- A cooperação técnica do Brasil com a África:comparando os governos Fernando Henrique Cardoso (1995–2002) e Lula da Silva (2003–2010), por Wilson Mendonça Júnior & Carlos Aurélio Pimenta de Faria;
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A integração regional como mecanismo para provisão de bens públicos: uma análise comparativa da agenda de segurança pública no Mercosul e na Comunidade Andina de Nações, por Taiane las Casas;
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The UN peacebuilding process: an analysis of its shortcomings in Timor-Leste, by Ramon Blanco;
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Political conditions for successful inflation stabilization: comparing Brazil and Argentina, by Yonca Özdemir;
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Os Estados Unidos e a ameaça do crime organizado transnacional nos anos 1990, por Paulo Pereira;
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EU Commission participation in the Troika mission: is there a European Union price to pay?, by Antonio Goucha Soares;
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Transformações da ordem econômica mundial, do final do século 19 à Segunda Guerra Mundial, por Paulo Roberto de Almeida;
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Negociações comerciais em uma economia fechada: o Brasil e o comércio de serviços na Rodada Uruguai, por Raphael Coutinho da Cunha;
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International drivers of Brazilian agricultural cooperation in Africa in the post-2008 economic crisis, by Alcides Costa Vaz;
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Environmental issues and international relations, a new global (dis)order – the role of International Relations in promoting a concerted international system, by Joana Castro Pereira;
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Towards modular regionalism: the proliferation of Latin American cooperation, by Gian Luca Gardini;
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The US experience in contracting out security and lessons for other countries, by Thomas C. Bruneau.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
RBPI, n. 1/2015, vol. 58: publicada
Transformacoes da ordem mundial, do final do seculo XIX a nossos dias - Entrevista com Paulo R. Almeida (RBPI)
Depois eu coloco o artigo em si.
E ainda tem uma entrevista em inglês, que também deve estar sendo publicada...
Paulo Roberto de Almeida
Transformações da ordem econômica mundial, do final do século 19 à Segunda Guerra Mundial – Entrevista com Paulo Roberto de Almeida
Paulo Roberto de Almeida is a career diplomat at the Brazilian Foreign Service (since 1977) and a University professor at the Master and Doctoral programs in Law of the University Center of Brasilia (Uniceub), since 2004. He holds a degree in Social Sciences from the University of Brussels, Belgium (1975), a Master in Economic Planning from the Developing Countries College of the University of Antwerp (1976), and a Ph.D. in Social Sciences also from the University of Brussels (1984). He was visiting professor at the Institut de Hautes Études de l’Amérique Latine of the Paris University (Sorbonne), in 2012, and gives regularly talks about Brazil, its economy and its diplomacy in many foreign universities. Currently he serves Itamaraty (Brazilian Foreign Ministry) at the General Consulate of Brazil in Hartford, CT, USA.
- 2014: Nunca Antes na Diplomacia…: a política externa brasileira em tempos não convencionais;
- 2013: Integração Regional: uma introdução;
- 2012: Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização;
- 2010: Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização;
- 2010: O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado;
- 2006: O estudo das relações internacionais do Brasil: um diálogo entre a diplomacia e a academia;
- 2005; 2001: Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império;
- 2002: Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas.
- 2014: “The Politics of Economic Regime Change in Brazilian History”, in: Ted Goertzel and Paulo Roberto de Almeida (eds.), The Drama of Brazilian Politics: From Dom João to Marina Silva (Kindle Book; ISBN: 978-1-4951-2981-0).
- 2013: “Renato Mendonça: um pioneiro da história diplomática do Brasil”, In: Renato Mendonça: História da Política Exterior do Brasil (1500-1825): Do período colonial ao reconhecimento do Império (Brasília: Funag, ISBN 978-85-7631-468-4; p. 11-44).
- 2013: “L’historiographie économique brésilienne, de la fin du XIXème siècle au début du XXIème: une synthèse bibliographique”, In: Marie-Jo Ferreira; Simele Rodrigues; Denis Rolland (orgs.): Le Brésil, territoire d’histoire. Historiographie du Brésil contemporain (Paris: L’Harmattan, 306 p.; ISBN: 978-2-336-30512-7; p. 93-105; format digital: EAN Ebook format: 978-2-336-33277-2).
- 2013: “Oswaldo Aranha: na continuidade do estadismo de Rio Branco” (com João Hermes Pereira de Araújo), in: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: FUNAG, 3 vols.; ISBN 978-85-7631-462-2; vol. 3, p. 667-711).
- 2013: “Pensamento diplomático brasileiro: introdução metodológica às ideias e ações de alguns dos seus representantes”, in: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). Brasília: FUNAG, 3 vols.; ISBN 978-85-7631-462-2; vol. 1, p. 15-38).
- 2013: “Brazil-USA relations during the Fernando Henrique Cardoso governments”, In: Munhoz, Sidnei J.; Silva, Francisco Carlos Teixeira da (eds). Brazil-United States Relations: XX and XXI centuries. Maringá: Eduem, ISBN: 978-85-7628-532-8; chapt. 7, p. 217-246).
- 2012: “Brasil”. In: Malamud, Carlos (coord.). Ruptura y Reconciliación: España y el reconocimiento de las independencias latinoamericanas (Madrid: Ed. Taurus y Fundación Mapfre, 402 p.; Serie Recorridos n. 1; América Latina en la Historia Contemporánea; ISBN: 978-84-9844-392-9; p. 199-212)
- 2011: “Attraction and Repulsion: Brazil and the American world”, in: Clark, Sean and Sabrina Hoque (eds.). Debating a Post-American World: What Lies Ahead? (London: Routledge; ISBN-13: 978-0415690553, p. 135-141).
- 2014: “Brazilian Economic Historiography: an essay on bibliographical synthesis”, História e Economia: Revista Interdisciplinar (vol. 12, n. 1, p, 149-165; ISSN: 1808-5318).
- 2014 : « Géoéconomie du Brésil : un géant empêtré? », Géoéconomie (n. 68, Février ; ISSN : 1284-9340 ; p. 102-115).
- 2013 : “Sovereignty and Regional Integration in Latin America: a political conundrum?”, Contexto Internacional (vol. 35, n. 2, ISSN: 0102-8529; p. 471-495).
- 2013: “Brazilian trade policy in historical perspective: constant features, erratic behavior”, Brazilian Journal of International Law (vol. 10, n. 1, ISSN: 2237-1036 (on-line), p. 11-26; doi:10.5102/rdi.v10i1.2393).
- 2013: “A política externa das relações Sul-Sul: um novo determinismo geográfico?”, Revista Espaço da Sophia (vol. 6, n. 47; ISSN: 1981-318X; p. 163-188).
quinta-feira, 8 de março de 2012
Globalizacao reduz pobreza, ponto! Antiglobalizadores sempre equivocados...
E durante anos e anos, venho contestando essas afirmações absolutamente equivocadas em meus artigos, grande parte deles reunidos neste livro:
Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização
Pois bem, um relatório do Banco Mundial confirma o que já sabíamos: a globalização reduziu e vai continuar reduzindo a pobreza.
Só espíritos muito tacanhos e mentalidades atrasadas pretendem fechar o país, praticar protecionismo, stalinismo industrial, etc.
Enfim, espíritos que encontramos no próprio Brasil...
Paulo Roberto de Almeida
Dire Poverty Falls Despite Global Slump, Report Finds
By ANNIE LOWREY
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
Estranho conselho: nao se deixar levar pela globalizacao...
Mas, espera aí: tudo isso já foi feito e implementado no Brasil e na América Latina durante anos e décadas. Acho que não deu certo, do contrário os países da região seriam verdadeiras potências econômicas e não essas economias periclitantes e erráticas como foram durante muitos anos.
Os países só deslancharam, realmente, quando se liberaram de todas essas políticas protecionistas e dirigistas, como no Chile e no próprio Brasil.
Parece que tem gente que quer fazer o Brasil e a América Latina retornarem para trás.
Enfim, alguns já conseguiram, como sabemos quem são...
Paulo Roberto de Almeida
Uruguay: Mujica exhorta a Latinoamérica a no dejarse manejar por la globalización
Infolatam
Asunción, 16 de agosto de 2010
El presidente de Uruguay, José Mujica, abogó hoy por la cohesión latinoamericana y exhortó a los países a no dejarse manejar por la globalización, tras reunirse con el mandatario paraguayo, Fernando Lugo, en el Palacio de López, sede gubernativa, en Asunción.
“Somos absolutamente conscientes de que tenemos que juntarnos en esta época inevitable de la globalización lo más posible para manejarla y no que esta nos maneje”, expresó Mujica durante un breve discurso, en el último día de su primera visita oficial a Paraguay, único país del Mercosur al que no había viajado.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
2042) Brasil-China: uma relacao crescente e positiva
Bem, mas isso é uma tarefa para os Brics resolverem, simetricamente...
Paulo Roberto de Almeida
(Xian, 20.04.2010)
Lula diz que Brasil e China têm que lutar por nova ordem internacional
O Globo, 15/04/2010 às 15h49m
Valor Online
BRASÍLIA - Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da China, Hu Jintao, manifestaram hoje Interesse em estreitar relações comerciais e assinaram acordos em áreas como cultura, agricultura e petróleo, durante reunião realizada em Brasília.
Para Lula, ao receber presidente o chinês, o Brasil está acolhendo"mais do que um grande estadista"."Recebemos um amigo", disse durante declaração conjunta dos dois presidentes.
Ao tratar de política externa, Lula disse que os dois países têm a obrigação de lutar por uma"outra ordem internacional"e que, assim como o Brasil, a China busca nas organizações multilaterais respostas progressistas para a"globalização assimétrica e disfuncional que vive a humanidade".
Lula disse que o Brasil que Hu Jintao encontra hoje é diferente do que visitou em 2004."Como a China, o meu país se reencontrou com sua vocação para o desenvolvimento. Está superando vulnerabilidades econômicas e sociais históricas". O presidente brasileiro afirmou ainda que o Brasil consolidou um mercado interno vigoroso que é motor do crescimento econômico.
O presidente brasileiro ressaltou que o intercâmbio entre os dois países cresceu 780% desde o início de seu governo e que a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil.
Lula, no entanto, afirmou que para que a promessa de comércio Sul-Sul seja uma realidade, o Brasil precisa aumentar o valor agregado de suas vendas. Ele citou o setor aeronáutico como uma área que pode tornar as trocas entre os dois países mais equilibradas.
No discurso, Lula afirmou que são excepcionais as possibilidades de engajamento de empresas chinesas na modernização da infraestrutura brasileira no momento em que o Brasil inicia os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Hu Jintao destacou disse que houve vários pontos de consenso na conversa com o presidente brasileiro e classificou de"frutífera"a relação entre os dois países. O governante chinês falou também em aumentar ainda mais os mecanismos de cooperação e em diversificar o comércio bilateral.
Lula iniciou o discurso manifestando solidariedade ao povo chinês em decorrência do terremoto que já provocou mais de 600 mortes no país. O tremor antecipou para hoje o retorno de Hu Jintao à China e, por isso, a Cúpula do Bric (grupo formado pelo Brasil, pela Rússia, Índia e China), que ocorreria amanhã, foi antecipada para hoje, mesmo dia da reunião do Ibas, que reúne a Índia, o Brasil e a África do Sul.
Brasil e China assinaram hoje um Plano de Ação Conjunta para definir caminhos da parceria estratégica entre os dois países, além de fixar metas concretas para a cooperação bilateral nos próximos cinco anos.
O plano inclui a realização de consultas políticas mais frequentes sobre temas de interesse comum, levando-se em conta os acontecimentos no cenário internacional.
O plano abrange setores como energia e mineração, agricultura, supervisão da qualidade, inspeção e quarentena de produtos comerciais, indústria e tecnologia da informação, cooperação espacial, ciência, tecnologia e inovação, cultura e educação.
Todos os projetos relativos a essas áreas serão coordenados e monitorados, ao longo dos próximos anos, pela Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban).
Segundo Lula, o Plano de Ação Conjunta oferece um excelente roteiro para o futuro comum, permitindo uma melhor coordenação da atuação global dos dois países,"em benefício dos objetivos e aspirações de nossos povos".
(Agência Brasil)
sábado, 27 de março de 2010
1014) Mudancas na economia mundial: perspectiva historica de longo prazo
Mudanças na Economia: uma história de longo prazo
seção de Economia do Portal IG (23/03/2010).
Título original:
Transformações da economia mundial: visão histórica de longo prazo
Paulo Roberto de Almeida
A economia mundial, tal como a conhecemos atualmente, é um “arquipélago” em construção desde o século 16, pelo menos e, ainda hoje, ela não constitui um sistema perfeitamente unificado, sequer homogêneo, a despeito de toda a retórica em torno da globalização. Talvez, um dia, ela venha a ser unificada num mesmo universo de redes comerciais, financeiras e de recursos humanos circulando sem restrições sobre fronteiras e controles alfandegários. Por enquanto, contudo, trata-se de uma colcha de retalhos, reunindo pedaços hoje essencialmente capitalistas, é verdade, mas ainda dotados de características nacionais distintas em seu colorido diversificado. Ela poderá caminhar progressivamente para um conjunto mais homogêneo de sistemas econômicos nacionais, mas isso depende dos progressos da liberalização comercial, financeira e “humana”, o que ainda está longe de ser garantido.
Vejamos esse processo com lentes de longo alcance, começando na era dos descobrimentos. Mesmo a partir da unificação geográfica conduzida por Colombo (1492), Vasco da Gama (1498) e Fernão de Magalhães (1521), a economia mundial do início da era moderna não era, em absoluto, universal. Nessa primeira onda de globalização, de caráter mercantil, tratava-se, mais exatamente, de um arquipélago de economias centrais, predominantemente de origem européia, vinculadas a suas respectivas periferias nas novas terras descobertas, mediante um sistema usualmente conhecido como ‘exclusivo colonial’. Os demais centros regionais – o ‘Império do Meio’ (China), o império Mogul, na Índia, o mundo muçulmano (que começava a ser unificado sob o jugo otomano) e outros ‘blocos’ sub-regionais, na Eurásia ou nas Américas – não tinham realmente condições de disputar qualquer hegemonia econômica mundial, como diriam os marxistas.
Até o final do século 18, China e Índia constituíam duas grandes economias, produzindo bens valorizados nos mercados ocidentais, mas dotadas de instituições pouco adaptadas aos desafios da nova economia industrial, caracterizada pelo que se poderia chamar, ainda no jargão marxista, de um ‘modo inventivo de produção’. Foi precisamente a partir da revolução industrial na Inglaterra, nessa mesma época, que tem início a diferenciação dos centros econômicos mundiais, processo que os historiadores econômicos chamam de ‘grande divergência’, ou seja, a aceleração da transformação tecnológica no Ocidente, seguida da dominação absoluta das potências européias sobre o resto do mundo (destinada a durar cinco séculos, talvez até hoje).
Essa segunda grande onda da globalização, de natureza industrial, conforma o que se poderia chamar, pela primeira vez, de economia mundial, uma rede integrada de centros produtores de matérias primas, de um lado, servidas pelos centros financeiros europeus – com a libra inglesa e os bancos britânicos em seu núcleo – e as oficinas manufatureiras, de outro, dotadas das novas tecnologias industriais de produção em massa. As economias nacionais, até então pouco diferenciadas entre si – posto que uniformemente e predominantemente de base agrícola ou mercantil – começam a exibir diferenças estruturais, a partir de níveis de produtividade bem mais elevados nos sistemas industriais. A defasagem de renda começa sua escalada para índices sempre crescentes, entre o centro e a periferia, num processo que se desenvolveria durante praticamente dois séculos, com um recrudescimento ainda maior durante a maior parte do século 20, para diminuir apenas a partir da terceira onda de globalização, a partir do último quinto desse século.
No intervalo, a economia mundial capitalista seria desafiada por duas ameaças muito diferentes, entre si, mas concordantes em sua ação desagregadora de um sistema verdadeiramente unificado de relações mercantis e financeiras. A partir da primeira guerra mundial, as crises recorrentes dos centros capitalistas desenvolvidos no entre guerras (em especial a de 1929 e a depressão que se seguiu) e a implantação de sistemas coletivistas (de natureza soviética, desde 1917, e os fascismos, pouco depois), com suas experiências estatizantes e antiliberais, representaram uma ‘breve’ interrupção de setenta anos no processo de globalização. No imediato pós-segunda guerra mundial, as muitas experiências de nacionalizações e de estatizações no Ocidente capitalista, com seu cortejo de práticas intrusivas, dirigistas e planos de ‘desenvolvimento’ (com muito planejamento estatal centralizado, mesmo no capitalismo) representaram, igualmente, um retrocesso na reunificação de um sistema de mercado verdadeiramente mundial, desde então colocado sob a égide dos dois irmãos de Bretton Woods (o FMI e o Banco Mundial) e do GATT (OMC, em 1995).
Foi somente a partir das reformas econômicas ‘neoliberais’ iniciadas na China a partir dos anos 1980 e da implosão e quase completo desaparecimento dos regimes socialistas, entre 1989 e 1991, que o processo de reunificação da economia mundial é retomado, no bojo da terceira onda de globalização capitalista, desta vez dominada pela sua vertente financeira (mas que inclui também os investimentos diretos). O fim do socialismo representou pouco em termos de concorrência manufatureira – já que o socialismo era um medíocre produtos de bens industrializados – e menos ainda em termos de fluxos financeiros e tecnológicos – onde os países socialistas eram ainda mais marginais, senão irrelevantes – mas significou um impacto decisivo em termos de mercados e, sobretudo, de mão-de-obra (com um destaque absoluto para a China).
A fase atual, se ainda não pode ser identificada com um novo processo de ‘convergência’ da economia mundial, caracteriza-se, pelo menos, pela diminuição da divergência entre as regiões – com notáveis exceções, como nos casos da África, do Oriente Médio e em grande medida da América Latina – e pelo rápido catch-up experimentado por alguns emergentes dinâmicos. No curso dos últimos vinte anos de globalização, a China e a Índia retiraram centenas de milhões de pessoas de uma miséria abjeta, colocando-as numa situação de pobreza moderada, justamente em função das reformas econômicas empreendidas e de sua inserção na globalização. Esse processo deve continuar, pelo menos naqueles países que decidiram substituir antigas políticas protecionistas e estatizantes por uma abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros diretos.
O lado financeiro permanece ainda a dimensão problemática da globalização, não porque a liberdade de circulação de capitais seria, em si, desestabilizadora das economias nacionais, mas porque os governos ainda insistem em praticar políticas monetárias e cambiais inconsistentes com os novos dados da economia mundial. O monopólio dos bancos centrais na emissão de moedas-papel, na fixação das taxas de juros (sem correspondência efetiva com o equilíbrio real dos mercados de capitais) e seu papel na manutenção de regimes cambiais irrealistas e desajustados explica muito das crises financeiras ocorridas na segunda metade dos anos 1990 e em 2007-2009. As bolhas que se formam não são o resultado de ‘forças cegas do mercado’ – como políticos inescrupulosos e economistas pretensamente keynesianos proclamam – mas sim a conseqüência das manipulações dos governos em setores sensíveis da economia real. A possibilidade de maiores progressos em direção à convergência econômica mundial depende, assim, tanto da continuidade da abertura dos países ao processo de globalização quanto da habilidade dos governos em manterem soberania monetária e cambial no novo contexto criado pela unificação paulatina dos mercados de capitais.
Não é provável que essa convergência se dê rapidamente, tendo em vista a resistência de muitos governos à abertura comercial e financeira e sua tendência a continuar manipulando taxas de juros e regimes cambiais, mas é previsível que a globalização continue avançando naqueles países e regiões propensos a aceitarem as novas regras de mercado. Independentemente do que digam aqueles que condenam as novas políticas ‘neoliberais’, é um fato que os países que mais progressos fizeram no plano do crescimento econômico e da prosperidade de seus povos são aqueles que mais rapidamente souberam integrar-se comercialmente na economia mundial, e dela puderam aproveitar os efeitos benéficos dos investimentos diretos, que trazem capitais, know-how e tecnologia. A lição parece ter sido aprendida, mas nem todos souberam dela retirar os ensinamentos adequados. Esse tempo chegará, um dia...
Rio de Janeiro, 17 de Março de 2010.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
1921) Economia mundial: de onde viemos, para onde vamos?
Paulo Roberto de Almeida
(da série: Volta ao mundo em 25 ensaios)
Ordem Livre, 01 de Fevereiro de 2010
Economia mundial não é um termo que se possa empregar antes do século XVI et encore: mesmo a partir da unificação geográfica conduzida por Colombo, Vasco da Gama e Fernão de Magalhães, a economia mundial não era, em absoluto, universal. Nessa primeira onda de globalização, de caráter mercantil, tratava-se, mais exatamente, de um arquipélago de economias centrais, predominantemente de origem européia, vinculadas a suas respectivas periferias nas novas terras descobertas, mediante um sistema usualmente conhecido como "exclusivo colonial". Os demais centros regionais – o "Império do Meio" (China), o império Mogul, na Índia, o mundo muçulmano (que começava a ser unificado sob o jugo otomano) e outros "blocos" sub-regionais, na Eurásia ou nas Américas – não tinham realmente condições de disputar qualquer hegemonia econômica mundial, como diriam os marxistas.
Até o final do século XVIII, China e Índia constituíam duas grandes economias, que produziam bens valorizados nos mercados ocidentais, mas dotadas de instituições pouco adaptadas aos desafios da nova economia industrial, caracterizada pelo que se poderia chamar, ainda no jargão marxista, de um "modo inventivo de produção". Foi precisamente a partir da revolução industrial na Inglaterra, nessa mesma época, que teve início a diferenciação dos centros econômicos mundiais, processo que os historiadores econômicos chamam de "grande divergência", ou seja, a aceleração da transformação tecnológica no Ocidente, seguida da dominação absoluta das potências européias sobre o resto do mundo (destinada a durar cinco séculos, talvez até hoje).
Essa segunda grande onda da globalização, de natureza industrial, conforma o que se poderia pela primeira vez chamar de economia mundial, uma rede integrada de centros produtores de matérias primas, de um lado, servidas pelos centros financeiros europeus – com a libra inglesa e os bancos britânicos em seu núcleo – e as oficinas manufatureiras, de outro, dotadas das novas tecnologias industriais de produção em massa. As economias nacionais, até então pouco diferenciadas entre si – posto que uniformemente e predominantemente de base agrícola ou mercantil – começam a exibir diferenças estruturais, a partir de níveis de produtividade bem mais elevados nos sistemas industriais. A defasagem de renda começa sua escalada para índices sempre crescentes, entre o centro e a periferia, num processo que se desenvolveria durante praticamente dois séculos, com um recrudescimento ainda maior durante a maior parte do século XX, para diminuir apenas a partir da terceira onda de globalização, já no último quinto desse século.
No intervalo, a economia mundial capitalista seria desafiada por duas ameaças muito diferentes, entre si, mas concordantes em sua ação desagregadora de um sistema verdadeiramente unificado de relações mercantis e financeiras. A partir da primeira guerra mundial, as crises recorrentes dos centros capitalistas desenvolvidos no entre guerras (em especial a de 1929 e a depressão que se seguiu) e a implantação de sistemas coletivistas (de natureza soviética, desde 1917, e os fascismos, pouco depois), com suas experiências estatizantes e antiliberais, representaram uma "breve" interrupção de setenta anos no processo de globalização. No imediato pós-segunda guerra mundial, as muitas experiências de nacionalizações e de estatizações no Ocidente capitalista, com seu cortejo de práticas intrusivas, dirigistas e planos de "desenvolvimento" (com muito planejamento estatal centralizado, mesmo no capitalismo) representaram, igualmente, um retrocesso na reunificação de um sistema de mercado verdadeiramente mundial, desde então colocado sob a égide dos dois irmãos de Bretton Woods (o FMI e o Banco Mundial) e do GATT (OMC, em 1995).
Foi somente a partir das reformas econômicas "neoliberais" iniciadas na China a partir dos anos 1980 e da implosão e quase completo desaparecimento dos regimes socialistas, entre 1989 e 1991, que o processo de reunificação da economia mundial é retomado, no bojo da terceira onda de globalização capitalista, desta vez dominada pela sua vertente financeira (mas que inclui também os investimentos diretos). O fim do socialismo representou pouco em termos de concorrência manufatureira – já que o socialismo era um produtor medíocre de bens industrializados – e menos ainda em termos de fluxos financeiros e tecnológicos – onde os países socialistas eram ainda mais marginais, senão irrelevantes; mas significou um impacto decisivo em termos de mercados e, sobretudo, de mão-de-obra (com destaque absoluto para a China).
A fase atual, se ainda não pode ser identificada com um novo processo de "convergência" da economia mundial, caracteriza-se, pelo menos, pela diminuição da divergência entre as regiões – com notáveis exceções, como nos casos da África, do Oriente Médio e em grande medida da América Latina – e pelo rápido catch-up experimentado por alguns emergentes dinâmicos. No curso dos últimos vinte anos de globalização, a China e a Índia retiraram centenas de milhões de pessoas de uma miséria abjeta, colocando-as numa situação de pobreza moderada, justamente em função das reformas econômicas empreendidas e de sua inserção na globalização. Esse processo deve continuar, pelo menos naqueles países que decidiram substituir antigas políticas protecionistas e estatizantes por uma abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros diretos.
O lado financeiro permanece ainda a dimensão problemática da globalização, não porque a liberdade de circulação de capitais seria, em si, desestabilizadora das economias nacionais, mas porque os governos ainda insistem em praticar políticas monetárias e cambiais inconsistentes com os novos dados da economia mundial. O monopólio dos bancos centrais na emissão de moedas-papel, na fixação das taxas de juros (sem correspondência efetiva com o equilíbrio real dos mercados de capitais) e seu papel na manutenção de regimes cambiais irrealistas e desajustados, explica muito das crises financeiras ocorridas na segunda metade dos anos 1990 e em 2007-2009. As bolhas que se formam não são o resultado de "forças cegas do mercado" – como políticos inescrupulosos e economistas pretensamente keynesianos proclamam – mas sim a consequência das manipulações dos governos em setores sensíveis da economia real. A possibilidade de maiores progressos em direção à convergência econômica mundial depende, assim, tanto da continuidade da abertura dos países ao processo de globalização, quanto da habilidade dos governos em manterem soberania monetária e cambial no novo contexto criado pela unificação paulatina dos mercados de capitais.
Não é provável que essa convergência se dê rapidamente, tendo em vista a resistência de muitos governos à abertura comercial e financeira e sua tendência a continuar manipulando taxas de juros e regimes cambiais; mas é previsível que a globalização continue avançando naqueles países e regiões propensos a aceitarem as novas regras de mercado. Independentemente do que digam aqueles que condenam as novas políticas "neoliberais", é um fato que os países que mais progressos fizeram no plano do crescimento econômico e da prosperidade de seus povos são aqueles que mais rapidamente souberam se integrar comercialmente na economia mundial, e dela puderam tirar proveito dos efeitos benéficos dos investimentos diretos, que trazem capitais, know-how e tecnologia. A lição parece ter sido aprendida, mas nem todos souberam dela tirar os ensinamentos adequados.
Ça viendra, à son temps...
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Para o primeiro ensaio da série "Volta ao Mundo em 25 Ensaios", ver aqui:
Por que o mundo é como é (e como ele poderia ser melhor...)