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sábado, 1 de outubro de 2011

Educacao brasileira: nao esta' tao ruim que nao possa piorar mais um pouco...

Já disse várias vezes que sou moderadamente pessimista quanto à marcha da economia brasileira. Acho apenas que estamos num ciclo -- que pode durar muitos anos -- de mediocridade, feito de baixo crescimento, de problemas ocasionais, de tapa-buracos e de expedientes improvisados porque o governo fica tergiversando, em lugar de atacar o principal: a absurda carga de impostos e os gastos governamentais excessivos (que mantêm os juros altos, etc...).
Agora, quanto à educação, sou ABSOLUTAMENTE PESSIMISTA. Tudo vai continuar piorando pelo futuro indefinido, sem qualquer chance de melhorar. Não existe NENHUM RISCO de que possa melhorar. Tudo será feito para que piore cada vez mais...
Paulo Roberto de Almeida 



Reinaldo Azevedo, 
30/09/2011 08:35:23

Ah, como é cheia de indignação a razão dos tolos! Escrevi na terça-feira um texto intitulado O Brasil precisa de menos sociólogos e filósofos e de mais engenheiros que se expressem com clareza, comentando uma proposta estúpida do secretário de educação de São Paulo, Herman Voorwald, que quer reduzir a carga horária de português e matemática do ensino médio público de São Paulo. Em seu lugar, a depender do currículo (haveria três), entrariam aulas de sociologia, filosofia, espanhol, artes e física.
Pra quê!!! Foi um deus-nos-acuda! Alguns, creio, filósofos e sociólogos ficaram indignados, achando que quero banir a sociologia e a filosofia do país. Houve até quem indagasse: “E o que diria seu queridinho FHC?” FHC não é meu “queridinho”. É um ex-presidente da República, o mais importante que o país já teve. Achei que tinha ficado claro que ia lá um tanto de ironia, como em toda generalização. E até citei duas obras de Marx — o dos furúnculos no traseiro (isso, então, gerou alguns comentários engraçados, como se eu tivesse ofendido uma divindade!) — que, com absoluta certeza, boa parte dos cretinos que me atacaram não leu. Se soubessem do que falo, teriam percebido o tal viés irônico. Eu nada tenho a fazer com esse grau de estupidez.
Ainda ontem, no Estadão acho, Voorwald, o insaciável, comentava que, a despeito do número de aulas, que ele certamente considera grande, de português e matemática, os alunos têm um mau desempenho nas provas oficiais. O governador Geraldo Alckmin deveria demiti-lo. Há o risco de este senhor fazer uma grande bobagem na educação paulista porque é incapaz de pensar com lógica e porque parece tendente a transformar inação em categoria de pensamento. Ora, segundo o gigante, se o desempenho dos estudantes é ruim com a carga que temos, então por que não reduzi-la? Não é estupendo? Mais: se há sinais de que essas aulas não estão funcionando, qual é seu dever funcional? Atuar para que funcionem. Ele prefere cortar e ministrar outras disciplinas que também não funcionam… Se as medidas que propõe forem implementadas, haverá certamente uma queda no desempenho dos alunos do estado nas provas oficiais — isso é certo como dois mais dois são quatro; ou eram, antes de ele chegar à Secretaria. Percebo, um tanto estarrecido, que o homem não está sozinho nesse pensamento. Muitos dos que me escreveram acham a mesma coisa: “Já que os resultados são ruins, então que se corte a carga…” Deus do céu!
Nove entre dez pessoas que me atacaram — não publiquei as ofensas; vão ofender a vovozinha! — vêm com aquela conversa horripilante de que sociologia, filosofia e artes ensinam o aluno “a ter espírito crítico”. Infelizmente, chama-se “espírito crítico” o proselitismo ideológico vagabundo, ignorante, pilantra, vigarista, picareta, bucéfalo (acrescentem aí quantos adjetivos desse paradigma quiserem) que hoje grassa nas escolas, inclusive, e muito especialmente, nas particulares, “de elite”. Está cheio de comunista (ainda há isso no Brasil; na China, já acabou!) de meia-tigela que não quer saber de fazer pregação no Capão Redondo, sem ar condicionado. Prefere os Jardins, o Morumbi e o Alto de Pinheiros porque é mais tranqüilo pregar as virtudes do socialismo para os filhos da Dona Zelite. O efeito positivo insuspeitado, nessa camada social ao menos, é que os alunos ficam com o saco cheio de conversa mole. Uma boa forma de combater o comunismo (sim, a escola brasileira é um parque dos dinossauros ideológicos) é deixar que os comunistas falem o que pensam…
Mas é claro que também fazem um mal imenso aos alunos. Tomam o seu tempo. Essa gente tem o topete, a ousadia e o mau-caratismo de querer substituir a família na construção dos valores dos indivíduos. Cumpre, sim, ao corpo docente ser procurador do regimento da instituição a que pertence e das leis do país — estamos, afinal, numa democracia. É pura mistificação esse negócio de que seu papel é “ensinar o aluno a pensar” — como se esse “pensamento” a ser ensinado fosse neutro e não estivesse eivado por valores ideológicos. Seria, sim, de todo desejável que a escola, HOUVESSE TEMPO PARA ISSO, ministrasse um bom curso de história da filosofia e contrastasse o entendimento das várias correntes da sociologia. Mas não é isso o que se vê porque boa parte dos cretinos, repetindo os alemães que o próprio Marx esculhambava em “A Ideologia Alemã”, estão menos ocupados em formar os estudantes do que em transmitir os seus valores.
Há, sim, uma perda enorme de tempo e energia. Querem um exemplo escandaloso? O currículo de geografia é o samba-do-submarxista-ignorante-e-doido. Há nele, e os livros da disciplina o demonstram, um pouco de tudo: sociologia, filosofia, economia, política, ecologia… Há até geografia!!! Aquele professor de antigamente, do qual se faz caricatura, que dava chamada oral para saber se o estudante havia decorado os afluentes da margem direita do Amazonas, era intelectualmente mais honesto. O currículo se perdeu. Tudo é possível! E o mesmo acontece, com raras exceções, nas aulas de filosofia e sociologia.
Sim, eu fiz uma generalização um tanto irônica para chamar a atenção para o gosto que a escola brasileira tem pela conversa mole, pelo discurso, pela retórica vazia, pela saliva. Isso está patente nos livros didáticos. Há autores que analisam a sociedade em Roma Antiga segundo os critérios com que Marx, o furunculoso, analisava o capitalismo inglês do século 19. Eu poderia dizer que o “fazem na maior cara-de-pau”. Mas é coisa pior do que isso: é burrice mesmo, falta de formação, falta de inteligência.
É escandaloso que esse pensamento da escória esquerdista tenha de ser combatido em 2011? É, sim! Isso dá conta do nosso atraso — daqui a pouco vou escrever um texto sobre a Faculdade de Direito da USP, a lendária São Francisco, só para deixar claro que a demagogia e a estupidez atingem o alto escalão do ensino universitário também. Muito se reclama da falta de verba da educação, das condições precárias do ensino, dos baixos salários… Sim, tudo sempre pode ser melhorado. Mas o dinheiro não é tão pouco que justifique tanta ruindade. O que há mesmo é falta de gestão.
Querem mais filosofia, artes e sociologia no ensino médio? Muito bem! Então, primeiro, será preciso aumentar o tempo de permanência do estudante na escola — como fazem, aliás, alguns estabelecimentos privados que ministram essas disciplinas sem prejuízo do português e da matemática, que são, na verdade, duas linguagens, duas ferramentas que organizam as demais áreas do saber. Se, hoje, são ministradas de forma precária, não será reduzindo a carga que se vai chegar a algum lugar. O estado oferece essa alternativa? Ainda que oferecesse, os estudantes — muitos deles trabalhadores — têm como ficar mais tempo na escola?
Não, senhores! Uma coisa não pode ser feita em prejuízo da outra! Mais: é preciso definir o repertório dessas aulas de filosofia e sociologia. O que vai ser ensinado? Quais são os textos de referência? A cascata de que “o aluno precisa aprender a pensar” é só um misto de arrogância com vigarice ideológica — no geral, dá-se de barato que o sujeito só pensa quando comunga de valores da esquerda. Vai ver é por isso que só existe socialismo propriamente dito em Cuba (já é possível vender carro velho por lá…), no Laos e na Coréia do Norte. A China e o Vietnã já redescobriram a economia de mercado.
Quando afirmei que precisamos de menos sociólogos e filósofos e de mais engenheiros, alertava para a necessidade de a escola ser mais objetiva, mais técnica e menos retórica. Era, assim, uma espécie de metonímia. Mas poderia ser linguagem puramente referencial. Com a economia crescendo a 4%, 5% ao ano, faltam mesmo engenheiros no mercado. Filósofos e sociólogos do tipo que temos produzido são bons para depressão econômica. Em tese, fica mais fácil vender o peixe do socialismo — um peixe do século 19.
*
E um PS para o professor Herman Voorwald: as escolas particulares de elite — já existe esse serviço também para os pobres — certamente não acatariam a sua sugestão cretina. Isso só serviria para aumentar o fosso, que já é gigantesco, entre o ensino público e o privado.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Quando o bom senso vai prevalecer? Na area educacional vai demorar mais uns 20 ou 30 anos..

Continuando minhas postagens debilóides -- ou seja, de coisas abjetas, com as quais não concordo, e que até repudio absolutamente -- e que ainda assim colo aqui, como contra-exemplo de tudo o que não se deve fazer, e que continua a ser feito no Brasil.
Não tenho nenhuma ilusão quanto à educação no Brasil: NÃO EXISTE NENHUM RISCO DE MELHORAR NOS PRÓXIMOS VINTE ANOS, se não mais.
Para melhorar, seria preciso que as pessoas -- MEC, pais, professores, pedagogas, alunos -- tomassem consciência do que está errado -- e TUDO está errado -- e começassem a corrigir agora para que dentro de 15 ou 20 anos a coisa pudesse melhorar um pouquinho, a partir da formação de uma nova carreira de professores, não influenciados pela pedagogia freireana - o que me parece impossível atualmente -- e baseados no mérito individual (e remuneração diferenciada, sem estabilidade), com o que teríamos, talvez, eventualmente, hipoteticamente, uma educação um pouquinho melhor do que o lixo que temos atualmente.
Isso não existe e não vai existir, não existe nenhum risco de que isso ocorra.
Basta ver a mentalidade debilóide desse líder de "oposição de esquerda" à UNE para saber que estamos afundando rapidamente em direção à mais completa mediocridade, e que vamos continuar afundando pelos anos à frente, até perder de vista.
Sinto muito pelos que me lêem, e que tem de confiar os seus filhos às escolas brasileiras (quaisquer, privadas ou públicas); vocês vão ter a debilidade mental constituída em sistema. Com isso não quero ofender todos os professores. Sei que existem os bons, e os que se desesperam com a situação falimentar da educação brasileira, e que até gostariam que fosse diferente, liberta das máfias sindicais e dos debilóides freirenos do MEC, mas isso não vai ocorrer.
Sinto muito mesmo. Espero que dentro de 20 anos, com muita decadência brasileira, e com base nos "profetas do apocalipse" (como este que aqui escreve), as pessoas consigam tomar consciência de que a educação brasileira é muito pior, mas muito pior do que eles conseguem imaginar, e comecem, portanto, o trabalho de reconstrução. Mas acho que vai demorar.
Sinto muito pelos contemporâneos, vocês não verão uma educação decente no Brasil nos próximos 20 anos. Lamento.
Paulo Roberto de Almeida

Unir os sotaques em luta: a juventude em movimento

Por Rodolfo Mohr *

“Presidenta, não se preocupe. Este é o Rodolfo, líder da oposição de esquerda da UNE. E eu sou o líder da situação de esquerda da UNE”. Dessa forma, André Tokarski, Presidente da União da Juventude Socialista e ex-Diretor da UNE, ajudou a “quebrar” o clima, na reunião dos diretores da UNE, da UBES e da ANPG com a Presidente Dilma, dia 31 de agosto.
Exatamente antes de Tokarski, apresentei o que seria o nosso único compromisso com o governo: seguir ocupando reitorias, trancando escolas e realizando passeatas por todo o Brasil. Nossa pauta: 10% do PIB para Educação para garantir as urgentes demandas das educação brasileira em todos os níveis.
Ainda disse que vamos enfrentar o governo, que novamente apresenta o orçamento da união com quase 50% dos recursos destinados para o pagamento da dívida pública, eufemismo para a bolsa-banqueiro. A educação segue com cerca de 5%. Evidentemente Dilma e os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência da República) e Fernando Haddad (Educação) não gostaram nada do que ouviram, o descontentamento estava explícito.
Antes e depois dessa reunião, mobilizações estouraram por todo o país contra o projeto educacional do governo petista. Além de insuficiente, o REUNI não foi cumprido na integralidade. De fato se consumaram as críticas de 2007, ano do decreto que instituiu a expansão, de que não se podia duplicar as vagas nas universidades públicas com apenas R$ 2 bilhões de reais.
Das capitais ao Brasil profundo: de Santa Maria-RS a Teresina
No dia seguinte a reunião, 1º de setembro, a Reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foi ocupada pelo movimento estudantil. Melhorias para o Hospital Universitário de Santa Maria, concurso público para professores e servidores para diversos cursos, mais recursos para Assistência Estudantil – reformas das Casas de Estudante em Santa Maria e ampliação das moradias em Frederico Westphalen, o direito de 3 refeições diárias no Restaurante Universitário, além de diversas pautas específicas e gerais que retratam o descaso com a Educação Pública. Já são 8 dias de ocupação.
A ampliação promovida nas Universidades federais estava mais vinculada à produção de estatísticas para a campanha de Dilma Presidente do que com o atendimento da demanda da juventude brasileira de acesso à educação pública, gratuita e de qualidade.
Na semana seguinte a reunião com a Presidente, ocorreu uma importante rebelião estudantil e popular em Teresina no Piauí. O prefeito Elmano Férrer (PTB) propôs aumento da tarifa de ônibus de R$ 1,90 para R$ 2,10. A primeira manifestação contrária juntou 200 estudantes e foi duramente reprimida pela tropa de choque da Polícia Militar com spray de pimenta e tiros de bala de borracha. A indignação cresceu e durante cinco dias a população mobilizada, nos últimos juntos cerca de 15 mil pessoas, incendiaram ônibus e barraram o aumento. O prefeito voltou atrás e congelou o preço por 30 dias, prorrogáveis por mais 30. Essa primeira vitória, mesmo parcial, é um marco crucial. Lutas contra os aumentos das tarifas de ônibus ocorreram em todo o país. Em São Paulo, durante dez semanas consecutivas, ocorreram manifestações na Avenida Paulista, de janeiro a março. Porém, somente em Belém havia se obtido vitória como em Teresina.
Durante o mês de agosto, a UFPR protagonizou a única greve geral na federais. Técnico, professores e estudantes passaram quatro semanas mobilizados por uma série pautas semelhantes as da UFSM e do conjunto das mobilizações. Diversas assembleias e trancaços, culminaram com ocupação da Reitoria e a vitória da queda de braço com a Reitoria. Conquistaram construção de moradia estudantil nos três campi da UFPR, aumento de 20% do valor das bolsas-auxílio e 50% de aumento da quantidade de bolsas, bem como o atendimento do Restaurante Universitário todos os dias da semana, incluindo os finais de semana.
Em Niterói, a Reitoria da UFF foi ocupada duas vezes, em 15 dias, pelo movimento estudantil, encabeçados pelo DCE e pela Oposição de Esquerda da UNE. Na primeira vez foram retirados pela polícia através de uma reintegração de posse. Reocuparam dias depois, obrigando a Reitoria a negociar as pautas. Após seis dias conquistaram quase a totalidade das pautas, semelhantes as da UFSM com o acréscimo de questões específicas. A força da mobilização promoveu uma das ocupações de reitoria mais vitoriosas desde a queda de Thimothy da UnB.
15 de outubro: retomar as barracas e ocupar as praças
No Brasil real cresce a indignação com a precarização da vida, a inflação, o endividamento das famílias e as lutas por educação, transporte e moradia. Menos de 9 meses de governo foram suficientes para mostrar que a suposta “apatia” dos brasileiros está dando lugar a uma crescente mobilização. Começou em Jirau nas obras do PAC, passou pelos bombeiros do Rio e pelas lutas da passagem dos ônibus, chegando as Reitorias ocupadas. UFPR, com greve geral das 3 categorias, UFSC, UFF, UFSM, Instituto Federal de Ensino Tecnológico da Bahia. A greve dos técnico-administrativos das Universidades Federais, já com cem dias, escancarou o descaso com esta categoria. Além da escandalosa absolvição de Jaqueline Roriz, que beneficiada pelo voto secreto não foi cassada na Câmara dos Deputados, numa articulação feita pela base aliada de Dilma.
Devemos unir todas as lutas brasileiras e internacionais. Este é o chamado que fez a plataforma Democracia Real Ya da Espanha. Propuseram o dia 15 de outubro como o Dia Mundial de Acampamentos de Praças por Democracia Real. Atendemos no Brasil esta convocatória entusiasmados com a possibilidade de ocupar praças em cinco continentes. Infelizmente, não há praças a serem ocupadas na Antártida.
Democracia Real se converteu em uma pauta que congrega todas as nossas bandeiras econômicas e políticas. Chega de privilégios para os banqueiros e políticos, chega de corrupção, basta de miséria e descaso. É necessário que se ampliem os meios de participação da população em todas as decisões fundamentais do seus países. Para os espanhóis contra o bipartidarismo, para os chilenos que querem educação pública, gratuita e de qualidade e para nós brasileiros tão longe dos nossos direitos.

* Rodolfo Mohr é Diretor de Movimentos Sociais da Executiva da UNE pela oposição de esquerda. Estuda jornalismo na UFRGS e é do Juntos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A tragedia educacional brasileira: nao existe nenhum risco de melhorar nos proximos 20 ou 30 anos...

Sou, como muita gente sabe, moderadamente pessimista quanto aos rumos da economia brasileira. Acredito -- não, tenho certeza -- que vamos continuar crescendo a taxas medíocres e acumulando desequilíbrios, desequilíbrios e desigualdades pelo futuro previsível, isso se não ocorrer um desastre maior, mas em princípio acho que vamos apenas continuar na mediocridade de crescimento.
Agora, quanto a educação eu sou ABSOLUTAMENTE pessimista, e continuo mais pessimista ainda, se ouso dizer, ou seja, sou crescentemente pessimista. Acredito que a coisa ainda vai piorar muito, e que não há NENHUM risco de melhorar no futuro previsível, e até onde a vista nem alcança...
Este é o resultado de uma das mais pavorosas deformações da sociedade brasileira, e a tragédia se completa pois praticamente ninguém, salvo meia dúzia de alucinados -- como eu e este jornalista abaixo, Reinaldo Azevedo -- percebe a tragédia em CONSOLIDAÇÃO.
Bem, vou parar de lamentar e simplesmente postar a matéria e o comentário.
Paulo Roberto de Almeida

A miséria da educação no Brasil. Ou: O país que não está nos discursos
Reinaldo Azevedo, 25/08/2011 16:13:21

Do Portal G1:
Uma avaliação feita com alunos que cursaram em 2010 o 3º ano do ensino fundamental de escolas públicas e privadas do país mostra que menos da metade (42,8%) das crianças aprendeu o mínimo do que era esperado no conteúdo de matemática para este nível do ensino.

O resultado da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) mostrou ainda que 56,1% dos alunos aprenderam o que era esperado em leitura, e 53,4% dos estudantes tiveram desempenho dentro do esperado em redação.

Os dados acima consideram a média entre alunos de escolas públicas e privadas. Entretanto, o levantamento registrou diferença significativa no desempenho entre estudantes dos dois grupos. (Veja tabela abaixo)
A avaliação foi feita com alunos do 3º ano do ensino fundamental; ele é o equivalente à 2ª série do antigo ensino primário. Nessa fase, os alunos têm, em média, oito anos.

A Prova ABC mostra ainda uma grande variação entre as regiões do país e as redes de ensino (pública e privada). Sul e Sudeste obtiveram os melhores desempenhos, enquanto Norte e Nordeste mostraram as piores avaliações.

A prova foi aplicada no primeiro semestre deste ano para cerca de 6 mil alunos de escolas municipais, estaduais e particulares de todas as capitais do país para medir seu conhecimento do conteúdo até o 3º ano. A avaliação foi elaborada em uma parceria do Todos Pela Educação com o Instituto Paulo Montenegro /Ibope, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Cada criança respondeu a 20 itens (questões de múltipla escolha) de leitura ou de matemática (o aluno fez testes de apenas uma das duas áreas). Além disso, todas elas escreveram uma breve redação, a partir de um tema único. O objetivo foi avaliar o nível de conhecimento adquirido pelos alunos ao final do terceiro ano, que representa o fim do ciclo básico de alfabetização.

Matemática
Na prova de matemática, o objetivo era obter no mínimo 175 pontos para mostrar domínio da adição e subtração e conseguir resolver problemas envolvendo, por exemplo, notas e moedas. Estes 175 pontos correspondem ao conhecimento esperado dos alunos desta série segundo escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

No total, 42,8% do total das crianças tendo aprendido o que era esperado para esta etapa do ensino em matemática. A média nacional foi de 171,1 pontos, sendo que entre os alunos da rede privada foi de 211,2 pontos, a da rede pública ficou em 158,0 pontos.
“As pessoas acham que alfabetização é apenas saber ler e escrever. Tem que se pensar na alfabetização numérica também, precisamos desde cedo que nossas crianças saibam as operações básicas de matemática”, diz o professor Ruben Klein, da Cesgranrio. “Para que o país possa ter conhecimento tecnológico e formar engenheiros é preciso desde cedo ter uma boa formação em matemática.”

A média de 42 pontos percentuais entre os alunos da rede pública e os da rede privada chamou a atenção na pesquisa.

Os pesquisadores destacam a preocupação em se corrigir o problema ainda na educação básica. “A tendência é este desempenho piorar nas séries mais avançadas”, diz Klein. “Pesquisa com estudantes que estão terminando o ensino médio mostra que só 11% atingem o conhecimento mínimo em matemática.”

Leitura
Na prova de leitura, os alunos, entre outras tarefas, tinham que identificar temas de uma narrativa, localizar informações, identificar características de personagens e perceber relações de causa e efeito contidas nestas narrativas. A média foi de 185,8 pontos na escala, sendo 216,7 pontos entre alunos da rede privada e 175,8 pontos para estudantes da rede pública. A médica nacional (incluindo escolas públicas e privadas) foi de 56,1%

Escrita
Na prova avaliação de escrita, a média esperada do desempenho dos alunos na redação era de 75 pontos. A média nacional ficou em 68,1 pontos, sendo a média das escolas públicas de 62,3 pontos e a das privadas 86,2 pontos.
“Todas as crianças deveriam atingir 100% de aproveitamento. É um direito básico de educação”, afirma Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação. “É preciso um investimento pesado na formação de professores e na educação infantil. Para reduzir a desigualdade social é também preciso reduzir esta desigualdade educacional.

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A doença da educação brasileira é ideológica. E seu nome é “petismo”
Reinaldo Azevedo, 25/08/2011

No post das 16h13, há um retrato do ensino no Brasil, revelado pela Prova ABC. É uma vergonha! Digam o que disserem, acreditem: não chegamos a isso por falta de verba. Dada a realidade do país, o Brasil gasta bastante com a educação. Não dispomos é de mecanismos eficazes para avaliar a qualidade do trabalho feito nas escolas e intervir para corrigir as deficiências.

Sempre que o debate é colocado, tudo termina na ladainha sindical de sempre: se os professores fossem mais bem pagos, tudo seria diferente. Essa é uma das falácias mais influentes no setor. Seria estúpido afirmar que salários maiores fariam mal aos alunos — e, com efeito, há realidades dramáticas em certas áreas do país. A verdade insofismável, no entanto, é que o aumento da remuneração poderia fazer bem aos professores sem mudar uma vírgula na qualidade de ensino.

Há um coquetel de problemas que resulta nesse desastre. Embora tenham naturezas distintas, têm algo em comum: desprezam o aluno, que deixou de ser o centro da preocupação das escolas — em especial, dos educadores. Vamos ver. Os estados e municípios, pouco importa o salário que paguem, não dispõem de mecanismos para promover os competentes e punir os incompetentes.

O estado de São Paulo, na gestão Serra, instituiu um sistema de promoção salarial por mérito. A escola melhorou, provaram os exames. Os petista-cutistas da Apeoesp foram às ruas protestar. Chegaram a queimar livros didáticos em praça pública, os fascistas! Neste momento, a Apeoesp tenta negociar com a Secretaria da Educação o fim do modelo. Os valentes não querem saber de mérito. Eles gostam é do demérito que iguala todos por baixo. Os alunos que se danem! No Brasil inteiro, a educação é refém da militância política, especialmente a petista — quando não está entregue a radicais à esquerda do PT.

Embora as escolas privadas não sejam lá grande coisa, já demonstraram alguns outros indicadores, a Prova ABC evidencia que o desempenho dos estudantes dessas instituições é muito superior ao das escolas públicas. A razão é simples: a cobrança é maior.

O ensino — também em boa parte das escolas privadas, note-se — está corroído por uma doença ideológica. Boa parte dos “educadores” acredita que sua função não é ensinar português, matemática e ciências, mas princípios de cidadania, com o objetivo de formar “indivíduos conscientes”. Alunos seriam pessoas “oprimidas”, que precisam passar por um processo de “libertação”. O mal que a paulo-freirização fez à escola levará gerações para ser superado. Todos os mitos ideológicos que Paulo Freire criou com seu método de alfabetização de adultos foram transferidos para a educação de crianças e jovens. O resultado é devastador. Escrevo sobre esse assunto há anos. Era um dos temas recorrentes da revista e site Primeira Leitura.

À pedagogia “libertadora” de Paulo Freire se juntou, mais recentemente, a turma da “pedagogia do amor”, de que Gabriel Chalita é um dos formuladores. Em vez de educar, o professor liberta; em vez de educar, o professor ama. Se toda essa conversa mole der errado, há o risco até de a escola ensinar alguma coisa. O fato é que o cruzamento de Freire com Chalita resulta em ignorância propositiva e amorosa.

Enquanto objetivos claros não forem estabelecidos e enquanto as várias esferas do estado não dispuserem de instrumentos de intervenção para exigir qualidade, podem esquecer. A reação bucéfala às medidas modernizadoras implementadas pelo governo Serra, em São Paulo, demonstra que a raiz do problema é, sim, ideológica. O sindicato dos professores foi usado como mero instrumento da luta política. De dia, a presidente da entidade, a notória Bebel, fazia passeata; à noite, encontrava-se com Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência, e era tratada como heroína.

E uma última questão por ora: deixem um pouco o sociologismo fora disso. Essa conversa de que é impossível ensinar alunos com fome, vindos de lares desestruturados etc. não cola mais. A fome é exceção no Brasil. A imensa maioria das famílias pobres é mais organizada e hierarquizada do que as de classe média e média-alta — o tal “povo” é bastante conservador nessas coisas. Desorganizado e desestruturado, no que concerne à educação, é o estado brasileiro.

domingo, 3 de julho de 2011

Universidades brasileiras: avestruzes introvertidos...

Sim, o avestruz supostamente é conhecido por colocar a cabeça num buraco na terra, quando em perigo. Não sei se é folclore essa história, ou se tem fundamentos reais.
Um avestruz introvertido, então, é a pior situação possível: além de estúpido, só vive a sua própria situação.
Enfim, não sei quanto aos avestruzes, mas o que eu tenho certeza é que as universidades brasileiras são piores do que avestruzes introvertidos, pois sem perigo nenhum, sem qualquer ameaça externa, decidem se fechar estupidamente ao exterior.
Nem todos, ou todas, são assim, obviamente, mas a maioria é: muita gente estudou no exterior, e os programas de cooperação se desenvolvem, mas o fato é que não temos estrangeiros aqui, tanto estudantes (salvo alguns de países assistidos), quanto professores (apenas de curta duração).
A matéria abaixo trata dessa triste realidade:
Paulo R. de Almeida

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Universities in Brazil are too closed to the world, and that's bad for innovation
By Ronaldo Lemos
Posted on June 15th, 2011 at 11:18 am

When Brazilian president Dilma Roussef visited China in the beginning of May, she came back with some good news (maybe too good to be entirely true). Among them, theannouncement that Foxconn, the largest maker of electronic components, will invest US$12 billion to open a large industrial plant in the country. The goal is to produce iPads and other key electronic components locally.

The announcement was praised, and made it quickly to the headlines of all major newspapers. There is certainly reason for excitement. Brazil lost important waves of economic development, including industrialization (which only really happened in the 1940´s), or the semiconductor wave, an industry that has shown but a few signs of development in the country until now.

Leiam o resto aqui.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Educacao no Brasil: debate no GloboNews Painel

Ver o vídeo em: http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1636693-17665-312,00.html

Especialistas debatem o novo plano de educação no país

Uma boa educação pública iguala as oportunidades.

A educação é importante para o país, para a sociedade, na medida em que forma bons profissionais que são mais produtivos. E profissionais mais produtivos contribuem para o crescimento da economia. Uma boa educação pública iguala as oportunidades, faz com que todos tenham a mesma chance na vida. Para tratar deste tema, foram convidados o educador Mozart Neves Ramos; a diretora executiva da Fundação Lemann, Ilona Becskeházy; e e a diretora da Fundação Tide Setúbal, Maria Alice Setúbal.

O convidados analisam a metologia aplicada nas escolas e universidades brasileiras. O educador Mozart Neves Ramos destacou que o mais importante atualmente é a interação em sala de aula. Segundo os participantes da discussão, o papel do professor é fundamental. Ele precisa tornar a aula atrativa, usar novas tecnologias pra trazer o aluno para a discussão.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Um outro Enem é possível...

Possível até que é, mas não com esse pessoal incompetente.

Novo fiasco do Enem 
Editorial - O Estado de São Paulo, 9.11.2010

Se havia alguma dúvida sobre a capacidade do Ministério da Educação (MEC) de recuperar a imagem do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e evitar que sua desmoralização comprometesse todo o sistema de avaliação escolar, ela foi desfeita nesse fim de semana com a prova aplicada a cerca de 3,4 milhões de estudantes. Além de avaliar a qualidade do ensino médio, o Enem é usado como processo seletivo para muitas instituições públicas de ensino superior - principalmente as universidades federais.

Dessa vez os problemas decorreram de falhas de montagem de um dos cadernos da prova, o que levou os estudantes a se deparar com textos repetitivos e falta de questões. Além disso, os cartões de resposta foram impressos de forma invertida - fato que não foi comunicado à maioria dos candidatos. No sábado, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), o mesmo que fracassou na organização do Enem de 2009, divulgou que quem foi induzido a erro, no preenchimento do cartão, poderá solicitar que a prova seja corrigida “ao contrário”. Isso dá a medida da inépcia administrativa do MEC.

Por um balanço extraoficial, os problemas ocorridos com o Enem envolveram 20 mil provas. Mas, segundo o reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo de Souza Jr., o número de provas impressas com falhas seria de 30 mil. A instituição foi encarregada, juntamente com a Fundação Cesgranrio, de preparar as questões.

Embora as autoridades educacionais tenham afirmado que nenhum aluno será prejudicado, nem o Inep nem o MEC sabem ainda qual é a extensão das falhas ocorridas e de que modo elas poderão ser corrigidas. A aplicação da prova foi classificada como um “desastre” pela OAB. O Ministério Público Federal anunciou que poderá ingressar com ação judicial pedindo a anulação do exame. A Defensoria Pública da União anunciou que tomará iniciativa semelhante. No Ceará, a Justiça Federal concedeu liminar determinando a suspensão imediata do Enem. E a Associação Nacional das Instituições Federais de Ensino Superior reconheceu que a insegurança jurídica acarretará para as universidades problemas ainda mais graves do que os criados pelo Enem de 2009.

No ano passado, os problemas começaram quando se constatou que o MEC não dispunha de infraestrutura adequada para fazer inscrições pela internet. Em seguida, o Inep determinou que vários estudantes deveriam prestar o exame em colégios situados a mais de 300 quilômetros das escolas em que estavam matriculados. Depois, a prova vazou dois dias antes de sua realização, deixando claro que as autoridades educacionais não haviam tomado as medidas de segurança necessárias. Isso as obrigou a preparar um novo teste às pressas, a um custo superior a R$ 30 milhões, e aplicá-lo dois meses após a data prevista, o que desorganizou o calendário das universidades. Na sequência de confusões, constatou-se que várias questões da nova prova tinham viés ideológico. E, no dia em que ela foi aplicada, o MEC divulgou o gabarito errado.

Em 2010, as dificuldades começaram com falhas de logística e amadorismo no planejamento, o que levou à substituição do presidente do Inep. Em seguida, descobriu-se que os dados pessoais dos candidatos às três últimas edições do Enem tinham vazado. Com isso, informações que deveriam ser mantidas em sigilo foram expostas no site do Inep com acesso livre. Depois o MEC se atrapalhou na escolha dos órgãos responsáveis pela formulação das questões, o que acabou criando problemas para a licitação da gráfica e atrasando a contratação de cerca de 300 mil pessoas, entre coordenadores, aplicadores e profissionais encarregados da correção.

Esse é o quadro, descrito com o máximo de objetividade, da desmoralização do Enem. Mas o principal responsável por ele não parece preocupado. Muito pelo contrário. De fato, o presidente do Inep, José Joaquim Soares Neto, dizendo-se “orgulhoso” pela aplicação do Enem, considera que “não houve problemas graves”.

Apreciação sobre a qual os alunos prejudicados teriam muito a opinar…

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Educacao: um comeco de diagnostico, possiveis solucoes - Claudio Moura Castro

Um dos melhores, senão o melhor especialista em educação no Brasil, faz um diagnóstico muito claro dos problemas e oferece as possiveis soluções para a tragedia que é a educação brasileira. Como depende de mudar a cabeça de milhares, centenas de, professores, talvez dure certo tempo, algumas dezenas de anos, provavelmente. Enfim, não é para ficar desesperado, mas também não dá para achar que estamos no caminho certo. Não, não estamos, sequer existe consenso na sociedade sobre o que fazer. E o governo, então, está fazendo tudo errado.
Paulo Roberto de Almeida

Entrevista
Educação é ensinar a pensar
Cláudio de Moura Castro economista e especialista em educação, 72
Jornal O TEMPO, 10/10/2010

Conselheiro de Ciência e Tecnologia da Presidência da República, além de membro de órgãos consultivos de instituições como Inhotim, CNI e Fiesp, esse carioca criado em Minas Gerais é crítico mordaz do sistema educacional brasileiro, além de frasista da melhor qualidade. Para Cláudio, o grande gargalo da educação brasileira é a chatice - matérias que nada têm a ver com o aluno - e, por isso, uma reforma é urgente.

Temos hoje no Brasil alguns cientistas reconhecidos internacionalmente. São casos isolados ou bons frutos do sistema educacional brasileiro? Veja bem, o caso brasileiro é parecido com a Índia, onde a taxa de analfabetismo é da ordem de um terço da população, e os que estão frequentando escolas estão em instituições tão ruins ou piores do que as brasileiras. Não obstante, a Índia tem sete institutos federais de tecnologia que são padrão de grandes universidades e recrutam dentro do bilhão de habitantes. Cria-se um filtro dentro do filtro e acaba com gente extremamente competente e dedicada. A comparação é válida porque mostra que se pode ter um sistema educacional muito ruim e bons doutores. Essa solução não é boa, nem no Brasil, nem na Índia. Bom seria que partisse de uma base muito maior. Veja a Suíça, que tem uma grande produção de prêmios Nobel com uma população de 7 milhões.

Por que o sistema brasileiro é ruim? Porque começamos com vários séculos de atraso. Em 1450, apenas 15% da população da Europa era alfabetizada. Em 1.500, com Guttemberg, passou para 30%. Em 1900, 15% da população de Portugal era alfabetizada - estava no nível da Europa pré-imprensa -, e nós herdamos esse sistema educacional. No Brasil de 1900, 10% da população era alfabetizada. Há 50 anos, as estatísticas educacionais brasileiras eram bem pior do que as do Paraguai, Bolívia, Equador, para não falar da Colômbia. Começamos atrás desses países, já os passamos e estamos nos aproximando de Argentina, Uruguai e Chile, que são os melhores na América Latina.

Qual a razão dessa - comparativamente - rápida alfabetização por aqui? A economia brasileira cresceu mais em termos de PIB bruto do que qualquer país no mundo entre 1870 e 1980. A melhoria da educação do Brasil é fruto dessa demanda do setor produtivo que precisa de gente mais competente. Muito mais do que um voluntarismo de um setor público iluminado como houve por exemplo na França.

O que é necessário para melhorar a educação no país? Pesquisa recente mostrou que 70% dos pais estão satisfeitos com a escola no Brasil. Ou seja, não estão dispostos a brigar por uma escola melhor, e os políticos não vão brigar por isso porque não têm o apoio da sociedade. Esse é o maior entrave: a falta de percepção de que não basta ir para a escola e passar um monte de anos como hoje, pois o aluno não aprende.

O currículo escolar brasileiro é ruim em relação ao de outros países? De uma maneira geral, a estrutura é muito parecida. Em todos os lugares tem direito, medicina, engenharia etc. Há um primeiro e segundo graus que têm a mesma cara. O grande problema é que tentamos ensinar mais do que aluno dá conta de aprender. Os currículos são frondosos, exagerados. Em Cingapura, um livro de matemática da quarta série tem oito tópicos. O livro brasileiro tem 56. Cingapura está lá em cima no índice Pisa da OECD (Programa para Avaliação Internacional de Alunos, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, nas siglas em inglês). Isso mostra que o brasileiro vai ouvir falar dos 56 tópicos e não vai aprender nenhum.

Mas, nas últimas reformas curriculares, aumentou-se esse currículo, com aulas de cultura negra, filosofia, sociologia, línguas. Estamos no caminho errado? Cada vez mais se torna mais remota a possibilidade de se aprender realmente. Quando se ensina assunto demais, o aluno aprende de menos (sic). Educação não é entupir o aluno com datas, lugares e eventos. Educação é ensinar a pensar, e isso se consegue com foco, tempo para praticar estilos de pensamento e se exercitar isso, o que não é possível com a avalanche curricular que temos, sobretudo no ensino médio, que é um desastre monumental.

Qual seria a alternativa? Reduzir o número de matérias, e a maneira de fazer isso é criar um currículo mínimo. Todos têm de fazer ciência, história, matemática português e deixar que as escolas completem o currículo com coisas que são de interesse e estão ao alcance dos alunos. Deveríamos eliminar a ideia de um currículo único para todos.

O grande gargalo na educação brasileira ainda é a seleção para o curso superior? Não. O grande gargalo chama-se chatice, no ensino médio, que é supremamente aborrecido, saturado de matérias desinteressantes. São matérias distantes do mundo do aluno e impossíveis de serem apreendidas. Os alunos estão saindo no meio e a deserção do ensino médio é alarmante, um terço apenas termina. A taxa de aproveitamento do médio para o superior no Brasil é das maiores do mundo - cerca de 80% daqueles que se formam no colégio vão para a faculdade. As escolas particulares têm mais vagas do que alunos. Hoje, o que não tem é aluno para o ensino superior.

O Enem melhorou o ensino brasileiro? Não tivemos tempo para saber se o novo Enem cumpre o que prometeu. Tivemos uma aplicação extremamente conturbada e não temos uma avaliação da prova. E o Enem foi mudado há um ano, pois antes era uma prova só de raciocínio e precisou de um pouco mais de currículo escolar para servir como vestibular. A ideia é perfeita, mas, se a dose curricular foi exagerada, eu não posso dizer e não há consenso hoje.

Sobre educação infantil, como lidar com a chamada geração Y, que chega à escola sabendo computação e por vezes tem mais informação do que o professor sobre determinado assunto? Se informação fosse educação, é esse o aluno que deveria dar aula para o professor. Mas educação é saber usar o conhecimento. É fazer sentido desse colosso de informação que está aí. Isso o aluno não sabe. O que o professor tem de fazer é botar o aluno para pensar disciplinadamente, usando problemas do nosso cotidiano.

Como o professor pode colocar limite nessas crianças? Ele deve oferecer um ensino relevante e não ser envergonhado em relação à disciplina. Hoje o professor tem vergonha de mandar no aluno. A escola tem vergonha de disciplinar. Essa confusão entre autoridade e autoritarismo faz com que as coisas se precipitem, até que o professor tem de usar sua autoridade para que a casa não venha abaixo, mas aí já está em um conflito.

Seria a volta da palmatória? Irrelevante, não estou pregando isso. Estou pregando que o professor tem de aceitar exercer a autoridade sobre o aluno desde o primeiro dia de aula e não achar que autoridade é autoritarismo. Uma pesquisa com os dez melhores alunos do Enem mostrou que todos vieram de escolas com disciplina muito forte e rígida. Essas são as pessoas que estão indo para as melhores universidades e tendo melhor desempenho.

Se o professor ganhar melhores salários, a educação no país melhora? Impacto zero. Se pegar os 27 Estados brasileiros e botar salários de um lado e desempenho do outro, seja Ideb ou Prova Brasil, a correlação é zero. Não há nenhuma associação entre o nível de salário dos professores e o desempenho do Estado.

O professor brasileiro é bem formado? Esse é o desastre. Se tivesse de mexer em alguma coisa seria na formação do professor, porque as faculdades de educação, públicas e privadas, têm uma reputação muito ruim e recrutam os alunos mais fracos, na média. Depois, essas faculdades viraram redutos ideológicos, e as pessoas ficam estudando luta de classe ou então teorias pedagógicas muito rarefeitas e complicadas. O que eles fazem é aprender as palavras, mas não aprendem nem o conteúdo nem a dar aula