerciais que inclui a Rota das Estepes promovida pela Mongólia até ao corredor entre a China e Paquistão e que se projecta cada vez mais em África.

É neste quadro que é necessário colocar a aspiração não só de reformar a atual estrutura da ordem internacional, mas também a intenção de gerar e promover mecanismos financeiros como o Novo Banco de Desenvolvimento ou o Fundo de Contingência que possam apoiar países em desenvolvimento; tenta procurar alternativas à primazia do dólar e do SWIFT para evitar o impacto das sanções ocidentais, através da utilização de moedas nacionais no bloco ou do mecanismo de uma ponte BRICS (BRIDGE BRICS) e, eventualmente, de uma moeda digital comum – ainda em desenvolvimento. 

Todos eles – juntamente com outros que provavelmente surgirão no futuro – visam efectivamente pensar no BRICS+ mais como um laboratório, de desenvolvimentos e contribuições desiguais entre membros ou parceiros diferentes nas suas capacidades, mas claramente orientados para a reforma – a partir de não-narrativas e propósitos sempre coincidentes - o sistema internacional, apelando ao multilateralismo e à paz, apesar do crescimento das guerras em curso na Europa e, especialmente, como destaca o documento final, no Médio Oriente.

Em todo o caso, a declaração final da cúpula não só destaca o peso geopolítico decisivo do BRICS+ - agora ampliado com uma série de “países parceiros” - e a expansão dos vários espaços e plataformas que tenta gerar, mas também dá alternativas específicas que aprovou promover. 

Estas incluem a criação de uma bolsa de cereais do BRICS, iniciativas de pagamentos transfronteiriços, o potencial desenvolvimento de uma infra-estrutura comum de liquidação e depósito e o primeiro exercício cibernético transfronteiriço. 

Neste quadro, algumas projeções preveem – para quase metade da população mundial – que o crescimento médio anual do PIB dos países membros do bloco atingirá mais de 4% na próxima década; que a sua participação no comércio mundial aumentará de 16% para 25% até 2030, e que até 2035 mais de 1,5 trilhões de dólares serão atribuídos a investimentos em infra-estruturas. 

Considerando que atualmente, com a inclusão pendente da Arábia Saudita, os países BRICS representam cerca de 44% das reservas comprovadas de petróleo do mundo; 53% das reservas de gás natural, com números semelhantes ou superiores em termos de produção de cobre, platina, paládio e terras raras, e que são os principais produtores de trigo e arroz, o seu peso geoeconómico torna-se decisivo, possibilitando o desenvolvimento de novas experiências de “laboratório” na transição para um mundo multipolar e exige maior participação das economias emergentes na direção e tomada de decisões dos mecanismos multilaterais. 

Perspectivas altamente promissoras se as tensões e disputas entre alguns dos seus membros, como é o caso dos dois mais populosos - Índia e China, que acabam de assinar um acordo de patrulha fronteiriça - não condicionarem a construção de consensos e se for evitada uma expansão. uso indiscriminado do bloco que pode afetar sua progressiva institucionalização.

Apesar destas diferenças e tensões e dos múltiplos desafios pendentes, a cúpula de Kazan não só mostrou que a Rússia continua a ser uma potência líder na dinâmica internacional, mas também sinalizou claramente que o mundo está a tornar-se cada vez mais num sistema multipolar, no qual a participação dos BRICS+ e dos seus novos parceiros contribui decisivamente.


Andrés Serbin, professor de origem argentina, é presidente do Conselho Acadêmico do CRIES (Coordenadoria Regional de Pesquisas Econômicas e Sociais), da Universidade Central de Venezuela e autor de “Eurásia e América Latina em um mundo multipolar”

Fonte orginal:

https://www.academia.edu/125159474/Hacia_d%C3%B3nde_van_los_BRICS


Tratamento para o analfabetismo democrático: De Baruch de Spinoza a Amartya Sen - Augusto de Franco (revista Inteligência Democrática)

 

Tratamento para o analfabetismo democrático

De Baruch de Spinoza a Amartya Sen




Esta nota é uma mera sugestão pedagógico-terapêutica

Posologia

1 - Imprimir a imagem acima e colar na parede.

Revista ID é uma publicação apoiada pelos leitores. Para receber novos posts e apoiar meu trabalho, considere tornar-se uma assinatura gratuita ou uma assinatura paga.

2 - Começar a ler: um autor por mês (uma obra principal, em alguns casos, no máximo, duas).

3 - Se começar agora, no final de 2026 talvez o tratamento abaixo acabe.

Obras principais

De Baruch de Spinoza a Amartya Sen, para ficar até o final do século 20. 

Atenção, os links abaixo levam para as obras inteiras (em PDF ou HTML), mas às vezes para as partes principais com comentários.


Esta nota foi redigida por Augusto de Franco, do staff de Inteligência Democrática. 

Revista ID é uma publicação apoiada pelos leitores. Para receber novos posts e apoiar meu trabalho, considere tornar-se uma assinatura gratuita ou uma assinatura paga.