Um anúncio a ser comemorado:
Uma marca histórica: RBPI, volume 50, No.1 (junho de 2007)
Nós temos a alegria de anuncia o lançamento do número 1 do Volume 50 (1/2007) da Revista Brasileira de Política Internacional, que é publicada pela IBRI desde 1958.
É importante ressaltar que esta é uma edição histórica, marcando o início das comemorações do cinquentenário da Revista. Afinal, a publicação ininterrupta de uma revista por cinquenta anos é um feito extraordinário, tanto para a realidade brasileira e latino-americana, quanto sob qualquer outro ponto de vista. Para o meio acadêmico especializado em Relações Internacionais no Brasil e na América Latina, a auspiciosa sobrevivência por tanto tempo de um veículo científico é prova do seu amadurecimento. Para o IBRI, a publicação da RBPI e a repercussão científica do seu patrimônio de idéias e de debate, se transformou em uma imensa responsabilidade e em missão empreendida com coragem, determinação e bom senso.
Desde a sua fundação em 1958, no calor das grandes inovações diplomáticas do governo Juscelino Kubitschek, a RBPI tem sido no Brasil um dos veículos preferenciais do debate científico de alto nível e, mais do que isso, um vetor da reflexão sobre os caminhos da modernização e das escolhas internacionais do país. Acompanhou e repercutiu nas dezenas de edições que antecederam a marca histórica que comemoramos hoje as grandes transformações da política e da economia, como o arrefecimento da Guerra Fria e o seu fim, o surgimento de novos temas na agenda internacional (como direitos humanos e meio-ambiente), o lançamento e a crise de processos de integração regional, o despertar e o ocaso de potências.
Nos orgulhamos do patrimônio cultural que é representando pela RBPI, publicação de marcou e que ainda marca de tantos modos o debate político e acadêmico sobre Relações Internacionais em geral e em especial, dos temas importantes para a inserção internacional do Brasil.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sexta-feira, 29 de junho de 2007
quinta-feira, 28 de junho de 2007
750) Um retrato do atual ambiente universitário?
Provavelmente sim, hélas!
Vejam a crônica bem-humorada, mas nem por isso menos verdadeiro, de meu colega acadêmico de Santa Catarina sobre os ares do nosso tempo, um Zeitgeist elementar, quando não vulgar...
CAMPUS AVANÇADO DA IDEOLOGIA
por Orlando Tambosi
O Brasil virou mesmo um país de mentes pasteurizadas pela ideologia. Cinco anos de governo lulo-petista bastaram para que tudo fosse virado pelo avesso. Se você defende as liberdades e a democracia, é tachado de "direitista" ou "conservador" (quando as defendia durante a ditadura, era considerado de "esquerda"). Se você defende a ciência, é logo carimbado de "positivista", membro dessa tribo antiquada que acredita na existência de fatos objetivos e, ainda mais absurdo, que tais fatos sejam acessíveis e explicáveis por teorias independentes dos observadores. E se leva a lógica a sério, então, você é um "reacionário" consumado, vítima do raciocínio "burguês".
Isto não acontece no bar da esquina, claro, mas dentro das universidades, particularmente nas ciências humanas/sociais. Seus alunos já vêm ideologicamente embalados do segundo grau, mas ao invés de desenvolverem um pensamento crítico e racionalista, recebem nos campi nova tintura ideológica. Ali, professor "legal" é aquele que reforça as convicções do alunado, não aquele que o incomoda com reflexão. E há muitos mestres, nesse teatrinho, que jamais contrariam aquilo que a platéia espera.
Onde impera o relativismo, tanto no campo cognitivo quanto na esfera dos valores, o mundo passa a ser aquilo que a hermenêutica pós-moderna diz que é. A grama das praças, por exemplo, pode ser vermelha, dependendo apenas do ponto de vista do sujeito. As palavras já não se referem à realidade, mas são a própria realidade - e nada existe fora da linguagem!
Se há dissenso em relação à racionalidade e às ciências, há consenso em torno de algumas pautas, a começar pelo ecologismo, que é quase uma nova religião. Não ouse duvidar que o maldito "ser humano" seja o único responsável pelo "Aquecimento Global", esta entidade com que os novos apocalípticos ameaçam o planeta. Não ouse contestar que a "globalização" seja uma invenção do imperialismo para dominar e a "periferia". E nem ouse negar que "outro mundo é possível", bem além da "lógica capitalista" e das "leis do mercado". Sobretudo, veja no Estado dirigente e regulador o justiceiro das classes populares, o remédio eficaz para todos os males do "neoliberalismo". Defenda sempre mais Estado, nunca menos.
Por fim, considere calunioso aquilo que o escritor Mário Vargas Llosa, obviamente um liberal, definiu como "idiotice latino-americana". Essa idiotice "postiça, deliberada e de livre-escolha", diz ele, "é adotada conscientemente por preguiça intelectual, apatia ética e oportunismo civil. É ideológica e política, mas acima de tudo frívola, pois revela uma abdicação da faculdade de pensar por conta própria, de cotejar as palavras com os fatos que pretendem descrever, de questionar a retórica que faz as vezes de pensamento. Ela é a beatice da moda reinante, o deixar-se levar sempre pela corrente, a religião do estereótipo e do lugar-comum."
http://otambosi.blogspot.com
Publicado em 27/06/2007
Vejam a crônica bem-humorada, mas nem por isso menos verdadeiro, de meu colega acadêmico de Santa Catarina sobre os ares do nosso tempo, um Zeitgeist elementar, quando não vulgar...
CAMPUS AVANÇADO DA IDEOLOGIA
por Orlando Tambosi
O Brasil virou mesmo um país de mentes pasteurizadas pela ideologia. Cinco anos de governo lulo-petista bastaram para que tudo fosse virado pelo avesso. Se você defende as liberdades e a democracia, é tachado de "direitista" ou "conservador" (quando as defendia durante a ditadura, era considerado de "esquerda"). Se você defende a ciência, é logo carimbado de "positivista", membro dessa tribo antiquada que acredita na existência de fatos objetivos e, ainda mais absurdo, que tais fatos sejam acessíveis e explicáveis por teorias independentes dos observadores. E se leva a lógica a sério, então, você é um "reacionário" consumado, vítima do raciocínio "burguês".
Isto não acontece no bar da esquina, claro, mas dentro das universidades, particularmente nas ciências humanas/sociais. Seus alunos já vêm ideologicamente embalados do segundo grau, mas ao invés de desenvolverem um pensamento crítico e racionalista, recebem nos campi nova tintura ideológica. Ali, professor "legal" é aquele que reforça as convicções do alunado, não aquele que o incomoda com reflexão. E há muitos mestres, nesse teatrinho, que jamais contrariam aquilo que a platéia espera.
Onde impera o relativismo, tanto no campo cognitivo quanto na esfera dos valores, o mundo passa a ser aquilo que a hermenêutica pós-moderna diz que é. A grama das praças, por exemplo, pode ser vermelha, dependendo apenas do ponto de vista do sujeito. As palavras já não se referem à realidade, mas são a própria realidade - e nada existe fora da linguagem!
Se há dissenso em relação à racionalidade e às ciências, há consenso em torno de algumas pautas, a começar pelo ecologismo, que é quase uma nova religião. Não ouse duvidar que o maldito "ser humano" seja o único responsável pelo "Aquecimento Global", esta entidade com que os novos apocalípticos ameaçam o planeta. Não ouse contestar que a "globalização" seja uma invenção do imperialismo para dominar e a "periferia". E nem ouse negar que "outro mundo é possível", bem além da "lógica capitalista" e das "leis do mercado". Sobretudo, veja no Estado dirigente e regulador o justiceiro das classes populares, o remédio eficaz para todos os males do "neoliberalismo". Defenda sempre mais Estado, nunca menos.
Por fim, considere calunioso aquilo que o escritor Mário Vargas Llosa, obviamente um liberal, definiu como "idiotice latino-americana". Essa idiotice "postiça, deliberada e de livre-escolha", diz ele, "é adotada conscientemente por preguiça intelectual, apatia ética e oportunismo civil. É ideológica e política, mas acima de tudo frívola, pois revela uma abdicação da faculdade de pensar por conta própria, de cotejar as palavras com os fatos que pretendem descrever, de questionar a retórica que faz as vezes de pensamento. Ela é a beatice da moda reinante, o deixar-se levar sempre pela corrente, a religião do estereótipo e do lugar-comum."
http://otambosi.blogspot.com
Publicado em 27/06/2007
segunda-feira, 25 de junho de 2007
749) De embustes e trapaças...
Não haveria mal, com certeza. Caso algumas mentiras fossem contadas, caso algumas moedas fossem escamoteadas e depois aparecessem magicamente, que mal poderia haver? Todo mundo gosta de embustes e embusteiros. É por isso que camponeses quase famintos abrem mão de seus suados salários quando saltimbancos e ciganos chegam às suas aldeias. Todo mundo gosta de ser enganado, mas apenas quando consentem com o embuste.
“Das Verdadeiras e Reveladoras Memórias de Alonzo Alferonda”, personagem secundário do romance histórico ambientado na Amsterdã de meados do século XVII, O Mercador de Café (The Coffee Trader; tradução de Alexandre Raposo; Rio de Janeiro: Record, 2004, 384 p.; transcrito da página 371), de David Liss, romancista americano (www.davidliss.com).
Na continuidade da leitura desse romance, e mais próximo do final, deparei com a passagem acima transcrita da obra de David Liss, e achei-a perfeitamente apropriada ao momento que vivemos hoje no Brasil, ou talvez em outras épocas também. Eu sempre achei inacreditável como tantas pessoas aceitam ser enganadas, por discursos mentirosos que soam manifestamente falsos e demagógicos, e acho que sempre atribui esse tipo de comportamento à ignorância dos incautos e despreparados. Talvez não seja exatamente assim, como diz o agiota Alferonda.
É certo que a população humilde, aquela que sempre dá os seus votos para os mesmos embusteiros de sempre, consente em ser enganada, pois espera ser retribuída de alguma forma, antes ou depois das eleições, com alguma compensação material, uma promessa de emprego, uma ajuda financeira, qualquer coisa, sim, como diria a canção do poeta. Considerando a miséria material na qual vivem boa parte dos eleitores, pode ser um comportamente racional essa busca de uma satisfação imediata mesmo na perspectiva altamente enganadora de uma promessa vã, de um aceno com algum benefício futuro, coisas, enfim que eles sabem objetivamente que não serão cumpridas, ou pelo menos não em sua inteireza. Trata-se de um jogo, no qual os eleitores pobres adivinham e sabem que aquele político demagogo e falastrão os está enganando de verdade, mas, ainda assim, eles fingem que acreditam nele, temporariamente, caso a promessa se materialize de alguma forma, ou pelo menos parte dela: um asfalto aqui, um posto de saúde acolá, guarda na esquina para afastar os verdadeiros ladrões – talvez não tão perniciosos quanto os que assaltam apenas armados de canetas e armações clandestinas –, enfim, uma ajudazinha temporária para tornar a vida normal um pouco menos miserável do que ela já, normalmente. Afinal de contas, só existe o período eleitoral para acomodar esse tipo de barganha, quando a população humilde tem algo precioso para o demagogo contumaz, o seu voto absolutamente necessário.
Tudo isso é compreensível e esperado e não deveria nos chocar o mais da conta. Mas, o que dizer de senhores senadores, pessoas de posses, algumas cultivadas – outras nem tanto –, indivíduos calejados ao longo de uma vida inteira de espertezas políticas, muitos ex-governadores e prefeitos, ou até presidentes, o que dizer desses ilustres senhores – algumas senhoras também – que gostam de ser enganados, pedem para ser enganados, consentem voluntariamente em deixar-se seduzir pela mais hedionda mentira, pela mais aberta desfaçatez, pela falcatrua tão evidente que até um garoto de colégio saberia que não pode haver essa coisa de “boi voador”.
Pois é, no lugar de camponeses famintos que se divertem com ciganos e magicos de feira barata, temos membros da elite política do país que não apenas consentem mas são coniventes com a fraude, o embuste, a mentira e a hipocrisia. Eles são coniventes com o crime, para sermos mais exatos, pois é disso que estamos falando. Quanto um membro da honorável sociedade vê a fortuna do seu ilustre colega multiplicar-se de forma inacreditável, como se o dinheiro brotasse em árvores, ele apenas fica admirado da esperteza do colega, e trata de descobrir uma maneira de também enriquecer assim tão rapidamente.
Como pergunta Alferonda: que mal pode haver em algumas moedas mudarem de mão, aparecerem magicamente? Que coisa tão horrível pode haver em se buscar a recompensa por tão nobres e necessários serviços prestados à nação, aos mais humildes em primeiro lugar, que não protestam de modo apropriado frente ao embuste que eles sabem existir em suas ações? Por que tanta reação dos moralistas, quando o que se faz é aquilo que sempre se fez, ainda que de maneira mais discreta em outros tempos?
Também acho que não há nada de surpreendente nisso tudo. Mas, não sei por que não consigo evitar a manifestação de um sentimento que estranhamente me acompanha desde uns tempos para cá:
Asco...
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org; pralmeida@mac.com)
Brasília, 1760: 125 junho 2007, 2 p.
“Das Verdadeiras e Reveladoras Memórias de Alonzo Alferonda”, personagem secundário do romance histórico ambientado na Amsterdã de meados do século XVII, O Mercador de Café (The Coffee Trader; tradução de Alexandre Raposo; Rio de Janeiro: Record, 2004, 384 p.; transcrito da página 371), de David Liss, romancista americano (www.davidliss.com).
Na continuidade da leitura desse romance, e mais próximo do final, deparei com a passagem acima transcrita da obra de David Liss, e achei-a perfeitamente apropriada ao momento que vivemos hoje no Brasil, ou talvez em outras épocas também. Eu sempre achei inacreditável como tantas pessoas aceitam ser enganadas, por discursos mentirosos que soam manifestamente falsos e demagógicos, e acho que sempre atribui esse tipo de comportamento à ignorância dos incautos e despreparados. Talvez não seja exatamente assim, como diz o agiota Alferonda.
É certo que a população humilde, aquela que sempre dá os seus votos para os mesmos embusteiros de sempre, consente em ser enganada, pois espera ser retribuída de alguma forma, antes ou depois das eleições, com alguma compensação material, uma promessa de emprego, uma ajuda financeira, qualquer coisa, sim, como diria a canção do poeta. Considerando a miséria material na qual vivem boa parte dos eleitores, pode ser um comportamente racional essa busca de uma satisfação imediata mesmo na perspectiva altamente enganadora de uma promessa vã, de um aceno com algum benefício futuro, coisas, enfim que eles sabem objetivamente que não serão cumpridas, ou pelo menos não em sua inteireza. Trata-se de um jogo, no qual os eleitores pobres adivinham e sabem que aquele político demagogo e falastrão os está enganando de verdade, mas, ainda assim, eles fingem que acreditam nele, temporariamente, caso a promessa se materialize de alguma forma, ou pelo menos parte dela: um asfalto aqui, um posto de saúde acolá, guarda na esquina para afastar os verdadeiros ladrões – talvez não tão perniciosos quanto os que assaltam apenas armados de canetas e armações clandestinas –, enfim, uma ajudazinha temporária para tornar a vida normal um pouco menos miserável do que ela já, normalmente. Afinal de contas, só existe o período eleitoral para acomodar esse tipo de barganha, quando a população humilde tem algo precioso para o demagogo contumaz, o seu voto absolutamente necessário.
Tudo isso é compreensível e esperado e não deveria nos chocar o mais da conta. Mas, o que dizer de senhores senadores, pessoas de posses, algumas cultivadas – outras nem tanto –, indivíduos calejados ao longo de uma vida inteira de espertezas políticas, muitos ex-governadores e prefeitos, ou até presidentes, o que dizer desses ilustres senhores – algumas senhoras também – que gostam de ser enganados, pedem para ser enganados, consentem voluntariamente em deixar-se seduzir pela mais hedionda mentira, pela mais aberta desfaçatez, pela falcatrua tão evidente que até um garoto de colégio saberia que não pode haver essa coisa de “boi voador”.
Pois é, no lugar de camponeses famintos que se divertem com ciganos e magicos de feira barata, temos membros da elite política do país que não apenas consentem mas são coniventes com a fraude, o embuste, a mentira e a hipocrisia. Eles são coniventes com o crime, para sermos mais exatos, pois é disso que estamos falando. Quanto um membro da honorável sociedade vê a fortuna do seu ilustre colega multiplicar-se de forma inacreditável, como se o dinheiro brotasse em árvores, ele apenas fica admirado da esperteza do colega, e trata de descobrir uma maneira de também enriquecer assim tão rapidamente.
Como pergunta Alferonda: que mal pode haver em algumas moedas mudarem de mão, aparecerem magicamente? Que coisa tão horrível pode haver em se buscar a recompensa por tão nobres e necessários serviços prestados à nação, aos mais humildes em primeiro lugar, que não protestam de modo apropriado frente ao embuste que eles sabem existir em suas ações? Por que tanta reação dos moralistas, quando o que se faz é aquilo que sempre se fez, ainda que de maneira mais discreta em outros tempos?
Também acho que não há nada de surpreendente nisso tudo. Mas, não sei por que não consigo evitar a manifestação de um sentimento que estranhamente me acompanha desde uns tempos para cá:
Asco...
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org; pralmeida@mac.com)
Brasília, 1760: 125 junho 2007, 2 p.
748) Diplomaticas: um novo grupo de noticias e discussao
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domingo, 24 de junho de 2007
747) Mais um pouco de "cancioneiro" português: Sergio Godinho
Os Conquistadores
Sérgio Godinho
Lá vais tu, caravela, lá vais
e a mão que ainda me acena do cais
dará a esta outra mão a coragem
de em frente, em frente seguir viagem,
Será que existe mesmo o Levante?
Haverá quem um dia nos cante?
ando às ordens do nosso infante,
e cá vou fazendo os possíveis
Ó ei, deita a mão a este remo
além, são só paragens do demo
quem sabe, é só um abismo suspenso
só vendo, mas o nevoeiro é denso
Será que existe mesmo o Levante?
Haverá quem um dia nos cante?
ando às ordens do nosso infante
e cá vou fazendo os possíveis
Mas parai, trago notícias horríveis
parai com tudo,
já avisto os nossos conquistadores
Vêm num bote de madeira talhado em caravela
com um soldado de madeira a fingir de sentinela
com uma espada de madeira proferindo sentenças
enterrada que ela foi no coração doutras crenças
enterrada que ela foi, sua sombra era uma cruz
exigindo aos que morriam que gritassem: Jesus!
com um caixilho de madeira imortalizando o saque
colorindo na vitória as armas brancas do ataque
até que povos massacrados foram dizendo: Basta
até que a mesa do Comércio ainda posta e já gasta
acabou como jangada para evacuar fugitivos
da fogueira incendiada pelos outrora cativos
e debandou à nossa costa a transbordar de remorsos
mas a rejeitar a culpa e ainda a pedir reforços.
Sérgio Godinho é uma espécie de Chico Buarque de Portugal. Eu prefiro o Sérgio ao Chico no quesito "casamento entre literatura e história". É claro que o Chico também é muito bom nisto mas creio que o Sérgio o supere... talvez a diferença esteja no tipo de público a que cada um se dirige. Eu diria que os portugueses (as portuguesas são insuperáveis!) cultos são muito mais cultos do que os brasileiros cultos... e certamente são também mais arrogantes e pedantes. Mas basta a gente encarar que eles ficam mansinhos de gaiola...
(Comentário de Maria do Espirito Santo Gontijo, BH-MG)
Sérgio Godinho
Lá vais tu, caravela, lá vais
e a mão que ainda me acena do cais
dará a esta outra mão a coragem
de em frente, em frente seguir viagem,
Será que existe mesmo o Levante?
Haverá quem um dia nos cante?
ando às ordens do nosso infante,
e cá vou fazendo os possíveis
Ó ei, deita a mão a este remo
além, são só paragens do demo
quem sabe, é só um abismo suspenso
só vendo, mas o nevoeiro é denso
Será que existe mesmo o Levante?
Haverá quem um dia nos cante?
ando às ordens do nosso infante
e cá vou fazendo os possíveis
Mas parai, trago notícias horríveis
parai com tudo,
já avisto os nossos conquistadores
Vêm num bote de madeira talhado em caravela
com um soldado de madeira a fingir de sentinela
com uma espada de madeira proferindo sentenças
enterrada que ela foi no coração doutras crenças
enterrada que ela foi, sua sombra era uma cruz
exigindo aos que morriam que gritassem: Jesus!
com um caixilho de madeira imortalizando o saque
colorindo na vitória as armas brancas do ataque
até que povos massacrados foram dizendo: Basta
até que a mesa do Comércio ainda posta e já gasta
acabou como jangada para evacuar fugitivos
da fogueira incendiada pelos outrora cativos
e debandou à nossa costa a transbordar de remorsos
mas a rejeitar a culpa e ainda a pedir reforços.
Sérgio Godinho é uma espécie de Chico Buarque de Portugal. Eu prefiro o Sérgio ao Chico no quesito "casamento entre literatura e história". É claro que o Chico também é muito bom nisto mas creio que o Sérgio o supere... talvez a diferença esteja no tipo de público a que cada um se dirige. Eu diria que os portugueses (as portuguesas são insuperáveis!) cultos são muito mais cultos do que os brasileiros cultos... e certamente são também mais arrogantes e pedantes. Mas basta a gente encarar que eles ficam mansinhos de gaiola...
(Comentário de Maria do Espirito Santo Gontijo, BH-MG)
746) Pausa para a cultura: uma bela poesia...
Na verdade uma composição, que eu diria histórico-literária.
Vejam vocês mesmos:
Os Demónios de Alcácer-Quibir
Sérgio Godinho
O D. Sebastião foi para Alcácer Quibir
de lança na mão, a investir, a investir,
com o cavalo atulhado de livros de história
e guitarras de fado para cantar vitória.
O D. Sebastião já tinha hipotecado
toda a nação por dez reis de mel coado
para comprar soldados, lanças, armaduras,
para comprar o V das vitórias futuras.
O D. Sebastião era um belo pedante
foi mandar vir para uma terra distante
pôs-se a discursar: isto aqui é só meu
vamos lá trabalhar que quem manda sou eu.
Mas o mouro é que conhecia o deserto
de trás para diante e de longe e de perto
o mouro é que sabia que o deserto queima e abrasa
o mouro é que jogava em casa.
E o D. Sebastião levou tantas na pinha
que ao voltar cá encontrou a vizinha
espanhola sentada na cama, deitada no trono
e o país mudado de dono.
E o D. Sebastião acabou na moirama
um bebé chorão sem regaço nem mama
a beber, a contar tim por tim tim
a explicar, a morrer, sim, mas devagar
E apanhou tal dose do tal nevoeiro
que a tuberculose o mandou para o galheiro
fez-se um funeral com princesas e reis
e etcetera e tal, Viva Portugal.
Vejam vocês mesmos:
Os Demónios de Alcácer-Quibir
Sérgio Godinho
O D. Sebastião foi para Alcácer Quibir
de lança na mão, a investir, a investir,
com o cavalo atulhado de livros de história
e guitarras de fado para cantar vitória.
O D. Sebastião já tinha hipotecado
toda a nação por dez reis de mel coado
para comprar soldados, lanças, armaduras,
para comprar o V das vitórias futuras.
O D. Sebastião era um belo pedante
foi mandar vir para uma terra distante
pôs-se a discursar: isto aqui é só meu
vamos lá trabalhar que quem manda sou eu.
Mas o mouro é que conhecia o deserto
de trás para diante e de longe e de perto
o mouro é que sabia que o deserto queima e abrasa
o mouro é que jogava em casa.
E o D. Sebastião levou tantas na pinha
que ao voltar cá encontrou a vizinha
espanhola sentada na cama, deitada no trono
e o país mudado de dono.
E o D. Sebastião acabou na moirama
um bebé chorão sem regaço nem mama
a beber, a contar tim por tim tim
a explicar, a morrer, sim, mas devagar
E apanhou tal dose do tal nevoeiro
que a tuberculose o mandou para o galheiro
fez-se um funeral com princesas e reis
e etcetera e tal, Viva Portugal.
quarta-feira, 20 de junho de 2007
745) Imigração japonesa ao Brasil: preparando o centenário
Sítio eletrônico do centenário da imigração japonesa
Entrou em funcionamento no dia 14 de junho corrente o sítio eletrônico da Comissão Nacional Organizadora das Comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, cujo endereço é "http://www.japaocentenario.mre.gov.br".
O sítio eletrônico permitirá acompanhar mais diretamente as atividades da Comissão Nacional, particularmente no que se refere aos sete Grupos de Trabalho encarregados da elaboração da programação das comemorações de centenário da imigração nipônica, em 2008.
O sítio apresenta também documentos oficiais de referência, bem como textos e imagens sobre a presença japonesa no Brasil e a presença brasileira no Japão.
Entrou em funcionamento no dia 14 de junho corrente o sítio eletrônico da Comissão Nacional Organizadora das Comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, cujo endereço é "http://www.japaocentenario.mre.gov.br".
O sítio eletrônico permitirá acompanhar mais diretamente as atividades da Comissão Nacional, particularmente no que se refere aos sete Grupos de Trabalho encarregados da elaboração da programação das comemorações de centenário da imigração nipônica, em 2008.
O sítio apresenta também documentos oficiais de referência, bem como textos e imagens sobre a presença japonesa no Brasil e a presença brasileira no Japão.
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