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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

1329) Os desafios de nosso mundo pos-crise - Martin Wolf

Apesar de tê-lo downloadado (ugh!) para o meu computador desde o começo do ano, apenas esta noite, ao passear em torno de 22hs em volta de duas quadras de Brasilia meu companheiro de promenades philosophiques -- um simpatico e compreensivo Yorshire que responde pelo nome de Yury, e que até mereceu um blog só dele: Promenades avec mon maître -- pude ouvir, como sempre faço nesses passeios, em meu iPod, um ensaio do jornalista econômico do Financial Times Martin Wolf, intitulado:

The challenges of managing our post crisis world (December 29, 2009)

Esse ensaio, em forma de balanço, trata basicamente do que diz o seu título, ou seja, adequar e acomodar os desequilíbrios e desafios de um mundo caracterizado por superávitários de um lado, e "deficitários" de outro. A situação, em grande medida, inverteu-se. Os EUA eram o superavitário estrutural no final da Segunda Guerra, e financiaram generosamente os desequilíbrios europeus e de quase todo o resto do mundo. Eles foram, sim, generosos, a despeito de que muitos acreditam que eles fizeram tudo aquilo em seu benefício próprio, defendendo seus interesses nacionais, ao preservar o capitalismo e a "democracia burguesa".
Pode até ser, mas os que dizem isso -- a menos que sejam de absoluta má-fé -- sabem, com absoluta certeza certeira (com perdão pela redundância), que a alternativa à disposição -- aliás, a única outra, posto que o fascismo já tinha sido tentado e deu no que deu -- nos conduziria a um mundo bem pior, no mínimo catastrófico economicamente, e provavelmente muito mais mortífero em termos humanos e sociais. Não deve haver nenhuma dúvida quanto a isso, posto que o comunismo acumulou um balanço de várias dezenas de milhões de mortos, provavelmente mais de uma centena, bem mais do que o fascismo conseguiu fazer, com guerra, holocausto e tudo.
Em todo caso, os EUA são hoje sustentados pelos excedentários asiáticos, a começar pela China, que aliás faz isso de modo não generoso; ao contrário, de maneira totalmente egoista, posto que do contrário, ela não conseguiria exportar e ter renda de seus saldos comerciais e de transações correntes com os EUA e outros países.

Bem, mas não era disso que eu queria falar, e sim do ensaio do Martin Wolf, que antes de debruçar-se sobre as agruras do ajuste econômico - fiscal, monetário, comercial -- começa tratando de memórias familiares, ao falar de seu pai, exilado austríaco, que atravessou a Primeira Guerra, as crises do entre guerras, a ameaça nazista sobre seu país e o exílio na Inglaterra (o que o salvou, ao contrário do resto da família, de perecer no morticínio nazista).

Martin Wolf conta que uma das lições mais preciosas que aprendeu de seu pai está resumida nesta frase:

Civilization is as fragile as a glass. (A civilização é tão frágil quanto vidro)

no que papai Wolf tem inteiramente razão, em vista de tantos ditadores (felizmente agora em número relativamente reduzido) que causaram tantas maldades no "breve" século 20 que foi o a idade das ideologias.

Aqui mesmo, neste cantinho de planeta, um bando de aloprados ainda pensa em implantar um regime diretamente saído das catacumbas da história, não mais por uma revolução de estilo bolchevique -- embora existam ainda alguns malucos neobolcheviques que pensam que estão em Petrogrado em 1917 -- mas pela maneira "gramsciana", aprovando planos inocentes de "direitos (des)humanos". Enfim, mas não é disso que trata e sim de suas "memórias sentimentais" (a tragédia austríaca, e européia de meados do século 20) e dos desafios econômicos deste início de século 21.

Não vou resumir aqui suas recomendações quanto ao segundo aspecto, a crise e as maneiras de administrar a saída dela, tanto porque não concordo com todas as suas recomendações -- sobretudo a de que era preciso salvar o sistema de uma morte fatal -- mas simplesmente remeter todos os interessados à leitura desse belo texto, ou melhor, à escuta desse cativante mp3.

Neste link.

Mais podcasts de Martin Wolf, aqui.

PS.: Antes que algum espertinho me pergunte porque eu não concordo com Martin Wolf, eu diria, rapidamente, o seguinte.
Não acredito que um sistema econômico enfrente a morte, a menos de ser "salvo" pelos intervencionistas keynesianos que depois vão pretender ser mais espertos do que os mercados "livres". O que os interevencionistas fazem é salvar o dinheiro de alguns especuladores com os recursos de todos os cidadãos, que pagam assim as espertezas desses aventureiros. Deixar quebrar alguns bancos, o que compromete o dinheiro de um número menor de pessoas pode ser uma solução aceitável, pois tende a restabelecer o equilíbrio do sistema de maneira mais rápida do que essas intervenções estatais.

Paulo Roberto de Almeida (10.02.2010)

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