O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Arnaldo Godoy me comble d’honneurs, mais je n’en sort pas gonflé

 Que puis-je dire?

A PAULO ROBERTO DE ALMEIDA, AO ENSEJO DE SEUS 75 ANOS

Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy

Nós, amigos e leitores de Paulo Roberto de Almeida, festejamos, nessa semana, os 75 anos de nosso Farol. Cético, diferente, irreverente, provocador, Paulo Roberto já transitou por todos os campos ideológicos, e sempre convergiu para um campo próprio. Não é preso a igrejinha alguma. A exemplo do inesquecível Barão de Itararé, o apostolado de Paulo (não o de Tarso, mas o do nosso diplomata) é o apostolado do lado oposto.

Conheci Paulo Roberto em uma banca de dissertação de mestrado do Ceub; e já se vão mais de dez anos. Me chamou a atenção a sua prosa calma, seu feitio iconoclasta de quem quebra imagens, mas que o faz com delicadeza. Muitos anos antes de que se falasse sobre guerras culturais, Paulo escancarava sua irritação para com certos textos dos frankfurtianos do exílio e dos pós-estruturalistas. Tem que ter estômago para lê-los, especialmente hoje. Com Paulo Roberto assumi essa realidade, sem medo de patrulhamento.

Paulo lembrava-me o argumento do “niilismo de cátedra”, livro de José Guilherme Merquior, referência de minha geração. Refiro-me a um texto de Paulo Roberto, sobre o encardido tema do “marco teórico” que, de acordo com uma tradição escolástica do tempo do onça, seria o único abre-te-sésamo para uma dissertação/tese de alguma grandeza. A irritação de Paulo Roberto para com esse postulado revelava um pesquisador que sabe o que fala, que sabe quando fala, que sabe para quem fala e, principalmente, que sabe se fala, ou se não se fala. Paulo Roberto conhece o argumento imbatível do silêncio.

Tudo em Paulo Roberto é muito diferente. Educado numa tradição carregada de materialismo histórico, com Paulo Roberto fui entender que o materialismo histórico é pura teoria, e que é uma pura teoria que a prática e o realismo repudiam.

Paulo Roberto tem todo o glamour do diplomata, sua carreira e uma de suas vocações. Quem de nós, que vivíamos lendo o tempo todo, e todo o tempo, não quisermos um dia sê-lo. Paulo era a materialização do sonho de uma geração, ainda obstinada pela falácia de que todo barbudinho do Itamaraty (como muitos eram negativamente referidos nos anos 70) era um fragmento vivo de Guimarães Rosa ou de João Cabral de Mello Neto. Foi através de Paulo Roberto que conheci Gelson Fonseca Júnior, um grande intelectual, e foi com Paulo Roberto que ouvi pela primeira vez sobre a obra de Carlos Henrique Cardim, especialista em Rui Barbosa.

Paulo Roberto, mais do que todos nós, leu tudo, e leu todos. Disse que sua esposa, Carmen, leu mais do que ele. Não duvido. Paulo Roberto lembra- me um Roberto Campos mais contido, e que faz de sua atividade professoral uma lanterna na popa. E aqui não vai nenhuma inferência inversa ao livro do grande memorialista de nossa vida política e econômica.

Eu sempre tive dificuldade em definir Paulo Roberto. Sociólogo, economista, diplomata, crítico literário, professor, Paulo é na verdade um polímata; é fio da meada sensível de uma tradição hoje em extinção, que certamente tem suas origens naquele grego de ombros largos que ensinava na Academia, que foi escravizado no Mediterrâneo, que foi libertado e que nos legou o espírito altaneiro. Falo de Platão, o autor da Carta VII, monumento da filosofia ocidental. É que Platão, com toda metafísica explicativa de nossa condição, espécie de uma religião para os mais refinados, está na outra ponta dessa tradição.

Historiador de nossa diplomacia, Paulo não temeu aquele que foi tão breve, e que jocosamente nomeou de “o Breve”, e que tanto o incomodou. Crítico da esquerda, e da direita, porque sabe que ambas, quando radicais, estão fora de centro, Paulo sobressai-se como uma referência equilibrada e segura de nossos problemas e dilemas.

Entre os incontáveis textos de Paulo Roberto tenho comigo aqui uma introdução a uma coletânea de estudos sobre Thomas Sowell, intelectual norte- americano que se impôs como um aniquilador de falácias ideológicas. Em nosso ambiente cultural, no mais das vezes tão disperso e retraído, Paulo Roberto de Almeida protagoniza papel idêntico, ainda que o faça de modo reservado, introvertido.

Paulo Roberto de Almeida é, na essência, um homem simples. É um homem de livros e de ideias. Creio que se pudesse escolher, Paulo passaria a vida transitando dos balcões das livrarias, para a sombra das prateleiras dos sebos, a buquinar alguma raridade. Ou dirigindo, pois foi no volante que, com sua inseparável Carmen, andou boa parte desse mundo.

Paulo Roberto de Almeida é, acima de tudo, um espírito inquieto e um pensador livre. Sua trajetória intelectual e profissional é marcada pela recusa ao dogmatismo e pela busca incessante por perguntas e respostas que desafiam as convenções e que rompam com as amarras do pensamento único.

Ao celebrarmos seus 75 anos, não apenas festejamos a longevidade de um Amigo e Mestre, mas reafirmamos o valor de uma vida dedicada ao conhecimento e ao debate, sempre no contexto de uma imensa honestidade intelectual.

Nessa data, deixo meu afetuoso abraço ao aniversariante, extensivo a Carmen, sua esposa, e a toda a família.

Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy
Brasília, 19/11/2024

terça-feira, 25 de junho de 2024

OTAN, 75 anos e ainda viva (graças ao Putin) - Foreign Policy

NATO: next meeting in Washington, for its 75th year

Foreign Policy

 The best of times and the worst of times: In many ways, NATO is going through both right now. The trans-Atlantic defense alliance, which is preparing to celebrate its 75th anniversary at a summit in Washington next month, has strengthened its collective will following Russian President Vladimir Putin’s invasion of Ukraine. It has welcomed new members Sweden and Finland. And a record number of member states, more than 20 in all, will this year meet the alliance’s 2 percent defense spending goal—up from just three countries a decade ago, when the targets were first put in place.

Yet NATO also faces challenges, some existential in nature. For a long time the alliance has struggled with not enough troops, and as FP’s Jack Detsch reported, the problem is only getting worse. “NATO basically forgot about its military,” one senior NATO diplomat told Detsch, who also talked to the chair of NATO’s Military Committee about urgent plans to ramp up capacity. (Russia, Detsch noted, is having no such troubles in its ongoing war in Ukraine.)

Meanwhile, leadership of the alliance is about to change. In October of this year, current Secretary-General Jens Stoltenberg will be succeeded by outgoing Dutch Prime Minister Mark Rutte. FP doesn’t often take on personalities in our analysis of geopolitics, but afascinating profile of Rutte by FP columnist Caroline de Gruyter exemplifies how the personal can reveal the political. In surveying many of those who know Rutte best, de Gruyter paints a portrait of the next “sec-gen”: the kind of guy who has been staying in the same no-frills Chinatown hotel on New York trips for the last 30 years, and who on every visit dines with legendary journalist Robert Caro at the same restaurant, will likely run a tight, disciplined ship at NATO. “Probably the most important thing to know about Rutte,” de Gruyter writes, “is that he is a very controlled person.”

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Funcionalismo: veto da presidente a aposentadoria aos 75 anos

Ops, parece que as expectativas não foram contempladas para todos. Ou seja, só os verdadeiros mandarins, os magistrados e assemelhados, é que foram beneficiados até o momento.
Mas o objetivo era bloquear a continuidade dos mesmos, segundo entendo, para que os companheiros escolhessem os "seus" juízes, segundo entendo...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma veta aposentadoria compulsória aos 75 para servidores públicos
Folha online, 23/10/2015, 00h39

A presidente Dilma Rousseff vetou nesta quinta-feira (22) a lei que permitia aposentadoria aos 75 anos a todos os servidores públicos.

O texto havia sido aprovado por unanimidade pelo Senado no último dia 29. O projeto também já havia passado pela Câmara e dependia somente da sanção da presidente.

A mudança era esperada por funcionários públicos desde a promulgação da emenda constitucional que adiou a aposentadoria compulsória de magistrados dos tribunais superiores e do TCU (Tribunal de Contas da União) de 70 para 75 anos.

Quando a chamada PEC (Proposta de Emenda Constitucional) da Bengala passou a vigorar, alguns desembargadores não quiseram esperar pela lei e passaram a reivindicar na Justiça decisões liminares permitindo a permanência na carreira mesmo após os 70 anos.

STF
A PEC da Bengala tirou da presidente a certeza da indicação dos cinco próximos ministros do Supremo Tribunal Federal, corte composta por 11 cadeiras.

Pelas regras até então em vigor, cinco ministros do STF que completam 70 anos até o final de 2018 teriam que deixar a corte antes do final do mandato de Dilma (Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski, Teori Zavascki e Rosa Weber).

Agora, a petista só fará novas indicações para a mais alta corte do país caso algum ministro deixe voluntariamente o tribunal antes da data de aposentadoria compulsória.