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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quinta-feira, 13 de junho de 2019

Hong Kong: a revolução dos guarda-chuvas - Paulo Roberto de Almeida, João Perassolo (FSP)

Qualquer que seja o resultado final da "revolução do guarda-chuva" em Hong Kong – e o autoritarismo semi-tirânico do novo imperador chinês parece ter condições de se impor, ainda que apenas recorrendo a métodos brutais, contra o espírito democrático e libertário da antiga colônia britânica, atualmente revertida ao domínio do despotismo oriental de Beijing –, o exemplo de resistência oferecida pelos seus habitantes haverá de impressionar de alguma maneira seus irmãos chineses do continente, que, a exemplo dos estudantes da Praça da Paz Celestial, em 1989, também passarão a oferecer crescente resistência aos atuais ditadores do gigante asiático. Não importa quanto tempo se exercerá essa luta, hoje desigual, entre a liberdade e a tirania, o espírito da liberdade acabará por triunfar na China como um todo, pois ele é inerente ao ser humano, qualquer que seja o tempo e o lugar. 
Minha homenagem aos bravos resistentes da "revolução do guarda-chuva" em Hong Kong: sua persistência e denodo deixarão sementes que irão frutificar também no continente. Vocês já passaram à História...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de junho de 2019


Guarda-chuva se firma como símbolo da democracia em Hong Kong

Objeto usado em manifestações em 2014 volta a aparecer em protestos contra projeto de lei de extradição


João Perassolo
Folha de S. Paulo, 12/06/2019

As imagens de milhares de jovens, a maioria estudantes, segurando guarda-chuvas enquanto se aglutinam ao redor da sede do governo da região remetem ao histórico "Movimento dos Guarda-Chuvas", manifestação pró-democracia ocorrida 2014.
À época, mais de 100 mil pessoas ocuparam o distrito financeiro de Hong Kong em um movimento que pedia eleições livres. Eles reivindicavam a escolha do chefe executivo local nas eleições de 2017 por meio de votação direta, e não por uma eleição realizada a partir de uma lista com candidatos previamente aprovados por Pequim. 
A ocupação durou 79 dias e foi majoritariamente pacífica, mas se tornou violenta perto do fim, quando manifestantes e policiais entraram em confronto. Para se protegerem de bombas de gás lacrimogêneo e jatos de spray de pimenta disparados pelas forças de segurança, os manifestantes seguravam guarda-chuvas amarelos.

"Não falamos ao fim do Movimento dos Guarda-Chuvas que estaríamos de volta?", disse a legisladora pró-democracia Claudia Mo nesta quarta (12), nas ruas de Hong Kong. "Agora estamos de volta!", completou, ao passo em que manifestantes repetiam as suas palavras.
Não se sabe se a proposta de lei de extradição será ou não aprovada pelo Parlamento local, que adiou a discussão do projeto para uma data indefinida em razão dos protestos. 
Mas o histórico não parece favorável, já que os guarda-chuvas de 2014, além de não protegerem efetivamente contra os efeitos dos gases, não foram bem-sucedidos no campo político. Pequim não atendeu à demanda pelo voto direto, cem manifestantes foram processados nos meses seguintes e nove líderes do movimento foram considerados culpados em um veredito de abril deste ano.
A eles foi imputado o crime de conspirarem para causar "incômodo à ordem pública". A sentença se baseou em uma lei de quando Hong Kong ainda era colônia britânica, há mais de 20 anos. A pena será de 16 meses de prisão.
O território localizado na costa sul da China voltou ao comando central chinês em 1997, em um acordo feito com a ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher que deveria garantir eleições livres e democracia para a região. 
Hoje, é um território semiautônomo da China, no regime que ficou conhecido como "um país, dois sistemas", e há a preocupação crescente de que esteja perdendo autonomia e sucumbindo pouco a pouco ao regime ditatorial do partido único chinês. 
Além dos guarda-chuvas, os manifestantes têm tentado "apagar" as bombas jogadas pela polícia de Hong Kong com água. Mas esta tática não é muito efetiva, de acordo com Fabio Rodrigues, professor do Departamento de Química da USP.

Segundo ele, o gás se espalha e ocupa todo o ambiente. Derramar água sobre o frasco que o contém ajuda a dissolvê-lo um pouco, o que diminui os efeitos marginalmente, uma vez que esses compostos gasosos são pouco solúveis em água. 

Of the countless protests and riots I've covered over the years, I've never once seen this tactic used. Tear gas grenades extinguished almost immediately with water. Hong Kong protesters seem incredibly well organised.

13.2K people are talking about this
A lógica da contenção de danos vale ainda para as máscaras de enfermagem que os manifestantes também utilizam. Rodrigues explica que elas não são efetivas no combate a gases tóxicos, mas ajudam a retardar o contato da substância com o aparelho respiratório.
Eficazes, mesmo, só máscaras como as usadas em guerra, que tem filtros de carvão ativado, responsável por prender as partículas tóxicas e deixar passar o ar puro. A julgar pelas fotos do protesto, são como as que a polícia de Hong Kong usa.
Diante deste cenário de equipamentos de proteção improvisados, fica claro que os guarda-chuvas têm pouco valor como escudo —mas não deixam de ser um símbolo na luta pela democracia.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Upheaval: novo livro de Jared Diamond (não creio que resolva a decadência brasileira)

Já li o "sample" oferecido pela Amazon, e não me parece que o Brasil chegou a tal ponto de deterioração para ser instruído por meio de um manual de "salvamento" da decadência.
Mas, aproveito para recomendar este livro do autor: Guns, Germs and Steel.
Paulo Roberto de Almeida

Upheaval: Turning Points for Nations in Crisis Kindle Edition



A "riveting and illuminating" (Yuval Noah Harari) new theory of how and why some nations recover from trauma and others don't, by the Pulitzer-Prize-winning author of the landmark bestsellers Guns, Germs, and Steel and Collapse.

In his international bestsellers Guns, Germs and Steel and Collapse, Jared Diamond transformed our understanding of what makes civilizations rise and fall. Now, in his third book in this monumental trilogy, he reveals how successful nations recover from crises while adopting selective changes -- a coping mechanism more commonly associated with individuals recovering from personal crises.

Diamond compares how six countries have survived recent upheavals -- ranging from the forced opening of Japan by U.S. Commodore Perry's fleet, to the Soviet Union's attack on Finland, to a murderous coup or countercoup in Chile and Indonesia, to the transformations of Germany and Austria after World War Two. Because Diamond has lived and spoken the language in five of these six countries, he can present gut-wrenching histories experienced firsthand. These nations coped, to varying degrees, through mechanisms such as acknowledgment of responsibility, painfully honest self-appraisal, and learning from models of other nations. Looking to the future, Diamond examines whether the United States, Japan, and the whole world are successfully coping with the grave crises they currently face. Can we learn from lessons of the past? 
Adding a psychological dimension to the in-depth history, geography, biology, and anthropology that mark all of Diamond's books, Upheaval reveals factors influencing how both whole nations and individual people can respond to big challenges. The result is a book epic in scope, but also his most personal book yet.

Dia dos namorados: eu e Carmen Lícia namoramos desde o século passado, desde o milênio anterior


Assim que ingressei na carreira diplomática, no exato primeiro dia, meu destino já estava traçado: encontrei alguém que lê ainda mais do que eu, muito mais. Aqui está ela, mais isso foi um bocado antes de nos encontrarmos, e antes de eu ter o acordo do Dr. José Truda Palazzo para o casamento.

Além de tudo, é muito mais inteligente do que eu, mais perspicaz, mais sensata, antecipa os desenvolvimentos, quer em economia, quer em política. Aqui abaixo em Bretton Woods, NH.

Sabe julgar as pessoas, pois além de tudo é uma fina psicóloga, e me avisa em quem confiar e de quem desconfiar. Invariavelmente está certa.


Sempre foi uma excelente guia de viagens, organizando tudo, e incansável acompanhante de longas jornadas em carro. Aqui em Veneza, numa de nossas muitas visitas à cidade
.

Não preciso dizer que criou nossos dois filhos maravilhosamente bem, em todas as latitudes e longitudes, nas melhores e menos melhores condições de temperatura, pressão e lugar.


Agora sabe cuidar, e educar muito bem nossos netos, cercados de carinho e de sua atenção.

O que mais poderia eu desejar neste dia dos namorados?

Um bom jantar, obviamente, o que vai ocorrer logo mais...





Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12 de junho de 2019

Prata da Casa, os livros dos diplomatas - Paulo Roberto de Almeida (Revista da ADB n. 99)

Minha mais recente coleção de obras de diplomatas publicada na revista da ADB:




1311. “Prata da Casa, outubro de 2018 a fevereiro de 2019”, Revista da ADB, Associação dos Diplomatas Brasileiros (ano XX, n. 99, outubro de 2018-fevereiro de 2019, p. 40-45; ISSN: 0104-8503). Disponível no site da ADB (link: https://adb.org.br/wp-content/uploads/pdf/revista-adb-99-3.pdf). Resenhas dos seguintes livros para a Revista da ADB: 1) Christófolo, João Ernesto: Princípios Constitucionais de Relações Internacionais: significado, alcance e aplicação (Belo Horizonte: Del Rey, 2019, 684 p.; ISBN: 978-85-384-0532-0); 2) Barbosa, Rubens: Um diplomata a serviço do Estado: na defesa do interesse nacional: depoimento ao Cpdoc (Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018; 300 p.; ISBN: 978-85-225-2078-7); 3) Almeida, Paulo Roberto de (org.): A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM Editora, 2018; 448 p.; ISBN: 978-85-93751-39-4); 4) Raffaelli, Marcelo: Guerras europeias, revoluções americanas: Europa, Estados Unidos e a independência do Brasil e da América Espanhola (São Paulo: Três Estrelas, 2018; 380 p.; ISBN: 978-85-68493-54-0); 5) Villafañe G. Santos, Luís Cláudio: Juca Paranhos, o barão do Rio Branco (São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 560 p.; ISBN: 978-85-359-3152-5); 6) Lima, Sergio Eduardo Moreira; Farias; Rogério de Souza (orgs.): A palavra dos chanceleres na Escola Superior de Guerra (1952-2012) (Brasília: Funag, 2018; 738 p.; ISBN: 978-85-7631-780-7; coleção Política externa brasileira); 7) Cardim, Carlos Henrique (editor): Revista 200 do Grupo de Trabalho do Bicentenário da Independência (Brasília: Ministério das Relações Exteriores, n. 1, outubro-dezembro de 2018, 236 p.); 8) Paiva, Maria Eduarda (editora-chefe): Juca: diplomacia e humanidades (revista do curso de formação em diplomacia do IRBr, n. 10, 2018, 220 p.; ISSN: 1984-6800); 9) Fortuna, Felipe: O rugido do sol: poemas (Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2018; 126 p.; ISBN: 978-85-7191-106-2); 10) Lozardo, Ernesto: OK, Roberto, você venceu: o pensamento econômico de Roberto Campos (Rio de Janeiro: Topbooks, 2018; 352 p.; ISBN: 978-85-7475-280-8); 11) Merquior, José Guilherme: O Marxismo Ocidental (tradução Raul de Sá Barbosa; 1a edição; São Paulo: É Realizações, 2018, 352 p.; ISBN: 978-85-8033-343-5); 12) Temer, Michel: O Brasil no mundo: abertura e responsabilidade: escritos de diplomacia presidencial (2016-2018) (Brasília: Funag, 2018, 409 p.; ISBN: 978-85-7631-791-3). Divulgado antecipadamente no blog Diplomatizzando (20/02/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/02/prata-da-casa-os-livros-dos-diplomatas.html). Relação de Originais n. 3412.




1) Christófolo, João Ernesto:
Princípios Constitucionais de Relações Internacionais: significado, alcance e aplicação (Belo Horizonte: Del Rey, 2019, 684 p.; ISBN: 978-85-384-0532-0)

Estudo absolutamente inédito na categoria dos estudos sobre o constitucionalismo brasileiro, pois enfocando, em mais de 650 páginas todos os princípios das relações internacionais do Brasil tal como inscritos na CF-88: independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade, concessão de asilo político. O trabalho é precedido por um estudo sistêmico e comparado dos princípios constitucionais de relações internacionais, assim como examina o tema no constitucionalismo brasileiro e sua construção na Assembleia Constituinte de 1987-88. O trabalho é impressionante pelo seu caráter exaustivo.


2) Barbosa, Rubens:
Um diplomata a serviço do Estado: na defesa do interesse nacional: depoimento ao Cpdoc (Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018; 300 p.; ISBN: 978-85-225-2078-7)


Meio século de atividades diplomáticas – que ainda não terminaram – estão aqui reproduzidas, mediante o depoimento prestado pelo autor a Matias Spektor, no Cpdoc, consistindo numa descrição detalhada de sua participação nos temas mais relevantes da diplomacia brasileira desde meados dos anos 1960 até sua aposentadoria como embaixador em Washington, passando por chefia de divisões, chefia de gabinete (ministro Olavo Setúbal), representante junto à Aladi, coordenação do Mercosul e de temas econômicos e também embaixador em Londres. Agregam-se ao seu próprio relato depoimentos de colaboradores, como os diplomatas Eduardo Santos, Marcos Galvão e Paulo Roberto de Almeida. Seus arquivos já se encontram disponíveis na FGV-RJ, e comportam milhares de páginas abertas à pesquisa. Rubens Barbosa segue ativo.



3) Almeida, Paulo Roberto de (org.):
A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM Editora, 2018; 448 p.; ISBN: 978-85-93751-39-4)


Estão aqui compilados 65 dos melhores artigos feitos pelo diplomata-economista, já na condição de Senador (pelo MT), constituinte derrotado na maior parte de suas propostas liberais e favoráveis à abertura econômica e integração do Brasil à economia mundial, precedidos por um ensaio do organizador, analisando o pensamento do grande estadista, e com um longo ensaio final destrinchando cada um dos dispositivos econômicos da Carta Magna. Incrível a capacidade premonitória de Roberto Campos ao antecipar que aqueles artigos generosos para todos e cada um acabariam inviabilizando um processo sustentado de crescimento econômico, ao comandarem o aumento contínuo dos gastos públicos; realista também sua postura contra o nacionalismo e o caráter intervencionista do Estado, tornando o Brasil um dos piores ambientes de negócios de todo o mundo.


4) Raffaelli, Marcelo:
Guerras europeias, revoluções americanas: Europa, Estados Unidos e a independência do Brasil e da América Espanhola (São Paulo: Três Estrelas, 2018; 380 p.; ISBN: 978-85-68493-54-0)


Uma história mundial das revoluções da independência das colônias ibéricas como nunca existiu na literatura publicada no Brasil, ou seja, no contexto internacional, desde 1792 (período do Terror na Revolução francesa, o que confirmava que não haveria retorno rápido às monarquias do passado), até 1828, quando finalmente termina a guerra entre Brasil e Argentina pelo pequeno Uruguai. A bibliografia confirma a manipulação de um número considerável de materiais primários e fontes secundárias, consultados diretamente nos National Archives e na Library of Congress, cuja maestria na seleção das melhores transcrições revela um historiador de altíssima qualidade. Já autor de um livro sobre as relações entre o Brasil e os EUA durante o Império (disponível na Biblioteca Digital da Funag), Raffaelli apresenta aqui uma história fascinante.



5) Villafañe G. Santos, Luís Cláudio:
Juca Paranhos, o barão do Rio Branco (São Paulo: Companhia das Letras, 2018, 560 p.; ISBN: 978-85-359-3152-5)


Destinada a tornar-se clássica, depois dos precedentes de Álvaro Lins (1945) e Luiz Vianna Filho (1959), a biografia de Villafañe inova sobre os precedentes, ao retraçar, cuidadosamente, a vida privada, as dificuldades e as artimanhas do patrono da diplomacia brasileira, nas suas relações com a imprensa, no cuidado com o ambiente político do início da República, e basicamente sua mentalidade conservadora, no seguimento da longa dominação saquarema sobre a política imperial, seguida pelo sistema oligárquico das elites republicanas, apoiadas numa agricultura atrasada. As relações com as grandes potências e com a vizinha Argentina são especialmente estudadas, no contexto da geopolítica regional, numa fase de imperialismos europeus ainda agressivos. Os problemas familiares também são ressaltados adequadamente.



6) Lima, Sergio Eduardo Moreira; Farias; Rogério de Souza (orgs.):
A palavra dos chanceleres na Escola Superior de Guerra (1952-2012) (Brasília: Funag, 2018; 738 p.; ISBN: 978-85-7631-780-7; coleção Política externa brasileira)


Este pesado volume é uma obra de referência sobre a política externa brasileira ao longo de 60 anos, como o compêndio organizado por Seixas Corrêa para os discursos inaugurais do Brasil nas AGNU anuais, mas à diferença daqueles, o público aqui é interno, o que permite maior sinceridade e abertura sobre aspectos cruciais da diplomacia brasileira, tal como expostas pelos ministros na Sorbonne militar, aliás moldada segundo o National War College americano. A introdução, da lavra do historiador Rogério Farias, coloca esses discursos no contexto político nacional e no ambiente internacional a cada etapa dessa longa interação entre duas instituições que pensam o Brasil e contribuem para formar os tomadores de decisão. Do Vargas constitucional à presidente derrocada em 2016, uma memória da história diplomática.




7) Cardim, Carlos Henrique (editor):
Revista 200 do Grupo de Trabalho do Bicentenário da Independência (Brasília: Ministério das Relações Exteriores, n. 1, outubro-dezembro de 2018, 236 p.)

Excelente iniciativa do embaixador Cardim, enquanto coordenador adjunto desse GT, ao reunir materiais antigos e inéditos em torno de nossa história, cuja fase autônoma começa, na verdade, pelos debates nas Cortes de Lisboa, como retratado em sua capa. Um equilíbrio de estilos, de conteúdo altamente diversificado, esse número apresenta documentos históricos, análises de grandes historiadores do passado, ensaios do presente, por diplomatas e acadêmicos, colaborações de grande qualidade intercaladas por uma riquíssima iconografia, selecionada pelo exímio editor de revistas e livros que sempre foi Carlos Cardim. Ele sublinha que a revista está destinada a ser um “traço de união”, e destaca o papel fundador de Hipólito da Costa, aliás objeto de um ensaio de Paulo Roberto de Almeida, que o considera o “primeiro estadista do Brasil”.


8) Paiva, Maria Eduarda (editora-chefe):
Juca: diplomacia e humanidades (revista do curso de formação em diplomacia do IRBr, n. 10, 2018, 220 p.; ISSN: 1984-6800)


Em seu décimo aniversário, essa excelente revista dos alunos do Rio Branco apresenta um dossiê sobre os 30 anos da Constituição, aqui abordada por seus dispositivos econômicos, raciais e ambientais. Três entrevistas também dão o tom desse número: com o próprio chanceler Aloysio Nunes, com a deputada Benedita da Silva sobre a Constituinte e com o colega Silvio Albuquerque e Silva sobre os diplomatas negros. A memória diplomática tem matérias sobre Bertha Lutz, sobre as relações Brasil-EUA, a estratégia de Rio Branco na questão do Acre e as relações Brasil-Rússia em 1917. A editora-chefe traz um excelente artigo sobre o itinerário de Itaipu na tríplice relação com a Argentina e o Paraguai, na visão dos diversos diplomatas que se ocuparam da questão, desde Guimarães Rosa até Saraiva Guerreiro, passando por Gibson Barboza.


(9) Fortuna, Felipe:
O rugido do sol: poemas (Rio de Janeiro: Pinakotheke, 2018; 126 p.; ISBN: 978-85-7191-106-2)


Estes novos “poemas” de Felipe Fortuna se apresentam, antes de mais nada, como uma obra de arte visual. As aspas se justificam pois desde o Prefácio até a Lápide final (“Aqui giz”), esta talvez seja a obra mais rebuscada, stricto et lato sensi, de Felipe Fortuna, já autor de sete outros livros de poesia, três de crítica literária, dois de ensaios e duas traduções. O poema do título vem enclausurado numa bola escura, com duas páginas na cor vermelha, ressaltando o fogo da poesia, qual magma em fusão. Todos os poemas são construções gráficas, em letras maiúsculas, minúsculas, invertidas, tortuosas e torturadas, mas “o poeta pede desculpas” (p. 14) por apresentar brincadeiras com as palavras que nos obrigam a ler duas, três, quatro vezes, para apreciar essas troças com o leitor e consigo mesmo. Poesias curtas, telegráficas, mas todas altamente impactantes.


 10) Lozardo, Ernesto:
OK, Roberto, você venceu: o pensamento econômico de Roberto Campos (Rio de Janeiro: Topbooks, 2018; 352 p.; ISBN: 978-85-7475-280-8)


O autor, ex-presidente do IPEA, não é diplomata, mas o sujeito de sua homenagem foi, certamente, um dos maiores estadistas do Brasil na segunda metade do século XX. Por racionalidade extrema, brigou muito com o Itamaraty, mas olhando retrospectivamente ganhou todas as partidas. Viu antes e mais longe que todos os diplomatas e bem mais que os homens públicos, mas perdeu a batalha em que se lançou desde cedo para tornar o Brasil uma nação próspera, por estupidez da maior parte dos dirigentes. A análise do pensamento econômico do homem que pensou o Brasil é complementada por depoimentos de personalidades que conviveram com ele: Fernando Henrique Cardoso, Henry Kissinger, Antonio Delfim Netto, João Carlos Martins e Ernane Galvêas. Campos foi uma grande referência na vida de Lozardo. Deveria ter sido de todos...


11) Merquior, José Guilherme: O Marxismo Ocidental (tradução Raul de Sá Barbosa; 1a edição; São Paulo: É Realizações, 2018, 352 p.; ISBN: 978-85-8033-343-5)


A edição original de Western Marxism é de 1985 e começa por uma cobrança ao próprio Marx, que teria, sem dúvida, como recomendado na undécima tese sobre Feuerbach, mudado a face do mundo, mas a sua interpretação desse mundo, na visão do maior intelectual diplomático brasileiro, foi intelectualmente insatisfatória. A obra parte do legado hegeliano e marxista, para depois dialogar com todos os marxistas ocidentais, desde Lukács e Gramsci até Habermas, passando pela Escola de Frankfurt, por Walter Benjamin, Sartre, Althusser e Marcuse. A obra vem enriquecida por depoimentos sobre o intelectual e sua obra, inclusive uma entrevista com o editor José Mário Pereira, e um importante arquivo de “fortuna crítica”, em torno dos debates que a obra suscitou desde seu primeiro aparecimento. Ela foi dedicada a um marxista brasileiro: Leandro Konder.


12) Temer, Michel:
O Brasil no mundo: abertura e responsabilidade: escritos de diplomacia presidencial (2016-2018) (Brasília: Funag, 2018, 409 p.; ISBN: 978-85-7631-791-3).


O presidente nunca foi diplomata, mas como foram os diplomatas de sua assessoria os responsáveis pela quase totalidade desses discursos, ao longo dos dois anos e meio do governo de transição, que retomou a diplomacia tradicional do Brasil, depois dos desvios lulopetistas, cabe registrar uma obra que marca, justamente, o retorno da política externa brasileira a padrões mais tradicionais de interação regional e mundial. São 68 discursos ou pronunciamentos ao longo de 30 meses, o que resulta em mais de dois discursos sobre temas internacionais por mês, desde as assembleias da ONU, as cúpulas regionais e as reuniões do Mercosul, até palestras para empresários, sem esquecer os temas bilaterais, ainda que mais reduzidos. Todos os grandes temas da diplomacia brasileira foram devidamente tratados por colegas competentes.