O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

1911) Farc, Colombia: um empreendimento narcotraficante e terrorista

Com base no que se lê abaixo, fica dificilmente compreensível a atitude do governo brasileiro em atribuir qualquer legitimidade às Farc, que seria, supostamente (como dizem os jornalistas que não querem ser processados por políticos corruptos ou declaradamente ladrões), um grupo de bandoleiros que luta alegadamente por mudanças políticas na Colômbia (!!!).

Farc vêm negociando diretamente com cartéis
Bloomberg
Valor Econômico, 01/02/2010

Os cartéis mexicanos de drogas vêm recebendo cocaína do maior grupo guerrilheiro da Colômbia, pacto que aumenta os riscos à segurança dos dois países, de acordo com um documento capturado pela inteligência militar colombiana e com um representante do governo.

A transação foi acertada em meados de 2007, em encontro entre um dos líderes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Raúl Reyes, e o agente de um cartel mexicano, no esconderijo do guerrilheiro na selva, segundo uma carta escrita por Reyes a outros comandantes das Farc, à qual a Bloomberg teve acesso.

O acordo para evitar intermediários deu ao grupo de Reyes a oportunidade de dobrar seu lucro, vendendo diretamente ao cartel mexicano, segundo o representante do governo, que não quis se identificar. As Farc ganharam, no mínimo, US$ 1 bilhão nos últimos 12 meses, mas o valor poderia ser muito superior a isso, segundo autoridades a par dos negócios do grupo. O acordo fortaleceu os cartéis em um momento em que se sentem pressionados pela ofensiva ordenada pelo presidente do México, Felipe Calderón, de acordo com o integrante do governo colombiano.

"Isso seria um salto imenso e catastrófico em termos de internacionalização do padrão de tráfico de drogas das Farc", disse Jay Bergman, diretor para a região dos Andes da Agência de Vigilância Antidrogas americana (DEA, na sigla em inglês).

"Cortaria o tradicional traficante intermediário e aumentaria o volume de dinheiro que as Farc poderiam ganhar por quilo - lucro que seria gasto em munição e armamentos para perpetuar a insurgência."

A nova receita com drogas ajudou as Farc, que se transformaram de uma insurreição camponesa marxista no maior produtor mundial de cocaína, a continuar uma ameaça para o governo do presidente colombiano, Álvaro Uribe.

A Colômbia produz mais de 90% da cocaína que entra nos EUA, maior mercado para a droga, segundo o Escritório de Política Nacional de Controle das Drogas, da Casa Branca.

O governo colombiano sustenta que as Farc são o maior traficante de cocaína do país. Um volume estimado de US$ 17,2 bilhões em drogas ilegais entra nos EUA por meio do México a cada ano, segundo do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

"Ouvi que a Farc obtêm entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões por ano com o comércio", disse Michael Braun, que renunciou em 2008 ao cargo de chefe de operações da DEA, em entrevista por telefone, em Alexandria, Virgínia. "Acontece que acredito que esse número é lamentavelmente subestimado."

O plano de Reyes buscou mudar a prática dos rebeldes de vender cocaína para gangues que os investigadores colombianos dizem atuar como intermediários. Em vez disso, as Farc estariam enviando as drogas diretamente para o cartel mexicano em consignação - na prática financiando o acordo e assumindo o risco da remessa, em troca da oportunidade de dobrar seu lucro, segundo a autoridade colombiana.

Reyes estava buscando novos caminhos para as Farc fazerem negócios após a ofensiva militar de Uribe, apoiada em US$ 6 bilhões em ajuda americana ter empurrado as guerrilhas para áreas cada vez mais remotas e outras situadas na Venezuela, Equador e Panamá, cortando suas receitas de extorsões e sequestros.

As Farc, cujos 45 anos de insurgência a tornaram o mais antigo grupo guerrilheiro na América Latina, vêm financiando sua luta há mais de uma década em grande parte com a venda de cocaína, dizem pesquisadores colombianos e funcionários da DEA. Os líderes das Farc, como Alfonso Cano continuar a dizer que estão lutando pelo o socialismo por meio de "luta de classes" e que estão em guerra contra o imperialismo.

Autoridades colombianas disseram, em março de 2008, que laptops de Reyes continham provas de que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, canalizara pelo menos US$ 300 milhões para as Farc, qualificadas de grupo terrorista pelo Departamento de Estado dos EUA. A incursão da Colômbia no Equador, um aliado da Venezuela, irritou Chávez, que mandou tanques para a fronteira e ameaçou "reagir de forma decisiva" à agressão colombiana.

A Colômbia também acusou Chávez de fornecer armas e abrigar guerrilheiros. Embora Chávez negue ter dado apoio às Farc, ele pediu repetidamente à comunidade internacional que reconheça o grupo como "beligerantes" legítimos, e disse que a guerrilha é um "verdadeiro exército" com objetivos políticos.

Ser capaz de obter cocaína diretamente das Farc aumentaria o poder de um ou mais dos cartéis, como os de Tijuana, Sinaloa e Juárez, disse William Hutchinson, chefe da DEA de 2001 a 2003. As Farc tinham vínculos intermitentes com os cartéis mexicanos desde a década de 1990, disse Braun.

7 comentários:

pseudopseud disse...

Adoro seus blogs (embora acompanhá-los seja uma tarefa titânica) e considero o senhor muitíssimo inteligente, e gostaria de sua opnião sobre o que devemos fazer e o que podemos esperar dessa tentativa de implantação socialista (o que mais me preocupa não é nenhum controle estatal da economia, embora isto seja péssimo, mas qualquer tentativa de evitar acesso a conhecimento e liberdade de adquirí-lo que não seja do modo dos planejadores sociais, e a liberdade de ir e vir)por favor, gostaria de sua opnião sobre o assunto do que pode vir a acontecer, garanto que muita gente tem a mesma dúvida do que eu.

Ah,e deixo aqui um protesto: queremos mais falácias acadêmicas, queremos mais falácias acadêmicas, queremos mais falácias acadêmicas...

Paulo Roberto de Almeida disse...

Meu caro (ou cara) intelectualizando (sendo gerundio, nao precisar ser pseudo...),
Confesso a você que eu teria muita vontade de escrever a respeito do que você me pede, só não o fazendo (esse gerundio...) por dois motivos muito simples: (a) falta de tempo, pois o tempo todo escrevendo outras coisas, inclusive respondendo a consultas de curiosos como você; (b) dificuldades para ser sincero, não que eu não pudesse ou gostasse, mas porque ainda sou servidor público, e teria de dizer algumas verdades desagradáveis sobre a situação que vivemos atualmente; não que eu tema sanções, mas porque certos regulamentos funcionais existem, e mesmo não se gostando deles, não se pode invocar exceção pessoal para não cumpri-los.
O que eu posso dizer, de maneira geral, é que o Brasil, em geral, e as instituicoes públicas em particular passam por um processo de mediocrização jamais visto neste pais, para repetir um dos representantes da raça (como diria o Darcy Ribeiro). Acho que isso não é uma opinião, mas um fato aferível, bastando contemplar a realidade que nos cerca...

Quanto às falácias, também sinto falta delas, pois são tantas que temos aquilo que os franceses chamam de embarras du choix. Tenho duas no forno, e espero poder soltá-las proximamente. Parei por causa do final do ano, algumas previsoes astrologicas, e algum balanço final e inicial.
Mas, uma, sem esse título de falácia, já está em curso, e vai tratar da (ir)responsabilidade dos intelectuais...
Paulo Roberto de Almeida

Anônimo disse...

Prezado Dr.P.R.A,

"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem."
Bertolt Brecht

Cartéis, Narcoguerrilhas, Narcoestados (...o que aconteceria se Cháves, sob a bandeira do Socialismo do Séc. XXI, fizesse de Honduras um enclave(launching pad)para as atividades comerciais das FARC...), sempre tem espaço reservado na mídia!

Porém, pouco fala-se que sem os insumos químicos para a produção da cocaína não existiria tráfico! Quem produz e comercializa tais insumos?!

Sds

Vale!

Paulo Roberto de Almeida disse...

Prezado Dr. Anônimo,
Acho que você usou só um neuronio para fazer esse comentário, com perdão da expressão.
Começo por retrucar, não a você, mas ao Brecht: essa frase é propriamente imbecil, e só permitida como licença poética, mas eu fico surpreso de ver como frases imbecis são repetidas ad infinutum, como essa outra do Ché Guevara que você deve saber qual é. Sinto muito, mas não compartilho de inutilidades literárias.
Entrando na substância, digamos que pelo seu "rassiossinio", todos os progressos da física e da química modernas e contemporâneas, assim como das tecnologias bancárias e de comunicações foram feitas exclusivamente para beneficiar bandidos, ladrões, corruptos etc...
Então, todas as indústrias européias, americanas (e brasileiras) que produzem insumos químicos para processos industriais são coniventes, queiram ou não, com o consumo, a produção e tráfico de cocaína e outros produtos psicotrópicos.
Se for isso, então é fácil resolver o problema: basta fechar essas fábricas, ou pelo menos proibir esses insumos de drogas, proibir os cientistas de imaginar novas combinações de moléculas reativas=, enfim parar o progresso das ciências e da tecnologia. Com isso atingiremos o ideal de um mundo sem drogas.
Meus parábens, Dr. Anônimo, você acaba de descobrir o novo teorema de Euclides da luta mundial contra as drogas. Merece um Guiness, ou quem sabe um premio igNobel...

Anônimo disse...

Prezado Dr. P.R.A.,

Talvez tenha sido mal interpretado.

De maneira alguma defendemos o narcotráfico, e tudo mais que venha a reboque...destruindo a vida de jovens...familias...comprometendo o futuro de gerações etc...ou ainda combatemos indústrias que investem em pesquisas que tem aplicações em áreas como a saúde etc... e criam milhares de empregos mundo afora. Estavamos nos referindo sobre maior controle no trânsito destes insumos em direção aos países reconhecidamente produtores. Caso contrário, estariamos descendo a elocubrações do tipo: Quem é o culpado? Aquele que fabrica a arma ou o que puxa o gatilho?!

Certamente não temos Che Guevara por modelo de homem, não queimamos incenso em honra de assassinos!

De certo que os interesses por trás do narcotráfico estão muito além de nossa humilde compreensão!

No mais tenho certeza que o uso de expressões, um pouco mais carregadas na tinta, não às tomaremos por ofensa,vindas do Sr. tomaremos por grata lição, pedimos perdão pelo nosso "faux-pas"(Brecht!); que nos faz sobrevir a lembrança a passagem em que José Veríssimo, por ocasião da morte de Machado de Assis, envia a Joaquim Nabuco cópia de artigo em homenagem ao escritor, no qual chama-o de "mulato". Nabuco escreve a Verissimo:"Mulato(Brecht), foi de fato grego da melhor época".

Esperamos na próxima "acertar na mão"!

Sds deste seu admirador,

Vale!

P.S.: Talvez tenha sido confundido com outra pessoa! Já faz algum tempo trocamos impressões, como muitos outros, por questões de foro íntimo,e jamais por covardia, nos valemos do anonimato para poder vir beber um pouco de vossa fonte!

José Marcos disse...

À GUISA DE INTERPRETAÇÃO...

Prezado Anônimo,

Com a ampla difusão de conhecimentos através dos livros e da Internet, qualquer pessoa com conhecimento mediano de Química poderia fabricar, caso desejasse, um explosivo como a nitroglicerina. Bastaria acessar um sítio eletrônico apropriado que ensinasse como fazê-la e comprar, em seguida, os insumos necessários. Prudentemente, o Exército Brasileiro controla a venda de vários produtos químicos que poderiam ser utilizados com maus propósitos (Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados: http://www.dfpc.eb.mil.br/index.php?option=com_content&task=view&id=89&Itemid=56). Para adquiri-los, é necessário obter uma licença. O Exército não proíbe peremptoriamente a venda deles, mas quer saber quem está utilizando esses reagentes químicos, em que quantidade os usa e para qual finalidade. Considero essa atitude corretíssima. Não se entrava a pesquisa científica nem o uso responsável desses insumos, mas se evita que curiosos adquiram quantidades críticas desses reagentes. Acho que entendi o que o Sr. Anônimo quis dizer. O refino da cocaína exige produtos químicos específicos. Controlando a venda desses produtos, poder-se-ia inibir a sua produção.

Anônimo disse...

Exatamente Dr.!

Sds

Vale!