Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
1338) Radioatividade persa: contaminacao diplomatica...
Duda Teixeira
Revista Veja, edição 2152 - 17 de fevereiro de 2010
Passo a passo, o Irã caminha para onde sempre quis chegar: a fabricação da bomba atômica. Já avançou no material necessário, o enriquecimento de urânio a 20% em suas centrífugas. E pode fazer mais do que isso, jactou-se Ahmadinejads
BOMBA, BOMBA, BOMBA
Ahmadinejad aponta o caminho acelerado do desastre: "Somos uma potência nuclear"
Mentir, mentir sempre. E, nos arroubos de entusiasmo, abandonar momentaneamente o fingimento e deixar entrever as verdadeiras intenções. Assim tem se comportado o regime iraniano em relação ao programa nuclear que, ostensivamente, é para a produção de energia, mas em todos os aspectos práticos caminha para a fabricação de uma bomba atômica. As consequências para o mundo inteiro têm um potencial calamitoso. Israel, que por motivos óbvios considera a bomba iraniana uma ameaça vital, pode desfechar um ataque preventivo, de alcance arrepiante para o mundo todo, em especial nessa fase de sensibilíssima economia pós-crise. Ou o Irã continua fazendo mais do mesmo: enfrenta novas sanções, desafia os organismos internacionais e alcança, por fim, a bomba, o que lhe garante uma espécie de tenebrosa imunidade. Até lá, o regime dos aiatolás continuará fingindo que negocia, aceitando inspeção parcial da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e, na sua visão, talvez cruelmente correta, fazendo de bobos os países que propõem saídas honrosas como o processamento no exterior do urânio, o minério que move usinas ou produz bombas, dependendo do grau de manipulação (veja o quadro). Na semana passada, em clima de exaltação nacional, o Irã anunciou que começou a enriquecer urânio a 20% no complexo nuclear de Natanz. "O Irã já é uma potência nuclear", jactou-se o presidente Mahmoud Ahmadinejad diante das habituais massas de manobra. "Podemos enriquecer o urânio a 20% ou 80%, mas não chegamos a isso porque não precisamos."
Fora o tom de blefe que permeia os discursos de Ahmadinejad e a confusão de porcentagens – entre o enriquecimento a 20% e o processo a 90%, necessário para a bomba, existe um intervalo tecnológico de dois a três anos –, a chantagem fica mais do que explícita. É como se dissesse: se quisermos, poderemos fazer. E como querem. Em setembro do ano passado, fotos de satélite revelaram que o Irã construiu secretamente uma central nuclear subterrânea que poderia comportar 3 000 centrífugas para enriquecer urânio. O complexo, perto da cidade de Qom, segue o mesmo padrão de Natanz, onde as máquinas estão a 23 metros de profundidade, cobertas por um escudo de concreto. É um formigueiro atômico, no meio das montanhas, feito para resistir a ataques aéreos como os que, segundo as previsões mais sombrias, Israel inevitavelmente des-fechará. Existem bombas que alcançam os bunkers mais protegidos, mas o processo demanda bombardeios prolongados – e, mais complicado ainda, os aviões só atingiriam o Irã através do espaço aéreo de Líbano, Síria, Iraque, Arábia Saudita ou Turquia; em suma, uma infindável encrenca. O Irã afirma que vai produzir entre 3 e 5 quilos de urânio por mês para fins de pesquisa médica e geração de eletricidade. "Não há uso civil para tudo isso. O país tem apenas um reator funcionando adequadamente, o de Bushehr, que consome 10 quilos de urânio russo ao longo de um ano inteiro", disse a VEJA a especialista americana Jacqueline Shire, analista do Instituto para a Ciência e a Segurança Internacional, em Washington.
A possibilidade de que novas sanções funcionem é pouca, mas, diante da falta de opções, Estados Unidos e Europa prepararam um novo programa punitivo no âmbito do Conselho de Segurança da ONU. A Rússia insinuou que apoiaria. A China, não. O Brasil, atual integrante do Conselho como membro rotatório, deve seguir, vergonhosamente, os chineses. A diplomacia lulista tem se desdobrado em manifestações de apoio ao regime iraniano, movida pelos equívocos de sempre – antiamericanismo, discurso nacionalista (distorcido, claro, pois contraria os interesses fundamentais do Brasil) e uma relação carnal que ultrapassa amplamente o necessário para manter laços diplomáticos corretos com um país complicado. Um leão para defender, em vão, as mais terríveis punições à Honduras do interregno pós-zelaysta (encerrado pelo voto), o chanceler Celso Amorim virou um gatinho persa ante a proposta de sanções internacionalmente aceitas contra o Irã da bomba atômica clandestina. "Há sempre pedidos de medidas mais e mais severas", admoestou. "Não vemos realmente que seja o caso." E qual seria a opção? "Não adianta nada fazer uma proposta e ficar parado esperando que o outro lado faça exatamente aquilo que foi proposto." Ou seja, a culpa é de quem propõe saídas para o caso iraniano. Se paira alguma dúvida sobre os "culpados", esclareça-se: o presidente Barack Obama, que nobremente ofereceu a mão estendida ao Irã (e levou um tapa na cara), e os principais países europeus, que articularam a proposta do enriquecimento do urânio iraniano na França e na Rússia, como garantia de seu uso pacífico. Como o Irã quer é fazer a bomba, a oferta foi empurrada com a barriga, com o apoio explícito do chanceler Amorim. "Uma coisa é pagar mico em Honduras, que não traz grandes consequências", diz o embaixador Rubens Barbosa. "Outra coisa é, no caso do Irã, dar vexame perante o mundo." Em retribuição à gentil visita de Ahmadinejad no ano passado, o presidente Lula tem viagem marcada para Teerã em maio. Será uma apoteose. E depois, vem o quê? O apocalipse?
NA MESMA SINTONIA
Celso Amorim com Ahmadinejad em Teerã e ato de exaltação ao regime: um quer a bomba,
o outro quer ser amigo
3 comentários:
Prezado Dr. P.R.A.,
Sugerimos, dentre outros na webpage do ISIS, o link: http://isis-online.org/uploads/isis-reports/documents/Natans_Operative_11Feb2010.pdf
Um estudo minucioso sobre a capacidade ou não da "formiguinha atômica" adiquirir expertise e material para fabricação de WMDs!
Sds
Vale!
Prezado Dr. Anônimo,
Infelizmente não consegui ler o texto recomendado em seu comentário:
* Page not found
Sorry!
The page you're looking for can't be found at this address.
There could be a few different reasons for this:
* The page was moved.
* The page no longer exists.
* The address is incorrect.
Se voce puder me indicar onde conseguir o texto, ou me mandar diretamente, eu agradeço.
Paulo Roberto de Almeida
Talvez seja este, ou um equivalente:
http://isis-online.org/isis-reports/detail/irans-gas-centrifuge-program-taking-stock/8
ISIS Reports
Iran’s Gas Centrifuge Program: Taking Stock
by David Albright and Christina Walrond
February 11, 2010
Table of Contents
1. Understanding Enrichment at Natanz
2. First Principles
Postar um comentário