sábado, 13 de setembro de 2025

Duas guerras, dois massacres, duas posturas no caso do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Duas guerras, dois massacres, duas posturas no caso do Brasil

Pergunto-me por que a diferença de postura diplomática do Brasil em face de dois dos mais horrendos conflitos da atualidade, ou melhor, de duas guerras de agressão, comandadas por dois criminosos de guerra, muito acertadamente procurados, ambos,  pelo TPI, por seus crimes horrendos.

Eu já sei a resposta, como diplomata experiente que sou, pelas razões das diferenças, mas coloco ainda assim a questão, pois que ela não tem sido debatida à exaustão pela mídia responsável ou pelos analistas da academia. Eu a coloco, portanto.

O tirano de Moscou empreendeu, desde o início do século, retomar o espaço e o poder perdidos pela implosão do maior Estado totalitário da História, não hesitando ante qualquer crime para reparar o que considerou a “maior catástrofe do século XX”, justamente a (auto) desintegração da URSS. 

Não se pode dizer, como no caso de Israel, que tenha sido atacado por um grupo terrorista, como o Hamas, pois nem a Ucrânia, nem a OTAN jamais ameaçaram a Rússia, que perpetra todos os dias terrorismo de Estado contra civis inocentes ucranianos.

No caso do líder israelense também se trata de terrorismo de Estado, depois do ataque terrorista do grupo que desejava a morte e o desaparecimento de Israel; ele simplesmente está conduzindo o extermínio sistemático da população palestina de Gaza, além de avançar ilegalmente contra o território palestino da Cisjordânia.

São duas tragédias não simétricas, mas paralelas, às quais a comunidade responsável do mundo tem oferecido uma postura coerente com o direito humanitário e respondido pelos meios possíveis: ajuda assistencial no caso palestino, ajuda na defesa no caso ucraniano, comme il faut. 

No entanto, a política externa do atual governo brasileiro, para maior vexame de sua diplomacia, tem demonstrado uma absoluta incoerência mediante duas posturas totalmente opostas e contraditórias com seu passado e as tradições de estrito respeito ao Direito internacional sempre exibido pela diplomacia brasileira: uma de total condenação no caso dos massacres do povo palestino de Gaza e a outra de completa indiferença no caso dos massacres diários da população civil da Ucrânia pelo tirano de Moscou. 

Muito pior do que isso: de aberta e total cumplicidade com os crimes de guerra e contra a humanidade perpetrados pelo mesmo ditador. 

Não preciso me estender sobre as razões dessa oposição vergonhosa entre um e outro caso, pois elas são evidentes para qualquer observador inteligente e conhecedor das posições históricas da diplomacia brasileira.

Só posso expressar minha total inconformidade em face dessa incoerência, que chega a ser propriamente criminosa, sabendo-se do apoio objetivo dado pelo atual governo do Brasil ao criminoso de guerra em ação na Europa oriental.

Preciso dizer mais alguma coisa? 

Só reafirmar minha vergonha e total inconformidade com a violência moral exercida contra a diplomacia profissional pela virtual oposição de duas políticas a dois casos de massacres paralelos.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 13/09/2025


Um comentário:

Anônimo disse...


Caro professor,

Sou um grande admirador e leitor há anos do seu blog.

Partindo da minha posição de ignorante, direi algumas especulações.

Formalmente, houve a condenação de ambos os autores.

Sanção não funciona e ainda agrava a vida dos civis.

A globalização criou interdependência. A Europa continua comprando petróleo russo através da Índia.

O Brasil depende do fertilizante russo. Qualquer disrupção afetaria brutalmente a economia interna e externa. Além de crise alimentar (alguém deixaria de receber alimento).

O Brasil assinou, nos últimos anos, diversos contratos e acordos com a Rússia. Em áreas estratégicas e importantes ao Brasil.


Ou seja, no mundo ideal haveria condenação constante da Rússia, mas o tempo de hoje é bem diferente daquele de Rui Barbosa: "não há imparcialidade entre o direito e a injustiça"

O Direito Internacional foi uma luz, porém vilipendiada pelas potências. A regra do jogo só é respeitada quando todos os membros jogam dentro da regra. Todavia, a natureza humana, por ser livre, há de trapacear.

E assim caminha a história, como sempre foi, entre som e fúria.

Como você disse: "Eu já sei a resposta, como diplomata experiente que sou, pelas razões das diferenças".

Então, professor, caso a questão esteja lhe perturbando emocionalmente, experimente psicoterapia. É preciso integrar a nossa sombra para vivermos bem. Eu já sofri com isso e só por isso estou comentando.

Espero que o professor fique bem e continue com o coração esperançoso, pois uma coisa é saber da realidade... e outra é continuar no caminho certo. (Como você sempre demonstrou em suas posições).

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