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terça-feira, 24 de junho de 2025

O Triunfo e a Derrota de Eugenio Gudin - Paulo Roberto de Almeida e André Burguer

 O Triunfo e a Derrota de Eugenio Gudin 

Paulo Roberto de Almeida e André Burguer

Já escrevi bastante sobre o famoso, talvez único debate econômico significativo na história econômica do Brasil, aquele ocorrido em 1944/45 entre Eugênio Gudin e Roberto Simonsen. Meu argumento foi simples: Gudin venceu na lógica, na consistência teórica e nas propostas racionais. Mas o vencedor, na prática, foi Simonsen, pois toda a conjuração de líderes políticos, econômicos, acadêmicos, militares e civis, queriam estatismo, intervencionismo, industrialismo forçado, tudo isso imposto do alto, estilo nacionalismo autárquico. Por isso ainda somos um país “em desenvolvimento”, sempre requerendo soluções pelo alto, inclusive o agro, com subsídios e proteção. Por isso somos o que somos. Gudin venceu e perdeu; continua perdendo, mesmo com o agro triunfante. Sorry guys…

Paulo Roberto de Almeida 

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André Burguer escreveu:

A VINGANÇA DE GUDIN.

Eugênio Gudin morreu há quase quatro décadas. Viveu um século defendendo algo que, à sua época, parecia heresia econômica: o desenvolvimento do Brasil deveria vir do campo, não da fábrica. Para Gudin, as vantagens comparativas brasileiras estavam na agricultura, onde solo, clima e abundância natural podiam transformar o país num fornecedor global. Seus adversários não pensavam assim.

Durante boa parte do século XX, travou duras batalhas contra o projeto desenvolvimentista-industrialista que marcou a política econômica brasileira. De um lado, Gudin e alguns poucos liberais que enxergavam no mercado externo a oportunidade para o Brasil crescer aproveitando seus recursos naturais. Do outro, os industriais liderados por Roberto Simonsen — então presidente da poderosa FIESP — que viam na indústria o único caminho aceitável para o progresso nacional.

Os métodos industrialistas foram amplos e variados. Montagem artificial de indústrias via empresas estatais, subsídios generosos por meio do recém-criado BNDE (o “S” de social viria depois), protecionismo tarifário, reserva de mercado e convites generosos a multinacionais, como Juscelino fez com a indústria automobilística. Tudo isso regado a discursos de "soberania nacional" e "substituição de importações".

Gudin enfrentou não apenas os industrialistas, mas os populistas de várias matizes — de Getúlio Vargas a João Goulart — e, depois, a tecnocracia desenvolvimentista dos militares pós-1964. Se estivesse vivo hoje, teria novos oponentes: aqueles que, em pleno século XXI, acusam o agronegócio de ser "fascista", "ambientalmente predatório" e "concentrador de renda".

Mas a história, como se vê, pode ser irônica.

O agro resistiu. O agro cresceu. O agro venceu.

Nos últimos 40 anos, o Brasil deixou de ser um importador de alimentos para se tornar um dos maiores fornecedores do planeta. O agronegócio brasileiro cresceu a uma taxa média de 4,07% ao ano nesse período — quase o dobro do crescimento médio do PIB nacional, que foi de 2,3% ao ano. A produção de grãos, por exemplo, saltou 334% nas últimas três décadas, enquanto a área plantada aumentou apenas 71%. Ou seja: mais produção, com menos terra — o que significa produtividade, algo que Gudin sempre pregou.

Em 2023, o setor agropecuário representou 24% do PIB brasileiro, segundo o Cepea/USP. Nas exportações, o agro respondeu por mais de 50% de tudo o que o país vendeu ao mundo. O PIB atual do agronegócio brasileiro — em torno de US$ 600 bilhões — supera o PIB total de países inteiros, como a vizinha Argentina.

Trata-se de um setor que não apenas gera superávit comercial robusto, mas também sustenta o real, alivia as contas públicas e reduz a vulnerabilidade externa do país. É o Brasil competitivo, não o Brasil dependente do BNDES.

E convém ser preciso: quando falamos em agro brasileiro, falamos de tecnologia, de ciência aplicada, de biotecnologia, de manejo racional do solo, de máquinas de última geração, de sementes geneticamente adaptadas, de integração lavoura-pecuária-floresta e de um setor que compete com o que há de melhor no mundo. Este é o agro que sustenta o Brasil.

Muito longe da agricultura familiar romântica de baixa produtividade. E mais distante ainda dos assentamentos do MST, cuja produção é majoritariamente de subsistência ou fortemente subsidiada. O exemplo mais celebrado — e midiático — dessa agricultura foi o arroz orgânico, cuja produtividade é a metade do arroz convencional e cuja produção mal preenche uma fração irrelevante da demanda nacional.

Se o Brasil dependesse da agricultura familiar dos manuais de ONGs e dos assentamentos ideológicos, estaríamos todos na fila da FAO buscando ajuda humanitária.

Mas felizmente havia Eugênio Gudin — e, sobretudo, o Brasil real.

Hoje, as previsões do velho liberal se materializam em cada navio que parte lotado de soja, milho, carnes, açúcar, algodão, café, etanol, celulose. Em cada safra recorde, em cada avanço tecnológico, em cada ganho de produtividade por hectare. O campo, tantas vezes desprezado pelos ecologistas e planejadores do asfalto, ergueu o país e alimenta o mundo.

Gudin venceu. Afinal, a história lhe fez justiça.

Este artigo foi originalmente publicado na Revista Oeste.


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