Economia mundial: de onde viemos, para onde vamos?
Paulo Roberto de Almeida
(da série: Volta ao mundo em 25 ensaios)
Ordem Livre, 01 de Fevereiro de 2010
Economia mundial não é um termo que se possa empregar antes do século XVI et encore: mesmo a partir da unificação geográfica conduzida por Colombo, Vasco da Gama e Fernão de Magalhães, a economia mundial não era, em absoluto, universal. Nessa primeira onda de globalização, de caráter mercantil, tratava-se, mais exatamente, de um arquipélago de economias centrais, predominantemente de origem européia, vinculadas a suas respectivas periferias nas novas terras descobertas, mediante um sistema usualmente conhecido como "exclusivo colonial". Os demais centros regionais – o "Império do Meio" (China), o império Mogul, na Índia, o mundo muçulmano (que começava a ser unificado sob o jugo otomano) e outros "blocos" sub-regionais, na Eurásia ou nas Américas – não tinham realmente condições de disputar qualquer hegemonia econômica mundial, como diriam os marxistas.
Até o final do século XVIII, China e Índia constituíam duas grandes economias, que produziam bens valorizados nos mercados ocidentais, mas dotadas de instituições pouco adaptadas aos desafios da nova economia industrial, caracterizada pelo que se poderia chamar, ainda no jargão marxista, de um "modo inventivo de produção". Foi precisamente a partir da revolução industrial na Inglaterra, nessa mesma época, que teve início a diferenciação dos centros econômicos mundiais, processo que os historiadores econômicos chamam de "grande divergência", ou seja, a aceleração da transformação tecnológica no Ocidente, seguida da dominação absoluta das potências européias sobre o resto do mundo (destinada a durar cinco séculos, talvez até hoje).
Essa segunda grande onda da globalização, de natureza industrial, conforma o que se poderia pela primeira vez chamar de economia mundial, uma rede integrada de centros produtores de matérias primas, de um lado, servidas pelos centros financeiros europeus – com a libra inglesa e os bancos britânicos em seu núcleo – e as oficinas manufatureiras, de outro, dotadas das novas tecnologias industriais de produção em massa. As economias nacionais, até então pouco diferenciadas entre si – posto que uniformemente e predominantemente de base agrícola ou mercantil – começam a exibir diferenças estruturais, a partir de níveis de produtividade bem mais elevados nos sistemas industriais. A defasagem de renda começa sua escalada para índices sempre crescentes, entre o centro e a periferia, num processo que se desenvolveria durante praticamente dois séculos, com um recrudescimento ainda maior durante a maior parte do século XX, para diminuir apenas a partir da terceira onda de globalização, já no último quinto desse século.
No intervalo, a economia mundial capitalista seria desafiada por duas ameaças muito diferentes, entre si, mas concordantes em sua ação desagregadora de um sistema verdadeiramente unificado de relações mercantis e financeiras. A partir da primeira guerra mundial, as crises recorrentes dos centros capitalistas desenvolvidos no entre guerras (em especial a de 1929 e a depressão que se seguiu) e a implantação de sistemas coletivistas (de natureza soviética, desde 1917, e os fascismos, pouco depois), com suas experiências estatizantes e antiliberais, representaram uma "breve" interrupção de setenta anos no processo de globalização. No imediato pós-segunda guerra mundial, as muitas experiências de nacionalizações e de estatizações no Ocidente capitalista, com seu cortejo de práticas intrusivas, dirigistas e planos de "desenvolvimento" (com muito planejamento estatal centralizado, mesmo no capitalismo) representaram, igualmente, um retrocesso na reunificação de um sistema de mercado verdadeiramente mundial, desde então colocado sob a égide dos dois irmãos de Bretton Woods (o FMI e o Banco Mundial) e do GATT (OMC, em 1995).
Foi somente a partir das reformas econômicas "neoliberais" iniciadas na China a partir dos anos 1980 e da implosão e quase completo desaparecimento dos regimes socialistas, entre 1989 e 1991, que o processo de reunificação da economia mundial é retomado, no bojo da terceira onda de globalização capitalista, desta vez dominada pela sua vertente financeira (mas que inclui também os investimentos diretos). O fim do socialismo representou pouco em termos de concorrência manufatureira – já que o socialismo era um produtor medíocre de bens industrializados – e menos ainda em termos de fluxos financeiros e tecnológicos – onde os países socialistas eram ainda mais marginais, senão irrelevantes; mas significou um impacto decisivo em termos de mercados e, sobretudo, de mão-de-obra (com destaque absoluto para a China).
A fase atual, se ainda não pode ser identificada com um novo processo de "convergência" da economia mundial, caracteriza-se, pelo menos, pela diminuição da divergência entre as regiões – com notáveis exceções, como nos casos da África, do Oriente Médio e em grande medida da América Latina – e pelo rápido catch-up experimentado por alguns emergentes dinâmicos. No curso dos últimos vinte anos de globalização, a China e a Índia retiraram centenas de milhões de pessoas de uma miséria abjeta, colocando-as numa situação de pobreza moderada, justamente em função das reformas econômicas empreendidas e de sua inserção na globalização. Esse processo deve continuar, pelo menos naqueles países que decidiram substituir antigas políticas protecionistas e estatizantes por uma abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros diretos.
O lado financeiro permanece ainda a dimensão problemática da globalização, não porque a liberdade de circulação de capitais seria, em si, desestabilizadora das economias nacionais, mas porque os governos ainda insistem em praticar políticas monetárias e cambiais inconsistentes com os novos dados da economia mundial. O monopólio dos bancos centrais na emissão de moedas-papel, na fixação das taxas de juros (sem correspondência efetiva com o equilíbrio real dos mercados de capitais) e seu papel na manutenção de regimes cambiais irrealistas e desajustados, explica muito das crises financeiras ocorridas na segunda metade dos anos 1990 e em 2007-2009. As bolhas que se formam não são o resultado de "forças cegas do mercado" – como políticos inescrupulosos e economistas pretensamente keynesianos proclamam – mas sim a consequência das manipulações dos governos em setores sensíveis da economia real. A possibilidade de maiores progressos em direção à convergência econômica mundial depende, assim, tanto da continuidade da abertura dos países ao processo de globalização, quanto da habilidade dos governos em manterem soberania monetária e cambial no novo contexto criado pela unificação paulatina dos mercados de capitais.
Não é provável que essa convergência se dê rapidamente, tendo em vista a resistência de muitos governos à abertura comercial e financeira e sua tendência a continuar manipulando taxas de juros e regimes cambiais; mas é previsível que a globalização continue avançando naqueles países e regiões propensos a aceitarem as novas regras de mercado. Independentemente do que digam aqueles que condenam as novas políticas "neoliberais", é um fato que os países que mais progressos fizeram no plano do crescimento econômico e da prosperidade de seus povos são aqueles que mais rapidamente souberam se integrar comercialmente na economia mundial, e dela puderam tirar proveito dos efeitos benéficos dos investimentos diretos, que trazem capitais, know-how e tecnologia. A lição parece ter sido aprendida, mas nem todos souberam dela tirar os ensinamentos adequados.
Ça viendra, à son temps...
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Para o primeiro ensaio da série "Volta ao Mundo em 25 Ensaios", ver aqui:
Por que o mundo é como é (e como ele poderia ser melhor...)
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
1920) Haiti: nao se trata de reconstrucao, mas de construir um pais
Tenho lido na imprensa artigos de pretensos especialistas no Haiti que, invariavelmente, tocam na corda de que o país foi "esquecido" pelo mundo, quando não dominado e explorado pelo imperialismo americano, e por isso é o que é, ou seja, o país mais pobre do hemisfério, de fato um país africano na América Latina.
Não faltaram também aqueles que falaram de um Plano Marshall, ou até de um Plano Lula, como se fosse obrigação do mundo reconstruir o país, ou de se comprometer com essa tarefa nas próximas duas décadas.
Sou circunspecto quanto a isso, por "n" razões que não vou explicar agora. Permito-me, em todo caso, transcrever um artigo a respeito.
* OPINION
Haiti Needs to Be Built, Not Rebuilt
Calls for a 'Marshall Plan' are misguided.
By PETER A. COCLANIS
The Wall Street Journal, February 2, 2010
In our haste to help Haiti, we need to resist the kind of sloppy thinking that can lead to false assumptions and overly optimistic plans. The recent call by International Monetary Fund Managing Director Dominique Strauss-Kahn for a "Marshall Plan" for Haiti, which is now being echoed by many others, is a case in point. Such a plan, even if it was embraced by developed countries, has little chance of succeeding.
The Marshall Plan, officially known as the European Recovery Plan, was a U.S. policy that spent tremendous sums of money rebuilding war-torn Europe between 1948 and 1952. Popularly identified with Secretary of State George C. Marshall, the plan was largely developed by talented State Department officials, such as George F. Kennan and William L. Clayton. It had several goals, including providing relief to the poor, promoting economic development, and preventing a communist upsurge in Western and Southern Europe.
The U.S. and other nations distributed more than $13 billion—equivalent to more than $97 billion in 2008 dollars—to 17 nations. Some of the countries that received aid were historically poor: Greece, Ireland, Portugal and Turkey, for example. Most, however, were already developed countries that were simply reeling from World War II—such as Austria, Denmark, France, Western Germany, Luxembourg, the Netherlands, Norway, Sweden and the United Kingdom.
In many cases, factories, city centers and infrastructure were bombed out. In others, residents had fled ahead of the fighting or mobilized in response to the war. Heavy investment was required to restart the economies of these countries.
The Marshall Plan succeeded in helping to usher in the European "economic miracle" of the 1950s. But it did so, according to most historians, because the bulk of the aid went to developed nations that merely needed an economic jump start.
Before the war, these areas possessed high levels of human capital, relatively advanced technologies, and institutions and cultures that were conducive to growth. With short-term capital infusions, they reverted to form.
The case of Japan, another developed nation devastated by World War II, is also instructive. It too experienced an "economic miracle" after the war, a few years after Europe experienced its miracle. It did so with help from the U.S. (though it did not formally participate in the Marshall Plan).
The situation in Haiti today is vastly different than that of postwar Europe and Japan. Haiti is an economically exhausted place, as it was on the eve of the Jan. 12 earthquake. Its economic problems are not akin to those facing Europe or Japan in 1948, and what is required to put Haiti on sound economic footing is much different.
Instead, what policy makers need to focus on is creating the conditions—economic, social, educational, public health, political, and perhaps most importantly, cultural—necessary to put Haiti onto the first foothold of the development ladder.
No one should delude himself that a development scheme for Haiti will in the short run enable the country to scale that ladder, let alone claim a position at or near the top as did postwar France, Germany, Britain, and Japan. Rather, the hope should be that Haiti can begin the difficult and uncertain process of economic development.
This is obviously a worthy goal—one we should support—but misleading analogies won't make the goal come true. It would be much better to explicitly acknowledge the difficult task ahead. The Marshall Plan lasted for about four years and succeeded by jump-starting formerly functioning economies.
Haiti is by far the poorest country in the Western Hemisphere. Some 98% of the country is deforested. It lacks many of the fundamental institutions necessary for a vibrant economy, such as a reliable police force, protections for private property, and schools that boost literacy rates. Just 50% of Haiti's population is literate now. Haiti also lacks a culture that encourages a strong work ethic, the accumulation of capital, and the passing of assets on to future generations. Realistically, building an economic base for Haiti will take generations.
Before the quake there were more than 10,000 nongovernmental organizations in Haiti feeding the poor, providing health services and much more. This fact alone should give the world pause. Haiti doesn't need to be rebuilt. It needs to be built from the ground up.
Mr. Coclanis is a professor of history and director of the Global Research Institute at the University of North Carolina, Chapel Hill.
Não faltaram também aqueles que falaram de um Plano Marshall, ou até de um Plano Lula, como se fosse obrigação do mundo reconstruir o país, ou de se comprometer com essa tarefa nas próximas duas décadas.
Sou circunspecto quanto a isso, por "n" razões que não vou explicar agora. Permito-me, em todo caso, transcrever um artigo a respeito.
* OPINION
Haiti Needs to Be Built, Not Rebuilt
Calls for a 'Marshall Plan' are misguided.
By PETER A. COCLANIS
The Wall Street Journal, February 2, 2010
In our haste to help Haiti, we need to resist the kind of sloppy thinking that can lead to false assumptions and overly optimistic plans. The recent call by International Monetary Fund Managing Director Dominique Strauss-Kahn for a "Marshall Plan" for Haiti, which is now being echoed by many others, is a case in point. Such a plan, even if it was embraced by developed countries, has little chance of succeeding.
The Marshall Plan, officially known as the European Recovery Plan, was a U.S. policy that spent tremendous sums of money rebuilding war-torn Europe between 1948 and 1952. Popularly identified with Secretary of State George C. Marshall, the plan was largely developed by talented State Department officials, such as George F. Kennan and William L. Clayton. It had several goals, including providing relief to the poor, promoting economic development, and preventing a communist upsurge in Western and Southern Europe.
The U.S. and other nations distributed more than $13 billion—equivalent to more than $97 billion in 2008 dollars—to 17 nations. Some of the countries that received aid were historically poor: Greece, Ireland, Portugal and Turkey, for example. Most, however, were already developed countries that were simply reeling from World War II—such as Austria, Denmark, France, Western Germany, Luxembourg, the Netherlands, Norway, Sweden and the United Kingdom.
In many cases, factories, city centers and infrastructure were bombed out. In others, residents had fled ahead of the fighting or mobilized in response to the war. Heavy investment was required to restart the economies of these countries.
The Marshall Plan succeeded in helping to usher in the European "economic miracle" of the 1950s. But it did so, according to most historians, because the bulk of the aid went to developed nations that merely needed an economic jump start.
Before the war, these areas possessed high levels of human capital, relatively advanced technologies, and institutions and cultures that were conducive to growth. With short-term capital infusions, they reverted to form.
The case of Japan, another developed nation devastated by World War II, is also instructive. It too experienced an "economic miracle" after the war, a few years after Europe experienced its miracle. It did so with help from the U.S. (though it did not formally participate in the Marshall Plan).
The situation in Haiti today is vastly different than that of postwar Europe and Japan. Haiti is an economically exhausted place, as it was on the eve of the Jan. 12 earthquake. Its economic problems are not akin to those facing Europe or Japan in 1948, and what is required to put Haiti on sound economic footing is much different.
Instead, what policy makers need to focus on is creating the conditions—economic, social, educational, public health, political, and perhaps most importantly, cultural—necessary to put Haiti onto the first foothold of the development ladder.
No one should delude himself that a development scheme for Haiti will in the short run enable the country to scale that ladder, let alone claim a position at or near the top as did postwar France, Germany, Britain, and Japan. Rather, the hope should be that Haiti can begin the difficult and uncertain process of economic development.
This is obviously a worthy goal—one we should support—but misleading analogies won't make the goal come true. It would be much better to explicitly acknowledge the difficult task ahead. The Marshall Plan lasted for about four years and succeeded by jump-starting formerly functioning economies.
Haiti is by far the poorest country in the Western Hemisphere. Some 98% of the country is deforested. It lacks many of the fundamental institutions necessary for a vibrant economy, such as a reliable police force, protections for private property, and schools that boost literacy rates. Just 50% of Haiti's population is literate now. Haiti also lacks a culture that encourages a strong work ethic, the accumulation of capital, and the passing of assets on to future generations. Realistically, building an economic base for Haiti will take generations.
Before the quake there were more than 10,000 nongovernmental organizations in Haiti feeding the poor, providing health services and much more. This fact alone should give the world pause. Haiti doesn't need to be rebuilt. It needs to be built from the ground up.
Mr. Coclanis is a professor of history and director of the Global Research Institute at the University of North Carolina, Chapel Hill.
1919) A arte de ser contrarianista
Eu mesmo esqueço de certos textos mais antigos que deveriam estar linkados de forma permanente na coluna da direita. De vez em quando, um deles me cai, por acaso, "no colo", ou na tela do computador. Como nunca foi publicado em algum veículo formal, creio que não estou infringindo nenhum copyright (que seria meu mesmo) se republicá-lo novamente:
A arte de ser contrarianista...
O contrarianismo, na prática
Paulo Roberto de Almeida
Já me defini, em algum trabalho anterior, como um “contrarianista”, isto é, alguém que procura ver as “coisas da vida” com um olhar cético, sempre interrogando os fundamentos e as razões de por quê as coisas são daquele jeito e não de outro, ou de como elas poderiam ser ainda melhores do que são, aparentemente a um menor custo para a sociedade ou atendendo a critérios superiores de racionalidade e de instrumentalidade. Ou seja, em linguagem da economia política, o contrarianista é um indivíduo que está sempre procurando aumentar as externalidades positivas e diminuir as negativas, sempre efetuando cálculos de custo-oportunidade do capital empregado, sobre o retorno mais eficiente possível, adequando os meios disponíveis ao princípio da escassez.
O contrarianista não é, a despeito do que muitos possam pensar, um ser que sempre é “do contra”, um caráter negativo ou pessimista. Ao contrário, trata-se, para ele, de buscar otimizar os recursos existentes, indagando continuamente como fazer melhor, eventualmente mais barato, com os parcos meios existentes. Esta é a minha concepção do contrarianismo, uma arte difícil de ser exercitada, mais difícil ainda de ser compreendida. Eu a definiria, segundo uma lição que aprendi ainda na adolescência, como um exercício de “ceticismo sadio”, ou seja, o espírito crítico que não se compraz, simplesmente, em negar as “coisas” como elas são, mas que se esforça, em toda boa vontade, para que elas sejam ainda melhores do que são, questionando sua forma de ser atual e propondo uma organização que possa ser ainda mais funcional do que a existente.
Por isso mesmo, pretendo, neste curto ensaio, tecer algumas considerações sobre a arte de ser contrarianista, o que, confesso, não é fácil. Sempre nos arriscamos a ser incompreendidos, em aparecer como puramente negativos ou derrotistas, quando o que se busca, na verdade, é reduzir o custo das soluções “humanamente produzidas” (elas sempre são falhas). Talvez, a melhor forma de se demonstrar, na prática, a arte do contrarianismo, seria elaborar uma série de manuais de sentido contrário, isto é, em lugar dos How to do something, escrever sobre “como não fazer” determinadas coisas. Como eu exercito muito freqüentemente a resenha de livros, creio que não seria difícil oferecer algumas observações sobre essa prática corriqueira da vida cotidiana. Aliás, já o fiz, num dos primeiros posts de meu blog “Book reviews” dedicado aos livros, post nº 2, “A arte da resenha” (neste link).
Existem, de fato, muitos manuais e guias sobre a arte ou a maneira de se fazer isto ou aquilo, sendo os mais conhecidos, justamente, aqueles americanos que seguem as regras usuais do gênero “how to do this or that...”. Aperfeiçoando o gênero surgiram os “beginners’ guide to...” e os “idiot’s guide for...”. Antes dessa era de proliferação infernal de guias para todos os idiotas existentes, eu cheguei a consultar, quando estava elaborando a minha tese de doutoramento, um guia de um desses americanos do self-help, que se chamava, exatamente, How to complete, and survive... a doctoral dissertation: foi útil, confesso, ao menos em diminuir o stress com os ciclos ascendentes (eufóricos) e descendentes (que podem ser depressivos, para alguns candidatos) do longo périplo na direção do final da tese. Talvez, um dia, eu faça um manual sobre “Como não exercer a diplomacia”, para o que eu mesmo teria muito material primário – autoproduzido – a ser processado e apresentado a eventuais candidatos e outros incautos da profissão.
Esperando que este dia chegue, vejamos quais poderiam ser algumas regras simples do contrarianista profissional, aquele que leva esse método a sério, considera o exercício válido do ponto de vista das best practices e pretende aperfeiçoar os procedimentos e instrumentos para elevar essa prática ao estado de “arte”, se ela já não o é. Uma simples listagem, a ser detalhada em trabalhos posteriores, poderia compreender os seguintes pontos:
1) Questione as origens:
Toda vez que for apresentado a um novo problema, ou uma questão não corriqueira, veja se consegue detectar as origens daquele problema, porque ele surgiu dessa forma neste momento e neste local. Saber a etiologia de algum fenômeno, assim como saber a etimologia das palavras, sempre ajuda a detectar as razões de sua irrupção num dado contexto em que você é chamado a intervir. As origens e fundamentos de um processo qualquer podem contribuir para determinar seu possível desenvolvimento e eventual itinerário. É assim que procedem os epidemiologistas e, creio também, os linguistas, sempre preocupados em detectar os mecanismos fundamentais de criação de um fenômeno ou processo. Portanto, não tenha medo em perguntar: “de onde surgiu isso?; como é que isso veio parar aqui?; qual é a origem desse treco?”. Pode ajudar um bocado.
2) Determine se o que está sendo apresentado é realmente a essência da coisa:
Muitas vezes somos enganados pelas aparências, como já dizia um velho humorista. As coisas podem ter mais de uma dimensão – usualmente três, mas alguns apostam em dimensões “desconhecidas” – ou em todo caso todos os lados e facetas daquele problema podem não estar imediatamente visíveis ou serem perceptíveis da posição na qual você se encontra. Por isso, não hesite em fazer como Aristóteles e ir buscar a essência da coisa, sua natureza real. Na maior parte das vezes não é preciso bisturi ou serrote, apens um pouco de reflexão ou de exame mais acurado do que lhe é apresentado. Antes de qualquer pronunciamento, vire a coisa pelo avesso...
3) Pergunte por que aqui e agora?:
As coisas não sugem do nada, está claro, e, justamente, nos assuntos da alta política, da economia ou da diplomacia, elas deitam raízes lá atrás, em movimentos tectônicos que talvez tenham passado despercebidos aos contemporâneos, mas que já se moviam na direção que vieram a assumir na atualidade. O fato de estarem sendo colocadas na agenda neste momento significa que seu movimento natural as trouxe à superfície ou que alguém tenha interesse em que essas coisas sejam agora tramitadas e eventualmente resolvidas. Examine o contexto da “aparição”, determine as condições sob as quais elas estão sendo apresentadas e prepare-se para interrogar, você mesmo, as coisas surgidas na agenda. Essas medidas de caução são sempre importantes para evitar alguma reação precipitada ou incontornável, que possa comprometer seus próximos passos no tratamento dessas coisas.
4) Examine e avalie, preventivamente, todas as opções disponíveis:
Nunca existe uma única solução para qualquer problema humanamente concebível. Os problemas podem ser encaminhados por diferentes vias, seja quanto ao método (procedimentos), seja quanto à sua substância (a matéria em questão). As vias alternativas apresentam diferentes custos e produzem efeitos muito diversos, imediatos ou delongados. Sempre existe aquilo que os economistas chamam de trade-offs, isto é, uma maneira (supostamente racional) de se obter algo valioso cedendo alguma outra coisa, alegadamente menos importante para nós. O contrarianista pergunta, sempre, se a solução apresentada é a de menor custo possível, naquelas circunstâncias, e quais seriam os retornos esperados ou presumíveis da via adotada. Os custos devem sempre ser pesados em face dos ganhos esperados, ou de um emprego alternativo dos recuros disponíveis.
Por isso, é sempre recomendável fazer simulações, avaliar custos e oportunidades, enfim proceder de modo utilitário – como os velhos filósofos ingleses ensinaram –, afastando nossos preconceitos e as idées reçues. O instinto pode sté ser bom conselheiro, mas isso só vale para pessoas anormalmente sapientes ou dotadas de muita experiência de vida. Os simples mortais, como a maioria de nós, precisam se basear em algum estudo acurado da situação para poder determinar, justamente, se a solução proposta deliver the best available outcome, ou retorno. Isso só pode ser determinado após exame do problema e determinação do menor sacrifício a ser concedido, um pouco como no jogo de xadrez (aliás, recomendável para contrarianistas de todo o gênero).
5) Uma vez determinada a “solução”, engaje-se no resultado, mas criticamente:
No curso da vida, como diria Benjamin Franklin, só existem duas coisas inevitáveis: a morte e os impostos. Mas, mesmo estes podem ser modificados, ainda que não, helàs, evitados. Por isso, em matérias humanas, cabe se engajar em todo e qualquer empreendimento com alguma porta de saída, ou via alternativa. Determinada the best option for this problem, caberia engajar-se resolutamente na sua consecução, e seguir atentamente o desenvolvimento dos procedimentos. As muitas variáveis que interferem num determinado problema nem sempre são absolutamente determinadas pelos parceiros no jogo, podendo haver interferências externas, circunstâncias fortuitas e eventos imprevisíveis que alteram o curso ou o resultado final. Por isso mesmo, se deve acompanhar qualquer problema com olho crítico, vigiando cada etapa do processo, para ver se cabe ainda manter as premissas originais e o investimento efetuado naquela solução.
6) Reconsidere todo o processo e pratique um pouco de história virtual:
Todos já leram, ou pelo menos já ouviram falar, de hipóteses não realizadas no curso real da história mas que teriam sido possíveis em outras circunstâncias: “o que teria acontecido se, em Waterloo, Napoleão não tivesse sido derrotado?”; e se Churchill isto e Hitler aquilo?, ou seja, o impoderável resumido na pergunta clássica da história virtual “What if?”. O contrarianista deve ser, antes de mais nada, um praticante da história virtual e considerar todos os outcomes possíveis num determinado processo, pois eles poderiam ter efetivamente ter acontecido.
Minha pergunta básica, para um exercício espiritual e prático de todos os contrarianistas aprendizes, para os candidatos a “céticos sadios”, seria esta: “por que o Brasil não é um país desenvolvido?” Respostas tentativas para o meu e-mail, por favor...
Brasília, 1717: 3 de fevereiro 2007, 4 p.
A arte de ser contrarianista...
O contrarianismo, na prática
Paulo Roberto de Almeida
Já me defini, em algum trabalho anterior, como um “contrarianista”, isto é, alguém que procura ver as “coisas da vida” com um olhar cético, sempre interrogando os fundamentos e as razões de por quê as coisas são daquele jeito e não de outro, ou de como elas poderiam ser ainda melhores do que são, aparentemente a um menor custo para a sociedade ou atendendo a critérios superiores de racionalidade e de instrumentalidade. Ou seja, em linguagem da economia política, o contrarianista é um indivíduo que está sempre procurando aumentar as externalidades positivas e diminuir as negativas, sempre efetuando cálculos de custo-oportunidade do capital empregado, sobre o retorno mais eficiente possível, adequando os meios disponíveis ao princípio da escassez.
O contrarianista não é, a despeito do que muitos possam pensar, um ser que sempre é “do contra”, um caráter negativo ou pessimista. Ao contrário, trata-se, para ele, de buscar otimizar os recursos existentes, indagando continuamente como fazer melhor, eventualmente mais barato, com os parcos meios existentes. Esta é a minha concepção do contrarianismo, uma arte difícil de ser exercitada, mais difícil ainda de ser compreendida. Eu a definiria, segundo uma lição que aprendi ainda na adolescência, como um exercício de “ceticismo sadio”, ou seja, o espírito crítico que não se compraz, simplesmente, em negar as “coisas” como elas são, mas que se esforça, em toda boa vontade, para que elas sejam ainda melhores do que são, questionando sua forma de ser atual e propondo uma organização que possa ser ainda mais funcional do que a existente.
Por isso mesmo, pretendo, neste curto ensaio, tecer algumas considerações sobre a arte de ser contrarianista, o que, confesso, não é fácil. Sempre nos arriscamos a ser incompreendidos, em aparecer como puramente negativos ou derrotistas, quando o que se busca, na verdade, é reduzir o custo das soluções “humanamente produzidas” (elas sempre são falhas). Talvez, a melhor forma de se demonstrar, na prática, a arte do contrarianismo, seria elaborar uma série de manuais de sentido contrário, isto é, em lugar dos How to do something, escrever sobre “como não fazer” determinadas coisas. Como eu exercito muito freqüentemente a resenha de livros, creio que não seria difícil oferecer algumas observações sobre essa prática corriqueira da vida cotidiana. Aliás, já o fiz, num dos primeiros posts de meu blog “Book reviews” dedicado aos livros, post nº 2, “A arte da resenha” (neste link).
Existem, de fato, muitos manuais e guias sobre a arte ou a maneira de se fazer isto ou aquilo, sendo os mais conhecidos, justamente, aqueles americanos que seguem as regras usuais do gênero “how to do this or that...”. Aperfeiçoando o gênero surgiram os “beginners’ guide to...” e os “idiot’s guide for...”. Antes dessa era de proliferação infernal de guias para todos os idiotas existentes, eu cheguei a consultar, quando estava elaborando a minha tese de doutoramento, um guia de um desses americanos do self-help, que se chamava, exatamente, How to complete, and survive... a doctoral dissertation: foi útil, confesso, ao menos em diminuir o stress com os ciclos ascendentes (eufóricos) e descendentes (que podem ser depressivos, para alguns candidatos) do longo périplo na direção do final da tese. Talvez, um dia, eu faça um manual sobre “Como não exercer a diplomacia”, para o que eu mesmo teria muito material primário – autoproduzido – a ser processado e apresentado a eventuais candidatos e outros incautos da profissão.
Esperando que este dia chegue, vejamos quais poderiam ser algumas regras simples do contrarianista profissional, aquele que leva esse método a sério, considera o exercício válido do ponto de vista das best practices e pretende aperfeiçoar os procedimentos e instrumentos para elevar essa prática ao estado de “arte”, se ela já não o é. Uma simples listagem, a ser detalhada em trabalhos posteriores, poderia compreender os seguintes pontos:
1) Questione as origens:
Toda vez que for apresentado a um novo problema, ou uma questão não corriqueira, veja se consegue detectar as origens daquele problema, porque ele surgiu dessa forma neste momento e neste local. Saber a etiologia de algum fenômeno, assim como saber a etimologia das palavras, sempre ajuda a detectar as razões de sua irrupção num dado contexto em que você é chamado a intervir. As origens e fundamentos de um processo qualquer podem contribuir para determinar seu possível desenvolvimento e eventual itinerário. É assim que procedem os epidemiologistas e, creio também, os linguistas, sempre preocupados em detectar os mecanismos fundamentais de criação de um fenômeno ou processo. Portanto, não tenha medo em perguntar: “de onde surgiu isso?; como é que isso veio parar aqui?; qual é a origem desse treco?”. Pode ajudar um bocado.
2) Determine se o que está sendo apresentado é realmente a essência da coisa:
Muitas vezes somos enganados pelas aparências, como já dizia um velho humorista. As coisas podem ter mais de uma dimensão – usualmente três, mas alguns apostam em dimensões “desconhecidas” – ou em todo caso todos os lados e facetas daquele problema podem não estar imediatamente visíveis ou serem perceptíveis da posição na qual você se encontra. Por isso, não hesite em fazer como Aristóteles e ir buscar a essência da coisa, sua natureza real. Na maior parte das vezes não é preciso bisturi ou serrote, apens um pouco de reflexão ou de exame mais acurado do que lhe é apresentado. Antes de qualquer pronunciamento, vire a coisa pelo avesso...
3) Pergunte por que aqui e agora?:
As coisas não sugem do nada, está claro, e, justamente, nos assuntos da alta política, da economia ou da diplomacia, elas deitam raízes lá atrás, em movimentos tectônicos que talvez tenham passado despercebidos aos contemporâneos, mas que já se moviam na direção que vieram a assumir na atualidade. O fato de estarem sendo colocadas na agenda neste momento significa que seu movimento natural as trouxe à superfície ou que alguém tenha interesse em que essas coisas sejam agora tramitadas e eventualmente resolvidas. Examine o contexto da “aparição”, determine as condições sob as quais elas estão sendo apresentadas e prepare-se para interrogar, você mesmo, as coisas surgidas na agenda. Essas medidas de caução são sempre importantes para evitar alguma reação precipitada ou incontornável, que possa comprometer seus próximos passos no tratamento dessas coisas.
4) Examine e avalie, preventivamente, todas as opções disponíveis:
Nunca existe uma única solução para qualquer problema humanamente concebível. Os problemas podem ser encaminhados por diferentes vias, seja quanto ao método (procedimentos), seja quanto à sua substância (a matéria em questão). As vias alternativas apresentam diferentes custos e produzem efeitos muito diversos, imediatos ou delongados. Sempre existe aquilo que os economistas chamam de trade-offs, isto é, uma maneira (supostamente racional) de se obter algo valioso cedendo alguma outra coisa, alegadamente menos importante para nós. O contrarianista pergunta, sempre, se a solução apresentada é a de menor custo possível, naquelas circunstâncias, e quais seriam os retornos esperados ou presumíveis da via adotada. Os custos devem sempre ser pesados em face dos ganhos esperados, ou de um emprego alternativo dos recuros disponíveis.
Por isso, é sempre recomendável fazer simulações, avaliar custos e oportunidades, enfim proceder de modo utilitário – como os velhos filósofos ingleses ensinaram –, afastando nossos preconceitos e as idées reçues. O instinto pode sté ser bom conselheiro, mas isso só vale para pessoas anormalmente sapientes ou dotadas de muita experiência de vida. Os simples mortais, como a maioria de nós, precisam se basear em algum estudo acurado da situação para poder determinar, justamente, se a solução proposta deliver the best available outcome, ou retorno. Isso só pode ser determinado após exame do problema e determinação do menor sacrifício a ser concedido, um pouco como no jogo de xadrez (aliás, recomendável para contrarianistas de todo o gênero).
5) Uma vez determinada a “solução”, engaje-se no resultado, mas criticamente:
No curso da vida, como diria Benjamin Franklin, só existem duas coisas inevitáveis: a morte e os impostos. Mas, mesmo estes podem ser modificados, ainda que não, helàs, evitados. Por isso, em matérias humanas, cabe se engajar em todo e qualquer empreendimento com alguma porta de saída, ou via alternativa. Determinada the best option for this problem, caberia engajar-se resolutamente na sua consecução, e seguir atentamente o desenvolvimento dos procedimentos. As muitas variáveis que interferem num determinado problema nem sempre são absolutamente determinadas pelos parceiros no jogo, podendo haver interferências externas, circunstâncias fortuitas e eventos imprevisíveis que alteram o curso ou o resultado final. Por isso mesmo, se deve acompanhar qualquer problema com olho crítico, vigiando cada etapa do processo, para ver se cabe ainda manter as premissas originais e o investimento efetuado naquela solução.
6) Reconsidere todo o processo e pratique um pouco de história virtual:
Todos já leram, ou pelo menos já ouviram falar, de hipóteses não realizadas no curso real da história mas que teriam sido possíveis em outras circunstâncias: “o que teria acontecido se, em Waterloo, Napoleão não tivesse sido derrotado?”; e se Churchill isto e Hitler aquilo?, ou seja, o impoderável resumido na pergunta clássica da história virtual “What if?”. O contrarianista deve ser, antes de mais nada, um praticante da história virtual e considerar todos os outcomes possíveis num determinado processo, pois eles poderiam ter efetivamente ter acontecido.
Minha pergunta básica, para um exercício espiritual e prático de todos os contrarianistas aprendizes, para os candidatos a “céticos sadios”, seria esta: “por que o Brasil não é um país desenvolvido?” Respostas tentativas para o meu e-mail, por favor...
Brasília, 1717: 3 de fevereiro 2007, 4 p.
1918) Assim caem os imperios...
Pelo menos é uma forma suave de cair, não no estilo wagneriano como feito por aquele imbecil do Hitler...
Deficits May Alter U.S. Politics and Global Power
By DAVID E. SANGER
The New York Times, February 2, 2010
WASHINGTON — In a federal budget filled with mind-boggling statistics, two numbers stand out as particularly stunning, for the way they may change American politics and American power.
The first is the projected deficit in the coming year, nearly 11 percent of the country’s entire economic output. That is not unprecedented: During the Civil War, World War I and World War II, the United States ran soaring deficits, but usually with the expectation that they would come back down once peace was restored and war spending abated.
But the second number, buried deeper in the budget’s projections, is the one that really commands attention: By President Obama’s own optimistic projections, American deficits will not return to what are widely considered sustainable levels over the next 10 years. In fact, in 2019 and 2020 — years after Mr. Obama has left the political scene, even if he serves two terms — they start rising again sharply, to more than 5 percent of gross domestic product. His budget draws a picture of a nation that like many American homeowners simply cannot get above water.
For Mr. Obama and his successors, the effect of those projections is clear: Unless miraculous growth, or miraculous political compromises, creates some unforeseen change over the next decade, there is virtually no room for new domestic initiatives for Mr. Obama or his successors. Beyond that lies the possibility that the United States could begin to suffer the same disease that has afflicted Japan over the past decade. As debt grew more rapidly than income, that country’s influence around the world eroded.
Or, as Mr. Obama’s chief economic adviser, Lawrence H. Summers, used to ask before he entered government a year ago, “How long can the world’s biggest borrower remain the world’s biggest power?”
The Chinese leadership, which is lending much of the money to finance the American government’s spending, and which asked pointed questions about Mr. Obama’s budget when members visited Washington last summer, says it thinks the long-term answer to Mr. Summers’s question is self-evident. The Europeans will also tell you that this is a big worry about the next decade.
Mr. Obama himself hinted at his own concern when he announced in early December that he planned to send 30,000 American troops to Afghanistan, but insisted that the United States could not afford to stay for long.
“Our prosperity provides a foundation for our power,” he told cadets at West Point. “It pays for our military. It underwrites our diplomacy. It taps the potential of our people, and allows investment in new industry.”
And then he explained why even a “war of necessity,” as he called Afghanistan last summer, could not last for long.
“That’s why our troop commitment in Afghanistan cannot be open-ended,” he said then, “because the nation that I’m most interested in building is our own.”
Mr. Obama’s budget deserves credit for its candor. It does not sugarcoat, at least excessively, the potential magnitude of the problem. President George W. Bush kept claiming, until near the end of his presidency, that he would leave office with a balanced budget. He never got close; in fact, the deficits soared in his last years.
Mr. Obama has published the 10-year numbers in part, it seems, to make the point that the political gridlock of the past few years, in which most Republicans refuse to talk about tax increases and Democrats refuse to talk about cutting entitlement programs, is unsustainable. His prescription is that the problem has to be made worse, with intense deficit spending to lower the unemployment rate, before the deficits can come down.
Mr. Summers, in an interview on Monday afternoon, said, “The budget recognizes the imperatives of job creation and growth in the short run, and takes significant measures to increase confidence in the medium term.”
He was referring to the freeze on domestic, non-national-security-related spending, the troubled effort to cut health care costs, and the decision to let expire Bush-era tax cuts for corporations and families earning more than $250,000.
But Mr. Summers said that “through the budget and fiscal commission, the president has sought to provide maximum room for making further adjustments as necessary before any kind of crisis arrives.”
Turning that thought into political action, however, has proved harder and harder for the Washington establishment. Republicans stayed largely silent about the debt during the Bush years. Democrats have described it as a necessary evil during the economic crisis that defined Mr. Obama’s first year. Interest in a long-term solution seems limited. Or, as Isabel V. Sawhill of the Brookings Institution put it Monday on MSNBC, “The problem here is not honesty, but political will.”
One source of that absence of will is that the political warnings are contradicted by the market signals. The Treasury has borrowed money to finance the government’s deficits at remarkably low rates, the strongest indicator that the markets believe they will be paid back on time and in full.
The absence of political will is also facilitated by the fact that, as Prof. James K. Galbraith of the University of Texas puts it, “Forecasts 10 years out have no credibility.”
He is right. In the early years of the Clinton administration, government projections indicated huge deficits — over the “sustainable” level of 3 percent — by 2000. But by then, Mr. Clinton was running a modest surplus of about $200 billion, a point Mr. Obama made Monday as he tried anew to remind the country that the moment was squandered when “the previous administration and previous Congresses created an expensive new drug program, passed massive tax cuts for the wealthy, and funded two wars without paying for any of it.”
But with this budget, Mr. Obama now owns this deficit. And as Mr. Galbraith pointed out, it is possible that the gloomy projections for 2020 are equally flawed.
Simply projecting that health care costs will rise unabated is dangerous business.
“Much may depend on whether we put in place the financial reforms that can rebuild a functional financial system,” Mr. Galbraith said, to finance growth in the private sector — the kind of growth that ultimately saved Mr. Clinton from his own deficit projections.
His greatest hope, Mr. Galbraith said, was Stein’s law, named for Herbert Stein, chairman of the Council of Economic Advisers under Presidents Richard M. Nixon and Gerald R. Ford.
Stein’s law has been recited in many different versions. But all have a common theme: If a trend cannot continue, it will stop.
Deficits May Alter U.S. Politics and Global Power
By DAVID E. SANGER
The New York Times, February 2, 2010
WASHINGTON — In a federal budget filled with mind-boggling statistics, two numbers stand out as particularly stunning, for the way they may change American politics and American power.
The first is the projected deficit in the coming year, nearly 11 percent of the country’s entire economic output. That is not unprecedented: During the Civil War, World War I and World War II, the United States ran soaring deficits, but usually with the expectation that they would come back down once peace was restored and war spending abated.
But the second number, buried deeper in the budget’s projections, is the one that really commands attention: By President Obama’s own optimistic projections, American deficits will not return to what are widely considered sustainable levels over the next 10 years. In fact, in 2019 and 2020 — years after Mr. Obama has left the political scene, even if he serves two terms — they start rising again sharply, to more than 5 percent of gross domestic product. His budget draws a picture of a nation that like many American homeowners simply cannot get above water.
For Mr. Obama and his successors, the effect of those projections is clear: Unless miraculous growth, or miraculous political compromises, creates some unforeseen change over the next decade, there is virtually no room for new domestic initiatives for Mr. Obama or his successors. Beyond that lies the possibility that the United States could begin to suffer the same disease that has afflicted Japan over the past decade. As debt grew more rapidly than income, that country’s influence around the world eroded.
Or, as Mr. Obama’s chief economic adviser, Lawrence H. Summers, used to ask before he entered government a year ago, “How long can the world’s biggest borrower remain the world’s biggest power?”
The Chinese leadership, which is lending much of the money to finance the American government’s spending, and which asked pointed questions about Mr. Obama’s budget when members visited Washington last summer, says it thinks the long-term answer to Mr. Summers’s question is self-evident. The Europeans will also tell you that this is a big worry about the next decade.
Mr. Obama himself hinted at his own concern when he announced in early December that he planned to send 30,000 American troops to Afghanistan, but insisted that the United States could not afford to stay for long.
“Our prosperity provides a foundation for our power,” he told cadets at West Point. “It pays for our military. It underwrites our diplomacy. It taps the potential of our people, and allows investment in new industry.”
And then he explained why even a “war of necessity,” as he called Afghanistan last summer, could not last for long.
“That’s why our troop commitment in Afghanistan cannot be open-ended,” he said then, “because the nation that I’m most interested in building is our own.”
Mr. Obama’s budget deserves credit for its candor. It does not sugarcoat, at least excessively, the potential magnitude of the problem. President George W. Bush kept claiming, until near the end of his presidency, that he would leave office with a balanced budget. He never got close; in fact, the deficits soared in his last years.
Mr. Obama has published the 10-year numbers in part, it seems, to make the point that the political gridlock of the past few years, in which most Republicans refuse to talk about tax increases and Democrats refuse to talk about cutting entitlement programs, is unsustainable. His prescription is that the problem has to be made worse, with intense deficit spending to lower the unemployment rate, before the deficits can come down.
Mr. Summers, in an interview on Monday afternoon, said, “The budget recognizes the imperatives of job creation and growth in the short run, and takes significant measures to increase confidence in the medium term.”
He was referring to the freeze on domestic, non-national-security-related spending, the troubled effort to cut health care costs, and the decision to let expire Bush-era tax cuts for corporations and families earning more than $250,000.
But Mr. Summers said that “through the budget and fiscal commission, the president has sought to provide maximum room for making further adjustments as necessary before any kind of crisis arrives.”
Turning that thought into political action, however, has proved harder and harder for the Washington establishment. Republicans stayed largely silent about the debt during the Bush years. Democrats have described it as a necessary evil during the economic crisis that defined Mr. Obama’s first year. Interest in a long-term solution seems limited. Or, as Isabel V. Sawhill of the Brookings Institution put it Monday on MSNBC, “The problem here is not honesty, but political will.”
One source of that absence of will is that the political warnings are contradicted by the market signals. The Treasury has borrowed money to finance the government’s deficits at remarkably low rates, the strongest indicator that the markets believe they will be paid back on time and in full.
The absence of political will is also facilitated by the fact that, as Prof. James K. Galbraith of the University of Texas puts it, “Forecasts 10 years out have no credibility.”
He is right. In the early years of the Clinton administration, government projections indicated huge deficits — over the “sustainable” level of 3 percent — by 2000. But by then, Mr. Clinton was running a modest surplus of about $200 billion, a point Mr. Obama made Monday as he tried anew to remind the country that the moment was squandered when “the previous administration and previous Congresses created an expensive new drug program, passed massive tax cuts for the wealthy, and funded two wars without paying for any of it.”
But with this budget, Mr. Obama now owns this deficit. And as Mr. Galbraith pointed out, it is possible that the gloomy projections for 2020 are equally flawed.
Simply projecting that health care costs will rise unabated is dangerous business.
“Much may depend on whether we put in place the financial reforms that can rebuild a functional financial system,” Mr. Galbraith said, to finance growth in the private sector — the kind of growth that ultimately saved Mr. Clinton from his own deficit projections.
His greatest hope, Mr. Galbraith said, was Stein’s law, named for Herbert Stein, chairman of the Council of Economic Advisers under Presidents Richard M. Nixon and Gerald R. Ford.
Stein’s law has been recited in many different versions. But all have a common theme: If a trend cannot continue, it will stop.
1917) Como anda o marxismo no Brasil? (ou seria marquissismo?)
Um leitor de meu post:
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
1914) O Fim da Historia, de Fukuyama
o Equiano Santos, historiador da Bahia, mencionou em seu comentário a diatribe ocorrida algum tempo atrás a propósito de uma "resenha devastadora" que eu havia feito de um livro pretensamente marxista, organizado por um professor seu da Bahia, que se acredita marxista. O livro era este:
Jorge Nóvoa (org.) Incontornável Marx. São Paulo/Salvador: Unesp/UFBA, 2007, 407 p.
Confesso que a resenha era deliberadamente negativa (et pour cause), e mesmo que eu a tenha chamado de "nota crítica", ela simplesmente desmantelava uma compilação mal feita, com artigos medíocres (com algumas poucas exceções), de pessoas que digeriram mal Marx e seus discípulos. Mesmo tendo aposentado meus livros dessa vertente, creio conhecer o velho barbudo melhor do que muitos dos colaboradores a essa obra.
Acreditem, o livro era tão ruim que talvez nem merecesse a nota que fiz, pois falar dele já representou uma espécie de promoção ou propaganda, indevida, provavelmente.
De fato, parece que os organizadores e autores ficaram "órfãos" de outras resenhas a propósito dessa obra lamentável do ponto de vista do marxismo acadêmico, e se não fosse a polêmica involuntariamente despertada por mim, eles teriam ficado sem qualquer publicidade, coitados.
Pois bem, já que o assunto foi levantado novamente, permito-me remeter a essa "nota crítica, ao fim da qual eu recomendava aos eventuais candidatos à sua leitura que empregassem seu dinheiro de outra forma, mais apetitosa, comprando uma pizza:
Paulo Roberto de Almeida: “Marxistas totalmente contornáveis”
Espaço Acadêmico (ano 7, n. 84, maio 2008, disponível neste link).
Bem, logo depois os ataques à minha resenha e, especialmente, contra a minha pessoa foram de tal forma virulentos, reveladores de um fundamentalismo tão sectário, que eu julguei por bem responder aos meus enraivecidas comentaristas, com um outro artigo, que retomava a maior parte dos ataques da tribo de esclerosados marquissistas de bar. Meu artigo-resposta foi este:
“Manifesto Comunista, ou quase...: dedicado a “marquissistas” à beira de um ataque de nervos (a propósito de uma simples resenha)”
Espaço Acadêmico (ano 8, n. 85, junho de 2008; disponível neste link).
Eu não diria que o bando de enfurecidos marquissistas de opereta se tenha redimido dos ataques, mas, ao ver expostos seus apelos inquisitoriais, censórios e gulaguianos, eles se guardaram de fazer novos ataques at large, ou seja, que chegassem ao meu conhecimento. Devem estar até hoje trocando insultos contra a minha pessoa, mas em privado, o que não deixa de alimentar ainda mais a sua raiva. Não fiquem com furúnculos, rapazes...
Se eu tiver tempo, algum dia, vou fazer uma análise detalhada de cada uma das contribuições a esse livro que representa um desserviço aos estudos sérios em torno do marxismo no Brasil, mostrando toda a esclerose e o reacionarismo desses marquissistas de departamentos universitários.
Por enquanto fica apenas o registro devido de um não-debate sobre um não-livro...
Paulo Roberto de Almeida (3.02.2010)
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
1914) O Fim da Historia, de Fukuyama
o Equiano Santos, historiador da Bahia, mencionou em seu comentário a diatribe ocorrida algum tempo atrás a propósito de uma "resenha devastadora" que eu havia feito de um livro pretensamente marxista, organizado por um professor seu da Bahia, que se acredita marxista. O livro era este:
Jorge Nóvoa (org.) Incontornável Marx. São Paulo/Salvador: Unesp/UFBA, 2007, 407 p.
Confesso que a resenha era deliberadamente negativa (et pour cause), e mesmo que eu a tenha chamado de "nota crítica", ela simplesmente desmantelava uma compilação mal feita, com artigos medíocres (com algumas poucas exceções), de pessoas que digeriram mal Marx e seus discípulos. Mesmo tendo aposentado meus livros dessa vertente, creio conhecer o velho barbudo melhor do que muitos dos colaboradores a essa obra.
Acreditem, o livro era tão ruim que talvez nem merecesse a nota que fiz, pois falar dele já representou uma espécie de promoção ou propaganda, indevida, provavelmente.
De fato, parece que os organizadores e autores ficaram "órfãos" de outras resenhas a propósito dessa obra lamentável do ponto de vista do marxismo acadêmico, e se não fosse a polêmica involuntariamente despertada por mim, eles teriam ficado sem qualquer publicidade, coitados.
Pois bem, já que o assunto foi levantado novamente, permito-me remeter a essa "nota crítica, ao fim da qual eu recomendava aos eventuais candidatos à sua leitura que empregassem seu dinheiro de outra forma, mais apetitosa, comprando uma pizza:
Paulo Roberto de Almeida: “Marxistas totalmente contornáveis”
Espaço Acadêmico (ano 7, n. 84, maio 2008, disponível neste link).
Bem, logo depois os ataques à minha resenha e, especialmente, contra a minha pessoa foram de tal forma virulentos, reveladores de um fundamentalismo tão sectário, que eu julguei por bem responder aos meus enraivecidas comentaristas, com um outro artigo, que retomava a maior parte dos ataques da tribo de esclerosados marquissistas de bar. Meu artigo-resposta foi este:
“Manifesto Comunista, ou quase...: dedicado a “marquissistas” à beira de um ataque de nervos (a propósito de uma simples resenha)”
Espaço Acadêmico (ano 8, n. 85, junho de 2008; disponível neste link).
Eu não diria que o bando de enfurecidos marquissistas de opereta se tenha redimido dos ataques, mas, ao ver expostos seus apelos inquisitoriais, censórios e gulaguianos, eles se guardaram de fazer novos ataques at large, ou seja, que chegassem ao meu conhecimento. Devem estar até hoje trocando insultos contra a minha pessoa, mas em privado, o que não deixa de alimentar ainda mais a sua raiva. Não fiquem com furúnculos, rapazes...
Se eu tiver tempo, algum dia, vou fazer uma análise detalhada de cada uma das contribuições a esse livro que representa um desserviço aos estudos sérios em torno do marxismo no Brasil, mostrando toda a esclerose e o reacionarismo desses marquissistas de departamentos universitários.
Por enquanto fica apenas o registro devido de um não-debate sobre um não-livro...
Paulo Roberto de Almeida (3.02.2010)
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
1916) Concurso para a carreira diplomatica: alguns comentarios pessoais (esquizofrenicos, talvez...)
Depois que eu (levianamente) elaborei este post:
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
1912) Dicas para a carreira diplomatica
fazendo, como de hábito, meu anarquismo habitual em matéria de boas regras de conduta, mas atendendo, como sempre, demandas externas, alguns curiosos, legitimamente, perguntaram-me o que eu faria em termos de leituras e preparação, para me tornar um diplomata.
Sinceramente, não sei. Aliás, tudo o que eu não quero é me ocupar de concurso para o Itamaraty, por ser algo muito complicado e extremamente responsável.
Eu até acho que se eu fizesse o concurso hoje, seria reprovado, pelo menos com base na minha pouca preparação para o concurso que fiz, no século passado.
Não apenas porque as provas são realmente difíceis, o que elas são, de fato, mas também porque elas são, como dizer?, "peculiares".
Em todo caso, algumas das perguntas que recebi, foram estas:
1) O quê na sua opinião comporia uma boa base de leituras relativas ao Brasil?
2) Que obras você acrescentaria?
3) O quê você acha que falta?
4) Ou ainda: Se você tivesse que remontar a lista de “leituras brasileiras” o quê você colocaria de novo?
5) Por que você considera o CACD passavelmente esquizofrênico?
6) A carga de leitura deveria ser menor? Ou maior?
7) O que se requer de um candidato à diplomacia?
8) Quais os livros que acreditas tratarem melhor desses temas? (Independente de sua procedência)
Bem, são perguntas importantes para serem respondidas num "átimo", como diriam os italianos (sem o acento). Não vou sequer tratar aqui dos livros ou de uma bibliografia ideal, o que deixo para oportunidade futura.
Se eu tivesse esse tipo de concurso sob minha responsabilidade, não delegaria a função a "terceiros", professores de RI ou das matérias setoriais (salvo em casos muito específicos). Acho que uma comissão de diplomatas, de todas as classes, poderia elaborar algumas centenas de questões, que depois seriam selecionadas e misturadas, alteradas ligeiramente em sua redação, ou ordem (negativo, positivo, por exemplo, ou certo e errado), e depois preparadas para uma prova geral, a que se seguiriam provas setoriais.
Mas, eu começaria por abolir qualquer exigência de diploma para ser diplomata, mesmo de primeiro grau. Acredito que basta demonstrar preparação respondendo questões de forma objetiva e depois passando por uma banca seletiva para questões não exatamente objetivas.
Esse bacharelismo do Brasil me parece ridículo. Diplomata não é necessariamente alguém que tenha muitos diplomas, ou mesmo apenas um. Trata-se apenas de alguém preparado para a carreira. Isso é vocação, e pode ser por autodidatismo integral, ou seja, a pessoal aprendeu a ler com os pais, e estudou toda a vida por sua própria conta. Se não for um autista -- desses capazes de decorar uma lista telefônica inteira, e portanto apto a decorar os livros do programa oficial -- nem alguém maluco, talvez poss ser diplomata, sem diploma nenhum.
Voltarei ao assunto.
Paulo Roberto de Almeida (2.02.2010)
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
1912) Dicas para a carreira diplomatica
fazendo, como de hábito, meu anarquismo habitual em matéria de boas regras de conduta, mas atendendo, como sempre, demandas externas, alguns curiosos, legitimamente, perguntaram-me o que eu faria em termos de leituras e preparação, para me tornar um diplomata.
Sinceramente, não sei. Aliás, tudo o que eu não quero é me ocupar de concurso para o Itamaraty, por ser algo muito complicado e extremamente responsável.
Eu até acho que se eu fizesse o concurso hoje, seria reprovado, pelo menos com base na minha pouca preparação para o concurso que fiz, no século passado.
Não apenas porque as provas são realmente difíceis, o que elas são, de fato, mas também porque elas são, como dizer?, "peculiares".
Em todo caso, algumas das perguntas que recebi, foram estas:
1) O quê na sua opinião comporia uma boa base de leituras relativas ao Brasil?
2) Que obras você acrescentaria?
3) O quê você acha que falta?
4) Ou ainda: Se você tivesse que remontar a lista de “leituras brasileiras” o quê você colocaria de novo?
5) Por que você considera o CACD passavelmente esquizofrênico?
6) A carga de leitura deveria ser menor? Ou maior?
7) O que se requer de um candidato à diplomacia?
8) Quais os livros que acreditas tratarem melhor desses temas? (Independente de sua procedência)
Bem, são perguntas importantes para serem respondidas num "átimo", como diriam os italianos (sem o acento). Não vou sequer tratar aqui dos livros ou de uma bibliografia ideal, o que deixo para oportunidade futura.
Se eu tivesse esse tipo de concurso sob minha responsabilidade, não delegaria a função a "terceiros", professores de RI ou das matérias setoriais (salvo em casos muito específicos). Acho que uma comissão de diplomatas, de todas as classes, poderia elaborar algumas centenas de questões, que depois seriam selecionadas e misturadas, alteradas ligeiramente em sua redação, ou ordem (negativo, positivo, por exemplo, ou certo e errado), e depois preparadas para uma prova geral, a que se seguiriam provas setoriais.
Mas, eu começaria por abolir qualquer exigência de diploma para ser diplomata, mesmo de primeiro grau. Acredito que basta demonstrar preparação respondendo questões de forma objetiva e depois passando por uma banca seletiva para questões não exatamente objetivas.
Esse bacharelismo do Brasil me parece ridículo. Diplomata não é necessariamente alguém que tenha muitos diplomas, ou mesmo apenas um. Trata-se apenas de alguém preparado para a carreira. Isso é vocação, e pode ser por autodidatismo integral, ou seja, a pessoal aprendeu a ler com os pais, e estudou toda a vida por sua própria conta. Se não for um autista -- desses capazes de decorar uma lista telefônica inteira, e portanto apto a decorar os livros do programa oficial -- nem alguém maluco, talvez poss ser diplomata, sem diploma nenhum.
Voltarei ao assunto.
Paulo Roberto de Almeida (2.02.2010)
1915) Triste Fim de Policarpo Social Mundial (com desculpas a Lima Barreto)
Acho que o genial Lima Barreto não merece esta vinculação indevida. Ou talvez sim: ele gostava muito de fazer romances picarescos -- como, por exemplo, "O Homem que sabia Javanês", gozando do Itamaraty de sua época... -- e talvez encontrasse nesses convescotes animados do FSM um bom motivo para mais um conto de sua pluma implacável.
Bem, tentei ficar à altura desse outro gênio da raça...
Triste Fim de Policarpo Social Mundial
(Brasília, 2 fevereiro 2010, 5 p.; 2107)
Resumo e conclusão sobre o FSM-10: uma farsa, como sempre.
Publicado em Mundorama (02.02.2010; link).
Bem, tentei ficar à altura desse outro gênio da raça...
Triste Fim de Policarpo Social Mundial
(Brasília, 2 fevereiro 2010, 5 p.; 2107)
Resumo e conclusão sobre o FSM-10: uma farsa, como sempre.
Publicado em Mundorama (02.02.2010; link).
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