O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

1762) FSM, dia 1: foi para isso que se reuniram?

Primeiro, a transcrição do que recebi:

Oded Grajew defende mudança de hábitos individuais

Um dos organizadores do Fórum Social Mundial (FSM), Oded Grajew, voltou a defender ontem a mudança de consciência individual e a articulação de diferentes organizações da sociedade em favor de “outro mundo possível”.

“Temos que mudar hábitos arraigados dentro de nós, no nosso comportamento, no dia-a-dia. Nossas entidades têm funcionários. Temos que rever a maneira como tratamos nossos semelhantes. Temos que saber agir sem precisar de o papai fórum nos dizer o que fazer”, ao participar da mesa de abertura do evento, em Porto Alegre.

Ao fazer um balanço de dez anos do evento, Grajew lembrou que o FSM é um espaço de mobilização e discussão, que facilita o encontro entre setores sociais, que devem atuar em rede para avançar, principalmente na questão ambiental.

“Se a gente não mudar o modelo de desenvolvimento, a espécie humana corre risco de extinção neste século. “Nenhuma organização sozinha consegue ir além de determinados limites desafios que hoje são globais”.Para Oded Grajew, esta é a grande sacada: a mobilização em conjunto.

“Não tem causa mais importante. Levo adiante a missão da reforma agrária. Quero ter parceiros, gente e organizações que possam ajudar também na questão feminista, na economia solidária”

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Agora eu, PRA:

Bem, eu acho que o pessoalzinho do FSM vai precisar pensar em mudar de slogan. Que tal?

"Um outro ser humano é possível"
"Um outro homem, uma outra mulher, um outro...(bem, à escolha...)"
"Todos unidos, mudaremos o mundo, começando por nós mesmos"
"Um outro Fórum Social Mundial é possível" (aliás, até mesmo necessário)

1761) FSM, dia 1: começou o festival de inutilidades...

Recebo, em minha caixa de entrada -- e agradeço muito a gentileza -- o primeiro boletim do primeiro dia daquilo que eu já chamei de festival de empulhações: um bando de jovens idealistas sendo enganados por velhos velhacos, que não tem nada de muito inteligente a dizer e que ficam repetindo o mantra inútil: "um outro mundo é possível"...
Bem estou esperando que eles me apresentem esse mundo. (E que me agradeçam por fazer propaganda gratuita de suas bobagens, embora saiba que não vão fazê-lo.)
PRA
Enquanto isso, quem tiver paciência, pode ler o:

Boletim FSM - 25 de janeiro de 2010
Avaliação sobre as conquistas e os limites do Fórum Social Mundial marca abertura do FSM Grande Porto Alegre

Começou hoje (25/1/2010), no Rio Grande do Sul, o "Fórum Social Mundial 10 anos Grande Porto Alegre". Uma das principais atividades do evento é o Seminário Internacional "10 Anos Depois: Desafios e Propostas para um Outro Mundo Possível", que está sendo realizado na capital gaúcha. Intelectuais e representantes de movimentos sociais de todo o mundo estarão reunidos, até o dia 29 de janeiro, para uma grande reflexão sobre os dez anos do Fórum Social Mundial e as transformações políticas e sociais desse período.
A proposta do seminário, no entanto, não é só olhar para trás. O debate deve resultar também na projeção de caminhos futuros para a construção de um outro mundo possível. As conclusões desse seminário serão discutidas em eventos descentralizados, que serão realizados em todo o mundo ao longo do ano, até o próximo Fórum Social Mundial, em Dacar (Senegal), em 2011.
O primeiro dia do seminário avaliou as conquistas e os limites do Fórum Social Mundial, a partir de uma ótica plural, que contou com a participação de...
[sinto muito não vou ficar fazendo propaganda de gente que eu considero simplesmente desonestos anti-intelectuais]

Amanhã (26/1), serão traçados diagnósticos da conjuntura atual sob quatro diferentes aspectos que se completam: ambiental, econômico, político e social. As discussões serão conduzidas paralelamente. Os diagnósticos servirão de base para os debates seguintes. (Veja aqui a programação completa).

Diariamente estará disponível no blog do seminário os resumos de todos os debates. O texto da discussão de hoje já está no ar.

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PRA: Bem, eu percorri o blog com o resumo do dia. Posso dizer que se trata de uma leitura edificante. Nele se pode aprender que:
"Antes do FSM, porém, movimentos e organizações da sociedade civil já haviam iniciado processos de articulação antiglobalização neoliberal em espaços como Chiapas, com o movimento zapatista, e Seattle, propondo novas formas de intervenção política no mundo, ponderou João Pedro Stedile. Estes movimentos foram maximizados pelo FSM, cujo grande mérito foi derrotar a idéia de que o neoliberalismo seria o único futuro possivel para o Planeta. Ou seja, o FSM derrotou o neoliberalismo como ideologia."

Durma-se, se conseguir, com essa grandiosidade alternativa...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

1760) Pobres reclamam de impostos altos

Esta descoberta é inédita para mim. Nunca soube que pobre soubesse medir a carga total dos impostos embutidos em TODOS os produtos e serviços oferecidos no mercado brasileiro, pelo menos não com tanta ênfase e evidência. Em todo caso, eu volto à minha proposta: em lugar de ficar debatendo filosofias políticas -- partidos de esquerda, de direita, liberais ou estatizantes -- um partido deveria assumir resolutamente a decisão de lutar contra impostos, com o único objetivo de reduzir a carga tributária total da economia brasileira, que estrangula a sociedade. Apenas isso: já seria uma revolução...
Como diz o comentarista reproduzido mais abaixo, com base na pesquisa:
"Quem ganha até 2 salários mínimos compromete o equivalente a 53,9% de sua renda com impostos, taxas, contribuições e outros tributos. Na outra ponta da escala, quem tem renda acima de 30 salários, deixa com o Fisco montante que equivale a quase 30% da renda."

Em todo caso, trata-se de uma evidência tão evidente, que sem cair na redundância caberia martelar até o fim dos tempos, ou seja, até quando a carga fiscal caia abaixo de 20$ do PIB. Esse é o meu combate.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.2010)

Eleitor pobre quer corte de tributos
Julia Duailibi
O Estado de S.Paulo, Domingo, 24 de Janeiro de 2010

Pesquisas indicam que 7 em cada 10 brasileiros defendem redução de impostos, e não de juro, para gerar emprego

A elevada carga tributária é apontada pelo eleitor de baixa renda como o maior empecilho para a geração de emprego e o aumento do consumo no País. Sete em cada dez brasileiros defendem a redução dos impostos, e não dos juros, como forma de gerar empregos - 65% aceitam menos programas sociais, como o Bolsa-Família, se a contrapartida for reduzir tributos para derrubar os preços.

Pesquisas do Instituto Análise mostram que 67% das pessoas com renda familiar de até R$ 465 dizem preferir um presidente que reduza os impostos dos alimentos para que se compre comida mais barata a um que aumente o Bolsa-Família - opção de 32% dos entrevistados.

"As pessoas sabem que poderiam consumir mais, mas não conseguem por causa dos impostos", afirmou o cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise. Realizadas em 2009, as pesquisas ouviram mil pessoas por mês. "São 70 cidades no País, incluindo as nove regiões metropolitanas e locais do interior", disse ele.

A diminuição da carga tributária, portanto, teria reflexos em outro tema caro ao eleitor: o aumento do consumo. Puxado pelo crescimento real do salário mínimo e do crédito, o consumo das famílias cresceu nos últimos anos - e o governo estima que aumentará 6,1% em 2010.

Nas pesquisa, 67% concordam que o "melhor para a população pobre é que o governo reduza impostos e tenha menos funcionários, com isso o preço dos produtos cai". Já 28% preferem "mais impostos e que com o dinheiro dos impostos o governo faça mais programas sociais".

Corte de impostos é apontada como principal medida contra desemprego - mais até que educação. "A população sente no bolso. A alta carga afeta mais os de renda baixa, que gastam parcela maior do orçamento com alimentação", disse o economista Sérgio Vale, da MB Associados.

Estudo elaborado por Maria Helena Zockun, pesquisadora da Fipe, mostra que, em 1996, famílias que ganhavam até dois salários mínimos gastavam 28% da renda com impostos. Em 2004, 49% da renda foi para o Fisco. As famílias com renda superior a 30 mínimos gastavam 18% da renda com impostos em 96. Em 2004, gastaram 26%.

"Como os mais pobres gastam mais parte da renda com consumo, ficam vulneráveis", diz Maria Helena. "A pessoa pode não ter ideia do quanto há de imposto no produto. Mas vê o preço menor na informalidade. Sabe que com carga menor teria mais acesso a bens." Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, uma caixa de sabão em pó, que custa R$ 3,98, sairia por R$ 2,30 sem os impostos. Um saco de açúcar fica 68% mais caro, com a tributação, e o de cimento, 65%.

Na eleição, a oposição acusará o apetite arrecadatório do governo, que, por sua vez, dirá que promoveu desonerações como a do IPI. "O caso do IPI mostrou que com menos imposto compra-se mais", disse Almeida.

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E um comentário no blog de um jornalista economista (ou vice-versa):

Pobres reclamando de impostos? Faz todo o sentido
José Paulo Kupfer
Blog do Estadão, 25 de janeiro de 2010

Conclusões de pesquisas do Instituto Análise, divulgadas na edição deste domingo do Estadão, permitiram a seu diretor, o cientista político Alberto Carlos Almeida, concluir que a redução da carga tributária é uma aspiração das classes mais populares e que este poderá ser um dos grandes motes da campanha eleitoral em 2010.

Não está claro como a pesquisa foi realizada. Explica-se apenas que foram ouvidas mil pessoas por mês, em 70 cidades. Mas, não se sabe em quantos meses, se os mil consultados variavam ou não, a distribuição geográfica e sócio-econômica deles, e das cidades. Não há informação, principalmente, sobre o questionário submetido aos pesquisados e o teor das perguntas. São ressalvas necessárias, mas o fato é que, do ponto de vista da realidade e da lógica, o achado do Instituto Análise não surpreende.

Por seu caráter escandalosamente regressivo, nosso sistema tributário é uma construção de cabeça para baixo. São, portanto, outras forças – não a da gravidade e da justiça tributária –, que a mantêm de pé. No Brasil, no campo dos tributos, numa completa inversão de valores, quem pode mais, paga menos, e que pode menos, paga mais.

Faz tempo – e põe tempo nisso – estou entre os que batem nessa tecla. Além de ser um estorvo para a competitividade da economia, nosso sistema tributário é, antes de tudo, de uma injustiça indecente, um elemento relevante no quadro de concentração de renda que estigmatiza o desenvolvimento brasileiro.

Recentemente, em 13 de janeiro, publiquei aqui no blog um gráfico em que essa distorção salta aos olhos. A reportagem do Estadão, no domingo o atualiza. Quem ganha até 2 salários mínimos compromete o equivalente a 53,9% de sua renda com impostos, taxas, contribuições e outros tributos. Na outra ponta da escala, quem tem renda acima de 30 salários, deixa com o Fisco montante que equivale a quase 30% da renda.

Há pouco menos dois anos, escrevi o seguinte (íntegra aqui):

“O sistema tributário brasileiro é pior do que péssimo. Um comitê de sábios, convocado para elaborar o pior sistema possível, não conseguiria produzir uma obra de tão má qualidade. O sistema, além de complicado – há multiplicidade e sobreposição de tributos e de regimes de tributação -, é acintosamente regressivo – a base de arrecadação são os impostos indiretos e as contribuições cumulativas, estas incidentes em cascata sobre o faturamento ou, num caso raro em todo o mundo, sobre operações financeiras.”

“Não é por infelicidade ou azar que, no sistema brasileiro, quanto mais pobre, mais, proporcionalmente à sua renda, o cidadão é taxado. Isso se deve ao fato de que a tributação incide mais sobre o consumo e a produção do que sobre a renda, num ambiente em tudo propício à sonegação e à elisão”.

“Como o ‘prêmio’ pela fuga às obrigações fiscais é alto, o resultado de tudo é que poucos a sentem de fato no bolso. Para os abonados, há a válvula de escape do chamado “planejamento tributário”. Para os outros, resta a solução da informalidade.”

“Era de se esperar que, diante das injustiças do sistema tributário e dos desestímulos que ele impõe à consolidação de uma economia competitiva, qualquer reforma que caminhasse na direção de reduzir, ainda que minimamente, tais características, fosse apoiada pela maioria e tramitasse com facilidade no Congresso. Quanta ilusão.”

Conforme publicado pelo Estadão, na pesquisa do Instituto Analise, 67% das pessoas com renda de até R$ 465 (um salário mínimo, em 2009) disseram preferir uma redução dos impostos sobre alimentos a aumentos no Bolsa Família – opção de 32% dos entrevistados. Sem mais detalhes sobre a metodologia da pesquisa, ficam dúvidas sobre o resultado divulgado. Mas, que faz sentido, lá isso faz.

1759) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (3)

Bem, volto ao tema já exposto em dois post precedentes, 1750 e 1751, que caberia recuperar para ler também os comentários:

sábado, 23 de janeiro de 2010
1750) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (1)
[a propósito da matéria: "A obsessão totalitária" - Fábio Portela, Revista Veja, edição 2149 - 27 de janeiro de 2010]

domingo, 24 de janeiro de 2010
1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (2)
[na qual eu transcrevia e fazia minhas observações de caráter metodológico a um comentário do leitor que figura abaixo]

O comentarista em questão, um jovem acadêmico baiano -- que eu não chamaria de historiador, pois lhe faltam importantes requisitos metodológicos para tanto; ele é apenas formado em história, com 'h' minúsculo... -- retorna à carga para retrucar ou responder ao que eu disse.
Ele se esquiva, porém, de fazer a única coisa que eu havia pedido a ele, que era comentar o teor da matéria da Veja, em lugar de lançar invectivas contra a revista.
Não contente em continuar a vituperar contra a revista, ele assume a defensiva de suas posições, mas como sempre cheio de adjetivos e colocações impressionistas, sem jamais entrar no coração da matéria, que era, relembro, tecer considerações inteligentes, ou pelo menos interessantes, sobre a liberdade de expressão e a tentativa canhestra -- eu até diria liberticida -- de cercear essa liberdade por uma tribo de órfãos do leninismo encastelados no poder.
Eu havia solicitado tão somente que ele se pronunciasse sobre as frases respectivas de Jefferson e de Lênin, transcritas nessa matéria.
Em lugar de fazê-lo (o que é seu direito), ele prefere continuar atacando o veículo, e silenciar sobre o cerne da matéria.
Ele diz, por exemplo:
"O ataque a revista Veja é justo."
PRA: Acho que isso é uma opinião pessoal, mas como eu disse, isso é o que menos interessa. A matéria poderia ter sido publicada pela Caros Amigos, pela Carta Capital, pela revista do Comitê Central do PSOL (se ele existir e tiver uma), pelo Gramna, o único jornal existente em Cuba (e que serve mais de papel higiênico do que propriamente para informação, uma palavra que passa por piada na ilha), não importa. A única coisa relevante seria comentar se a liberdade de imprensa estaria melhor defendida com a realidade que temos, que se aproxima (mas não muito) da situação descrita por Jefferson, ou se ela estaria melhor com as posições de Lênin, que combinam bastante com o que pretendem os inimigos da liberdade encastelados no poder.

Nosso jovem aprendiz de historiador também diz que "A matéria assinada por Fábio Portela é anacrônica." Mas ele tergiversa sobre o leninismo enrustido no governo Lula, quando o meu pedido a ele era outro. Não pretendo uma discussão ideológica sobre essas viúvas do socialismo, que existem e ficam muito desconfortáveis com um governo que aplica uma política econômica neoliberal. Eu apenas queria os comentários do rapaz sobre a liberdade de expressão.

Não tive nada disso, mas apenas diatribes, adjetivos, impressionismos.
Era minha escolha (e meu direito) não publicar esse tipo de material, para não cansar o leitor, mas como eu abri a discussão, permito-me conceder-lhe uma vez mais espaço para suas manifestações, inclusive por uma questão de justiça: no meio de tantos afazeres, de tantos estudos, ele se deu ao trabalho de interromper suas atividades para me responder, o que é um sinal de consideração.
Vai, portanto, transcrito abaixo, o que ele tem a dizer. Depois eu volto com duas sugestões.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.2010)


Equiano Santos deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileir...":

" Caro PRA,
Permita-me chamá-lo de professor, pois devo ao senhor o meu amor pelas discussões sobre política externa e relações internacionais, além de considerar seus escritos parte da minha permanente formação. Permita-me também uma tréplica, pois minhas poucas palavras e seu desconhecimento a meu respeito acabou sendo objeto de confusão. Isto é perfeitamente normal e me dá grande vantagem sobre o senhor, pois conheço mais de ti do que ao contrário.
Certamente esta tréplica demorou um pouco. Os estudos voltados ao concurso para carreira diplomática, a prática docente e as atividades de pesquisa tomam uma imensa parte do meu tempo. Isso explica a paralisia do meu blog e me deixa bastante impressionado com tamanha versatilidade que o senhor possui.
Vejamos...

Poderia iniciar esta tréplica de variadas formas... Melhor, no entanto, iniciar identificando o seu discurso. Podemos caracterizá-lo como uma conhecida forma de Argumentum ad Hominen, do qual se exclui uma proposição pelo fato da mesma ser objeto de defesa de indivíduos, no mínimo, contestáveis (pelo menos ao seu ver). Se pretende rejeitar minha opinião “batendo em cachorro morto”, tentando me colocar no rol dos saudosistas do socialismo real, houve um erro na pontaria. Lembro-te que o movimento pelo qual tradicionalmente chamamos de esquerda corresponde a um amplo leque de correntes onde, desde os tempos das primeiras manifestações operárias no velho continente, foi caracterizado por seu amplo pluralismo. Esse pluralismo marcou também o próprio marxismo, fazendo de Lênin tão diferente de um Bernstein (não estou aqui para discutir sobre revisionismo, pois todos são revisionistas, vez que não existe uma ortodoxia marxista). Enfim, no que diz respeito ao socialismo real, à apologia a Lenin, Stálin, Fidel e outros personagens que fizeram da revolução um caminho para transformação, sinto o mesmo arrepio que o senhor. Digo mais, na minha prateleira de livros, as “Obras Escolhidas” de Lênin são permanentemente vigiadas pelo “Arquipélago Gulag”, de Soljenítsin. Dito isto, o que falar sobre meu comentário que desencadeou nosso debate?

O ataque a revista Veja é justo. A matéria assinada por Fábio Portela é anacrônica, ao fazer uso de termos sem nenhuma correspondência com o presente. Que soviets, que leninismo? Aponte-me Lênin no programa do PT, no que diz respeito à tática e a estratégia do partido que me calo. Aponte-me alguma apologia de Lula e do governo ao socialismo real que me calo. Aponte-me alguma relação entre o leninismo e o governo Lula que me calo! Não há leninismo, bolcheviques tão pouco. Tudo que se tem são correntes pouco expressivas que, ou são minorias dentro do partido ou que, como minorias, representam a base aliada. Ou o senhor acha que um ministério do esporte representa uma bolchevização do governo? Inclusive, nem nos tempos iniciais, em que o partido era marcado pelo radicalismo, houve um programa que visasse uma revolução.
É dentro deste contexto que caracterizei e ainda caracterizo Veja de saudosista, pois suas análises são caducas e ainda enxergam o mundo de maneira bipolar, comunistas onde não existem. São indivíduos que sonham com as bombas da guerra fria e que passam horas se deliciando com Rambo. Por isso chamei de revista panfletária... E ela é! Panfletária e preguiçosa, pois ao invés de apostar em argumentos inteligentes, apostar em investigações e análises fundamentadas, preferem ocultar e “abrir a boca” com chavões militantes...

Lula governa tendo uma base heterogênea que vai desde os movimentos populares a setores do empresariado brasileiro, escreveu a famosa “Carta ao Povo Brasileiro” se comprometendo com uma agenda econômica do qual não poderia ser modificada e assim o fez. Não estou aqui para defender o governo, apenas para que parem com essa paranóia de que “os comunistas estão chegando” ou de que por trás da bandeira do PT há uma foice e um martelo. O debate é outro...

É necessário dizer ainda, que meu posicionamento perante essa revista não deve ser confundido com a postura de um historiador perante as fontes. Como fonte, as revistas representam um importante meio de informação e todas elas devem ser utilizadas para que, a partir de uma análise apurada, possa construir o conhecimento histórico. Mas lembro ao senhor que existem muitas perguntas que um historiador faz às fontes, entre elas estão “quem escreveu isso?”, “qual sua intencionalidade?”. Ainda não li o seu “Formação da diplomacia econômica no Brasil: Império” . Comprei mas ainda não o li, entretanto tenho certeza que durante suas pesquisas fez estas perguntas às fontes consultadas (Ficarei honrado de ter uma dedicatória do senhor no meu livro se algum dia desses passar por Salvador). Não sou ainda um bom historiador, mas, no projeto de mestrado que estou construindo, procuro analisar as fontes da melhor maneira possível.

Bem, professor...não vou entrar no tema do Programa Nacional de Direitos Humanos, pois minha crítica, como o senhor pôde constatar, foi direcionada a outra questão. Além disso, ainda estou formando uma opinião a respeito e conto com a ajuda do senhor e do seu blog para sempre me fornecer o “outro lado da moeda”.
Obrigado pela atenção... Estaria faltando com a verdade se dissesse que não estou ansioso por uma resposta. Diferente da primeira, porém, esta não haverá um retorno. Voltarei ao posto de leitor do seu blog, posição que, frente ao senhor, confesso, sinto-me muito mais a vontade do que a de um debatedor.
"

(Fim de transcriçao)

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Permito-me um único comentário final:
PRA: O Equiano, como tantos jovens brasileiros, é vítima do festival de idiotices que uma manada inteira de energúnemos -- alguns idiotas completos, outros apenas ignorantes, outros ainda atuando de má-fé -- dissemina impunemente nas universidades brasileiras. Digo impunemente não porque eles devessem ser cerceados, mas porque eles se aproveitam da total irresponsabilidade das universidades públicas para falar bobagens sem jamais se responsabilizar pelo total surrealismo de seus argumentos, que não guardam a mínima conexão com a realidade.
Se eu pudesse fazer apenas duas recomendações a esses jovens, seriam estas aqui:

1) Esqueçam os seus professores, desliguem dessas aulas ridículas, coloquem seus iPods nos ouvidos e abram um bom livro em sala de aula; se puderem faltar, melhor, se não puderem, leiam, apenas, sejam autodidatas intensivos; vocês aprenderão mais, com gente mais inteligente do que os quadrupedes que costumam dar aulas nas faculdades de humanidades;

2) Viajem, muito: mas, tendo em vista o estado mental da maioria de vocês, não viajem ao capitalismo, a Paris, Miami, essas coisas. Tudo isso é déjà vu, já sabemos como funciona o capitalismo e o que se pode comprar nele: iPods, iPhones, computadores Apple (três vezes mais baratos do que neste país protecionista), enfim, tudo aquilo que um jovem cubano gostaria de comprar e não consegue, ou que o brasileiro precisa pagar pelo menos o dobro para obter. Viajem a países magníficos, que combinam com as idéias desses professores aloprados que fingem dar aulas a vocês: visitem Cuba, Coréia do Norte (não creio que consigam, mas cabe tentar), a Venezuela do coronel fascistão, as maravilhas bolivarianas, enfim, tudo aquilo que passa por progressista e libertador. Seria tão mais interessante do que percorrer esses lugares cheios de multinacionais, de especuladores financeiros, de exploração do homem...

Enfim, são apenas sugestões...

1758) O velho papo da mao invisivel e os novos profetas

Em artigo intitulado

A Mão Invisível do Mercado

escrito para o Project Syndicate e reproduzido pela Folha de São Paulo (27/12/2009), o economista e professor da Columbia University, Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, diz que a lição da crise "é a de que os mercados não são capazes de autocorreção. De fato, na ausência de regulamentação adequada, tendem ao excesso. Em 2009, vemos uma vez mais o motivo. A mão invisível de Adam Smith muitas vezes pareceu realmente invisível, porque não estava lá. A defesa de seus interesses próprios pelos banqueiros (ou seja, a cobiça) não conduziu ao bem estar da sociedade, não serviu nem mesmo aos interesses dos acionistas e dos detentores de títulos dos bancos".

Trata-se de notável equívoco quanto ao que disse realmente Adam Smith e quanto ao significado dos mercados livres. Em primeiro lugar, Smith nunca defendeu, realmente, nenhuma política, ou "teoria" como querem alguns, relativamente aos méritos, mais supostos do que reais, dessa famosa construção intelectual identificada como "mão invisível". O que ele disse, concretamente, é que os agentes econômicos, deixados livres para realizarem seus interesses individuais -- ou seja, ao perseguirem unicamente sua própria cobiça -- acabam satisfazendo melhor aos desejos da sociedade do que se estivessem unidos, num suposto acordo coletivo para realizar o bem comum. Adam Smith diz que, ao agirem de forma absolutamente descoordenada e cada qual perseguindo seu próprio interesse, eles acabam atuando em benefício da sociedade, como se uma mão invisível pairasse acima da sociedade a guiar as ações dos indivíduos.
Ou seja, trata-se de uma figura de estilo, não de uma prescrição de política. Justamente em função da ausência de coiordenação, agentes individuais não determinam uma política, mas são simplesmente guiados pelo comportamento dos mercados: se eles encontram clientes para seus produtos e serviços, excelente: terão lucros e ficarão mais ricos. Se, ao contrário, os clientes deles se afastarem, por preços altos ou má qualidade, eles perderão dinheiro e serão expulsos do mercado, a menos que se corrijam rapidamente ou mudem seu modo de atuação (por vezes inclusive mudando de ramo, por incapacidade de competir em mercados livres).

Contráriamente ao que diz Stiglitz, mesmo quando cometem excessos -- e os mercados só cometem excessos porque os clientes sustentam a demanda, mesmo em condições adversas, ou seja, preços das ações em ascensão ou otimismo exagerado quanto aos retornos esperados -- os mercados SEMPRE se corrigem a si próprios, inevitavelmente, pois esta é a função dos mercados.
Isso é tão evidente, que não seria preciso repetir: quando há uma defasagem qualquer no mercado, alguém perderá dinheiro, ou o ofertante do bem ou serviço, ou o cliente suposto, o que provocará quase automaticamente uma resposta no sentido contrário: a retirada do ofertante ou do cliente-consumidor do mercado, ambos por perdas realizadas. Isso pode até demorar um pouco para ocorrer, na ausência de informações fiáveis ou adequadas, mas ocorrerá inevitavelmente.

Ocorre, porém, que, orientados por aprendizes de feiticeiro, como Stigltiz, os governos acham que podem melhor regular os mercados do que os agentes primários, os tais da "mão invisível", e passam a determinar como, quando e a que preço podem ser realizadas tais e tais transações.
Isso é tão evidente, que eu não precisaria tampouco recordar o que ocorre de fato nos mercados.
Quem determina a taxa de juros básica não é o mercado, mas o governo. Quem diz para quem, por quanto e por quanto tempo devem ser oferecidos empréstimos imobiliários é em grande medida o governo, que pretende "estimular" o mercado imobiliário e ser generoso com o seu corpo eleitoral, oferecendo casas baratas e financiadas a perder de vista.
Ou seja, quem cria as condições para as bolhas financeiras ou imobiliárias é o governo, não os mercados.
Mercados deixados livres NUNCA fixariam os juros a 2% durante três anos como o fez o Federal Reserve americano, em TOTAL DESCOMPASSO com o mercado real de oferta e demanda de dinheiro. Taxas artificialmente baixas, em descompasso com a inflação e a remuneração dos poupadores é um tremendo estímulo à formação de bolhas, jamais seriam fixadas ao sabor dos mercados, que teriam CORRIGIDO automaticamente esse descompasso.

Portanto, contrariamente ao que diz Stiglitz, os mercados são, sim são capazes de autocorreção, e o fariam se não fosse a MÃO VISÍVEL do governo que atua em descompasso com os dados fundamentais do mercado. Quem disse ao professor Stiglitz que juros de 2% são juros de mercado?
Como os banqueiros teriam induzido clientes potencialmente inadimplentes se não fosse pelo atrativo dos juros baixos?
Como esses agentes imobiliários oficiais teriam oferecido tanto crédito se não fosse pela garantia de que o governo cobriria eventuais perdas?

Sinto muito, professor Stiglitz, seu raciocínio simplesmente não faz sentido.

Paulo Roberto de Almeida (25.01.201)

1757) Divida publica: deterioracao no Brasil, comparacao com os Brics

A concessão de empréstimos do Tesouro Nacional a bancos estatais foi o principal fator de deterioração dos números da dívida pública em 2009, indicam dados do Banco Central.
A dívida pública bruta total (ou seja, incluindo a União, estados e municípios) alcançou 64,1% do PIB até novembro de 2009, registrando um aumento de 7,8% em relação a 2008, a maior elevação de um ano a outro desde o ano 2000 (Cristiano Romero,"Crédito do Tesouro a banco estatal deteriora dívida pública em 2009", Valor Econômico, 25.01.2010, p. C10).

O valor é similar ao deixado pelo governo FHC a Lula em 2002, sendo que logo em 2003, a dívida total passou a 70,4% do PIB, tendo diminuído depois. "O aumento poderia ter sido maior, se o governo não tivesso mudado, em 2008, a metodologia de cáclculo, que passou a considerar apenas a dívida efetivamente no mercado, retirando os títulos encarteirados, mas sem negociação."
Ou seja, o BC carrega títulos que o governo não consegue colocar no mercado, o que é no mínimo preocupante. Mais preocupante ainda é o fato de que o governo emite títulos à taxa Selic e depois empresta a bancos estatais, que cobram menos, encaixando um custo fiscal considerável nesse tipo de operação (estimado em algo próximo de 150 bilhões de reais).
Segundo o economista Samuel Pessoa, da FGV-Rio, "Isso pode ter as características de uma bomba relógio se a política fiscal ficar muito desorganizada e a Selic tiver de subir muito lá na frente".
A distância entre a dívida líquida e a dívida bruta vem crescendo recentemente: passou de 18% do PIB para mais de 25% do PIB. O problema é que os créditos concedidos a bancos estatais, apeasr de abatidos da dívida bruta, não são líquidos como as reservas internacionais (corretamente abatidas da dívida bruta), pois não podem ser exigíveis no curto prazo. Esses créditos devem ser tratados como uma expansão fiscal, segundo economistas. Retirando-se esses crésitos da contabilidade, a dívida líquida passaria de 43% a 52% do PIB.
Mas, o crescimento da dívida líquida também foi significativo, passando de 37,3% para 43% do PIB, ou seja, um crescimento de 5,7% do PIB.

Comparativamente a outros países, e numa escala crescente, temos o seguinte quadro da dívida pública em 2009, como proporção do PIB (segundo dados do FMI):
Rússia: 7,2
China: 20,2
Argentina: 60,5
Brasil: 68,5
Reino Unido: 68,7
França: 78,0
Alemanha: 78,7
Índia: 84,7
Estados Unidos: 84,8
Itália: 115,8
Japão: 218,6

1756) O que define um heroi?

O Brasil vem prestando homenagem aos militares brasileiros do contingente destacado para servir no Haiti, que faleceram vítimas do terremoto que abalou aquele país duas semanas atrás.
Todos, o governo naturalmente, e os meios de comunicação com grande ênfase, vem classificando esses militares mortos como "herois", e como tais eles foram tratados nas homenagens póstumas (medalha de bravura, promoção post mortem, indenização à família, bolsas oferecidas aos dependentes, etc.).
Confesso que, mesmo sob risco de parecer insensível ou destoante da unanimidade, eu fico me perguntando por que, em que medida e com qual legitimidade eles seriam herois de verdade.
Se vou aos dicionários, as definições que me são dadas do termo são estas:

HEROI: substantivo masculino
1 Rubrica: mitologia. Filho da união de um deus ou uma deusa com um ser humano; semideus.
2 Rubrica: mitologia. Mortal divinizado após sua morte; semideus.
3 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade etc.
4 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo capaz de suportar exemplarmente uma sorte incomum (p.ex., infortúnios, sofrimentos) ou que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem.
5 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por suas realizações; Ex.: os h. das ciências.
6 Derivação: por extensão de sentido. Figura central de um acontecimento ou de um período; Ex.: os h. da Revolução Francesa.
7 Derivação: por extensão de sentido. Pessoa que, por ser homenageada ou por qualquer motivo (nobre ou pouco digno), se distingue ou é centro de atenções. Ex.: .
8 Derivação: por extensão de sentido. Principal personagem de uma obra de literatura, dramaturgia, cinema etc.
9 Uso: informal. Indivíduo que desperta enorme admiração; ídolo.
(Cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa; versão eletrônica)

Eu me pergunto, sinceramente, em quais das categorias poderíamos encaixar os militares brasileiros mortos, geralmente esmagados em decorrência do forte tremor que abalou o Haiti.
Se alguém tiver uma sugestão, agradeço comunicar-me...
(25.01.2010)

domingo, 24 de janeiro de 2010

1755) Lancamento virtual (chat) de O Moderno Principe (e novos cássicos revisitados)

Participei ontem do lançamento virtual (por meio de chat) de meu livro mais recente:

O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado
(Rio de Janeiro: Freitas Bastos, edição eletrônica, 2009, 191 p.; ISBN: 978-85-99960-99-8); R$ 12,00; disponível online neste link: http://freitasbas.lojatemporaria.com/o-moderno-principe.html
Ver sumário completo neste link.

Não o fiz voluntariamente, mas apenas por sugestão da editora, sutilmente constrangido a fazê-lo, claro, para movimentar os negócios, produzir lucros, enfim, essas coisas do mundo capitalista, que devemos todos aceitar (se é que pretendemos viver num mundo capitalista). Confesso que nunca lancei livros, ou se o fiz foi por iniciativa de editoras ou por indução de alguma entidade (universidades, ou associações de cunho acadêmico). Não sou comercialista, não me interessa quanto vão "render" os meus livros, interessa-me apenas que eles sejam lidos, pois a implicação lógica de quem escreve e publica é que seja conhecido, lido, comentado. Tudo bem se não fosse minha proverbial timidez mercadológica, digamos assim: eu espero que meus livros seja "descobertos" e lidos apenas pela sua importância intrínseca, não pelo suporte publicitário que se possa fazer em torno deles. Concedo que um pouco de informação é útil, até mesmo necessária, mas não me sinto bem fazendo isso eu mesmo, posto que já coloco a informação no meu site...

Tampouco aprecio a forma escolhida, por um chat pré-formatado. Talvez se possa melhorar a ferramenta no futuro, mas a que existe atualmente me parece muito canhestra e pouco prática.
Não gosto do meio -- aquela coisa de ficar no "tec, tec, tum" -- e não gosto do ambiente: você não consegue raciocinar direito, tem de ficar respondendo apressadamente a um e a outro, e com isso o que se tem é uma "conversa" fragmentada, entrecortada por pensamentos 'profundos' e comentários ligeiros, como é de hábito numa conversa de roda... Sinceramente, não me sinto bem com o instrumento e com a natureza da comunicação. Pode que no futuro tenhamos chats inteligentes, sofisticados, que permitam um diálogo amplo, tranquilo, transparente e agradável, por enquanto, ficou apenas incômodo.

De toda forma, gostaria de agradecer a todos os que compareceram (poucos "gatos pingados", como diria alguém), e que me prestigiaram nesta oportunidade de interação.
Foi uma chance de conversar um pouco, e também de assumir novas "obrigações", como a de continuar a série dos "clássicos revisitados" que gostaria de fazer. Talvez textos curtos, entre 20 e 50 páginas, e quem sabe um por mês em 2011 (sinto, mas 2010 já está ocupado).
Ontem, num intervalo de restaurante, anotei rapidamente em minha caderneta, quais poderiam ser eventualmente considerados. Fiz a lista out of the mind, sem me preocupar com datas, nomes, representatividade, ou sequer (neste momento) com o tema principal, que é o elemento central de minha série de clássicos revisitados, ou seja, capturar a mensagem central de cada obra, e transplantá-la para a nossa época, como se o autor tivesse renascido, ou como se eu falasse por ele, num diálogo à distância.
Aqui vai a minha lista de:

Cássicos Revisitados

1) Animal Farm - George Orwell
2) Utopia - Thomas Morus
3) Elogio da Loucura - Erasmo de Rotterdam
4) Paz Perpétua - Immanuel Kant
5) Paraíso Perdido - Milton
6) O Capital - Karl Marx
7) O Estado e a Revolução - Lênin
8) O Caminho da Servidão - Alfred Hayek
9) O Antigo Regime e a Revolução - Alexis de Tocqueville
10) Novelas Exemplares - Miguel de Cervantes
11) História da província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil - Pero Magalhães de Gândavo
12) História do Futuro - Antonio Vieira

Existem dezenas de sugestões, eu sei, mas me contenho, no momento, apenas nestas, out of the mind, como disse. Nem todas são para trazer o conteúdo ou o espírito original para os tempos atuais, apenas para aproveitar o seu título atrativo e daí compor uma obra totalmente original.
Vejamos o que aparece no decurso deste ano (já tenho programação que vai me manter ocupado por pelo menos trezes meses, se eu conseguir esticar o ano).

Paulo Roberto de Almeida (24.01.2010)

1754) Hugo Boss, aplaudido e ovacionado no FSM

Bem, se ele aparecer, está claro. Não tenho certeza de que o grande boss desse tipo de surrealismo recorrente apareça no FSM desde ano em Porto Alegre; afinal de contas, ele está enfrentando um bocado de problemas no seu país natal (e sua fazenda pessoal).
Nenhum dos problemas que ele tem, diga-se de passagem, foi criado pelo seu inimigo imaginário (ou real, dirão seus amigos), o imperialismo americano. Todos, sublinho TODOS os problemas são e foram criados pela sua incúria administrativa, pela sua inépcia econômica, pela indigência mental daqueles que o assistem e seguem de maneira completamente idiota (ou submissa, a troco de vantagens, dinheiro, prestígio, whatever...).
Mas, eu tenho absoluta certeza disto: se ele aparecer em Porto Alegre será ovacionado, saudado delirantemente por um bando de pessoas que eu só posso classificar de idiotas completos (sinto muito, meus críticos, mas não consigo achar um termo melhor), pessoas que não se dão ao trabalho de simplesmente constatar o que está acontecendo no vizinho país e que apenas se deixam enganar pela conversa fiada de um candidato a Mussolini (sim, tem gente que acha que, apenas por causa de sua conversa mole anti-imperialista, o caudilho em questão deva ser considerado um líder de esquerda, quando ele é apenas um candidato a condottieri fascista).
Para que se perceba um pouco desses problemas, que podem impedi-lo de aparecer (cercado de gorilas, como convem) no FSM, vejamos o editorial do Globo deste domingo, um jornal perfeitamente burguês e capitalista (mas que também tem idiotas que escrevem artigos nele, como convem a nossa nossa imprensa plural).

Chavismo em crise
Editorial de O GLOBO, 24/01/2010

As últimas ações do coronel Hugo Chávez confirmam que seu histrionismo cresce quando ele precisa desviar a atenção de problemas domésticos. Daí a declaração cômica de que testes de armas secretas da Marinha americana estariam por trás do terremoto no Haiti. Ou a afirmação de que "o império americano está tomando o Haiti sobre os cadáveres e as lágrimas de seu povo".

Quanto ao seu povo, os venezuelanos sofrem com a elevada inflação, o desabastecimento, os apagões (a energia elétrica escasseia por falta de investimentos em infraestrutura), a violência (Caracas é a cidade mais perigosa da América do Sul) e a ineficiência generalizada, uma vez que a ação preferida do governo é a estatização de empresas, sob qualquer pretexto. Há um ambiente propício também à corrupção.

Chávez derrubou a democracia "das elites" venezuelanas para supostamente acabar com a corrupção e refundar o país em nome de um vago "socialismo bolivariano do século XXI", que se revela um regime autoritário e capaz de arruinar um país rico como a Venezuela.

Enquanto o preço do petróleo esteve nas alturas, Chávez, de cofre cheio, patrocinou aliados — Cuba, Bolívia, Equador, Argentina, Nicarágua, Honduras, Paraguai. Hoje, com a crise mundial e o preço do petróleo mais baixo, o chavismo faz água e seus aliados, idem. Cuba ainda espera o fim do embargo americano para melhorar de vida, mas os irmãos Castro não largam o osso. Evo Morales tomou posse para o segundo mandato na sextafeira, tentando costurar a colcha de retalhos que é a Bolívia, situação agravada por ele mesmo com a criação das autonomias indígenas.

A Argentina, importante aliado do chavismo, atravessa grave crise econômica, política e institucional.

Em Honduras, Chávez amargou uma derrota com a destituição do aliado Manuel Zelaya — numa crise que se arrasta há meses e que levou junto o Brasil.

Nesse panorama, enquanto o Chile confirma a maturidade de sua democracia com a vitória de Sebastián Piñera, o presidente Lula, em que pesem recaídas terceiromundistas, consolida a liderança no continente. A Venezuela, mesmo que consiga a adesão plena ao Mercosul (falta apenas a concordância do Senado paraguaio), não terá nele a solução de seus problemas, e ainda criará outros para o bloco. A instabilidade na Venezuela e em aliados de peso, como a Argentina, permite antecipar que 2010 deverá ser um ano tenso na América do Sul, no bloco sob a influência do chavismo.

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PS PRA: Essa coisa de "consolidar a liderança no continente" é uma perfeita bobagem do editorialista do Globo, que não deve conhecer a realidade dos outros países, nem (aparentemente) ler os jornais desses países.

1753) Forum Surreal Mundial: começa amanhã...

Bem, acho que está tudo mundo avisado, inclusive pelos meios de informação da globalização contemporânea, meios que em sua quase totalidade são capitalistas, ou seja, aspirando ao lucro, a ganhos monopolísticos, à acumulação desenfreada, enfim, tudo aquilo que será objeto de condenação, de opróbrio, de rejeicão no FSM de Porto Alegre, aliás perfeitamente globalizado pela internet, pelas redes de computadores, pelos blogs gratuitos (enfim, um free lunch do capitalismo), pelos celulares de última geração, em resumo, tudo o que não existe nos regimes e países que eles vão exaltar (Cuba, Venezuela, etc...).
Contraditório, não é mesmo?
O que se há de fazer?
Os antiglobalizadores são mesmo assim: aproveitam-se das benesses da globalização capitalista para condenar e protestar contra essa mesma globalização capitalista.

Bem, eu espero, pelo menos, que alguns deles, uma ínfima minoria que seja, aproveite esta tarde de domingo para ler as "conclusões antecipadas" que eu fiz a propósito do show que começa nesta segunda e vai até sexta-feira.
Minha contribuição para a boa compreensão do que eu chamei de Forum Surreal Mundial está aqui:

Fórum Social Mundial 2010, uma década de embromação: antecipando as conclusões e desvendando os equívocos
Paulo Roberto de Almeida
Publicado em Mundorama (http://mundorama.net/2010/01/20/forum-social-mundial-2010-uma-decada-de-embromacao-antecipando-as-conclusoes-e-desvendando-os-equivocos-por-paulo-roberto-de-almeida/).

Transcrevo apenas o comecinho:

1. A novela está de volta (com o mesmo enredo...)
Como acontece todo ano, os alternativos da antiglobalização estarão reunidos neste final do mês de janeiro de 2010 para protestar contra a globalização assimétrica e proclamar que um “outro mundo é possível”. Eu também acho, mas a verdade é que eles nunca apresentam o roteiro detalhado desse outro mundo esperado, se contentando com slogans redutores contra a globalização, essa mesma força indomável que torna mais eficiente a interação entre essas tribos e permite que suas mensagens – equivocadas, como sempre – alcancem, em questão de minutos, todos os cantos do planeta. Em todo caso, eles já se consideram tão importantes que já nem mais se dão ao trabalho de protestar contra o outro Fórum Mundial, o capitalista de Davos, como ocorria todo ano naquela estação suíça de esqui: os capitalistas agradecem serem deixados em paz e prometem refletir sobre as propostas do fórum alternativo, se é que alguma será feita.
Como também acontece todo ano, eu fico esperando para ver se alguma ideia nova e interessante – Ok, ok, também podem ser ideias velhas e desinteressantes, mas que sejam pelo menos racionais e exequíveis – vai emergir desse jamboree anual de antiglobalizadores e iluminar as nossas políticas públicas tão carentes de racionalidade e sentido de justiça. Como não confio, porém, que algo de novo vá surgir de onde nunca veio nada de inteligente, resolvi não esperar pela conclusão do encontro de 2010, e me proponho, sem cobrar copyright dos antiglobalizadores, antecipar suas conclusões conclusivas (se é verdade que algo do gênero pode ocorrer; isso corre o risco de nos surpreender).

para ler o texto completo (e vários comentários a respeito) clicar aqui.

Pois bem, retomo agora para tratar de um problema para o qual já fui chamado à atenção por alguns leitores benevolentes, que acham que eu ofendo muita gente, gratuitamente, ao chamar os que participam desse tipo de evento embromador de idiotas, ou até mesmo de perfeitos idiotas.

Acho que tenho de me desculpar e ao mesmo tempo de me explicar, explicitando exatamente o que eu quero e pretendo dizer. Vamos por parte e dividir em categorias toda a tropa, a tribo heteróclita, que participa desse tipo de show mediático e contraditório.
Nos diversos FSMs existem:

1) Ingênuos: são os jovens idealistas, estudantes primeiro-anistas das faculdades de humanidades, geralmente instruidos no anticapitalismo e no anti-americanismo desde o primário e o secundário, por professores perfeitamente mal-instruídos, desejosos de contribuir para o bem-estar da humanidade, que estaria ameaçado por poderosas empresas multinacionais, que exploram os trabalhadores, poluem o meio ambiente (em todos os países, os seus e especialmente aqueles ditos periféricos), sequiosos por participar da campanha de libertação dos mesmos países periféricos da exploração e dominação ignóbil do imperialismo americano; esses jovens são apenas meio idiotas, pois caem na conversa mole desses professores idiotas completas e não conseguem distinguir a fantasia que lhes é servida da realidade que eles tem ao alcance do computador, bastando navegar um pouco para se informar como é feito o mundo. Vamos chamá-los, portanto, apenas de ingênuos, pois suas motivações são nobres, eles são desprendidos, apenas não tendo informação suficiente (mas também são idiotas por não procurá-la, pois ela está disponível livremente nos meios perfeitamente capitalistas e globalizados que eles usam).

2) Idiotas em tempo integral: são os mestres desses jovens ingênuos, que aprenderam meia dúzia de slogans de outros mestres idiotas antes deles, nunca leram Marx (mas apenas contrafações) nem quaisquer livros mais sérios de história ou de economia, e saem por aí, impunemente, ensinando bonagens aos jovens passivos que são seus alunos. Acho que eles não tem conserto, por isso não merecem de mim mais do que estas poucas linhas, pois, à diferença dos jovens idealistas, eles vão continuar assim idiotas durante toda a sua carreira.

3) Perfeitos idiotas profissionais: São alguns expoentes da academia, que passam por "intelequitais", mas que são apenas profissionais da embromação e do oportunismo, pois que são mais conhecidos (já publicaram meia dúzia de obras perfeitamente inúteis) e são sempre convidados para falar nesses convescotes animados, onde as pessoas sensatas (como eu e você) já sabem perfeitamente o que eles vão dizer, de tão óbvio. Eles não são calhordas profissionais, pois não ganham a vida nessas masturbações militantes, são apenas os interventores úteis a convite, já que em geral são professores das universidades públicas e perpetram suas bobagens gratuitamente, apenas se contentando com os aplausos da galera embevecida. Exemplos típicos: Noam Chomsky e Boaventura de Souza Santos.

4) Empulhadores profissionais: São aqueles que têm perfeita consciência de que participam de uma mistificação, pois são pessoas viajadas, conhecem o capitalismo (onde vivem, obviamente) E o socialimo (já foram váraias vezes a Cuba, a convite, obviamente), e fazem isso com um zelo profissional que beira a calhordice. São militantes da causa, e vivem disso. Não creio que acreditem seriamente nas bobagens que propagam, dizem, escrevem, pois se isso ocorre, além de calhordas profissionais seriam idiotas mais que perfeitos. Eles sabem perfeitamente que Cuba é uma miséria material, humana e espiritual, e ainda assim se dão ao trabalho de defender um regime assassino e liberticida. É que os compromissos do passado e certas vantagens do presente os "obrigam" a fazer isso, do contrário cairiam no completo ostracismo e não teriam mais o que fazer, por falta completa de credibilidade. São dos seres mais abjetos que possam viver nas academias atualmente. Eu poderia dar vários exemplos, mas só vou uma abreviatura, pois quem conhece esses meios sabe de quem estou falando: ES.

5) Assassinos em potencial, fazendo de conta que são democratas: São aqueles que animam movimentos ditos sociais, por exemplo, em favor da reforma agrária, que nada mais é do que um pretexto. Dirigem grupos paramilitares, de cunho leninista ou neobolchevique, e acreditam (talvez por também serem idiotas terminais) que estão em Petrogrado em 1917, e esperam a sua oportunidade de "fazer a Revolução". São tipos perigosos, pois vivem do dinheiro da burguesia, das contribuições de todos esses movimentos ingênuos de europeus arrependidos (com a exploração passada), e do seu, do meu, do nosso dinheiro, que são os recursos públicos que eles "roubam" (sim ROUBAM) do Estado a pretexto de fazer obras no campo, educação de camponeses e coisas do gênero). Acho que não preciso citar nenhum nome de tão óbvio.

6) Oportunistas políticos: São todos aqueles políticos profissionais, ou militantes guindados em cargos públicos, que frequentem esses foros (que deveriam ser apenas da sociedade civil, mas que vão neles "a convite", de organizações que são as suas) para divulgar suas ações governamentais, para dizer que o governo está sim, preocupado com a "justiça social" e com a "equidade", que o governo quer sim "democratizar os meios de comunicação", que o governo quer sim tornar a globalização mais humana e fraterna, enfim, um monte de bobagens que eles fingem acreditar (e se acreditam são também idiotas), mas que servem para desculpá-los pelo fato do governo não ter ainda enterrado o capitalismo (imagina se eles vão matar a galinha dos ovos de ouro) e ter começado a construir aquele "outro mundo possível" que vários idiotas franceses antes deles se encarregaram de propagandear. São eles que financiam esse bando de surrealistas, idiotas, calhordas e outros representantes da espécie que se reunem com o seu, com o meu, com o nosso dinheiro para decidir absolutamente nada, apenas continuar o festival de ilusões.

OK, acho que já me expliquei e não chamei a todos de idiotas. Bem apenas quase todos...
Como sempre, vou ser condenado por dizer o que penso.
Sinto muito, folks, eu tenho um problema grave: não consigo deixar de dizer o que penso, quando vejo uma idiotice manifesta.
Sinto muito, tenho esse grave defeito.
Ainda bem que vivemos em democracia, pois num regime como os que vão ser homenageados pelos surrealista do FSM eu nunca conseguiria manter um blog como este...

Paulo Roberto de Almeida (24/01/2010)

PS.: Vejam o post seguinte...

1752) Gastos publicos e crescimento na América Latina - estudo do IPEA

Minha atenção foi chamada para um estudo do IPEA por uma nota no portal (e também blog-newsletter) do economista José Roberto Affonso, neste link.
O título "latrinos" é dele, e não corresponde ao título real do estudo:

Impactos dos Gastos Públicos Latrinos (Silva e Cândido)
Transcrevo primeiro o resumo que ele faz, depois vou ao texto original:

Texto para Discussão do IPEA n.1434, de Alexandre Manoel A. da Silva e José Oswaldo Cândido Jr. ,mensura os impactos macroeconômicos dos gastos públicos nas principais economias da América Latina onde se observa, de maneira geral, que no longo prazo os investimentos públicos tendem a afetar positivamente o produto e consumo das famílias. No curto prazo, os multiplicadores do consumo do governo com relação ao produto, consumo e investimento privado são positivos e significativos. (PDF em português; Data: 30/11/2009)

Vou agora ao trabalho original, que pode ser encontrado neste link.


Transcrevo agora a sinopse e as conclusões (se algum leigo não entender, eu posso colocar em linguagem simples, que redundaria apenas nisto: gastos públicos podem ser um expediente útil, em determinadas circunstâncias e por um tempo limitados, nas no longo prazo são negativos para o crescimento. Os autores, trabalhando no Ipea, para chefes comprometidos com os gastos públicos, tentam conciliar as duas posições).

TEXTO PARA DISCUSSÃO No 1434
IMPACTOS MACROECONÔMICOS DOS GASTOS PÚBLICOS NA AMÉRICA LATINA *
Alexandre Manoel Angelo da Silva ** José Oswaldo Cândido Júnior ***
Rio de Janeiro, novembro de 2009

* As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, o pensamento dos órgãos onde os autores trabalham.
Destaque-se nosso agradecimento ao economista Carlos Mussi por disponibilizar os Anuários Estatísticos da Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe (Cepal), fundamentais nesta pesquisa.
** Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais – DIRUR/Ipea.
*** Técnico de Planejamento e Pesquisa da DIRUR/Ipea cedido ao Senado Federal.

SINOPSE
Este artigo mensura os impactos macroeconômicos dos gastos públicos (consumo e investimento das administrações públicas) nas principais economias da América Latina por meio do modelo cointegrado dos vetores autorregressivos. No longo prazo, de maneira geral, os investimentos públicos tendem a afetar positivamente o produto e o onsumo das famílias, embora tenha apresentado uma relação de substitutibilidade com o investimento privado. No curto prazo, na maioria dos casos, os multiplicadores do consumo do governo com relação ao produto, consumo e investimento privados são positivos e significativos, embora de pequena magnitude. Já os multiplicadores do investimento público para a maioria dos países são estatisticamente não significativos.

5 CONCLUSÕES
Este artigo avalia os impactos macroeconômicos dos principais componentes dos gastos públicos (consumo e investimento) sobre o PIB, consumo das famílias e investimento privado, em uma amostra de seis países da América Latina: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Venezuela, no período 1970-2002. Esses países são as principais economias da região, representando cerca de 90% do PIB regional.
Para a obtenção dos resultados, utilizou-se a estrutura dos vetores autorregressivos cointegrados. A fim de expor os principais resultados de maneira didática, dividem-se as conclusões em dois contextos: relações de longo prazo e relações no curto prazo.
Relações de longo prazo: em geral, o investimento público afeta positivamente o produto e o consumo das famílias, embora tenha mantido uma relação de substituição com os investimentos privados. O consumo governamental afeta negativamente o produto e o consumo das famílias para a maioria dos países. No que diz respeito ao impacto do consumo do governo sobre o investimento privado, o resultado é de complementaridade para Colômbia, México e Venezuela e de substitutibilidade para Argentina, Brasil e Venezuela.
Esses resultados sugerem que o impacto do consumo do governo sobre o investimento privado depende do nível relativo desse consumo na comparação com o investimento público. De fato, nos países em que esse nível é relativamente mais baixo ou a sua evolução ao longo do tempo é de estabilidade ou queda, é possível encontrar relações positivas entre o consumo do governo e o investimento privado. A ideia é que gasto público considerado produtivo (improdutivo) possa vir a se tornar improdutivo (produtivo), quando seu montante se torna excessivo (escasso).
Relações de curto prazo: em linhas gerais, os resultados de uma política de estabilização baseada em uma política keynesiana ativa de estabilização se mostram limitados em termos de magnitude e duração ao longo do tempo. De fato, com exceção do caso chileno, os multiplicadores quando significativos são geralmente abaixo de 1 e os efeitos dos choques perduram no máximo por dois períodos (anos), desaparecendo completamente no período (ano) subsequente.
Ademais, os resultados sugerem que para a maioria dos países latino-americanos investigados existe um pequeno espaço para aumento do consumo do governo no estímulo à demanda agregada. Em geral, esse efeito positivo depende do nível e da margem do consumo governamental, ou seja, o espaço fiscal permitido depende da relação nível de consumo governamental vis-à-vis ao de investimento público. Nos países em que essa relação é alta, o espaço fiscal é menor, e vice-versa.
Por fim, cabe destacar, ainda, os prováveis efeitos expectacionais do aumento do investimento público. Este estudo infere que, no longo prazo, existe uma relação positiva entre investimento público e produto, embora o investimento público apresente uma relação de substitutibilidade com o investimento privado. Assim, para que o investimento público não ocupe o espaço do investimento privado, é importante se estimular a parceria público-privada, focalizando em investimentos públicos com elevado grau de complementaridade de investimentos privados.

1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (2)

A propósito de minha postagem anterior, com este mesmo título, recebi a reação de um historiador formado pela Universidade Federal da Bahia, Equiano Santos, administrador (e "dono") de um blog chamado Historiografia em Controvérsia, aliás interessante pela sua primeira e única postagem (realizada em Outubro de 2008) com uma entrevista do historiador não sectário, e inteligente, João Fragoso, na qual ele desconsidera os procedimentos tradicionais da tribo acadêmica brasileira que se ocupa de história. Muito interessante e útil para todos os historiadores, como o próprio Equiano Santos, e que eu recomendo a todos (ver neste link).
Bem, fiz esta pequena introdução, porque pretendo dar uma pequena aula de história e de ciência política contemporánea a um jovem historiador que está falhando terrivelmente à metodologia que ele deveria defender, sustentar, usar e adotar (por uma vez, ja que se pretende historiador).
Ele fez um comentário a esse post anterior, que eu me permito reproduzir aqui, e comentar em total transparência, pois creio que ele, e outros eventuais interessados poderão se interessar pelo que eu tenho a dizer sobre esta

Pequena Controvérsia a Respeito da Liberdade de Expressão e de Opinião.

Retomemos, pois, o tema, e eu abro agora um parágrafo para:

Comunismo, soviets, Lenin ???
Equiano Santos disse (Domingo, Janeiro 24, 2010 10:32:00 AM)

É a Veja e seu show de anacronismos. Melhor dizer de saudosismo, pois nem mesmo a esquerda contemporânea cultiva isto com tanta empolgação (exceção às siglas minúsculas e sem voz).
Se o debate deve ser travado em torno de uma suposta restrição da liberdade de imprensa, que aqueles que escrevem a esse respeito se utilizem da história não para fazerem panfletagem e sim para enriquecer o debate. Mas o que dizer de uma revista que tanto falou de uma hipotética reeleição de Lula e que praticamente nada falou da aprovação do Congresso colombiano da recandidatura de Uribe?

Para um bom panfleto político, que são as matérias desta revista, sempre será dois pesos duas medidas...

Já li em seu blog muitos textos de excelente qualidade, principalmente aqueles que me forneceram um ponto de vista diferente de minha formação... Definitivamente os da Veja não...

(Fim de transcrição)

Minha resposta ao Equiano:


Meu caro Equiano,
Agradeço você ter se dado ao trabalho de ler o meu blog e de, por intermédio dele, ter se inteirado de uma matéria da Veja, revista que, se eu deduzo por suas palavras, você jamais lê, pois se trata supostamente de uma revista burguesa, da "grande mídia" como dizem seus colegas de pensamento, e portanto não confiável, falsa, defensora dos interesses do grande capital contra aqueles mais defensáveis do povinho miúdo que constitui maioria no Brasil.
Agradeço sobretudo o fato de você julgar que meus blogs contem textos de excelente qualidade, sobretudo os que divergem do que normalmente você tem, em seu meio de origem ou de formação, o que indica exatamente o objetivo didático de meus blogs e site.
Veja, eu sou um pouco (bem) mais velho do que você, tenho portanto certa experiência de vida, muitas leituras acumuladas -- o que Marx chamaria de "acumulação primitiva" de leituras -- e, sobretudo, uma certa abertura de espírito para julgar as coisas pelo que elas são, não pelo seu suporte mediático, no caso uma simples revista de informação (que eu tampouco considero ideal, no meu plano de fontes de informação).
Você, Equiano, como a totalidade do povo brasileiro, nunca conheceu, nunca viveu e, sendo jovem, nunca visitou algum socialismo real, coisas que eu já conheci, por ter visitado, vivido, assistido pessoalmente ao seu modo de (não) funcionamento, e por ter partilhado, até um certo momento de minha vida, alguns dos objetivos ou ideais (se é que esse conceito se aplica).
Como você, ao ser universitário, fui exposto a determinados conceitos e idéias, típicos da academia brasileira, no terreno das humanidades. Impossível ser sociólogo no Brasil (e em vários outros lugares também) sem ser um pouco (bastante, no meu caso) marxista, e daí condenar o capitalismo com todo o seu cortejo de desigualdades e injustiças sociais, desconfiar da burguesia (e seus planos para escravizar os trabalhadores) e passar a conclamar que um outro mundo é possível. Enfim, isso é muito conhecido.
Sinto dizer, porém, Equiano, que você, como historiador, falha terrivelmente em sua profissão, e continuando assim, você NUNCA será um bom historiador, por uma razão muito simples: em lugar de dialogar com as "fontes", você resolve atacar o "meio" de transmissão, e ao fazê-lo você desconsidera totalmente o conteúdo da informação, apenas para desqualificar o veículo que a transmitiu.
Você simplesmente desconsidera, desqualifica, esquece totalmente a única matéria de seu blog prometedor, a entrevista de um historiador que condenou, justamente, o procedimento que você adotou agora.
Como você há de concordar, os principais documentos para se estudar a história diplomática do Brasil são, obviamente, atos de chancelaria, notas, mensagens, declarações e outros papéis produzidos dentro da chancelaria, por definição "suspeitos", postos que elaborados pelos próprios interessados na "sua" versão da história. O bom historiador vai confrontar esses papéis com outros, de alguma outra chancelaria, se se trata de uma relação bilateral, ou dados da economia, da política, de personagens alheios à chancelaria, para ter uma visão global do processo que ele está estudando. Isso faz o bom historiador.
O mau historiador, não estou dizendo que você é um, faz como você fez neste seu comentário: com base no simples meio ou veículo de informação, passa a atacar o fundamento da informação, não com conceitos substantivos e fundamentados de natureza contrária, mas simplesmente adjetivos, desqualificadores, totalmente subjetivos ou impressionistas: "show de anacronismos", "saudosismo", "panfletagem", enfim, você simplesmente se recusa a discutir a matéria da revista para apenas e tão somente atacar a revista.
Sinto muito, Equiano, mas isso não comrresponde, nem aqui nem no socialismo, aos procedimentos de um historiador.

Agora, se você me permite entrar na substância de suas intenções -- o que também é totalmente subjetivo e impressionista de minha parte -- eu diria o seguinte:

Você, Equianio, como milhares de outros jovens universitários brasileiros, infelizmente não foi educado nas boas regras do método histórico ou sociológico, mas apenas ao festival de panfletagem que hoje responde ao nome de universidade brasileira, uma instituição em rápido processo de mediocrização e de decadência, em razão desses mesmos procedimentos que eu já apontei acima, pelo menos naquele núcleo que responde pelo nome de humanidades.
Obviamente, nem tudo é assim, prova da qual a matéria com o professor Fragoso (que você parece ter esquecido) constitui um belo exemplo de independência de pensamento.

Você, Equiano, como a totalidade do povo brasileiro (e eu repito o que disse acima) jamais conheceu e provavelmente jamais irá conhecer o socialismo real, aquele que se inspira de Marx e Lênin, um dos personagens "julgados" na matéria da Veja.
Ou talvez sim: se você correr, se apressar, e juntar algum dinheiro, ainda poderá assistir a uma espécie de "museu de cera" do socialismo real. Vá a Cuba, passe uma semana, fale com as pessoas normais, observe o dia a dia na ilha, e partilhe um pouco da experiência "normal" dessas pessoas. Acredito que será uma boa experiência para você.
Eu não tenho nenhum problema em dizer isto, posto que, jovem universitário, marxista-leninista, eu fui ao socialismo real, no coração do bloco soviético, e lá pude conhecer o que é, de verdade, o socialismo. Não que eu fosse um ingênuo, mas é que um confronto direto nos fornece outras informações do que apenas livros, revistas, documentos de arquivo.
Não preciso me referir aqui às misérias materiais do socialismo, isso eu já sabia, das penúrias, da falta de abastecimento, da ausência completa de escolha, ou de diversidade de bens e serviços para comprar, apenas o básico, e por vezes nem o básico: produtos de primeira necessidade racionados, aquecimento inexistente (e você pode julgar o efeito disso num inverno soviético, ou russo), falta das coisas mais elementares, exatamente o que acontece hoje em Cuba e Coréia do Norte (que você infelizmente não poderá conhecer, pois é um museu vivo do socialismo real).

Não, não pretendo falar dessas coisas. Refiro-me apenas à miséria moral que é justamente a ausência completa de liberdade informativa, a censura prévia e total, a delação, a vigilância, enfim, um Estado policial (você certamente já ouviu falar disso, deve ter visto, por exemplo, um filme como "A Vida dos Outros").
Talvez você considere tudo isso bobagem, pois nunca teve ausência de liberdade para fazer tudo aquilo que você quer fazer, como por exemplo atacar a Veja, que para você está a serviços dos interesses mais mesquinhos e reacionários da sociedade, em lugar de defender o governo progressista de Lula e seus magnifícos programas sociais. Entre outros programas se encontra esse que foi objeto da matéria da Veja, que você sequer abordou, ou seja, a tentativa canhestra, abjeta moralmente, indefensável no plano dos direitos elementares, de censurar a imprensa.

Veja você que ainda recentemente eu pude visitar a China, e lá admirar o imenso progresso material feito por aquele povo, na construção de belos edifícios, na prosperidade aparente de uma taxa inacreditável de crescimento, na retirada de uma miséria abjeta de centenas de milhões de pessoas para colocá-las numa pobreza aceitável -- os chineses dizem querer oferecer uma "moderada prosperidade" ao seu povo -- enfim, uma história de desempenho econômico que jamais foi registrada nos anais da história econômica mundial, e que provavelmente jamais será igualada novamente.
Pois bem, desfrutando de tudo o que havia de bom na nova China, eu tive uma amostra de tudo (ou apenas parte) o que havia de ruim na velha China: durante uma semana inteira que passei lá, JAMAIS consegui acessar este meu blog (ou outro que tenho, especial sobre a China), para relatar minhas experiências, colocar meu relato de viagem, falar das coisas interessantes que vi, enfim, simplesmente registrar (para mim, ou para outros) o que eu estava vendo e experimentando. NADA, nadica de peterebas, simplesmente foi impossível acessar qualquer blog, e mais irritante ainda, muitos sites simplesmente não entravam, e eu era simplesmente dirigido ao Baidu, o que passa por ser um Google chinês e que nada mais é do que uma amostra de que a China continua a ser um Estado autoritário (não mais totalitário, mas simplesmente dominada por um partido-Estado que se julga dono das pessoas).

Meu caro Equiano, acho que você deveria refletir sobre essas coisas, pensar mais uma vez, e oferecer, da próxima vez, não um comentário adjetivo e cheio de invectivas negativas sobre a Veja, um comentário sobre o cerne da matéria, como faria, por exemplo, um historiador como o João Fragoso.
Eu o convido a retornar ao meu blog, e oferecer comentários substantivos sobre o problema da liberdade de expressão e, se desejar, comentários comparativos entre o que disse Jefferson, e o que disse Lênin.
Ao fim e ao cabo, esse é o único aspecto relevante na matéria, que interessaria ao historiador: saber se o Brasil dirigido pela tropa de estranguladores da liberdade de expressão que se revelou no Programa Nacional de Direitos Humanos se aproximaria mais de Jefferson ou de Lênin.
Acho, também, que você faria bem em ler um pouco mais de história, ou quem sabe, um jornalista como George Orwell, que tem coisas interessantes a dizer sobre a liberdade de expressão.

Com todo o meu apreço acadêmico,
Paulo Roberto de Almeida (24.01.2010)

sábado, 23 de janeiro de 2010

1750) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (1)

A obsessão totalitária
Fábio Portela
Revista Veja, edição 2149 - 27 de janeiro de 2010

Censurar a imprensa e impedir o fluxo de ideias no Brasil
é a única bandeira genuinamente comunista que sobrou aos petistas

Um observador ingênuo pode não entender a obsessão de petistas, manifestada desde o momento zero do governo Lula, de abolir a liberdade de expressão no Brasil. Afinal, em sete anos de administração do país, alguns fizeram enormes avanços pessoais e coletivos. Aumentaram o patrimônio, passaram a beber bons vinhos e a vestir-se com apuro. A política econômica é modelo até para os países avançados e as conquistas sociais fazem inveja a reformadores de todos os matizes ideológicos. Destoam desse rol de avanços a diplomacia megalonanica e a inconformidade com o livre trânsito de ideias no país. O próximo ataque organizado à liberdade de expressão se dará em março, com a Segunda Conferência Nacional de Cultura (CNC). Apesar do nome pomposo, ninguém irá lá para discutir cultura. Os petistas vão, mais uma vez, tentar encontrar uma forma de ameaçar a liberdade de imprensa e obrigar revistas, jornais, sites e emissoras de rádio e TV a apenas veicular notícias, filmes e documentários domesticados, chancelados pelos soviets (conselhos) petistas e reverentes à ideologia de esquerda.

O evento é a continuação por outros meios da batalha pela implantação da censura à imprensa no Brasil. Isso começou em agosto de 2004, com a iniciativa, abortada, de criar um Conselho Federal de Jornalismo (CFJ). Nos últimos meses foram feitas mais duas tentativas. Uma delas na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom). A outra com o PNDH-3, o Programa Nacional de Direitos Humanos. O que o CFJ, a CNC e o PNDH-3 têm em comum? Todos embutem a criação de um tribunal para censurar, julgar e punir jornalistas e órgãos de comunicação que desobedeçam às normas governamentais. É um figurino de atraso.

Por que essa obsessão não se dissipa? Primeiro, porque ela é a única bandeira que sobrou às esquerdas cujas raízes podem ser traçadas ao seu berço comunista no século XIX. A censura à imprensa é uma relíquia esquerdista, um bicho da era stalinista guardado em cápsula de âmbar e cujo DNA os militantes sonham ainda retirar e com ele repovoar seu parque jurássico. Todas as outras bandeiras foram perdidas. A do humanismo foi dinamitada pela revelação, em 1956, dos crimes contra a humanidade perpetrados por Stalin. A da eficiência econômica e a da justiça social ruíram com a queda do Muro de Berlim, em 1989. Sobrou a bandeira da supressão da voz dos que discordam deles. Mesmo isso não pode ser feito com a dureza promulgada por Lenin ("Nosso governo não aceitaria uma oposição de armas letais. Mas ideias são mais letais que armas.").

O maior ideólogo da censura à imprensa, cujo nome sai com a facilidade dos perdigotos da boca dos esquerdistas brasileiros, é o italiano Antonio Gramsci (1891-1937). Como a revolução pelas armas se tornou inviável, Gramsci sugeriu a via do lento envenenamento ideológico da cultura, do idioma e do pensamento de um país. É o que tentam fazer os conselhos, conferências e planos patrocinados pelo PT. É neles que se dá a alquimia gramsciana. Ela começa pela linguagem. A implantação da ditadura com o fechamento do Congresso é vendida como "democracia direta"; a censura aparece aveludada como "controle da qualidade jornalística"; a abolição da propriedade privada dilui-se na expressão "novos anteparos jurídicos para mediar os conflitos de terra". Tudo lindo, pacífico, civilizado e modernizador. Na aparência. No fundo, é o atalho para a servidão. Thomas Jefferson neles, portanto: "...entre um governo sem imprensa e uma imprensa sem governo, fico com a segunda opção".

Um tema, duas visões
No século XVIII, o futuro presidente americano Thomas Jefferson já enxergava a liberdade de imprensa como um dos pilares da democracia. No século XX, o bolchevique Lenin inaugurou a doutrina esquerdista que vê no jornalismo independente uma ameaça a ser combatida

"Se eu tivesse de decidir entre ter um governo sem jornais e ter jornais sem um governo, eu não hesitaria nem por um momento antes de escolher a segunda opção."
Thomas Jefferson, em 1787

"Dar à burguesia a arma da liberdade de imprensa é facilitar e ajudar a causa do inimigo. Nós não desejamos um fim suicida, então não a daremos."
Vladimir Lenin, em 1912

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

1749) Niccolò Machiavelli, il vero


NOTE CRITICHE
a cura di Laura Barberi

Il Principe fu scritto da Niccolò Machiavelli (1469-1527) tra il luglio e il dicembre del 1513, nella villa (soprannominata "L'Albergaccio") di S. Andrea in Percussina presso San Casciano, dove Machiavelli si era ritirato in seguito alla caduta della Repubblica fiorentina e al ritorno dei Medici a Firenze. Nel 1512, infatti, in seguito al ritiro dei francesi dall'Italia, la signoria medicea fu restaurata a Firenze e Machiavelli, che era stato funzionario della repubblica per tutti i quattordici anni della sua esistenza, venne prima licenziato, poi accusato di aver preso parte ad una congiura contro i Medici, quindi arrestato e in seguito confinato all'Albergaccio. Per il resto della sua vita egli non riuscirà più a ricoprire alcun incarico pubblico, malgrado i suoi tentativi e la sua inesauribile passione politica. All'inattività forzata, comunque, Machiavelli non si rassegnò mai e, non potendo agire direttamente sulla realtà sociale e politica del suo paese, si concentrò sulla stesura di opere di carattere storico e politico, nel tentativo di influenzare tramite esse i potenti del suo tempo.

L'occasione della stesura de Il Principe fu data dalle voci che circolavano sulle intenzioni di papa Leone X di creare uno Stato per i nipoti Giuliano e Lorenzo de' Medici: voci che spinsero Machiavelli a interrompere la stesura dei Discorsi sopra la prima Deca di Tito Livio e a scrivere un più breve trattato dove esporre le convinzioni maturate in tanti anni di frequentazioni ed esperienze politiche. Al trattato egli premise una dedica a Lorenzo de' Medici, anche se solo nel 1516, sempre nella speranza di poter tornare protagonista delle vicende sia fiorentine sia italiane, anche se non sarà così.

L'opera uscì postuma nel 1532 ed è composta di XXVI capitoli tra loro logicamente collegati e fortemente interrelati. La chiara struttura consente di individuare i vari "blocchi" di capitoli dedicati ad un unico argomento e i nessi tra i vari "blocchi". I primi undici capitoli descrivono come si crea un principato: dopo aver elencato, nel primo capitolo, i vari tipi di principato possibile, Machiavelli analizza nei successivi capitoli tali diversi Stati: i principati ereditari e quelli nuovi (con o senza nuovi territori annessi al principato già esistente), con particolare attenzione dedicata - capp. VI-X - al principato del tutto nuovo che è quello che più interessa all'autore visto che, secondo lui, solo un nuovo e forte principato potrebbe rimediare allo stato miserevole dell'Italia dell'epoca, coacervo di staterelli sempre in balia delle potenze estere. L'undicesimo capitolo è dedicato al singolare tipo di principato rappresentato dallo Stato della Chiesa.

Il secondo gruppo di capitoli, dall'XI all'XIV, tratta del problema delle milizie mercenarie e degli eserciti propri: requisito indispensabile per la sopravvivenza degli Stati è, difatti, secondo Machiavelli, il possesso di milizie proprie. Seguono poi i capp. XV-XXIII dedicati alla figura del principe, alle virtù che deve possedere, ai comportamenti da adottare nei vari frangenti. Sono questi i capitoli più discussi perché è proprio qui che Machiavelli più si discosta dalla tradizione individuando come comportamenti virtuosi solo quelli che risultano più utili al mantenimento dello Stato, dal che deriva quel "capovolgimento dei criteri etici tradizionali" che ha creato tanto scalpore. L'autore è cosciente di sostenere tesi mai prima sostenute da altri, ma il suo scopo è la massima fedeltà alla realtà delle cose, ed ecco che quindi si scaglia, nel capitolo quindicesimo, contro tutti quei filosofi e quegli storici che nel passato hanno descritto repubbliche e principati mai esistiti; egli si propone invece di andare dritto alla "realtà effettuale", di scrivere cosa utile a chi la intenda. Di conseguenza, per il principe meglio essere parsimonioso che liberale, per non dissipare così le ricchezze dello Stato e gravare con forti tasse sui sudditi; meglio essere crudele che pietoso perché è meglio essere temuto che amato ma poco rispettato; meglio non mantenere la parola data se risulta conveniente: nelle sue azioni il principe deve guardare soltanto al fine.

Gli ultimi tre capitoli si ricollegano alla situazione dell'Italia nel momento in cui Machiavelli scriveva: l'autore passa ad analizzare direttamente le cause per cui i principi italiani hanno perso i loro Stati (cap. XXIV); il rapporto tra virtù e fortuna (cap. XXV) se cioè sia possibile per un principe "virtuoso" resistere ai repentini cambiamenti della fortuna; infine il capitolo conclusivo, il XXVI, che è un'esortazione ad un principe italiano a creare un nuovo forte Stato che possa difendere la penisola dalle invasioni straniere, liberando l'Italia dal dominio di francesi e spagnoli. La carica emotiva di quest'ultimo capitolo lo differenzia dal resto del trattato, dominato dal rigore logico e dall'analisi critica, ma va detto che, tra le righe, la passione del Machiavelli affiora un po' in tutta l'opera.

L'elemento che più colpisce ne Il Principe è anche l'aspetto che più ha fatto discutere: la netta separazione tra la sfera politica e la sfera morale. L'agire del principe deve essere guidato solo da considerazioni di ordine politico, ogni altra preoccupazione, di carattere morale o religioso, è accantonata. "Il 'dover essere', vale a dire l'anelito ad una più alta vita, cede il posto all''essere', cioè alla considerazione della realtà quale è, senza preoccupazione di riformarla" (Chabod); il bene supremo è solo quello che garantisce il benessere dello Stato e solo in base a questo bisogna agire. È questo il credo di Machiavelli: solo in base al principio di utilità si può giudicare l'azione di un capo di Stato.

Una simile filosofia nasce da alcune premesse ritenute dall'autore fiorentino verità incontrovertibili: la malvagità della natura umana, l'immutabilità di tale natura e quindi la necessità di comportarsi tenendo conto di questa amara realtà. Oggi è possibile dibattere e dissentire, magari, dalla visione pessimistica della realtà che aveva Machiavelli; è possibile interrogarsi, ad esempio, sull'estremo realismo che diventa a volte sinonimo di passiva accettazione della realtà senza desiderio di trasformarla; oppure criticare, come già fece il De Sanctis, il fatto che il popolo sia considerato alla stregua di materia bruta: è stato detto che ne Il Principe ci sono i diritti dello Stato, ma non i diritti dell'uomo. Ampie sono le possibilità di discussione su un'opera così complessa e che si propone un fine così ambizioso come quello di essere una sorta di guida della classe dirigente del Cinquecento italiano, ma l'importante è sempre tenere ben in mente lo specifico clima storico e culturale nel quale maturò la filosofia di Machiavelli; aver presente quale fosse la gravità della situazione italiana nei giorni in cui egli proponeva una possibile soluzione a quel perenne belligerare tra mille fazioni che, non va dimenticato, avrebbe tormentato la nostra penisola per secoli.

1748) Carreira diplomática: salário e promoção

Um curioso, identificado apenas como Batista me coloca as seguintes questões:

"Saudações, estive lendo o seu blog e um post antigo me chamou a atenção. No post referente a FAQ sobre a carreira diplomatica, gostaria de saber qual o salario maximo a que chega um diplomata em territorio nacional. Visto que em diversas pesquisas na internet nao pude descobrir o valor maximo; gostaria tambem de saber se a ascensão nos cargos diplomaticos dar-se-ão por tempo, como no militarismo, ou se são dadas por merito e trabalhos no exterior, por exemplo.
Grato por seu tempo."

Bem, Batista, o Correio Braziliense de hoje, ou de ontem, informa que o salário mais alto (certamente não o meu) no Itamaraty é algo superior a R$ 24.000,00, ou seja, próximo do salário de um ministro do Supremo (mas parece que estes já mereceram um aumento, coitados, ganham tão pouco... isso sem falar das mordomias, carro, auxilio residência, subsídio para toga e outras bondades, o que deve totalizar um salário equivalente maior do que 35 mil mensais, maior do que um membro da Suprema Corte dos EUA, coitados, tão pobres, comparados com os nossos).
Não sei se esse é o salário do Ministro de Estado, que não precisa ser um diplomata. Provavelmente é o salário do Secretário-Geral, que precisa, sim, ser diplomata.
Suponho que os ministros de primeira classe (embaixadores) estejam ganhando perto de 17 mil líquidos (ou seja descontado o IR), mas não tenho certeza.
Eu, como ministro de segunda classe, ganho bem menos do que isso, mas é porque não tenho gratificação nenhuma, por não ter atualmente um cargo definido (ao qual vem associado um DAS).
No início da carreira, um Secretário deve estar ganhando algo como 11 mil brutos, talvez 9 mil liquidos, ou um pouco menos.
Já se ganhou menos; antigamente tínhamos salários miseráveis em Brasília (e razoáveis no exterior).
Parece que o Lula gosta da gente. Deve ter seus motivos...

Quanto a ascensão, ela se dá tanto por antiguidade, mas também por tempo de serviço no exterior. Ninguém, a partir de Segundo Secretário, pode ser promovido sem contar tempo de exterior...

Espero ter satisfeito a sua curiosidade.
Tudo isso, ou seja, o salário de todos os funcionários públicos, deveria ser uma informação transparente (menos os "por fora", que podem existir, vá lá saber...).

1747) Carta a Nicolau Maquiavel

Como epílogo a meu livro
O Moderno Príncipe (Maquiavel Revisitado)

Carta a Niccolò Machiavelli

Magnífico embaixador florentino, Niccolò Machiavelli,
Permita-me, nesta carta, chamá-lo assim: ambasciatore. Sei que, na república de Florença, seu posto foi o de segretario, ou seja, aquele capaz de guardar os segredos de Estado; sei, também, que lhe foram encomendadas várias missões diplomáticas, algumas junto a outros reinos ou principados da Itália, outras junto a soberanos de outros países, os mesmos reinos responsáveis, em outras épocas, por tantas desgraças que se abateram sobre o seu país, dividido, ocupado e humilhado. Depois de alguns anos de ostracismo, durante os quais você aproveitou para escrever a sua obra mais famosa, Il Príncipe, a signoria di Firenze ainda lhe deu algumas legazioni, mesmo se não mais di Stato. Mas isto me parece o bastante para chamá-lo pelo título legítimo de ambasciatore fiorentino.
Na carta escrita em 10 de dezembro de 1513, tão pronto colocado o ponto final ao De Principatibus, dirigida ao seu amigo Francisco Vettori, embaixador de Florença junto ao papa, em Roma, você lhe relatou como passava os dias no seu sítio de Sant’Andrea-in-Percussina: caçando passarinhos e monitorando o corte de lenha pela manhã, o que lhe dava algum sustento, mas sempre levando um livro consigo: “Dante ou Petrarca, ou um desses poetas menores, Tíbulo, Ovidio; leio aquelas suas amorosas paixões, e aqueles seus amores lembram-me os meus; deleito-me algum tempo nestes pensamentos”. Uma caminhada até a hospedaria o informava sobre as notícias da cidade, ocasião para ouvir muitas coisas e anotar os “vários gostos e fantasias dos homens”. Depois do almoço com a família – com os poucos alimentos “que esta pobre vila e este pequeno patrimônio comportam” –, você retornava à hospedaria, onde passava a tarde jogando cartas com o estalajadeiro, um açougueiro, um moleiro e dois padeiros.
Chegada a noite, porém, você se recolhia ao seu escritório, retirava a roupa do dia, coberta de “barro e lodo”, e vestia roupas “dignas de rei e da corte”, e assim, vestido condignamente, você penetrava “nas antigas cortes dos homens do passado onde, por eles recebido amavelmente, nutro-me daquele alimento que é unicamente meu, para o qual eu nasci; não me envergonho ao falar com eles e perguntar-lhes das razões de suas ações”. Os reis e príncipes do passado lhe respondiam em toda urbanidade e, assim, você passava com eles horas e horas, sem qualquer tédio, esquecido de todas as aflições, sem temer a pobreza ou a morte: “eu me integro inteiramente neles”. Dessas “conversações” é que resultou este seu “opúsculo”, no qual você discutiu de que espécie são os principados, como são adquiridos, como se mantêm e porque são perdidos.
Devo dizer-lhe, Niccolò, que eu também passei muitas noites na sua companhia, relendo o seu “opúsculo” e várias outras obras suas, o que muito me agradou. Se, hoje, as cruentas ações dos príncipes e condottieri do Renascimento, reportadas em suas obras, parecem “definitivamente” afastadas do cenário político moderno, a essência da arte de conquistar e de manter o Estado, tal como magnificamente sintetizada neste seu livro, me parece inteiramente atual. O discurso elaborado por você, em 1513, transpira atualidade, se não totalmente, pelo menos em quatro quintos dos argumentos políticos. Isto se deve, como você sabe, a que a natureza dos homens e suas motivações políticas não mudaram muito desde a sua época, o que ratifica, portanto, a pertinência do seu Príncipe.
Foi isto que me motivou, Niccolò, a realizar, não um pastiche, mas uma adaptação de sua obra imortal aos dias de hoje, posto que ela se mantém aplicável em relação à maior parte dos conceitos empregados na política contemporânea. Aparentemente, os “príncipes” da atualidade não costumam mais mandar envenenar seus adversários – mesmo se alguns serviços especiais possam fazê-lo –, nem comandam pessoalmente execuções com adagas, em plena celebração da missa dominical. Mas creio que, à exceção desses detalhes, o resto do seu racconto se aplica plenamente, senão fielmente.
O resultado dessas noites de diálogo à distância está agora pronto, Niccolò, e aqui lhe apresento este meu Príncipe. Sei que os seus últimos anos foram muito difíceis, caro embaixador, e se por acaso quiser discutir a questão do copyright, estou disposto a fazê-lo.
Não sei exatamente quanto lhe devo, pelos empréstimos não negociados da estrutura mesma do seu pequeno livro e das suas idéias principais, ainda que eu tenha reescrito os argumentos, de maneira a adequá-los a estes tempos. Os nossos são de ações políticas talvez mais pacíficas, mas certamente não mais elevadas moralmente. De uma coisa esteja certo: os direitos morais lhe pertencem inteiramente e, em função disso, estou pronto a lhe render homenagem e manifestar o preito de gratidão intelectual que lhe é inteiramente devido.
Em um argumento central, contudo, nos afastamos um do outro, Niccolò, mas ele me parece essencial, na perspectiva do meu próprio pensamento. Esta sua obra magnífica foi concebida, pensada e está dirigida ao candidato a príncipe em tempos “bárbaros”, de inexistência de instituições e de poderes constituídos e separados; todo o seu discurso se coloca primordialmente do ponto de vista do Estado, que necessitava ser construído e fortalecido. Esta postura era claramente compreensível e aceitável no quadro da Itália de então, destruída pelas suas próprias elites e ocupada por poderes estrangeiros, sem que naquele tempo surgissem príncipes valorosos, dispostos a libertá-la do jugo das potências mais poderosas da Europa.
Tal não parece ser mais o caso hoje em dia, Niccolò, pelo menos não em relação à grande parte dos principados contemporâneos: todos eles já dispõem de Estados fortes, talvez em excesso. Eles drenam os recursos dos seus súditos, ou cidadãos, em proporção mais do que aceitável ou admissível para os padrões econômicos de um capitalismo que se pretende basicamente liberal, e não mais estatizante, como ainda há poucas décadas. O sistema globalizado, que é o nosso, reduziu ainda mais as possibilidades de concentração excessiva das decisões econômicas no Estado, que hoje são deixadas ao próprio mercado.
O meu ponto de vista, Niccolò, é, em conseqüência, não o do Estado, mas sim o da sociedade, do cidadão pagador de impostos, que deseja que a política esteja a serviço, não do próprio Estado, mas essencialmente voltada para a construção de condições que possam apoiar a prosperidade contínua da comunidade e do próprio principado. O mundo mudou significativamente desde a sua época, Niccolò. Depois de Westfália e da Carta das Nações Unidas, processos foram construídos para evitar, ou pelo menos minimizar, o tipo de conduta daqueles príncipes inescrupulosos do seu tempo, que invadiam, ao seu bel-prazer, principados estrangeiros, para deles se apossar e explorá-los de maneira vil, em total arbitrariedade e desrespeito ao direito das gentes.
O problema principal das sociedades organizadas não está mais, portanto, na construção de Estados, e sim na manutenção de regras de conduta entre povos e nações civilizadas. Isto ultrapassa as fronteiras dos Estados, Niccolò, e tem a ver com os direitos dos cidadãos, em primeiro lugar com a democracia política e os direitos humanos. Quer me parecer, Niccolò, que os piores atentados a esses princípios centrais da vida civilizada têm origem, hoje, na ação de príncipes tão violentos como os da sua época. Mas estes têm a protegê-los as cláusulas de Westfália e da citada Carta, sobre a soberania absoluta dos Estados e a não-interferência nos seus assuntos internos. Sei que não é fácil de resolver este problema, Niccolò, pois ainda hoje existem Estados poderosos que pretendem impor sua vontade aos mais fracos. Mas tenho certeza de que a próxima fronteira dos avanços civilizatórios se coloca bem mais no plano dos indivíduos do que no âmbito dos Estados.
Esta é a minha perspectiva política, Niccolò, que difere talvez um pouco da sua, por razões inteiramente compreensíveis. Mas desejo confirmar-lhe, expressamente, que aprendi muito com os seus próprios escritos e com os relatos e análises que li da sua vida e do seu pensamento. Você escreveu ao seu amigo Vettori, com a esperança de que o seu “opúsculo” – na verdade uma das maiores obras do pensamento político moderno, aquela que criou, verdadeiramente, a ciência da política – fosse lido mais amplamente, dizendo-lhe que a obra condensava quinze anos empenhados “no estudo da arte do Estado”. Sua carta terminava dizendo que ninguém deveria duvidar da sua fidelidade no serviço do Estado: “da minha lealdade é testemunho a minha pobreza”.
Estou certo disso, Niccolò, e devo dizer-lhe, pessoalmente, que, depois de muitos anos dedicados ao serviço do Estado e da sociedade, eu também posso afirmar fidelidade a certas idéias, princípios e valores. Acredito, mesmo, que eles se parecem muito com os seus, Niccolò, e é por isso que eu pretendi prestar-lhe uma homenagem por meio deste Príncipe, que se pretende em comunhão espiritual e que se situa inteiramente na tradição intelectual que você inaugurou, caro ambasciatore.

Um seu admirador
Refúgio dos bibliófilos, 11 de setembro de 2007
(494º aniversário da redação d’O Príncipe)

Sumário completo do livro neste link.