segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

1912) Dicas para a carreira diplomatica

Sou frequentemente consultado bilateralmente (e por vezes multilateralmente também), por candidatos à carreira que me pedem dicas para ter sucesso nos exames de entrada.
Sou obrigado, muito frequentemente também, a decepcionar esses candidatos, pois eu nao estou no "mercado" da formação preparatória, não dou aula em nenhum cursinho, não pretendo dar, e nunca elaborei nenhum Guia de Estudos ou Manual do Candidato (ainda que algumas editoras já me tenham pedido para fazer). Não pretendo e não vou fazer, pelo menos não agora, pois não tenho capacidade, nem jeito para esse tipo de material didático.
Meu único "mercado" é o da pesquisa e o da elaboração de ensaios sobre temas da área, mas isso não tem nada a ver com os concursos de entrada, que não acompanho, nunca participei de um -- a não ser o meu próprio concurso DIRETO, muitos anos atrás -- e apenas concedo, de vez em quando, atender algum pedido especifico.
Pessoalmente, considero esse concurso do Itamaraty -- do qual tomo conhecimento episodicamente e somente induzido por alguém -- pouco representativo do que se requer de um candidato à diplomacia. A bibliografia brasileira é pobre, alguns livros são francamente risíveis, e algumas perguntas capciosas, para dizer o mínimo. Tempora...

Em todo caso, ainda hoje, alguém me pediu minha bibliografia resumida, que fiz, também a pedido, alguns anos atrás. Atenção: não se trata de livros que eu recomendaria, é apenas uma lista reduzida a partir da bibliografia então oficial. Eu teria outras escolhas e provavelmente eliminaria a maior parte do que vai abaixo. Mas, não se pode lutar contra instituições tão seguras de si quanto o Itamaraty...

Meu resumo da bibliografia oficial de 2005, que eu considerava absurdamente exagerada, foi feita, portanto, a pedido, e não renovada desde então. Não tomo conhecimento dos livros que se pedem num concurso que eu considero passavelmente esquizofrênico, e acho (mas apenas suspeito) que as leituras indicadas devem continuar em volume exageradamente alto.
A única coisa que eu posso fazer seria remeter novamente à bibliografia resumida que havia feito anos atrás, apenas recomendatória, mas suspeito que desatualizada. Agregaria apenas os dois volumes de Lessa e Altemani, sobre "Relacoes Internacionais do Brasil: temas e agendas", não por achar que sejam uma maravilha, mas por tocar na agenda diplomática corrente, cobrindo essencialmente os temas que constituem o 'ganha-pão' diario dos diplomatas, mas aqui vista por uma ótica exclusivamente acadêmica, com todos os defeitos que isso possa acarretar (já fiz uma longa resenha desses dois livros, dizendo o que penso deles).
Em todo caso, se ouso fazer uma recomendação para o concurso ainda deste ano, seriam os discursos dos próceres da nossa diplomacia (presidente, chanceler e assimilados), que devem ser lidos com atenção, pois parece que eles já fazem parte da História (com H maiúsculo) e são pedidos na interpretação dos fatos correntes, como a mais pura expressão da realidade (quem seguiu essa regra se deu bem, acreditando ou não, e provas desse tipo figuraram como exemplo do que era correto em guias passados).
Recomendo, também, para um pouco de tudo, uma consulta a esta seção de meu site, que tem uma salada geral de dicas, recomendações, comentários (faltando só alguma piada a respeito): http://www.pralmeida.org/04Temas/04AcademiaDiplom/02DiplomaciaGeral.html
Eis a bibliografia resumida, de 2005:
1481. “Recomendações Bibliográficas para o concurso do Itamaraty”, Brasília, 13 out. 2005, 6 p. Indicações resumidas a partir do Guia de Estudos do Concurso de Admissão à Carreira Diplomática, versão 2005, para atender às demandas de candidatos à carreira diplomática. Circulada em listas de estudos internacionais.
Segue abaixo.
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Paulo Roberto de Almeida

Guia de Estudos do Concurso de Admissão à Carreira Diplomática, versão 2005
Recomendações Bibliográficas
Indicações resumidas por Paulo Roberto de Almeida

Nota inicial:
Como a bibliografia recomendada no Guia de Estudos do IRBr apresenta um volume considerável de leituras, elaborei, pensando nos muitos candidatos que me consultaram, ao longo dos dois últimos anos, uma lista reduzida, constando de leituras que eu pessoalmente considero essenciais. Evitei incluir novas leituras, de livros que poderiam ser recomendados, mas que não constam, atualmente, da bibliografia “oficial”, uma vez que a intenção foi, justamente, reduzir o volume total de leituras. Trata-se, obviamente, de uma escolha pessoal e portanto arbitrária, ou subjetiva, dos títulos que me parecem recomendáveis, apenas e tão somente nas matérias para as quais me julgo minimamente capacitado para opinar.

1) Indicação inicial de leituras gerais sobre o Brasil:
“A bibliografia e a orientação para estudo incluídas neste Guia de Estudos não têm caráter limitativo. Feita essa ressalva, recomendam-se as seguintes obras, com vistas a facilitar a preparação básica do candidato:
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1997.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. São Paulo: Global, 2003.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2003.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
PRADO Jr., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1996.
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.”

Nota PRA:
Eu pessoalmente considero que todo e qualquer candidato deve possuir uma boa base de leituras relativas ao Brasil, na qual se inclui, evidentemente, o conhecimento dos chamados “clássicos do pensamento brasileiro”. Aos que não têm tempo ou disposição para penetrar na leitura de obras por vezes maciças, em alguns casos “maçantes” (ou mesmo relativamente defasadas em relação às pesquisas mais recentes em seus respectivos campos), eu lembraria que a obra de todos esses autores, com a possível exceção de Ribeiro, já foi esmiuçada e resumida por gerações de cientistas sociais brasileiros, encontrando-se no “mercado” excelentes resumos desses livros ditos “essenciais”. Um instrumento de busca como o Google, por exemplo, ou mesmo o Google Scholar, pode ajudar na identificação desses trabalhos que, por vezes em 20 páginas, resumem o conteúdo das 300 ou 500 páginas dos originais. Por outro lado, vários desses autores são objeto de sites mantidos pela família ou por acadêmicos, admiradores ou discípulos, nos quais se encontram bons resumos e comentários das obras respectivas. Encontrei, por exemplo, um excelente site sobre o Gilberto Freyre, que traz o essencial da obra desse prolífico autor em poucos resumos muito bem feitos. Não tenho tempo de buscar, agora, os links respectivos para esses resumos ou comentários, mas agradeceria aos que o fizerem que me enviem esses endereços para inclusão numa futura edição deste pequeno Guia de Estudos resumido.

2) Teste de Pré-Seleção (TPS)
“Em termos de orientação para estudo, o TPS não comporta recomendações particulares, uma vez que não lhe corresponde um programa específico. Não obstante, cabem as indicações que se seguem, no entendimento de que não limitam o conteúdo das questões do TPS. Na preparação dos candidatos, serão certamente úteis as informações constantes deste Guia sobre as provas de Português (Segunda Fase), de História do Brasil e de Geografia (Terceira Fase). Da mesma forma, deve ser consultado o programa de História Mundial Contemporânea constante do Guia de Estudos de 2004, reproduzido ao final deste volume junto com a bibliografia pertinente.”
Nota PRA:
Considero basicamente correta essa indicação do Guia de Estudos 2005.

3) Português
Nota PRA:
Considero que a redação culta, mas não pedante, é essencial para qualquer candidato à carreira diplomática. Por isso, toda e qualquer leitura é essencial. O candidato precisa partir do requerimento básico que ele deve ser capaz de redigir pelo menos cinco páginas sobre qualquer assunto de maneira inteligente, com correção gramatical. Por isso a recomendação básica é o treino constante em redação. Tenha sempre consigo uma caderneta na qual o candidato deve se exercitar várias vezes por dia, colocando em linguagem formal os seus próprios pensamentos diários, sobre qualquer assunto. O importante é redigir bem, não o tema, necessáriamente.

Quanto à “Bibliografia sugerida” no Guia de Estudos, eu retiro os Dicionários e gramáticas, pois considero essa parte um requerimento primário, e me concentro nos seguintes livros:

SAVIOLI, Francisco e FIORIN, José Luiz. Manual do Candidato – Português. 2. ed. Brasília: FUNAG, 2001.
CAMARA Jr., Joaquim Mattoso. Manual de Expressão Oral e Escrita. 21. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
GARCIA, Othon M. Comunicação em Prosa Moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. 21. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
PENTEADO, J. R. Whitaker. A Técnica da Comunicação Humana. 8. Ed. São Paulo: Pioneira, 1993.
VANOYE, Francis. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
Nota final: Não me considero especialista em língua portuguesa para recomendar qualquer um dos livros acima indicados, mas entendo que se eles figuram na bibliografia “obrigatória”, deve ser por alguma razão.

4) História do Brasil
Bibliografia resumida por PRA:
CAMPOS, Flávio; Dohlnikoff, Miriam. Manual do Candidato: História do Brasil. 2. ed. Brasília: FUNAG, 2001.
CERVO, Amado e BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. Brasília: editora da UnB, 2002.
FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil. São Paulo: EDUSP/Imprensa Oficial, 2002. (Nota PRA: Na verdade, seria essencial ler o livro original, isto é, completo de Boris Fausto: História do Brasil, editado pela EDUSP em 1994).
HOLANDA, Sérgio Buarque de. O Brasil Monárquico: do Império à República. São Paulo: Bertrand Brasil, 1995. (História Geral da Civilização Brasileira, v. 7)
IGLESIAS, Francisco. Trajetória Política do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2000.
LINS, Álvaro. Rio Branco (Barão do Rio Branco): biografia pessoal e história política. São Paulo: Editora Alfa-Ômega, 1996.

5) Geografia
Bibliografia resumida por PRA:
ARAÚJO, Regina Célia. Manual do Candidato: Geografia. 2. ed.FUNAG:Brasília, 2000.
BENKO, George. Economia, Espaço e Globalização. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.
CASTRO, Iná Elias de, et alii. Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand, 1995.
GREGORY, Derek, et alli. Geografia Humana. Sociedade, Espaço e Ciência Social. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.
RIBEIRO, Wagner Costa. A Ordem Ambiental Internacional. São Paulo: Contexto, 2001.
“A título de orientação, para os candidatos que desejarem aprofundar o estudo da matéria, sugerem-se as seguintes leituras adicionais:”

BECKER, Bertha & EGLER, Claudio. Brasil: Uma Nova Potência Regional na Economia Mundo. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 1998.
CAVALCANTI, Clóvis et alii. Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
CASTRO, Iná Elias et alli. Explorações Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand, 1997.
MARTIN, André Roberto. Fronteiras e Nações. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1994.

6) Noções de Direito e Direito Internacional Público
Bibliografia resumida por PRA:
ACCIOLY, Hildebrando e Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva. Manual de direito internacional público. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 12ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
BORCHARDT, Klaus-Dieter. O ABC do direito comunitário. Bruxelas: Comissão Européia, 2000. (Nota PRA: Muito material pode ser obtido no site da UE).
MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 14ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004.
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002.
QUOC DINH, Nguyen, Patrick Dailler e Alain Pellet. Direito internacional público. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1999.
REZEK, José Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
SEITENFUS, Ricardo. Manual das organizações internacionais. 3ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003.
SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de direito internacional público. v. 1. São Paulo: Atlas, 2002.
THORSTENSEN, Vera. OMC: Organização Mundial do Comércio: as regras do comércio internacional e a nova rodada de negociações multilaterais. 2ª ed. São Paulo: Aduaneiras, 2001.
TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de direito internacional dos direitos humanos. Vol.- III. Porto Alegre: Fabris, 2003.
________. Direito das organizações internacionais. 3ª ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

7) Noções de Economia
Bibliografia resumida por PRA:
VERSIANI, Flávio Rabelo. Manual do Candidato: Noções de Economia. Brasília: FUNAG, 1996.
ABREU, M. P. A Ordem do Progresso: 100 anos de política econômica republicana. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
PINHO, D. B.; VASCONCELOS, M.A.S. (orgs.). Manual de Economia. São Paulo: Saraiva, 2004.
SAMUELSON. P. A.; NORDHAUS, W. D. Economia 16. ed. Lisboa: McGraw-Hill, 1999.

8) Política internacional
Bibliografia resumida por PRA:
MAGNOLI, Demétrio. Manual de Questões Internacionais Contemporâneas. Brasília: FUNAG, 2000, 360 p.
MORAES, José Geraldo Vinci de. Manual do Candidato - História Geral Contemporânea (séculos XVII-XX), Brasília: FUNAG, 2ª edição, 2002.
ASHWORTH, W. A short story of international economy since 1850, Londres: Longman, 1975.
BANDEIRA, Moniz. Brasil, Argentina e Estados Unidos. São Paulo: Editora Revan, 2003.
CERVO, Amado Luiz. (org.). O desafio internacional; a política exterior do Brasil de 1930 a nossos dias. Brasília: Unb, 1994.
________ & BUENO, Clodoaldo. História da política exterior do Brasil. Brasília: Unb, 2002.
GILPIN, R. M. A Economia política das Relações Internacionais. Brasília: editora da UnB, 2002.
MCNEILL, W. H. The pursuit of power. Chicago: University of Chicago Press, 1984.
MORGENTHAU, H. A política entre as nações, Brasília: Funag/IPRI, EdunB; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2003.
MRE/FUNAG. A Palavra do Brasil nas Nações Unidas (1946-1995). Brasília: FUNAG, 1995.
PECEQUILO, Cristina S. A política externa dos Estados Unidos, Porto Alegre: UFRGS, 2003.
VIZENTINI, Paulo Fagundes. Relações Internacionais do Brasil: de Vargas a Lula. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002.
“Os candidatos que desejarem se manter atualizados com o estado da arte das relações internacionais poderão servir-se de periódicos especializados, tais como Revista Brasileira de Política Internacional (http://www.ibri-rbpi.org.br), Política Externa (http://www.politicaexterna.com.br), Foreign Affairs (http://www.foreignaffairs.org), Foreign Policy (http://www.foreignpolicy.com) e Politique Internationale (http://www.politiqueinternationale.com), bem como das páginas eletrônicas do Ministério das Relações Exteriores (http://www.mre.gov.br) e da Rede Brasileira de Relações Internacionais (http://www.relnet.com.br).” [Agora Mundorama.]

9) História Mundial (TPS)

Bibliografia resumida por PRA:

BARRACLOUGH, G. Introdução à História Contemporânea, 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
BETHELL, Leslie. História da América Latina. São Paulo: EDUSP, 2001.
HALPERIN DONGHI, Tulio. História da América Latina. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.
________. A Era do Capital. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
________. A Era dos Extremos. Rio de Janeiro: Cia. das Letras, 2001.
________. A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001.
________. Nações e nacionalismo desde 1780. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
SARAIVA, José Flávio S. Relações Internacionais – Dois Séculos de História: entre a ordem bipolar e o policentrismo (de 1947 a nossos dias). Brasília: FUNAG/IBRI, 2001.
________. Relações Internacionais – Dois Séculos de História: entre a preponderância européia e a emergência americano-soviética (1815-1947).Brasília: FUNAG/IBRI, 2001.
“A título de orientação para os candidatos que desejarem aprofundar o conhecimento da matéria, ou que tiverem dificuldade em obter alguma das obras listadas acima e procurarem leitura alternativa, sugerem-se os seguintes livros adicionais:”
JOLL, James. Europe Since 1870. London: Penguin Books, 1990.
ROBERTS, J. M. History of the World. New edition. London: Penguin, 1990.
THOMSON, D. Pequena História do Mundo Contemporâneo. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
VIZENTINI, Paulo. Da Guerra Fria à Crise (1945-1992). Porto Alegre: EDUFRGS, 1992.

Resumo elaborado por Paulo Roberto de Almeida
em 13 de outubro de 2005

1911) Farc, Colombia: um empreendimento narcotraficante e terrorista

Com base no que se lê abaixo, fica dificilmente compreensível a atitude do governo brasileiro em atribuir qualquer legitimidade às Farc, que seria, supostamente (como dizem os jornalistas que não querem ser processados por políticos corruptos ou declaradamente ladrões), um grupo de bandoleiros que luta alegadamente por mudanças políticas na Colômbia (!!!).

Farc vêm negociando diretamente com cartéis
Bloomberg
Valor Econômico, 01/02/2010

Os cartéis mexicanos de drogas vêm recebendo cocaína do maior grupo guerrilheiro da Colômbia, pacto que aumenta os riscos à segurança dos dois países, de acordo com um documento capturado pela inteligência militar colombiana e com um representante do governo.

A transação foi acertada em meados de 2007, em encontro entre um dos líderes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Raúl Reyes, e o agente de um cartel mexicano, no esconderijo do guerrilheiro na selva, segundo uma carta escrita por Reyes a outros comandantes das Farc, à qual a Bloomberg teve acesso.

O acordo para evitar intermediários deu ao grupo de Reyes a oportunidade de dobrar seu lucro, vendendo diretamente ao cartel mexicano, segundo o representante do governo, que não quis se identificar. As Farc ganharam, no mínimo, US$ 1 bilhão nos últimos 12 meses, mas o valor poderia ser muito superior a isso, segundo autoridades a par dos negócios do grupo. O acordo fortaleceu os cartéis em um momento em que se sentem pressionados pela ofensiva ordenada pelo presidente do México, Felipe Calderón, de acordo com o integrante do governo colombiano.

"Isso seria um salto imenso e catastrófico em termos de internacionalização do padrão de tráfico de drogas das Farc", disse Jay Bergman, diretor para a região dos Andes da Agência de Vigilância Antidrogas americana (DEA, na sigla em inglês).

"Cortaria o tradicional traficante intermediário e aumentaria o volume de dinheiro que as Farc poderiam ganhar por quilo - lucro que seria gasto em munição e armamentos para perpetuar a insurgência."

A nova receita com drogas ajudou as Farc, que se transformaram de uma insurreição camponesa marxista no maior produtor mundial de cocaína, a continuar uma ameaça para o governo do presidente colombiano, Álvaro Uribe.

A Colômbia produz mais de 90% da cocaína que entra nos EUA, maior mercado para a droga, segundo o Escritório de Política Nacional de Controle das Drogas, da Casa Branca.

O governo colombiano sustenta que as Farc são o maior traficante de cocaína do país. Um volume estimado de US$ 17,2 bilhões em drogas ilegais entra nos EUA por meio do México a cada ano, segundo do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

"Ouvi que a Farc obtêm entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões por ano com o comércio", disse Michael Braun, que renunciou em 2008 ao cargo de chefe de operações da DEA, em entrevista por telefone, em Alexandria, Virgínia. "Acontece que acredito que esse número é lamentavelmente subestimado."

O plano de Reyes buscou mudar a prática dos rebeldes de vender cocaína para gangues que os investigadores colombianos dizem atuar como intermediários. Em vez disso, as Farc estariam enviando as drogas diretamente para o cartel mexicano em consignação - na prática financiando o acordo e assumindo o risco da remessa, em troca da oportunidade de dobrar seu lucro, segundo a autoridade colombiana.

Reyes estava buscando novos caminhos para as Farc fazerem negócios após a ofensiva militar de Uribe, apoiada em US$ 6 bilhões em ajuda americana ter empurrado as guerrilhas para áreas cada vez mais remotas e outras situadas na Venezuela, Equador e Panamá, cortando suas receitas de extorsões e sequestros.

As Farc, cujos 45 anos de insurgência a tornaram o mais antigo grupo guerrilheiro na América Latina, vêm financiando sua luta há mais de uma década em grande parte com a venda de cocaína, dizem pesquisadores colombianos e funcionários da DEA. Os líderes das Farc, como Alfonso Cano continuar a dizer que estão lutando pelo o socialismo por meio de "luta de classes" e que estão em guerra contra o imperialismo.

Autoridades colombianas disseram, em março de 2008, que laptops de Reyes continham provas de que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, canalizara pelo menos US$ 300 milhões para as Farc, qualificadas de grupo terrorista pelo Departamento de Estado dos EUA. A incursão da Colômbia no Equador, um aliado da Venezuela, irritou Chávez, que mandou tanques para a fronteira e ameaçou "reagir de forma decisiva" à agressão colombiana.

A Colômbia também acusou Chávez de fornecer armas e abrigar guerrilheiros. Embora Chávez negue ter dado apoio às Farc, ele pediu repetidamente à comunidade internacional que reconheça o grupo como "beligerantes" legítimos, e disse que a guerrilha é um "verdadeiro exército" com objetivos políticos.

Ser capaz de obter cocaína diretamente das Farc aumentaria o poder de um ou mais dos cartéis, como os de Tijuana, Sinaloa e Juárez, disse William Hutchinson, chefe da DEA de 2001 a 2003. As Farc tinham vínculos intermitentes com os cartéis mexicanos desde a década de 1990, disse Braun.

1910) Capitalismo monopolista de Estado no Brasil

Como bem lembra meu amigo Mauricio David, que me mandou a listinha abaixo, a atuação do BNDES sob a direção de Luciano Coutinho vem sendo a de acelerar e dinamizar o processo de concentração monopolista no Brasil, uma frase típica dos marxistas dos anos 1950.

A colusão Estado - grandes empresas no Brasil, por obra e graça do presidente do BNDES

Abril de 2008
Liberou R$ 2,6 bilhões para a compra da Brasil Telecom pela Oi. Com o dinheiro, os donos da Oi (grupos Andrade Gutierrez e La Fonte) compraram o controle da BrT e formaram a gigante das telecomunicações. No fim do ano passado, liberou mais R$ 4,4 bilhões para a Oi fazer investimentos.

Janeiro de 2009
Deu aporte de R$ 2,4 bilhões para a Votorantim comprar 28% do capital da Aracruz, criando a Fibria, a maior empresa de celulose do mundo.

Maio de 2009
Na fusão de Perdigão e Sadia, o BNDES investiu R$ 750 milhões para comprar 3% da nova companhia, a Brasil Foods, maior processadora de frangos do mundo.

Setembro de 2009
Apoiou a fusão realizada entre JBS e Bertin. Antes da operação, o banco estatal desembolsara R$ 3,8 bilhões, para comprar 27% da Bertin (R$ 2,4 bi, em 2008) e 13% da JBS (1,4 bi, em 2007).

No fim do ano passado, o BNDES anunciou que vai comprar US$ 2 bilhões em debêntures emitidas pelo JBS no exterior para comprar a empresa norte-americana do setor de aves Pilgrim’s Pride.

Janeiro de 2010
Facilitou a compra, pelo grupo Andrade Gutierrez, de 33% da Cemig, então nas mãos do BNDES devido à uma dívida que AES (antiga proprietária da fatia da Cemig) tinha com o banco. A AG ficou com a dívida e com a participação na distribuidora.

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PRA: Um comentário final. Deve-se registrar não apenas o uso de dinheiro público -- ou seja, o seu, o meu, o nosso dinheiro, posto que o BNDES recebeu aportes do Tesouro em mais de 100 bilhões de reais, e deve receber ainda mais em 2010 -- em favor de empresas que poderiam tranquilamente se abastecer no mercado, interno ou externo (mas talvez não às taxas de mãe para filho do generoso BNDES, o que é restrito a elas, não extensível ao conjunto dos empresários brasileiros), mas deve-se igualmente registrar o potencial de corrupção envolvido nesse tipo de negócio. É óbvio que as empresas assim premiadas podem, e o farão, certamente, não apenas contribuir para o caixa de campanha do partido hegemônico, como também podem contribuir para o caixa pessoal de certos personagens. Isto não é uma acusação, é apenas uma suposição, com base em tudo o que se conhece do mundo e especialmente da experiência brasileira nesse tipo de promiscuidade entre o capital e o poder...

1909) FSM: triste balanco?

Quem faz a constatação não sou eu, mas um jornalista de um dos jornais mais simpáticos a essas causas "alternativas" (estou sendo irônico, claro).
Eu teria muito mais a acrescentar para condenar a vergonha que é ver jovens idealistas aclamando velhacos do socialismo que louvam Fidel Castro e Hugo Chávez. Creio, pessoalmente, que isso representa uma espécie de degradação moral, ver jovens defensores da liberdade se alinhando com desonestos intelectuais aproveitadores das benesses de governos autoritários. Triste, de fato...

Que esquerda é essa?
Fernando de Barros e Silva
Folha de S. Paulo - 01/02/2010

Como retrato da esquerda, o Fórum Social Mundial nos oferece uma imagem melancólica. De um lado, o evento, encerrado ontem, se presta a ser um palco de aclamação do lulismo; de outro, reitera sem mais dogmas anticapitalistas, fazendo tabula rasa do legado ruinoso dos experimentos coletivistas do século 20.
Em sua 10ª edição, o fórum agrega uma esquerda que transita entre o novo pragmatismo e a utopia de antigamente, sem que se detenha na crítica de nenhum dos polos. Adesista e fundamentalista ao mesmo tempo, essa esquerda age como quem quer usufruir todos os benefícios possíveis deste mundo (lulista), sem prejuízo de manter intacto o clichê do "outro mundo possível".
Entre o radicalismo vazio e o apego ao poder, haveria uma trilha menos cômoda. Algo como o compromisso com a redução das desigualdades, com o combate à corrupção em todas as suas formas e a defesa da democracia e do pluralismo -tudo combinado numa perspectiva reformista, que se paute pelo realismo sem abrir mão de princípios.
Não é isso, como se sabe, o que seduz os funcionários da utopia. Mas que esquerda é essa que vira as costas aos estudantes venezuelanos e não se manifesta contra a escalada autoritária de Chávez? Que esquerda é essa, para quem o mensalão não existiu ou acha que "a vida é assim mesmo"? Que esquerda é essa, capaz de defender a barba de Fidel Castro e o bigode de José Sarney?
Não há dúvida de que existe uma maioria bem intencionada entre os participantes do fórum. Mas o evento se tornou coisa de profissionais. Com raríssimas exceções, os intelectuais que contam não perdem mais tempo por lá. Restou um lúmpen "pensante" que fez do fórum o seu negócio. Gente, aliás, que cansou de esperar Godot e hoje enche as burras à custa do lulismo. São parasitas do Estado que adoram ressuscitar o fantasma neoliberal diante de plateias embasbacadas para manter viva a sua boquinha. Será possível ainda ser de esquerda sem parecer idiota ou espertalhão?

1908) A inteligencia nacional regride...

Ou "regressa", alguns poderiam dizer, talvez...
Não sei realmente o que anda pior no Brasil: se a educação ou a política.
Talvez ambos, a se reforçarem mútua e reciprocamente, caminhando de mãos dadas direto para o brejo...
Eu fico cada vez mais surpreendido em constatar que, quando a gente acha que já viu tudo de ruim, sempre surge algo pior para nos assustar ainda mais.
O autor abaixo é bastante conhecido por suas posições radicais.
Os problemas que ele levanta não deixam de ser menos reais e preocupantes, qualquer que seja o grau de concordância que possamos ter, ou não, com ele.
Deve-se focar nas questões concretas que ele levanta, não no personagem.
Por isso mesmo espero não receber comentários que atirem no mensageiro, como certo estudante anti-Veja que passou o tempo todo condenando a revista, em lugar de tocar na matéria em si.
Estão avisados...
Paulo Roberto de Almeida (1.02.2010)

Caindo sem parar
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 1 de fevereiro de 2010

Em editorial do dia 25 último, a Folha de S. Paulo faz as mais prodigiosas acrobacias estatísticas para induzir o leitor a acreditar que a queda do Brasil do 76° para o 88° lugar em educação básica, na escala da Unesco, representa na verdade um progresso formidável. Não vou nem entrar na discussão. Entre a Unesco, o Ministério da Educação e o jornal do sr. Frias, não sei em quem confio menos. Mas confio nos testes internacionais em que os nossos alunos do curso médio tiram invariavelmente os últimos lugares entre concorrentes de três dezenas de países. Numa dessas ocasiões o então ministro da Educação buscou até consolar-se mediante a alegação sublime de que "poderia ter sido pior". Claro: se ele próprio fizesse o teste, a banca teria de criar ad hoc um lugar abaixo do último. Seríamos hors concours no sentido descendente do termo.

Confio também na proporção matemática entre o número de profissionais da ciência em cada país e o de seus trabalhos científicos citados em outros trabalhos, tal como aparece no banco de dados da Scimago (v. o site do prof. Marcelo Hermes, http://cienciabrasil.blogspot.com/2010/01/citacoes-por-paper-numero-minimo-de.html). Aí vê-se que, em número de citações -- medida da sua importância para a ciência mundial --, os cientistas brasileiros vêm caindo de posto com a mesma velocidade com que, forçada pelo CNPq e pela Capes, aumenta de ano para ano a sua produção de trabalhos escritos. Ou seja: quanto mais escrevem, menos utilidade o que escrevem tem para o progresso da ciência. Em medicina, passamos do 24° lugar, em 1997, para o 36° em 2008. Em bioquímica e genética, no mesmo período, do 19° para o 36°. Em biologia e agricultura, do 18° para o 32°. Em química, do 15° para o 28°. Em física e astronomia, do 18° para o 29°. Em matemática, do 13° para o 28°. Não houve um só setor em que os nossos cientistas não escrevessem cada vez mais coisas com cada vez menos conteúdo aproveitável para os outros cientistas. Em doses crescentes, o que se entende por ciência no Brasil vai-se tornando puro fingimento burocrático, pago com dinheiro público em doses também crescentes. Segundo o prof. Hermes, a coisa começou em 2003, mas piorou muito (ele grafa "muito" com letras maiúsculas) entre 2005 e 2008.

No entanto, de 1999 a 2009 "houve um aumento de 133 por cento no número de artigos científicos publicados em revistas especializadas. O investimento do ministério da Ciência e Tecnologia neste setor duplicou de 2000 a 2007. O investimento privado também aumentou nesse período" (v. http://labjor09.blogspot.com/2009/03/desafios-serem-enfrentados-neste-novo.html).

Obviamente, portanto, o que está faltando não é dinheiro. É o CNPq, a Capes e o governo em geral admitirem que há uma diferença substantiva entre fazer ciência e mostrar serviço para impressionar o eleitorado.

Se essa diferença parece obscura ou inexistente para os atuais senhores das verbas científicas no Brasil (bem como para a mídia que os bajula), fenômeno similar ocorre na educação primária e média, onde o governo dá cada vez menos educação a um número cada vez maior de alunos, democratizando a ignorância como jamais se viu neste mundo.

Mas, esperem aí, coisa parecida também não acontece no ramo editorial, onde a produção crescente de livros para o público de nível universitário acompanha pari passu o decréscimo de QI dos autores que os escrevem? Confio, quanto a esse ponto, na minha própria memória de leitor. Vejam bem. Entre as décadas de 50 e 70 ainda tínhamos, vivos e em plena efusão criativa, alguns dos mais notáveis escritores e pensadores do mundo. Tínhamos Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Cecília Meirelles, José Geraldo Vieira, Graciliano Ramos, Herberto Sales, Josué Montello, Antonio Olinto, João Guimarães Rosa, Jorge Andrade, Nélson Rodrigues, Vicente Ferreira da Silva, Mário Ferreira dos Santos, Miguel Reale, José Honório Rodrigues, Gilberto Freyre, José Guilherme Merquior, além dos importados Otto Maria Carpeaux, Vilém Flusser, Anatol Rosenfeld e tutti quanti. Que me perdoem as omissões, muitas e volumosas. O Brasil era um país luminoso, capaz, consciente de si, empenhado em compreender-se e compreender o mundo. Agora temos o quê? Fora os sobreviventes nonagenários e centenários, dos quais não se pode exigir que repitam as glórias do passado, é tudo uma miséria só, uma fraqueza, a obscuridade turva do pensamento, a paralisia covarde da imaginação e a impotência da linguagem. "Cultura", hoje, é rap, funk e camisinhas, "educação" é treinar as crianças para shows de drag queens ou -- caso faltem aos pimpolhos as requeridas aptidões gays -- para a invasão de fazendas, "pensamento" é xingar os EUA no Fórum Social Mundial, e "debate nacional" é a mídia competindo com a máquina estatal de propaganda para ver quem pinta a imagem mais linda do sr. presidente da República. Nesse ambiente, em que poderia consistir a "ciência" senão em imprimir cada vez mais irrelevâncias subsidiadas?

Será possível que todas essas quedas, paralelas no tempo e iguais em velocidade, tenham sido fenômenos autônomos, separados, casuais, sem conexão uns com os outros? Ou, ao contrário, compõem solidariamente, como efeitos de um mesmo processo causal geral, o quadro unitário da autodestruição da inteligência nacional?

E será mera coincidência que toda essa corrupção mental sem paralelo no mundo tenha sobrevindo ao Brasil justamente nas décadas em que a intromissão do governo na educação e na cultura veio crescendo até ao ponto de poder, hoje, assumir abertamente suas intenções dirigistas e controladoras sem que isto cause escândalo e revolta proporcionais ao tamanho do mal?

A resposta a essas duas perguntas é: Não, obviamente não. A História não se compõe de curiosas coincidências. A debacle da vida intelectual no Brasil é um processo geral, unitário, coerente e contínuo há várias décadas, e o fator que unifica as suas manifestações nos diversos campos chama-se: intromissão estatal, governo invasivo, controle oficial e transformação da cultura e da educação em instrumentos de propaganda, manipulação e corrupção.

A cultura, a arte, a educação e a ciência no Brasil só se levantarão do seu presente estado de abjeção quando a máquina governamental que as domina for totalmente destruída, quando toda presunção de autoridade dos políticos nessas áreas for abertamente condenada como um tipo de estelionato.

A Segunda Conferência Nacional de Cultura e o Plano Nacional de Direitos Humanos não passam de conspirações criminosas destinadas a agravar consideravelmente esses males que já deveriam ter sido extirpados há muito tempo.

1907) FSM, 10 anos: um balanco maaaaagro...

Não tive tempo ainda de analisar o catatau de banalidades conceituais e outras lacunas mentais da reunião do Forum Social Mundial em Porto Alegre, na qual os organizadores esperavam diversos chefes de Estado e só um, o da casa, compareceu. Vou ainda selecionar as "pérolas" do FSM, um pouco como esses professores desocupados fazem com as "pérolas" do vestibular, do ENEM, whatever. Não que eu seja desocupado, justamente não sou e por isso ainda não tive tempo e antecipo a chatice que vai ser ler toda aquela maçaroca de ideias vazias.
Segundo confessou o próprio organizador-mór, Cândido Grzybovski, "a tendência é de que o FSM se torne 'menos anti e mais pró', substituindo o discurso de desconstrução por propostas para se chegar ao outro mundo possível."
Bem, parece que eles ainda não sabem bem onde está, como é, como deveria ser, qual o perfil, o que ele conteria de diferente, esse "outro mundo possível". Tudo fica numa vaguidão do espírito e num vazio de ideias que só as mentes pouco iluminadas que frequentam aquele piquenique conseguem se entusiasmar com o nada.
Esse organizador de reuniões vazias acha que "a edição de Porto Alegre foi mais 'enraizada'," seja lá o que isso queira dizer. "Enraizada" no quê, cara-pálida? Favor dizer, do contrário pode se começar a chamar esse pessoal de "tubérculos", enraizados por um certo tempo, mas basta puxar que sai tudo...
Enfim, a acreditar nesse divagador de conceitos abstratos, "O fórum é um espaço de construção de inteligencia coletiva, de uma nova visão, um novo imaginário, novos conceitos, e isso a partir de agora vai ser a grande tarefa."
Tudo isso não quer dizer rigorosamente nada, e eu deixo vocês com a síntese oficial do encontro.
Quem encontrar alguma ideia concreta, favor me avisar.
Paulo Roberto de Almeida (1.02.2010)

Encontro reuniu 35 mil pessoas em Porto Alegre
Agência Brasil, 1.02.2010

O Fórum Social Mundial (FSM) de Porto Alegre chegou ao fim na última nesta sexta-feira, após uma semana de debates que avaliaram os dez anos do processo que nasceu para pensar “um outro mundo possível”. Com 35 mil participantes, a edição de Porto Alegre foi mais “enraizada”, segundo um dos idealizadores do FSM, Cândido Grzybovski.

“A participação local foi muito forte, o que é um aspecto muito positivo. Tivemos aqui o melhor debate que se fez até hoje na série de fóruns, com avaliação estratégica e pensando os próximos desafios”, afirmou.

O sociólogo disse que a valorização de eventos locais é importante para fortalecer o fórum e garantir a participação. “Não somos banqueiros, donos de empresa, como os que vão a Davos [na Suíça, para participar do Fórum Econômico Mundial], somos movimentos sociais, alguns se financiam com os próprios salários”, disse.

Em uma semana, a reunião de Porto Alegre teve 915 atividades na capital e em cinco cidades da região metropolitana. A organização registrou a participação de inscritos de 39 países, de empresários a desempregados. Dos inscritos, 59,3% eram mulheres e 40,7% homens.

Na conta dos dez anos do Fórum Social, os idealizadores incluem o enfraquecimento do modelo neoliberal – que deu sinais de colapso com a crise financeira internacional – e a criação de uma sociedade civil global, que se mobiliza mundialmente.

Segundo Grzybovski, dez anos depois, a tendência é de que o FSM se torne “menos anti e mais pró”, substituindo o discurso de desconstrução por propostas para se chegar ao outro mundo possível. “O fórum é um espaço de construção de inteligencia coletiva, de uma nova visão, um novo imaginário, novos conceitos, e isso a partir de agora vai ser a grande tarefa”, apontou.

A reunião na região metropolitana da capital gaúcha foi um dos 27 eventos programados para o FSM este ano em todo o mundo. Em Salvador, por exemplo, começa nesta sexta o Fórum Social Temático da Bahia, com caráter mais governamental do que a reunião original.

Em 2011, o FSM volta a ter uma reunião centralizada, dessa vez fora de Porto Alegre. Dakar, no Senegal, será a anfitriã da reunião no próximo ano.

As informações são da Agência Brasil

1906) O diplomata e o desenvolvimento do país

Um estudioso dos temas internacionais colocou-me, três meses atrás, uma pergunta complexa, mas cativante, que não tive tempo ainda de responder adequadamente, mas que permanece no meu "pipeline" de trabalhos a fazer, uma imensa pasta de working files, que tem do bom, do mau e do feio, com alguma divisão entre os timings desses trabalhos, algo como: "urgente", "urgentíssimo", "to rework", "to do" e outras loucuras do gênero. Mas, prometo que um dia vou responder. Por enquanto limito-me a transcrever o exchange, como sinal de alerta para terminar rapidamente esse trabalho sobre

O Papel do Diplomata no Desenvolvimento do Brasil

3.11.2009
Daniel disse...
Exmº. Dr.Paulo Roberto de Almeida,
Primeiramente gostaria de prestar congratulações e respeito por vossa biografia, de fato inspiradora, acredito que para todos nós aspirantes à carreira diplomática.
Tenho 31 anos, sou odontólogo, professor auxiliar de uma Universidade pública no Rio de Janeiro e dou início, no atual momento, ao doutorado em minha área.
Entretanto, a carreira diplomática sempre me foi no mínimo instigante e exatamente pela curiosidade e pela compulsão literária, sinto-me impelido a enveredar-me por este caminho de evolução intelectual, profissional e humano. Acerca deste
último campo, me chamou muito à atenção o lado humanista da profissão, o de servir aos brasileiros, não somente ao Estado.
Tendo-se em vista as desigualdades sociais de nosso país, como a carreira diplomática pode ajudar a aliviar as claras deficiências de desenvolvimento humano em nosso país? Pelo que devemos primar em nossas carreiras para transformar crescimento do Estado, muitas vezes fomentado pela atividade diplomática, em consequente desenvolvimento humano?
Cordialmente,
Daniel G. M.

Terça-feira, Novembro 03, 2009 2:48:00 AM

Ao que eu respondi logo em seguida:
Paulo R. de Almeida disse...
Excelentes perguntas, Daniel, que eu mesmo gostaria de responder agora, se tivesse tempo e capacidade (acho que tenho alguma).
Respondendo rapidamente de forma sintética, eu diria que o papel do diplomata no desenvolvimento brasileiro é claramente acessório, pois nenhum, REPITO NENHUM, dos grandes problemas brasileiros tem a ver com o cenário internacional, ou muito superficialmente.
Todos os nossos problemas -- falta de educação de qualidade, corrupção, políticas públicas inadequadas, baixo investimento em C&T, instituições governamentais deficientes, déficit previdenciário, baixo investimento em infraestrutura, baixa poupança, pequena abertura a comércio internacional e investimentos diretos estrangeiros -- todas essas deficiências são "made in Brazil", nossos próprios pecados, e tem de ser resolvidos aqui mesmo. Mas acredito que isso vai demorar um pouco.
O diplomata, como cidadão, pode ajudar um pouco, expondo o que fizeram de certo (e de errado) outros países, e porque alguns deram certo e outros deram errado.
Nós fizemos meio certo em muitas coisas, e muito errado em outras, como em educação, por exemplo.
Mas, isso não é algo que o diplomata possa resolver, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Vou me dedicar a responder a esse seu questionamento em algum trabalho futuro.
Obrigado por formular a questão.

Terça-feira, Novembro 03, 2009 2:54:00 AM

Bem, continuo devendo uma resposta mais elaborada, que não sei exatamente quando vou poder dar. Mas, como disse, está no meu pipeline, e agora, deixando em aberto para cobranças outras, mais ainda...
Paulo Roberto de Almeida
(1.02.2010)

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...