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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

O MRE (EA) pretende recrudescer contra Paulo Roberto de Almeida: AGU quer ser ouvida pelo juiz antecipadamente

Esta petição, transcrita abaixo, é algo INCOMUM, em processos desse tipo, ou seja: a União, no caso a AGU, atuando em nome do MRE, pretende SER OUVIDA antes que o juiz tome uma decisão, o que significa que o EA pretende recrudescer contra mim, neste processo e em prováveis novos processos que eles inventarão para calar a minha voz.
Agora, a AGU antecipa-se a qualquer decisão a ser tomada pelo juiz da 16a Vara, interpondo-se a qualquer decisão, o que além de ser algo absolutamente incomum, revela, na verdade, a intenção do MRE de reincidir e de recrudescer na perseguição contra mim, pretendendo então tratar o meu caso de forma diferente dos demais.
Com a palavra o Juíz (que não é de Berlim, mas de Brasília)
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 de abril de 2020


Petição Intercorrente da União – Processo: Paulo Roberto de Almeida

 

Número: 1018553-97.2020.4.01.3400

Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL

Órgão julgador: 16ª Vara Federal Cível da SJDF

Última distribuição: 31/03/2020

Valor da causa: R$ 50.000,00

Assuntos: Lotação, Descontos Indevidos, De Ofício

Segredo de justiça? NÃO - Justiça gratuita? NÃO

 

Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM

Justiça Federal da 1ª Região - PJe - Processo Judicial Eletrônico

 

Partes Procurador/Terceiro vinculado

PAULO ROBERTO DE ALMEIDA (AUTOR)

UNIÃO FEDERAL (RÉU)

 

Documento Tipo: 21321 – 5894

 

03/04/2020 18:06 Petição intercorrente Petição intercorrente

 

ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA-REGIONAL DA UNIÃO DA 1ª REGIÃO

COORDENAÇÃO REGIONAL DE ATUAÇÃO EM ASSUNTOS DE SERVIDORES PÚBLICOS-COSEP

SETOR DE AUTARQUIAS SUL - QUADRA 3 - LOTE 5/6, ED. MULTI BRASIL CORPORATE - BRASÍLIA-DF - CEP 70.070-030

 

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA 16ª VARA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

NÚMERO: 1018553-97.2020.4.01.3400

PARTE(S): UNIÃO FEDERAL

PARTES(S): PAULO ROBERTO DE ALMEIDA

 

A UNIÃO, pessoa jurídica de direito público interno, pelo Advogado da União infra-assinado, com mandato ex vi legis (art. 131 da CRFB/88 c/c Lei Complementar nº. 73/93), nos autos do processo em epígrafe, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, requerer a intimação da Procuradoria-Regional da União da 1ª Região, a fim de que o ente público possa apresentar manifestação prévia acerca do pedido de tutela antecipatória da parte contrária, tendo em vista a relevância e o impacto jurídico da matéria tratada na presente ação.

 

Brasília, 03 de abril de 2020.

FABIANO BASTOS PINTO

ADVOGADO DA UNIÃO

Assinado

 


Processos kafkianos no Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

Processos kafkianos no Itamaraty

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

 

 

O Itamaraty vive, desde a assunção da atual administração olavo-bolsonarista, um processo inédito de degradação de seus padrões de trabalho, assim como dos próprios valores e princípios que sempre pautaram a sua postura em uma história quase bissecular de construção institucional. Não existem precedentes para o grau de desestruturação dos métodos de formulação de posições negociadoras, para o próprio processo decisório que deve guiar a atuação de nossos representantes no exterior, ou negociadores em reuniões internacionais, uma vez que o gabinete do chanceler acidental fechou-se sobre si mesmo, e toma as principais decisões apenas em estreito contato com os membros do círculo íntimo da família presidencial, e em atendimento às diretrizes esquizofrênicas daquele guru expatriado da Virgínia, o sofista a quem eu já chamei de “Rasputin de subúrbio”.

Meu caso de intimidação, de perseguição pela via da “catraca eletrônica” e com descontos no salário, talvez seja exemplar, ainda que não única e exclusiva; por isso eu me permito indicar aqui alguns elementos de informação para conhecimento dos possíveis interessados.

Atendendo a um convite de Mano Ferreira, jornalista do Livres, respondi a algumas perguntas que ele me havia formulado previamente – depois objeto de uma entrevista ao vivo, com o deputado Marcelo Calero, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, que podem ser lidas por escrito neste link: 

“O Itamaraty e a diplomacia brasileira em debate”, Brasília, 6 abril 2020, 7 p. Notas para entrevista concedida ao jornalista Mano Ferreira, do Livres, em companhia do deputado Marcelo Calero, sobre temas da política externa e da diplomacia do governo Bolsonaro. Divulgado previamente no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/o-itamaraty-e-diplomacia-brasileira-em.html).

Começou por esta postagem, que precedeu à minha exoneração imediata do IPRI: 

“A política externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araújo”, Brasília, 4 março 2019, 18 p. Introdução, em 2 p., à transcrição de três textos relativos à política externa do governo Bolsonaro, de Rubens Ricupero (25/02/2019), de Fernando Henrique Cardoso (03/03/2019), e do chanceler Ernesto Araújo (3/03/2019). Postado no blog Diplomatizzando (4/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/a-politica-externa-brasileira-em-debate.html).

 

Fiz uma nota, após o ato vingativo: 

“Nota sobre minha exoneração como diretor do IPRI”, Brasília, 4 março 2019, 1 p.; blog Diplomatizzando (4/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/nota-sobre-minha-exoneracao-como.html).

 

Após a publicação deste livro, Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty, primeiro em edição de autor, depois pela editora da UFRR, (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/miseria-da-diplomacia-destruicao-da.html), fui objeto de registro de faltas no Boletim de Serviço de 28/11/2019. Tudo está explicitado, tanto as faltas quanto minhas justificativas, imediatamente indeferidas (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/minhas-faltas-injustificadas-segundo-o.html). Não adiantou: continuaram contabilizando minhas faltas e me descontaram no contracheque de janeiro deste ano, quando recebi exatamente R$ 210,16.

Fiz um artigo a respeito: “Kafka no Itamaraty” (1 abril 2020; blog Diplomatizzando; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/kafka-no-itamaraty-paulo-roberto-de.html), que pode ser complementado pela cronologia que estabeleci para todo o período 2003-2020 (https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/uma-trajetoria-diplomatica-do-limbo-ao.html).

Para os que desejam saber o lado jurídico da questão, remeto à peça encaminhada à 16ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal. Os juízes dessa vara são: Juiz Marcelo Rebello Pinheiro (titular) e Juiz Gabriel Zago Capanema Vianna de Paiva (substituto). O número do processo é 1018553-97.2020.4.01.3400. Coloquei à disposição dos interessados neste link da plataforma Academia.edu: https://www.academia.edu/42605745/Acao_com_pedido_de_tutela_de_urgencia_contra_a_Uni%C3%A3o_Federal_-_Paulo_Roberto_de_Almeida_31_03_2020_ . 

Logo em seguida tivemos uma matéria na revista Veja, versão eletrônica, sobre o mesmo tema, “Embaixador vai à justiça contra assédio moral e perseguição no Itamaraty”, por Edoardo Ghirotto (3/04/2020; links: https://veja.abril.com.br/politica/embaixador-vai-a-justica-contra-assedio-moral-e-perseguicao-no-itamaraty/ e https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/embaixador-vai-justica-contra-assedio.html), que remete à matéria “Os veteranos encostados no Itamaraty”, por Denise Chrispim Marin (20/09/2019; link: https://veja.abril.com.br/mundo/itamaraty-veteranos-encostados/), reproduzida no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/embaixador-vai-justica-contra-assedio.html) e em diversas ferramentas de comunicação social.

Depois da publicação da matéria na Veja, fui contatado por diversos jornalistas, a quem prestei as informações solicitadas. Um deles, Luís Nassif, identificado com posturas próximas daquele tribo que eu chamo de lulopetistas (mas eu nunca tive nenhum preconceito contra qualquer postura ideológica), solicitou-me uma entrevista; eu estava recém saindo de uma aula online, ainda assim, prestei o seguinte depoimento: “Como Ernesto, o idiota, se tornou chanceler, por Paulo Roberto de Almeida”, Brasília, 3 abril 2020, entrevista gravada em vídeo com o jornalista Luís Nassif, no Jornal GGN (link: https://jornalggn.com.br/video/como-ernesto-o-idiota-se-tornou-chanceler-por-paulo-roberto-de-almeida/). Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/como-ernesto-o-idiota-se-tornou.html).

Em vista das repercussões deste assunto, e das inúmeras manifestações de solidariedade que recebi depois da matéria publicada na revista Veja, publiquei uma pequena nota de agradecimento: “Um agradecimento e um esclarecimento: minha ação contra o Itamaraty”, Brasília, 4 abril 2020, 2 p. Uma nota agradecendo as manifestações de solidariedade e explicando o sentido da minha ação. Postada no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/um-agradecimento-e-um-esclarecimento.html).

Na segunda-feira, 6/04/2020, tomei conhecimento de que a União, pela AGU, procedeu, desde o dia 3/04, a uma “petição intercorrente”, a propósito de meu processo (de n. 1018553-97.2020.4.01.3400), nestes termos: “A UNIÃO, pessoa jurídica de direito público interno, pelo Advogado da União, com mandato ex vi legis (art. 131 da CRFB/88 c/c Lei Complementar nº. 73/93), nos autos do processo em epígrafe, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, requerer a intimação da Procuradoria-Regional da União da 1ª Região, a fim de que o ente público possa apresentar manifestação prévia acerca do pedido de tutela antecipatória da parte contrária, tendo em vista a relevância e o impacto jurídico da matéria tratada na presente ação.” 

Presumo que a AGU, a pedido do MRE, antecipa-se e interpõe-se a qualquer decisão a ser tomada pelo juiz da 16a Vara, o que além de ser algo absolutamente incomum, revela, na verdade, a intenção do MRE de reincidir e de recrudescer na perseguição contra mim, pretendendo, então, tratar o meu caso de forma diferente dos demais.

Do meu lado, acredito que ainda existam juízes em Brasília...

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 6 de abril de 2020


O Itamaraty e a diplomacia brasileira em debate - Paulo Roberto de Almeida

O Itamaraty e a diplomacia brasileira em debate

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivo: entrevista ao Livres; finalidade: notas para desenvolvimento oral]

 

 

Notas para entrevista concedida ao jornalista Mano Ferreira, do Livres, sobre temas da política externa e da diplomacia do governo Bolsonaro.

 

1. Professor Paulo Roberto de Almeida, eu gostaria de começar expressando toda a nossa solidariedade, em nome do Livres, e pedindo que o senhor faça um relato da perseguição que vem sofrendo no Itamaraty.

 

PRA: O que está ocorrendo atualmente no Itamaraty é absolutamente inédito em sua história quase bissecular: não existem registros, em quaisquer épocas, que um chanceler tenha antagonizado tanto a Casa de Rio Branco quanto o faz atualmente aquele a quem eu chamo de chanceler acidental, Ernesto Araújo. Eu o chamo de chanceler acidental pois que ele conquistou esse cargo não por ter se distinguido, ao longo da carreira, por eminentes serviços prestados ao Itamaraty ou à política internacional do Brasil, tornando-o uma personalidade conhecida, capaz, portanto, de reunir ao apoio da maioria dos diplomatas ou de conhecidos especialistas em relações internacionais. Não, praticamente ninguém o conhecia, fora do ambiente restrito em que circulou na própria diplomacia.

Tanto é assim que, assim que ele foi anunciado, na tarde do dia 14 de novembro de 2018, um jornalista conhecido de uma grande revista nacional, telefonou-me para saber o que eu poderia falar acerca do desconhecido escolhido. Tive de recobrar-me, primeiro de minha surpresa, para confessar-lhe, em seguida, que eu não conhecia praticamente nada sobre o colega recém promovido a embaixador (em junho de 2018). Não tinha a menor ideia do que ele havia feito na carreira até ali; foi esse jornalista que me passou o nome e endereço do blog que Ernesto havia criado para apoiar a candidatura do capitão: Metapolítica 17: contra o globalismo. Ou seja, não pude ajudar em nada esse jornalista, e me desculpei por isso.

Foi só na noite do dia 14 de novembro, e durante toda a jornada do feriado de 15 de novembro que eu consegui penetrar na mente perturbada do desconhecido colega: fiquei estarrecido ao ler as postagens, carregadas do olavismo mais exacerbado, de um pensamento de extrema direta, bastante agressivo contra o suposto marxismo, do esquerdismo inaceitável que parecia grassar e abundar no Itamaraty, e que a intenção de sua turma era extirpar tudo isso do cenário político nacional. Foi só aí, também, que eu fui finalmente ler o artigo que ele havia publicado na revista que eu editava no IPRI, os Cadernos de Política Exterior, um ano antes, “Trump e o Ocidente”, uma assemblagem de ideias confusas, em nada condizente com o espírito e os objetivos da revista, mas que eu permiti que fosse publicado porque nunca fui de fazer censura sobre ideias alheias. Eu havia visto esse artigo muito por cima, concluído que ele sequer passaria por um Conselho Editorial, e tinha deixado de lado para ler coisas mais interessantes: os apelos religiosos, a visão messiânica me assustaram.

A partir dali tomei consciência de que as coisas iriam mudar muito no Itamaraty, e, prontamente, avisei meu assessor imediato, um conselheiro da mais alta qualidade intelectual, doutorando, como eu fui, pela Universidade de Bruxelas, que buscasse um novo emprego, pois, como disse a ele, a partir de 2 de janeiro, estaríamos desempregados. Demorou um pouco mais, provavelmente porque ainda não tinham quem colocar no meu lugar. Mas, desde o dia 2 de janeiro, congelaram o programa de trabalho que eu havia preparado em dezembro de 2018, ordenaram-me não fazer absolutamente nada até nova definição das “altas chefias” quanto a um novo programa para o IPRI, e até a designação de um novo presidente para a Funag. Tive de lutar para garantir a realização de duas ou três atividades já contratadas, uma com a embaixada da França, a outra com o próprio sogro do chanceler acidental, embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, duas vezes secretário geral do Itamaraty, uma outra em que eu mesmo participaria como palestrante, o que de toda forma era incerto.

Fui, portanto, forçado a uma inatividade forçada nos meses de janeiro e fevereiro, quando aproveitei o lazer involuntário para compor um novo livro sobre a política externa, mas que não tinha nada a ver com o governo que recém começava, Mas ele ainda não tinha título, eu só achei um apropriado depois que fui exonerado da direção do IPRIContra a corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (Curitiba: Appris, 2019). A exoneração veio em pleno Carnaval, e de maneira bizarra. Noite adentro do domingo de Carnaval, em torno de 23hs, cai na minha tela mais um petardo do chanceler acidental na minha tela: uma resposta muito acerba a um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nessa mesma manhã, sobre a Venezuela, e a uma palestra do embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero abordando a política externa de forma geral. 

Resolvi, então, juntar os três textos, fiz uma pequena introdução convidando os meus 18 leitores a um debate sobre a política externa brasileira e postei no meu blog: “A política externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araújo”, Brasília, 4 março 2019, 18 p. Introdução, em 2 p., à transcrição de três textos relativos à política externa do governo Bolsonaro, de Rubens Ricupero (25/02/2019), de Fernando Henrique Cardoso (03/03/2019), e do chanceler Ernesto Araújo (3/03/2019). Postado no blog Diplomatizzando (4/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/a-politica-externa-brasileira-em-debate.html). Já estávamos então na madrugada da segunda-feira de Carnaval, como registrado: “Postado por Paulo Roberto de Almeida às 01:14. Fui dormir uma hora depois, para ser acordado cerca de 8 horas da manhã, pelo chefe de gabinete do chanceler acidental, mas prefiro poupar meus leitores da conversa desagradável que ele manteve comigo. 

Pretendia dormir novamente, mas fui novamente despertado pela imprensa, que queria saber o que tinha acontecido naquela manhã de Carnaval. No início não pretendia fazer nenhuma declaração, e por isso fiz uma nota para informar sobre minha saída do IPRI: “Nota sobre minha exoneração como diretor do IPRI”, Brasília, 4 março 2019, 1 p. Explicando o que se passou. Divulgado no blog Diplomatizzando (4/03/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/03/nota-sobre-minha-exoneracao-como.html). Nessa mesma postagem eu anunciava o título do meu livro, Contra a Corrente, que foi finalmente publicado cerca de um mês depois. A partir dali, e depois de uma semana atribulada, na qual fiquei dando entrevistas a vários periódicos, e até compareci no programa da Miriam Leitão, com o embaixador Roberto Abdenur, fui exercer o meu contrarianismo na Biblioteca do Itamaraty, meu habitual refúgio durante os anos de travessia do deserto durante o lulopetismo diplomático, quanto não tive nenhum cargo na Secretaria de Estado das Relações Exteriores, durante os treze anos e meio de duração do regime. 

No mês de maio seguinte, fui lotado na Divisão de Comunicações e Arquivo, mas apenas “formalmente”, como me disseram, e que eu não precisaria me preocupar com a catraca eletrônica, pois eu não estaria sendo controlado, pois eu não teria nenhuma função ali e poderia continuar tranquilamente na Biblioteca. Foi, portanto, o que fiz, mantive uma frequência regular à Biblioteca, apenas intercalada por compromissos de natureza acadêmica, alguns fora de Brasília, após os quais voltava ao meu labor solitário na Biblioteca. Disso resultou mais um livro, agora tratando diretamente da política externa do novo governo, pois eu dispunha de abundantes fontes primárias, declarações, artigos e entrevistas do próprio chanceler acidental, assim como as aventuras de Bolsonaro com seus grandes amigos, na verdade poucos, Trump e dois ou três líderes da extrema direita europeia. 

Em meados do ano ficou pronto este livro: Miséria da diplomacia: a destruição da inteligência no Itamaraty, primeiro em edição de autor, depois pela editora da UFRR, ambas disponíveis aos interessados (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/miseria-da-diplomacia-destruicao-da.html). Imagino que ele deva ter deixado o chanceler muito nervoso, mas não tive reflexos disso até o final de novembro, quando o Boletim de Serviço publicou 20 supostas faltas que eu teria perpetrado entre maio e agosto. Justifiquei cada uma delas no dia seguinte, mas sem qualquer efeito para a Administração: elas foram imediatamente indeferidas. Não preciso contar o resto, tanto porque já o fiz, numa das minhas postagens no Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/minhas-faltas-injustificadas-segundo-o.html). Resumo: continuaram contabilizando minhas faltas e me descontaram no contracheque de janeiro deste ano: recebi exatamente R$ 210,16. Em 13 de março de 2020, publicaram supostas dez faltas adicionais, que também justifiquei, mas que provavelmente serão mantidas numa próxima decisão da Administração do Pessoal. 

Quanto ao contexto geral da intimidação do Itamaraty contra mim, ela está explícita no artigo seguinte: “Kafka no Itamaraty” (1 abril 2020; blog Diplomatizzando; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/kafka-no-itamaraty-paulo-roberto-de.html), que pode ser complementado pela cronologia que estabeleci para todo o período 2003-2020 (https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/uma-trajetoria-diplomatica-do-limbo-ao.html). A etapa mais recente cobre minha defesa contra as arbitrariedades do Itamaraty, mediante uma ação em justiça introduzida no dia 31 de março. A luta continua...

 

2. Embaixador, também é público que o senhor sofreu perseguições e permaneceu subaproveitado durante toda a gestão do PT a frente do governo federal, ou seja, sentiu na pele os desmandos da gestão petista e agora sente na pele os problemas da gestão bolsonarista. Há alguma diferença?

 

PRA: Governos autoritários ou ideologicamente marcados não gostam de mentes independentes, que eles equiparam a dissidentes, ou até mesmo a inimigos do regime. Entendo que eu possa ter sido assim considerado pelo regime lulopetista, pois antes mesmo da vitória de Lula nas eleições de 2002, eu já escrevia artigos analisando a postura do PT em matéria de política externa e relações internacionais. Continuei fazendo isso a despeito do início do governo em janeiro de 2003, e com isso fui vetado para exercer qualquer cargo ba Secretaria de Estado das Relações Exteriores. Passei anos e anos na Biblioteca do Itamaraty, mas não fui objeto de nenhuma punição formal: apenas não fui promovido até terminar o regime, e fiquei no limbo, sem cargos formais. 

Efetuei um relato sobre esses anos neste trabalho: “Auge e declínio do lulopetismo diplomático: um depoimento pessoal” (Brasília, 26/06/2016; blog Diplomatizzando; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/08/auge-e-declinio-do-lulopetismo.html). Esse depoimento foi incluído como apêndice ao livro Contra a corrente: ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil, 2014-2018 (Curitiba: Appris, 2019), mas também foi disponibilizado, em forma revista, na plataforma Academia.edu (27/11/2019; link: https://www.academia.edu/41084491/Auge_e_decl%C3%ADnio_do_lulopetismo_diplom%C3%A1tico_um_testemunho_pessoal). Uma coletânea de meus artigos sobre o lulopetismo diplomático é Miséria da diplomacia: apogeu e declínio do lulopetismo diplomático (link: https://www.researchgate.net/publication/323252005_Miseria_da_Diplomacia_apogeu_e_declinio_do_lulopetismo_diplomatico_2018), que foi complementada por uma nova introdução: “Fim do lulopetismo diplomático? Ou apenas o começo do fim?” (Brasília, 10/07/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/07/fim-da-unasul-fim-do-lulopetismo.html).

Se existe alguma diferença entre o que eu passei sob o lulopetismo diplomático e o atual olavo-bolsonarismo diplomático ela está no ódio pessoal que o chanceler acidental parece ressentir contra mim, uma vez que, no seu irmão siamês ideológico, mas oposto, eu fui deixado no limbo, mas em paz, ou seja, pude me dedicar a meus estudos e pesquisas. O que a atual Administração inovou foi a punição financeira, por supostas “faltas injustificadas”, que pode ser um prelúdio a um eventual processo de demissão por “inassiduidade habitual”, com o objetivo de me privar de meus direitos. Nesse sentido, o Itamaraty do chanceler acidental é muito mais intimidante, num sentido mesquinho, do que o anterior, dos lulopetistas.

 

3. O Itamaraty tem condições de conter os danos causados pelo bolsonarismo à nossa reputação? Qual seria o caminho para fortalecer o profissionalismo da nossa diplomacia?

 

PRA: A política externa tem, realisticamente, um papel secundário em face dos grandes problemas nacionais. A maior parte desses problemas são “made in Brazil”, e devem receber respostas e soluções puramente nacionais. O ambiente externo tem sido, na verdade, favorável ao crescimento dos países que souberam aproveitar os impulsos e as oportunidades externas para alavancar avanços internos. A política externa poderia ter um papel relevante na agenda nacional se o Brasil fosse mais aberto ao comércio internacional e bem mais receptivo aos investimentos estrangeiros e associações com os países mais avançados tecnologicamente, fatores relevantes para projetos nacionais de desenvolvimento. Uma comparação entre os países de mais alta renda per capita e seus respectivos coeficientes de abertura externa comprovam esta assertiva. Este deveria ser um argumento suficientemente convincente para justificar um processo de abertura comercial e de maior aproximação aos países líderes do desenvolvimento tecnológico e cultural no mundo. 

Uma política externa compatível com os interesses nacionais precisaria se concentrar numa agenda desse tipo. Pode o Brasil encarar, internamente, a ampliação de facilidades no comércio exterior, com o desmantelamento de entraves administrativos e sistêmicos a uma elevação dos fluxos de exportações e de importações? Tal processo teria de ser paralelo e coincidente com um processo de diminuição da carga tributária sobre as empresas, insuportável sob qualquer critério que se examine. 

Paralelamente seria iniciado um esforço de revisão completa das bases de funcionamento da união aduaneira do Mercosul, a começar pela alternativa entre: (a) unificação de suas regras de aplicação; ou (b) negociação de um protocolo adicional ao Protocolo de Ouro Preto (POP), introduzindo a possibilidade de negociação externa individual de novos acordos de liberalização, com preservação da cláusula de nação-mais-favorecida para dentro. Sob a segunda hipótese, o Brasil poderia negociar acordos com a UE, a Aliança do Pacífico e até com os EUA, prevendo redução de tarifas, abertura a comércio de serviços, defesa de propriedade intelectual e regras estáveis para investimentos, abertos aos demais membros do Mercosul, se estes assim o desejassem. Não há muito que o Brasil possa fazer no plano das negociações comerciais multilaterais, seja no âmbito da Rodada Doha (paralisada e provavelmente moribunda). O que cabe, sim, é examinar os demais acordos plurilaterais existentes no sistema multilateral de comércio, verificar a compatibilidade com o processo (a ser conduzido) de reforma na política comercial nacional, e considerar a hipótese de aderir a esses outros instrumentos de abertura e facilitação.

A política industrial está intimamente relacionada à política comercial, e, na sua vertente externa, deveria dedicar-se a atrair o máximo possível de investimentos estrangeiros e incentivar associações com o que há de mais tecnologicamente avançado no mundo. Independentemente de o Brasil ser ou não membro da OCDE, caberia associar-se ao Comitê de Indústria dessa organização e passar a examinar todos os protocolos, códigos e demais normas voluntárias estabelecidas naquele âmbito, de maneira a colocar a indústria brasileira num contexto de plena conformidade com os padrões internacionais nessa área. Uma das primeiras tarefas internas seria retomar, reexaminar, eventualmente assinar ou renegociar todos os acordos bilaterais de proteção a investimentos, os APPIs, que foram sabotados pelos petistas antes mesmo de assumirem o governo em 2003. O Brasil descumpriu mais de uma dezena de acordos assinados com os mais importantes parceiros exportadores de capitais e de investimentos diretos. Deixou de oferecer um ambiente seguro e estável para esses investimentos, assim como deixa de oferecer um ambiente estável para os próprios empresários brasileiros do setor. Caberia trabalhar com a CNI e algumas federações estaduais mais ativas nessa área, com o objetivo de colocar o Brasil no mesmo patamar regulatório que os países mais avançados.

A política externa precisa retornar aos padrões habituais de profissionalismo e de isenção na análise técnica dos problemas que sempre estiveram afetos ao Itamaraty. Ambos, a política e a instituição, foram bastante deformados nos anos de lulopetismo diplomático, quando uma e outra foram submetidas e ficaram ao sabor das preferências e alucinações partidárias, quando não a serviço de outras causas que não o interesse nacional. O Itamaraty não terá nenhum problema em cumprir uma nova pauta na política externa, pois sempre foi muito disciplinado no cumprimento das diretrizes do chefe do executivo, mas ele necessita passar por reformas organizacionais, depois de mais de uma década de uma nefasta deformação em seus métodos de trabalho e de inversão vertical no processo decisório que sempre o caracterizou.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 6 de abril de 2020

domingo, 5 de abril de 2020

Cientistas sociais e o coronavirus - Boletim da ANPOCS (1 e 2)

Recebo, da ANPOCS, este relatórios semanais com papers, artigos, ensaios, textos diversos de cientistas sociais sobre o Covid-19, que não são exatamente cientistas de pesquisas biológicas, ou seja epidemiologistas, virologistas, pesquisadores e médicos envolvidos com a detecção e o combate desse tipo de enfermidade que se tornou pandêmica. São cientistas SOCIAIS, com toda a carga de ideologia (no bom sentido da palavra) que possa haver em seus textos. Como eu sou a favor da circulação da informação, transcrevo neste meu blog, concebido para pessoas inteligentes, ou pelo menos sedentas de saber. No meio dos artigos aparece pelo menos um que fala da "globolização perversa", o que eu considero, mesmo sem ter lido o artigo, uma bobagem monumental: a globalização é, ponto. Como as correntes marítimas e aéreas, ela existe, independentemente do que eu possa pensar sobre ela. Claro, governos nacionais podem sempre colocar barreiras contra a globalização, como tarifas, proibições não-tarifárias (normas e regulações), reservas nacionais e outras bobagens do gênero, que sempre são piores do que a abertura aos fluxos e intercâmbios globais. Mas, assim é o mundo.
Paulo Roberto de Almeida

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BOLETIM | CIENTISTAS SOCIAIS E O CORONAVÍRUS

SEMANA 2  |  de 30/03 a 04/04/2020


Boletim n. 13 | As populações do campo e o coronavírus
Por Nashieli Rangel Loera, publicado em 04/04/2020

No estado de São Paulo existem 140 assentamentos rurais estaduais, onde moram mais de 7000 famílias espalhadas ao longo de 40 municípios (ITESP, 2019)¹. A região conhecida como o Pontal de Paranapanema ao Oeste do estado é a que concentra o maior número de assentamentos, 98 no total, e tem sido, nos últimos 15 anos, o locus etnográfico das minhas pesquisas sobre o mundo rural e as populações do campo. Leia mais



Boletim n. 12 | O enfrentamento e a sobrevivência ao Coronavírus também precisa ser uma questão feminista!
Por Mariane da Silva Pisani, publicado em 03/04/2020

Como antropóloga que sou me dou o direito de iniciar este texto a partir de uma observação etnográfica. No dia 23 de Março de 2020, foi publicado no jornal O Globo[i] a matéria intitulada: “NASA usa experiência de astronautas para dar dicas de confinamento durante a pandemia de COVID-19”. Esta trouxe aos leitores e às leitoras cinco habilidades desenvolvidas por astronautas da Agência Espacial dos Estados Unidos da América (NASA) para viver isolamentos em períodos prolongados de tempo. A saber: comunicação, liderança, cuidados pessoais, cuidados do coletivo e vivência em grupo. Leia mais



Boletim n. 11 | Pandemia COVID-19 e as mulheres
Por Marlise Matos, publicado em 02/04/2020

Todos sabemos apontar e compreender, mesmo com as muitas mudanças ocorridas, os já estabelecidos papéis de gênero, onde às mulheres caberia o lugar de “cuidadoras”, de “donas de casa”, de principais responsáveis pelos domicílios e pelas famílias. Leia mais



Boletim n. 10 | Violências contra mulheres em tempos de COVID-19
Por Patrícia Rosalba Salvador Moura Costa, publicado em 01/04/2020

Em tempos de confinamento por causa do COVID-19, órgãos internacionais, organizações não governamentais, movimentos feministas, estudiosas, ativistas dos direitos humanos e algumas instituições de governos estaduais têm chamado a atenção para a possibilidade de agravamento das violências contra mulheres. A relatora especial da Organização das Nações Unidas sobre violência contra mulheres, Dubravka Simonovic, destacou que esse problema pode aumentar durante a quarentena, porque o lar pode ser um lugar de medo e abuso para mulheres e crianças, e indicou, ainda, a necessidade de os entes federativos promoverem ações constantes de defesa às mulheres e de combate às violências domésticas. Leia mais



Boletim n. 9 | A Globalização Perversa da COVID-19 : o exemplo de Rondônia
Por Maria Madalena de Aguiar Cavalcante, publicado em 31/03/2020

Os registros dos números de casos confirmados e de mortes da COVID-19 na China, e posteriormente na Itália, chamou a atenção do mundo em relação à pandemia. O novo coronavírus chega ao Brasil, no estado de São Paulo, em meados de fevereiro, do corrente ano. Diante do cenário catastrófico que se configura no país e no mundo, este é um primeiro esboço do registro espaço-temporal dos suspeitos e casos confirmados no estado de Rondônia, evidenciando a importância da obtenção de informações sobre a evolução da COVID-19 de modo diário e por municípios, como auxílio às ações preventivas, corretivas ou restritivas tomadas pelos órgãos públicos. Leia mais



Boletim n. 8 | Não existe salvação individual na pandemia de Covid-19
Por Sandra Caponi, publicado em 30/03/2020

Os primeiros casos de coronavírus chegaram à América Latina com certo retardo em relação a China e aos países europeus. No Brasil o primeiro caso ocorreu no dia 26 de fevereiro e na Argentina, poucos dias mais tarde, no dia 3 de março de 2020. Esse retardo nos permite observar a evolução da doença nos diferentes países afetados pela pandemia e avaliar a eficácia ou ineficácia das medidas adotadas em cada caso. A primeira informação disponível é que a estratégia da quarentena e do isolamento social foi adotada na maior parte dos países afetados. Em alguns casos, como em Itália ou Espanha, essas medidas de isolamento foram adotadas tardiamente e hoje podemos observar as consequências terríveis desse atraso pelo aumento, antes inimaginável, de mortos pela pandemia. Em outros casos, como na China ou Coreia do sul, foram adotadas rapidamente medidas de isolamento que se mostraram altamente eficazes, fazendo com que os casos da doença diminuíssem até quase chegar a zero. Inglaterra e Estados Unidos se resistiram inicialmente a adotar as medidas de isolamento por motivos estritamente econômicos, mas logo tiveram que impor medidas de quarentena severas, no caso de Inglaterra por 12 semanas. Observando as medidas adotadas nos países de Europa e Ásia, assim como o drama hoje evidente de países como Espanha ou da Itália, que atingiu o número de 9.000 mortos por Covid-19, diversos países da América Latina decidiram iniciar um processo de isolamento social e logo de quarentena para limitar e bloquear as cadeias de transmissão do vírus. Leia mais


 

SEMANA 1  |  de 22/03 a 28/03/2020

 

Boletim n. 7 | A linguagem republicana diante da crise: uma análise de A Revolta da Vacina, de Nicolau Sevcenko
Por Por Vinícius Müller - publicado em 28/03/2020

Ao longo da História foram tantos os episódios nos quais sociedades enfrentaram riscos biológicos, que escolher um como exemplo sempre revelará um traço de arbitrariedade. Pois, não só sugere certa preocupação específica de quem está escolhendo, como também revela as bagagens que cada um que se aventura em entender a História carrega. Ou seja, o que define se escolho indicar a Peste Negra europeia ou o impacto das doenças ‘europeias’ em populações nativas da América como parâmetro de uma analogia histórica? Qual é mais pertinente para refletirmos sobre a crise que enfrentamos nestes dias de 2020? Tais escolhas são ampla e certamente sustentadas pelas leituras prévias e experiências profissionais de quem a exerce. Leia mais



Boletim n. 6 | A produção do social em tempos de pandemia
Por grupo de pesquisa Tecnologia, Meio Ambiente e Sociedade - TEMAS - publicado em 27/03/2020

Se não é novidade que no noticiário as editorias de ciência, economia e política se embaralhem - ao discutirmos a exploração de campos de petróleo ou a liberação de sementes transgênicas, por exemplo - durante uma pandemia a forma como nossa vida em sociedade depende e está entrelaçada a elementos não humanos fica ainda mais clara. No entanto, como a teoria social tem entendido o papel de um agente tão poderoso, como o Covid-19, na produção e alteração das nossas formas societárias modernas? E qual a sua contribuição para pensarmos e agirmos no mundo contemporâneo?. Leia mais



Boletim n. 5 | Medo Global
Por Gustavo Lins Ribeiro - publicado em 26/03/2020

A pandemia do corona vírus certamente inaugura uma nova classe de medo global. Não que não existissem anteriormente, as angústias, os pânicos e temores globais. Mas, como a globalização é um processo histórico que se torna cada vez mais agudo, é de se esperar que o último medo global seja mais intenso e complexo do que os outros. O que estou chamando de medo global? Aqui vai uma definição de trabalho: trata-se de todo temor totalizante sentido por todos os habitantes de um coletivo, na expectativa de uma enorme quantidade de mortes que potencialmente ou de fato atingirá a todos e acabará o mundo conforme foi conhecido até um determinado momento. Deixo a definição assim, de maneira ampla, para poder incluir alguns medos coletivos – obviamente sem nenhuma pretensão de esgotar os exemplos - que, apesar de não serem planetários certamente incluíram a sensação de fim de mundo, em uma espécie de arqueologia dessa terrível sensação, um verdadeiro fato social total, como diria Marcel Mauss, que condensa respostas fisiológicas, biológicas, psicológicas, culturais, políticas, econômicas, sociais e científicas. Leia mais



Boletim n. 4 | Contenção de crises no Brasil e seus reflexos no mundo do trabalho sob as lentes da sociologia
Por Maurício Rombaldi - publicado em 25/03/2020

No Brasil, o começo de 2020 já se apresentava desolador, em razão das crises política e econômica enfrentadas pelo país. Ao final do primeiro trimestre do ano, o COVID-19 surgiu para agravar este cenário, com a instalação de uma crise sanitária. Impôs, com isso, um momento de inflexão impostergável sobre as políticas adotadas pelo governo federal. Na noite de domingo, 22 de março, foi lançada a Medida Provisória 927, que previu, dentre outras questões, a possibilidade de suspensão de contratos de trabalho por até 4 meses. Mesmo que, menos de 24h depois, sob forte pressão de diferentes setores da sociedade, o governo tenha retrocedido ao lançar dúvidas sobre a implementação parcial ou completa da MP, o simples fato de a ideia ter sido lançada já sinaliza a manutenção do ímpeto de flexibilização ou supressão de direitos trabalhistas, acompanhada da injeção de recursos e incentivos a empresários como estratégia principal de amenização dos efeitos das crises que se amontoam. Leia mais



Boletim n. 3 | As Ciências Sociais e a Saúde Coletiva frente a atual epidemia de ignorância, irresponsabilidade e má-fé
Por Sérgio Carrara - publicado em 24/03/2020

Uma das áreas mais antigas e tradicionais das ciências sociais é a que se volta à reflexão dos processos de saúde e doença e das relações entre o biológico e o social. É tão significativa essa preocupação no campo da Antropologia Social que, em vários países, especialmente nos Estados Unidos, institucionalizou-se uma subdisciplina inteiramente dedicada a ela: a Antropologia Médica. No Brasil, esse subcampo do saber antropológico tem sido geralmente designado como Antropologia do Corpo e da Saúde. Para seu desenvolvimento, a Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais, a ANPOCS, promove anualmente grupos de trabalho, fóruns e mesas redondas; e, nos últimos anos, foram realizados três encontros nacionais específicos, intitulados Reuniões de Antropologia da Saúde (RAS). Leia mais



Boletim n. 2 | Covid-19: escalas da pandemia e escalas da antropologia
Por Jean Segata - publicado em 23/03/2020

Surto, epidemia e pandemia são termos do universo técnico da epidemiologia para a classificação temporal, geográfica e quantitativa de uma doença infecciosa. Eles são fundamentais para processos de vigilância e controle, definindo níveis de atenção e protocolos de ação. No caso da Covid-19, por exemplo, quando um número elevado de pessoas da cidade de Wuhan, na China, passou a apresentar uma infecção respiratória grave e desconhecida em um curto espaço de tempo, ligou-se o alarme para o início de um surto. Rapidamente, identificou-se a presença de uma nova variedade do vírus do tipo Corona e, em pouco tempo, casos semelhantes também apareceram em outras cidades e regiões do país e de fora dele. Era o início da epidemia. Ainda assim, como os números da doença continuaram aumentando em mais países e continentes, cobrindo quase todo o globo, a OMS decretou o que é considerado o pior dos cenários, a pandemia. Leia mais



Boletim n. 1 | Cientistas sociais e o coronavírus
Por Rodrigo Toniol - publicado em 22/03/2020

Nos últimos meses a universidade sofreu ataques sistemáticos. A comunidade científica sentiu na pele a descontinuidade de seus projetos de pesquisa, vivenciou o corte de bolsas na pós-graduação e a perda de apoio para realização de eventos acadêmicos. Além disso, também nos vimos interpelados por acusações exdrúxulas como a de que os campi universitários possuem extensivas plantações de maconha. Agora, diante de uma crise global sem precedentes os pesquisadores são lembrados. Consultam os epidemiologistas, os estatísticos, os físicos, enfim, acionam a extensa rede de especialistas para entender o que está acontecendo, o que há por vir e como devemos agir. Nessas horas parece ser mais fácil de lembrar como o financiamento de pesquisa não é o mesmo que gasto puro e simples. Leia mais


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Os boletins Cientistas Sociais e o coronavírus são uma série de textos que serão publicados ao longo das próximas semanas. Trata-se de uma ação conjunta que reúne a Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS), a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), a Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) e a Associação dos Cientistas Sociais da Religião do Mercosul (ACSRM). Nos canais oficiais dessas associações estamos circulando textos curtos, que apresentam trabalhos que refletiram sobre epidemias. Esse é um esforço para continuar dando visibilidade ao que produzimos e também de afirmar a relevância dessas ciências para o enfrentamento da crise que estamos atravessando.

A publicação deste boletim também conta com o apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC/SC), da Associação Nacional de Pós-Graduação em Geografia (ANPEG), da Associação Nacional de Pós-Graduação em História (ANPUH), da Associação Nacional de Pós graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (Anpoll).

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O Shanghai Daily deste sábado é inteiramente dedicado a homenagear vítimas e mártires do Covid-19