Mini reflexão de leve sabor barringtoniano
Paulo Roberto de Almeida
Aprofundando uma reflexão interrogativa sobre nossa trajetória como nação. Sociedades não costumam fazer assembleias gerais para decidir sobre o seu próximo destino: só ao cabo de revoluções ou guerras civis. Ainda não é o nosso caso. Pelo menos espero.
O Brasil, definitivamente, não vive um ciclo toynbeeano de ascensão e declínio civilizatório. Nossa trilha é um pouco mais “abaixo”, não em termos de avanços materiais ou progressos tecnológicos, mas no terreno dos valores e princípios morais de uma sociedade que deveria ser regrada.
Certas sociedades, enfrentando profundas crises, como a República de Weimar ou a Venezuela dos anos 1990, acabam se entregando a um bando de sacripantas criminosos que terminam por levá-la ao paroxismo da autodestruição.
Estaria o Brasil se aproximando dessa “atração fatal”?
Não pensem que certas “deformações” de um ciclo normalmente e tendencialmente ascensional estejam restritas a países que passaram por profundas crises sociais e econômicas como a Alemanha de Weimar ou a Venezuela pré-Chávez. Elas podem afetar, igualmente, nações aparentemente bem-sucedidas, mas bastante diversas em sua composição “civil”, com estamentos privilegiados mas decadentes, e diferentes estratos de “desclassificados”, mas dotados de franquias eleitorais, como ocorre atualmente com a maior parte dos Estados-nacionais do sistema onusiano.
Nessas fricções do processo histórico e no itinerário da evolução de nações assim confrontadas a desafios adaptativos podem surgir espaços, abrir “janelas”, para que oportunistas dotados de “boa” retórica consigam empolgar as massas com suas propostas disruptivas. Pode ser o começo do declínio, mais ou menos dramático segundo as forças sociais mobilizadas ao redor do personagem: um Mussolini, um Hitler, um Chávez, um Trump, um Bozo.
Não está claro o que pode advir desse tipo de “atração fatal”. O que está claro é que tal tipo de fenômeno deveria, pelo menos, afastar essas teorias deterministas da História. A história de cada nação em particular é um livro aberto ao imponderável, ao contingente, ao inesperado, ao acidental e até ao dramático.
Espero apenas que o Brasil não esteja no vórtice de alguma “atração fatal”.
Paulo Roberto de Almeida
São Paulo, 6/01/2022
PS.: O Barrington Moore a que eu me refiro não é tanto o sociólogo histórico das Origens Sociais da Ditadura e da Democracia e mais o autor do pequeno panfleto sobre as “misérias humanas”.