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quinta-feira, 13 de junho de 2019

Hong Kong: a revolução dos guarda-chuvas - Paulo Roberto de Almeida, João Perassolo (FSP)

Qualquer que seja o resultado final da "revolução do guarda-chuva" em Hong Kong – e o autoritarismo semi-tirânico do novo imperador chinês parece ter condições de se impor, ainda que apenas recorrendo a métodos brutais, contra o espírito democrático e libertário da antiga colônia britânica, atualmente revertida ao domínio do despotismo oriental de Beijing –, o exemplo de resistência oferecida pelos seus habitantes haverá de impressionar de alguma maneira seus irmãos chineses do continente, que, a exemplo dos estudantes da Praça da Paz Celestial, em 1989, também passarão a oferecer crescente resistência aos atuais ditadores do gigante asiático. Não importa quanto tempo se exercerá essa luta, hoje desigual, entre a liberdade e a tirania, o espírito da liberdade acabará por triunfar na China como um todo, pois ele é inerente ao ser humano, qualquer que seja o tempo e o lugar. 
Minha homenagem aos bravos resistentes da "revolução do guarda-chuva" em Hong Kong: sua persistência e denodo deixarão sementes que irão frutificar também no continente. Vocês já passaram à História...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13 de junho de 2019


Guarda-chuva se firma como símbolo da democracia em Hong Kong

Objeto usado em manifestações em 2014 volta a aparecer em protestos contra projeto de lei de extradição


João Perassolo
Folha de S. Paulo, 12/06/2019

As imagens de milhares de jovens, a maioria estudantes, segurando guarda-chuvas enquanto se aglutinam ao redor da sede do governo da região remetem ao histórico "Movimento dos Guarda-Chuvas", manifestação pró-democracia ocorrida 2014.
À época, mais de 100 mil pessoas ocuparam o distrito financeiro de Hong Kong em um movimento que pedia eleições livres. Eles reivindicavam a escolha do chefe executivo local nas eleições de 2017 por meio de votação direta, e não por uma eleição realizada a partir de uma lista com candidatos previamente aprovados por Pequim. 
A ocupação durou 79 dias e foi majoritariamente pacífica, mas se tornou violenta perto do fim, quando manifestantes e policiais entraram em confronto. Para se protegerem de bombas de gás lacrimogêneo e jatos de spray de pimenta disparados pelas forças de segurança, os manifestantes seguravam guarda-chuvas amarelos.

"Não falamos ao fim do Movimento dos Guarda-Chuvas que estaríamos de volta?", disse a legisladora pró-democracia Claudia Mo nesta quarta (12), nas ruas de Hong Kong. "Agora estamos de volta!", completou, ao passo em que manifestantes repetiam as suas palavras.
Não se sabe se a proposta de lei de extradição será ou não aprovada pelo Parlamento local, que adiou a discussão do projeto para uma data indefinida em razão dos protestos. 
Mas o histórico não parece favorável, já que os guarda-chuvas de 2014, além de não protegerem efetivamente contra os efeitos dos gases, não foram bem-sucedidos no campo político. Pequim não atendeu à demanda pelo voto direto, cem manifestantes foram processados nos meses seguintes e nove líderes do movimento foram considerados culpados em um veredito de abril deste ano.
A eles foi imputado o crime de conspirarem para causar "incômodo à ordem pública". A sentença se baseou em uma lei de quando Hong Kong ainda era colônia britânica, há mais de 20 anos. A pena será de 16 meses de prisão.
O território localizado na costa sul da China voltou ao comando central chinês em 1997, em um acordo feito com a ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher que deveria garantir eleições livres e democracia para a região. 
Hoje, é um território semiautônomo da China, no regime que ficou conhecido como "um país, dois sistemas", e há a preocupação crescente de que esteja perdendo autonomia e sucumbindo pouco a pouco ao regime ditatorial do partido único chinês. 
Além dos guarda-chuvas, os manifestantes têm tentado "apagar" as bombas jogadas pela polícia de Hong Kong com água. Mas esta tática não é muito efetiva, de acordo com Fabio Rodrigues, professor do Departamento de Química da USP.

Segundo ele, o gás se espalha e ocupa todo o ambiente. Derramar água sobre o frasco que o contém ajuda a dissolvê-lo um pouco, o que diminui os efeitos marginalmente, uma vez que esses compostos gasosos são pouco solúveis em água. 

Of the countless protests and riots I've covered over the years, I've never once seen this tactic used. Tear gas grenades extinguished almost immediately with water. Hong Kong protesters seem incredibly well organised.

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A lógica da contenção de danos vale ainda para as máscaras de enfermagem que os manifestantes também utilizam. Rodrigues explica que elas não são efetivas no combate a gases tóxicos, mas ajudam a retardar o contato da substância com o aparelho respiratório.
Eficazes, mesmo, só máscaras como as usadas em guerra, que tem filtros de carvão ativado, responsável por prender as partículas tóxicas e deixar passar o ar puro. A julgar pelas fotos do protesto, são como as que a polícia de Hong Kong usa.
Diante deste cenário de equipamentos de proteção improvisados, fica claro que os guarda-chuvas têm pouco valor como escudo —mas não deixam de ser um símbolo na luta pela democracia.