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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Relacoes Brasil-China: reciprocidade e paranoias

Segundo se sabe, o Brasil esta tentando limitar a aquisção de terras por estrangeiros, especificamente preocupado, como se sugeriu, com a compra de grandes extensões de terras por chineses, que aqui viriam plantar "o que é bom para eles", não o que supostamente seria bom para nós.
Enquanto continuarmos a ter esse tipo de paranoia, vai ser dificil inserir o Brasil na globalização ou aumentar a relação com a Chona (sem falar da questão da "reciprocidade": como limitar aqui e pedir que eles abram lá?).
Acho que precisamos colocar ordem no discurso interno.
Paulo Roberto de Almeida

Entrevista: Antônio Patriota
“Não é só entrar, extrair e levar o minério ou a soja embora”
Simone Cavalcanti, de Brasília
Brasil Econômico, 17/05/2011

Segundo ministro, Itamaraty trabalha para assegurar transferência de tecnologia na relação com a China

Uma aposta estratégica. É assim que o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, vê a posição da China não só em relação ao Brasil, mas à toda América Latina, por se tratar, no conjunto, de uma potência na produção de alimentos e de energia. “E tudo isso tem a ver coma segurança alimentar e energética da China, para que continue crescendo.” Por isso mesmo, o diálogo entre os governos só tem melhorado, diz.

Qual a avaliação dessa visita da delegação chinesa?
Sinaliza a retomada de contatos em nível ministerial que havia desacelerado em 2010, em compasso de espera da eleição aqui. A reunião da subcomissão de comércio permite acompanhar a implementação dos compromissos acordados, como a liberação da carne suína e os jatos da Embraer. E avançar no planejamento futuro para identificação de novos projetos e áreas.
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Como o quê?
Um dos pontos é o setor automotivo. Temos uma experiência que é valorizada internacionalmente em termos de biocombustíveis, e a China poderá ter interesse em participar de produtos com essas características. Quando a presidenta Dilma Rousseff esteve em Pequim, participou de um evento cujo título era Além da Complementariedade. Isso diz muito. Porque a complementariedade a gente conhece. Exportamos muita matéria-prima. Não queremos deixar de exportar, mas queremos também embarcar produtos com maior grau de elaboração. Queremos desenvolver parcerias em áreas tecnologicamente mais avançadas, que contribuam para competitividade industrial.

Quais as áreas consideradas estratégicas pelo governo?
Desde biocombustíveis, nanotecnologia, biotecnologia até a questão das terras raras, incluindo a extração e processamento do lítio. E energia de modo geral.

O que mais foi discutido?
Também discutimos um pouco a questão do turismo e da importância das conexões aéreas. A TAM está querendo estabelecer presença na China. A Air China faz um voo com uma escala apenas em Madri. E agora com Copa do Mundo, Olimpíadas, Rio+20 e outros acontecimentos esperamos que haja um crescimento da visita de lado a lado.

Segundo o Mdic, há um empenho do governo para direcionar os investimentos à cadeia produtiva de setores de interesse nacional.
Isso traz à tona o que pode ser descrito como um novo momento da relação entre Brasil e China. Em termos de quantidade, o comércio e a atração de investimentos vai bem, mas nós queremos operarumsalto qualitativo. Isso inclui diversificação da pauta de exportação, os embarques de produtos de maior valor agregado, buscar parcerias com os chineses em que possamos incorporar um conteúdo de tecnologia mais avançado.

Roger Agnelli, ex-presidente da Vale, já reclamou do fato de os chineses comprarem jazidas no Brasil sendo que há uma proibição para entrada naquele mercado. Como isso está sendo tratado?
Mais do que o Itamaraty, a própria presidenta abordou isso. Quando esteve na China disse que quer continuar atraindo investimento chinês, mas aquele que traga um valor agregado. Não é só entrar, extrair e levar o minério ou a soja embora, sem contribuir para o desenvolvimento seja ele de que tipo for. É essa mensagem.
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Mas não quer dizer que a China vá mudar suas proibições?
Vamos olhar o que acontece no médio e longo prazo. Nós somos uma potência no que se refere à produção de alimento. Se juntar todos da América do Sul somos também uma potência energética. Somos fonte de recursos minerais. E tudo isso tem a ver com a segurança alimentar e energética da China, para que continue crescendo. Isso é um pouco a equação da complementariedade. Quando fala em ir além disso, queremos que não seja uma via de mão única, que também esse relacionamento no sentido inverso nos traga uma contribuição em desenvolvimento qualitativamente superior. A questão da reciprocidade foi levantada, pois empresas nossas têm dificuldade de se estabelecer na China. Se eles aqui têm uma limitação ou se ressentem de alguma dificuldade na aquisição de terras, bom, lá não há nem essa possibilidade. Há uma compreensão das assimetrias e um desejo de superá-las.

Em que prazo?
O calendário de reuniões vai estabelecendo os prazos. Mas nós gostaríamos de ter avanços até a Cosban (Comissão de Alto Nível Sino-Brasileira) que se reúne no segundo semestre.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Brasil-China: afinidades eletivas? - Zhou Zhiwei

Recebi, do meu amigo chinês Zhou Zhiwei, secretário de Centro de Estudos Brasileiros do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Chinese Academy of Social Sciences, em Pequim, as duas matérias abaixo, que transcrevo para informação de meus leitores.
Zhou Zhiwei pediu que eu comentasse suas afirmações, o que pretendo fazer oportunamente, e talvez discretamente...
Paulo Roberto de Almeida

CHINA: Brasil deve tentar aproveitar melhor investimentos da China, diz acadêmico
Silvia Salek
Enviada especial da BBC Brasil à China,
11 de abril, 2011 - 05:26 (Brasília) 08:26 GMT
Para Zhou Zhiwei, a importância do Brasil para a China é cada vez maior

O pesquisador e secretário-geral do Centro de Estudos Brasileiros da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Zhou Zhiwei, disse em entrevista à BBC Brasil, em Pequim, que o Brasil deve buscar desenvolver sua competitividade e tentar aproveitar melhor os investimentos chineses.
“Falta um plano organizado, falta um papel para direcionar estes investimentos para os setores que precisam de mais investimentos”, disse.
Segundo Zhou Zhiwei, as relações do Brasil com a China devem se intensificar e, com isso, mais tensões devem surgir como em um namoro que evolui para um casamento.

Leia abaixo a entrevista da BBC Brasil com o pesquisador chinês.

BBC Brasil - A importância da China para o Brasil é clara. É o principal parceiro comercial e principal investidor do Brasil. E qual a importância do Brasil para a China?
Zhou - A importância do Brasil para a China é cada vez maior. Em termos econômicos, o Brasil é agora um dos maiores parceiros comerciais da China, o nono maior parceiro. Isso é importante para os dois lados. Eu acho também que a relação entre o Brasil e a China já superou a esfera bilateral como disse o vice-presidente Xi Jinping, quando visitou o Brasil em 2009. Essa relação tem agora um significado estratégico mundial.

BBC Brasil -A relação entre os dois países já tem um grau de tensão e alguns analistas acreditam que essa tensão vá aumentar. Você compartilha dessa opinião?
Zhou - Concordo. Na verdade, eu acho que as tensões vão crescer à medida que a relação entre os países se intensifica. É como a relação entre namorados. Para eles, o mundo é bonito, sem conflitos. Quando se casam, começam a surgir mais problemas e dificuldades para resolverem. O comércio entre Brasil e China cresceu muito nos últimos anos, então, claramente, vai existir competição, concorrência. Mas acho que é um processo natural.

BBC Brasil - Mas as exportações brasileiras não incomodam a China, o problema é a via oposta? Só um lado parece se incomodar.
Zhou -Eu acho que existe uma diferença entre setores. O setor agrícola brasileiro tem uma situação muito favorável. Por outro lado, existe claramente concorrência entre os setores industriais no mercado brasileiro e em terceiros mercados. Esse problema é muito natural, mas o mais importante é que o setor industrial brasileiro deve promover a sua competitividade.

BBC Brasil - Como?
Zhou - Tributos, infraestrutura e também desenvolvimento tecnológico para maior eficiência.

BBC Brasil - E o que o senhor acha de medidas como anti-dumping e salvaguardas contra produtos chineses industrializados? É a ferramenta correta?
Zhou - Para o Brasil, pode ser a ferramenta correta. Se você acha que isso não é bom, pode aplicar medidas para defender seu setor de acordo com as regras da OMC. Mas eu acho que medidas anti-dumping não resolvem este problema. O mais importante para o Brasil é aumentar a competitividade. É o ponto-chave.

BBC Brasil - E o reconhecimetno da China na OMC, prometido no governo Lula, mas não ratificado? Como os chineses veem a postura do governo brasileiro?
Zhou - O primeiro-ministro chinês, Web Jiabao, disse que é lamentável que o Brasil ainda não tenha aprovado o status da China na OMC. Então, acho que, durante a visita da presidente Dilma Rousseff, os dois governos vão discutir esse assunto. Eu acho que o governo brasileiro tem suas próprias condições, por exemplo, a questão da licença para a produção de um novo modelo pela Embraer. Eu acho que essa questão da Embraer será resolvida. Se isso for resolvido, eu acho que a atitude do governo brasileiro vai mudar.

BBC Brasil - Mas com o reconhecimento do status da OMC, o Brasil perde uma arma que alguns setores consideram fundamental, que é a possibilidade de aplicar medidas anti-dumping, usando no cálculo o preço de terceiros mercados.
Zhou - Fechar a porta para os produtos chineses não é uma boa solução. Na minha opinião, o mais importante para outros países é aumentar a competitividade. O status da China não é uma questão muito difícil, é apenas um processo.

BBC Brasil -Pelo cálculo de uma entidade americana, o Brasil foi o principal destino dos investimentos chineses em 2010. Qual a perspectiva nessa área para o Brasil?
Zhou - O investimento da China em 2010 é só o início desta tendência porque o Brasil tem muitas oportunidades e vantagens em termos de recursos naturais e é receptivo ao investimento chinês. As empresas chinesas estão traçando uma estratégia de internacionalização e o Brasil é um país emergente com muitas oportunidades para as empresas chinesas aproveitarem. Como a maior economia da região, o Brasil deve desempenhar também um papel de ponte entre a China e a América do Sul. O Brasil representa claramente uma oportunidade imensa para ser aproveitada.
Já recebi e-mails de empresas chinesas perguntando sobre como fazer negócio no Brasil. Algumas fabricam, por exemplo, material para estádios. Sabem que haverá a Copa do Mundo, Olimpíadas.

BBC Brasil - E o que dificulta que isso se concretize?
Zhou - Existem alguns obstáculos para trazer mais investimentos. Por exemplo, deficiência de infraestrutura, mas essa também é uma boa oportunidade para os chineses.

BBC Brasil - Apesar de haver oportunidades em algumas áreas, o investimento chinês tem sido criticado por se concentrar demais na busca por matérias-primas. Como o senhor vê essas críticas?
Zhou - É engraçado. Antes, lembravam que durante a visita de Hu Jintao, em 2004, os chineses prometeram investimentos e não os concretizaram. Em 2010, chega um monte de investimento, mas muitas pessoas se preocupam porque cresceu demais. Claramente, o investimento chinês representa um certo choque para alguns setores e empresas brasileiras, mas, para aproveitar melhor estes investimentos chineses, o governo brasileiro deve redirecionar os investimentos para os setores que precisam de mais investimentos.

BBC Brasil - O senhor acha, então, que o Brasil não deve aceitar investimento em qualquer área?
Zhou - Falta um plano organizado, falta um papel para direcionar estes investimentos para os setores que precisam de mais investimentos.

BBC Brasil - Mas que poder o governo pode ter sobre isso? Se uma empresa privada quer vender suas operações para a China, o que o governo pode fazer?
Zhou - Sim, mas a relação também tem de ser entre dois governos, entre dois países. O governo tem de desempenhar um papel importante para promover esta relação.

BBC Brasil - O interesse chinês é por commodities, algo que preocupa alguns setores. O senhor vê motivo para preocupação?
Zhou - Os recursos naturais correspondem a 85% de todos os investimentos da China no Brasil. A China precisa desses recursos. Isso representa um desafio para o Brasil. Para resolver esse problema, o governo brasileiro tem de fazer seu dever. Claro que os recursos naturais são as vantagens do Brasil. É o que a China quer para sustentar o crescimento. É uma relação complementar. O Brasil deve se planejar para aproveitar melhor os investimentos chineses. É uma relação que envolve os governos.
Se conseguir apoio dos governos, fica mais fácil para as empresas chinesas investirem em outros países.

BBC Brasil - Então o senhor acha que existe potencial para o Brasil usar os recursos naturais na barganha por investimentos de mais valor agregado?
Zhou - Eu acho que o apetite da China claramente é recurso natural. Se o Brasil quiser mais investimento em outros setores, o que vai oferece para atrair as empresas chinesas? É nisso que o Brasil tem de pensar. O que vai fazer? Muitos países também querem investimentos da China. No Brasil, existem obstáculos para fazer negócios: altos tributos, o custo para as empresas é alto, as regras trabalhistas são rígidas, a segurança pública não é boa. Então, esses são desafios se o Brasil quer mais investimento em infraestrutura e outros setores.

BBC Brasil - Como o senhor vê a reação no mundo à ascensão da China?
Zhou - A China virou a segunda economia do mundo, mas o PIB per capita é muito baixo. Ainda é a metade do PIB per capita no Brasil. O status da China ainda é de um país em desenvolvimento. A China também quer desempenhar um maior papel nos assuntos internacionais, mas o maior desafio agora é o desenvolvimento sustentável. Existem questões sociais, como uma disparidade de renda muito grande. A tarefa para os governos chineses é promover um equilíbrio entre crescimento e desenvolvimento social.

BBC Brasil - Então, a China vai continuar olhando mais para dentro?
Zhou - Há um pensamento corrente que diz que a política externa da China é fazer seu próprio dever da melhor maneira possível, pensando o mínimo nas questões internacionais. Essa é uma diferença entre Brasil e China. A atitude do Brasil na área de política interna é mais ativa e altiva, como diz Celso Amorim. Mas, para o governo chinês, a humildade é mais importante. O Brasil está sempre pensando em ser uma potência mundial. Durante a Segunda Guerra, surgiu uma oportunidade de ser memebro permanente da ONU. E, nas últimas décadas, o Brasil tenta fazer o possível para realizar o sonho de potência mundial. São características dos povos. Os brasileiros são mais otimistas, os chineses, mais reservados.

BBC Brasil - O senhor falou em humildade, mas há um grande número de observadores que têm visto uma maior assertividade ou até agressividade por parte da China principalmente após a crise, quando o país saiu quase ileso e enxergou as rachaduras no modelo americano.
Zhou - De fato, existe uma mudança nos assuntos internacionais no que diz respeito a atitude do governo chinês. O governo começa a pensar que pode desempenhar um papel correspondente ao status econômico. Claramente, a economia chinesa cresceu e a China está desempenhando um papel mais importante. Por isso, veem uma maior agressividade. Mas, considerando a importância que a China ganhou, ainda acho que a postura do governo continua sendo de humildade.

BBC Brasil - Mas com a ampliação dos interesses chineses do mundo, será que a China não vai ser forçada, no futuro, a assumir um papel de liderança, para defender seus crescentes interesses econômicos de forma mais ativa? Será que a política da não-interferência sobrevive por muito tempo?
Zhou - Acho que é uma tendência possível. As empresas chinesas estão elaborando estratégias de internacionalização não só na América do Sul, mas também na África, nos Estados Unidos, na Austrália. Com isso, o governo chinês tem de pensar mais do que antes no resto do mundo para aproveitar a oportunidade de transformação mundial de agora e não só proteger seus interesses, mas também proteger os interesses dos países em desenvolvimento. Acho que esse é um ponto de cooperação entre Brasil e China.

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Americano prevê colapso da China em 2020; chinês vê estabilidade
Amauri Arrais
Do G1, em São Paulo, 11/04/2011 12h52

Para George Friedman, ciclo de crescimento do país está quase no limite.
Governo tenta repassar ganhos em benefícios para o povo, diz Zhou Zhiwei.

George Friedman, autor do best-seller 'The Next Decade' e o chinês Zhou Zhiwei, secretário de centro de estudos brasileiros em Pequim (Fotos)

Enquanto grande parte dos analistas vê o avanço da China como potência global se realizar em um ritmo mais rápido do que se previa, o cientista político americano George Friedman prevê, no best-seller “The Next Decade” (“A próxima década”, ainda inédito em português), que o país deve entrar em colapso até 2020.

Também autor de “Os próximos 100 anos” (Ed. Best Business, 2009), traduzido em mais de 20 línguas, e diretor-executivo da consultoria Stratfor, Friedman acredita que o país asiático, assim como o Brasil, está chegando ao limite do ciclo atual de desenvolvimento, e que as perspectivas, “no longo prazo”, são mais favoráveis ao Brasil.
“Devo dizer que vejo as perspectivas do Brasil no longo prazo bem melhores que as da China. Ainda assim, este é o encontro de dois países cujo “boom” econômico está amadurecendo e que estão tendo mais dificuldades em manter o ritmo. Mas o ritmo brasileiro tem sido mais sólido e equilibrado, e com uma pobreza, embora ainda presente, não tão extrema quanto a da China”, disse ao G1 às vésperas da visita da presidente Dilma ao país, a partir desta segunda-feira (11).

As afirmações do americano são rebatidas pelo chinês Zhou Zhiwei, secretário-geral do Centro de Estudos Brasileiros na Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim, que vê o país se desenvolver com estabilidade e o governo "se esforçando para transformar os ganhos do crescimento econômico em benefícios para o povo".
"Há dez anos, ninguém imaginou que o Brasil poderia conseguir o direito de sediar os jogos olímpicos, mas conseguiu. A China está se desenvolvendo estavelmente em meio a muitas previsões como estas. O país está claramente enfrentando alguns desafios, mas nunca parou de fazer suas reformas. Esta é a causa por que algumas previsões se mostraram falhas", diz.

Leia, a seguir, trechos das entrevistas que os dois especialistas deram ao G1.

George Friedman
G1 – Enquanto muitos especialistas concordam que estamos assistindo a uma transferência de poder geopolítico dos EUA para a China, no seu livro o senhor prevê a fragmentação do país até 2020. Por quê?
George Friedman - A China é um país profundamente dividido. 600 milhões de pessoas vivem diariamente com até US$ 3. E 440 milhões têm de sobreviver com de US$ 3 a US$ 6 pro dia. Há cerca de 60 milhões de chineses ganhando US$ 20 mil ou mais por ano. Esta é a China de que todos falam a respeito e que representa menos de 5% da população. É um país extremamente pobre. Tem um pequeno segmento que não pode vender na China, mas deve principalmente exportar. Mas sua taxa de inflação tem rendido à China sua posição como um país de baixos salários, e os bilhões de chineses pobres não podem ser facilmente treinados. Isso significa que há uma grande pressão na China da ameaça de desemprego. O governo chinês é consciente da grande revolta social que isso pode provocar e é por isso que se tornou extremamente repressivo. Eles conhecem as divisões na China e os riscos que têm que confrontar.

G1 – O senhor já disse que é fácil tirar conclusões superficiais sobre a China (e sobre a Ásia em geral) porque “muito do que realmente importa ocorre sob a superfície e não é discutido em público”. Acredita que há muita manipulação nos dados divulgados pelo governo?
Friedman - Eles não são tão manipulados quanto são mal interpretados. Por exemplo, se a China tem uma grande taxa de crescimento, isso não significa que seja rentável. [O país] Tem uma taxa de crescimento muito elevada das exportações, mas a margem de lucro está encolhendo. Logo, se você olha para as altas taxas de crescimento, vê sucesso. Quando você olha mais de perto, o retrato é mais complexo. Altas reservas de dólares estão sendo vistas como sinal de êxito. O que elas representam é a falta de habilidade da economia chinesa de absorver investimento. É algo semelhante ao que aconteceu no Japão de 1990 ou nos Estados Unidos de 1929. Então, não é que os dados sejam manipulados, mas não estão sendo analisados com cuidado.

G1 – A despeito das preocupações com a situação dos direitos humanos no país, chefes de Estado são relutantes em mencionar o assunto quando visitam Pequim. Acredita que o tema também pode afetar a chance de a China de se tornar uma superpotência global?
Friedman - A opinião de governos de outros países sobre direitos humanos faz pouca diferença para a China. Eles têm sua própria maneira de pensar o assunto. A situação de direitos humanos não deve ser vista nos termos das críticas do Ocidente, mas do entendimento que flui do medo chinês de uma revolta, que poderia ser alimentada por problemas étnicos, econômicos e pela desigualdade. A repressão cresce a partir desses medos. É uma maneira de tentar manter a estabilidade em tempos difíceis.

G1 – A presidente Dilma Rousseff fará sua primeira viagem à China apenas semanas depois da vinda do presidente Barack Obama ao Brasil, num esforço para retomar o posto de principal parceiro comercial brasileiro (tomado pela China). É um mau sinal para as relações entre Brasil e EUA?
Friedman – Não acredito que isso pode afetar as relações Brasil-Estados Unidos. Primeiro porque é apenas uma visita, e este tipo de visita é comum. Os EUA não sofrem ameaça das relações entre China e Brasil. Elas só podem ser econômicas, e não estratégicas, devido à distância e limitações de poder de ambos os países. Segundo, será interessante assistir ao encontro porque Brasil e China compartilham o status de serem estrelas da última geração. Agora, ambos os países estão chegando ao limite do ciclo atual de crescimento, então têm muito o que discutir.

G1 – E quais são os prognósticos do senhor para o Brasil nesse cenário?
Friedman - Devo dizer que vejo as perspectivas do Brasil no longo prazo bem melhores que as da China. Ainda assim, este é o encontro de dois países cujo “boom” econômico está amadurecendo e estão tendo mais dificuldades em manter o ritmo. Mas o ritmo brasileiro tem sido mais sólido e equilibrado, e com uma pobreza, embora ainda presente, não tão extrema quanto a da China. Estas conversas são muito interessantes porque os dois países têm muito em comum, incluindo os problemas atuais.

Zhou Zhiwei
G1 - A presidente Dilma fará sua primeira viagem à China (que no ano passado ultrapassou os EUA como principal parceiro comercial do Brasil) apenas semanas após a visita de Obama ao Brasil. O senhor acha que isso indica alguma mudança de postura do país em relação à China?
Zhou Zhiwei - Eu não acho [que isso indique uma mudança de postura do Brasil], mas isso indica verdadeiramente que os EUA e a China são duas prioridades da política externa brasileira. Sempre acho que a relação Brasil-EUA pode ser mais complicada que a relação Brasil-China. O Brasil e a China possuem mais interesses comuns nos assuntos mundiais, mas há algumas contradições estruturais na relação entre o Brasil e os EUA, não só na região da America Latina, também na ordem internacional.
G1 - De alguma maneira, essa proximidade com os chineses afeta as relações Brasil-EUA?
Zhou Zhiwei - A meu ver, o principal princípio da política externa do Brasil defender os seus próprios interesses nacionais em qualquer relação bilateral. A atitude do governo brasileiro deve corresponder à sua estratégia geral da política externa. Na minha análise, realizar o sonho de ser potência global numa estrutura desequilibrada de hegemonia é o destino da estratégia da política externa do Brasil. Para realizar esse objetivo, o Brasil deve aprofundar as cooperações com os países em desenvolvimento, especialmente com os países emergentes. Isso é o que o governo Lula fez nos últimos 8 anos. Acho que o Brasil conseguiu muito nesse sentido através desse tipo de cooperação com o mundo em desenvolvimento. Desde modo, a maior proximidade com os países emergentes seria boa para que o Brasil assuma um papel mais importante no cenário mundial, pois isso significa que terá maior espaço na política externa para defender seus próprios interesses estratégicos, especialmente na relação com os países desenvolvidos.
G1 - Dilma, que tem assumido posições diferentes de Lula na questão dos direitos humanos, enfrenta um dilema: mencionar ou não o tema na China, em meio às prisões do artista Ai Weiwei e do ativista Liu Xiaobo após criticarem o governo. Acredita que a presidente deveria mencionar o tema? Isso afetaria diretamente as relações entre os países?
Zhou Zhiwei - Não acho que a presidente Dilma vai enfatizar essa diferença de entendimento no conceito de direitos humanos. Também não acho que essa diferença vai afetar o desenvolvimento geral da relação bilateral Brasil-China. Essa relação já chegou a uma maior amplitude e profundidade. Não deixar essa diferença afetar a estreita relação bilateral seria uma atitude ideal para promover e aprofundar as cooperações entre os dois países.
G1 - Assim como os países árabes, a China, a despeito do forte crescimento, ainda tem grande parte da população vivendo na pobreza, muito desemprego entre os jovens e repressão do governo. Uma revolta como a da Tunísia ou Egito é possível na China?
Zhou Zhiwei - Não me preocupo com essa possibilidade. Os povos chineses reconhecem que as questões sociais estão melhorando com o crescimento econômico e o governo chinês está se esforçando para transformar os ganhos do crescimento econômico em benefícios para o povo. O mais importante, na cabeça dos chineses, é que uma ordem estável é um fator fundamental para uma vida melhor.
G1 - Na contramão de outros especialistas em todo mundo, o americano George Friedman se tornou best-seller nos EUA com um livro em que, dentre outras coisas, prevê a fragmentação da China até 2020, baseado em problemas estruturais e do sistema financeiro chinês. O que o senhor pensa sobre isso?
Zhou Zhiwei – Previsão é sempre só é uma previsão. Há dez anos, ninguém imaginou que o Brasil poderia conseguir o direito de sediar os jogos olímpicos, mas conseguiu. A China está se desenvolvendo estavelmente em meio a muitas previsões como estas. O país está claramente enfrentando alguns desafios, mas nunca parou de fazer suas reformas. Esta é a causa por que algumas previsões se mostraram falhas.
G1 - Outra tese do autor é que os especialistas tiram conclusões sobre a China baseados em análises superficiais, já que o país não discute muitos dos seus problemas em público. O senhor acredita que há manipulação dos dados divulgados pelo governo?
Zhou Zhiwei - A conclusão do senhor George Friedman é muitíssimo engraçada. Este possivelmente também é um “bom” jeito de ele atrair os leitores. Hoje, há um ambiente mais livre na área acadêmica, os pesquisadores chineses podem discutir sobre qualquer tema. Não sinto esta questão de manipulação.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Diplomacia Sul-Sul, pelo lado unilateral...

China x Brazil (BBVA)


The impact of the emergence of China on Brazilian international trade, published by BBVA, indicated by Enestor dos Santos. This work studied the impact that the Chinese trade expansion had on the Brazilian international trade. Available data analyzed in this paper evidences that in the last years Brazilian exports of commodity products increased significantly due to the emergence of China and other Asian countries. They showed that Brazilian exports of high technological content and high quality increased more than the average and more than low technological and low quality exports in the last years.
http://bit.ly/8XBwbJ
anexos
Fazer download deste ficheiro (WP_1022_tcm348-231940.pdf)WP_1022_tcm348-231940.pdf1517 Kb17/11/2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

2042) Brasil-China: uma relacao crescente e positiva

A visão oficial sobre as relações é obviamente positiva: esperemos que todos pensem assim. Claro, lutar por uma "nova ordem internacional" é uma missão grandiosa, que vale todos os esforços, sobretudo quando a globalização é assimétrica e disfuncional. Curioso que os chineses não tem reclamado da globalização assimétrica. Acredito, também, que eles estão contribuindo para um pouco mais de assimetria, ao "roubar", literalmente, empregos industriais dos demais países, inclusive do Brasil.
Bem, mas isso é uma tarefa para os Brics resolverem, simetricamente...
Paulo Roberto de Almeida
(Xian, 20.04.2010)

Lula diz que Brasil e China têm que lutar por nova ordem internacional
O Globo, 15/04/2010 às 15h49m
Valor Online

BRASÍLIA - Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da China, Hu Jintao, manifestaram hoje Interesse em estreitar relações comerciais e assinaram acordos em áreas como cultura, agricultura e petróleo, durante reunião realizada em Brasília.

Para Lula, ao receber presidente o chinês, o Brasil está acolhendo"mais do que um grande estadista"."Recebemos um amigo", disse durante declaração conjunta dos dois presidentes.

Ao tratar de política externa, Lula disse que os dois países têm a obrigação de lutar por uma"outra ordem internacional"e que, assim como o Brasil, a China busca nas organizações multilaterais respostas progressistas para a"globalização assimétrica e disfuncional que vive a humanidade".

Lula disse que o Brasil que Hu Jintao encontra hoje é diferente do que visitou em 2004."Como a China, o meu país se reencontrou com sua vocação para o desenvolvimento. Está superando vulnerabilidades econômicas e sociais históricas". O presidente brasileiro afirmou ainda que o Brasil consolidou um mercado interno vigoroso que é motor do crescimento econômico.

O presidente brasileiro ressaltou que o intercâmbio entre os dois países cresceu 780% desde o início de seu governo e que a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil.

Lula, no entanto, afirmou que para que a promessa de comércio Sul-Sul seja uma realidade, o Brasil precisa aumentar o valor agregado de suas vendas. Ele citou o setor aeronáutico como uma área que pode tornar as trocas entre os dois países mais equilibradas.

No discurso, Lula afirmou que são excepcionais as possibilidades de engajamento de empresas chinesas na modernização da infraestrutura brasileira no momento em que o Brasil inicia os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

Hu Jintao destacou disse que houve vários pontos de consenso na conversa com o presidente brasileiro e classificou de"frutífera"a relação entre os dois países. O governante chinês falou também em aumentar ainda mais os mecanismos de cooperação e em diversificar o comércio bilateral.

Lula iniciou o discurso manifestando solidariedade ao povo chinês em decorrência do terremoto que já provocou mais de 600 mortes no país. O tremor antecipou para hoje o retorno de Hu Jintao à China e, por isso, a Cúpula do Bric (grupo formado pelo Brasil, pela Rússia, Índia e China), que ocorreria amanhã, foi antecipada para hoje, mesmo dia da reunião do Ibas, que reúne a Índia, o Brasil e a África do Sul.

Brasil e China assinaram hoje um Plano de Ação Conjunta para definir caminhos da parceria estratégica entre os dois países, além de fixar metas concretas para a cooperação bilateral nos próximos cinco anos.

O plano inclui a realização de consultas políticas mais frequentes sobre temas de interesse comum, levando-se em conta os acontecimentos no cenário internacional.

O plano abrange setores como energia e mineração, agricultura, supervisão da qualidade, inspeção e quarentena de produtos comerciais, indústria e tecnologia da informação, cooperação espacial, ciência, tecnologia e inovação, cultura e educação.

Todos os projetos relativos a essas áreas serão coordenados e monitorados, ao longo dos próximos anos, pela Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban).

Segundo Lula, o Plano de Ação Conjunta oferece um excelente roteiro para o futuro comum, permitindo uma melhor coordenação da atuação global dos dois países,"em benefício dos objetivos e aspirações de nossos povos".

(Agência Brasil)

domingo, 18 de abril de 2010

2034) A diplomacia que diz nao: "agora nos podemos..."

Tem gente que se orgulha em dizer não ao Império, talvez por coragem, macheza, temeridade, whatever...
De fato, é uma demonstração de independência, até de soberba e arrogância.
A menos que seja de outra coisa, cujo nome me escapa, exatamente...

A situação é séria. O Brasil está operando para minar a posição dos EUA na questão estratégica número um do governo Obama
Por Paulo Sotero (*)
Estado de São Paulo, 18.04.2010:

As diferenças cada vez mais evidentes entre o Brasil e os Estados Unidos sobre como proceder para convencer o Irã a honrar suas obrigações de signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear contêm os ingredientes para transformar-se numa “crise real nas relações entre os dois países, com consequências nocivas que levarão anos para serem revertidas”, disse um funcionário do governo Obama, após a conclusão da Cúpula sobre Segurança Nuclear, em Washington, na semana passada. O desencontro de posições levou a Casa Branca a tirar o Brasil do roteiro preliminar de viagens internacionais do presidente Barack Obama em 2011, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o líder iraniano em Brasília, no final do ano passado.

As coisas só pioraram desde então. “A situação é séria. O Brasil está operando para minar a posição dos EUA na questão estratégica número um do governo Obama; não se trata de divergências como as do algodão ou a crise em Honduras, que podem ser tratadas em compartimento próprio, sem contaminar a relação.”

Na mesma linha, assessores legislativos manifestaram-se perplexos com o que um deles chamou de “a gratuidade” de certos gestos do Brasil, como o desprezo com que Lula referiu-se, em entrevista ao jornal espanhol El País publicada na véspera da cúpula, ao acordo de redução do arsenal de armas atômicas alcançado entre os EUA e a Rússia - o primeiro do gênero em duas décadas.

Ninguém entende tampouco em Washington a motivação do Brasil para assumir o papel de padrinho global do regime do iraniano na questão nuclear ou consegue vislumbrar o interesse brasileiro atendido por essa estratégia. “O Brasil entrou num jogo de altíssimo risco, no qual não tem fichas nem assento à mesa e suas chances de influir no desfecho são inexistentes”, disse uma fonte do governo. “Todos reconhecem o talento político de Lula, mas esse caso exige um milagre.”

O milagre provavelmente renderia o Prêmio Nobel da Paz a Lula em dezembro. Há quem acredite que esta seja a motivação do líder brasileiro. O pesadelo, considerado muito mais provável, pode começar no decorrer dos próximos 30 dias. Nesse período, Washington intensificará as negociações já iniciadas com os demais membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU com vistas à adoção de novas sanções para forçar Teerã a negociar.

Reconsideração. Paralelamente, estará ocorrendo em Nova York a conferência quinquenal de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Finalmente, dia 16 , Lula chegará a Teerã para retribuir a visita que lhe fez em novembro o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. A esperança nos círculos oficiais em Washington é que Lula reconsidere a visita a Teerã e some o Brasil ao crescente consenso em favor de mais pressão sobre o Irã, que conta agora com a participação da China e da Rússia. Preocupados em não dar pretexto para Brasília passar a impressão de que sua posição em relação ao Irã contaria com o respaldo da Casa Branca, como ocorreu após a visita do líder iraniano ao Brasil, funcionários do governo dos EUA desestimularam uma solicitação de encontro entre Lula e Obama. Na rápida conversa que acabou ocorrendo - durante uma breve reunião entre Obama e o premiê da Turquia, Recep Erdogan -, houve tempo apenas para Lula ouvir o rechaço de Obama ao seu pedido de mais tempo a uma solução negociada da questão nuclear com Teerã.

O quadro adverso que agora se desenha na relação bilateral era uma hipótese na cabeça do embaixador americano em Brasília, Thomas Shannon, nos dias que antecederam sua partida de Washington, em fevereiro. “Os esforços das diplomacias do EUA, do Brasil e de outros países em relação ao programa nuclear do Irã serão julgadas não pelos processos usados, mas pelo resultado”, disse Shannon na época. O resultado que pode desarmar a crise requer, obviamente, uma dramática volta atrás por parte do Irã, que não parece ser contemplada nos cálculos de Ahmadinejad.

Os danos, no entanto, começam a aparecer. O pouco caso de Lula ao acordo sobre desarmamento entre os EUA e a Rússia custará a antipatia ao Brasil do senador Richard Lugar, republicano de Indiana e um dos defensores do tratado no Congresso, que era, até recentemente, um político empenhado em ampliar a cooperação entre os dois países, principalmente na área de energia renovável.

A declaração que o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, fez em Teerã sobre a disposição do Brasil cooperar com o Irã na produção e fornecimento de biocombustíveis foi instantaneamente reproduzida por boletins eletrônicos e blogs voltados para a indústria do etanol de milho nos estados do Meio-Oeste e, com toda probabilidade, virará munição para a defesa dos subsídios ao setor e ataques contra o etanol brasileiro.

Há, por fim, o momento escolhido para a visita da missão comercial brasileira a Teerã, ou seja, durante cúpula convocada pelo presidente americano. Ele foi recebido como uma provocação por setores do Executivo e do Legislativo - uma provocação desnecessária que deve ficar sem resposta, para sublinhar a disposição do governo Obama em relação ao Brasil nesses meses finais do governo Lula.

(*) É jornalista e analista ao Woodrow Wilson International Center For Scholars, em Washington