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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Eleições 2002: nota da Comissão Brasileira Justiça e Paz: por eleições democráticas e livres de manipulações religiosas

 Comissão Brasileira da Justiça e Paz (CBJP), unindo-se com dezenas de organizações, lança nota sobre o cenário eleitoral de 2022:  

 

Prezado/a,

Nesta Nota denuncia-se “Pessoas de boa fé e devoção se sentem confusas quando representantes políticos fazem uso indevido do nome de Deus. Ainda mais desnorteadas se sentem quando líderes religiosos acusam apenas uma parte política de “não valorizar a família e a vida”, ao ponto de condenar quem votar nela. O voto é um direito democrático e deve ser exercido com liberdade a partir do discernimento consciente de cada pessoa”.

E finalmente, conclama-se “que o direito ao voto seja exercido com consciência e de forma livre para eleger, democraticamente, governantes e parlamentares que promovam realmente “o bem comum, a justiça social, a defesa integral da vida, da família e da Casa Comum” (Mensagem dos Bispos ao povo de Deus, setembro 2022) e que os resultados das urnas eletrônicas sejam respeitados e as pessoas eleitas possam exercer seus mandatos”!

Confira o texto integral em anexo e divulgue, por favor.

Abraço fraterno,

Prof. Daniel Seidel

secretário executivo da CBJP

Comissão Brasileira Justiça e Paz - CBJP

Organismo da CNBB

+55 (61) 98526-9212

cbjpagenda@gmail.com



 Comissão Brasileira Justiça e Paz Organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil 


 Comissão Brasileira Justiça e Paz - CBJP Fone: (61) 3274.3009 (recados na portaria do CCM) SGAN 905 – Conjunto “C” – Sala Brasil E-mail: cbjpagenda@gmail.com 70790-050 – Asa Norte – Brasília / DF 


 Nota Pública 

POR ELEIÇÕES DEMOCRÁTICAS E LIVRES DE MANIPULAÇÕES RELIGIOSAS! 

Deve-se reconhecer que os fanatismos, que induzem a destruir os outros, são protagonizados também por pessoas religiosas, sem excluir os cristãos, que podem «fazer parte de redes de violência verbal através da internet e vários fóruns ou espaços de intercâmbio digital. Mesmo nos media católicos, é possível ultrapassar os limites, tolerando-se a difamação e a calúnia e parecendo excluir qualquer ética e respeito pela fama alheia»1

1 Papa Francisco, Exortação Apostólica Gaudete et exsultate (19 de março de 2018), nº 115. 

2 Conheça a Mensagem citada na íntegra: https://www.cnbb.org.br/bispos-reunidos-na-59a-assembleia-geral-da-cnbb-divulgaram-a-mensagem-da-cnbb-ao-povo-brasileiro-sobre-o-momento-atual/ 

Agindo assim, qual contribuição se dá para a fraternidade que o Pai comum nos propõe? 

(Papa Francisco, Encíclica Fratelli Tutti, 46) 

À medida que o dia das eleições vem se aproximando, posicionamentos muito superficiais, fundamentalistas, agressivos e sem embasamento circulam nas redes sociais e, de forma inexplicável, também em algumas programações de emissoras católicas e em celebrações religiosas. 

Os próprios bispos da CNBB alertaram, na Mensagem ao Povo de Deus recém-publicada: 

É motivo de preocupação a manipulação religiosa e a disseminação de fakes-news que têm o poder de desestruturar a harmonia entre pessoas, povos e culturas, colocando em risco a democracia. A manipulação religiosa, protagonizada por políticos e religiosos, desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil2

Pessoas de boa fé e devoção se sentem confusas quando representantes políticos fazem uso indevido do nome de Deus. Ainda mais desnorteadas se sentem quando líderes religiosos acusam apenas uma parte política de “não valorizar a família e a vida”, ao ponto de condenar quem votar nela. O voto é um direito democrático e deve ser exercido com liberdade a partir do discernimento consciente de cada pessoa. 

A família e a vida foram gravemente feridas e ameaçadas pelo descuido criminoso do atual governo federal durante a pandemia da Covid-19 (conforme apurado pela CPI sobre o tema no Senado Federal), pelos cortes na educação e na saúde, pelos ataques, a maioria deles impunes, aos territórios das comunidades indígenas e tradicionais, pelo incentivo ao uso de armas de fogo e às manifestações racistas e pela falta de respeito às mulheres! 

Que o direito ao voto seja exercido com consciência e de forma livre para eleger, democraticamente, governantes e parlamentares que promovam realmente “o bem comum, a justiça social, a defesa integral da vida, da família e da Casa Comum” (Mensagem dos Bispos ao povo de Deus, setembro 2022) e que os resultados das urnas eletrônicas sejam respeitados e as pessoas eleitas possam exercer seus mandatos! 

Brasília (DF), 16 de setembro de 2022. 

CBJP – Comissão Brasileira Justiça e Paz 

CNLB - Nacional – Conselho Nacional do Laicato do Brasil 

Núcleo de Estudos Sociopolíticos - Nesp – PUC/Minas 

6ª Semana Social Brasileira 

Comissão Pastoral da Terra – CPT Nacional 

Rede Eclesial Pan Amazônica - REPAM Brasil Comissão Brasileira Justiça e Paz Organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil 

Comissão Brasileira Justiça e Paz - CBJP Fone: (61) 3274.3009 (recados na portaria do CCM) SGAN 905 – Conjunto “C” – Sala Brasil E-mail: cbjpagenda@gmail.com 70790-050 – Asa Norte – Brasília / DF 


Conselho Pastoral dos Pescadores- CPP 

Comissão Regional Justiça e Paz CNBB-Oeste 1 MS 

Comissão de Promoção da Dignidade Humana - CPDH – Arquidiocese de Vitoria ES 

Comissão Justiça e Paz do Regional Sul 1 da CNBB – SP 

Comissão Justiça e Paz de Brasília – CJP-DF 

Comissão Justiça e Paz Arquidiocese de São Luís do Maranhão 

Comissão Justiça e Paz -CNBB Norte 3, Palmas/TO 

Comissão Justiça e Paz de São Paulo, São Paulo SP 

Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil 

Comissão Justiça e Paz da Diocese de São José do Rio Preto - SP 

Articulação das Pastorais da Ecologia Integral do Brasil do Brasil 

Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) 

JPIC da Família Salvatoriana 

VIVAT Internacional-BRASIL 

Fraternidade Secular Charles de Foucauld do Brasil 

Comissão Episcopal Pastoral para Ação Social Transformadora – CNBB NORTE 3, Palmas/TO 

CEFEP – Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara, Brasília DF 

Centro Burnier Fé e Justiça, Cuiabá MT 

Centro de Assistência Social Divina Misericórdia, Curitiba - PR 

Centro de Direitos Humanos de Cristalândia, Paraiso do Tocantins - TO 

Centro de Direitos Humanos de Formoso do Araguaia TO 

Centro Popular de Formação da Juventude - Vida e Juventude - DF 

Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de SP, São Paulo/Capital 

Movimento Nacional Fé e Política 

MEB - Movimento de Educação de Base 

Ampliada do CEFEP / Regional Sul 2, Guarapuava/PR 

AMTBRAN- Associação de Mulheres Trabalhadoras do Município de Brasil Novo/PA 

Articulação da Pastoral da Ecologia Integral do Regional Sul 2 - Paraná 

Associação Defesa Direitos Humanos e Meio Ambiente –ADHMA – Santarém/PA 

Caritas Núcleo Lapa da Arquidiocese de São Paulo/SP 

CASA LAUDELINA de Campos Mello - Organização da Mulher Negra, Campinas, SP 

CEBI Pará 

CEBI -SC (Centro de Estudos Bíblicos) 

CLASP - Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo/SP 

CNLB - Arquidiocese de Vitória da Conquista - BA 

CNLB - Norte 3, Palmas/TO 

CNLB Aracaju - SE 

CNLB Manaus/AM 

CNLB Regional Norte 1 AM e RR 

CNLB Regional Oeste I (MS) 

CNLB Regional Sul 2 – Curitiba/PR 

CNLB Sul 1 - São Paulo 

Coletivo de Fé e Política da Arquidiocese de BH 

Coletivo de Mulheres Negras “Maria, Maria”, Altamira/PA 

Coletivo Popular Direito à Cidade/ Porto Velho - Rondônia-RO 

Comunidade Eclesial de Base - Lago da Pedra-MA 

Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas Comissão Brasileira Justiça e Paz Organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil 

Comissão Brasileira Justiça e Paz - CBJP Fone: (61) 3274.3009 (recados na portaria do CCM) SGAN 905 – Conjunto “C” – Sala Brasil E-mail: cbjpagenda@gmail.com 70790-050 – Asa Norte – Brasília / DF 


Conselho Indigenista Missionário CIMI GO/TO 

Conselho Regional da Ordem Franciscana Secular de São Paulo 

Curso de Teologia para Agentes de Pastoral – CTAP, São Paulo 

Escola de Fé e Política Dom Joaquim Carreira SP 

Fórum de Direitos Humanos de da Terra MT 

Fraternidade São Francisco da Ordem Franciscana Secular, São Paulo 

Fraternidade São Francisco de Assis da Vila Clementino da OFS do Brasil, São Paulo 

GEEMA - Grupo de Estudos em Educação e Meio Ambiente Rio de Janeiro, RJ 

Instituto Padre Ticão - São Paulo - SP 

Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) 

Movimento Equipes Docentes de São Paulo 

Movimento Xingu Vivo Para Sempre Altamira Pará - Amazônia 

Núcleo Diocesano de Formação de Fé, Política e Cidadania D. Amaury Castanho - Jundiaí/SP 

OFS Fraternidade Sagrado Coração de Jesus e de Maria - Piracicaba (SP) 

OFS Ordem Franciscana Secular, SUDESTE 1/MG 

OLMA – Observatório Socioambiental Luciano Mendes de Almeida 

Pastoral Ambiental- Arquidiocese de Olinda e Recife-PE 

Pastoral da Cidadania - Diocese de Santos SP 

Pastoral da Ecologia Integral - Macaé RJ Diocese de Nova Friburgo 

Pastoral da Ecologia Integral da Arquidiocese de Cuiabá/MT 

Pastoral da Ecologia Integral da Diocese de Umuarama/PR 

Pastoral da Educação do Regional Sul1 da CNBB, São Paulo/Capital 

Pastoral da Pessoa Idosa e Catequese - AC 

Pastoral da Saúde Roraima 

Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de SP, São Paulo/Capital 

Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte/MG 

Pastoral Fé e Política do Regional Sul 1 da CNBB, São Paulo 

Pastoral Fé, Política e Cidadania Dom Amaury Castanho Jundiaí-SP 

Eleiões 2022: voto em Bolsonaro é mais emocional do que racional - Philipp Lichterbeck (Deutsche Welle)

O que leva eleitores a votar em Bolsonaro?

Coluna Brasil

Deutsche Welle, 19/09/2022

Apoiadores do presidente quase não têm respostas plausíveis sobre a sua escolha. São movidos sobretudo por emoções, fake news e ideais conservadores vendidos como cristãos. 

Há um fenômeno nesta campanha eleitoral: quando eleitores de Jair Bolsonaro são questionados sobre os motivos de sua escolha, geralmente não lhes ocorre nenhuma resposta plausível.

Ouvem-se com frequência frases como: "ele representa o povo" ou "ele é um patriota". Quando se pergunta o que de concreto Bolsonaro fez pelo povo, obtém-se, na maioria das vezes, o silêncio como resposta. São comuns respostas como: "ele construiu estradas e levou água para o Nordeste". Outros dizem que ele acabou com a corrupção – porém, quando se menciona o escândalo dos pastores no Ministério da Educação ou a compra de 51 imóveis com dinheiro vivo pela família Bolsonaro, às vezes admitem que talvez possa ter havido corrupção.

Alguns também admitem não saber o que Bolsonaro fez pelo Brasil, mas que isso não importa. Eles votariam em Bolsonaro de qualquer jeito, ele seria o "mito", aquele que representa o Brasil e que acredita em Deus.

Deus é uma resposta frequente para a pergunta sobre a motivação para votar no presidente. Durante um evento eleitoral no 7 de Setembro em Copacabana, um casal de Nova Iguaçu afirmou que Bolsonaro representa os valores cristãos que eles também defendem. Quais seriam esses valores? A primeira resposta é "a família": homem, mulher e filhos. A família, porém, não é um valor cristão. Valores cristãos são fé, amor, esperança, misericórdia, justiça, amor ao próximo. Família, ao contrário, é um ideal conservador que se vende como cristão.

De eleitores do Bolsonaro, ouve-se também frequentemente que ele é o único que pode derrotar Lula – o ladrão que quase arruinou o Brasil. Não é um argumento para Bolsonaro, mas contra Lula. Como o esperado, há também muitas fake news, por exemplo, de que Lula quer instaurar o comunismo, fechar igrejas ou que a "ideologia de gênero" seja ensinada nas escolas.

Para resumir, não se ouvem respostas convincentes sobre as razões de votar em Bolsonaro. Com os outros candidatos é diferente. Quem vota no Lula muitas vezes cita motivos pessoais, por exemplo, a influência positiva de políticas sociais em sua própria vida ou o fato de que pela primeira vez alguém da família pôde ir para a universidade. Motivos políticos também são citados, como o desejo de mais direitos para trabalhadores informais. Quem vota no Ciro Gomes argumenta sobre a terceira via, que quer acabar com a polarização. Ciro representa uma política fiscal e econômica sensata e equilibrada. Quem defende Simone Tebet usa argumentos parecidos, mas espera uma política econômica mais liberal.

Pode-se, portanto, constatar que os eleitores de Bolsonaro tomam uma decisão mais emocional que racional. Muitos brasileiros se identificam com o que ele representa – como o anticomunismo, o machismo ou a loucura por armas. O agronegócio, que nunca cresceu tanto e recebeu créditos tão baratos como no governo Lula, gosta da hostilidade de Bolsonaro ao MST e aos indígenas.

Bolsonaro conseguiu uma façanha. Ele transmitiu à sua base a impressão de que as instituições, a imprensa e a elite intelectual não falam mais a verdade. E de que ele, ao contrário, se atreve a proferir a verdade – rude, mas autêntico e sem floreios. A imagem do agente simples e franco a serviço do Brasil, excluído do establishment, é com certeza um dos motivos para a popularidade de Bolsonaro. Mas não é um bom motivo.

Pois, com demasiada frequência, eleitores votam contra os próprios interesses. Os republicanos nos Estados Unidos mostraram como conquistar eleitores brancos e pobres dos estados sulistas, que antes votavam nos democratas, com temas que mexem com as emoções, como aborto e casamento gay. Esses eleitores deixaram, de repente, de votar no partido que prometia melhorar sua situação econômica e passaram a votar no partido antiaborto. Bolsonaro também obteve sucesso com uma manobra semelhante, especialmente entre os evangélicos, que muitas vezes pertencem às camadas mais pobres da população. Ele costurou seu sucesso com conceitos emocionais, como Deus, nação, família e liberdade. São as palavras que ele repete em todos os eventos de campanha – enquanto evita conteúdos políticos concretos, possivelmente porque estes não existem.

Assim como o trumpismo, o bolsonarismo é um movimento sustentado pelo sentimento de que algo não está certo, de que a sociedade perdeu as estribeiras. Sua inquietação se volta contra mudanças sexuais, a ascensão dos pobres, a educação "muito liberal" ou a suposta "ameaça socialista". Em 2018, Bolsonaro conseguiu unir esses ressentimentos quando o Brasil se encontrava numa crise profunda. Tempos de crise são bons momentos para extremistas, e Bolsonaro agarrou essa oportunidade.

Mas agora a receita não parece funcionar mais. Um chefe de Estado precisa oferecer mais do que palavras emocionais, mas vazias.

No final, é exatamente como Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação de Bolsonaro, disse há alguns dias: "O bolsonarismo é uma farsa (...) que usa religião para enganar." 

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Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para jornais da Alemanha,Suíça e Áustria  Ele viaja frequentemente entre Alemanha, Brasil e outros países do continente americano. Siga-o no Twitter em @Lichterbeck_Rio.

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

I-Liberalismo: a nova tendência nas políticas domésticas e no plano global - Opinião O Globo

 Liberalismo é principal alvo da agressão russa à Ucrânia

O Globo | Opinião O Globo
19 de setembro de 2022
Conflito opõe democracias liberais ao 'iliberalismo' de Putin - valores antagônicos que definirão nosso futuro.

C omo em todas as guerras, princípios e valores estão em jogo na invasão da Ucrânia. De um lado, a Rússia de Vladimir Putin repetindo os mesmos devaneios imperialistas da Rússia czarista e da União Soviética. De outro, a Ucrânia de Volodomyr Zelensky, invadida por querer compartilhar com a União Europeia (UE) valores democráticos liberais, no momento em que a velha ordem mundial do Pós-Guerra se desintegra e surgem autocratas em busca de espaço.

O maior exemplo - e uma espécie de pioneiro - desses autocratas é Putin, já há quase 23 anos no poder. O ex-agente apagado da KGB soviética na Alemanha Oriental consolidou a doutrina que os cientistas políticos têm chamado de "iliberalismo" - regime em que, embora haja eleições periódicas, as instituições democráticas são solapadas para dobrar-se aos interesses do homem forte que governa, com restrições às liberdades de expressão, pensamento, comportamento etc. Da Venezuela à Hungria, de El Salvador à Polônia, os passos dos autocratas repetem o roteiro criado e executado primeiro por Putin.

Do outro lado da guerra, as democracias liberais do Ocidente, sobretudo os Estados Unidos sob o governo de Joe Biden, têm fornecido o apoio financeiro e militar sem o qual Zelensky não teria conseguido suas importantes vitórias militares nos últimos dias.

A motivação do conflito na Ucrânia tem sido comparada com frequência à da Segunda Guerra, quando o Ocidente também se uniu contra o nazifascismo de Hitler, Mussolini e seus aliados japoneses. "Os nazistas e o Império do Japão também acreditavam que os Estados Unidos estavam fracos devido à decadência do capitalismo e à diversidade racial", escreveu em artigo recente o economista americano Noah Smith. O choque entre o liberalismo tradicional e esse novo "iliberalismo" tende, segundo ele, a ocupar o espaço deixado vago pelo fim da dicotomia entre comunismo e capitalismo que alimentou a Guerra Fria durante décadas.

A extrema direita apoia Putin. O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que usou o termo "iliberal" para definir o arremedo de democracia em seu país, recusou o pedido de Zelensky para não comprar petróleo e gás russos. Também impediu que armas enviadas à Ucrânia por europeus e americanos passassem por território húngaro. No mesmo contexto está a visita descabida do presidente Jair Bolsonaro a Putin pouco antes da invasão. No Kremlin, Bolsonaro prestou sua "solidariedade" ao autocrata, embora seu apoio não tenha se refletido na postura do Itamaraty em organismos internacionais.

A garantia contra agressores como Putin é a união de países para se defenderem juntos. E o que acontece na Ucrânia, com a feliz coincidência de os Estados Unidos aproveitarem a chance para dar um recado direto à Rússia e indireto à China. Se a defesa da Ucrânia for bem-sucedida, segundo Smith, os projetos expansionistas imperiais sofrerão um forte baque, enquanto o mundo busca uma nova ordem. Que ela preserve o liberalismo.

Un moment historique pour l'Ukraine et l'Europe - Luuk van Middelaar (Institut Montaigne)

 Institut Montaigne, Paris – 16.9.2022

Grand entretien

Luuk van Middelaar

Un moment historique pour l'Ukraine et l'Europe

Guerre en Ukraine, Union européenne, États-Unis ... L'historien et théoricien politique Luuk van Middelaar répond aux questions de notre conseiller spécial, Michel Duclos. Au fil de l'échange, trois concepts parcourent sa réflexion: la puissance, la géographie, et le récit. Un entretien qui figurera dans un ouvrage à paraître en 2023 sur l'ordre mondial fracturé suite à la guerre en Ukraine, sous la direction de Michel Duclos.


Luuk Van Middelaar est un historien et théoricien politique. Il est professeur de droit européen à l'Université de Leyde et commentateur pour NRC Handelsblad. Auteur de l'ouvrage primé Le passage à l’Europe, il a publié plus récemment Quand l'Europe improvise (2019) et Pandemonium (2021) - tous disponibles dans plusieurs langues, ainsi que Le réveil géopolitique de l'Europe (2022) en Français. Van Middelaar a publié son premier livre Politicide en 1999. Il a été le rédacteur en chef des discours du président du Conseil Européen Herman Van Rompuy (2010-2014), ainsi qu’un de ses proches conseillers. Depuis 2018, il est membre du Conseil consultatif sur les affaires internationales (AIV).  

 

Si l'on reprend le fil de l'histoire et que l'on remonte à 2013-2014 notamment, c'est l'Union européenne et non l'OTAN que l'on retrouve aux prémisses de la crise ukrainienne. Comment a-t-on pu en arriver là ? Dans cette histoire qui se joue avec la Russie, quelle a été la part, sinon la responsabilité, des Européens eux-mêmes ?

Aujourd’hui, cette question n’est pas une question d’historien, c’est une question hautement politique, comme l’Histoire peut l’être. D’importants travaux ont déjà été menés, je pense bien sûr au livre de la Pr. Sarotte de Yale, “Not One Inch”, qui retrace la “préhistoire” de ce conflit en revenant sur la relation amerciano-russe pendant les deux décennies clés 1990-2000. Mais pour comprendre ce qui se joue aujourd’hui avec l’Europe au sens large, il faut revenir à la fin de la guerre froide, et notamment aux élargissements successifs de l’UnionDes États appartenant à la sphère soviétique rejoignent l’UE à partir de 2004 : Pologne, Hongrie et République Tchèque - des pays qui avaient déjà rejoint l’OTAN dès 1999. Tous sans exception ont rejoint l’OTAN avant de rejoindre l’UE. Quand on se replonge dans cette époque et que l’on s’intéresse aux positions du président Mitterrand, du chancelier Kohl, de Jacques Delors ou de Margaret Thatcher, pour eux, l’Europe c'était Prague, Budapest et peut-être Bucarest. Mais personne ne pensait à Kiev. L’Ukraine était alors perçu et traité comme un voisin. C’est bien une politique de voisinage qui a été mise en place vis-à-vis du pays, à la différence des autres États qui ont rejoint l’UE en 2004 puis en 2007.Contrairement aussi aux pays des Balkans, à qui l’on a donné une “perspective européenne” dès 2003. Tous avaient vocation à entrer dans l’UE un jour. Mais pas l’Ukraine ni la Moldavie ou la Georgie. La commission de Romano Prodi en 2003 a conçu cette politique de voisinage comme une alternative à l’adhésion et ne laissait donc aucune place à l'ambiguïté. C’est par la suite que les ambiguïtés ont commencé. Non pas vis-à-vis de nos voisins du Sud - c’est le seul rapport géographique que nous envisageons sans ambiguïté - songeons ici à la demande d’adhésion du Roi du Maroc en 1985, qui a suscité une réponse sans équivoque : le Maroc n’est pas un pays européen au sens géographique (l'ambiguïté est arrivée plus tard, avec la Turquie, mais c’est un autre sujet).

La période d'ambiguïté commence avec l'entrée de pays comme la Pologne dans l'UE en 2004. Une Pologne qui pouvait espérer que son voisin rejoigne un jour l'Union et que la notion de "partenariat oriental", différemment interprétée, nourrissait : s'agissait-il d'un simple partenariat ? Ou de l'antichambre de l'élargissement ? Côté russe, le Kremlin développait ses projets alternatifs, et l'Ukraine, déjà, était prise en étau entre ces deux projets. 

 Vue de Russie, la première décennie, de 1989 à 2000, est celle de l'impuissance. Puis, à partir de 2000, les choses se renversent avec l'arrivée d’un dirigeant russe qui n’accepte plus la perte de puissance trop visible de son pays. Un président qui, à la conférence de Munich en 2007, lance un véritable défi à l'hégémonie américaine.

L'année 2008 marque ensuite un tournant, avec le sommet de Bucarest de l'OTAN. Suite à une série de malentendus et d'incompréhensions entre Américains et Européens, l'OTAN mentionne pour la première fois une perspective d'adhésion de l'Ukraine et de la GéorgieCertes sans donner de date, mais sur l’insistance du président Bush et de son Vice-Président Dick Cheney (contre, semble-t-il, la quasi-totalité de leurs conseillers). Poutine à l'époque aurait alors déclaré au Secrétaire général de l'OTAN : "This will not happen", affichant clairement une position qui ne devait pas être démentie par la suite. 

Côté européen, le fameux accord d’association avec l'Ukraine, négociée avec un Président Viktor Ianoukovitch hésitant, portait aussi les prémices de cette crise. C'était une époque où l'Europe dans son ensemble raisonnait en termes "post-historiques", comme si le triomphe du libéralisme avait aboli les lois de l'Histoire, et que tout se déroulait sur un plan universel et atemporel. Les Russes sentaient au contraire la dimension géopolitique de ce projet, qui ne se limitait pas à un simple partenariat économique, comme l'ont conçu les Européens à l’époque. Cela coïncide aussi avec l’émergence, au sein d'une partie du peuple ukrainien, d'une envie d’aller vers l'Europe, alors que le président Ianoukovitch est mis en difficulté sur l'accord, sous la pression russe en 2013. La suite est connue : la révolte de Maïdan, la fuite du président en 2014 et l'annexion de la Crimée. 

Revenons sur ces années clés et sur ce fameux accord. Des témoignages divergent : pour certains, l'accord d’association était inacceptable pour Poutine. Pour d’autres, Poutine ne mentionnait même pas le sujet lorsqu'il parlait aux dirigeants des institutions européennes. Quels rôles les Suédois et les Polonais ont-ils joué ? Et pourquoi les grandes démocraties européennes ont-elles laissé faire ? 

Le problème fondamental de cette période est que chacun semblait travailler dans son coin en Europe. Sarkozy avait ses initiatives sur la Méditerranée, d’autres avaient des vues plus à l'Est. Et tout cela manquait de cohérence. Des deals plus politiques et opportunistes que stratégiques guidaient les choix de l'époque. Quant aux voisins de l'Est, dans le langage officiel l'Union européenne "reconnaissait les aspirations européennes de…" - traduisez  : vous avez le droit d'y croire mais on ne s’engage à rien - au détriment de toute lisibilité. Nous étions dans une ambiguïté qui n'avait plus rien de constructif, il s'agissait d’une ambiguïté néfaste. 

C'est dans ce contexte particulier qu'est négocié l'accord de Minsk, par François Hollande et Angela Merkel, selon un format inventé par le Président français en marge des commémorations du débarquement de Normandie en 2014. Une réunion entre le président Porochenko fraîchement élu, Vladimir Poutine et les deux dirigeants européens se tient à ce moment-là. Début 2015, un cessez-le-feu est négocié à Minsk. Quand on relit toute cette séquence aujourd'hui on peut reconnaître qu'il s'agissait d’un compromis qui ne satisfaisait véritablement personne, mais qui permettait de revenir à une situation de conflit gelé, sans renoncer pour autant à une solution plus durable pour l'avenir de l'Ukraine. Il était alors sous-entendu que l'Ukraine ne rejoindrait pas les structures militaires de l'OTAN, sans qu'il soit question pour autant de l'UE. Mais cet accord n’a jamais eu le soutien complet de l'OTAN, ni des Américains, de Londres ou des Polonais. Et d’ailleurs certainement pas des Russes non plus. Il aurait fallu, pour que tout cela fonctionne, que des efforts soient faits des deux côtés. Washington et le Kremlin auraient dû pousser leurs protégés dans le conflit. Mais la volonté n'était pas au rendez-vous. Disons qu’il y a eu de la mauvaise foi et des renoncements d’un côté comme de l’autre.  

Avec Minsk, sommes-nous encore dans une accord "post-historique" ? Les Français et les Allemands n'ont ils pas commis une erreur stratégique en n'associant pas les Polonais et les institutions européennes à l'accord ? 

La première question est de savoir comment apprécier la formule diplomatique du format Normandie, qui impliquait deux dirigeants nationaux et n’associait pas les institutions européennes. J'ai suivi de très près le déroulement de ce format. À un moment donné, en mars 2014, le Président du conseil européen, Herman Van Rompuy, aurait pu prendre l'avion pour Moscou. C’était d’ailleurs quasi fait mais il y a finalement renoncé. À partir de ce moment-là, il n'y avait plus de rôle pour les institutions de l'UE. Si l'on repense à Sarkozy en 2008, il avait l’énorme avantage d'êtrePrésident du Conseil en exercice, et Président de la France ! Lors de la guerre du Caucase, il arrive donc à Moscou avec les deux drapeaux, français et européens. En 2014, le contexte est très différent, il fallait improviser autrement. Les deux plus grands États européens ont pris l’initiative, ce qui n’était pas choquant à l'époque. On aurait pu attendre une implication britannique mais David Cameron se désintéresse de l'affaire. Or, s'agissant de l'UE, Merkel et Hollande ont bien pris soin de mettre l'Union de côté. Ils ont passé une nuit à négocier puis ont pris l'avion directement de Minsk à Bruxelles, pour y présenter un deal déjà bouclé à leurs collègues des 27, réunis au Conseil européen. Alors oui, quand on relit toute cette séquence aujourd’hui, il apparaît de façon assez claire que l’on aurait pu faire autrement. Il y avait d'ailleurs beaucoup de méfiance à l’égard des initiatives franco-allemandes en la matière. 

 Mais la dimension la plus intéressante est que l'accord de Minsk était fondamentalement historique. On prenait acte, par cet accord, du tragique de l’Histoire. Il traduit cette compréhension qu’il existe des choix tragiques, des dilemmes auxquels nous sommes confrontés. Si nous voulions rétablir la paix, il fallait accepter une forme d'injustice par rapport au droit international, y compris l'annexion de la Crimée - qui pourtant à l’époque était sans précédent en termes de land grabbing pour le continent européen depuis 1945.

La dimension la plus intéressante est que l'accord de Minsk était fondamentalement historique.

Et à l'inverse, si l'on voulait défaire cette flagrante injustice, cela signifierait la guerre, des morts. On a donc choisi le moindre mal. Mais ce n'était qu'un début d’entrée dans l'Histoire. 

Je voudrais m'attarder maintenant sur des notions plus théoriques, afin de contextualiser la difficulté pour les Européens de penser le pouvoir et la géopolitique. Trois concepts clé permettent de comprendre le rendez-vous manqué entre l'Europe et la géopolitique. La puissance d’abord, la géographie ensuite, le récit enfin. Sur cette dernière notion, qui manque tout particulièrement aux Européens, disons qu’un acteur géopolitique doit faire appel à une communauté en jouant sur la dimension narrative, en proposant un récit à même d’étayer des choix souverains et un certain nombre de politiques. Si nous n'avons pas cette combinaison de puissance, de géographie (une vraie interrogation sur l'espace et les frontières) et de récit, on ne peut pas être un acteur géopolitique. Depuis le 24 février, l'UE semble extrêmement mal équipée pour déployer cet appareil géopolitique. C'est parfaitement compréhensible quand on reprend la genèse du projet européen, celle, après deux guerres mondiales, d’abolir les inégalités de puissances et de pouvoirs, d'abolir les frontières aussi. Au point d'oublier cette dimension géographique, cette réflexion sur le territoire, c'est-à-dire la question : "qui est notre voisin ?" 

Depuis le 24 février, il semble pourtant que l'UE a utilisé un peu de sa puissance - par les sanctions ou l’aide militaire à l'Ukraine. Elle s'est aussi intéressée au territoire, puisque c'est bien de frontière dont il est question depuis des mois. C'est donc essentiellement sur le récit qu’elle a failli ? 

Oui, sur la puissance et le territoire, énormément de choses changent. 

 Sur la puissance d'abord, je mentionnerais deux aspects : d'une part, la reconnaissance de l'importance du pouvoir militaire : on assiste au retour d’une guerre classique avec son funeste arsenal fait de tanks et de soldats qui meurent au combat. Sur ce retour de la guerre, le retournement allemand est historique. Quand, le 27 février 2022, le chancelier Olaf Scholz admet dans son discours que son pays assiste à un "changement d’époque", qu'il investira 100 milliards d’euros dans la défense, une étape est franchie. Souvenons-nous que Berlin, comme Bruxelles d’ailleurs, était le centre de la post-histoire européenne. Deuxième prise de conscience : celle de la dimension nucléaire de ce conflit. Elle demeure sous-estimée par les Européens, contrairement à la vision américaine, bien plus réaliste sur la question. Enfin, les Européens prennent conscience, trop tard probablement, que toute politique relève de la stratégie. Cela apparaît très clairement s'agissant de la politique énergétiquePoutine, avec cette guerre a déployé deux très puissants atouts : le "général famine" et le "maréchal du froid". Et l'on sort de considérations strictement économiques. Le sous-jacent c'est, demain, de la famine en Afrique, des mouvements migratoires en Europe, un marché de l'énergie où l'énergie est une arme géopolitique déployée par un chef de guerre depuis le Kremlin. Le 20 juillet 2022, la Commission européenne présente un plan d'urgence pour l’hiver, elle souhaite pouvoir obliger les États membres à économiser jusqu’à 15 % de l'usage du gaz au nom de la solidarité. Elle se place dans une économie de guerre dans le domaine de l'énergie, qui rappelle l’économie de guerre dans le domaine médical pendant la pandémie du Covid-19. Et cela change tout le logiciel de l'UE sur le le dogme du "marché ouvert". Désormais, cette prise de conscience doit s'institutionnaliser, se consolider, pour être plus qu'éphémère. Pour y arriver, il faut impérativement "repondérer la sécurité" dans toutes les politiques de l'UE - je reprends là une formule de Pierre Sellal. C’est un changement de méthode très radical qui est nécessaire. 

 J'en viens maintenant au territoire. Deux points me fascinent depuis le 24 février : d'une part, le durcissement des frontières entre l'Europe et la Russie. Dans l'esprit des Européens, jusqu’à l’accord de Minsk II, l'Ukraine était, disons, "entre les deux". Pas vraiment l'Europe, pas vraiment la Russie non plus. Or, depuis le début du conflit, on assiste à un renversement de cette vision, avec la disparition de cette notion même d’espace "entre les deux". Grâce à la perspective d’adhésion de l'Ukraine à l'UE, d'une part (même si elle ne sera pas suivie d’effets immédiatement, comme l’a rappelé le Président français, on ne pourra pas revenir dessus).

On voit aussi la disparition du non alignement de pays comme la Suède et la Finlande qui étaient dans l’UE mais pas dans l'OTAN. Sans ces "pays tampons" on assiste bien à un durcissement des frontières. Les appartenances à l'UE et à l'OTAN vont se chevaucher de plus en plus, également avec presque 67 % des Danois qui ont voté en faveur d'une intégration à la politique de défense de l'UE, dont le Danemark était le seul pays à être exempté. L'autre évolution, très logiquement, c’est le glissement du centre de gravité européen vers l'Est. Phénomène que l'on observe depuis la chute du mur de Berlin mais qui s’accentue aujourd’hui de façon considérable. Des pays comme la France, les Pays-Bas représentent désormais le front occidental d'une union qui va jusqu’à la Mer Noire et même au-delà. Si l'on ajoute le Brexit à ce tableau, on voit à quel point la géographie européenne a évolué. 

C'est donc à l’émergence d’une nouvelle Europe que l'on assiste. Nos institutions permettront-elles à cette Europe d’entrer dans l’Histoire ? Va-t-on conserver notre unité ? Les clivages franco-allemands d’un côté, polono-suédois de l’autre ne vont-ils pas réapparaître très vite ? 

Le changement nécessaire est avant tout un changement mental, et je ne crois pas qu’il faille appeler de nos vœux un grand soir institutionnel. C'est la thèse que j’ai toujours soutenu, y compris avant la guerre. Il nous faut une prise de conscience politique et géopolitique, sans doute accompagnée de nouveaux instruments - pour pondérer la dimension stratégique dans les politiques, ajouter un conseil de sécurité compétent sur les questions de défense, scruter les investissements étrangers, être moins naïfs… Mais il ne faut pas forcément réinventer une nouvelle Union européenne. 

J'ai vécu d'autres crises, notamment la crise financière de la zone euro, la crise migratoire. À aucun moment je n'ai jugé souhaitable de refondre nos institutions de fond en comble. D'autant qu'il nous faut prendre acte de l'unité remarquable dont l'UE fait preuve depuis le 24 févrierUne unité doublée d’une capacité d’action inédite, à une échelle inconcevable en 2014-15. Tout ça ne se passe pas uniquement au niveau politico-diplomatique. Les vibrations irriguent les sociétés européennes, et l'on assiste à un choc de nos opinions publiques, confrontées à une guerre et à un peuple auxquels on peut très facilement s'identifier.

La victoire de l'Ukraine à l'Eurovision est l'illustration la plus éloquente, elle dit beaucoup de cette sympathie à l’égard du peuple ukrainine. C’est là dessus qu’un accord et une unanimité ont pu se construire. Mais les difficultés sont devant nous : avec les problématiques énergétiques,  la guerre va entrer jusque dans les ménages. Cela va créer des clivages entre Européens, selon les dépendances énergétiques des uns et des autres. 

 

Para acessar a íntegrra:

https://www.institutmontaigne.org/analyses/un-moment-historique-pour-lukraine-et-leurope

domingo, 18 de setembro de 2022

The Strategy Against Russia Is Working and Must Continue - Josep Borrel (Project Syndicate)

The Strategy Against Russia Is Working and Must Continue

 Josep Borrel, 14.09.2022

Project Syndicate / Several outlets - Russia’s war against Ukraine has entered a new phase. The Ukrainian army is making spectacular advances, liberating many towns and villages, and forcing Russian forces to retreat. While it remains to be seen how far the Ukrainian counteroffensive will go, it is already clear that the strategic balance on the ground is shifting.

Meanwhile, the European Union has fully mobilized to confront the energy crisis. We have filled our gas storage facilities to above 80% – well ahead of the November 1 target date – and agreed to clear targets to reduce gas consumption through the winter. To help vulnerable consumers and businesses manage price surges, we are moving forward with proposals such as a windfall tax on energy companies that have made excess profits.

Moreover, in coordination with the G7 and other likeminded partners, we are discussing plans to cap the price of Russian oil exports. And we are helping our partners in the Global South to handle the fallout from Russia’s brutal aggression and cynical weaponization of energy and food.

In short: the overall strategy is working. We must continue to support Ukraine, pressure Russia with sanctions, and help our global partners in a spirit of solidarity.

Those who question whether sanctions are working are on increasingly shaky ground. In general, sanctions have a double function: to signal and to compel. The signal expresses opposition to a state’s conduct – which in this case includes violations of international law and wanton attacks on civilians and civilian infrastructure. And while we are not at war with Russia, the compelling aims both to force a change in its behavior and to erode the economic and technological means for its aggression.

In a very clear signal, the EU has made the historic decision to end its reliance on Russian energy. The Kremlin has broken its contracts by dramatically reducing gas export volumes, rattling markets in the process. The ability to engage in such blackmail may seem like a Russian strength; but it ultimately is a losing strategy. Contrary to popular belief, Russia cannot easily find sustainable substitutes for the European market, because much of its gas-export infrastructure (pipelines and LNG terminals) is geared toward Europe. Redirecting the flow of gas to countries like China will take years and cost billions of dollars.

True, Russia has benefited from the recent gas-price hikes. But that doesn’t mean the sanctions have failed. Rather, we must wait to see the full effects of Europe’s decision to cut its energy imports from Russia. So far, Europe has only banned Russian coal imports and reduced its purchases of Russian oil. Yet even here, the impact has been discernible.

Russia’s coal export volumes recently fell to their lowest level since the start of the invasion, reflecting the Kremlin’s failure to find other buyers. Similarly, since the EU announced that it would reduce its imports of Russian oil by 90% by the end of 2022, oil prices have come down. And the Kremlin will be reducing its revenues by even more if it makes still more cuts to its gas deliveries to Europe.

As German Foreign Minister Annalena Baerbock has observed, Europe may have paid a low financial price for Russian gas in the past, but that was because it was paying in terms of its security. Russia attacked Ukraine because it was convinced that the EU would be too divided and dependent on Russian energy to act. But Russian President Vladimir Putin miscalculated.

By reducing its dependence on Russian energy, Europe is freeing itself from the old belief that economic interdependence automatically reduces political tensions. This might have made sense 40 years ago, but it certainly doesn’t now, when economic interdependence has become weaponized.

But the proper response is not to turn inward. We still need an open economy; but we must not permit interdependence without resilience and diversification. We need to account of the political identities of those with whom we trade and interact. Otherwise, we will fall into the same kind of trap that Putin has been setting for 20 years.

The sanctions have demonstrably also had a compelling effect. The loss of access to Western technology has begun to hit the Russian military, whose tanks, planes, telecommunication systems, and precision weapons also rely on imported components.

Moreover, a leaked internal Russian government report warns of prolonged damage to the Russian economy from the import restrictions. In agriculture, 99% of poultry production depends on imported inputs. In aviation, 95% of passengers in Russia travel on foreign-made planes; and now, a lack of spare parts is shrinking the Russian commercial aviation fleet. In pharmaceuticals, 80% of domestic production relies on imported raw materials. Finally, in communications and information technology, Russia could run short of SIM cards by 2025, and other parts of its telecommunications sector are being set back by many years. Remember, this bleak assessment came from official internal Russian sources.

Will sanctions alone be sufficient to defeat the invader? No, but that is why we are also providing massive economic and military support to Ukraine and working to deploy an EU military training mission to strengthen the Ukrainian armed forces further. The war is not over, and Putin’s regime still holds some cards. But with the current Western strategy in place, the Kremlin will find it virtually impossible to turn the tide. Time and history are on the Ukrainians’ side – as long we stick with our strategy.

As Forças Armadas na Política, não no Brasil, mas na Alemanha, para um enorme desastre nacional - leitura

 Estou lendo este livro, depressivamente instrutivo, sobre como as Forças Armadas da Prússia, e da Alemanha, foram especialmente ativas no ato de intervir na política do Estado, sempre provocando guerras de conquista e, em última instância, provocando a ruína do país e do seu povo.


Como relembra o autor na Introdução, Mirabeau, retornando a Paris no final do século XVIII (1788), escrevia isto: 

"La Prusse n'est pas um pays qui a une armée; c'est une armée qui a un pays", 

acrescentando em seguida: 

"La guerre est l'industrie nationale de la Prusse". 

Pois é, parece que outras Forças Armadas também tentaram dominar um país.

Eis o resumo do espírito com o qual este livro foi escrito, tal como o autor escreve em sua Introdução: 


Traduzo a última parte, que pode ser instrutiva, para outras épocas e outros países (como ênfase minha nas maiúsculas):

"Foi também meu objetivo mostrar a extensão da responsabilidade das Forças Armadas (da Alemanha) na ascensão dos nazistas ao poder, por tolerar as infâmias desse regime desde que alcançou o poder, E POR NÃO TOMAR AS MEDIDAS – numa fase em que só as FFAA o poderiam fazer – para remover aquele regime do poder." (p. x)

From the Epilogue (p. 694)

"As Forças Armadas dominaram a República de Weimar desde o momento exato de seu nascimento e o seu próprio eclipse aparente em Novembro de 1918, até as fantásticas circunstâncias de sua contribuição para os obséquios da República em janeiro de 1933. Elas procuraram dominar o Terceiro Reich da mesma maneira, e foram cegas e confiantes sob a impressão de que eles o estavam fazendo, até que a crise de 1938 diminuiu o seu orgulho e enfraqueceu o seu poder.
Até 1938, as FFAA foram o árbitro final dos destinos políticos do Reich. Elas tinham primeiro apoiado, e então condenaram a República à sua derrota, e tinham feito a principal contribuição para a chegada de Hitler ao poder. Elas entraram num pacto com o Partido [Nazista] de maneira a preservar o seu status privilegiado e influência, e, como resultado, foram culpadas de cumplicidade na Purga Sangrenta de 30 de junho de 1934 [aquela que eliminou Ernst Rohm e diversos membros das tropas de assalto, inclusive dois generais da Wehrmacht.]. Conhecendo muito bem o que tinham feito, elas aceitaram Hitler como chefe de Estado e ofereceram sua lealdade a ele pessoalmente como o Supremo Comandante, sempre com a reserva ao seu próprio arbítrio que elas poderiam desfazer o Cesar que elas criaram".  (p. 694) 

PRA: Muito parecido com certo país, bem conhecido...

O final foi a rendição incondicional de maio de 1945, na França e em Berlim, depois da completa derrota da Wehrmacht.

Relação de trabalhos sobre diplomacia e independência do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

 Relação de trabalhos sobre diplomacia e independência do Brasil

Paulo Roberto de Almeida

  

A partir de agosto de 2021 até setembro de 2022 

 

3954. “Hipólito da Costa, a censura e a independência do Brasil”, Brasília, 1 agosto 2021, 16 p. Introdução ao livro de José Theodoro Mascarenhas Menck: Hipólito José da Costa, o Correio Braziliense e as Cortes de Lisboa de 1821: a Imprensa no processo de independência do Brasil; Obra Comemorativa dos Duzentos Anos da Imprensa Brasileira e sua Contribuição ao Processo da Independência do Brasil na coleção do Bicentenário da CD. Publicado in: José Theodoro Mascarenhas Menck: A imprensa no processo de Independência do Brasil (Brasília: Câmara dos Deputados, 2022, 228 p.; p. 19-41; ISBNs: Papel: 978-65-87317-75-5; E-book: 978-65-87317-76-2; Prefácio: Helena Chagas; Introdução: Paulo Roberto de Almeida; Posfácio: Enrico Misasi. Relação de Publicados n. 1433.

 

3963. “A revolução liberal de 1820 como precursora da independência do Brasil: o papel do Correio Braziliense de Hipólito da Costa”, Brasília, 26 agosto 2021, 15 p. Paper apresentado como colaboração ao Congresso Internacional sobre a Revolução de 1820. Painel temático: As revoluções na América do Sul; disponível no blog Diplomatizzando(13/10/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/10/a-revolucao-liberal-de-1820-como.html) e na plataforma Academia.edu (links: https://www.academia.edu/57571213/Revol_Porto_Independ_Brasil e https://www.academia.edu/57571213/3963_A_revolução_liberal_de_1820_como_precursora_da_independência_do_Brasil_o_papel_do_Correio_Braziliense_de_Hipólito_da_Costa_2021_).

 

4000. “Mini-macro história sobre o país que um dia foi do futuro”, Brasília, 19 outubro 2021, 2 p. Comentários, em estilo de clássico revisitado, sobre nossos fracassos ao longo de 200 anos de independência. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/10/mini-macro-historia-sobre-o-pais-que-um.html).

 

4018. “A diplomacia brasileira da independência: heranças e permanências”, Brasília, 15 novembro 2021, 26 p. Ensaio preparado especialmente para Aula Magna na Universidade Federal Fluminense (dia 29/11, de 9 a 11h), a convite do Prof. Danilo Sorato. Anunciado antecipadamente no blog Diplomatizzando (16/11/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/11/a-diplomacia-brasileira-da.html). Preparada apresentação em Power Point, em 24/11/2021, sob n. 4023. Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/62641768/4018_A_diplomacia_brasileira_da_independencia_heranças_e_permanencias_2021_), anunciado no blog Diplomatizzando (28/11/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/11/a-diplomacia-brasileira-da_28.html). Disponibilizado também para o webinar do IHG-DF, com Carlos Henrique Cardim e José Theodoro Menck, dia 17/12/2021, 16hs.

 

4023. A diplomacia brasileira da independência: Apresentação”, Brasília, 24 novembro 2021, 30 slides. Apresentação em formato de PowerPoint, seguindo de forma flexível o trabalho n. 4018, preparada para Aula Magna na Universidade Federal Fluminense (dia 29/11, de 9 a 11h), a convite do Prof. Danilo Sorato. Divulgados, texto e apresentação, na plataforma Academia.edu (links: https://www.academia.edu/62641768/4018_A_diplomacia_brasileira_da_independencia_heranças_e_permanencias_2021_https://www.academia.edu/62644789/4023_A_diplomacia_brasileira_da_independencia_Apresentacao_2021_) e divulgado no blog Diplomatizzando (28/11/2021, link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/11/a-diplomacia-brasileira-da_28.html). 

 

4081. “Trabalhos de Paulo Roberto de Almeida sobre a independência do Brasil e a evolução histórica da nação brasileira”, Brasília, 14 fevereiro 2022, 11 p. Lista de todos os meus trabalhos que guardam conexão com a história da independência do Brasil, feita com base na lista geral de trabalhos, em ordem cronológica inversa, ou seja, mais recentes na frente. Para aproveitamento de trabalhos inéditos e preparação de um livro sobre a história do Brasil, especificamente sobre a independência e os 200 anos de história que se seguiram. Feita versão reduzida, sem links, para divulgação. Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/71427797/Trabalhos_sobre_a_independencia_do_Brasil_e_a_evolucao_historica_da_nacao_brasileira_2022_).

 

4228. “Bicentenário da Independência: os fundadores do Estado”, Brasília, 3 setembro 2022, 3 p. Notas para palestra em seminário do IAB, em 5/09/2022, 10:30hs. Para assistir, canal do IAB no YouTube (link: www.youtube.com/user/tviab); texto disponível no blog Diplomatizzando (5/09/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/bicentenario-da-independencia-os.html).

 

4229. “Os fundadores do Estado: Bicentenário da Independência”, Brasília, 3 setembro 2022, 12 slides. Apresentação em PP para o seminário do IAB, em 5/09/2022, 10:30hs. Apresentado no canal do IAB no YouTube (link: www.youtube.com/user/tviab).

 

4233. “A Independência do Brasil e a formação da diplomacia brasileira”, Brasília, 8 setembro 2022, 10 p. Notas para evento da Confraria Conservadora, coordenado por Alex Catharino, com a participação de Guilherme Diniz, do curso Ubique; dia 14/09, 20:00hs. Via Instagram. Postado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/09/a-independencia-do-brasil-e-formacao-da.html). Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/86550759/4233_A_independencia_do_Brasil_e_a_formacao_da_diplomacia_brasileira_2022_).

 

4234. “Historiografia da independência: síntese bibliográfica comentada”, Brasília, 9 setembro 2022, 19 p. Seleção de obras sobre o processo da independência, para número especial dos Cadernos do CHDD.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18 de setembro de 2022

 

sábado, 17 de setembro de 2022

Sobre o “Estado” predatório que foi construído no Brasil - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre o “Estado” predatório que foi construído no Brasil

Paulo Roberto de Almeida

O estupro orçamentário iniciado pelas emendas obrigatórias instituídas sob Eduardo Cunha na presidência da CD chegou ao ápice com as emendas secretas do relator, na gerência criminosa dos dois meliantes políticos do governo do Bozo: o presidente da CD e o chefe da Casa Civil.

Junto com os dois fundos pornográficos, o partidário e o eleitoral, as emendas parlamentares arbitrárias e compulsórias representam a destruição de qualquer arremedo racional de administração dos orçamentos públicos. 

Ao lado das imensas mordomias e gastos abusivos dos estamentos políticos em todos os níveis da federação, assim como dos privilégios aristocráticos dos grandes mandarins do Estado, essa predação, essa extorsão e o assalto à luz do dia, tudo isso legalizado pelos donos do poder CONTRA os seus “súditos”, nesta contrafação de nação que se chama Brasil, asseguram a semiestagnação do país no futuro indefinido. 

Como está atualmente organizado “politicamente”, o Brasil se revela uma nação inviável no plano do crescimento econômico sustentado e do desenvolvimento socialmente inclusivo no horizonte histórico que é o da atual e das próximas gerações. A nação produtiva — empresários e trabalhadores do setor privado — se arrasta penosamente, pois que carregando nas costas esse ogro famélico e predatório que se chama Estado brasileiro. Como a ignorância ganhou foros de virtude política sob os populistas e demagogos que tomaram de assalto o poder nos últimos 20 anos, não vejo nenhuma possibilidade de progresso real da nação nas atuais condições de funcionamento do Estado no futuro previsível. 


Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 17/09/2022

AGNU 2022: pelo fim do veto ao violador da Carta da ONU - Paulo Roberto de Almeida; Covas coletivas encontradas em Izyum libertada (Spectator)

 Está mais do que provado que as forças bárbaras de conquista e ocupação russas cometeram crimes de guerra e contra a humanidade, sob a responsabilidade do tirano de Moscou, que ainda perpetrou um crime contra a paz. Ou seja, Putin merece um Nuremberg só seu, pois cometeu os mesmos crimes que aqueles sob os quais foram julgados os líderes civis e militares nazistas em 1946, pelo Tribunal Internacional de Nuremberg. 

A primeira providência da próxima AGNU será discutir a suspensão, na Carta da ONU, do direito de veto para qualquer um dos cinco membros do Conselho de Segurança que violar qualquer um dos artigos dessa Constituição da Humanidade.

Paulo Roberto de Almeida 

Covas coletivas encontradas em Izyum libertada

Por Svitlana Morenets

The Spectator, 15/09/2022


O exército russo recuou de Izyum, na região de Kharkiv, no fim de semana passado, após um contra-ataque da Ucrânia. Ao lado do alívio após a libertação da região vem uma compreensão mais profunda dos horrores da ocupação. A polícia continua encontrando os corpos de civis com vestígios de tortura em aldeias e cidades e ontem, uma vala comum de 25 soldados ucranianos e cerca de 460 novas sepulturas foram encontradas perto de Izyum em Kharkiv Oblast. A maioria deles não tem nomes – apenas números em cruzes de madeira feitas à mão.

A exumação dos corpos começou hoje, com jornalistas ucranianos e internacionais convidados a testemunhar a atrocidade. ‘Bucha, Mariupol, agora, infelizmente, Izyum... a Rússia deixa a morte em todos os lugares. E deve ser responsabilizada por isso”, disse Volodymyr Zelensky no discurso da noite passada à nação.

Serhii Bolvinov, investigador-chefe da polícia da região de Kharkiv, disse que algumas das vítimas na vala comum foram mortas a tiros, enquanto outras foram mortas por fogo de artilharia ou ataques aéreos. Muitos corpos – e causas de morte – ainda não foram identificados. Maksym Strelnyk, deputado do conselho da cidade de Izyum, disse que pelo menos 1.000 civis foram mortos durante a ocupação russa.

A polícia ucraniana, promotores e outros investigadores reunirão evidências de suspeitos de crimes de guerra russos. Enquanto isso, cerca de 10.000 moradores permanecem em Izyum, uma cidade onde mais de 80% de sua infraestrutura foi destruída – mas eles podem ser evacuados com a chegada do inverno pois as condições serão difíceis.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Alemanha caminha para a recessão: começou pela siderurgia (ArcelorMittal), vai se propagar a outros setores

 Alemanha

O caos econômico, provocado pela alta exorbitante da Energia elétrica e do gás, chegou na maior siderúrgica na Europa, que avisou que vai fechar as portas. 

Em comunicado aos investidores a ArcelorMittal, disse que está fechando uma siderúrgica na Espanha e paralisando outras duas empresas na Alemanha, nas cidades Bremen e outra em Hamburgo. A medida vai colapsar o preço do aço na Alemanha e causar uma destruição da cadeia produtiva. Em nota a empresa disse que o alto preço do gás e da energia elétrica foi o motivo, pois o "aumento exorbitante dos preços da energia", que está afetando devastadoramente a "competitividade da produção de aço". A empresa deve começar as demissões no final de setembro. 

Abaixo o comunicado da empresa:

https://germany.arcelormittal.com/icc/arcelor/broker.jsp?uMen=7a770135-5051-5e71-9945-be470aa06ac3&uCon=b611ba70-782e-2810-a61e-481f0ad3a7b3&uTem=aaaaaaaa-aaaa-aaaa-aaaa-000000000042

Estamos prestes a enfrentar uma situação preocupante no fornecimento do aço mundial. A Europa está hoje sofrendo enormes problemas  devido a decisões estratégicas tomadas em sua matriz energética. Isto está tendo um impacto severo no custo da energia, que em alguns lugares já subiu mais que 1300%.

A consequência para o mercado do aço é o fechamento e desligamento de usinas e fábricas como jamais visto antes .

São no total 14 desligamentos e fechamentos de usinas por toda a Europa, incluindo 7 da ArcelorMittal.

O resultado lógico será um sobrecarregamento dos demais produtores e um potencial aumento nos preços do aço.

Nossa avaliação é que não se trata de uma situação de fácil solução para o curto e médio prazo, afinal é um problema de direcionamento de matriz energética na Europa.

Recomendamos aos amigos que façam uma análise profunda e considerem todos os fatores macro, para as decisões nos meses que virão. E desejamos à todos que tomem decisões sábias e acertivas para os seus negócios para enfrentar os próximos meses.


A demolição da política externa brasileira - Sergio Amaral (OESP)

Opinião 

Meu livro publicado mais recente se chama, justamente Apogeu e demolição da política externa: itinerários da diplomacia brasileira (Curitiba: Appris, 2021)

Opinião 

A demolição da política externa brasileira

Sergio Amaral

O Estado de S.Paulo, 15 de setembro de 2022

O Itamaraty é uma das instituições mais respeitadas do serviço público brasileiro. Seus funcionários são, via de regra, competentes. O concurso de ingresso é rigoroso, a formação e o aperfeiçoamento dos diplomatas estendem-se ao longo de toda uma carreira. Seu compromisso com o País é inquestionável.

Não obstante, a política externa foi um dos desastres do governo de Jair Bolsonaro. De início, o presidente seguiu, em suas linhas básicas, a política externa de Donald Trump, que isolou os Estados Unidos do mundo e fez adversários em todas as partes, inclusive na Europa, onde os Estados Unidos sempre mantiveram alianças estreitas e amigos fiéis. Combateu a ordem mundial concebida e implantada por iniciativa dos Estados Unidos nas conferências de São Francisco e de Bretton Woods, logo após o término da Segunda Guerra Mundial.

As confusas e obscuras visões de mundo de Ernesto Araújo, o primeiro chanceler de Bolsonaro, inspiraram-se nas exóticas teses de Steve Bannon, o influente guru e “estrategista” de Trump, que chegou a criar um “movimento” nacional populista na Europa, com sede no mosteiro medieval de Trisulti, na Itália. Seu objetivo era o de abrigar uma escola para a formação dos cruzados do século 21. Ali eles seriam adestrados para defender os valores da cultura judaico-cristã contra as ameaças dos infiéis e do materialismo ateu. Os alunos do Instituto Rio Branco foram convocados para assistir a palestras nas quais ouviram, perplexos, uma doutrinação em defesa dos valores do cristianismo medieval. Não chegaram a realizar o seu treinamento em Trisulti, mas no auditório do Instituto Rio Branco, em Brasília.

Influenciado por essas visões insólitas, também compartilhadas por membros do gabinete da Presidência da República, o governo Bolsonaro iniciou uma meticulosa demolição de algumas de nossas mais respeitadas tradições diplomáticas. O alvo privilegiado, como também o era para Trump, foi a ONU, particularmente o Conselho dos Direitos Humanos e a Organização Mundial da Saúde. O multilateralismo passou, então, a ser considerado uma ameaça aos interesses brasileiros.

Na mesma linha, o Mercosul, que já foi um dos pilares de nossa diplomacia, sob Bolsonaro foi condenado ao descaso. Foi acusado por não ter alcançado a união aduaneira, nem mesmo o livre-comércio, o que é em parte verdade, sem lembrar que muitos dos que faziam a crítica são os mesmos que se haviam oposto a uma desgravação mais ampla. E não reconhecem tampouco a contribuição valiosa da harmonização do marco regulatório, nos mais diferentes setores, para a circulação mais desimpedida dos bens e capitais, ciência e tecnologia, transporte e serviços de infraestrutura, cultura e turismo, entre outros.

Nessas condições, o Mercosul ficou praticamente restrito a uma discussão ociosa entre Brasil e Argentina sobre o grau de redução da Tarifa Externa Comum, como se dois ou três pontos porcentuais, para cima ou para baixo, pudessem fazer a diferença para atingir um patamar mais elevado de integração entre os membros do acordo regional.

Enquanto isso, as reais questões sobre a reforma do Mercosul, a dinamização do comércio, a ampliação ou a expansão em direção à Aliança do Pacífico, ou mesmo em direção à Parceria Transpacífica, passaram para o segundo plano, pois não é possível avançar numa agenda regional, complexa e desafiadora sem o engajamento ativo dos chefes de Estado.

Outra iniciativa de que o Brasil havia participado e mesmo liderado, o acordo Mercosul- União Europeia, está paralisada diante das ofensas pessoais de Bolsonaro à esposa do presidente da França, um episódio sem precedentes na história da diplomacia brasileira. A recusa em não ratificar o acordo, da parte de outros países europeus, deveu-se ao descumprimento pelo Brasil de seus compromissos com a redução do desmatamento na Amazônia.

Por fim, vale relembrar os ruídos, senão hostilidades, em relação aos dois mais importantes parceiros econômicos do Brasil. A China, em razão das hostilidades gratuitas a membros de sua Embaixada em Brasília. Os Estados Unidos, pela embaraçosa, mas deliberada demora no reconhecimento da vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais norte-americanas.

Na iminência de concluir-se o governo do presidente Bolsonaro, resta uma indagação central: o que o Brasil ganhou com esta série de desfeitas e equívocos gratuitos de seu governo, inclusive em relação aos mais importantes parceiros do País? Os riscos e custos são conhecidos: o isolamento internacional do Brasil; a perda de sua liderança, inclusive em nossa própria região; e a criação, pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de um comitê especial para investigar a progressão do desflorestamento na Amazônia, cujos resultados serão levados em conta na aprovação ou não do pedido de adesão do Brasil ao organismo, por exemplo.

A política externa está entre os setores que o próximo governo, qualquer que seja, terá de mudar substancialmente.

* FOI EMBAIXADOR EM WASHINGTON E PRESIDENTE DO CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA