Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
domingo, 10 de dezembro de 2006
655) Pequeno balanço das postagens: furtivas visitas
Este blog alcança, no momento em que escrevo (14hs do dia 9/12/2006), a marca de 24.821 hits, o que dá a base de partida para os cálculos relativos às visitas recebidas (ou hits).
Obviamente, deve-se descontar meus próprios hits de verificação, que não sei se são computados ou não pelo sistema (preferia que não fossem, mas não sei dizer, e agradeceria se alguém mais versado do que eu nos blogs do Google pudesse me informar se as "visitas" do proprietário são computadas como quaisquer outras visitas externas, ou de terceiros).
De junho até aqui diminuiu muito meu ritmo de novas inserções, tanto por causa da preparação e lanamento de meu mais recente livro (O Estudo das Relações internacionais do Brasil), como em virtude do trabalho profissional e acadêmico.
Considerando-se a passagem de mais ou menos 143 dias desde sua inauguração, poder-se-ia afirmar que o Blog recebeu cerca de 110 visitas por dia (24.821 menos 9.133, igual a 15.688, dividido por 143).
Considerando-se que mesmo computados meus próprios hits, que raramente foram superiores a 3 ou 4 por semana, o volume total alcança tal cifra, pode-se dizer que mais de cem pessoas por dia acessaram o meu Blog.
Tenho notícias de poucos visitantes, e muito poucos comentários a respeito dos posts, o que enquadra a maior parte dos visitadores na categoria dos anônimos, dos desconhecidos, dos interessados furtivos.
Qualquer que seja a hipótese mais provável, trata-se de um público interessado, o que certamente aumenta minhas responsabilidades em termos de informação fiável, atualizada, interessante e diferente.
Boa sorte, a mim mesmo, no caminho ulterior...
654) Sobre colegas, livros e leituras...
Paulo Roberto de Almeida
Como sabem todos os que me conhecem pessoalmente, ou que pelo menos acompanham os meus escritos – e eles são muitos, exageradamente numerosos, confesso –, eu mantenho uma dupla atividade, duas carreiras, quase, que não necessariamente se confundem (mas que podem se completar ou, por vezes, se “atrapalhar” mutuamente): sou diplomata, no plano profissional, e, ao lado disso, exerço lides acadêmicas, em caráter complementar e acessório. Em ambas atividades, tenho por hábito sintetizar minhas leituras, fazer pesquisas, buscar informações, refletir sobre o que leio ou assisto em encontros e reuniões de que participo e, depois, na labuta solitária das noites de computador, tento colocar meus resumos, resenhas, notas e elaborações no papel (ou melhor, em arquivos eletrônicos, como costuma ser mais freqüente hoje em dia).
Dessa múltipla atividade de leitor, observador, sintetizador e escrevinhador resultam, como seria de se esperar, artigos, notas, resenhas de livros, ensaios mais ou menos alentados e, de vez em quando, algum livro destinado ao público universitário. Entendo que essa produção possa ser útil a todos aqueles que estudam ou trabalham os mesmos temas que eu, ainda que seja para que alguns possam oferecer contestação e interpretações divergentes sobre esses temas. Eles costumam ser os de economia internacional e brasileira, desenvolvimento econômico comparado, problemas de integração, relações internacionais, em especial na vertente econômica, história e atualidade diplomática, com maior ênfase na política externa brasileira, e outros campos afins.
Prezo muito o debate intelectual, o confronto de idéias, o exame sério e responsável de argumentos bem informados e embasados empiricamente em todos esses campos citados, com vistas ao enriquecimento de minhas próprias reflexões, ao esclarecimento daqueles mais jovens, à busca, enfim, das melhores soluções possíveis aos problemas de desenvolvimento do Brasil e de outros países em condições similares (que não são, obviamente, as do melhor desenvolvimento humano possível). Entendo que o debate de idéias contribui para a elevação dos argumentos e para a maior racionalidade dessas soluções, inclusive como forma de enfocar questões objetivas vinculadas às dificuldades de desenvolvimento da maior parte dos países de baixo IDH. Não é preciso dizer que lamento muito que no Brasil se pratique tão pouco, e por vezes de forma tão canhestra, o debate de idéias, se é que ele existe, de verdade.
Pois bem, a propósito do quê, exatamente, estou escrevendo estas notas, um pouco egocêntricas, é verdade, em torno dessas minhas características de leitor e de escrevinhador?
Confesso que me senti motivado a fazer estas novas reflexões em vista dos comentários indiretos de um colega – que não revelarei agora se ele, ou ela, é da carreira diplomática ou da academia – que pretendeu fazer troça comigo nesta semana que se passou (4 a 8 de dezembro de 2006). Sem se referir ao meu nome, mas deixando claro sobre quem falava de modo irônico, este distinto colega mencionou que havia “um colega que escreveu muitos livros, que eu não li nenhum”. Não estava presente à cena – e creio que ele não teria feito esse tipo de comentário desairoso em minha presença, mas é possível que sim – e não sei descrever o que se passou em seguida, mas imagino que todos riram, alguns zombeteiramente, outros com sorriso amarelo, para satisfação e deleite do autor da frase, que pretendia, obviamente, ser ferino.
O que poderia ser dito de tal comentário? Em primeiro lugar, que de modo algum ele me diminui. Creio mesmo que o mesmo tipo de sentimento deva ser partilhado por todos aqueles que o ouviram, pois eu não entenderia pessoas normais cultivando o dom da ignorância, ou do desconhecimento voluntário e deliberado. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma típica frase de um despeitado, dessas que pertencem à família do “não li e não gostei”. Ela tem a intenção de demonstrar que o seu autor não atribui nenhuma importância aos escritos de um colega, mas que ele não é néscio ao ponto de ignorar os seus, os meus, escritos (pois do contrário nem saberia que esse colega é autor de “muitos livros”).
Não sendo néscio, o autor da frase apenas quer declarar, de público, que é um oponente ideológico – no sentido de detentor de outras idéias – dos argumentos do autor desses “muitos livros”. Algo como: “não li nenhum porque não concordo com as idéias do autor”. É seu direito, claro, mas ele seria mais claro se dissesse em que, e por que, não concorda com essas idéias, sob risco de ficar realmente aparentado ao grupo daqueles que não lêem, mas que não gostam do que não leram. Contraditório, não é mesmo? Patético, aliás.
Em segundo lugar, pode-se dizer que o colega em questão pratica a singular e bizarra arte da ignorância, e não se peja de o declarar de maneira aberta e zombeteira. Surpreende-me, assim, que essa arte encontre adeptos entre membros desta nobre profissão, qualquer que seja ela. O que se deveria presumir é que pessoas engajadas nesse tipo de atividade – acadêmica ou diplomática, pouco importa – cultivem o hábito da leitura e da reflexão pausada, antes de emitir qualquer conceito que possa revelar, não conhecimento, mas de fato ignorância, e o que é pior, deliberada, declarada e voluntária. Patético, mais uma vez, não é mesmo?
Não creio que o colega em questão – da academia ou da diplomacia, não importa aqui – pratique normalmente esse culto à ignorância, tal como demonstrado de maneira pública. Ao contrário. Ele deve ser daqueles que lêem regularmente, jornais, revistas e até mesmo livros, mas que selecionam cuidadosamente aquilo que lêem. No seu rol de leituras só devem entrar aqueles materiais que presumivelmente estejam em pleno acordo com suas próprias idéias. Ou se não for assim, ele pode até, de forma condescendente, se dignar a ler os escritos de algum oponente ideólogico para depois castigá-lo de forma apropriada, através de escritos outros ou declarações públicas que tenham algum embasamento melhor do que o argumento do “não li e não gostei”.
Não me consta, porém, que o colega em questão seja um autor muito prolífico. Da sua produção própria descobri pouca coisa. Seu nome não figura no Google Scholar, que parece ser o padrão da produção acadêmica “citável” (apenas a título de comparação, sob o meu nome, por exemplo, existiam mais de uma centena de entradas em 9.12.2006, mas eu não pretendo humilhar esse meu colega com esse tipo de comparação descabida). No Google normal, aparecem muitas entradas sob o seu nome, mas elas se referem, no mais da vezes, a notícias de imprensa ou a citações indiretas, a propósito de atividades profissionais. Da sua bibliografia própria, conheço uma tese publicada e dois ou três artigos em revistas da área. Pas mal, diriam alguns. Mas, parece que alguns desses artigos foram feitos em colaboração com outros colegas, alguns subordinados, e fica difícil separar agora o que realmente é de Cesar. Mais passons.
Entendo que o colega em questão seja uma pessoa bastante ocupada e que ele certamente teria publicado mais, se suas muitas atividades de caráter profissional não o tivessem impedido. Isso não constitui motivo, porém, para fazer comentários que se pretendem jocosos em relação a um colega, eu, que de resto nunca o confrontou, direta ou indiretamente, por escritos ou palavras, e talvez nem tivesse por que fazê-lo, em vista da pouca visibilidade – com minhas desculpas sinceras – de seus próprios escritos. Na verdade, entendo que provavelmente ele leu, sim, alguns dos meus escritos, e não gostou do que leu. Se não leu algum livro meu – no que acredito que ele é absolutamente sincero –, ele deve, pelo menos, ter lido alguma entrevista minha, sobre algum problema qualquer de relações internacionais, e não deve ter gostado nada do que leu.
Concedo-lhe o direito de se considerar meu opositor ideológico e, se ele aceitasse, eu até o convidaria para um entrevero de plumas, uma espécie de combate de idéias, sobre os temas que ele julga estarem em contradição com o que ele mesmo pensa. Aliás, isso é tudo o que peço dos que não concordam com as minhas idéias: que eles exponham claramente os seus argumentos e que possamos, na saudável exposição e confrontação de idéias, conceitos, fatos e opiniões, chegar a alguma posição comum que possa contribuir para a solução dos muitos problemas que devem preocupar a ambos, como brasileiros que somos e engajados na melhoria intelectual e material de nosso país e dos seus cidadãos desfavorecidos.
Não creio, contudo, que ele venha a fazer isto. Uma pessoa com tal postura moral – isto é, que se permite fazer troça contra um suposto “inimigo intelectual”, ausente do local, aliás – não costuma normalmente se expor ao debate de idéias. Um colega de tal estatura moral costuma fazer isso mesmo que ele fez: fazer troça dos que lhe parecem arrogantes, vaidosos ou exagerados (sim, pois o fato de escrever “muitos livros” deve constituir algum defeito de caráter, que não consigo perceber exatamente qual seja). Ao ostentar essa opinião de maneira aberta, o colega em questão pretende, de fato, diminuir o colega que sou eu, que mesmo tendo escrito “muitos livros” não merece que eles sejam lidos, sobretudo por ele mesmo. É seu direito, certamente.
Lamento, não por mim, mas pelo mau exemplo dado aos colegas mais jovens, que espero não sintam obrigados a seguir esse meu colega em seu culto à ignorância.
Não sei por que, mas me veio agora à mente aquela famosa frase de um general fascista, franquista mais bem dito, Millan Astray, que respondeu assim a um famoso intelectual espanhol, Miguel de Unamuno, que tentava defender a Universidade de Salamanca das agruras da guerra civil: “Viva la muerte. Abajo la inteligencia.” Não quero exagerar, mas creio que a frase ferina do meu colega pertence a um ramo distante da mesma família. Esperemos que ela não se dissemine em seu meio.
PS.: Como estou colocando esta nota em um dos meus blogs, convido este meu colega, se ele desejar, é claro, a se pronunciar a respeito – em caráter anônimo, obviamente – na seção de comentários que está democraticamente à disposição de amigos e inimigos de minha produção intelectual. Não precisa sequer fazer comentários muito elaborados ou argumentos específicos. Pode xingar à vontade. Eu entenderei...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de dezembro de 2006
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
No blog Diplomatizzando, número 654
sábado, 9 de dezembro de 2006
653) Concurso do IRBr: Programa e bibliografia
PORTUGUÊS (Segunda Fase):
1 Língua Portuguesa: modalidade culta usada contemporaneamente no Brasil.
1.1 Sistema gráfico: ortografia, acentuação e pontuação; legibilidade. 1.2 Morfossintaxe. 1.3 Semântica. 1.4 Vocabulário.
2 Leitura e produção de textos.
2.1 Compreensão, interpretação e análise crítica de textos em língua portuguesa. 2.2 Conhecimentos de Lingüística, Literatura e Estilística: funções da linguagem; níveis de
linguagem; variação lingüística; gêneros e estilos textuais; textos literários e não-literários;
denotação e conotação; figuras de linguagem; estrutura textual. 2.3 Redação de textos dissertativos dotados de fundamentação conceitual e factual, consistência argumentativa, progressão temática e referencial, coerência, objetividade, precisão, clareza, concisão, coesão textual e correção gramatical. 2.3.1 Defeitos de conteúdo: descontextualização, generalização, simplismo, obviedade, paráfrase, cópia, tautologia, contradição. 2.3.2 Vícios de linguagem e estilo: ruptura de registro lingüístico, coloquialismo, barbarismo, anacronismo, rebuscamento, redundância e linguagem estereotipada.
Bibliografia obrigatória:
ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. ---. Papéis Avulsos.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil.
PRADO Jr., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. ---. Memórias do Cárcere.
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil.
HISTÓRIA DO BRASIL (Terceira Fase):
1 O período colonial.
A Configuração Territorial da América Portuguesa. O Tratado de Madri e Alexandre de Gusmão.
2 O processo de independência.
Movimentos emancipacionistas. A situação política e econômica européia. O Brasil sede do Estado monárquico português. A influência das idéias liberais e sua recepção no Brasil. A política externa. O Constitucionalismo português e a Independência do Brasil.
3 O Primeiro Reinado (1822-1831).
A Constituição de 1824. Quadro político interno. Política exterior do Primeiro Reinado.
4 A Regência (1831-1840).
Centralização versus Descentralização: reformas institucionais. (o Ato Adicional de 1834) e revoltas provinciais. A Dimensão Externa.
5 O Segundo Reinado (1840-1889).
O Estado centralizado; mudanças institucionais; os partidos políticos e o sistema eleitoral; a questão da unidade territorial. Política externa: as relações com a Europa e Estados Unidos; questões com a Inglaterra; a Guerra do Paraguai. A questão da escravidão. Crise do Estado Monárquico. As questões religiosa, militar e abolicionista. Sociedade e Cultura: população, estrutura social, vida acadêmica, científica e literária. Economia: a agroexportação; a expansão econômica e o trabalho assalariado; as políticas econômico-financeiras; a política alfandegária e suas conseqüências.
6 A Primeira República (1889-1930).
A proclamação da República e os governos militares. A Constituição de 1891. O regime oligárquico: a “política dos estados”; coronelismo; sistema eleitoral; sistema partidário; a hegemonia de São Paulo e Minas Gerais. A economia agro-exportadora. A crise dos anos 1920: tenentismo e revoltas. A Revolução de 1930. A política externa: a obra de Rio Branco; o panamericanismo; a II Conferência de Paz da Haia (1907); o Brasil e a Grande Guerra de 1914; o Brasil na Liga das Nações. Sociedade e cultura: o Modernismo.
7 A Era Vargas (1930-1945).
O processo político e o quadro econômico financeiro. A Constituição de 1934. A Constituição de 1937: o Estado Novo. O contexto internacional dos anos 1930 e 1940; o Brasil e a Segunda Guerra Mundial. Industrialização e legislação trabalhista. Sociedade e cultura.
8 A República Liberal (1945-1964).
A nova ordem política: os partidos políticos e eleições; a Constituição de 1946. Industrialização e urbanização. Política externa: relações com os Estados Unidos; a Guerra Fria; a “Operação Panamericana”; a “política externa independente”; o Brasil na ONU. Sociedade e cultura.
9 O Regime Militar (1964-1985).
A Constituição de 1967 e as modificações de 1969. O processo de transição política. A economia. Política externa: relações com os Estados Unidos; o “pragmatismo responsável”; relações com a América Latina, relações com a África; o Brasil na ONU. Sociedade e cultura.
10 O processo democrático a partir de 1985.
A Constituição de 1988. Partidos políticos e eleições. Transformações econômicas. Impactos da globalização. Mudanças sociais. Manifestações culturais. Evolução da política externa. Mercosul. O Brasil na ONU.
GEOGRAFIA (Terceira Fase):
1 Conceitos e teorias da Geografia.
1.1 Espaço, território, região, lugar e paisagem: conceituação. 1.2 Meio ambiente e desenvolvimento sustentável: conceituação. 1.3 As teorias geográficas da relação sociedade/natureza. 1.4 O campo geográfico: divisões e interfaces.
2 A formação territorial do Brasil.
2.1 Macrodivisão natural do espaço brasileiro (relevo, clima, vegetação, hidrografia). 2.2 Os grandes eixos de ocupação do território e a cronologia do processo de formação territorial. 2.3 A cartografia e a definição das fronteiras do Brasil. 2.4 A estruturação da rede de cidades no Brasil e os processos recentes de urbanização. 2.5 O processo de industrialização e as tendências atuais da localização das indústrias no Brasil. 2.6 O processo de modernização da agricultura no Brasil e suas tendências atuais. 2.7 Regionalização e divisão inter-regional do trabalho no Brasil.
3 O Brasil no contexto geopolítico mundial.
3.1 O processo de mundialização da economia e a divisão internacional do trabalho: globalização e periferia na atualidade. 3.2 Herança colonial, condição periférica e industrialização tardia: a América Latina. 3.3 A globalização e a América do Sul na nova ordem política internacional. 3.4 A questão ambiental no Brasil e os desafios do desenvolvimento sustentável. 3.5 Os ecossistemas brasileiros e as principais causas de sua degradação. 3.6 Perspectivas de integração nas bacias do rio da Prata e do rio Amazonas. 3.7 Os fluxos e redes transnacionais e o território brasileiro.
4 Temas de Geografia contemporânea.
4.1 Soberania, identidade nacional e multiculturalismo. 4.2 Geografia da População: migrações e direitos humanos. 4.3 Degradação ambiental e gestão de recursos naturais. 4.4 Desigualdades sociais e padrões de consumo no mundo atual. 4.5 Conflitos geopolíticos contemporâneos.
POLÍTICA INTERNACIONAL (Terceira Fase):
1. Relações internacionais: conceitos básicos, atores, processos, instituições e principais paradigmas teóricos.
2. A política externa brasileira: evolução desde 1945, principais vertentes e linhas de ação.
3. O Brasil e a América do Sul. Mercosul. 4. A política externa argentina. A Argentina e o Brasil.
5. A política externa norte-americana e relações com o Brasil.
6. Relações do Brasil com os demais países do hemisfério.
7. Política externa francesa e relações com o Brasil.
8. Política externa inglesa e relações com o Brasil.
9. Política externa alemã e relações com o Brasil.
10. A União Européia e o Brasil.
11. Política externa russa e relações com o Brasil
12. A África e o Brasil.
13. A política externa da China, da Índia e do Japão; relações com o Brasil.
14. Oriente Médio: a questão palestina; Iraque; Irã.
15. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
16. O Brasil e o projeto de área de livre comércio das Américas (ALCA).
17. A agenda internacional e o Brasil:
17.1 Desenvolvimento; 17.2 Pobreza e ações de combate à fome; 17.3 Meio ambiente; 17.4 Direitos Humanos; 17.5 Comércio internacional e Organização Mundial do Comércio (OMC); 17.6 Sistema financeiro internacional; 17.7 Desarmamento e não-proliferação; 17.8 Terrorismo; 17.9 Narcotráfico; 17.10 A reforma das Nações Unidas.
NOÇÕES DE DIREITO E DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO (Terceira Fase):
I– Noções de direito e ordenamento jurídico brasileiro.
1 Normas jurídicas. Características básicas. Hierarquia.
2 Constituição: conceito, classificações, primado da Constituição, controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos.
3 Fatos e atos jurídicos: elementos, classificação e vícios do ato e do negócio jurídico.
Personalidade jurídica no direito brasileiro.
4 Estado: características, elementos, soberania, formas de Estado, confederação, república e monarquia, sistemas de governo (presidencialista e parlamentarista), estado democrático de direito.
5 Organização dos poderes no direito brasileiro.
6 Processo legislativo brasileiro.
7 Princípios, direitos e garantias fundamentais
da Constituição Federal de 1988 (CF/88).
8 Noções de organização do Estado na CF/88: competências da União, dos Estados-membros e dos municípios; características do Distrito Federal.
9 Atividade administrativa do Estado brasileiro: princípios constitucionais da administração pública e dos servidores públicos, controle de legalidade dos atos da Administração.
10 Responsabilidade civil do Estado no direito brasileiro.
II – Direito internacional público.
1 Caráter jurídico do direito internacional público (DIP): fundamento de validade da norma jurídica internacional; DIP e direito interno; DIP e direito internacional privado (Lei de Introdução ao Código Civil).
2 Fontes do DIP: Estatuto da Corte Internacional de Justiça (artigo 38); atos unilaterais do Estado; decisões de organizações internacionais; normas imperativas (jus cogens).
3 Sujeitos do DIP: Estados
[conceito; requisitos; território; população (nacionalidade, condição jurídica do estrangeiro, deportação, expulsão e extradição); governo e capacidade de entrar em relações com os demais Estados; surgimento e reconhecimento (de Estado e de governo); sucessão; responsabilidade internacional; jurisdição e imunidade de jurisdição; diplomatas e cônsules: privilégios e imunidades]; organizações internacionais (definição, elementos constitutivos, classificação, personalidade jurídica), Organização das Nações Unidas (ONU); Santa Sé e Estado da Cidade do Vaticano; Indivíduo. 4 Solução pacífica de controvérsias internacionais (artigo 33 da Carta da ONU): meios diplomáticos, políticos e jurisdicionais (arbitragem e tribunais internacionais).
5 Direito internacional dos direitos humanos: proteção (âmbito internacional e regional); tribunais internacionais; direito internacional humanitário; direito do refugiado.
6 Direito da integração: noções gerais;
MERCOSUL e União Européia (gênese, estrutura institucional, solução de controvérsias).
7 Direito do comércio internacional: conhecimentos elementares;
Organização Mundial do Comércio (gênese, estrutura institucional, solução de controvérsias). 8 Cooperação jurídica internacional em matéria penal.
NOÇÕES DE ECONOMIA (Terceira Fase):
1 Conceitos básicos.
1.1 O objeto da Economia: escassez e usos alternativos; bens econômicos; sistema de preços e alocação de recursos. 1.2 Noções sobre a evolução da análise econômica: pensamento clássico e
marxista; a escola neoclássica; Keynes; desenvolvimentos pós-keynesianos. 1.3 Medida da
atividade econômica: produto e renda; contas nacionais: os grandes agregados e sua estimação; valores nominais e valores reais; índices de preços. 1.4 Noções de Microeconomia: determinantes da procura e da oferta; elasticidades; o equilíbrio de mercado; concorrência perfeita, monopólio e outras estruturas de mercado. 1.5 Moeda e sistema bancário: oferta e procura de moeda; Banco Central e política monetária; inflação. 1.6 Noções de Economia Internacional: taxas de câmbio e sua determinação; o balanço de pagamentos; a noção de vantagens comparativas e vantagens competitivas. Movimentos internacionais de capitais. Taxa de juros interna e externa. Integração econômica, comércio mundial e acordos regionais.
2 Formação da Economia Brasileira.
2.1 A economia brasileira no período colonial: a economia açucareira do Nordeste; auge e declínio da mineração. 2.2 A economia brasileira no século XIX: expansão da lavoura cafeeira;
transformações no final do período: abolição do escravismo, início do desenvolvimento industrial. 2.3 A economia brasileira na primeira metade do século XX: as duas guerras mundiais; a depressão dos anos trinta e seus reflexos; o processo de industrialização: fases,
características. 2.4 A economia brasileira na segunda metade do século XX: desenvolvimentismo e planejamento econômico; endividamento público e processo inflacionário; choques externos e planos de estabilização; opções de política econômica; mercado de trabalho; ciência, tecnologia e inovação; comércio exterior e integração econômica.
(Programas completos e outras informações, ver no próprio edital, citado no post abaixo)
sexta-feira, 8 de dezembro de 2006
652) Futuros diplomatas, preparem suas canetas...
Neste link: http://www.irbr.mre.gov.br/edital_CACD_2007.pdf
Agora, não dá mais para ficar enrolando. Quem precisa estudar, pode esquecer festejos de fim de ano, bebidas, diversão, sonecas e tudo o mais.
Não há tempo a perder: agora é só livro e internet...
Boa sorte a todos os candidatos...
651) Onde tem pensão, não precisa lutar pelo pão...
Cafeicultores do Espírito Santo não estão conseguindo mão-de-obra para a colheita por causa do Bolsa-Família
A Gazeta - ES, 5/12/2006
Preocupações crescentes
Por Uchôa de Mendonça
Os produtores de café do Espírito Santo estão passando por um momento de dificuldades: a mão-de-obra para a colheita. Antes, abundante, oriunda de vários pontos, ela surgia nas ocasiões propícias, na busca daquele dinheiro certo. Hoje, com o advento do Bolsa-Família, a situação tomou um rumo surpreendente, e os produtores rurais estão enfrentando um problema que nunca imaginaram.
Com a pressão do Ministério do Trabalho e Emprego, para que o empregador assine a carteira de trabalho do chamado bóia-fria, a surpresa veio com a recusa do trabalhador em entregar seu documento, que, se assinado for, impedirá que ele receba o Bolsa-Família, que beneficia quem está desempregado...
O mesmo está acontecendo com o produtor de cana, que não está encontrando, no momento que mais precisa, aquela mão-de-obra sempre disponível, obrigando-o a ingressar no campo da mecanização, que, entretanto, não pode atender a todos os produtores, mormente os que possuem plantações nas áreas montanhosas.
A respeito do Bolsa-Família tivemos recentemente o pronunciamento do presidente da Comissão Pastoral para o Serviço da Caridade, Justiça e Paz, dom Aldo Pagotto, que fez a seguinte observação: "É só uma ajuda pessoal e familiar. É verdade que 11 milhões de famílias recebem o Bolsa-Família no Nordeste e no Norte, mas isso levou a uma acomodação, a um empanzinamento. Não se busca mais, parece que não há visão do crescimento, desenvolvimento e inserção".
Na visão de dom Aldo a política de gestão do "professor" Lula tem desencadeado o que chamou de "favelização rural", devido a essa ausência de crédito e assistência técnica. "O povo vai desistindo de plantar", defendendo ele que o presidente ouça mais o povo.
A reforma agrária brasileira é uma tragédia, está promovendo a favelização do meio rural, onde as famílias, sob o comando do MST, se amontoam à beira das estradas como um espécie de propaganda contra o desenvolvimento nacional. Onde tem uma fazenda organizada, um campo experimental, principalmente de grupo estrangeiro, promovem invasões, com o objetivo de destruir tudo que encontram pela frente.
Estamos caminhando para uma agitação social sem precedentes na história nacional. Não existe dinheiro, não há mecanismo de salvação para essa gente despreparada, que precisa ser sustentada eternamente, de cesta básica, porque não produz nada, gasta tudo que recebe com bebidas e até mesmo festas, com grande irresponsabilidade, para satisfação de uma liderança que se mobiliza exatamente pela destruição dos sentimentos de desenvolvimento nacional.
A CNBB, por meio de suas mais expressivas lideranças, como dom Aldo Pagotto, Geraldo Magella e outros, que criticam a política social de Lula, lastimam esse processo de negociação de cargos públicos em troca de apoio político.
Não vai demorar muito para ocorrer uma grande tragédia nacional, no campo das insatisfações sociais, pela irresponsabilidade governamental.
Gutman Uchôa de Mendonça escreve às terças e aos sábados.e-mail: fecomes.vix@zaz.com.br
quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
650) How the US distorts its self-image, by Robert Kagan
By Robert Kagan
Financial Times, December 5 2006
It is astonishing how little Americans understand their own nation. Recently, the president of the Council on Foreign Relations, a man long on intellect and government experience, opined that the Iraq war has generated so much controversy because it is such an aberration: “The emphasis on promotion of democracy, the emphasis on regime change, the war of choice in Iraq – all of these are departures from the traditional approach.”
Many Europeans would certainly like to believe that Iraq was the product of aberrant “neo-conservative” ideas about foreign policy and that a traditional America lies just around the corner. Many Americans would like to believe this, too. We prefer to see ourselves as a peace-loving, introspective lot, a nation born in innocence and historically never choosing war but compelled to war by others.
This self-image is at odds with reality, however. Americans have gone to war frequently in their history, rarely out of genuine necessity. Since the cold war, America has launched more military interventions than all other great powers combined. The interventions in Somalia, Haiti, Bosnia and Kosovo were wars of choice, waged for moral and humanitarian ends, not strategic or economic necessity, just as realist critics protested at the time. Even the first Gulf war in 1991 was a war of choice, fought not for oil but to defend the principles of a “new world order” in which aggression could not go unpunished. The US might have drawn the line at Saudi Arabia, as Colin Powell, then chairman of the Joint Chiefs of Staff, proposed.
The first US military intervention of the post-cold war era, the 1989 invasion of Panama, was a war for “regime change” and democracy. President George H. W. Bush sent 22,500 troops to oust Manuel Noriega and, as he declared, “to defend democracy” in a conflict “between Noriega and the people of Panama”. The conservative columnist George Will favoured this “act of hemispheric hygiene” even though American national interests, “narrowly construed”, did not justify war. That was an argument “against the narrow construing of national interests”.
Americans, in fact, have always defined their interests broadly to include the defence and promotion of the “universal” principles of liberalism and democracy enunciated in the Declaration of Independence. “The cause of America is the cause of all mankind,” Benjamin Franklin declared at the time of the American revolution, and as William Appleman Williams once commented, Americans believe their nation “has meaning . . . only as it realises natural right and reason throughout the universe”.
This is the real “traditional approach”: the conviction that American power and influence can and should serve the interests of humanity. It is what makes the US, in Bill Clinton’s words, the “indispensable nation”, or as Dean Acheson colourfully put it six decades ago, “the locomotive at the head of mankind”. Americans do pursue their selfish interests and ambitions, sometimes brutally, as other nations have throughout history. Nor are they innocent of hypocrisy, masking selfishness behind claims of virtue. But Americans have always had this unique spur to global involvement, an ideological righteousness that inclines them to meddle in the affairs of others, to seek change, to insist on imposing their avowed “universal principles” usually through peaceful pressures but sometimes through war.
This enduring tradition has led Americans into some disasters where they have done more harm than good, and into triumphs where they have done more good than harm. These days, this conviction is strangely called “neo-conservatism”, but there is nothing “neo” and certainly nothing conservative about it. US foreign policy has almost always been a liberal foreign policy. As Mr Will put it, the “messianic impulse” has been “a constant of America’s national character, and a component of American patriotism” from the beginning.
The other constant, however, has been a self-image at odds with this reality. This distorted self-image has its own noble origins, reflecting a perhaps laudable liberal discomfort with power and a sense of guilt at being perceived as a bully, even in a good cause. When things go badly, as in Iraq, the cry goes up in the land for a change. There is a yearning, even among the self-proclaimed realists, for a return to an imagined past innocence, to the mythical “traditional approach”, to a virtuous time that never existed, not even at the glorious birth of the republic.
This is escapism, not realism. True realism would recognise America for what it is, an ambitious, ideological, revolutionary nation with a belief in its own world-transforming powers and a historical record of enough success to sustain that belief.
Whether the US conducts itself successfully or stumbles in the coming years will depend on the wisdom and capacity of the statesmen and women the American people choose to shape and carry out their foreign policy. But the broad direction of that foreign policy will remain much as it has been for over two centuries. Anything else would be an aberration.
The writer is an author, most recently, of “Dangerous Nation,” a history of American foreign policy (Knopf)
Copyright The Financial Times Limited 2006
sábado, 2 de dezembro de 2006
649) Uma reflexao pessoal sobre as relacoes entre Estado e governo
Paulo Roberto de Almeida
As relações entre funcionários de carreira do Estado e os governos em vigor são sempre delicadas, uma vez que governos costumam solicitar adesões imediatas, em geral incondicionais, ao passo que Estados são entidades impessoais, aparentemente desprovidas de vontade própria, ainda que pautando-se por normas constitucionais mais ou menos permanentes. Os governos passam, o Estado fica, mas ele pode ser transformado pelo governo em vigor, se este último imprime uma ação de transformação estrutural das condições existentes ao início de seu mandato.
Funcionários de Estado devem ater-se, antes de mais nada, às normas constitucionais, tendo como diretrizes adicionais as leis gerais e os estatutos particulares que regem sua categoria ou profissão. Geralmente, mas nem sempre, os governos respeitam os estatutos próprios e os princípios que devem enquadrar as diferentes categorias de servidores do Estado, estabelecendo determinações que incidem mais sobre a conjuntura do que sobre a estrutura. Em alguns casos, governos pretendem não apenas transformar estruturalmente o Estado e a sociedade, mas também os regulamentos e as formas de atuação do Estado.
Desde que respaldada nas normas constitucionais em vigor e na vontade legítima da sociedade, tal como expressa pela via democrática das eleições, essa vontade transformista pode concorrer para a melhoria das condições de bem-estar da sociedade, pois se supõe que o governo encarna aquilo que em linguagem rousseauniana se chamaria “vontade geral”. A “vontade geral” é, contudo, algo tão difícil de ser definida quanto o chamado “interesse nacional”, suscetível de receber diferentes interpretações, tantas são as correntes políticas, os grupos sociais, os partidos em disputa pelo poder e outras configurações sociais que gravitam em torno do poder. Sim, antes de qualquer outra coisa, “vontade geral” e “interesse nacional” são basicamente definidos por quem detém o poder, não necessariamente em conclaves abertos ao conjunto da sociedade.
O moderno Estado democrático deveria ostentar um sistema de freios e contrapesos que impeça – ou pelo menos dificulte – sua manipulação por minorias partidárias que pretendem agir com base em “interesses peculiares” ou com base na “vontade particular” do grupo que ocasionalmente ocupa o governo. Tais são os papéis respectivos do parlamento e dos tribunais constitucionais, segundo o velho sistema do “equilíbrio de poderes”, ou segundo o moderno sistema – de inspiração anglo-saxã – dos checks and balances, que transformam toda vontade de alteração institucional em um delicado jogo de pressões e contra-pressões. Há que se atentar, também, para a necessária continuidade da ação do Estado, que poderia ficar comprometida caso a ação de um grupo detendo o poder temporariamente – isto é, exercendo o governo de forma legítima – busque alterar radicalmente políticas e orientações estabelecidas através de consensos anteriormente alcançados.
Pode-se dizer que as democracias modernas funcionam quase sempre segundo essa visão gradualista, qual seja, a de uma custosa negociação entre os grupos políticos representados no parlamento, seguida de uma lenta implementação das decisões alcançadas. A construção de consensos é tipica dos regimes parlamentaristas, baseados numa maioria mais ampla do corpo político e social, mas é menos típica nos regimes puramente presidencialistas, onde tendem a se desenvolver comportamentos cesaristas ou bonapartistas (isto é, com um apelo direto às massas). Neste caso, o carisma do líder político pode resultar num canal de comunicação direta deste com os eleitores, por cima e acima dos demais poderes, que encontram dificuldades para participar do processo decisório em bases rotineiras.
Tal tipo de situação também pode colocar desafios não convencionais aos funcionários de Estado, que podem ser chamados a implementar decisões que resultem, não de um processo gradual de consensus building, mas de uma decisão solitária do líder cesarista. Velhas normas e antigas tradições podem ser contestadas ou postas à prova nesse novo roteiro, o que coloca esses funcionários ante o dilema de aderir simplesmente à vontade do governo ou de buscar respaldo nas formas mais convencionais de atuação do Estado.
Não há uma resposta simples a esse dilema, pois ele implica em que o funcionário possa aferir se o processo decisório que conduziu a uma determinada tomada de decisão política está seguindo os canais institucionais consagrados ou se os novos procedimentos estão atropelando as normas e procedimentos do Estado. Em geral, a resposta é dada pela linha de menor resistência, que passa pela afirmação dos conhecidos princípios da hierarquia e da disciplina. Do funcionário de Estado se pede obediência aos ditames do governo, não necessariamente uma reflexão pessoal sobre os fundamentos da ação do governo. Esta última atitude é própria dos agentes políticos, não dos funcionários de carreira, aos quais se demanda obediência e aquiescências às ordens e determinações superiores, não uma contestação filosófica, ou prática, dessas determinações. A rigor, ao funcionário não se pede nem se requer reflexão própria, mas sim acatamento de decisão já tomada.
Quando o próprio funcionário é convertido em agente político, pode surgir algum conflito de consciência entre a antiga forma de procedimento coletivo – as burocracias estatais são sempre construções coletivas – e as novas condições de trabalho, que impõem adesão incontida e total ao poder do qual emana o seu novo cargo. Dele se espera, então, equilíbrio e ponderação na forma de conduzir sua ação.
Em que condições, nessas circunstâncias, pode o funcionário de Estado continuar a exibir independência de pensamento – e uma certa faculdade na propositura de novos cursos de ação – quando a autoridade legítima requer adesão pura e simples a decisões emanadas de uma fonte cesarista de poder? Não há respostas teóricas a esta questão, que exige uma reflexão de ordem essencialmente prática, em função das relações sociais, modos de atuação e poder de barganha respectivos dos agentes de Estado e de governo envolvidos num determinado processo decisório.
Minha própria ordem de prioridades tenderia a colocar esse processo decisório numa escala de preferências que parte da Nação, passa pelo Estado e, finalmente, desemboca no governo. Pragmaticamente, porém, sou também levado a reconhecer que os dois primeiros conceitos, os de Nação e Estado – assim como os de “vontade geral” e de “interesse nacional” –, são suficientemente vagos e arbitrários para abrigar todo tipo de postura em face de determinações governamentais. Em última instância tende a prevalecer o bom senso e uma certa capacidade de avaliação racional dos “custos de oportunidade” envolvidos em cada uma das decisões governamentais com as quais o funcionário de Estado pode ser confrontado.
Quero crer que a construção de um Estado “racional-legal” e a consolidação de uma democracia efetiva no Brasil já avançaram o suficiente como para permitir que funcionários de Estado – como o que aqui escreve – possam contribuir, de forma mais ou menos institucionalizada, para a tomada de decisões em sua esfera de atuação, independentemente de posturas mais ou menos marcadas pela vontade momentânea de alguma autoridade governamental. Ou estarei enganado?
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2 de dezembro de 2006
(pralmeida@mac.com; www.pralmeida.org)
648) L.I.V.R.O.
L.I.V.R.O.
Existe entre nós, muito utilizado, mas que vem perdendo prestígio por falta de propaganda dirigida, e comentários cultos, embora seja superior a qualquer outro meio de divulgação, educação e divertimento, um revolucionário conceito de tecnologia de informação.
Chama-se de Local de Informações Variadas, Reutilizáveis e Ordenadas – L.I.V.R.O.
L.I.V.R.O. que, em sua forma atual, vem sendo utilizado há mais de quinhentos anos, representa um avanço fantástico na tecnologia. Não tem fios, circuitos elétricos, nem pilhas. Não necessita ser conectado a nada, ligado a coisa alguma. É tão fácil de usar que qualquer criança pode operá-lo. Basta abri-lo!
Cada L.I.V.R.O. é formado por uma seqüência de folhas numeradas, feitas de papel (atualmente reciclável), que podem armazenar milhares, e até milhões, de informações. As páginas são unidas por um sistema chamado lombada, que as mantém permanentemente em seqüência correta. Com recurso do TPO – Tecnologia do Papel Opaco – os fabricantes de L.I.V.R.O.S podem usar as duas faces (páginas) da folha de papel. Isso possibilita duplicar a quantidade de dados inseridos e reduzir os custos à metade!
Especialistas dividem-se quanto aos projetos de expansão da inserção de dados em cada unidade. É que, para fazer L.I.V.R.O.S com mais informações, basta usar mais folhas. Isso porém os torna mais grossos e mais difíceis de ser transportados, atraindo críticas dos adeptos da portabilidade do sistema, visivelmente influenciados pela nanoestupidez.
Cada página do L.I.V.R.O. deve ser escaneada opticamente, e as informações transferidas diretamente para a CPU do usuário, no próprio cérebro, sem qualquer formatação especial. Lembramos apenas que, quanto maior e mais complexa a informação a ser absorvida, maior deverá ser a capacidade de processamento do usuário.
Vantagem imbatível do aparelho é que, quando em uso, um simples movimento de dedo permite acesso instantâneo à próxima página. E a leitura do L.I.V.R.O. pode ser retomada a qualquer momento, bastando abri-lo. Nunca apresenta "ERRO FATAL DE SENHA", nem precisa ser reinicializado. Só fica estragado ou até mesmo inutilizável quando atingido por líquido. Caso caia no mar, por exemplo. Acontecimento raríssimo, que só acontece em caso de naufrágio.
O comando adicional moderno chamado ÍNDICE REMISSIVO, muito ajudado em sua confecção pelos computadores (L.I.V.R.O. se utiliza de toda tecnologia adicional), permite acessar qualquer página instantaneamente e avançar ou retroceder na busca com muita facilidade. A maioria dos modelos à venda já vem com esse FOFO (softer) instalado.
Um acessório opcional, o marcador de páginas, permite também que você acesse o L.I.V.R.O. exatamente no local em que o deixou na última utilização, mesmo que ele esteja fechado. A compatibilidade dos marcadores de página é total, permitindo que funcionem em qualquer modelo ou tipo de L.I.V.R.O. sem necessidade de configuração. Todo L.I.V.R.O. suporta o uso simultâneo de vários marcadores de página, caso o usuário deseje manter selecionados múltiplos trechos ao mesmo tempo. A capacidade máxima para uso de marcadores coincide com a metade do número de páginas do L.I.V.R.O.
Pode-se ainda personalizar o conteúdo do L.I.V.R.O., por meio de anotações em suas margens. Para isso, deve-se utilizar um periférico de Linguagem Apagável Portátil de Intercomunicação Simplificada – L.A.P.I.S.
Elegante, durável e barato, L.I.V.R.O. vem sendo apontado como o instrumento de entretenimento e cultura do futuro, como já foi de todo o passado ocidental. São milhões de títulos e formas que anualmente programadores (editores) põem à disposição do público utilizando essa plataforma.
E, uma característica de suprema importância: L.I.V.R.O. não enguiça!
647) A matter of definition...
Não tenho nada contra as religiões, aliás, nem algo a favor.
Sou simplesmente indiferente, no plano pessoal.
Como sociólogo, apenas reconheço a tremenda importância das religiões, na vida das pessoas, no destino das sociedades em geral.
O mundo não existe sem religião, elas são importantes e necessárias, pois são elas que dão, à maior parte das pessoas, valores pelos quais viver.
No meu caso, tenho os meus valores e dispenso os das religiões, embora vários dos meus valores se confundam com os de várias religiões.
Mas trata-se de uma coincidência, não de uma imposição ou necessidade...
646) Bouvard e Pecouchet, American Style...
Ambrose Bierce's The Devil's Dictionary
Link: http://www.online-literature.com/bierce/devilsdictionary/
Acesso: 2 Dez 2006
PREFACE
The Devil's Dictionary was begun in a weekly paper in 1881, and was continued in a desultory way at long intervals until 1906. In that year a large part of it was published in covers with the title The Cynic's Word Book, a name which the author had not the power to reject or happiness to approve. To quote the publishers of the present work:
"This more reverent title had previously been forced upon him by the religious scruples of the last newspaper in which a part of the work had appeared, with the natural consequence that when it came out in covers the country already had been flooded by its imitators with a score of 'cynic' books -- The Cynic's This, The Cynic's That, and The Cynic's t'Other. Most of these books were merely stupid, though some of them added the distinction of silliness. Among them, they brought the word 'cynic' into disfavor so deep that any book bearing it was discredited in advance of publication."
Meantime, too, some of the enterprising humorists of the country had helped themselves to such parts of the work as served their needs, and many of its definitions, anecdotes, phrases and so forth, had become more or less current in popular speech. This explanation is made, not with any pride of priority in trifles, but in simple denial of possible charges of plagiarism, which is no trifle. In merely resuming his own the author hopes to be held guiltless by those to whom the work is addressed -- enlightened souls who prefer dry wines to sweet, sense to sentiment, wit to humor and clean English to slang.
A conspicuous, and it is hope not unpleasant, feature of the book is its abundant illustrative quotations from eminent poets, chief of whom is that learned and ingenius cleric, Father Gassalasca Jape, S.J., whose lines bear his initials. To Father Jape's kindly encouragement and assistance the author of the prose text is greatly indebted.
*
Related Links:
o The Devil's Dictionary Summary and Author Biography
http://www.online-literature.com/scripts/out.php?id=736
645) Stephen Jay Gould: uma pagina nao-oficial, muito rica
http://www.stephenjaygould.org/
Stephen Jay Gould (1941-2002) was among the best known and widely read scientists of the late 20th century. A paleontologist and educator at Harvard University, Gould made his largest contributions to science as the leading spokes-person for evolutionary theory. His monthly columns in Natural History magazine and his popular works on evolution have earned him numerous awards and one of the largest readerships in the popular-science genre — penning altogether over twenty successful books throughout his career.
For more than 30 years Gould served on the faculty at Harvard, where he was Alexander Agassiz Professor of Zoology, Professor of Geology, Biology, and the History of Science, as well as curator for Invertebrate Paleontology at the institution's Museum of Comparative Zoology. On this website you will find articles by Gould and his colleagues focusing on the finer points of his work, the nature of life's evolution, and the general ontogeny of evolutionary theory.
Tem tudo isto aqui:
Biography Bibliography Quotations Media Library Reviews Interviews People Reflections Books Links
Coloquei, só de curiosidade, a palavra "Brazil" no Search instrumento do site, e acabou resultando nisto:
Results from This Site: 1 - 10 of 16 total results for Brazil
A.C. Seward, "Darwin and Modern Science," 1909 - Chapter 15
... note-books and collections of W.J. Burchell, the great traveller in Africa (1810-15) and Brazil (1825-30). The most interesting of his records on this subject are brought together in the following paragraphs ...
http://www.stephenjaygould.org/library/modern-science/chapter15.html - 78k - 2005-11-17
Charles Darwin, "On the Origin Of Species," 1859 - Chapter 10
... seen in the wonderful collection of fossil bones made by MM. Lund and Clausen in the caves of Brazil. I was so much impressed with these facts that I strongly insisted, in 1839 and 1845, on this `law ...
http://www.stephenjaygould.org/library/on-the-origin/chapter10.html - 67k - 2005-11-17
A.C. Seward, "Darwin and Modern Science," 1909 - Chapter 3
... the beautiful blue of our little Lycaenidae to the magnificent azure of the large Morphinae of Brazil. In a great many cases, though not by any means in all, the male butterflies are "more beautiful" ...
http://www.stephenjaygould.org/library/modern-science/chapter03.html - 139k - 2005-11-17
A.C. Seward, "Darwin and Modern Science," 1909 - Chapter 17
... -line or a series of islands interrupted by shallow seas, just as one would expect if, and when, a Brazil-Ethiopian mass of land were breaking up. Lastly from Central America to the Mediterranean stretches ...
http://www.stephenjaygould.org/library/modern-science/chapter17.html - 56k - 2005-11-17
Charles Darwin, "Autobiography," 1902
... in the same cabin. We had several quarrels; for instance, early in the voyage at Bahia, in Brazil, he defended and praised slavery, which I abominated, and told me that he had just visited a great slave ...
http://www.stephenjaygould.org/library/darwin_autobiography.html - 139k - 2005-09-26
Robert Chambers, "Vestiges of the Natural History of Creation," Ch. 10, 1844
... least two other parts of the earth,—namely, the sub-Himalayan hills, near the Sutlej, and in Brazil, (both in the tertiary strata ;) the first being a large species of semnopithecus, and the second ...
http://www.stephenjaygould.org/library/vestiges/chapter10.html - 14k - 2005-09-26
A.C. Seward, "Darwin and Modern Science," 1909 - Chapter 7
... . That fertility is the more usual is shown by the excessive fertility of the hybrid population of Brazil. This, and the great variability of the distinguishing characters of the different races, as well ...
http://www.stephenjaygould.org/library/modern-science/chapter07.html - 74k - 2005-11-17
A.C. Seward, "Darwin and Modern Science," 1909 - Chapter 9
... ", "Archiv fur Religionswissenschaft", VIII. (1905), page 248.) The Borororos, an Indian tribe of Brazil, will have it that they are parrots of a gorgeous red plumage which live in their native forests ...
http://www.stephenjaygould.org/library/modern-science/chapter09.html - 58k - 2005-11-17
A.C. Seward, "Darwin and Modern Science," 1909 - Chapter 18
... by the discovery of these fossil bones, was doubtless deepened as, in his progress southward from Brazil to Patagonia, he found similar species of Edentate animals everywhere replacing one another among ...
http://www.stephenjaygould.org/library/modern-science/chapter18.html - 142k - 2005-11-17
A.C. Seward, "Darwin and Modern Science," 1909 - Chapter 20
... -fertilisation produces no result. This self-sterility is affected by climatic conditions: thus in Brazil Eschscholzia californica is absolutely sterile to the pollen of its own flowers; the descendants ...
http://www.stephenjaygould.org/library/modern-science/chapter20.html - 70k - 2005-11-17
Unofficial SJG Archive - People - Theodosius Dobzhansky (1900-1975)
... of fruit flies in the mountains of Arizona, New Mexico, California and even the rain forests of Brazil. Dobzhansky's intimate familiarity with the processes of variation and evolution in these fast-breeding ...
http://www.stephenjaygould.org/people/theodosius_dobzhansky.html - 9k - 2006-02-01
SJG Archive - People - William D. Hamilton - Interview
... groups there is male winglessness and in others, female winglessness. Frans Roes: You went to Brazil in 1975 to study the fig wasp. What did you discover? W. D. Hamilton: Actually, I went to study life ...
http://www.stephenjaygould.org/library/hamilton_interview.html - 13k - 2005-09-26
Charles Darwin, "On the Origin Of Species," 1859 - Chapter 11
... America a host of peculiar species belonging to European genera occur. On the highest mountains of Brazil, some few European genera were found by Gardner, which do not exist in the wide intervening hot ...
http://www.stephenjaygould.org/library/on-the-origin/chapter11.html - 73k - 2005-11-17
Charles Darwin, "On the Origin Of Species," 1859 - Chapter 12
... manner throughout the world. I well remember, when first collecting in the fresh waters of Brazil, feeling much surprise at the similarity of the fresh-water insects, shells, &c., and at the dissimilarity ...
http://www.stephenjaygould.org/library/on-the-origin/chapter12.html - 56k - 2005-11-17
Michael Shermer, "Glorious Contingency," 1999
... this the butterfly effect and by now the metaphor is well known: A butterfly flaps its wings in Brazil, producing a storm in Texas. The uncertainty, of our past and unpredictability of our future created ...
http://www.stephenjaygould.org/library/shermer_contingency.html - 17k - 2005-09-26
Unofficial SJG Archive - People - Alexander Agassiz
... assistant in zoology at the museum, taking charge of it in 1865 during his father's absence in Brazil. In 1865 he became engaged in coal mining in Pennsylvania, and during the following year in the copper ...
http://www.stephenjaygould.org/people/alexander_agassiz.html - 8k - 2005-09-26
Afinal de contas, sua cadeira era a "Louis Agassiz", um sabio de Harvard, amigo do imperador Pedro II e que aprendeu um pouco de paleontologia passeando pelo Brasil, em meados do seculo XIX.
Boas visitas e boas leituras a todos.
PS: Tenho um antigo artigo, publicado na revista "Ciencia e Cultura", da SBPC, analisando a obra de Gould. Aos interessados, basta pedir.
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Paulo Roberto de Almeida
644) Balanco de Pagamentos do Brasil: medias historicas
Balanço de Pagamentos – Fonte BCB
Base: De Janeiro de 2003 até Outubro de 2006
Balança Comercial
Série história de nossa balança comercial com base na média/ano foi como segue: 85/89 (superávit de US$ 13,5 bilhões = 4,57% do PIB); 90/94 (superávit de US$ 12,1 bilhões = 2,70% do PIB); 95/02 (déficit de US$ 1,1 bilhão = -0,16% do PIB). De janeiro de 2003 até outubro de 2006 (superávit de US$ 36,8 bilhões = 5,30% do PIB).
Necessidade de Financiamento do Balanço de Pagamentos
Série histórica de nossa necessidade de financiamento de balanço de pagamentos com base na média/ano foi como segue: 85/89 (US$ 13,4 bilhões = 4,56% do PIB); 90/94 (US$ 17,4 bilhões = 3,89% do PIB); 95/02 (US$ 50,9 bilhões = 7,86% do PIB). De janeiro de 2003 até outubro de 2006 (US$ 22,3 bilhões = 3,20% do PIB).
Investimentos Externos Líquidos (Diretos e Indiretos)
Série histórica dos investimentos externos líquidos (diretos e indiretos) com base na média/ano foi como segue: 85/89 (negativo de US$ 6,3 bilhões = -2,14% do PIB); 90/94 (positivo de US$ 7,0 bilhões = 1,57% do PIB); 95/02 (positivo de US$ 23,9 bilhões = 3,69% do PIB). De janeiro de 2003 até outubro de 2006 (positivo de US$ 0,4 bilhão = 0,06% do PIB).
Arquivos oficiais do governo estão disponíveis aos leitores.
Ricardo Bergamini
http://paginas.terra.com.br/noticias/ricardobergamini
643) Falcoes (e outras aves de rapina): atualizem sua contabilidade nuclear
Na era Bush, significa assegura a fiabilidade e eficácia dos vetores nucleares já disponíveis e, se necessário, produzir novas ferramentas, mais modernas e ainda mais eficientes.
Não se mencionam os custos, que devem andar pela casa das centenas de bilhões de dólares, em todas as vertentes da panóplia nuclear.
É um bocado de dinheiro, mas parece que é para a tranquilidade do Império...
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Paulo Roberto de Almeida
New Nuclear Weapons Program To Continue
By Walter Pincus
Washington Post, Saturday, December 2, 2006; A07
The Nuclear Weapons Council, made up of senior Defense Department and National Nuclear Security Administration officials, said yesterday that they plan to continue developing a new nuclear weapons program even though recent studies suggested that existing stockpiles are in better condition than had been thought.
The announcement comes just two days after the release of studies by the Los Alamos and Lawrence Livermore national laboratories showing that plutonium triggers in currently stockpiled weapons will remain reliable for 90 to 100 years.
A major reason for starting the new weapons program -- known as the Reliable Replacement Warhead (RRW) -- was the belief that highly radioactive plutonium would degrade so much within 45 years that it could affect the reliability of the weapons in the current stockpile, many of which were built in the late 1960s.
The Nuclear Weapons Council determined that competing designs submitted by both national labs could result in reliable warheads "without underground testing," a key requirement of the program. The council members are expected to choose one of the two designs in the next few weeks and to develop cost estimates. Moving to the next phase of warhead development will require the approval of Congress, which will be controlled by Democrats next year.
Some members of Congress have said the plutonium studies raised questions about the need for the RRW program. Rep. David L. Hobson (R-Ohio), considered the father of the RRW program, said yesterday that, based on the plutonium studies, "they should take a breath because there are lots of demand for money." He added: "Congress is not going to be as robust about this though there is a need to have some scientific work done."
Yesterday, Rep. John M. Spratt Jr. (D-S.C.), the incoming chairman of the House Budget Committee, said it may be time to review not only the RRW program but also the Bush administration's 2001 Nuclear Posture Review (NPR), which established the underlying need for nuclear weapons over the next 20 years.
Sen. Pete V. Domenici (R-N.M.) yesterday hailed the council decision to proceed with RRW, saying it could lead to "a weapon that is safer to store and defend, more reliable, and less costly to manufacture and maintain." Domenici, whose state is home to the Los Alamos laboratory, is currently chairman of the Senate Appropriations subcommittee that handles funds for the NNSA.
Robert W. Nelson, senior scientist at the Union of Concerned Scientists, said that based on the recently released plutonium studies, the submarine-launched warhead up for replacement under the RRW program, the W-76, has a minimum age for reliability of about 85 years. Production of the W-76, the warhead for the Trident I and Trident II sub-launched missiles, began in 1978 and ended in 1987, during which time about 3,000 were turned out. The Trident I can carry up to eight warheads, the Trident II up to 14.
The Bush NPR contemplated reducing deployed warheads, then totaling about 3,800, to a level of 1,700 to 2,200 by 2012. At the same time there would be a non-deployed stockpile of 2,000 to 3,000 more weapons and a capability to resume underground testing and production of new warheads within a reasonable time. The RRW program envisions the initial production of new warheads almost 20 years from now.
Meanwhile, an ongoing program to refurbish the nonnuclear components in currently stockpiled warheads and bombs will continue, giving them an estimated 20 to 30 years of additional reliability.
Administrator Linton F. Brooks of the National Nuclear Security Administration described the RRW program yesterday as providing "the tools we need to build on the president's vision of maintaining the smallest nuclear stockpile that is consistent with national security requirements."
Resumindo: não há nenhuma possibilidade de que o desarmamento nuclear se faça, any time soon...
642) Produtividade em energia: um relatorio importante
Productivity of growing global energy demand: A microeconomic perspective
McKinsey Global Institute
November 2006
Executive summary
To date, the global debate about energy has focused too narrowly on curbing demand. We argue that, rather than seeking to reduce end-user demand, and thereby the choice, comfort, convenience, and economic welfare desired by consumers, the best way to meet the challenge of growing global energy demand is to focus on energy productivity—how to use energy more productively—which reconciles both demand abatement and energy-efficiency.
According to McKinsey Global Institute (MGI) research, global energy demand will grow more quickly over the next 15 years than it has in the last 15. Demand will grow at a rate of 2.2 per cent per year in our base-case scenario, boosted by developing countries and consumer-driven segments of developed economies.
This acceleration in demand growth—particularly problematic amidst escalating world-wide concerns about the growing costs of energy, global dependence on volatile oil-producing regions, and harmful global climate change—will take place despite global energy productivity continuing to improve by 1.0 percent a year.
MGI’s in-depth case studies indicate that there are substantial and economically viable opportunities to boost energy productivity that have not been captured—an estimated 150 QBTUs (1), which could represent a 15 to 25 percent cut in the end-use energy demand by 2020. This would translate into a deceleration of global energy-demand growth to less than 1 percent a year, compared with the 2.2 percent anticipated in our base-case scenario—without impacting economic growth prospects or consumer well-being.
Unfortunately, market-distorting subsidies, information gaps, agency issues, and other market inefficiencies, are currently impeding improvements in energy productivity. Overall energy demand is not highly responsive, even under high energy-price scenarios. Consumers lack the information and capital they need to become more energy-productive, and tend to make comfort, safety, and convenience higher priorities than price. The small and fragmented nature of energy costs tends to deter businesses from seeking higher energy productivity.
In addition, a range of policies dampen price signals and reduce incentives for end-users to adopt viable energy-productive improvements. These include, for instance, fuel subsidies in many oil-exporting countries; lack of metering in Russian residential gas usage; and widespread energy subsidies to state-owned enterprise.
Shifting global energy demand from its current rapid growth trajectory will require the removal of existing policy distortions; improving transparency in the pricing and usage of energy; and the selective deployment of demand-side energy policies, such as standards. Policies will need to be targeted at and tailored to the various large end-user segments to encourage higher energy productivity; they will only be effective if they are predicated on a real understanding of the microeconomic dynamics of demand within specific end-use segments.
This report, “Productivity of Growing Energy Demand: A Microeconomic Perspective”, is the first of a two-stage series by MGI to introduce microeconomic analysis of end-use segments to the global-energy debate. Building on detailed global case-sector studies, it provides a useful context for discussing global energy demand and its complex dynamics. A further report, which we will publish in early 2007, will elaborate on our findings—particularly those at the sectoral
and fuel mix levels—and on their broader implications for the global economy.
(1) In view of a multitude of energy-demand definitions, we use Quadrillion British Thermal Units—QBTUs—as the base unit for all energy-demand segments in this document.
Aos interessados no estudo completo, recomendo seguir este link para cadastramento e download: Productivity of Growing Energy Demand: A Microeconomic Perspective (PDF - 2.04 MB).
Ou então me solicitar em particular, que eu posso enviar.
Complementação metodológica:
What is Energy Productivity?
Like labor or capital productivity, energy productivity measures the output and quality of goods and services generated with a given set of inputs. MGI measures it as the ratio of value added to energy inputs, which is the inverse of energy intensity of GDP, measured as a ratio of energy inputs to GDP.
Energy productivity is a useful tool with which to analyze the public-policy aims of demand abatement and energy-efficiency because it encapsulates both. By looking merely in terms of shrinking demand, there is a danger of denying opportunities to consumers—particularly those in developing economies who are an increasingly dominant force in global energy-demand growth. Rather than seeking to reduce end-user demand—and thus the level of comfort, convenience, and economic welfare demanded by consumers—there should be a focus on using the benefits of energy most productively.
The concept of energy productivity provides an overarching framework for understanding the evolving relationship between energy demand and economic growth. Energy-productivity improvements can come either from reducing the energy inputs required to produce the same level of energy services, or from increasing the quantity or quality of economic output. Within each of these, there are multiple components that can change over time.
The same level of energy services can be produced with fewer inputs if use is less intensive (e.g., smaller appliances); if technical efficiency improves (e.g., higher-mileage-car engines); or if fuel-mix shifts, say, from biomass to more efficient electricity. In turn, output can grow more quickly than demand for energy services because of sectoral shifts—say, from energy-intensive industrial sectors to services—or from an increasing share of growth taken by non-energy-intensive, high value-added activities within a sector (e.g., increasing share of investment banking versus retail banking).
By being explicit about the relative importance of each, energy productivity acts as a useful tool to enable us better to understand the nature and source of change and more effectively seek to improve growth and energy outcomes.
terça-feira, 28 de novembro de 2006
641) O assassino das palavras (sem nenhum orgulho)
Ou melhor, com minhas humildes desculpas.
Como todos sabem, com essa minha mania de escrever depressa, eu vou simplesmente por aí comendo letras, passo por cima de vogais, sigo trucidando consoantes, atropelo várias vírgulas (impunemente), elimino concordâncias, troco gêneros (que grave...), enfim, creio que sou um torturador das belas letras, um criminoso do papel, ou simplesmente um escritor distraido, o que de fato sou, pelo menos na maior parte do tempo (quando estou acordado, por exemplo).
Não há nada mais terrivel do que um assassino das palavras...
Por isso mesmo, acho que a poesia transcrita abaixo deve ter sido composta pensando em mim. Só pode ter sido isso...
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Paulo Roberto de Almeida
QUE FIZESTE DAS PALAVRAS?
Eugenio de Andrade - Porto
Que fizeste das palavras?
Que contas darás tu
dessas vogais
de um azul tão
apaziguado?
E das consoantes, que
lhes dirás,
ardendo entre o fulgor
das laranjas e o sol dos
cavalos?
Que lhes dirás, quando
te perguntarem pelas
minúsculas
sementes que te
confiaram?
sábado, 25 de novembro de 2006
640) Auto-entrevista (ao chegar numa certa idade...)
Paulo Roberto de Almeida
(www.pralmeida.org)
O objetivo desta entrevista é muito simples: colocar algumas questões sinceras a um personagem conhecido. Sua motivação é igualmente simples: a passagem do seu aniversário, não do seu seu, mas do seu dele, isto é do personagem. Considerando-se que, para mim, o personagem mais importante da minha vida sou eu mesmo – e não poderia ser de outra forma, do contrário não estaria aqui para controlar o gravador – a entrevista é comigo mesmo, o que, aliás, já estava implícito no título do trabalho, anulando assim qualquer efeito-surpresa.
Permito-me, portanto, aproveitar minha data natalícia – que eu não digo de quanto é, não por vergonha, mas porque isso não faz a menor diferença – para efetuar esta auto-entrevista com um personagem tão enrolado quanto eu (presumivelmente, vaidoso, também, pois do contrário a entrevista não existiria).
Antes, contudo, uma confissão e a promessa de pagamento de direitos autorais: tirei a idéia e a inspiração desta auto-entrevista do meu amigo Claudio Shikida, um economista promissor das Gerais, dedicado, como eu, às lides didáticas e acadêmicas (eu, a muitas outras mais, nas horas vagas e menos vagas), terrivelmente angustiado, como eu, com os des(a)tinos econômicos do Brasil, ele, contudo, bem mais jovem do que eu e com mais tempo, portanto, para corrigir as coisas erradas de que sempre nos arrependemos mais tarde, coisas que nos fizeram perder tempo, desviar o foco de atenção do trabalho principal (que alguém precisa me dizer qual seria), enfim, coisas que nos dão remorso depois, por termos calculado mal o custo-oportunidade do nosso raro (e caro) capital intelectual, deixando-o suportar as traças da preguiça e as trapaças da sorte. O importante, contudo, é ter paixão com aquilo e naquilo de que nos ocupamos, deixando-nos envolver (e absorver) pelos encargos do momento, mesmo os menos importantes...
Feito este prolegômeno, e sem mais delongas, vamos às conseqüências...
(Gravador ligado, ou melhor, computador ativo, bateria carregada...)
Então, Paulo Roberto, que balanço você faz da sua vida bem vivida?
Creio poder afirmar, sem qualquer sentimento de auto-indulgência, que consegui construir um itinerário de sucesso relativo em minha vida, tanto no plano pessoal, como no profissional ou acadêmico. Digo relativo porque ele poderia ter sido mais “temprano”, ou mais evidente, do ponto de vista do reconhecimento público e da distinção social. O que sou, finalmente, é um diplomata de carreira média, sem grandes brilhos, mas também sem fracassos aparentes, um intelectual socialmente pouco conhecido, mas reconhecido em certos meios, uma pessoa humana dotada de algumas boas qualidades, mas também de vários defeitos. Entre estes últimos situa-se minha introversão básica, que me faz preferir a companhia dos livros do que das pessoas, o trabalho solitário no computador, no lugar da socialização aberta, o descaso, talvez, com as preocupações dos demais, na medida em que me concentro demasiadamente nas minhas próprias preferências em termos de leituras, interesses sociais, obsessões intelectuais.
Tudo isso não é muito bom, mas, por outro lado, creio que tenho algumas boas qualidades, a primeira delas sendo uma preocupação primordial com a sorte dos menos afortunados, daqueles que, como eu, na infância, conheceram ou conhecem a pobreza e que lutam para encontrar uma saída dessa condição amplamente insatisfatória. Sinto que eu tive chances, obviamente à custa de muito esforço pessoal e familiar, mas pelo menos pude contar com uma escola de boa qualidade, oportunidades de enriquecimento pessoal que me fizeram superar a estreiteza social e intelectual de meu meio de origem e que me permitiram uma vida de satisfação pessoal, de realizações intelectuais, de certo conforto material. Sinto que as crianças de hoje, que se encontram na mesma situação na qual eu me encontrava cinco décadas atrás, não têm muitas chances de refazer esse itinerário de ascensão social e de realização profissional, e isso me angustia profundamente. Sinto que o Brasil atual joga na lata do lixo dezenas (talvez centenas) de milhares de crianças que não poderão contribuir – como acredito que eu mesmo o faça – para o engrandecimento da Nação e a melhoria do bem-estar da sociedade. Nisso também reside o meu fracasso, que é também o de toda uma geração: não fomos capazes de melhorar o País, não tanto, em todo caso, quanto o seu povo sofrido o merecia. Esse fracasso de minha geração, eu o sinto como um fracasso pessoal.
O que lhe deu mais satisfação, até agora, na sua vida? Fez o que deveria ter feito?
Não sei se tenho alguma grande obra da qual me orgulhar, no presente momento, mas o meu critério básico, de vida, é este aqui: procure construir um mundo e uma sociedade um pouco melhores do que aqueles que você encontrou ao chegar. Desse ponto de vista, talvez eu tenha contribuído para esse melhoramento parcial do nosso mundo e da nossa sociedade, não tanto enquanto diplomata, mas provavelmente enquanto mestre voluntário – o que eu não precisaria ser –, enquanto professor em tempo parcial, enquanto escritor em tempo integral, autor de alguns livros para-didáticos que podem melhorar o panorama do ensino especializado no Brasil. Através de meus muitos artigos, palestras e participação em seminários, com imensos sacrifícios pessoais e familiares – em grande medida também profissionais –, acredito que possa ter contribuído para o enriquecimento intelectual de alguns jovens que se interessaram em ler esses textos ou em ouvir-me. Tudo isso eu fiz sem pensar em remuneração ou “premiação” individual, apenas como um impulso interior, respondendo a uma necessidade íntima de ler, resumir, sistematizar essas leituras e de transmitir o que aprendi, pela palavra escrita ou a expressão oral. Acredito que fiz bem o que pude fazer nesse sentido, embora tudo isso seja uma pequena gota no imenso oceano de nossa incultura cívica e de nossa ignorância educativa.
Essa “função didática” não era, registre-se, minha vocação original, que estava bem mais voltada para a “revolucionarização” do mundo e do Brasil – consoante uma ideologia da mudança radical e da transformação total da vida social, aqui e alhures –, do que para esse paciente trabalho professoral do “resume e ensina”. Acredito, porém, em retrospecto, que o lento trabalho didático é bem mais revolucionário do que os grandiosos projetos de mudança total da sociedade. Estes geralmente impõem um custo humano e social incomensurável para a maior parte das pessoas e das instituições, tão difíceis de serem construídas e tão fáceis de serem destruídas por espíritos malévolos ou egoístas. Sim, também acredito que eu não tenha sido egoísta, embora às vezes eu me arrependa de meu egoismo “didático” e de “escrevinhador”, que impõe custos aparentes e invisíveis à minha própria família e aos mais chegados. Nesse sentido, eu não fiz tudo o que deveria ter feito e sou devedor nesses aspectos.
Do que você se arrepende? (do que já fez e do que deveria fazer e ainda não fez?)
Sinto não ter dado muita atenção às relações humanas e sociais, de ter me fechado sobre mim mesmo, ou melhor, nos livros, com os livros e para os livros. Não se pode ser perfeito, como se diz, mas acho que exagerei um bocado nessa convivência com os livros – e com os jornais e revistas, enfim, com a informação, de modo geral – deixando de lado justamente o lado humano das coisas. Acho que isso não me fez bem, nem familiarmente, nem pessoalmente ou profissionalmente. Não se trata de um “autismo livresco”, uma vez que, por adquirir muita informação, sou razoavelmente bem informado, cela va de soi, sobre o que ocorre no mundo e nas galáxias mais próximas, mas creio que uma redução ligeira da carga de leituras e uma atenção mais atenta, se ouso ser redundante, às pessoas que me cercam me teriam tornado uma pessoa melhor, mais apreciada, até mais ouvida.
Não sei se ainda há tempo, mas talvez eu devesse começar a me ocupar do que é realmente importante: as pessoas, as relações humanas, não dos livros, que são inertes…
Sua vida pode ser dividida em etapas?; quais as mais importantes?
Vejamos: 1) a ignorância, até os sete anos; 2) o aprendizado, dos sete aos 14 anos, aproximadamente; 3) o engajamento, a partir daí, nas chamadas causas “mudancistas”, o que sempre implica alguma dose de simplificação, de maniqueismo, de vontade de destruição, enfim, daquilo que se despreza, ou do que se aprende a ter raiva (a injustiça, a desigualdade, a miséria humana, material e social, e as supostas causas “estruturais” que respondem por esses males); 4) uma revisão intelectual desses true beliefs, a partir dos 25 anos, mais ou menos, o que coincide com uma reorientação de vida, a partir do primeiro quarto de século (uma geração inteira, pelo cômputo habitual), com definição profissional no campo do serviço público (diplomacia), seguida de casamento e de adesão ao “modo de vida burguês”; 5) um engajamento continuado, ao lado do serviço exterior, na carreira acadêmica, com a lenta (mas segura) construção de uma obra intelectual materializada em muitos livros e incontáveis artigos em diversas áreas de interesse acadêmico.
Acho que estas seriam as principais etapas da minha vida, embora outros critérios, que não os acadêmicos e intelectuais, aqui selecionados, pudessem ter levado a uma outra divisão em etapas. Quanto às etapas mais importantes, acredito que elas estão em 2), o aprendizado, e em 4), a revisão intelectual. Esta corresponde ao abandono de simplismos e maniqueismos do marxismo adolescente, em favor de uma visão mais madura ou mais refletida dos problemas sociais, sobretudo a partir de um aprendizado mais sólido das questões econômicas, bem como pela predisposição de ter a mente aberta às experiências da vida, neste caso, um conhecimento direto das misérias do socialismo real.
Se você pudesse voltar atrás, o que teria feito de diferente?
Boa pergunta, difícil de ser respondida. Como eu não causei grandes males, nem à sociedade, nem a indivíduos, em particular, não identifico bem o que poderia ter feito de radicalmente diferente. Provavelmente, teria dado mais atenção à família, tanto a minha de origem, quanto a minha própria, já que este é, basicamente, o meu grande ponto falho. Não que eu tenha estado ausente fisicamente da família adquirida – o que certamente foi o caso da família de origem – mas é que eu certamente andei ausente intelectualmente e até fisicamente das obrigações mais elementares da administração familiar, voltado, como sempre estive, para a leitura e a redação. Eu também precisaria avaliar de forma crítica o engajamento afetivo, que é um importante elemento da dedicação familiar. Acredito que estes são os meus pontos fracos.
Se você pudesse reencarnar, o que teria gostado ou gostaria ainda de ser?
Não acredito nessa hipótese, daí um possível descarte da questão. Mas, admitindo, por brincadeira, essa possibilidade, a idéia surge de imediato de ter ou deter uma posição de mando, a partir da qual se poderia melhorar o mundo de maneira substantiva. Mas, esta é uma ilusão frequente daqueles que lêem muito, e que deveriam se contentar em ser nada mais do que simples conselheiros do príncipe e que, ao contrário, pretendem deter eles mesmos a chave do social embetterment. Dispor de poder significa ser uma pessoa mais ou menos carismática – nas artes da política ou no comando dos homens – e fazer disso uma alavanca da mudança. Geralmente se acaba caindo na mudança da condição pessoal, antes que a dos demais, daí decorrendo que não alimento nenhuma ilusão quanto a uma possível carreira política ou profissional.
Gostaria, claro, de ser um melhor professor do que sou, reconhecido e prestigiado socialmente, o que aumentaria minha audiência e daria maior amplitude ao que tenho a dizer. Mas isso significa, mais uma vez, busca de prestígio social, o que redunda, sempre, na melhoria individual, não na transformação “societal”. Em todo caso, gostaria de ter poder “didático”, dispor de uma “caixa de ressonância” acoplada ao desempenho dessa missão. Mas, não consigo pensar em nenhuma figura histórica associada a essa imagem, algo como Buda e Confucius, junto com Gandhi e Einstein, inclusive porque as alusões a figuras históricas “memoráveis” como essas são profundamente enganosas, ademais de equivocadas, em seu mérito próprio.
Alguma preferência gastrônomica, um último desejo antes de lhe cortarem as coisas de que mais gosta por recomendação médica?
Sorvete, doces cremosos, merengue, chocolate, refrigerante, enfim, tudo aquilo que já deixei de consumir, por força de conselhos nutricionais. No âmbito propriamente gastronômico, eu poderia listar, tranquilamente: risotto com trufas, espagueti com frutos do mar, um belo arrosto com legumes leves, vinhos encorpados e um queijo de cabra com baguette croustillante, terminando com uma fruta leve e um ristretto daqueles bem fortes. Talvez champagne para começar e um conhaque, ou melhor, cognac para terminar. Sem charutos, please. Tudo isso eu ainda posso arriscar, sem que um médico, daqueles chatos, venha me dizer para moderar a gula. Sempre fui mais gourmand do que gourmet, mas acho que, a partir de agora, deveria ser mais deste último do que daquele.
Alguma confissão? (Procure não enrolar os outros ou praticar o auto-engano.)
Tenho de pensar seriamente antes de responder esta questão. Mas, como você vê, estou enrolando, mais uma vez. Acho que sou pretensioso demais, um metido a sabido, pretenso conhecedor de tudo, quando sou, na verdade, apenas um esforçado (nas leituras, certamente). Acho que também sou um pouco arrogante, com essa mania de ter lido mais do que os outros, o que deve ser insuportável para as pessoas “normais”. Penitencio-me por essas falhas, pois, e peço desculpas aos ofendidos. Sinceramente.
Além de ler, e de fazer resenhas, o que mais você fez nestes “nn” anos de vida?
Bem, para conseguir fazer isso tudo, deixei de dormir, “nn” anos. O que eu mais fiz, portanto, foi vigília forçada, danosa, prejudicial à saúde mental pessoal e ao bem estar familiar. Isso, do lado ruim. Do lado bom, acho que me esforcei, sinceramente, para melhorar a vida das pessoas que me cercam, sobretudo pelo engrandecimento cultural ou intelectual. Acho que consegui fazer isso, embora não possa medir a eficácia real da minha ação. Acho que ela foi ínfima, em escala social, mas cada um faz o que pode.
O que o faz pensar que sua vida foi útil, para si mesmo, para a familia e os demais?
Pelo meu critério, pretendo (mas ainda não consegui) deixar o mundo melhor do que o que encontrei, ou o que me foi dado. Existe falso altruísmo nisso? Talvez, mas essa é a minha maneira de conseguir prestígio e reconhecimento, o que pode ser uma forma de egoismo, também. Em todo caso, como não enriqueci às custas de ninguém – nunca pretendi, aliás, ficar rico no sentido material do termo –, nem tentei conseguir posições de mando praticando a usual arte da hipocrisia (que é comum nos políticos), acredito que fui útil no sentido mais banal do termo: pratiquei mais o bem do que o mal, mais contribui para o enriquecimento moral da humanidade do que agreguei aos elementos de egoísmo ou de individualismo excessivos que caracterizam as sociedades, em todas as épocas.
Minha família talvez tenha outro julgamento quanto ao meu desempenho como pai, companheiro, orientador, mas espero não ter decepcionado a maior parte das pessoas que me cercam. Não vou encomendar pesquisas para recolher a opinião dos demais, mas uma consulta informal quanto à minha imagem talvez não fosse de todo descabida.
Alguma regra de vida, alguma filosofia, mesmo barata?
Aprenda, sempre, e ensine, o que sabe. Acumule e dissemine conhecimentos, seus e dos outros, processe e divulgue o que adquiriu no contato com os livros, na experiência de vida, na reflexão pausada, no contato com pessoas mais espertas do que você. Sempre se pode aprender algo de bom, de quaisquer experiências, mesmo as mais negativas. A humanidade só consegue avançar, no sentido moral da palavra “progresso”, quando as experiências e os saberes adquiridos são colocados à disposição do maior número.
Já preparou seu testamento (pelo menos intelectual)?
Era só o que me faltava (e isso tem um lado fúnebre). Acho que, de certa forma, comecei agora mesmo, embora eu pretenda desenvolver isso em algum texto futuro (provavelmente sob a forma de um “testamento ético”). Em todo caso, preciso encontrar tempo para terminar de ler todos os meus livros (e depois distribuí-los). Acho que para isso precisarei de algo como 150 anos adicionais. Não sei se disporei de todo esse tempo.
Que mensagem importante deixaria ao mundo, na sua lápide, por exemplo?
Um possível epitáfio (aliás vários, mas acho que tenho direito): “Foi feliz ao fazer o que fez. Aprendeu que o maior bem do mundo é converter-se em um multiplicador de conhecimentos. A humanidade não perde nada em dispor de indivíduos mais espertos, ou, pelo menos, de pessoas menos ignorantes. Esforçou-se para aumentar o número dos primeiros e diminuir o dos segundos, mas nem sempre foi bem sucedido. Não se pode fazer milagres…”
Bem, feliz aniversário, apesar de tudo.
Como “apesar de tudo”? O que fiz de errado ou de substancialmente equivocado? Que pessimismo é esse? A despeito das patifarias acumuladas pelos que nos comandam, nestes tempos de hipocrisia generalizada, de tantas falcatruas cometidas em nome do bem comum, de tanta roubalheira não sancionada pela justiça, a despeito disso tudo, creio que posso afirmar, como naquele filme singelo sobre o holocausto, que “a vida é bela!”
Acho que mereço desfrutar da vida como todo e qualquer indivíduo da espécie humana, de forma tão mais merecida quanto me sinto legitimamente orgulhoso ao olhar para trás e ver que, apesar do pouco que realizei, o que eu fiz, até aqui, pode ter servido, realmente, para tornar a vida de algumas pessoas um pouco melhor do que ela teria sido na minha ausência.
Cheers…
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 19 de novembro de 2006
quarta-feira, 22 de novembro de 2006
639) Economistas...
Em todo caso, de vez em quando eu tenho vontade de colocar dois (ou mais) economistas mortos conversando entre si sobre temas diversos da atualidade economica (e política).
Devo ter pegado essa mania da leitura de um livro de Todd Bucholz, chamado "New Ideas from Dead Economists" (que alias eu ainda não acabei de ler).
Seja por esta, ou qualquer outra, razão, o fato é que já compus algumas "mini-peças" com esse tipo de situação.
A mais recente é esta aqui:
“Milton Friedman meets Bob Fields: O reencontro de dois grandes economistas”, Brasília, 20 novembro 2006, 5 p. Diálogo imaginário entre os dois economistas. Disponível no site pessoal, neste link.
Mas, eu gosto mesmo é desta "peça", que mobiliza um número maior de atores-economistas:
“O que Roberto Campos estaria pensando da política econômica?”, Brasília, 30 setembro 2004, 4 p. Ensaio colocando RC em conversa com Keynes, Hayek e Marx, no limbo, a propósito do terceiro ano de sua morte. Preparada versão reduzida, sob o título de “O que Roberto Campos pensaria da política econômica”, publicada no caderno econômico d’O Estado de São Paulo (Sábado, 9 de outubro de 2004, p. B2; link: http://txt.estado.com.br/editorias/2004/10/09/eco033.html). Reproduzido in totum no site do jornalista Diego Casagrande (Porto Alegre: 8 de novembro de 2004; link: http://www.diegocasagrande.com.br/pages/artigos/view.php?uid=893). Disponível no site pessoal, neste link.
segunda-feira, 13 de novembro de 2006
638) No Brasil, ate o investimento é tributado...
por Rodrigo Haidar
O sistema de distribuição de competência tributária no Brasil é rigoroso. A Constituição divide detalhadamente entre União, estados e municípios quem tem competência para criar e cobrar determinado imposto, quanto do valor arrecadado deve ser distribuído, por quem e para quem. Mas, como diria a ministra Cármen Lúcia: “Freud explica, mas não dá jeito”.
Já que a União é obrigada a repassar 20% do que arrecada em impostos para os estados, no lugar de criar impostos, ela cria contribuições. E, claro, isso interfere de forma direta na autonomia dos estados prevista no pacto federativo. “Há um evidente desequilíbrio fiscal na repartição da receita pública entre União estados e municípios”, afirma Inocêncio Mártires Coelho, presidente do Instituto Brasiliense de Direito Público.
“Muitos estudiosos afirmam que as contribuições, cuja criação é de competência exclusiva da União, é uma ameaça ao sistema federativo”, afirma a professora Liziane Angelotti Meira, que abriu a conferência da tarde do IX Congresso Brasiliense de Direito Constitucional, que começou nesta quinta-feira (9/11), em Brasília.
A solução seria, então, redistribuir a arrecadação das contribuições? Não. De acordo com Liziane, “o problema de redistribuir contribuição é que elas são criadas com um propósito, destinadas a um determinado fim, o que desequilibraria o objetivo de sua criação”. Objetivo, diga-se, que nem sempre é cumprido e o desconto da CPMF está em todos os extratos bancários para nos lembrar disso.
Sistema peculiar
Na questão dos impostos, o Brasil tem peculiaridades que costumam assustar seus visitantes estrangeiros. “Somos o único país que tem três níveis de tributação sobre produção e consumo”, afirma Liziane. A professora se refere a IPI, ICMS, ISS.
“O Brasil gosta de arrecadar, não importa de quem, como ou qual a conseqüência. Um economista holandês que esteve recentemente no país afirmou que o Brasil gosta tanto de arrecadar, que tributa até o seu crescimento”, conta o economista José Roberto Afonso, que também participou da conferência em que se discutiu a Reformulação das Competências Tributárias.
Para o economista, não há como crescer de maneira sustentável com uma carga tributária de 37% do PIB, “sem contar royalties de petróleo e tributos recolhidos com atraso”. Neste ano, ele calcula ainda um novo aumento da carga, de 0,5%.
Afonso dá outros exemplos das peculiaridades tributárias brasileiras. “O mundo inteiro não cobra tributo sobre exportação”. Segundo ele, problema é tributar o investimento fixo, como compra de máquinas e equipamentos. Só o Brasil e a República Dominicana ainda cobravam esse tributo. A República Dominicana parou de cobrar.
De acordo com Afonso, o foco das discussões de reforma também está errado. “Enquanto nós focamos a reforma tributária no ICMS, a carruagem passou. De 1998 para cá, a carga tributária cresceu quase 9,3% do PIB. E o ICMS representou apenas 13% desse crescimento.” Afonso ainda citou a alta tributação sobre bens e serviços — que no Brasil é de cerca de 20%, contra uma média mundial de 10% — como um breque ao desenvolvimento. “Estamos fora do padrão mundial.”
O também economista Fernando Rezende disse mais. Para ele, sob qualquer perspectiva nosso sistema de arrecadação é injusto. A começar pelo fato de que se concentram muitos recursos nas mãos do governo federal. “Nos últimos anos, a União recuperou arrecadação, os estados perderam e os municípios ganharam. Como pensar em federação sem estados fortes? E como esperar que os estados exerçam sua autonomia perdendo arrecadação?”, questiona.
Segundo Rezende, a mensagem passada pelo governo aos servidores é: “arrecade como puder”. O economista intitulou a atitude governista de princípio da comodidade. Explica-se: é o que estabelece que o caminho a ser seguido é aquele mais fácil de pegar o contribuinte, não importa como.
Mas Rezende fez Justiça ao dizer que o Brasil não está sozinho em matéria de exotismo tributário. “Na Alemanha, por exemplo, existe um imposto sobre cachorros”, afirmou. “Tenho até medo de falar isso alto porque vai que alguém da Receita fica sabendo. Já Pensou? Vai ter alíquota progressiva variando de acordo com a raça e pedigree.”
Revista Consultor Jurídico, 9 de novembro de 2006
Sobre o autor
Rodrigo Haidar: é chefe de redação da revista Consultor Jurídico.