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quarta-feira, 4 de setembro de 2019

O Senado e a diplomacia - Paulo Roberto de Almeida

Depois de tomar conhecimento da pesquisa de opinião que indica que a designação do filho do presidente como embaixador em Washington recebeu 70% de DESAPROVAÇÃO da população brasileira, resolvi postar novamente meu artigo sobre esse erro monumental do presidente.

3497. “O Senado e a diplomacia”, Brasília, 3 agosto 2019, 3 p. Artigo para a imprensa sobre a indicação para embaixador em Washington. Publicado em versão resumida, no jornal O Estado de S. Paulo (14/08/2019, p. A2; link: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,o-senado-e-a-diplomacia,70002966504). Publicado em versão completa no site do Livres (link: https://www.eusoulivres.org/artigos/nepotismo-ameaca-credibilidade-da-diplomacia-brasileira/); republicado no blog Diplomatizzando (15/08/2019; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/08/o-senado-e-diplomacia-paulo-roberto-de_15.html). Relação de Publicados n. 1319.

O Senado e a diplomacia 

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, lotado na Divisão do Arquivo; professor no Uniceub, Brasília; organizador, com o embaixador Rubens Barbosa, do livro: Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (São Paulo: Saraiva, 2012);
Publicado, em versão resumida, no jornal O Estado de S. Paulo (14/08/2019, p. A2; link: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,o-senado-e-a-diplomacia,70002966504). Publicado em versão completa no site do Livres (link: https://www.eusoulivres.org/artigos/nepotismo-ameaca-credibilidade-da-diplomacia-brasileira/). Relação de Publicados n. 1319.


Historicamente, durante décadas, chanceleres brasileiros foram selecionados dentre os parlamentares, na verdade por mais de um século, no Império e na maior parte da República. Eram recrutados mais na Assembleia Geral – a Câmara do Império – do que no Senado. Mas os senadores vitalícios prestavam relevantes serviços quando no Conselho de Estado, cuja área diplomática teve papel decisivo, ainda que meramente consultivo, no encaminhamento de processos decisórios que marcaram época nos anais de nossa diplomacia, com ênfase nos assuntos regionais – sobretudo no Prata – e nas relações com as grandes potências. Vale consultar os pareceres do Conselho, vários assinados por senadores, todos eles publicados.
Quando não eram parlamentares eram grandes tribunos, juristas, ou jornalistas e professores. O Visconde do Rio Branco combinava todas essas qualidades: chefe de governo, várias vezes ministro, instituiu o cargo de consultor jurídico na antiga Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros, iniciativa retomada por seu filho no Ministério das Relações Exteriores da República. O Parlamento preservava inteira autonomia e controlava de perto os atos do ministro, como na recusa do acordo que o primeiro chanceler republicano, Quintino Bocaiúva, fez com a Argentina, pelo qual ela abocanharia boa parte do atual território de Santa Catarina. Ruy Barbosa, antigo membro do Conselho de Estado, primeiro ministro da Fazenda da República, senador, não foi chanceler, mas desempenhou funções diplomáticas, a mais famosa delas como delegado na segunda Conferência da Paz da Haia, em 1907.
O sucessor do Barão do Rio Branco, Lauro Muller, era parlamentar, assim como Nilo Peçanha e também Epitácio Pessoa, senador, designado chefe da delegação às negociações de paz de 1919, aliás, eleito presidente mesmo estando em Paris. Oswaldo Aranha (embaixador em Washington antes), Afonso Arinos de Mello Franco, San Tiago Dantas, foram brilhantes parlamentares que serviram como chanceleres, assim como, mais recentemente, os senadores Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aloysio Nunes.
Chefes de missões diplomáticas, embora mais raramente, podiam ser designados dentre notáveis nomes da política ou da magistratura. No Império e na República velha, os diplomatas no exterior formavam uma carreira distinta da dos funcionários da Secretaria de Estado, e ambas da dos cônsules, que eram considerados simples negociantes de “secos e molhados”. As carreiras foram unificadas nos anos 1930; desde então, missões permanentes no exterior foram tradicionalmente ocupadas por funcionários de carreira. Ainda assim, tivemos um “barão” da imprensa – Assis Chateaubriand, em Londres –, e um banqueiro, Walter Moreira Salles, duas vezes embaixador em Washington. Mas sempre sob o rigoroso escrutínio da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal. Esta chegou a recusar uma ou outra designação – sequer chamou para sabatina um preferido do general Ernesto Geisel – e, mais recentemente, recusou aprovação a um outro nome, justamente por considerar que havia abuso de parentesco (era irmão do ministro da vez, diplomata).
A tendência de se designar diplomatas de carreira como chanceleres – limitada nos regimes anteriores – se ampliou durante o período militar, com uma sobrevida temporária durante os governos do PT. No período de transição voltaram os senadores, e outros haveria para o exercício do cargo, mas o governo Bolsonaro preferiu um diplomata de carreira, aliás, um que jamais foi embaixador – ou seja, chefe de missão permanente – ou que tenha exercido relevantes serviços na diplomacia. Agora, cogita nomear alguém totalmente sem experiência nas lides internacionais como representante diplomático junto à mais importante embaixada do Brasil no exterior. A Comissão de Relações Exteriores jamais se defrontou com um caso desse tipo, tanto mais inédito por se tratar de nepotismo explícito, ou de claro “filhotismo”.
Não existem precedentes na carreira, ou fora dela, embora filhos de presidentes ou de ministros tenham exercido chefias de postos. Um – Rodrigues Alves Filho –, foi admitido depois da morte do pai; outro – Afonso Arinos, filho –, sem conexão com as funções eletivas do pai e a despeito delas: como é a norma desde 1946, ele e todos os outros têm de passar no concurso do Instituto Rio Branco. Alguns, educados no exterior, nunca lograram êxito nos exames, notoriamente difíceis, talvez por deficiências no Português. Seria de se presumir que o atual indicado seja um exímio conhecedor das relações internacionais, tenha domínio perfeito do inglês e de várias outras matérias, além de uma boa familiaridade com a agenda diplomática brasileira e mundial, que é o que se exige nos concursos de admissão. Ele já tentou alguma vez?
Não considerando o aspecto moral da indicação – segundo a senadora Simone Tebet um “erro estratégico” do presidente –, resta a questão, a ser cuidadosamente examinada pelos senadores, da capacidade do indicado para tal função. Cabe registrar seu notório apreço pelo atual presidente americano – visível em visitas com o boné da reeleição –, o que já seria um impedimento substantivo a um seguimento isento, independente, das políticas daquele país. Não se trata apenas da hipótese de um opositor ser eleito em novembro de 2020, mas do diálogo que se deve manter com amplos setores da sociedade americana, cuja maioria urbana e mais educada esmagou, com milhões de votos, o vencedor no colégio eleitoral.
Que tipo de informação objetiva – que é o mínimo que se espera de um embaixador – poderá oferecer à chancelaria brasileira, contendo uma análise equilibrada das políticas de um governo com o qual está empaticamente identificado? Como seria ele visto na Câmara, atualmente dominada por uma maioria de oposição ao presidente? Como vai ser com os diplomatas profissionais, dotados de maior experiência em assuntos internacionais do que ele mesmo? E o que farão os ministros, conselheiros, secretários mais antigos, ao se defrontar com um chefe de posto notoriamente despreparado para tratar dos mais diversos assuntos da agenda bilateral, hemisférica e internacional, financeira, política e cultural, como é o caso dessa embaixada que vale quase por uma chancelaria inteira?
A CREDN-SF tem um imenso desafio pela frente, uma vez que o que está em causa é a própria credibilidade da diplomacia brasileira junto ao país com o qual já tínhamos relações ainda antes da independência, e laços formais desde 1824. O primeiro embaixador do Brasil, designado por Rio Branco em 1905, se chamava Joaquim Nabuco, elevado a essa categoria sem precedentes na diplomacia brasileira justamente para servir em Washington.

Brasília, 3/08/2019; publicado, em versão resumida, no jornal O Estado de S. Paulo (14/08/2019, p. A2; link: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,o-senado-e-a-diplomacia,70002966504). Publicado em versão completa no site do Livres (link: https://www.eusoulivres.org/artigos/nepotismo-ameaca-credibilidade-da-diplomacia-brasileira/). Relação de Publicados n. 1319.

  

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

I promessi sposi (Manzoni), mas aplicado a um Bolsokid: embaixada em Washington

O presidente boquirroto não consegue se conter no seu esporte habitual de falar bobagens, inclusive ridicularizando seu próprio filho, a quem prometeu, ou se dobrou à demanda de nomeação como embaixador em Washington, primeiro dizendo que não queria vê-lo derrotado, depois que era uma espécie de casamento com uma virgem, que na verdade se revela grávida antes da cerimônia.
Lembrei-me imediatamente do famoso romance de Alessandro Manzoni, I Promessi Sposi (Os Noivos), publicado pela primeira vez em 1827, quando a Itália ainda se encontrava ocupada por potências estrangeiras.
Ainda vamos ter novas declarações absurdas a respeito desse patético projeto de enviar um patético representante junto a um patético presidente, o mesmo homem que atua contra os interesses do Brasil, não apenas na questão dos imigrantes, mas sobretudo no plano do comércio internacional.
O patético presidente americano está desmantelando, destruindo todas as instituições multilaterais criadas pelos Estados Unidos desde Bretton Woods. O futuro patético (se for) embaixador bolsonarista junto à corte trumpista já fez declarações inaceitáveis contra os honestos trabalhadores imigrantes brasileiros nos EUA, dizendo que eles seriam uma "vergonha para o Brasil". Vergonha é o dito deputado, que não defende os interesses de seus concidadãos, para apoiar, vergonhosamente, a construção do muro trumpista na fronteira com o México.
Nunca antes na diplomacia brasileira tivemos seres tão patéticos no comando da política externa brasileira.
Paulo Roberto de Almeida


Placar da indicação de Eduardo Bolsonaro à embaixada nos EUA

Senado poderá aprovar ou rejeitar a indicação do filho do presidente ao cargo em Washington; para que Eduardo seja confirmado como embaixador, são necessários 41 votos dos 80 senadores que votam (maioria simples); o presidente da Casa não vai votar

O Estado de S. Paulo, 21/08/2019

Caso seja indicado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) será sabatinado na Comissão de Relações Exteriores. Independentemente do resultado na comissão, o nome segue para o plenário do Senado, que fará uma votação. Caso seja nomeado para a embaixada em Washington, Eduardo se tornará a primeira pessoa sem carreira na diplomacia a assumir o posto desde o fim da ditadura militar (veja quem foram os embaixadores desde 1986). A indicação do filho presidente tem sido criticada por ex-embaixadores. 

O Estado procurou todos os 81 senadores e perguntou como eles votariam em relação à indicação do filho do presidente ao cargo. Ao Estado, a assessoria de Davi Alcolumbre, presidente do Senado, informou que o senador não votaria, ainda que o regimento da Casa permita.





15 A FAVOR



  1. PSDRJ
    Arolde de Oliveira


  2. DEMRR
    Chico Rodrigues


  3. MDBTO
    Eduardo Gomes


  4. PODEPI
    Elmano Férrer


  5. MDBPE
    Fernando Bezerra Coelho


  6. PSLRJ
    Flávio Bolsonaro


  7. PSDBDF
    Izalci Lucas


  8. PSBGO
    Jorge Kajuru


  9. PPRS
    Luis Carlos Heinze


  10. PPAC
    Mailza Gomes


  11. PSLSP
    Major Olimpio


  12. MDBAC
    Marcio Bittar


  13. PSLMS
    Soraya Thronicke


  14. PPGO
    Vanderlan Cardoso


  15. PSCPA
    Zequinha Marinho

29 CONTRA



  1. CIDASE
    Alessandro Vieira


  2. PODEPR
    Alvaro Dias


  3. PSDBA
    Angelo Coronel


  4. PSDMG
    Carlos Viana


  5. PDTCE
    Cid Gomes


  6. MDBRO
    Confúcio Moura


  7. MDBAM
    Eduardo Braga


  8. PODECE
    Eduardo Girão


  9. CIDAMA
    Eliziane Gama


  10. REDEES
    Fabiano Contarato


  11. PTPE
    Humberto Costa


  12. PTBA
    Jaques Wagner


  13. MDBPE
    Jarbas Vasconcelos


  14. PTRN
    Jean Paul Prates


  15. PODERS
    Lasier Martins


  16. PSDBSP
    Mara Gabrilli


  17. CIDAES
    Marcos do Val


  18. PTRS
    Paulo Paim


  19. PTPA
    Paulo Rocha


  20. PSDBAM
    Plínio Valério


  21. REDEAP
    Randolfe Rodrigues


  22. Sem partidoDF
    Reguffe


  23. MDBAL
    Renan Calheiros


  24. PSDBAL
    Rodrigo Cunha


  25. PTSE
    Rogério Carvalho


  26. MDBMS
    Simone Tebet


  27. PODERN
    Styvenson Valentim


  28. PSBPB
    Veneziano Vital do Rêgo


  29. PDTMA
    Weverton

29 NÃO QUISERAM RESPONDER



  1. PDTRO
    Acir Gurgacz


  2. PSDBMG
    Antonio Anastasia


  3. PPPB
    Daniella Ribeiro


  4. MDBSC
    Dário Berger


  5. PPSC
    Esperidião Amin


  6. PROSAL
    Fernando Collor


  7. REDEPR
    Flávio Arns


  8. PSDTO
    Irajá


  9. MDBPA
    Jader Barbalho


  10. DEMMT
    Jayme Campos


  11. PLSC
    Jorginho Mello


  12. MDBPB
    José Maranhão


  13. PSDBSP
    José Serra


  14. PSLMT
    Juíza Selma


  15. PSBDF
    Leila Barros


  16. PSDAP
    Lucas Barreto


  17. MDBPI
    Marcelo Castro


  18. DEMRO
    Marcos Rogério


  19. DEMSE
    Maria do Carmo Alves


  20. PSDMS
    Nelsinho Trad


  21. PODEPR
    Oriovisto Guimarães


  22. PSDBA
    Otto Alencar


  23. PSDBMA
    Roberto Rocha


  24. DEMMG
    Rodrigo Pacheco


  25. PODERJ
    Romário


  26. PODEES
    Rose de Freitas


  27. PSDBCE
    Tasso Jereissati


  28. PLMT
    Wellington Fagundes


  29. PROSRN
    Zenaide Maia

7 INDECISOS



  1. PPPI
    Ciro Nogueira


  2. PDTTO
    Kátia Abreu


  3. MDBGO
    Luiz do Carmo


  4. PRBRR
    Mecias de Jesus


  5. PSDAM
    Omar Aziz


  6. PSDAC
    Sérgio Petecão


  7. PROSRR
    Telmário Mota

1 NÃO VOTAM



  1. DEMAP
    Davi Alcolumbre