quarta-feira, 20 de junho de 2007

744) Um balanço do meu site: www.pralmeida.org

Acessei hoje, o que quase nunca faço, as estatísticas do meu site, junto ao provedor de espaço. Minha intenção não era exatamente coletar estatísticas de visitas, tanto porque, com os atuais instrumentos de busca automática, isto pode ser tremendamente enganoso.
O que eu gostaria de saber, na verdade, era uma lista sintética dos temas mais buscados, o que significa a demanda real e potencial dos estudantes, pesquisadores, simples curiosos, navegadores em geral, enfim...
E o que resultou dessa constatação?
Abaixo uma lista dos temas mais solicitados, isto é, as palavras-chave buscadas por visitantes no meu site (seguidas dos meus comentários entre parênteses):

1) resenhas de livros (Uau!: acho que preciso incrementar essa seção, o que é um bom sinal, suponho, de interesse livresco dos meus visitantes)
2) vantagens da globalização (todo mundo preocupado com esse bicho da globalização, mas de certa forma é gratificante saber que não buscam as desvantagens, ou será que eu sou otimista?)
3) processo decisório (não me lembro de jamais ter produzido algum trabalho específico sobre processo decisório na diplomacia, mas suponho que as pessoas busquem e alguns dos meus textos devem conter referências ao conceito)
4) Mercosul e Alca (de forma não surpreendente, os dois temas candentes das relações regionais do Brasil, ainda que a Alca ande pairando como um zumbi pelos continentes)
5) Globalização (asi no más, e suponho que a curiosidade seja imensa e a busca inesgotável)
6) Bretton Woods (vou rever meus trabalhos e colocar minha foto em Bretton Woods, um lugar aprazível do New Hampshire, montanhas belíssimas, mas o hotel está um pouco decadente, e talvez possa servir de cenário para filmes de terror, ou então para convenções de corretores de imóveis)
7) Vantagens e desvantagens da globalização (voilà, estava faltando alguém falar em desvantagens, o que não surpreende...)
8) Brasil e o Mercosul (feijão com arroz; pode ser incrementado)
9) Tipos de globalização (bem, tem de tudo: ao molho pardo, com catchup, à la jardinière, com calabresa e al pesto; eu prefiro pura, com um vinho italiano...)
10) Brasil no Mercosul (já escrevi muito sobre isto; será que ainda tem público?)
11) Internacionalista (jovens angustiados à procura de um emprego...)
12) Neoliberal (demorou para chegar; parece que, depois de tanta gritaria nos anos noventa, o pessoal cansou um pouco; mas deve ter sempre aquele bando de antiglobalizadores que vive acusando os outros de neoliberais; vou fazer mais algumas provocações...)
13) Paulo Roberto Almeida (Mamma mia!: eu fui cair logo no número treze).

Quanto aos meus textos mais requisitados, aqui vai uma lista sintética:

1) /04Temas/11academia/06textosdiversos/04moedasbrasil/04MoedasBrasileiras (trata-se de uma assemblagem de materiais sobre os padrões monetários brasileiros que eu fiz com base em materiais do Banco Central e do Banco do Brasil; pensei que com a estabilidade do real, ninguém mais iria querer saber das nossas antigas moedas, desde o mil-réis e os muitos substitutos...)
2) 05DocsPRA/1205GlobalizDesenv.pdf (trata-se de um trabalho antigo, que foi incorporado ao livro editado por Monica Cherem e Roberto Di Sena Jr., Comércio Internacional e Desenvolvimento: uma perspectiva brasileira; ver no site)
3) /05DocsPRA/798MSulAlca.html (trabalho antigo, mas aparentemente muito requisitado; vou revisar para ver o que mudou, mas aparentemente tudo mudou, por não termos mais Alca, o que não lá uma grande perda...)
4)08Resenhas/resenhas.html (minha lista de resenhas, que deve estar desatualizada, e numa apresentação horrorosa, mas prometo melhorar nas férias)
5) 04Temas/11academia/05materiais/apostilaeconomiabasica.doc (aqui já são aluninhos querendo aprender um pouco de economia, mas o pior é que a apostila não é minha e não posso garantir fiabilidade)
6) /08Resenhas/01listageralresenhas.html (outra vez resenhas, o que me estimula a retrabalhar o quanto antes essas listas)
7) /04Temas/07Amazonia/01AmazCHoje.html (eterna fonte de paranóia, a famosa "internacionalização da Amazônia; neste caso, porém, trata-se de um dossiê que eu preparei com base em materiais da revista Ciência Hoje, da SBPC).
8) /05DocsPRA/1682VerdadeInconvTabs.pdf (um trabalho no qual eu tento demonstrar que o Brasil é um país totalmente preparado para NÃO crescer, na medida em que um Estado extrator e perdulário opera um enxugamento brutal de toda a poupança nacional para seus gastos próprios, diminuindo assim as possibilidades de investimento e, portanto, de crescimento e de criação de empregos, renda e riqueza; acho que continuaremos numa trajetória de crescimento pífio, até que os brasileiros se convençam que eles precisam aplicar uma dieta rigorosa a esse ogro famélico que se chama Estado).

Acho que é isso. Não tenho mais estatísticas ou informações a oferecer, mas o painel de controle de meu servidor apresenta dezenas de estatísticas, sobre tudo o que é possível imaginar: quantos visitantes únicos, quantas visitas, quantos cliques, qual o sistema operacional do computador, de qual país, etc. etc. etc...

terça-feira, 19 de junho de 2007

743) Lady Murphy

Agora que a lei de Murphy entrou na moda, a propósito de uma simpática propaganda de uma marca de automóvel, não custa nada relembrar como surgiu, originalmente, essa barafunda de coisas que dão errado:

Murphy's laws origin
(do Murphy's Law Site)

Dr. Stapp on the Deceleration Track The following article was excerpted from The Desert Wings (March 3, 1978)

Murphy's Law ("If anything can go wrong, it will") was born at Edwards Air Force Base in 1949 at North Base.

It was named after Capt. Edward A. Murphy, an engineer working on Air Force Project MX981, (a project) designed to see how much sudden deceleration a person can stand in a crash.

One day, after finding that a transducer was wired wrong, he cursed the technician responsible and said, "If there is any way to do it wrong, he'll find it."

The contractor's project manager kept a list of "laws" and added this one, which he called Murphy's Law.

Actually, what he did was take an old law that had been around for years in a more basic form and give it a name.

Shortly afterwards, the Air Force doctor (Dr. John Paul Stapp) who rode a sled on the deceleration track to a stop, pulling 40 Gs, gave a press conference. He said that their good safety record on the project was due to a firm belief in Murphy's Law and in the necessity to try and circumvent it.

Aerospace manufacturers picked it up and used it widely in their ads during the next few months, and soon it was being quoted in many news and magazine articles. Murphy's Law was born.

The Northrop project manager, George E. Nichols, had a few laws of his own. Nichols' Fourth Law says, "Avoid any action with an unacceptable outcome."

The doctor, well-known Col. John P. Stapp, had a paradox: Stapp's Ironical Paradox, which says, "The universal aptitude for ineptitude makes any human accomplishment an incredible miracle."

Nichols is still around. At NASA's Jet Propulsion Lab in Pasadena, he's the quality control manager for the Viking project to send an unmanned spacecraft to Mars.
Murphy's Law or Sod's Law?

While I admit that the name of Murphy's laws is a pleasant one as is the story of how it came to light, but the original name for 'if anything can go wrong it will' was sod's law because it would happen to any poor sod who needed such a catastrophic event the least. It also removes the ability to say "I coined this phrase!" because sod's law has been around long before any living man and has existed in many forms for hundreds of years. In the English County of Yorkshire I know it to have been around for generations because it has been passed through several Yorkshire families I know. But this original name is dying out because sod over here is a cursory so is not used much. Murphy's on the other hand is nothing insulting or lacking in hope I hope this clears any problems up and while this maybe hard to come to terms with, think about it, would such an obvious piece of logic have only come about in the second half of the 20th century????
Chris Monkman In the late 1960's I read an article that was photocopied from a magazine where I saw the term "Murphy's Law" coined. Should I say, I believe the term was coined in this article. It had a photo of a bearded man in the upper right corner. The article began simply by describing all the things that had gone wrong in Murphy's life. Near the end of the first section of the article it described the formalization of Murphy's Law, as Murphy was waiting for the pending birth of his first child.

Later in the article other formulations/corollaries of Murphy's law were described. The most memorable one was the mathematical formulation. It was pictured in the text as 1 + 1 -> 2, where the -> was a hand with the index finger pointing to the right. The text defined -> as "hardly every equals".

What prompted me to write this was the foot note on this page, where the author of this comment indicated that the law was not formalized at Edwards Air Force Base, but rather another source.

To the best of my memory, it was in or about the fall of 1968, I saw the photo copied article that presented Murphy's Law. I do not remember the magazine or it's date.

What lead me to this site was the quest for the article described above. To my suprise and disappointment, no one has included the article.

I would be interesting to publish this description and see if anyone else remembers the article or any other facts that would help find it.

Joe Smith One more thing about the origin of Murphy Law

One important fact about Murphy's Law was that it was not actually coined by
Murphy, but by another man of the same name.
Michael Another thing about the origin of Murphy Law

can anyone originate a law? I thought that they could only be discovered
Erin How Mr. Murphy died:

One dark evening (in the U.S.), Mr. Murphy's car ran out of gas. As he hitchhiked to a gas station, while facing traffic and wearing white, he was struck from behind by a British tourist who was driving on the wrong side of the road.

Terry Maynard
Lansing, Michigan Another story about the origin of Murphy's Law

Commander J. Murphy USN was a procurement officer for the US Navy in the 1930's.
He was in charge of the procurement of aircraft.
When monitoring the design and development of new aircraft, he tried to instill simplicity of maintenance into the likes of Douglas and Grumman.
Apparently one of his most belabored expressions was:
"If an aircraft fitter on one of our carriers can re-install a serviced component wrongly, then one day he will."
Gradually, this got changed into the more familiar version we know today, according to the version on the origin of Murphy's Law I heard.

Incidentally, a lot of Brits think that Murphy's Law is an Irish joke.
Murphy is an Irish name of course, and the Irish have been the butt of jokes from Brits for a long time.
Anyway, a lot of Brits seem to think that what Murphy's Law refers to is that the Irish are to blame for things going wrong because they are careless or stupid or both, at least according to British mythology on the Irish.

742) "Se", nouvelle manière (adaptado à globalização)

Se, “nouvelle manière”
ou as qualidades do homem na globalização

Paulo Roberto de Almeida

Se você for capaz de manter o seu sangue frio quando os C-bonds
e todos os seus derivativos estiverem despencando nos mercados de futuros,
Se você confia num especulador de Wall Street,
mesmo sabendo que ele foi condenado por insider trading,
Se você não teme se aventurar em joint-ventures
com pessoas tão honestas quanto um capitalista russo,
Se é capaz de arriscar o seu, o meu, o nosso dinheiro
em novos negócios da turma do Casseta e Planeta,
Se não se importa em manter caixa dois e mandar grana pela CC5
quando procuradores, policiais federais e a Receita estiverem atrás de você…

Se você sonha com algum monopólio de software
e conseguir escapar dos organismos antitrust da Europa e dos Estados Unidos,
Se pode poluir à vontade algum país do Terceiro Mundo
e despreza regras nacionais e internacionais de controle ambiental,
Se pensa em alguma reserva de mercado com exclusividade eterna
e pode implementá-la com a ajuda do Estado receptor do investimento,
Se consegue enfrentar as taxas de juros dos banqueiros domésticos
com um empréstimo generoso de algum banco estatal,
Se pode extrair uma isenção fiscal válida por 99 anos
e ainda assim conseguir capital estatal para a nova empresa…

Se você mantêm sua frota de superpetroleiros
com bandeira liberiana e mão-de-obra haitiana,
Se conseguiu pegar o fundo de pensão das velhinhas aposentadas
e investiu tudo na indústria nuclear da Coréia do Norte,
Se conversa sem restrições, e ao mesmo tempo, com gente do FED e da Via Campesina
assegurando a ambos que a solução está num capitalismo social de mercado,
Se consegue vender um acordo de livre-comércio aos metalúrgicos
garantindo que eles têm tudo a ganhar com a liberalização dos mercados,
Se consegue apostar na desvalorização do iene e do euro
com a mesma segurança com que aposta na valorização do peso venezuelano,
Se você aprecia, intelectualmente, as virtudes da Tobin Tax
mas sabe que, na prática, vai precisar mesmo de algumas infusões de hot money,
Se você pensa que a eliminação do risco-Brasil vai resultar em tributação mais baixa
e que a reforma da Justiça vai finalmente tirar do limbo aquele seu caso dos anos 80…

Se você consegue freqüentar com a mesma desenvoltura
os fóruns de Davos e de Porto Alegre, a OTAN e o movimento não-alinhado,
Se você quer moeda única, correção de assimetrias e parlamento pelo voto direto
e ainda assim pretende preservar a soberania e a independência nacional,
Se contenta as bases populares condenando as políticas de recessão do FMI
mas assegura, por outro lado, a preservação, e até o aumento, do superávit primário,
Se você acha que está na hora de dar um basta ao ecologismo exagerado
e conseguir o apoio do Bush num programa de “emissões cientificamente controladas”,
Se tem vacas milionárias, galinhas com conta em banco e porcos com piscina coberta
e garantir no Conselho Europeu que nada muda na Loucura Agrícola Comum,
Se você consegue explorar crianças indianas e bengalis nas suas fábricas de tênis
e assina sem pestanejar manifestos pela cláusula social e petições de direitos humanos…

Se você faz do super-lucro uma virtude e da agiotagem uma prática respeitada
Se transforma a exploração de mão-de-obra feminina e infantil em regra da vida,
Se você consegue ganhar o título de empresário do ano e entrar no Fortune 500
mesmo praticando fraudes contábeis e comprando suas próprias ações incógnito,
Se pode falar, ao mesmo tempo, na Assembléia da UNE e numa reunião da TFP
relatando, sem ficar corado, que a vida inteira foi revolucionário (ou conservador),
Se concorda com os primeiros que um outro mundo é possível, uma outra América idem,
mas garante sua felicidade terrena antes que turma do MST tome a sua fazenda,
Se consegue aplicar, sem pudor, o neoliberalismo e as regras do Consenso de Washington
garantindo a todo mundo que está fazendo políticas sociais avançadas,

Então, meu caro amigo, meus parabéns de verdade, pois tudo na terra lhe pertence:
pois você conseguiu encarnar todas as promessas da globalização assimétrica!


Com o empréstimo involuntário (e sem pagamento de copyright) do famoso
poema “If”, do imperialista britânico de um século atrás, Rudyard Kipling.

Pela adaptação globalizada:
Paulo Roberto de Almeida
Washington, 1102: 30.08.03
Revisão: Brasília: 14.06.07

741) "Se", um poema conhecido...

Se
Rudyard Kiplin
Tradução de Guilherme de Almeida

Se és capaz de manter a tua calma quando
Todo o mundo ao teu redor já a perdeu e te culpa;
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses no entanto achar uma desculpa;
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretensioso;

Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
De sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se encontrando a desgraça e o triunfo conseguires
Tratar da mesma forma a esses dois impostores;
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas
Em armadilhas as verdades que disseste,
E as coisas, por que deste a vida, estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste;

Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida,
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida;
De forçar coração, nervos, músculos, tudo
A dar seja o que for que neles ainda existe,
E a persistir assim quando, exaustos, contudo
Resta a vontade em ti que ainda ordena: "Persiste!";

Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes
E, entre reis, não perder a naturalidade,
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade,
E se és capaz de dar, segundo por segundo,
Ao minuto fatal todo o valor e brilho,
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais - tu serás um homem, ó meu filho!

740) Surrealismo economico brasileiro...

Da coluna de Luis NAssif, 18.06.07:
Impostos

Uma das grandes esperanças da logística brasileira é a volta da navegação de cabotagem – a que percorre a costa do país. Só que se esbarra em uma questão paradoxal. Um navio que saia de Santos e vá para o nordeste, terá que pagar 35% de impostos. Um navio que chega da China ou de qualquer outro país e desembarca em Santos, não paga um centavo. Esse é o menor dos problemas para se ter uma cabotagem revigorada.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

739) Indice dos Estados Falidos: nova rodada dos fracassos

Why the World's Weakest Countries Pose the Greatest Danger

From FOREIGN POLICY's July/August 2007 Issue
THE 2007 FAILED STATES INDEX

In the third annual Failed States Index, FOREIGN POLICY and The Fund for Peace rank the countries where the risk of failure is running high. Find out who is on the brink, what it means to countries half a world away, and why failed states can be contagious.

Complete report available

It is an accepted axiom of the modern age that distance no longer matters. Sectarian carnage can sway stock markets on the other side of the planet. Anarchic cities that host open-air arms bazaars imperil the security of the world's superpower. A hermit leader's erratic behavior not only makes life miserable for the impoverished millions he rules but also upends the world's nuclear nonproliferation regime. The threats of weak states, in other words, ripple far beyond their borders and endanger the development and security of nations that are their political and economic opposites.

Few encouraging signs emerged in 2006 to suggest the world is on a path to greater peace and stability. Nowhere is this more true than in Sudan and Iraq, the two worst failed states in this year's Failed States Index. Read on for the inside scoop on why these and other countries are teetering on the edge of total collapseÑand why their vulnerabilities spell trouble for the rest of us.

The Best and the Worst
This year, several vulnerable states took a step back from the brink.

Failing the Faithful
The world's weakest states are also the most religiously intolerant. Countries with a poor freedom of religion score are often most likely to meet their maker.

Leading the Way to the Bottom
Many states must endure poverty, corruption, and natural disasters. But, for the weak, there is nothing more costly than a strongman calling the shots.

Nature vs. Nurture
As the world warms, states at risk face severe threats to their groundwater, agriculture, and ecosystems, factors that can rapidly undo political and economic gains.

There Goes the Neighborhood
In some of the world's most dangerous regions, failure doesn't stop at the border's edge. It's contagious.

Long Division
What holds back many of the world's most fragile regimes is that they were never truly in charge in the first place.

Want to know more?
For a complete ranking of all 177 countries, methodology, data sets, frequently asked questions, and a listing of experts available to comment
Foreign Policy and Fund for Peace.

Copyright 2007, The Fund for Peace and the Carnegie Endowment for International Peace. All rights reserved.

FOREIGN POLICY is a registered trademark owned by the Carnegie Endowment for International Peace.

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domingo, 17 de junho de 2007

738) Quinze anos da Eco-Rio 1992: artigo de Celso Lafer

Lições da Rio-92
Celso Lafer
O Estado de São Paulo, 17/06/2007
Opinião, Espaço Aberto

No dia 14 de junho, há 15 anos, encerrou-se a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro. A Rio-92 inaugurou o ciclo das importantes conferências sobre temas globais patrocinadas pela ONU na esperançosa década de 90. Foi a primeira grande conferência diplomática pós-guerra fria e por esta razão não foi moldada pela polaridade Leste-Oeste. Teve alcance inovador, como, por exemplo, a assinatura da Convenção sobre Diversidade Biológica, e desdobramentos importantes. O mais notório foi a antecipação da ameaça do aquecimento global. Este teve na Rio-92 o seu enquadramento inicial, com a assinatura da Convenção-Quadro
sobre Mudança do Clima, que tratou da estabilização do lançamento de CO2 na
atmosfera.

O conceito do desenvolvimento sustentável, lançado pelo Relatório Brundtland de 1987, foi o impulso orientador consagrado na Rio-92. Neste conceito estão consorciadas a legítima preocupação com o meio ambiente e a não menos legítima preocupação com o crescimento econômico e a pobreza. É um paradigma do desenvolvimento que, além dos requisitos de consistência econômica, leva em conta a fragilidade dos ecossistemas. Objetiva o reconhecimento dos Outros: dos nossos contemporâneos no espaço de um mundo comum, das futuras gerações na amplitude do tempo. Sustenta a necessidade da solidária internalização cooperativa dos custos da ação econômica. É uma expressão do
valor justiça ao reivindicar uma distribuição eqüitativa - nacional e internacional - dos custos e benefícios do desenvolvimento, com muito foco na matriz energética que o lastreia. Daí, subseqüentemente, a agenda da eficiência energética, da energia limpa, dos biocombustíveis. Na Rio+10, realizada em Johannesburgo em 2002, o Brasil propôs meta voltada para a ampliação da proporção de energias renováveis no consumo total de energia dos países.

A Declaração do Rio e a Agenda 21, adotadas na conferência, assinalam uma visão de futuro nesta linha, que é representativa de um raro momento da vida internacional. Com efeito, a Rio-92 foi além da especificidade dos interesses nacionais. Reconheceu, política e juridicamente, uma razão abrangente da humanidade num tema que é, pelas suas características, efetivamente global.

A Rio-92 trouxe desdobramentos positivos. Um exemplo na área de clima foi o Protocolo de Kyoto (1997), de cuja negociação o País, no governo FHC, participou criativamente com a proposta, adotada, do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. A visão de futuro da Rio-92 está periclitante neste século 21. A mais recente preocupação provém da Declaração do G-8 da semana passada, que não estabeleceu as esperadas metas quantitativas de redução de emissões, por parte dos países desenvolvidos.

Numa perspectiva brasileira, cabe relembrar que a Rio-92 foi o maior evento internacional jamais sediado no País. Dela participaram 187 Estados, 16 agências especializadas da ONU, 35 organizações intergovernamentais e igualmente um expressivo número de organizações não-governamentais. Daí a sua dimensão de diplomacia inovadoramente aberta à opinião pública e à sociedade civil.

É de justiça registrar que a Rio-92 foi superiormente conduzida pelo presidente Fernando Collor, que, nas plenárias e nas dezenas de contatos com altas autoridades estrangeiras, revelou a sua sensibilidade em relação às matérias em discussão. Aprofundou deste modo, no plano diplomático, a importância atribuída ao meio ambiente pelo artigo 225 da Constituição.

No início da Rio-92, em 3 de junho, havia várias questões pendentes. Como ministro das Relações Exteriores e, nesta condição, como vice-presidente ex-officio da conferência, busquei, com a colaboração de destacados diplomatas do Itamaraty, catalisar o entendimento necessário à conciliação de posições. Parti do pressuposto de que o Brasil, como país anfitrião, deveria empenhar-se no sucesso da Rio-92 e podia fazê-lo, pois convive tanto com os problemas ambientais derivados da pobreza e da miséria quanto com os derivados das condições da moderna produção.

A abrangente compreensão nacional da agenda Norte-Sul permitiu pôr em prática um dos princípios constitucionais que regem as relações internacionais do Brasil: o da "cooperação entre os povos para o progresso da humanidade" (Constituição federal, art. 4-IX). Ensejou assim, e com sucesso, dar seqüência a uma tradição diplomática que é a de afirmar o construtivo papel do nosso país na elaboração e aplicação das normas que regem o encaminhamento dos grandes problemas internacionais.

As lições da Rio-92 indicam a importância de dar continuidade a esta tradição na área do desenvolvimento sustentável. Se há uma esfera da agenda internacional na qual o Brasil tem peso decisivo para o mundo, é a ambiental. É o que vem apontando Rubens Ricupero ao lembrar a qualidade da matriz energética brasileira, a longa prática em biocombustíveis, a riquíssima biodiversidade, a extensão dos reservatórios de água doce e a escala única de floresta tropical amazônica.

Estes dados nos habilitam a ter um papel ativo e construtivo que gera oportunidades econômicas, como o etanol. Isto requer, no entanto, um foco e um empenho que o governo Lula e o Itamaraty lamentavelmente não vêm tendo, ao dispersar sem hierarquizar os ativos diplomáticos do País. Requer igualmente a legitimidade externa proveniente de coerente ação interna, para sustentar o princípio das esponsabilidades comuns, porém diferenciadas da Declaração do Rio. Foi, aliás, o que lastreou, no governo FHC, como posso testemunhar, a posição brasileira na OMC, em Doha, em 2001, na negociação da Declaração TRIPS e Saúde Pública. Lembro, neste sentido, para apontar um caminho, que 75% das emissões brasileiras não provêm da produção e do
crescimento, mas de queimadas e desmatamento predatório, que é de interesse
nacional conter e proibir.

Celso Lafer, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Brasileira de Letras, foi ministro das Relações Exteriores no governo FHC

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...