Diplomacia brasileira precisa voltar ao pragmatismo
Editorial O Globo, 28.04.2013
Ações motivadas por afinidades ideológicas fazem país patinar, perder oportunidades e espaço no comércio internacional
EUA e União Europeia anunciaram negociações para um formidável acordo comercial. Na América Latina - O presidente eleito do Paraguai, Horacio Cartes, é favorável ao rápido regresso do país ao Mercosul, do qual foi suspenso por Brasil, Argentina e Uruguai em 29 de junho de 2012, como sanção pelo impeachment do presidente Fernando Lugo, no que foi considerado pelos três países um golpe parlamentar. Em manobra polêmica, Brasília, Buenos Aires e Montevidéu puniram o Paraguai para abrir caminho à entrada da Venezuela como membro pleno do bloco comercial. O Congresso paraguaio era o único Legislativo dos integrantes do Mercosul a bloquear o ingresso de Caracas. O obstáculo foi superado com a suspensão.
Isto foi confirmado já com o país suspenso. Em sessão de 23 de agosto, o Senado paraguaio rejeitou a entrada do novo sócio. É provável que Cartes tenha sucesso em reverter a decisão após sua posse, em agosto, pois seu Partido Colorado obteve maioria simples na Câmara dos Deputados (44 das 80 cadeiras) e uma bancada de 19 parlamentares no Senado de 45. Mas não são favas contadas.
Imprevistos poderão significar nova saia justa para a política externa brasileira, que adota dois pesos e duas medidas por conta da "diplomacia companheira", de fundo ideológico. Para permitir o ingresso da Venezuela chavista no Mercosul, Brasília comandou o boicote ao Paraguai após o impeachment do "companheiro" Lugo.
O bloco comercial agora reúne a Venezuela, inimiga número um dos Estados Unidos na América Latina; a Argentina, que não tem boas relações com Washington e se isola; o Brasil, que caiu num antiamericanismo pueril pela retrógrada visão Norte-Sul dos governos do PT; e o Uruguai. O problema é que os EUA ainda são a única potência e o maior mercado consumidor do mundo. Não se pode fingir que não existe.
México, Peru, Colômbia e Chile, países com economias dinâmicas, se lançam na Aliança do Pacífico. Há enorme efervescência na Ásia. Segundo disse ao "Estado de S. Paulo" Ana Paula Zacarias, embaixadora da UE no Brasil, "ao todo, no mundo, estão sendo negociados cerca de 300 acordos comerciais". Enquanto isso, o Brasil fica preso a um Mercosul em crise e decadente, que não consegue avançar nas negociações iniciadas em 2010 para um acordo com a UE.
A relação comercial com a Venezuela é importante, desde que não atrapalhe os demais interesses do Brasil. Este não pode abrir mão de seu papel de líder na América Latina em função de companheirismos ideológicos. A política externa brasileira precisa deixar de lado os dois pesos e duas medidas e voltar a refletir essa liderança, retomando o pragmatismo responsável.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
segunda-feira, 29 de abril de 2013
domingo, 28 de abril de 2013
A semente do totalitarismo: o PT e seus projetos ditatoriais - Mary Zaidan
Blog do Noblat, 28/04/2013
Se o Ministério Público desagrada, reduza-se o poder do MP. Se o STF causa dissabores, cortem-se as asas do Supremo.
Se a imprensa critica e denuncia, controle-a. Essa é a lógica que impera no PT, partido que não se satisfaz com a maioria, nem mesmo acachapante.
Quer tanto a hegemonia plena que golpeia qualquer um que ouse discordar da ordem unida, cassando a palavra e o voto.
Que o digam os senadores Jorge Viana (AC) e Wellington Dias (PI), este último líder do PT, impedidos de discordar do prazo de vigência para as novas regras ditadas pelo governo para a criação de novos partidos.
Direta ou indiretamente, a mão e a mente do PT estão em todos os atos que castram os poderes daqueles que o perturbam.
Chegou ao cúmulo de fazer aprovar na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara um revide ao Supremo, que impôs reveses irrecuperáveis à imagem do PT.
Com votos dos mensaleiros José Genoíno e João Paulo Cunha, ambos do PT-SP, o projeto do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) retira prerrogativas constitucionais pétreas do STF, transferindo-as para o Parlamento.
A afronta foi tão assustadora que o aliado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), presidente da Casa, antecipou-se em suspender a tramitação da matéria.
Pôs panos quentes, mas não conseguiu evitar o acirramento da crise com o STF, que o PT não se cansa de atiçar desde o julgamento do mensalão.
Na outra ponta, por meio do aliado Fernando Collor (PTB-AL), o PT tentou intimidar o procurador-geral da República Roberto Gurgel, inimigo número 1 do partido, com a ameaça de uma CPI.
A ideia não prosperou, mas o partido estimula o projeto que limita as possibilidades de investigação do MP. Ainda que o PT tergiverse e diga que nada tem com isso, a PEC de autoria do ex-delegado Lourival Mendes (PT do B-BA) dificilmente chegaria onde chegou sem o aval do partido.
Quanto à imprensa, repete sempre que pode: não vai abandonar o projeto de controle, que, sem pudor algum, chama de democratização.
O PT tem poder legítimo e popularidade recorde. Mas parece invejar o conforto totalitário do governo da Venezuela, nação com democracia de mentirinha, que acaba de receber, assim como a derrapante Argentina de Cristina Kirchner, mais afagos da presidente Dilma Rousseff.
Não se chegou ao absurdo da ditadura bolivariana que quer encarcerar o líder oposicionista e mandou cortar salários e vozes de parlamentares que não reconhecem a vitória de Nicolás Maduro, arremedo mal acabado de Hugo Chávez.
Mas o PT está se empenhando em aproximar-se de tais descalabros. Move-se para sufocar a oposição, anular o Judiciário e pôr rédeas na imprensa.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. @maryzaidan
(Des)Integracao Regional: como se isolar do mundo e ficar menor... - Sergio Fausto
SERGIO FAUSTO
O Estado de S.Paulo, 28 de abril de 2013 | 2h 03
Quando, em 2005, Hugo Chávez, Néstor Kirchner e Diego
Maradona encenaram a morte da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), em
comício paralelo à 4.ª Cúpula das Américas, em Mar del Plata, o Brasil observou
a distância, mas satisfeito. Era o que o governo brasileiro queria. Na ótica da
política Sul-Sul, a Alca era anátema. Representaria um projeto de anexação à
economia americana. A integração que corresponderia aos interesses nacionais brasileiros
seria essencialmente sul-americana, assentada no eixo Brasil, Argentina e
Venezuela, nessa ordem.
Essa premissa levou o governo brasileiro a estabelecer
relações especiais com Buenos Aires e Caracas. Na longa controvérsia
diplomática entre Argentina e Uruguai em torno da instalação de indústrias de
papel e celulose na margem uruguaia do rio que divide os dois países, o Brasil
lavou as mãos. Nem o bloqueio sistemático de pontes sobre o Rio Uruguai por
manifestantes argentinos nem as solicitações do então presidente Tabaré
Vázquez, temeroso de uma escalada do conflito, convenceram Brasília a assumir a
mediação da discórdia, que acabou resolvida na Corte Internacional de Haia, em
favor do Uruguai, em 2010.
Em relação à Venezuela, o governo brasileiro
esmerou-se na política de dois pesos e duas medidas. Foi brando com Chávez
diante de evidências do apoio de seu governo às Farc e duro com a Colômbia,
como deveria ser, quando aviões colombianos bombardearam um acampamento da
guerrilha no Equador, em 2008. Não disse uma palavra sobre o crescente
autoritarismo do "socialismo do século 21", mas, invocando a cláusula
democrática do Mercosul, foi implacável no apoio à punição ao Paraguai quando,
em 2012, o Senado desse país votou o impeachment de Fernando Lugo. Seguiu-se a
incorporação da Venezuela ao Mercosul, que se processou de maneira atípica e se
consumou de modo arbitrário.
Em sua forma atual, o Mercosul reflete a preferência
do governo brasileiro, desde Lula, e sobretudo com Dilma, por uma integração externa
limitada, pouco exigente em matéria de abertura comercial e estabilidade das
regras do jogo e altamente dependente da mediação governamental e do
protagonismo do Estado, de suas empresas e de poucas grandes empresas
nacionais. Prevalece em Brasília a visão de que o jogo assim armado é favorável
ao País. Afinal, o Brasil entra em campo com gigantes como Vale e Petrobrás,
companhias privadas brasileiras globais e um banco de investimento, o BNDES,
sem igual no Hemisfério Sul. O objetivo comum de evitar a
"subordinação" econômica da região aos Estados Unidos, as afinidades
políticas entre governos e a suposta capacidade do Brasil de enquadrar o
chavismo e o kirchnerismo dentro de certos limites de racionalidade econômica e
prudência política assegurariam a convergência, sob a liderança do Brasil, dos
interesses nacionais dos três países.
A realidade encarregou-se de mostrar que o
"interesse nacional" assim definido tende a misturar negócios
privados com políticas de Estado e políticas de Estado com preferências
político-ideológicas, e que a propalada liderança brasileira é em grande parte
ilusória. Nestes últimos anos, Venezuela e Argentina avançaram
ininterruptamente na destruição das instituições formais e informais que
assegurariam um funcionamento razoavelmente normal e previsível de suas
economias e sociedades. E não hesitaram em contrariar os interesses do Brasil
quando assim decidiram fazê-lo. Livres do "imperialismo americano",
ambos os países foram submetidos à vontade de um poder nacional estatal exercido
de forma personalista e arbitrária. Só isso pode explicar por que a Venezuela,
com sua riqueza petroleira, num período de duradoura e exuberante alta dos
preços internacionais do petróleo, vive hoje uma crise crônica de escassez de
divisas e energia, com desabastecimento de vários produtos e apagões
constantes. O mesmo se pode dizer, com diferença de grau apenas, em relação à
Argentina, um país que dispõe de amplas reservas de gás natural e petróleo e
oferta exportável de bens agropecuários, também favorecidos pelos preços
internacionais. E que parece à beira de uma crise cambial.
Empresas brasileiras estão fechando as portas na
Argentina. A Vale e a Petrobrás descobriram que o apoio do governo brasileiro
não é suficiente para proteger os seus interesses no país vizinho. Na
Venezuela, grandes empreiteiras brasileiras têm uma carteira de projetos
estimada em US$ 20 bilhões. Só o incerto futuro dirá o retorno que terão esses
investimentos. De alguma maneira, o setor privado se ajustará às novas realidades.
Empresas desse porte têm capacidade de absorver perdas e redirecionar seus
investimentos para lugares mais promissores. Não nos deveríamos preocupar com
seus eventuais problemas, a não ser pelo fato de que recursos públicos foram
empregados para tornar viável parte significativa de seus investimentos.
Mais importante é reorientar a política externa
brasileira para a região, sem jogar fora o bebê com a água do banho. Ela não
pode estar dissociada de uma visão mais realista do mundo. O Brasil não precisa
reproduzir o modelo de inserção externa adotado por países como Chile, Peru,
Colômbia e México. Mas não pode ignorar o fato de que a opção por um modelo
Alca plus Ásia, com múltiplos tratados de livre comércio, maior abertura das
economias, maior protagonismo do setor privado e menor discricionariedade
governamental, vem produzindo resultados consistentemente superiores aos
obtidos pela opção por um modelo Mercosul minus Alca. O que está em jogo não
são siglas, mas uma revisão dos pressupostos que têm orientado a agenda de
desenvolvimento e inserção externa do País nos últimos dez anos. Não é fazer
mais do mesmo um pouco melhor. É fazer diferente. E isso requer uma nova visão
e uma nova liderança política em Brasília.
SERGIO FAUSTO, DIRETOR EXECUTIVO DO iFHC, É
MEMBRO DO GACINT-USP. E-MAIL:SFAUSTO40@HOTMAIL.COM
Fraude eleitoral na Venezuela: agora os procedimentos ficaram claros
Parece que as coisas estão ficando mais evidentes, agora.
Vamos ver como se pronunciam a OEA, o Centro Carter para a Democracia (que tem sido um fiel aliado de Chávez pelos últimos 13 anos) e, enfim, a Unasul (que não vai abrir a sua boca grande neste caso).
A fraude continua, venceremos! (ops, o slogan é outro...)
Paulo Roberto de Almeida
Do Blog Venezuela, Views and News, mantido por Daniel...
http://daniel-venezuela.blogspot.com.br/2013/04/electoral-fraud-mode-confirmed-it-is-in.html#more
It came as no surprise a few minutes ago: the CNE has announced that the audit it will allow DOES NOT include the books where voters must sign after they vote. Nor apparently the system that gets your fingerprints. In other words it is a useless audit because it indeed will count the votes that were cast but does not account for those that were allowed to cast proper votes.
What are the implications?
First, we must note the combative and bitter tone of Tibisay Lucena cadena whose words are not those of an objective umpire whatsoever. She extended in some explanations which had as sole objective to disparage Capriles and dismiss his claims Whether Lucena is allowed to think so does not give her the right to say it aloud: she is supposed to be an umpire. The only explanation is that she is sending a message from the regime to the opposition: screw you! For those of you that read Spanish I am linking the transcript, which of course was made available to state TV beforehand but not to others I understand.
The second implication is graver: by refusing to visit the voter registry and to check the digital prints Lucena simply admits that any irregularities in the voting process are indeed there. Thus the only way for the opposition is to demand annulment of the election where indeed they can expose the arguments of undue pressure on voters that the CNE claims it cannot receive. In short: an amiable arrangement is now impossible, show of force are becoming and almost unavoidable outcome.
The third implication is even worse: by stonewalling for so long, by trying to dismiss clumsily the opposition reasonable petition, by offering an audit that she cannot possibly lose, by refusing to examine anything where indeed irregularities could be found, Tibisay Lucena is finishing her tenure at the head of the CNE casting a serious doubt about ALL the electoral processes that she presided over. The damage she has done to the CNE in the last two weeks may well be irreparable.
Now on for the "impugnacion".
Vamos ver como se pronunciam a OEA, o Centro Carter para a Democracia (que tem sido um fiel aliado de Chávez pelos últimos 13 anos) e, enfim, a Unasul (que não vai abrir a sua boca grande neste caso).
A fraude continua, venceremos! (ops, o slogan é outro...)
Paulo Roberto de Almeida
Do Blog Venezuela, Views and News, mantido por Daniel...
http://daniel-venezuela.blogspot.com.br/2013/04/electoral-fraud-mode-confirmed-it-is-in.html#more
Saturday, April 27, 2013
Electoral fraud mode confirmed: it is in who voted, how many times they voted, where they voted
| Wrecking her life work at the very end, and in pink innocent girl! |
What are the implications?
First, we must note the combative and bitter tone of Tibisay Lucena cadena whose words are not those of an objective umpire whatsoever. She extended in some explanations which had as sole objective to disparage Capriles and dismiss his claims Whether Lucena is allowed to think so does not give her the right to say it aloud: she is supposed to be an umpire. The only explanation is that she is sending a message from the regime to the opposition: screw you! For those of you that read Spanish I am linking the transcript, which of course was made available to state TV beforehand but not to others I understand.
The second implication is graver: by refusing to visit the voter registry and to check the digital prints Lucena simply admits that any irregularities in the voting process are indeed there. Thus the only way for the opposition is to demand annulment of the election where indeed they can expose the arguments of undue pressure on voters that the CNE claims it cannot receive. In short: an amiable arrangement is now impossible, show of force are becoming and almost unavoidable outcome.
The third implication is even worse: by stonewalling for so long, by trying to dismiss clumsily the opposition reasonable petition, by offering an audit that she cannot possibly lose, by refusing to examine anything where indeed irregularities could be found, Tibisay Lucena is finishing her tenure at the head of the CNE casting a serious doubt about ALL the electoral processes that she presided over. The damage she has done to the CNE in the last two weeks may well be irreparable.
Now on for the "impugnacion".
| Reminder: Tibisay Lucena at Chavez funeral wearing the fascist armband that chavismo has adopted |
Assedio no Itamaraty: uma das novelas mais longas da historia do kitsch nacional...
“Isso não vai dar em nada”.
Será mesmo? Excesso de esperteza costuma cair mal...
Paulo Roberto de Almeida
28/04/2013 | 00:00
Itamaraty mantém cônsul acusado de assédio
Em novo abaixo-assinado ao chanceler Antonio Patriota e a Heraldo Povoa, corregedor do Itamaraty, os funcionários do consulado-geral do Brasil em Sidney (Austrália) pedem o afastamento preventivo do embaixador Américo Fontenelle e do adjunto César Cidade, acusados de assédio moral e sexual há mais de três meses. Dizem eles que Fontenelle circula no consulado avisando: “Isso não vai dar em nada”.
28/04/2013 | 00:00
Ética de pelica
O processo administrativo já deveria ter sido aberto com o imediato afastamento dos dois, mas o Itamaraty só abriu processo ético.
28/04/2013 | 00:00
‘Ficha limpa’
O embaixador poderá sofrer apenas sanções, mantendo a “ficha limpa” na carreira. A crise já prejudica o funcionamento do consulado.
28/04/2013 | 00:00
Forno aceso
Acabou em pizza a primeira investigação no Canadá contra Fontenelle, que alardeia sua amizade com José Dirceu e figurões do Itamaraty.
Neopopulismo na América Latina - um ensaio de Ricardo Velez-Rodriguez
Um excelente texto, longo, mas rico e denso em sua abrangência analítica, disponibilizado aqui apenas em sua introdução.
Leiam a íntegra em: http://pensadordelamancha.blogspot.com/2013/04/consideracoes-acerca-do-conceito-de.html
Leiam a íntegra em: http://pensadordelamancha.blogspot.com/2013/04/consideracoes-acerca-do-conceito-de.html
Ricardo Vélez-Rodríguez
Blog Rocinante, 24 de Abril de 2013
O fenômeno do populismo está na crista da onda, não apenas na América Latina, mas pelo mundo afora também. As incertezas geradas pela globalização do mercado de trabalho nos países desenvolvidos (pondo em risco a antiga política do welfare state); a inclusão na economia de mercado de nações até há pouco tempo dependentes de regimes totalitários (como no Leste europeu); a onda de regimes democráticos surgidos na América Latina nos últimos vinte anos e que não conseguiram responder a contento aos reptos crescentes das suas sociedades; as reformas de inspiração liberal, feitas nas economias dos países sub-desenvolvidos, ao longo das últimas décadas, à luz do “Consenso de Washington”, reformas que, se bem reduziram a inflação de modo geral, no entanto não tiveram os resultados esperados do ângulo da produtividade, ainda muito sufocada pelas tradições estatizantes e familísticas na gestão da coisa pública; a democratização sui generis (com forte presença de uma liderança tradicional e carismática), em países do mundo islâmico (Síria, Líbia, Irã); a entrada das nações africanas no período pós-colonial (ao longo da segunda metade do século passado) no caminho da regularização da vida democrática, (num contexto ainda marcado fortemente pelo tribalismo); a desaceleração da economia estadunidense e os freios que esse fenômeno está a produzir em outras economias, particularmente no nosso Continente, essas seriam algumas das variáveis que têm contribuído para o surgimento do populismo, que pode ser considerado como uma espécie de doença que afeta às democracias no momento em que se encontram em crise (de crescimento ou de desgaste).
Nações desenvolvidas, como a França, viram surgir, nos pleitos eleitorais dos últimos dez anos, sucessivamente, figuras de caráter populista, situadas em vários parâmetros do espectro ideológico, como Jean-Marie Le-Pen, Michel Bové ou Ségolène Royal. Na Itália, às voltas com a dramática redução do crescimento econômico nos últimos dez anos e com a endêmica instabilidade parlamentar, vemos ressurgir o populista Berlusconi como novo chefe do governo. A própria campanha para indicação dos candidatos democratas à sucessão estadunidense não tem estado vazia de aspectos de coloração populista, presentes nos discursos dos dois aspirantes desse segmento político, na disputa por um eleitorado insatisfeito com os rumos tomados pela superpotência americana. Na América Latina, é rica a plêiade de líderes populistas que chegaram ao poder nos últimos anos: o casal Kirschner na Argentina, o coronel Chávez na Venezuela, o presidente Correa no Equador, Evo Morales na Bolívia e, nas últimas semanas, o bispo Lugo no Paraguai. No Brasil, o populismo carismático de Lula, já está na sua segunda rodada e ameaça com se prolongar num messiânico “terceiro mandato”, que é insinuado ao ensejo de pesquisas de opinião favoráveis ao governo e encomendadas por sindicatos com forte presença estatal.
Fenômeno tão amplo merece ser estudado com detalhe. Não me deterei numa caracterização do Populismo, nas suas várias manifestações ao longo do século XX. Isso exigiria um trabalho de mais fôlego, só para dar conta de populismos tradicionais como o varguista, no Brasil, o peronista, na Argentina, o gaitanista (seguido, depois, pelo rojas-pinillista ou anapista), na Colômbia, ou o encarnado por ditadores militares como Juan Vicente Gómez ou Pérez Jiménez, na Venezuela. Fixarei a atenção no denominado neopopulismo, que acompanha as reações das sociedades hodiernas perante a globalização econômica. Tratarei, portanto, de fenômeno atual, que se circunscreve às duas últimas décadas do século passado e que abarca, obviamente, os anos transcorridos do presente século XXI. Pretendo, neste artigo, desenvolver dois aspectos: I) o conceito de neopopulismo; II) de que forma esse fenômeno afeta a vida democrática da América do Sul, atualmente e no futuro próximo?
Continuar a leitura neste link: http://pensadordelamancha.blogspot.com/2013/04/consideracoes-acerca-do-conceito-de.html
Afeganistao: um diplomata (parcialmente) sincero
Uma avaliação sóbria do atual desastre afegão, que vai continuar, até que suas elites assumam suas responsabilidades.
Paulo Roberto de Almeida
DIPLOMATIC MEMO
Departing French Envoy Has Frank Words on Afghanistan
By ALISSA J. RUBIN
The New York Times, April 28, 2013
KABUL, Afghanistan — It is always hard to gauge what diplomats really think unless one of their cables ends up on WikiLeaks, but every once in a while, the barriers fall and a bit of truth slips into public view.
That is especially true in Afghanistan, where diplomats painstakingly weigh every word against political goals back home.
The positive spin from the Americans has been running especially hard the last few weeks, as Congressional committees in Washington focus on spending bills and the Obama administration, trying to secure money for a few more years here, talks up the country’s progress. The same is going on at the European Union, where the tone has been sterner than in the past, but still glosses predictions of Afghanistan’s future with upbeat words like “promise” and “potential.”
Despite that, one of those rare truth-telling moments came at a farewell cocktail party last week hosted by the departing French ambassador to Kabul: Bernard Bajolet, who is leaving to head France’s Direction Génerale de la Sécurité Extérieure, its foreign intelligence service.
After the white-coated staff passed the third round of hors d’oeuvres, Mr. Bajolet took the lectern and laid out a picture of how France — a country plagued by a slow economy, waning public support for the Afghan endeavor and demands from other foreign conflicts, including Syria and North Africa — looked at Afghanistan.
While it is certainly easier for France to be a critic from the sidelines than countries whose troops are still fighting in Afghanistan, the country can claim to have done its part. It lost more troops than all but three other countries before withdrawing its last combat forces in the fall.
The room, filled with diplomats, some senior soldiers and a number of Afghan dignitaries, went deadly quiet. When Mr. Bajolet finished, there was restrained applause — and sober expressions. One diplomat raised his eyebrows and nodded slightly; another said, “No holding back there.”
So what did he say?
That the Afghan project is on thin ice and that, collectively, the West was responsible for a chunk of what went wrong, though much of the rest the Afghans were responsible for. That the West had done a good job of fighting terrorism, but that most of that was done on Pakistani soil, not on the Afghan side of the border. And that without fundamental changes in how Afghanistan did business, the Afghan government, and by extension the West’s investment in it, would come to little.
His tone was neither shrill nor reproachful. It was matter-of-fact.
“I still cannot understand how we, the international community, and the Afghan government have managed to arrive at a situation in which everything is coming together in 2014 — elections, new president, economic transition, military transition and all this — whereas the negotiations for the peace process have not really started,” Mr. Bajolet said in his opening comments.
He was echoing a point shared privately by other diplomats, that 2014 was likely to be “a perfect storm” of political and military upheaval coinciding with the formal close of the NATO combat mission in Afghanistan.
As for the success of the fight on the ground, which American leaders routinely describe now as being “Afghan-led,” Mr. Bajolet sounded dubious. “We do not have enough distance to make an objective assessment,” he said, “but in any case, I think it crucial that the Afghan highest leadership take more visible and obvious ownership for their army.”
His tone — the sober, troubled observations of a diplomat closing a chapter — could hardly have been more different from that taken by the new shift of American officials charged with making it work in Afghanistan: in particular, with that of Gen. Joseph F. Dunford Jr., the new American commanding general here. This week, General Dunford sent out a news release cheering on Afghanistan’s progress, noting some positive-leaning statistics and praising the Afghan Army’s abilities.
“Very soon, the A.N.S.F. will be responsible for security nationwide” General Dunford said, referring to the Afghan National Security Forces. “They are steadily gaining in confidence, competence, and commitment.”
At his farewell party, Mr. Bajolet wound up his realpolitik with a brisk analysis of what Afghanistan’s government needed to do: cut corruption, which discourages investment, deal with drugs and become fiscally self-reliant. It must increase its revenues instead of letting politicians divert them, he said.
Several diplomats in the room could be seen nodding as he said that drugs caused “more casualties than terrorism” in Russia, Europe and the Balkans and that Western governments would be hard-put to make the case for continued spending on Afghanistan if it remains the world’s largest heroin supplier.
The biggest contrast with the American and British line was Mr. Bajolet’s riff on sovereignty, which has become the political watchword of the moment. The Americans and the international community are giving sovereignty back to Afghanistan. Afghanistan argues frequently that it is a sovereign nation. President Hamid Karzai, in the debate over taking charge of the Bagram prison, repeatedly said that Afghanistan had a sovereign responsibility to its prisoners.
His implicit question was, what does that really mean?
“We should be lucid: a country that depends almost entirely on the international community for the salaries of its soldiers and policemen, for most of its investments and partly on it for its current civil expenditure, cannot be really independent.”
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Paulo Roberto de Almeida
DIPLOMATIC MEMO
Departing French Envoy Has Frank Words on Afghanistan
By ALISSA J. RUBIN
The New York Times, April 28, 2013
KABUL, Afghanistan — It is always hard to gauge what diplomats really think unless one of their cables ends up on WikiLeaks, but every once in a while, the barriers fall and a bit of truth slips into public view.
That is especially true in Afghanistan, where diplomats painstakingly weigh every word against political goals back home.
The positive spin from the Americans has been running especially hard the last few weeks, as Congressional committees in Washington focus on spending bills and the Obama administration, trying to secure money for a few more years here, talks up the country’s progress. The same is going on at the European Union, where the tone has been sterner than in the past, but still glosses predictions of Afghanistan’s future with upbeat words like “promise” and “potential.”
Despite that, one of those rare truth-telling moments came at a farewell cocktail party last week hosted by the departing French ambassador to Kabul: Bernard Bajolet, who is leaving to head France’s Direction Génerale de la Sécurité Extérieure, its foreign intelligence service.
After the white-coated staff passed the third round of hors d’oeuvres, Mr. Bajolet took the lectern and laid out a picture of how France — a country plagued by a slow economy, waning public support for the Afghan endeavor and demands from other foreign conflicts, including Syria and North Africa — looked at Afghanistan.
While it is certainly easier for France to be a critic from the sidelines than countries whose troops are still fighting in Afghanistan, the country can claim to have done its part. It lost more troops than all but three other countries before withdrawing its last combat forces in the fall.
The room, filled with diplomats, some senior soldiers and a number of Afghan dignitaries, went deadly quiet. When Mr. Bajolet finished, there was restrained applause — and sober expressions. One diplomat raised his eyebrows and nodded slightly; another said, “No holding back there.”
So what did he say?
That the Afghan project is on thin ice and that, collectively, the West was responsible for a chunk of what went wrong, though much of the rest the Afghans were responsible for. That the West had done a good job of fighting terrorism, but that most of that was done on Pakistani soil, not on the Afghan side of the border. And that without fundamental changes in how Afghanistan did business, the Afghan government, and by extension the West’s investment in it, would come to little.
His tone was neither shrill nor reproachful. It was matter-of-fact.
“I still cannot understand how we, the international community, and the Afghan government have managed to arrive at a situation in which everything is coming together in 2014 — elections, new president, economic transition, military transition and all this — whereas the negotiations for the peace process have not really started,” Mr. Bajolet said in his opening comments.
He was echoing a point shared privately by other diplomats, that 2014 was likely to be “a perfect storm” of political and military upheaval coinciding with the formal close of the NATO combat mission in Afghanistan.
As for the success of the fight on the ground, which American leaders routinely describe now as being “Afghan-led,” Mr. Bajolet sounded dubious. “We do not have enough distance to make an objective assessment,” he said, “but in any case, I think it crucial that the Afghan highest leadership take more visible and obvious ownership for their army.”
His tone — the sober, troubled observations of a diplomat closing a chapter — could hardly have been more different from that taken by the new shift of American officials charged with making it work in Afghanistan: in particular, with that of Gen. Joseph F. Dunford Jr., the new American commanding general here. This week, General Dunford sent out a news release cheering on Afghanistan’s progress, noting some positive-leaning statistics and praising the Afghan Army’s abilities.
“Very soon, the A.N.S.F. will be responsible for security nationwide” General Dunford said, referring to the Afghan National Security Forces. “They are steadily gaining in confidence, competence, and commitment.”
At his farewell party, Mr. Bajolet wound up his realpolitik with a brisk analysis of what Afghanistan’s government needed to do: cut corruption, which discourages investment, deal with drugs and become fiscally self-reliant. It must increase its revenues instead of letting politicians divert them, he said.
Several diplomats in the room could be seen nodding as he said that drugs caused “more casualties than terrorism” in Russia, Europe and the Balkans and that Western governments would be hard-put to make the case for continued spending on Afghanistan if it remains the world’s largest heroin supplier.
The biggest contrast with the American and British line was Mr. Bajolet’s riff on sovereignty, which has become the political watchword of the moment. The Americans and the international community are giving sovereignty back to Afghanistan. Afghanistan argues frequently that it is a sovereign nation. President Hamid Karzai, in the debate over taking charge of the Bagram prison, repeatedly said that Afghanistan had a sovereign responsibility to its prisoners.
His implicit question was, what does that really mean?
“We should be lucid: a country that depends almost entirely on the international community for the salaries of its soldiers and policemen, for most of its investments and partly on it for its current civil expenditure, cannot be really independent.”
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