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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 23 de junho de 2015

O que faz um professor universitário? - Marco Mello


O que é um professor universitário?

Marco Mello
No Brasil, é comum ouvir bizarrices como “O Prof. Fulano reclama de dar aulas demais, mas o cargo dele é de professor, né?”. Ou seja, há muita confusão sobre quais seriam as reais atribuições de um professor universitário. Como esse é o cargo mais importante na carreira acadêmica, vale a pena dedicar um post inteiro a esclarecer essa questão.

É claro que, na prática, o que cada professor faz no dia a dia varia muito entre universidades. Na verdade, há uma enorme variação mesmo entre professores de uma mesma universidade. As atribuições também vão mudando, conforme se progride verticalmente na carreira: substituto > assistente > adjunto > associado > titular. Aqui não vou tocar em problemas como concursos-gincana, acomodação, estabilidade fácil, isonomia salarial, salário defasado em relação à inflação etc., que merecem outros posts. Vou focar no sentido maior do cargo.
Em outros idiomas e culturas, a diferença entre um professor universitário e outros tipos de professor fica clara já no vocabulário. Por exemplo, no inglês, o termo professor se aplica apenas ao professor universitário, enquanto teacher é o professor de escola e lecturer é o docente universitário, geralmente com doutorado, mas sem título de professor. Sim, nos EUA, Inglaterra e outros países, professor, mais do que um cargo, é um título. No alemão também se diferencia o professor universitário através do termo Professor, enquanto quem dá aulas em escolas é um Lehrer e quem dá aulas na universidade sem ter o título de professor é um Dozent. Não é uma questão de qual tipo de professor é melhor do que o outro, blablabla. Cada professor tem o seu papel no sistema educacional e todos são importantes. É apenas uma questão de diferenciar as carreiras e títulos, para se definir claramente o que se espera de cada professor.
Então o que diferenciaria o professor universitário dos outros? Simples: esse cargo foi inventado para ser ocupado por profissionais que associam pesquisa e ensino. Sim, essas duas atividades são indissociáveis no conceito original de professor universitário. Mas, por que, Marco? Porque espera-se que um professor universitário esteja sempre na vanguarda da sua área. Espera-se que ele atue na formação de profissionais de nível superior, ensinando-lhes não apenas o conhecimento já sedimentado, mas também as novidades e macetes.
Para se formar em uma profissão de nível superior, o aluno tem que ser apresentado tanto aos fundamentos quanto à vanguarda. Acima de tudo, espera-se que um professor universitário produza ele mesmo algumas novidades. Sim, um professor universitário tem a obrigação não apenas de transmitir, mas também de produzir conhecimento. E a transmissão de conhecimento se dá principalmente em sala de aula, passando informações  consolidadas para os aspiras, e também divulgando descobertas em revistas técnicas indexadas e revisadas por pares. Então um professor universitário tem que fazer pesquisa também? Sim, claro! Ninguém se atualiza tanto em uma área, quanto alguém que precisa disso para fazer as próprias pesquisas, porque ama a ciência.
And the plot thickens… Pelas leis brasileiras federais e estaduais, a carreia de professor universitário envolve, em geral, cinco pilares:
  • Ensino: coordenação e participação em disciplinas de graduação e pós-graduação, presenciais ou à distância.
  • Pesquisa: investigação científica ou tecnológica para produção de conhecimento. Na verdade, a área da pesquisa envolve mais um monte de coisas além da investigação e publicação, como revisão de artigos, editoração de revistas científicas, organização de congressos, administração de sociedades científicas, consultoria para agências de fomento, assessoria à imprensa, assessoria política dentro da área em que é perito e muito mais.
  • Orientaçãoformação de novos cientistas através de estágios e projetos orientados de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado.
  • Extensão: assessoria e divulgação de conhecimento científico e técnico para o público externo à universidade através de consultoria, palestras, cursos, exposições, museus etc.
  • Administração: cargos de chefia em geral, cargos em órgão representativos da universidade (câmaras, conselhos, congregações), gerenciamento de projetos, captação de verbas externas, contabilidade, direção de laboratórios, etc.
Dependendo da universidade e do seu regimento interno, espera-se que o professor universitário envolva-se com no mínimo dois ou três desses pilares. Os melhores professores acabam se envolvendo com todos. O único pilar obrigatório é o ensino. Só fica desobrigado parcial ou totalmente de dar aulas quem ocupa altos cargos administrativos, como chefe de departamento, diretor de instituto, pró-reitor ou reitor. Significa que, na prática, nem todo professor universitário é obrigado a fazer pesquisa.
Vamos destrinchar um exemplo mais concreto: as universidades federais brasileiras. De acordo com a lei que rege essas instituições, o professor universitário “padrão” (sem cargo de chefia ou outras condicionantes) é obrigado a dar de 8 a 12 créditos por semestre. Cada crédito representa mais ou menos 15 h em sala de aula. Ou seja, o sujeito é obrigado a passar dentro de sala entre 120 e 180 h por semestre. Um professor dedicado, que de fato gasta tempo e energia com as aulas, precisa de no mínimo 2 h de preparação (slides, leituras, material biológico para aulas práticas, preparação de computadores etc.) para cada 1 h em sala. Vamos considerar que uma disciplina obrigatória de graduação tem 4 créditos (60 h) e costuma ser organizada de forma a ocupar 4 h em sala por semana. Logo, das 40 h de trabalho semanais determinadas por lei, o professor acaba passando pelo menos 12 h envolvido com a disciplina. Isso, fora as horas gastas com atendimento de alunos e correção de trabalhos. Assim, a conta pode facilmente chegar a 16 h por semana ocupadas com cada disciplina e piora na época das provas e entrega de trabalhos, se o professor não contar com ajudantes. Supondo uma turma com cerca de 60 alunos, imaginem a seriedade da ralação. E, já que o mínimo são 8 créditos, o que nós, professores, enfrentamos é isso vezes dois, pelo menos.
Para se ocupar com 2 disciplinas de 4 créditos por semestre, totalizando 8 créditos, e realmente ministrá-las com qualidade, o professor universitário não poderia se envolver com mais nada! A quem estamos enganando? A única forma de aliviar essa carga é através da ajuda de pós-graduandos que atuam como tutores e graduandos que atuam como monitores. Mas nem todo professor ou toda disciplina contam com o apoio de auxiliares. Os tutores remunerados conhecidos internacionalmente como “TAs” (teaching assistants), comuns nos EUA, Alemanha, França e UK, chegaram a ter uma versão brasileira temporária durante o Reuni. Só que o programa foi planejado para durar apenas cinco anos. Só para variar, nada é pensado a longo prazo neste país, tudo é paliativo, tudo é jeitinho. Como alguém pode se dedicar de verdade à pesquisa de ponta tendo sobre os ombros o peso de uma carga didática massacrante como essa? Como alguém pode fazer extensão e atender de outras formas o mundo real fora da Academia, sendo obrigado a dar aulas igual a um burro de carga? Na verdade, como seria possível conciliar qualquer um dos outros quatro pilares da carreira com um ensino de qualidade em grande quantidade?
O Brasil tem um verdadeiro fetiche pela sala de aula! Em universidades de ponta, a carga semestral obrigatória do professor não ultrapassa 4 créditos. Na prática, os professores e alunos passam muito menos tempo em sala, justamente porque se dá mais valor à independência dos aspiras. O bom aluno do ensino superior gasta a maior parte do seu tempo estudando por conta própria, sozinho ou em grupo, através de tarefas orientadas ou leitura espontânea. O momento em sala com o professor na aula teórica (lecture ouVorlesung) serve para apresentar ou consolidar o conteúdo principal, receber orientações, tirar dúvidas e passar tarefas.
No Brasil, castramos a individualidade, a criatividade, a autonomia, a iniciativa e o livre pensamento, porque insistimos em adestrar os alunos em cativeiro. Ok, estou divagando. Voltando ao ponto de vista do professor, dá para entender porque nunca chegaremos ao mesmo nível de qualidade em ensino e pesquisa do primeiro mundo? Ficou claro porque estamos fadados a enxugar gelo e ficar sempre dois passos atrás dos nossos colegas mais afortunados?
Por favor, nunca mais diga que um professor universitário brasileiro não pode reclamar de dar aulas demais, porque “tem cargo de professor”. Isso é tão estúpido quanto dizer que um professor universitário que tem bolsa de produtividade está desrespeitando a dedicação exclusiva, porque é também “pesquisador do CNPq”.
Leia também:
Unknown Fonte: PRISM.
Blog criado em 2012, onde publico textos escritos por mim, Prof. Marco Mello, e colaboradores eventuais. A origem do blog está em pequenos manuais que eu escrevia para os meus alunos desde 2007.


segunda-feira, 22 de junho de 2015

Regime previdenciario geral: proximo da falencia - Revista Epoca

Ele vai ter de ralar
O fim do fator previdenciário pode gerar uma conta altíssima, a ser paga pela próxima geração.
Por Paulo Tafner
Época, 20/06/2015

Em qualquer país minimamente organizado, quando o assunto é Previdência Social, só se fala na necessidade de reformar. Por quê? Cada país tem suas razões, mas há algo em comum à maioria: a população está envelhecendo. Em breve, haverá menos gente jovem para sustentar essa despesa e mais gente idosa que dependerá de transferências previdenciárias. A situação brasileira é ainda mais grave: já gastamos muito, num país ainda relativamente jovem.
O gasto total com benefícios previdenciários tem ficado em torno de 11% do PIB. A tendência é crescer. Há pouco mais de uma dezena de países com gastos superiores ao brasileiro, mas todos com uma relação entre número de cidadãos ativos e número de idosos duas vezes pior que a nossa, do ponto de vista previdenciário. Em 1980, a população brasileira apta a trabalhar representava 56% do total e apenas 6% eram beneficiários da Previdência. Para cada beneficiário, havia nove produtores de riqueza. Em 2020, para cada recebe dor de benefícios, haverá apenas cinco ativos. E em 2050, para cada beneficiário, haverá 1,9 ativo. O sistema caminha para a inviabilidade.
Nosso sistema previdenciário, como em boa parte do mundo, se estrutura sob o princípio de repartição: a geração ativa financia os benefícios da geração que já se aposentou. Se uma geração de pessoas na ativa for muito pequena, em comparação com a geração idosa que precisa sustentar, será mais difícil fechar as contas. Torna-se necessário 1) tributar mais a população ou 2) obter ganhos expressivos de produtividade (ou seja, cada indivíduo passar a produzir mais) ou 3) endurecer as regras para a obtenção dos benefícios.
Tentar corrigir o problema pelo aumento de alíquotas parece impossível. Ninguém aguenta mais tributos. A alíquota média no financiamento da Previdência é de 31%, sendo 11% para os trabalhadores e 20% para as empresas. É melhor aumentar a produtividade do trabalhador e endurecer as regras do benefício. Mas elevar a produtividade exigirá investir em infraestrutura e prover educação de qualidade melhor do que temos hoje, Não temos sinal, no momento, de que conseguiremos superar nenhum desses dois desafios.
Resta-nos mudar nossas regras para aposentadorias e pensões. Isso foi feito em etapas: em 1998, a Emenda Constitucional 20 estabeleceu regras mais rígidas para aposentadorias, nos setores público e privado. Em 1999, foi introduzido o fator previdenciário, que leva em conta no cálculo da aposentadoria, de forma justa, a expectativa de vida do cidadão no momento em que ele se aposenta. Em 2003, a Emenda Constitucional 41 generalizou regras mais duras para todos os trabalhadores do setor público. Mais recentemente, a Medida Provisória 664 tentava moralizar a pensão por morte. O Congresso, em vez de buscar esse aprimoramento, fez o contrário. Desfigurou a MP 664 e acabou com o fator previdenciário. Colocou em seu lugar a regra "85/95", que ignora a constante evolução da expectativa de vida do brasileiro.
A grande maioria de parlamentares do PT, que, corretamente, em 2003, aprovou a fixação de idade mínima de aposentadoria para trabalhadores do setor público, votou agora pela derrubada do fator previdenciário, sem fixação de idade mínima para aposentadoria. O mesmo ocorreu com boa parte de parlamentares do PMDB, também da base de sustentação do governo. Igualmente grave é o fato de que vários parlamentares do PSDB que em 1999 haviam aprovado, corretamente, o fator previdenciário votaram agora a favor de sua derrubada. Restou à presidente Dilma Rousseff vetar o projeto, na quarta-feira da semana passada.
Grande parte das críticas ao fator previdenciário parte de quem nem tenta compreendê-lo. Em 1999, diante da recusa do Congresso em fixar idades mínimas para aposentadorias, o então presidente Fernando Henrique Cardoso criou o fator previdenciário editando a Lei nº 9.876. Trata-se de um artificio engenhoso, que substitui imperfeitamente a exigência de idades mínimas para aposentadoria. Para identificação do fator a ser aplicado a cada trabalhador, o cálculo leva em conta o tempo de contribuição, a idade de aposentadoria e a expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria. Multiplica-se esse fator pelo valor-base do benefício, definido pela média dos 80% maiores salários de contribuição, computados a partir de julho de 1994. Feitos os cálculos, se o fator for igual a 1, o valor da aposentadoria será integral, igual ao valor-base de contribuição. Se for maior do que, o valor da aposentadoria será maior que o valor integral (isso tende a ocorrer com quem trabalha por mais tempo e atrasa o pedido de aposentadoria, o que é benéfico para a coletividade). Se o fator for menor que 1, o benefício será menor que o integral (o que tende a ocorrer com quem se apressa em se aposentar). Para mulheres e professores dos níveis fundamental e médio, somam-se cinco anos ao tempo de contribuição.
Costumo explicar o fator com um exemplo bem simples. Imaginem que dois trabalhadores homens comecem a trabalhar no mesmo dia, um com 15 anos e outro com 25 anos. Imaginem que ambos fiquem empregados todo o tempo de sua jornada profissional e que tenham a mesma trajetória na carreira. Após 35 anos de trabalho, ambos poderão se aposentar e terão acumulado o mesmo montante com contribuições previdenciárias. A diferença é que» no momento da aposentadoria, o primeiro terá 50 anos e o segundo 60 anos. Pelas tábuas atuais de mortalidade do IBGE, o primeiro deverá sobreviver mais 28 anos e o segundo apenas 20 anos. Como ambos têm o mesmo montante acumulado se o mais velho receber R$ 1.000 por mês ao longo de 20 anos, o mais jovem deveria receber cerca de R$ 723, pois desfrutará a aposentadoria por oito anos a mais que o outro. £ justo que, recebendo mensalmente valores diferentes, ao final, ambos tenham recebido o mesmo total. Em substituição a essa fórmula racional, o Congresso apresentou sua proposta ruim, a da regra "85/95", vetada por Dilma.
Por essa regra, pode se aposentar com o benefício integral o cidadão cuja soma de idade com tempo de contribuição resultar em 95 anos, no caso dos homens, ou 85 anos, no caso das mulheres. Em ambos os casos, docentes do ensino fundamental ou médio acrescentam cinco anos ao tempo de contribuição. Qual é o impacto da proposta?
Suponha um homem que comece a trabalhar aos 20 anos e permaneça contribuindo até poder se aposentar Na regra atual, ele pode se aposentar aos 55 anos. Como ainda é jovem e deverá viver por mais quase 24 anos, seu fator previdenciário será 0,72, ou seja, o valor de sua aposentadoria será 72% do valor-base. Se for paciente e esperar três anos, pode se aposentar aos 58. Ainda é jovem e deverá viver por 21 anos, mas o fator previdenciário o premia por adiar a aposentadoria e eleva o benefício a 88% do valor-base. Pela regra "85/95", ele não poderia se aposentar aos 55 anos. Mas aos 58 (ainda relativamente jovem) já poderia se aposentar com o benefício integral. E o aumento de gasto para a sociedade, da ordem de 13%, se prolongará por 21 anos, enquanto esse cidadão viver. No caso das mulheres, a diferença é ainda maior. Suponha que ela tenha começado a trabalhar aos 20 anos. Pela regra atual, ela poderia se aposentar aos 50 anos, com 60% do benefício integral, ou aos 53, com 77%. Pela regra "85/95"" ela não poderia se aposentar aos 50, mas já teria direito ao beneficio integral aos 53 anos, com expectativa de vida de quase 30 anos pela frente. Trata-se de um aumento de quase 30% nas despesas para a sociedade, ao longo de três décadas de sobrevida da cidadã.
A regra "85/95" traz uma pequena redução no crescimento da despesa previdenciária nos próximos dois a três anos. A partir daí, o aumento do gasto será enorme. Mantida essa regra, o gasto será 8% maior em 2020, 20% maior em 2030 e 33% maior em 2050. Será um tardo sobre os bebês de hoje, que estarão ainda na ativa.
Se o prejuízo é óbvio, por que o defendem de forma tão barulhenta? Porque a mudança atinge um grupo de elite entre os trabalhadores. O fator previdenciário atinge a aposentadoria por tempo de contribuição, ou seja, os que, após 35 anos de contribuição, podem requerer a aposentadoria. Esse grupo tende a ser mais qualificado. Só que o trabalhador brasileiro típico se aposenta por idade, sofre períodos de desemprego, passa pela informalidade e não junta 35 anos de contribuição. Apenas 28% das aposentadorias são por tempo de contribuição, mas elas consomem quase metade do total das despesas.
No mundo da política, o bom-senso padece. O governo errou ao enviar ao Congresso uma Medida Provisória com mudanças nas regras de pensão sem antes voltar a informar os parlamentares sobre o que eles já sabem - o gravíssimo problema das contas públicas e do sistema previdenciário. Assim, ocorreram a desfiguração do projeto de pensões e a derrubada do fator previdenciário. Restou ao Executivo vetar e apresentar outra Medida Provisória, que propõe aumento progressivo da regra "85/95". O aumento se inicia em 2017 até se tornar, em 2022, "90/100". É melhor do que a regra pura "85/95", mas é um retrocesso. A regra pura "85/95" faria com que em 2030 o gasto previdenciário crescesse 20%. Com a tentativa do Executivo de remediar um pouco o malfeito, o aumento ainda será de 18,5%. Trata-se de uma contrarreforma, rumo ao passado. O episódio deixou claro que o Brasil corre sérios riscos e que nossos representantes eleitos têm cabeças de ontem, saudosas do Brasil de anteontem.

Previdencia dos servidores publicos - Ricardo Bergamini

Gastos da União com servidores e o INSS
Ricardo Bergamini
Jornal do Comércio (Porto Alegre), 22/06/2015

No Brasil sempre que se debate a falência da previdência se refere apenas ao Regime Geral de Previdência (INSS), jamais se toca no Regime Próprio de Previdência dos servidores público, nesse campo há um silêncio abissal de todos, sejam políticos, imprensa, grupos de debates, estudiosos, intelectuais. Em 2014, o déficit previdenciário pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) foi de R$ 79,5 bilhões (1,44% do PIB) e do déficit previdenciário do setor público federal pelo Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) foi de R$ 66,9 bilhões (1,21% do PIB), totalizando no ano 2014 déficit previdenciário de R$ 146,4 bilhões (2,65% do PIB).

Em 2014, a receita previdenciária pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS) foi de ? R$ 319, bilhões (5,79% do PIB) em contribuições de 67,1 milhões de pessoas físicas, sendo 53,8 milhões de empregados. A despesa previdenciária dos benefícios pagos aos 27,5 milhões de aposentados e pensionistas, com salário médio de R$ 1.044,05, foi de R$ 399,2 bilhões (7,23% do PIB), fazendo com que o resultado previdenciário tenha sido negativo em R$ 79,5 bilhões (1,44% do PIB). No ano passado, a receita previdenciária pelo Regime Próprio de Previdência Social da União (RPPS) das
contribuições dos 1.294.040 servidores ativos do governo federal (934.822 civis e 359.218 militares), com salário médio mensal de R$ 9.228,20, além da parte patronal e da contribuição dos inativos foi de R$ 29,2 bilhões (0,53% do PIB). A despesa previdenciária dos benefícios pagos aos 1.028.563 servidores aposentados e pensionistas do governo federal (731.977 civis e 296.586 militares), com salário médio de mensal de R$ 7.785,94, foi de R$ 96,1 bilhões (1,74% do PIB).

Em 2014, o rendimento médio/mês per capita com pessoal ativo da União -- 1.294.040 servidores (934.822 civis e 359.218 militares -- foi de R$ 9.228,20, enquanto a média/mês per capita nacional para os trabalhadores formais nas  atividades privadas foi de R$ 2.122,10 (77% menor).

Analista financeiro

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domingo, 21 de junho de 2015

Marcos Troyjo: remaking the future

BRICS BUSINESS MAGAZINE

English Edition No. 6 (10) - June 2015

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Remaking the Future

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Having passed through a stage of ‘deep globalization,’ the world is now running the risk of ‘deglobalization.’ New trade and investment strategies, ‘China 2.0,’ and the dawn of an ‘age of talent’ could, however, propel us into an era of ‘reglobalization'



Portrait

Marcos Troyjo

Director of the BRICLab at Columbia University, where he teaches international affairs 

Remaking the Future

Globalization has been at a crossroads for a while. The dynamics of freer circulation of goods, capital, and people has lost steam. Trade protectionism is on the rise. Multilateral institutions such as the International Monetary Fund, the World Bank, and the World Trade Organization provide slow and often insufficient responses to contemporary challenges. There are indeed various forces of ‘deglobalization’ operating around the world today.

Globalization as a concept should represent more than just the ever-expanding technological advances in transport and communications. It is instead about decreasing obstacles to international trade and investment, increasing global supply chains, and improving macroeconomic coordination among the world’s top economic players, especially those member countries of the G20. The globalization of common and shared ways of experiencing the world help interdependence and interconnectedness – the basis for productivity gains on a global scale and the sustained expansion of the world economy over time.

All of these different drivers of globalization seem to have been clearly in check for the past seven years, particularly the globalization of values – the notion of a normative compass found in the 1990s idea that the principles of market economy and representative democracy as a system of government were the best parameters for the organization of societies across the globe.

From ‘Deep Globalization’ to the ‘Risk of Deglobalization’

In the early 1990s, the interplay of different elements brought about an era of ‘deep globalization,’ during which the global economy expanded vigorously. The demise of the Soviet Union and the subsequent ‘End of History’ seemed to allow for renewed international cooperation based upon the pillars – and promise – of democracy and free markets.

The U.S. seemed destined to remain a ‘hyperpower’ in the decades to follow: a new hegemon shaping a ‘new American Century.’ With increased competition and cooperation with other economic powers notwithstanding, the U.S. would go on unchallenged as a geopolitical player and the country most vehemently embracing the principles of democracy and free markets.

The globe’s geoeconomic meridian, as far as manufacturing output was concerned, seemed to be shifting towards Asia – and this process was being led by Japan. Regional blocs appeared to be the up-and-coming economic actors – and the success of European integration was seen as paradigmatic. Both the rise of Asia – propelled by Japan and the so-called ‘Asian Tigers’ – and European integration were compatible with the interests of the United States as a hyperpower, since more democracy and free markets would only deepen globalization.

But, in short, over 20 years we have left a period of ‘deep globalization’. We have moved closer to the ‘risk of deglobalization.’ In this context, international relations (understood here as relations involving nation states) have resurfaced powerfully. It is not necessarily a world of renewed nationalisms, but rather a global juncture in which nation states are particularly selfish, individualistic, and act according to an ‘every-nation-for-itself’ mode.

As deglobalization gains ground, a strong trend is showing itself in the world economy. Against a backdrop of great uncertainty, countries increasingly adopt industrial and trade policies based on a ‘doctrine of local content’; a notion we could call ‘local-contentism.’

Many confuse local-contentism with defensive trade measures erected against artificial exchange-rate stratagems that boost the attractiveness of a country’s exports. There are clear differences, however, between local-contentism and old-school protectionism. While the latter is essentially about import quotas and tariff barriers set up to protect what is ‘national,’ the former idolizes foreign direct investment and makes extensive use of government procurements as bait. After all, by its very definition, local-contentism is all about being ‘local,’ not necessarily ‘national.’

Whether this or that country might have at one point been called ‘developed’ or ‘emerging,’ they will greatly gain by letting go of the certainty that either their ‘advanced status’ or their ‘rise’ are inevitable. In the global race for competitiveness and development, nothing is automatic or everlasting

From the U.S. to France, from Brazil to China, local-contentism can be easily identified in the way state-owned enterprises, official banks, municipalities, states, provinces, and central governments interpret and implement a country’s interests in the global economy. Today, local-contentism is one of the top parameters of how governments indirectly protect domestic companies from foreign competition, foster the creation of jobs and go about procurements.

The practice is becoming the most recurrent tool in bulking up a nation’s capacity to compete in world trade and attract investment – and this in spite of its heavy price tag. Starting in 2003 in Brazil, for example, the Federal Government has only allowed Petrobras (the state-owned oil company) to buy oil tankers that have been built with at least 65% of local content. As a consequence, Petrobras ends up paying a premium of 100% on top of the average international price for any large oil-transporting vessel.

‘Local-Contentism’ on the Rise 

But the recent move towards local-contentism is also visible on radar screens in the U.S. and Europe. Past presidential campaigns in America and France were not centered on free markets or enhanced regional economic integration. They focused instead on the job creation side of local-contentism. We are therefore experiencing far more than just ‘currency wars.’ Exchange-rate tactics make for ancillary rather than decisive battles. The world has set the stage for the waging of ‘clashes for competitiveness.’

In recent years, the criticism against China’s hyper-competitiveness has been a good example of how countries have overlooked the importance of local-contentism. Throughout the past two decades, ever-louder American and European voices were raised against the way China managed its exchange rate. They aimed at spreading the notion that an undervalued currency was the key to China’s capacity to compete. But other factors have been more important in strengthening China’s sophisticated policies of local-contentism, which since 1978 have included:

  • public-private partnerships (PPPs) as a springboard for exports and attracting foreign direct investment; 
  • the (still) low cost of China’s domestic factors of production; 
  • privileged access to the world’s most important buying markets (such as the United States granting China ‘Most Favored Nation’ status in 1980, with Europe following suit in 1985); and 
  • a vigorous business diplomacy, which reportedly results in two separate Chinese trade and investment missions visiting the U.S. and Europe every day.

If, on the one hand, local-contentism is a pillar upon which China built its current economic might, it is also one of the concepts countries are now implementing to fight China’s hyper-competitiveness. As a consequence, we may see fewer ‘Made in the World’ goods coming from ‘network corporations’ that in the heyday of globalization combined worldwide logistics, supply chains, and talent pools to achieve productivity gains, and more of these processes taking place simultaneously in a single country. 

Even China, which based its prosperity on a ‘trading nation’ strategy, has to model its local-contentism not so much on the way it sells to the world, but rather on how it buys from the world. Major contracts by China’s government, corporations, and consumers as buyers will have to support activities carried out locally, generating local jobs and taxes. On a broader scope, we can essentially argue that the original idea of the BRICs (Brazil, Russia, India, and China) that emerged over the past dozen years is one that pertains to how these four nations succeeded in both globalization and deglobalization. They have been able to adapt successfully to the changing contours of the global economy, especially by becoming local content hubs. That is to say, in a world where the generation of jobs is key to economic success, they have been able to pursue alternative strategies so that their economies were always busy in providing local content.

And if local content remains an essential part of BRICS’s industrial policies only up to the point where their corporations are able to compete on a level playing field, then the BRICS’s vocation as global growth engines can definitely be confirmed. If the BRICS are indeed able to translate their local content policies into springboards for knowledge and innovation, they will certainly become one of the world’s most dynamic, prosperous, and influential group of nations.

But it is equally important to observe that although local-contentism can benefit one nation or another for a number of years, the global economy will pay a heavy price for the loss of efficiency it entails. That is why many governments today are trying to build a road back to ‘reglobalization’ either through the launch of ambitious initiatives such as that of the Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP), involving the U.S. and the European Union, or the Trans-Pacific Partnership (TPP) negotiated by Australia, Brunei, Canada, Chile, Malaysia, Mexico, New Zealand, Peru, Singapore, the U.S., and Vietnam. A successful outcome of the Doha Round of the World Trade Organization (WTO) would also help industrial and trade policies around the world move away from local-contentism and closer to interdependence. But such a positive scenario for the WTO, which depends on harmonizing the interests of more than 150 nations, seems highly improbable.

More broadly, if instead of playing a part in a country’s catching up strategy, local-contentism becomes an across-the-board philosophy for our times, it could easily be transformed into protectionism pure and simple – and as a consequence we can only expect ever-growing economic imbalances. Local-contentism would thus become the very ‘air du temps’ of a lengthy, unwelcome era of deglobalization.

End of the affair? 

The concept of ‘emerging markets’ came up years ago as a driver of the future of the world. Demographics, territorial scale, low production costs, and easy access to commodities were all signs of impending change in the geo-economic axis. Countries such as the BRICS became the world’s ‘engines of growth.’ Export-driven growth in China, a ‘transition economy’ for Russia’s market, outsourcing and technological innovation in India, and ‘import substitution 2.0’ in Brazil kept these economies booming – and social tensions quelled.

Globalization as a concept should represent more than just the ever-expanding technological advances in transport and communications. It is instead about decreasing obstacles to international trade and investment, increasing global supply chains, and improving macroeconomic coordination among the world’s top economic players, especially those member countries of the G20

These economies successfully adapted both to ‘deep globalization,’ which gained steam with the end of the Cold War, and to the ‘deglobalization’ logic of ‘every-nation-for-itself’ that has influenced international behavior since the 2008 crisis. This context brought about a naïve expectation: the BRICS were destined, slowly but surely, to lead a process of convergence between emerging economies and the development pattern of advanced economies. In the event of cyclical crises, however, we would see a much desired ‘decoupling’ – the inflexibility of developed markets would make it tougher for them to weather crises, whereas emerging markets would dynamically overcome them.

But in the past few years, those pro-convergence drivers seem to have changed course. The honeymoon with emerging markets has apparently come to an end. Emerging economies have been slowing down. In contrast, the U.S. is recovering. Although sluggishly, Europe is coming out of its recession. This, of course, has had an impact on the outlook for the direction of international capital flows. The supposed ‘end of the affair’ with emerging markets has led many to jump to superficial conclusions: no more talk of convergence or decoupling, but instead a return to the old ‘north-south’ economic hierarchy. In reality, performance in the coming years will be judged less by what we today label either ‘advanced’ or ‘emerging’ economies and more by a country’s ability to competitively shape up to a ‘reglobalization’ now in the making.

Reglobalization, the new age in world affairs we are entering, does not promote the verticalization of cross-border dynamics of regional economic, political, and legal integration. Regional entities will not take precedence over nations as the main actors in global affairs. It will not bring about a far-reaching communion of different worldviews. It will not come under a new global compact stitched together at the United Nations or the WTO.

Reglobalization will be more ‘superficial’ than the idealized ‘End of History’ world order we might have experienced at some point since the Cold War. It will be mostly focused on trade, investment, and the strengthening of global production networks. It will also be more selective – and therefore emerge as the result of the proliferation of multiple free trade agreements at bilateral levels and between some of the most powerful economic regions of the world. This is what may come out of the current negotiations involving the U.S. and Europe – the TTIP – and the similar dynamics observed in the TPP. 

China’s success or failure in turning itself into a consumption-led economy producing high value-added goods will be central to how reglobalization takes shape. There will be little room for the kind of Asian ‘neomercantilism’ practiced by China since Deng Xiaoping stipulated that the color of the cat doesn’t matter, so long as it catches the mouse. China will also contribute a great deal to reglobalization by both leading a family of new global governance institutions, such as the Asian Infrastructure Development Bank (AIIB) and the New Development Bank (NDB), in partnership with other BRICS countries.

Thus, those we once called ‘emerging markets’ may very well stagnate. But the same is also true of ‘advanced economies’ that set aside the imperatives of hard work and constant reinvention – and revel in expensive, ill-budgeted welfare states. Opportunities will decline for those countries that, having integrated themselves into a trade bloc or regional economic and political community, flirt with the luxury of fiscal irresponsibility and the granting of unsustainable labor and social security benefits without gains in productivity to support their economies. Mediterranean Europe – with the severe adjustment that it has been undergoing for a few years now – obviously comes to mind.

Whether this or that country might have at one point been called ‘developed’ or ‘emerging,’ they will greatly gain by letting go of the certainty that either their ‘advanced status’ or their ‘rise’ are inevitable. In the global race for competitiveness and development, nothing is automatic or everlasting.

Reglobalization will belong to those countries that create business-friendly ecosystems, well established and transparent market rules, and steadfast connections to transnational economic networks. Those countries, regardless of their past on one side or the other of the old north-south economic geography, will be the true ‘re-emerging markets’ of the years to come. 


BRICS BUSINESS MAGAZINE - English Edition No. 6 (10) - June 2015





Homens que fazem a diferenca na luta contra a corrupcao - Reinaldo Azevedo

Uma matéria, e postagem, já antiga, mas ainda mais relevante na luta atual do Brasil contra bandidos, corruptos, corruptores, políticos venais, policiais e procuradores lenientes ou coniventes e outros meliantes, para demonstrar que determinadas pessoas fazem, sim, a diferença num processo tão difícil como esse que estamos vivendo há mais de um ano. 
Paulo Roberto de Almeida

03/11/2014

 às 6:33

O PT e advogados de corruptos se organizam agora para tentar destruir o juiz Sérgio Moro

Reinaldo Azevedo

Pouca gente se lembra, mas Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, transformado pelo PT no belzebu do Brasil, já foi um queridinho do partido. Lula se orgulhava de ter nomeado “o primeiro negro para a corte suprema do país”, o que, além de falso, era um tanto malandro. Antes de Barbosa, dois negros já haviam chegado à corte: Pedro Lessa, entre 1907 e 1921, e Hermenegildo de Barros, entre 1917 e 1931. Lula, como sempre, inaugurava o já inaugurado. O PT insistia na cor da pele de Barbosa porque esperava contar com um ministro grato que lhe fizesse todas as vontades. Quebrou a cara, e o herói de antes virou um desafeto.

Na edição desta semana, leiam, VEJA traz uma reportagem de Daniel Pereira e Robson Bonin demonstrando que o alvo da vez do partido é o juiz Sérgio Moro, que cuida do caso do petrolão, seguramente mais grave do que o mensalão, de quem já tomou o lugar de maior escândalo da história republicana. A artilharia contra Moro já está preparada.

À VEJA, disse um dos advogados dos acusados: “Já foram reunidas provas irrefutáveis de corrupção, e não temos mais como discutir o mérito. Nossa estratégia agora é encontrar falhas graves na condução do processo e tentar desqualificar o juiz”.

Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, notório advogado de mensaleiros e agora de acusados de participar da corrupção na Petrobras, disse que Moro tinha virado “o grande eleitor da sucessão de 2014″. Os defensores dos corruptos pretendem denunciar o juiz ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão responsável por analisar a conduta de magistrados. “Vão alegar, informa VEJA, que ele promoveu um vazamento seletivo de um processo em curso na Justiça Federal e esperam contar com a simpatia pela causa da corregedora do CNJ, a ministra Nancy Andrighi. A ideia é conseguir o afastamento de Moro das ações relacionadas ao caso”. Vale lembrar: Dilma Rousseff, candidata à reeleição e agora reeleita, fez a mesma acusação.

A tropa de advogados pretende ainda buscar a anulação das delações premiadas de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, ainda a ser homologada, alegando que eles foram coagidos por Moro, que teria ameaçado prender familiares de ambos.

Informa ainda a revista: “Em outra frente, os advogados estudam a possibilidade de pedir a transferência das investigações para o Rio de Janeiro, onde fica a sede da Petrobras, o foco dos maiores desvios em apuração. Com a mudança de foro, aumentariam suas chances de neutralizar os delegados da Polícia Federal e os procuradores que fazem as investigações. “Sem o trabalho deles, esse processo dificilmente chegará ao fim a contento”, diz uma das autoridades que trabalham no caso.

Vão parar por aí? Não! Um dos advogados afirma: “Também vamos levantar coisas da vida pessoal do juiz”. Informa VEJA: “A orientação é para verificar a evolução patrimonial dele e de seus familiares, além das relações políticas que eventualmente tenham”.

Os companheiros, em suma, vão recorrer ao método de sempre: pôr para funcionar a sua máquina de enlamear reputações e contar com a rede suja na Internet e na subimprensa, financiada por estatais, para tentar desmoralizar o juiz e melar a investigação.

Leiam a reportagem da VEJA que está nas bancas. O inimigo nº 1 do PT no momento chama-se Sérgio Moro, um juiz que tem o defeito, até onde todo mundo sabe, de ser incorruptível. Não serve para os “companheiros”.

Texto publicado originalmente às 4h12
Por Reinaldo Azevedo

sábado, 20 de junho de 2015

Mensagem a meus seguidores - Paulo Roberto de Almeida

Mensagem (que espero simpática) a meus seguidores

Paulo Roberto de Almeida 

Acredito ter dois tipos de seguidores:
1) voluntários
2) involuntários (ou compulsórios)

Esses dois tipos, por sua vez, se dividem em duas categorias, cada um:
1, a) aprendizes
1, b) críticos

2, a) vigilantes
2, b) censores

Posso explicar?

Os aprendizes devem ser jovens estudantes, talvez carentes de maiores leituras, e que buscam se qualificar ou aprender alguma coisa, com quem já leu muito, viajou muito, observou o mundo e aprendeu muitas coisas que agora podem ser transmitidas a quem ainda não teve tempo ou oportunidade de ler, observar ou aprender.

Os críticos devem ser professores, jovens ou não, que leem minhas coisas com aquele ceticismo que deve ser instintivo na categoria, alguns podendo concordar com o que escrevo - eventualmente transmitindo meus argumentos a seus alunos - enquanto outros não concordam, o que é natural, e que podem também usar meus argumentos para tentar rebatê-los, o que sempre é auspicioso, mas que também podem descartá-los com aquele ar de desprezo que os verdadeiros crentes, os true believers em certas concepções, devotam aos supostamente neoliberais, reacionários ou "de direita" (mas eu não sou nada disso). Tudo isso é bem vindo e deve ser praticado: quando eu era jovem, um pouco true believer também (mas jamais religioso, pois eu lia de tudo), eu ficava devorando artigos e livros de Roberto Campos e de Raymond Aron com muita curiosidade, mas também com certa raiva, pois tentava desmenti-los e não conseguia (o que acredito me tornou um pouco mais inteligente, ou pelo menos mais sabido). Agradeço hoje a esses dois "reacionários" terem feito de mim o que sou hoje, entre muitos outros autores, de todas as tendências que li, sem qualquer discriminação, ao longo da vida.

Os vigilantes devem ser aqueles colegas de profissão ou companheiros de ofício que, geralmente a pedido de chefes e de outros companheiros (não os meus, certamente), precisam ficar vigiando tudo o que eu escrevo e que publico para ver se eu não ultrapassei certas medidas, e se não mereço, talvez, uma advertência, quem sabe uma admoestação ou até uma punição (mais uma, mais ainda?). Quais são os limites? Não os estamentais, ou de casta, pois pouca gente liga para isso atualmente, ou nos tempos que correm. Na verdade, eu acho que é tudo aquilo que parece incomodar os companheiros, pois acho que ninguém da minha tribo está mais ligando para os cânones profissionais, para o bullshit do pensamento único, para a verdade oficial, para a ortodoxia do momento ou para os simples argumentos de autoridade, que são representados, como todos sabem, pelo discurso chapa branca, pelo politicamente correto, pelo dogma vaticanês, enfim, por todas aquelas coisas que nossa burocracia bem comportada produz tão bem. A casta já não é mais o que era, aliás, nem se reconhece mais como casta. Tudo está a serviço dos companheiros, o que é realmente lamentável.

Os censores, finalmente, são os representantes ou os assalariados des companheiros, militantes voluntários ou mercenários qualificados que têm por função vigiar, com aquelas grandes orelhas e aqueles olhos orwellianos, tudo o que eu digo, escrevo e publico, para ver se não é o caso de empreender alguma operação de sabotagem ou de neutralização ideológica, quando não algo mais drástico. Eles devem ter raiva de tudo o que escrevo, do que eu represento, e por eu ser algo que eles não podem ser: alguém inteiramente livre (de pensamento, certamente, e de várias outras amarras também), que se permite, sans Dieu, ni Maître, dizer tudo o que pensa sem temer retaliação, e isso de forma totalmente independente, voluntária, sem receber nada por isso, sem pertencer a qualquer movimento, partido ou grupúsculo, e que escolhe livremente os temas ou assuntos sobre os quais vai emitir alguma opinião.

Aos últimos, cuja atividade eu desprezo - pois ela é típica de regimes ditatoriais e de partidos totalitários, e que eles mesmos devem desprezar -, eu não tenho nada a dizer, a não ser que acredito que eles mesmos, se tiverem dois neurônios, devem achar tudo isso desprezível. Compreendo: a maior parte dos engajados na atividade censória faz isso por dinheiro, não por ideologia, pois não acredito que alguém razoavelmente bem informado possa, depois de tudo o que se sabe sobre esses regimes criminosos, trabalhar em prol desse tipo de situação, ou que ainda tenha coragem para pretender erigir em modelo de qualquer coisa um regime desse tipo. Essa atividade é simplesmente asquerosa, mas ela existe oficialmente nos regimes apreciados pelos companheiros (eles devem ser doentes mentais, no mínimo).

Às duas últimas categorias, a única coisa que eu poderia dizer é o seguinte: vocês estão gastando recursos públicos inutilmente, ou seja, o seu, o meu, o nosso dinheiro, com algo totalmente desnecessário e absolutamente inútil, por uma razão muito simples: eu vou continuar falando, escrevendo, publicando TUDO o que eu quiser, em total liberdade de opinião, seja em caráter puramente informativo, seja de tipo analítico, seja, como também ocorre frequentemente, de cunho declaradamente crítico e condenatório de tudo isso que está aí, as mentiras, as fraudes, a roubalheira, o bullshit, o politicamente correto e todas essas coisas totalitárias e desprezíveis que os companheiros defendem.

A todas as quatro categorias, apenas uma palavra: não se levem muito a sério, tomem algum tempo de se divertir também, como eu faço, aliás. Muito do que escrevo é puro divertissement, e não deve ser levado a sério, inclusive esta própria peça de divertimento (que espero bem educado). 

Para terminar:
Aprendizes: aprendam! 
Críticos: continuem lendo criticamente, e criticando, tudo o que escrevo, e se puderem, escrevam.
Vigilantes: relaxem, e não gastem dinheiro público com inutilidades.
Censores: passem bem, e minhas saudações aos companheiros (que continuarei incomodando).

Como já disse o poeta Mário Quintana: "Eles passarão, eu passarinho!"

Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 20/06/2015

A estagnacao secular e a recuperacao pela guerra - Felipe Miranda (Empiricus)

Discordo frontalmente de ambos os conceitos: tanto da estagnação secular, quando da recuperação por um fenômeno circunstancial, ainda que importante, como a guerra. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, ou seja, guerra não tem nada a ver com politica econômica, apenas torce o braço da política econômica, com enormes custos de oportunidade que não são provocados por ninguém, e sim produzidos por fatores externos.
Paulo Roberto de Almeida

Meu maior pesadelo
Felipe Miranda, 20/06/2015

Caro leitor,

Na semana passada, pude ouvir diretamente de Alan Greenspan, na tradução livre: “nós estamos numa posição de estagnação secular.”

Confesso a vocês: isso me preocupa fortemente. Mais do que Grécia, ajuste fiscal ou mesmo recrudescimento das condições de liquidez internacional a partir do processo de normalização das políticas monetárias. Muito além, inclusive, de questões econômicas e financeiras estritas.

Explico o porquê...

O termo “secular stagnation” foi cunhado no auge da Grande Depressão, em 1938, por Alvin Hansen, então presidente da American Economic Association. A interpretação de Hansen era de que a Grande Depressão iniciaria uma nova era, representada por desemprego alto e duradouro e estagnação da economia. Não seria algo transitório ou solúvel facilmente a partir, por exemplo, da ação de política monetária.

Falaríamos de algo estrutural, mudanças nas bases da economia dos países industrializados, ligadas à redução da taxa de natalidade e ao excesso de oferta de poupança sobre investimentos, que levariam a uma taxa de juro de equilíbrio para níveis muito baixos, possivelmente inferiores a zero.

Posto que, a princípio, as taxas de juro efetivamente praticadas não poderiam ser negativas - e, por hipótese, estariam, portanto, superiores àquelas de equilíbrio -, o cenário engendraria enfraquecimento importante da demanda agregada.

Fazia muito sentido à época. Vínhamos de quase uma década de desemprego dramático, forte queda da massa salarial e baixo crescimento econômico.

O Banco Central dos EUA, depois de anos de política monetária expansionista, apertara o torniquete monetário em 1937, causando uma queda de 49% das bolsas norte-americanas; logo, voltou a afrouxar a política monetária entre 1938 e 1939, à espera de reação da economia - os resultados práticos, contudo, não vieram e a expansão do PIB continuou em ritmo muito baixo.

Como a economia dos países industrializados e dos EUA em particular sai da recessão da década de 30? Ou, em outras palavras, como pudemos interromper a traumática estagnação secular?

A resposta: com a Segunda Guerra Mundial. Somente com ela.

Foi necessário um conflito bélico de proporções globais - e desnecessário dizer: consequências brutais e altamente indesejáveis - para quebrar essa dinâmica nefasta.

Precisamos do enorme expansionismo fiscal, a partir de gastos militares bastante pesados, para preencher o buraco faltante de demanda agregada. Somente com isso, a economia voltou a crescer, com a geração pós-guerra vivenciando mudança pronunciada na tendência populacional, naquilo que ficou conhecido nos EUA como “baby boom”.

Avançando 75 anos na história, o tema da estagnação secular volta ao centro das discussões. O ex-secretário do Tesouro dos EUA Larry Summers tem sistematicamente abordado a questão e sua gravidade, tendo como adeptos Paul Krugman, Alan Greenspan e outros de gabarito semelhante.

Fundamental notar: houve apenas dois momentos da história em que se debateu o secular stagnation, em 2015 (para ser preciso, o tema começa a ser comentado com certa frequência já em 2014, a partir de discurso de Summers na NABE) e 1938.

Àquela altura, 1938 reconciliava-se com 1929. Analogamente, 2015 (ou talvez 2016; é impossível cravar com precisão o timing) pode representar o acerto de contas com 2008.

Não se trata de coincidência. A crise de sete anos atrás, cujo ápice é marcado pela quebra do banco Lehman Brothers em 15 de setembro, encontra um único precedente na história, justamente aquela iniciada em 1929, quando precisamos de uma Segunda Guerra Mundial para retirar a economia global da recessão.

Esse é o tamanho do problema, não podendo ser menosprezado.

Entre aqueles com capacidade de enxergar a história com o devido afastamento da volatilidade de curtíssimo prazo, já há inclusive quem alerte para o pior. Em conferência de Bretton Woods no Banco Mundial ao final de maio, George Soros declarou de forma categórica estar preocupado com a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial.

Segundo ele, se os esforços da China em migrar sua matriz exportadora para uma economia voltada ao mercado doméstico fracassarem, há possibilidade real de que os governantes chineses estimulem uma guerra para manter o país unido e continuar no poder.

Para referendar o argumento, Soros citou o exemplo do aumento dos gastos militares na China e Rússia.

A preocupação não é exclusiva do megainvestidor. No dia 15 de junho, a Bloomberg fez reportagem de título Five Million Reasons Why China Could Go to War (Cinco milhões de razões que justificariam uma guerra para China), citando maior atenção de bases militares no mar do Sul e relações armamentícias crescentes com Sudão, Iemen e Paquistão.

Em paralelo, há notícias apontando aproximação da China com a Rússia, que, por sua vez, acaba de prometer retaliar os EUA em caso de transferência de bases militares norte-americanas para os balcãs, conforme matéria da Reuters também do dia 15, de título Russia says will retaliate if US weapons stationed on its borders (Rússia diz que haverá retaliações caso EUA transfiram armas para suas fronteiras).

Não estou dizendo que, necessariamente, a reconciliação de 2015 com 2008 ensejará uma Terceira Guerra Mundial. Chamo a atenção, porém, para a gravidade e a complexidade do contexto político e econômico atual.

Temos sempre a tentação de achar que “desta vez é diferente”. Na maior parte das vezes, entretanto, não é. Se a história serve de guia, momentos muito longos de baixo crescimento econômico mundial, associados a recrudescimento das tensões políticas, abrem espaços para movimentos extremados, cujas consequências podem escapar ao controle.

Estamos certamente em tempos muito difíceis e os desdobramentos materiais podem ultrapassar nossa capacidade de antevisão a priori.

Voltando a Alan Greenspan e sua precisão nas palavras, “nós não sabemos muito bem o que fazer, por uma razão muito simples: nós nunca estivemos nessa situação antes.”