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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Debate debiloide: voce quer austeridade ou crescimento?

Ou o jornalista é um completo idiota, ou outras figuras, cujos nomes me escuso não mencionar, pensam que somos todos idiotas, ao defenderem o crescimento, a distribuição, os empregos, no lugar da austeridade, da recessão, do desemprego.
Será que eles regulam bem?
Qual é o político são de espírito que vai proclamar sangue, suor e lágrimas para seus cidadãos eleitores?
Qual é o jornalista idiota que acha que recessão é uma escolha política, podendo ser trocada por algo mais palatável?
Ou seja, a pergunta, ou as supostas opções, são completamente idiotas e sem sentido.
Só vai postado aqui para que se constate, mais uma vez, o nível (lamentável) do debate político e econômico neste nosso continente.
Mas, nos outros também: ou os indignados acham que os governos podem escolher entre bondades e maldades como num passe de mágica?
Acho que vou ter de revisar meu artigo sobre o número crescente de idiotas no mundo: ele é muito maior do que alguém pode imaginar...
Paulo Roberto de Almeida 

França, François Hollande, América Latina

América Latina prefere a reativação (François Hollande) à austeridade (Angela Merkel)

Infolatam
Madri, 13 de maio de 2012
Las claves
  • Dilma Rousseff: “estou segura de que poderemos compartilhar posições comuns nos foros internacionais-entre eles o G20- que permitam investir nas políticas recessivas, ainda hoje predominantes, e que, no passado fizeram o Brasil infeliz e à maioria dos países da América Latina”.
(Especial para Infolatam por Rogelio Núñez)-. François Hollande assume na terça-feira, como novo presidente da República francesa. A chegada ao Elísios do líder socialista pode supor um giro às políticas econômicas ortodoxas europeias sustentadas por Angela Merkel. A América Latina parece se inclinar mais pelas teses do novo chefe de Estado francês que pelas sustentadas pela chanceler alemã, pois uma rápida reativação europeia melhoraria o panorama econômico mundial do qual depende a atual prosperidade latino-americana.

As presidentas Merkel e Fernández em um encontro oficial em 2010
Até agora a UE seguiu a receita da chanceler alemã, Angela Merkel, quem advertiu  ao novo presidente francês, o socialista François Hollande, que não pensa romper o pacto de austeridade fiscal que acordou com o presidente que sai do poder, Nicolas Sarkozy: “o pacto fiscal não é renegociável, como não é nenhum outro tratado europeu depois de umas eleições em um país, porque se fosse assim não se poderia trabalhar na UE”.
De todas as formas, muitos analistas, como o ex-presidente do governo espanhol Felipe González, acreditam que “talvez haja um presidente da República francesa que se atreva a lhe dizer que não à senhora Merkel quando não tenha razão”.
Cabe recordar que, durante a campanha, Hollande assegurou que “Merkel estará contra algumas coisas (de suas propostas), mas haverá uma negociação. A Alemanha não vai decidir por toda a Europa”, e depois de seu triunfo ratificou que “a mudança começa agora. A austeridade não pode ser uma condenação”.
Como sustenta Moisés Naim no jornal El País “crescimento ou austeridade? Este é o grande debate destes tempos. Surpreendentemente, propõe-se como um menu no qual os países têm a liberdade de escolher o prato que mais lhes parece. A quem lhe apetece a austeridade? Pagar mais impostos, ter menos e piores serviços públicos, perder subsídios e reduzir a proteção social? Aos alemães. Mas desde que sirva aos seus vizinhos europeus”.
México, Brasil e Argentina apoiam as teses de Hollande
A vitória de Hollande e a possível mudança de política econômica na UE foram bem recebidas na América Latina, pois o bom momento econômico latino-americano depende de que exista uma boa conjuntura econômica internacional, algo que, com tão sérias nuvens negras na Europa, parece difícil.
Os três países latino-americanos no G-20, Brasil, México e Argentina, respaldam a ideia de Hollande de apostar pela reativação antes que pela austeridade estrita de Angela Merkel.

A ideia de Calderón é de que a crise na UE "não só significará a potencial implosão do euro, senão uma crise econômica com consequências devastadoras para o resto do mundo"
Já em sua época o presidente mexicano Felipe Calderón alertou sobre a existência de “uma bomba de tempo. A bomba está na Europa e estamos trabalhando juntos para desativá-la, antes que exploda todos”. Calderón recomendou a Europa que tire “a bazuca imediatamente antes que a pólvora se umidifique… criar um corta-fogos para evitar a queda da terceira e quarta economias europeias (em referência a Itália e Espanha)”.
A ideia de Calderón é que a crise na UE “não só significará a potencial implosão do euro, senão uma crise econômica com consequências devastadoras para o resto do mundo” e a saída da crise está em injetar mais dinheiro pois “quanto mais dinheiro pões no corta-fogos, mais confiança crias, e menos dinheiro precisas, o contrário também ocorre … aqui é onde o apoio internacional é crucial … na Europa, economias solventes precisam urgentemente renegociar suas dívidas e uma  enorme ajuda externa”.
A postura mexicana coincide com a que o Brasil vem sustentando. Dilma Rousseff enviou uma felicitação a François Hollande na qual claramente se inclinava para que ambos governos sejam aliados nos foros internacionais contra as “políticas recessivas”: “estou segura de que poderemos compartilhar posições comuns nos foros internacionais-entre eles o G20- que permitam investir nas políticas recessivas, ainda hoje predominantes, e que, no passado fizeram o Brasil infeliz e à maioria dos países da América Latina”.
A aposta de Hollande e Rousseff seria concordante a favor de “políticas que favoreçam o crescimento, o emprego, a inclusão e a justiça social”.
Do mesmo modo, o antecessor de Rousseff, Lula da Silva, crítico com os planos de auteridade (“castigam às vítimas da crise e distribuem prêmios aos responsáveis. Há algo de equivocado nesse caminho”), deu as boas-vindas à mudança que encarna Hollande (“tenho a segurança de que a liderança terá um importante impacto em toda a Europa, em um momento onde são fundamentais a coragem e a ousadia para que a população do continente recupere a esperança e para que a economia volte a gerar empregos”).
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que tradicionalmente apoiou políticas econômicas nada ortodoxas, também felicitou Francois Hollande e alabou as posturas do dirigente socialista com a qual disse estar em sintonia: “parece-nos muito interessante a postura do novo presidente da França a respeito do crescimento e da necessidade da geração de emprego como um dos instrumentos para enfrentar a crise e não o ajuste … Bem-vindo seja (o novo governo) e tomara que possa atuar e articular com outros membros do G20 para poder fazer coisas que nós viemos dizendo há bastante tempo”.
O socialismo do século XXI e Hollande

Hugo Chávez acha que a vitória de Hollande ratifica que "o povo francês tem reafirmado sua profunda vocação republicana".
Os representantes do socialismo do século XXI veem no triunfo de Hollande uma ratificação das suas teses de maior intervenção estatal e políticas de incremento da despesa pública, sobretudo em temas sociais.
Nessa linha, Hugo Chávez acha que a vitória deHollande ratifica que “o povo francês tem reafirmado sua profunda vocação republicana, que antepõe a vontade política à fatalidade dos mercados, a sensibilidade social à receita financeira, a justiça e a solidariedade à exclusão”.
Evo Morales saudou o triunfo do socialistaFrançois Hollande como a mostra do início de importantes mudanças nas políticas econômicas que até agora a UE impulsionou:  “o complexo contexto mundial que atualmente enfrentamos, caracterizado por uma crise de ordem estrutural que preocupa o âmbito financeiro, energético, ambiental e alimentício, nos propõem a necessidade de seguir impulsionando novos paradigmas que respondam à vontade libertadora e transformadora dos nossos povos”.
Rafael Correa também confirmou que a vitória de Hollande evidencia o fato de que “novos ventos sopram pela França. Eu acho que por toda a Europa”, acrescentou o mandatário, quem recordou que na “Bélgica também chegou um governo socialista”.
A própria chancelaria equatoriana felicitou “por sua vitória ao presidente eleito da França, François Hollande, como expressão do triunfo da democracia no país irmão e seu povo que ‘elegeu a mudança”.
Na Nicarágua, Daniel Ortega foi igualmente claro em seu respaldo a Hollande frente às propostas deMerkel: “valorizamos grandemente essa vitória sua, que reviveu a esperança de justiça social na França, reinstalando os valores republicanos e realçando a sensibilidade e a solidariedade, frente ao império dos mercados”.
A agenda latino-americana de Hollande
O mesmo Hollande se declarou próximo às teses dos dirigentes latino-americanos de esquerda que louvaram suas teses de reativação já que a América Latina “hoje é dirigida por muitos governos progressistas e presidentes que querem também a mudança da situação em seus próprios países”.

O novo presidente francês deverá encontrar um espaço para ter uma agenda latino-americana.
O novo presidente francês deverá encontrar um espaço para ter uma agenda latino-americana já que além da aliança militar com o Brasil, a França deve atender outros frentes como as diferenças com México pelo casoCassez e o problema surgido na Colômbia pelo sequestro de Roméo Langlois pelasFarc.
A viagem de Nicolas Sarkozy em 2009 ao Brasil significou o passo definitivo na aliança franco-brasileira. O mais importante dos convênios assinados referia-se à construção conjunta de um submarino de propulsão nuclear e outros quatro convencionais do modelo francês Scorpene, bem como do estaleiro onde se fabricarão os navios e de uma base naval de apoio.
Quanto ao “caso Cassez”, as relações entre México e França viram-se danificadas nos últimos seis anos por causa da disputa que mantêm por Florence Cassez, uma francesa condenada no México a 60 anos de prisão por sequestro e outros delitos.
Para as autoridades mexicanas, Cassez é um exemplo do sucesso do Governo encabeçado pelo presidente Felipe Calderón na luta contra o crime organizado, enquanto o mandatário francês,Nicolas Sarkozy, converteu-a em uma mostra do seu compromisso com seus compatriotas encarcerados no exterior.
Hollande, no momento, tem assegurado que ”com a América Latina quero ter uma relação coerente e duradoura”.

sábado, 21 de abril de 2012

A (nao) frase da semana: defesa da industria e protecionismo


É esse país que não vai deixar a sua indústria, que é uma indústria razoavelmente complexa, ser sucateada por nenhum processo de desvalorização de moedas nem por guerras comerciais que utilizam métodos, eu diria assim, não muito éticos.
Pronunciada pela presidente da República, no dia do diplomata (20/04/2012), no Itamaraty.
PRA:
Se ouso comentar seria no seguinte sentido.
A indústria relativamente complexa do Brasil vem sendo prejudicada, desde muitos anos aliás, não pela desvalorização de moedas estrangeiras, nem por guerras comerciais. Não vejo nenhum país desenvolvido ou em desenvolvimento empenhado em uma guerra comercial contra o Brasil; não existe irrupção monstruosa de produtos de países desenvolvidos no Brasil. Existe um surto de importações que vem de outro lugar, um aliado do famoso Brics, sempre poupado de qualquer culpa no cartório.
A China, que obviamente não é absolutamente mencionada nesse tipo de declaração -- que se dirige, supostamente, aos países ricos, autores de um fantasmagórico "tsunami monetário" que estaria, de forma deliberada, prejudicando o Brasil -- poderia até ser acusada desse tipo de prática, mas ela não desvaloriza a moeda; ao contrário, o yuan estava teoricamente ancorado no dólar, agora se valorizando progressivamente.
Não os países, mas suas empresas, simplesmente, exportam para quem compra, as simple as that. Não é culpa dessas empresas que importadores brasileiros QUEIRAM importar delas, por razões de qualidade e preço (e lucro para os importadores, evidentemente). Ninguém importa por caridade, para prejudicar alguém, ou como tática conspiratória para desindustrializar um país.
Quais seriam os métodos pouco éticos que alguns escolhem para exportar? Por acaso obrigam os consumidores a escolher seus produtos? Seria a subvaloração? Mas um exportador, ou fabricante faz isso contra seus lucros ou tem condições de oferecer mais barato?
Agora, se existe um inimigo da indústria brasileira, esse inimigo se chama Estado brasileiro, pela carga fiscal, pelo custo do capital, pela falta de infraestrutura, pelos preços cartelizados, enfim, pelo "conjunto da obra", que costuma responder pelo nome de "custo Brasil", um slogan que esconde vários elementos estruturais e muitos outros de tipo político, ou seja, escolhas do governo e da sociedade.
Refletindo, portanto, ou simplesmente constatando, chegamos ¡a conclusão, cristalina, de que todos os problemas da indústria brasileira são, inequivocamente, made in Brazil.
Quando é que o governo, em lugar de buscar bodes expiatórios no estrangeiro -- e nos lugares errados, além de tudo -- vai se ocupar das causas verdadeiras da desindustrialização brasileira?
Paulo Roberto de Almeida 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Debate Econômico: New York TImes


The New york times, APRIL 1, 2012 10:46 PM

Rethinking How We Teach Economics



Liz Meyer
While a protest of an introductory economics classat Harvard University last semester seemed inspired more by the Occupy movement than by academic criticism, it raised questions about how the teaching of economics should change in light of the financial crisis. Indeed, what have we learned in the last five years that should be imparted upon future generations of economists?
Mona Chalabi, a 2011 graduate of Sciences Po in Paris and the author of “The Latest Financial Crisis: International Relations Goes Bankrupt,”suggested this forum.
Read the Discussion: 

DEBATERS




sábado, 18 de fevereiro de 2012

Debates economicos: Keynes vs Hayek, ainda hoje... and going...


Merval Pereira

O GLOBO, 15/2/201
A partir de uma espécie de manifesto de economistas que atuam no movimento “Occupy London”, publicado pelo “Financial Times” em finais de janeiro, ficou-se sabendo que o economista austríaco Friedrich Hayek (Viena, 8 de maio de 1899 — Freiburg im Breisgau, 23 de março de 1992) é um dos inspiradores daquele movimento e, por conseqüência, dos demais espalhados pelo mundo e dos “indignados”, sua versão madrilenha. 
Na verdade, a referência a Hayek no texto, baseada na sua tese sobre a potencialização de inteligências através da cooperação como característica da economia real, é resumida às primeiras linhas, e depois o manifesto bate nas suas teclas preferidas: contra a austeridade e a favor da regulação do sistema financeiro.
Desde que a crise econômica tornou-se explícita, em finais de 2008, com a quebra do Lehman Brothers, a disputa entre os defensores de ações do Estado para superá-la e os que se batem pela redução da ação do Estado fez reviver uma disputa mais antiga, entre o austríaco liberal Hayek e o inglês intervencionista John Maynard Keynes (Cambridge, 5 de junho de 1883 — Tilton, East Sussex, 21 de abril de 1946).
A tal ponto que diversas simulações de um debate entre os dois foram promovidas em várias partes do mundo, inclusive aqui no Brasil.
Na internet há até mesmo uma deliciosa sátira do que teria sido um duelo de rap entre os dois economistas (“Fear the boom and bust”).
A BBC, juntamente com a London School of Economics (LSE), promoveu um debateno meio do ano passado entre defensores dos dois. O economista George Selgin e o filósofo Jamie Whyte falaram por Hayek; o biógrafo de Keynes Robert Skidelsky e o economista Duncan Weldon, por Keynes.
No Brasil, houve um debate em novembro passado promovido pelo Ibmec, no auditório da Academia Brasileira de Letras (parte 1parte 2parte 3), mediado pelo jornalista Guilherme Fiuza. A estudante Virginia Barbosa teve a ideia de replicar o debate da BBC e convenceu o instituto a patrocinar a versão brasileira.
Os convidados foram os economistas Rodrigo Constantino e Roberto Castello Branco, diretor da Vale, como “representantes” de Hayek; e Luis Fernando de Paula, da Associação Keynesiana Brasileira, e Jennifer Hermann, da UFRJ, como “representantes” do Keynes.
O interessante é que esse debate histórico começou por iniciativa de Hayek, que ainda um jovem e desconhecido economista escreveu provocativamente para John Maynard Keynes, então professor no King’s College em Cambridge, na Inglaterra, perguntando-lhe se tinha um exemplar de um livro escrito 50 anos antes por um economista liberal, Francis Ysidro Edgeworth, intitulado “Mathematical Psychics” (“Psique da Matemática”, em tradução livre).
Keynes respondeu com um curto e grosso cartão dizendo que seu estoque de “Mathematical Psychics” havia se esgotado. Hayek guardou esse bilhete a vida inteira e hoje ele está nos seus arquivos, no Instituto Hoover, da Universidade Stanford, na Califórnia.
Nos Estados Unidos hoje, há quem compare os republicanos com as teorias de Hayek, enquanto a política do presidente Barack Obama seria claramente keynesiana.
O megainvestidor George Soros, que defende que a orientação alemã de austeridade para a crise europeia está equivocada e levará ao desastre a zona do euro, seria um keynesiano puro.
O livro de Nicholas Wapshott “Keynes Hayek: The Clash That Defined Modern Economics”, da editora W. W. Norton, lançado no final do ano passado nos Estados Unidos, mostra que as simplificações não servem para marcar as diferenças entre os dois economistas, pois também tinham pontos em comum.
Keynes, por exemplo, diz Wapshott, compartilhava com Hayek a descrença no socialismo. Para Hayek, socialismo e fascismo eram “demônios gêmeos”. Por seu turno, Hayek admitia que, em caso de desemprego crônico, o planejamento podia ter um papel sem levar ao totalitarismo.
Em 1944, Hayek lançou “O caminho da servidão” (“The Road to Serfdom”), que se tornou um clássico do liberalismo econômico. Ele dava sempre o exemplo do que aconteceu à Alemanha com o nazismo para criticar qualquer tentativa de controle estatal, mas Keynes rebatia, lembrando que o fascismo não foi fomentado pelo governo poderoso, e sim pelo desemprego em massa e pela falência do capitalismo.
O economista Armando Castelar, da FGV do Rio, acha que é um pouco difícil relacionar o “Occupy” com Hayek, pois o movimento seria “uma demanda de caráter distributivo, baseada em fundamentos éticos, não em argumentos econômicos”.
Também acha que o debate Republicanos x Democratas não pode ser construído nessas linhas. Hayek e Keynes debateram sobre o ciclo econômico, enquanto as desavenças entre os dois partidos é de caráter mais estrutural: os republicanos querem reduzir gastos e impostos; os democratas, aumentar os dois. Em ambos os casos, em caráter permanente, não como forma de lidar com a crise.
Já o argumento de Soros ele considera puramente keynesiano: há, de fato, diz ele, a percepção de que a ênfase na disciplina fiscal a curto prazo na Europa, que os alemães defendem como condição para ajudar países insolventes ou pelo menos ilíquidos, vai aumentar a recessão, sendo potencialmente um risco pelo lado político.
Afora isso, diz Castelar, o Hayek é reconhecido pelo papel na defesa do liberalismo econômico, algo a que Keynes não se opunha. O economista Rodrigo Constantino, fundador do Instituto Millenium e adepto fervoroso de Hayek, diz que Soros sem dúvida defende o lado keynesiano. “Ele quer mais estímulos, mais liquidez artificial, para evitar uma recessão com risco de espiral deflacionária. É um ponto de vista legítimo, ainda que eu discorde”.
Mas Constantino pergunta: quando os keynesianos defendem a austeridade então? “Na época da bonança, silêncio; na época das crises, mais estímulo para evitar recessões”. Sobre a crise atual, ele diz que a postura de Hayek (e dos “austríacos”) seria a de que inundar os mercados com mais liquidez não resolve nada, apenas potencializa os problemas no futuro.
Para os “austríacos”, os ciclos se devem às distorções na taxa de juros pelos bancos centrais, gerando os “malinvestments”. Quando os juros são mantidos abaixo do patamar “normal” (ou de equilíbrio), os investidores acreditam haver mais poupança disponível do que há na verdade, e partem para projetos que outrora seriam rejeitados. Isso produziria as bolhas.
A recessão seria o ajuste necessário para limpar o organismo desses excessos, ajustar a estrutura de capital da economia.
“Quando os governos e bancos centrais não permitem tais ajustes, eles prolongam os problemas, gerando bolhas ainda maiores depois. Foi assim para evitar o crash de tecnologia, parindo a bolha imobiliária. E desta vez podem gerar novas bolhas, talvez o ouro, ou mercados emergentes, incluindo o Brasil”.
Ele admite que poucos defendem a postura de Hayek nesta crise, pois entendem que a magnitude da bolha chegou a patamares tão assustadores que “deixar o mercado se ajustar por conta própria” poderia ser catastrófico, como em 1929.
“Mas a saída keynesiana apenas joga mais lenha na fogueira, como um bêbado tentando se manter eufórico com mais bebida, para evitar a ressaca”. 
Para ele, Angela Merkel, de fato, seria a que mais se aproxima da receita “austríaca”, no sentido de insistir que não basta inundar os mercados com mais dinheiro, e que é preciso fazer ajustes estruturais.
“O problema que vejo para esta saída, que considero correta, é a sua viabilidade política. Estamos vendo na Grécia o que os pacotes de austeridade causam. É um confronto muito duro com a realidade. A inflação visa a ganhar tempo”.
Rodrigo Constantino admite que “claramente Keynes tem se saído vitorioso no debate, uma vez mais”.
Mas, como alguém simpático aos alertas de Hayek, ele adverte que corremos o risco de termos problemas ainda maiores à frente. “No afã de evitar o sofrimento hoje, vamos construir um monstrengo ainda pior amanhã”.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Debate Keynes vs Hayek: nacional (ABL)

Não se trata do famoso combate do século, em formato de dois videos com personagens cantando um longo "rap econômico" -- que eu já postei aqui pelo menos duas vezes -- mas de um debate no Brasil, ainda assim esclarecedor.
Retirado do blog de José Roberto Afonso (link):


Debate Keynes x Hayek (Barbosa/IBMEC-RJ)

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Debate Keynes x Hayek, indicado por Luiz F. de Paula, organizado por Virginia Barbosa com apoio do IBMEC-RJ, com objetivo de realizar uma discussão sobre o atual cenário econômico financeiro à luz de dois ilustres economistas: John Maynard Keynes e Frederich Hayek. Com participação de Luiz Fernando de Paula, Jennifer Hermann, Rodrigo Constantino, Roberto Castello Branco e Guilherme Fiuza. O evento foi realizado na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro." Video 1) http://bit.ly/uzJREC 2)http://bit.ly/rDygRL 3) http://bit.ly/tR11ne

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Duas ou tres coisas que cabe falar sobre a economia (2) - Mansueto Almeida

Vamos continuar este exercício-lúdico-didático de trazer um pouco de luz ao debate econômico, já que as autoridades econômicas se esmeram em escurecer o ambiente, com suas frases otimistas demais, ou diretamente enganadoras, que não têm nada a ver com a realidade.
Para isso, me apoio novamente no economista Mansueto Almeida.
Como este que vos escreve, trata-se igualmente de um funcionário, aliás de um órgão ainda mais estratégico para a formulação de políticas econômicas, do que o que constitui meu antro de trabalho, que não tem qualquer influência sobre esse campo das políticas públicas.
Mas, também como eu, o Mansueto não costuma deixar o cérebro em casa, ou deixá-lo depositado na portaria, quando segue para o trabalho. Ele usa seus neurônios para refletir e ponderar sobre quais seriam as melhores políticas públicas para o Brasil.
Não vamos achar que o debate se esgota nestas duas ou três questões aqui formuladas, mas avancemos devagar que é para não cansar certas pessoas.
Paulo Roberto de Almeida

Entrevista à rádio CBN

Segue o link para aqueles que se interessarem em escutar a entrevista que dei hoje ao jornalista Carlos Alberto Sardenberg da rádio CBN (clique aqui). A entrevista foi baseada em uma nota simples que fiz, na semana passada, e que havia repassado ao jornal Estado de São Paulo. O jornalista Fernando Dantas aproveitou para fazer matéria publicada hoje na primeira página do caderno “Economia & Negócios” do jornal (clique aqui).
O ponto é simples: com a forte desaceleração esperada para o PIB e a necessidade de aumentar o investimento público, tornou-se elevada a chance de o governo Dilma repetir o mesmo ritmo de expansão do gasto público do governo Lula ou até superar o governo Lula. É claro que se o Brasil estivesse crescendo a 5% seria muito mais fácil acomodar os aumentos de gastos como ocorreu em 2008, quando o PIB cresceu 5,1% e, apesar do crescimento real dos gastos em quase R$ 20 bilhões, a despesa não financeira do governo federal passou de de 17,1% do PIB para 16,6% – uma queda em relação ao PIB.
O risco é se o PIB não ajudar e, agora, com esse regra formal de indexação do mínimo a dinâmica ficou pior. A propósito, apesar de eu achar que a politica do salário mínimo tem cada vez mais um custo elevado frente ao benefício, esse é um debate político. A sociedade pode até decidir por aumentos maiores.
Não cabe a um economista dizer qual deve ser a regra de reajuste do salário mínimo. Estou apenas emitindo uma opinião pessoal quando falo que essa politica tem um custo elevado frente à formas mais eficazes de combater pobreza e desigualdade como o programa bolsa-família e maiores investimento em educação. Mas vários amigos meus discordam de mim e acham que a política atual de reajuste do salário mínimo é boa.
Eu discordo deles porque não conheço no mundo nenhum caso de um país que tenha conseguido reduzir, sistematicamente, a pobreza e a desigualdade por meio de uma política agressiva de aumentos do salário mínimo. Se souberem de algum exemplo específico por favor me mandem a referência. E como já falei, o Brasil tem mecanismos mais eficazes e baratos para aumentar a renda dos mais pobres no curto-prazo, como o bolsa-família e, no longo-prazo, eu prefiro maiores investimentos em educação pré-escolar e educação básica, e  melhoria na progressividade da tributação.

Duas ou tres coisas que cabe falar sobre a economia (1) - Mansueto Almeida

Sempre é bom colocar as cartas na mesa e falar claramente as coisas que precisam ser ditas.
Em economia, por exemplo, tem muito achismo, no Brasil.
Um dos economistas que combatem achismos e que dizem as coisas que devem ser ditas é o funcionário do IPEA Mansueto Almeida , não por isso aderente a certos achismos que por lá pululam atualmente, e não por ser funcionário público menos independente de pensamento ou com menos argúcia nos argumentos.
Funcionários públicos, como costuma ser frequentemente o caso, acabam aderindo a um padrão róseo do mundo que justifica todas as bobagens que são ditas pelos dirigentes, ou tendem a ser excessivamente chapa-brancas, concordando automaticamente com todos os equívocos do governo.
Não parece ser o meu caso, nem o do Mansueto, por isso me permito postar aqui uma de suas contribuições que eu chamaria de realismo sensato. Nada a ver com o surrealismo mágico do governo e dos governistas.
Segue a primeira postagem:
Paulo Roberto de Almeida

Um pouco de verdade seria bom para o debate

Mansueto Almeida

Há coisas que se leem nos jornais e que passam despercebidas porque essas declarações têm como objetivo fazer o bem, ajudar outros países e setores, mas, na prática, partem de uma lógica equivocada.
(1) Precisamos criar rapidamente o Banco Sul para ajudar a Argentina que não tem um banco de desenvolvimento.
Os argentinos se queixam de que linhas de financiamento, como o Finame, do BNDES, dão vantagens para as companhias brasileiras no continente. Está fora de questão, até por motivos legais, estender o Finame aos vizinhos, mas o fundo no Banco do Sul poderá reduzir o desconforto na Argentina, acredita o assessor do Planalto (O Ministro Marco Aurélio Garcia) .” (Do Valor Econômico, 14 de dezembro de 2011)
O Ministro Marco Aurélio Garcia declarou em matéria recente no Valor Econômico que, dada a impossibilidade de utilizar o BNDES para financiar empresas estrangeiras fora do Brasil, que “pensamos em criar no Banco do Sul uma espécie de fundo especial para ajudar a Argentina nessas questões”, disse Garcia, que prefere não dar detalhes, por  envolverem “tecnicalidades”.
O Banco Sul ainda está para ser criado com capital de US$ 7 bilhões e o Brasil deverá colocar entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões neste banco. Mas essa preocupação especifica com a Argentina não faz sentido.
Deveríamos ensinar a Argentina como criar o seu próprio banco de desenvolvimento que é simples: cria-se um novo imposto para financiar as operações desse banco e/ou aumenta-se a dívida para emprestar recursos para esse banco. Mas se a Argentina quer ter um banco de desenvolvimento sem aumentar impostos e sem aumentar a dívida, nesse caso, são eles que precisam nos ensinar como fazer tal mágica.
(2) “A indústria brasileira precisa das mesmas condições de competitividade das empresas na China”
Li hoje no valor que um grupo de empresários de associações empresariais diferentes serão recebidos pelo Ministro da Fazenda. Da forma que a matéria foi escrita me veio à mente o filme “O Poderoso Chefão” com aquela fila grande de pessoas pedindo favores ao Don Corlleone, que deveria arbitrar a quem entender e de que forma atender a esses pedidos. Olhem o primeiro parágrafo da matéria e vejam se eu não tenho razão:
“A expectativa dos empresários do setor industrial que vão se reunir hoje em São Paulo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é não sair do encontro de mãos vazias. Apesar de o objetivo da reunião ser apresentar um balanço do ano, os industriais se preparam para colocar na mesa suas reivindicações e esperam que algumas delas sejam atendidas. Os pedidos “natalinos” dos setores variam de desoneração tributária à crédito para o consumo de bens. (Valor Econômico, 15/12/2011: Perto do Natal, indústria espera ‘presentes’ de Mantega)”
Mas o que mais me chamou atenção foi a seguinte afirmação do presidente da Abit: “O que o setor quer é uma condição igualitária de competição com a China. A gente não pode deixar que os subsídios internos que eles têm destruam empregos no Brasil”.
Os empresários no Brasil têm que entender uma realidade dura. Eles jamais terão a mesma condição de competitividade de uma empresa na China porque Brasil e China adotam modelos diferentes de crescimento. Na China, as politicas sociais são limitadas e, consequentemente, a carga tributária é baixa: menos de 20% do PIB. Ademais, como o governo gasta pouco com transferências para famílias, concentra o uso dos recursos no investimento público e financiamento do investimento privado. Se há algum paralelo é o Brasil dos anos 70.
Hoje, no Brasil, o eleitor fez opção por um modelo diferente e, como empresários fazem parte da sociedade, estão no mesmo barco que todos nós o que significa pagar uma carga tributária elevada e participar de pacto social que ai está, o que implica gastos sociais crescentes. Assim, esqueçam, pois vocês jamais terão no Brasil, na manufatura, “condição igualitária de competição com a China”.
 É verdade que diferenças de tributação podem ser resolvidas em uma economia aberta via taxa de câmbio (a moeda mais desvalorizada pode neutralizar a maior carga tributária em relação a uma economia de menor carga tributária),  mas o nosso modelo atual de crescimento nos leva a uma maior especialização no que já temos vantagem comparativas (commodities) e, assim, a valorização do real piora ainda mais o cenário para indústria. E a desvalorização induzida do Real para digamos, R$ 2.40/US$ 1; significaria redução do salário real dos trabalhadores e, novamente, a quebra do pacto social atual no qual os eleitores querem consumir mais e desejam política sociais mais ativas.
Empresários, levem suas demandas não para o Ministro da Fazenda, mas sim para os candidatos ao longo do processo eleitoral que seria a época de questionarmos o nosso modelo de desenvolvimento. Por enquanto, o goveno está seguindo à risca o que prometeu ao seu eleitor e ainda falta 0,5% do PIB para acabar com a extrema pobreza até 2014.