O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

1878) O debate sobre a "primarizacao" da economia brasileira

1) Primeiro a matéria do jornal que sustenta um debate que vem sendo travado desde certo tempo, sem conclusões definitivas no estado atual:

Básica e concentrada
Exportação de bens primários ganha força. Indústria perde espaço

Henrique Gomes Batista e Eliane Oliveira RIO e BRASÍLIA
O Globo, 29.01.2010

A concentração das vendas externas do país em produtos primários e o enfraquecimento da indústria ganharam força em 2009. Apenas seis produtos básicos foram responsáveis por praticamente um terço (32,17%) das exportações brasileiras: soja, minério de ferro, petróleo, açúcar, frango e farelo de soja.

No ano anterior, este grupo respondia por 27,72% das vendas brasileiras a outras nações e, em 2004, somente 20,69%. Isso ocorre porque a crise mundial afetou mais fortemente os compradores de produtos acabados brasileiros — como Estados Unidos, Europa e América Latina — e favoreceu a exportação para a China, grande compradora de bens primários e hoje o maior parceiro comercial do Brasil.

O ano de 2009 foi o primeiro em que não havia nenhum item industrializado entre os seis mais vendidos.

Entre os dez produtos mais exportados, apenas dois — aviões, na sétima posição, e automóveis, em décimo lugar no ranking — são manufaturados.

Em 2004, o top ten continha outras duas manufaturas, além das atuais: peças de automóveis e aparelhos de transmissão e recepção.

Com isso, os produtos primários responderam por 40,50% das exportações brasileiras em 2009. Esta é a primeira vez, em 20 anos, que a categoria ultrapassa os 40% do total — em 2008, estava em 36,89%. Por outro lado, os produtos manufaturados, que representaram 46,82% das vendas de 2008, passaram a significar apenas 44,02% no ano passado.

Para o economista da RC Consultores, Fábio Silveira, hoje o país está dependente das commodities, sem autonomia para planejar seu futuro, sob o ponto de vista comercial. O quadro é positivo, quando os preços sobem.

Mas uma queda nas cotações dos produtos, a curto prazo, acaba afetando negativamente a balança.

— Esta forte concentração de produtos na pauta de exportações é preocupante, pois são produtos sobre os quais o Brasil não tem qualquer controle, nem de preços, nem quantidade — confirmou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro

Dependência deve aumentar em 2010
O Brasil vive hoje esse problema da “primarização” de sua pauta exportadora.
Alguns dizem que isso não é um problema, pois Chile, Canadá e Austrália se desenvolveram com exportações de bens primários. Há quem alegue, inclusive, que existe mais tecnologia em alguns primários, como carnes, com pesquisa genética, que em alguns manufaturados. Mas é polêmico, e o Brasil precisa saber se quer ser um grande exportador de básicos ou se quer diversificar a sua pauta — afirmou Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).

Para Lima, essa concentração tende a continuar em 2010, pois ele acredita que os grandes compradores de manufaturados do Brasil ainda estarão com economias relativamente fracas, enquanto a China deve aumentar seu apetite por produtos básicos. Em sua opinião, o país perdeu a oportunidade de, na bonança mundial, de fazer as reformas tributária e trabalhista, o que daria mais competitividade para o setor industrial brasileiro.

O governo reconhece que as commodities têm tido um papel imprescindível nas exportações. Mas argumenta que a queda da participação de manufaturados se deve ao desaquecimento da demanda mundial. Outros dois fatores são o dólar desvalorizado, que tira a rentabilidade, em reais, dos exportadores, e a concorrência chinesa em terceiros mercados.

Os setores que melhores resultados apresentaram em 2009 mostram suas estratégias. Produtores de açúcar, por exemplo, se beneficiaram da quebra de produção da Índia, o que abriu mercado ao produto nacional, com preços melhores no mercado mundial. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Frango (Abef), Francisco Turra, disse que o segredo foi focar em mercados menos atingidos pela crise: Ásia e Oriente Médio. Outro fator considerado fundamental pelo setor foi a abertura do mercado chinês para o frango: — As vendas para Rússia, União Europeia, Japão e Venezuela caíram muito. Por isso, incrementamos negócios em outras regiões.

Segundo o vice-presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, a siderurgia brasileira manteve o esforço de exportação, mesmo com queda de preços para manter os níveis de produção, tendo em vista que o mercado interno desaqueceu: — Além disso, houve a entrada em operação de novas indústrias. A queda das exportações em volume foi de 2,9% e em receita 38,8%.
========================

2) Agora a carta de um economista indignado com o que ele imagina ser uma traição de neoliberais, prontos para entregar o país aos donos do "Consenso de Washington" e autores intelectuais de uma volta de nossa economia a padrões coloniais:

Carta ao jornal O Globo por João Carlos Bezerra de Melo
A reprimarização da economia

Ora, até que enfim esse jornal abre as suas páginas e estampa manchete de primeira página, para noticiar, como se fosse a última novidade, o resultado do processo (que se vai agravar ainda, muito mais) de reprimarização da economia brasileira, com os seus inelutáveis efeitos sobre o balanço de transações externas correntes, sobre o nível do emprego e sobre o crescimento econômico, enfim.

O que não faz a parcialidade sistemática com que esse obstinado porta-voz da classe dominante (vale dizer dos grandes oligopólios financeiros e sua camarilha, poderosa o suficiente para abranger, envolver e, digamos, e$timularcerto tipo hegemônico de colunistas econômicos da grande mídia - ataca, por todos os meios o atual governo?

Afinal, (quem diria?), denuncia O GLOBO o óbvio fenômeno, não natural nem casual, mas resultante de uma persistente, proposital e criminosa política cambial, contra a qual nós, os economistas não alinhados sob a bandeira inimiga dos lesa-pátria neoliberais, vimos nos batendo, anos a fio.

Aplausos, pois, para o tardio despertar d'O GLOBO. Porém, a um só tempo, veemente (a mais veemente) condenação, por não haver contado toda a história: O câmbio sobrevalorizado, em que reside a causa do objeto da "denúncia" tardia, se mantém como herança dos tempos não saudosos do tucanato servil aos postulados do Consenso de Washington (cujos prepostos, no atual governo, suportam o insider Meirelles no comando do independente Banco Central); e tem como corolário a total desregulamentação (por que não dizer orgia?) dos fluxos financeiros e dos juros estratosféricos, que ganham o topo do pódio mundial, se é que cabe a imagem no contexto de tão sinistro certame. Esse outro lado da verdade, O GLOBO não conta e, omitindo-o, exerceu o seu sempre presente papel de desinformar o seu público leitor, no que diz respeito à realidade brasileira.

Mais uma vez, na contra-mão da História e do interesse da nacionalidade, O GLOBO perdeu um belo momento para contar a história toda, completa, sem omitir nem escamotear a verdade. E de perguntar aos virtuais candidatos à Presidência da República: Quem dos senhores subscreve o compromisso de disciplinar os fluxos financeiros internacionais e promover uma política cambial realista e patriótica que evite o retorno do País à condição de uma grande plantation?

João Carlos Bezerra de Melo, economista, assinante de O GLOBO

1877) Construindo a heranca maldita: contas públicas

Truques fiscais
Regina Alvarez
O Globo - Panorama Econômico, 28/01/2010

Em um ano de crise aguda, como foi 2009, o governo valeu-se de truques e muita criatividade para fechar as contas públicas. O resultado do Tesouro confirma que o superávit primário foi forjado a partir de caminhos muito pouco ortodoxos. Começando pelo uso do BNDES, um banco público de fomento, para reforçar o caixa da União, abrindo espaço para mais despesas, sem comprometer a meta.
De um lado, o BNDES recebeu empréstimo de R$ 100 bilhões do Tesouro em títulos da dívida pública — que não teve impacto fiscal, mas elevou a dívida bruta — para mitigar os efeitos da crise global. De outro, o bancão repassou um valor recorde de dividendos ao caixa da União: R$ 11 bilhões, quase o dobro de 2008; e ainda "comprou" mais R$ 3,5 bilhões de dividendos da Eletrobrás, também repassados ao Tesouro.

A lógica é a seguinte: o BNDES não contribui com o superávit primário da União, tudo que paga de dividendos entra no caixa do Tesouro como receita primária. Enquanto que o repasse direto dos dividendos da Eletrobrás ao Tesouro teria efeito neutro nas contas, já que a estatal contribui com a meta de superávit primário. Se paga dividendos, economiza menos e faz um superávit menor. A operação triangular garantiu mais recursos para a União no ano da crise.

Outro truque foi o uso dos depósitos judiciais para reforçar o caixa federal. No total, foram R$ 15,3 bilhões de depósitos tributários e não tributários. Neste caso, o governo foi com tanta sede ao pote que desconsiderou alguns detalhes importantes.

Primeiro, parte dos R$ 8,9 bilhões de depósitos judiciais tributários ainda estavam sem classificação. Quando forem classificados, dependendo do imposto que os originou, parte do bolo será dividido com estados e municípios (IR e IPI, no caso).

Especialistas em orçamento estimam que pelo menos R$ 1 bilhão dessa receita pertence aos demais entes e foi apropriada pela União. No caso dos depósitos não judiciais, R$ 6,2 bilhões, um detalhe pode complicar as contas de 2010. O valor que o governo computou como receita em novembro e dezembro de 2009 também entrou nas contas do relator de receitas do Orçamento de 2010, senador Romero Jucá, para acomodar o aumento de despesas aprovado pelo Congresso.

Finalmente, tem a história do Imposto de Renda das Pessoas Físicas. O governo prometeu que não reteria devoluções do IR para fazer caixa, mas o fato é que em 2009, pela primeira vez, mais de um milhão de contribuintes caíram na malha fina. E o mais estranho: em janeiro, no primeiro lote de restituições, foram devolvidos R$ 616 milhões a quase 400 mil contribuintes. Em janeiro de 2008, a devolução fora de R$ 75 milhões.

Nunca antes na história deste país a Receita trabalhou tanto e demonstrou tanta eficiência no primeiro mês do ano. Será que havia mesmo motivo para tante gente ter caído na malha? Com todos esses truques, o governo conseguiu um superávit de R$ 42,3 bilhões nas contas de 2009 e com o reforço dos investimentos do PPI/PAC — abatidos das despesas — a meta foi atingida.

Num ano de crise aguda, as receitas cresceram 3,2% e as despesas 15%. Não ocorreu aos equilibristas econômicos fazer o ajuste pela lado da despesa. As receitas "atípicas" viabilizaram o aumento dos gastos.

Herança maldita

No mercado, esses truques para obter superávit primário e o aumento da dívida bruta são vistos com preocupação. O economista Sérgio Vale, da MB Associados, prevê que haverá uma piora no perfil da dívida pública mais pra frente, em decorrência desses fatores.

— O perfil da dívida está diretamente relacionado à qualidade da política fiscal.

Quanto mais o governo cria subterfúgios para o superávit primário ou aumenta a dívida bruta, aumenta a probabilidade da qualidade do perfil piorar — afirma.

Este ano será muito ruim do ponto de vista fiscal, por conta do fator eleitoral, na visão do economista. A questão em aberto é 2011.

Quem vai fazer o ajuste fiscal necessário e de que tamanho será, quando se sabe que há uma programação enorme de investimentos públicos programados — Copa, Olimpíadas, présal, infraestrutura, etc.?, pergunta.

— Não temos espaço para a festa fiscal que o governo está fazendo nos últimos dois anos de seu governo, tanto que descobriu o uso da dívida bruta para aumentar seus gastos. Essa dívida, que está em torno de 64% do PIB este ano, pode subir facilmente para 67% no final de 2010 e, dependendo do cenário fiscal de 2011, passar dos 70% — estima o economista

1876) Livro: Um Enigma Chamado Brasil


Estou lendo agora este livro: Um Enigma Chamado Brasil: 29 Intérpretes e um País, organizado por Lilia Moritz Schwarcz e André Botelho (São Paulo: Companhia das Letras, 2009).

Segundo informação da editora, nessa coletânea de artigos, intérpretes do Brasil são analisados à luz de suas ideias e sob o ponto de vista de pesquisadores contemporâneos. Alguns nomes como Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Hollanda unem-se a outros, com trabalhos sobre o Brasil, como Oliveira Vianna, Manoel Bomfim e Octavio Ianni. A obra pretende estabelecer um diálogo entre esses pensadores e suas obras, e mostra como suas ideias foram recebidas em determinados contextos.

O resultado é uma compilação que percorre o pensamento social em diferentes gerações - desde aqueles que se debruçaram sobre a construção do Estado durante o Império até os ensaístas da década de 1930, passando pelos teóricos do racismo científico, seus críticos na Primeira República, os modernistas nos anos 1920 e a geração dos cientistas sociais e seus primeiros discípulos. Ao reunir esses autores, a obra propõe contribuir para o debate e introduzir aos estudantes e entusiastas do tema, ideias consideradas fundamentais para o entendimento da sociedade brasileira. Ao final de cada verbete há indicações de leitura e, ao final do livro, uma biografia dessas personalidades.

Nem todos são brasileiros, pois existem brasilianistas como Roger Bastide e Richard Morse. Nem todos são falecidos, pois do volume constam intelectuais ainda atuantes como Fernando Henrique Cardoso e Roberto Schwarz, bem como Antonio Candido, Gilda de Mello e Souza e Maria Isaura Pereira de Queiroz. Um capítulo é "coletivo", como a contribuição de José Murilo de Carvalho, sobre o radicalismo político no Segundo Reinado, cobrindo as obras do Marquês do Paraná, de Teófilo Otoni e de José Inácio Silveira da Mota.

É o tipo de leitura que eu gosto: história e sociologia das ideias, ou seja, uma trajetória do pensamento, ou história intelectual. Farei anotações em função de um ensaio meu que poderia ser chamado de "memórias intelectuais".

1875) FSM, dia 3: um completo energumeno e criminoso...

Não sou de ordinário alguém que saia por aí ofendendo os outros. Medíocres e ignorantes me dão simplesmente pena.
Criminosos devem apenas receber as penas previstas em lei. Cúmplices de criminosos também devem ser julgados, de acordo com a gravidade de seus casos.
Este cidadão, abaixo relatado, é pior que um criminoso das ruas. Trata-se de um criminoso intelectual, e como tal deveria receber uma pena maior. Não a prisão, talvez, mas o opróbio, o desprezo intelectual, pois se trata visivelmente de um indigente mental. Um desonesto e um cidadão de má fé.
Paulo Roberto de Almeida (29.01.2010)

Em painel do FSM, sociólogo exige fim de "perseguição" ao MST no Estado
Letícia Duarte
Zero Hora, 28/01/2010

Boaventura de Souza Santos defende que criminalização dos movimentos sociais torna ar irrespirável para o Fórum
Diante de 50 promotores e procuradores do país, que participam hoje de um encontro sobre direitos humanos, durante a programação do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos fez uma crítica veemente à atuação do Ministério Público.
Mesmo sem ser painelista, ele pediu a palavra para contestar a tendência de criminalização dos movimentos sociais. E aproveitou para reivindicar o arquivamento de todas as ações civis públicas de criminalização ao MST.
- Vejo com muita inquietação esse cenário de criminalização dos movimentos sociais. O que se passa no Rio Grande do Sul é grave -, firmou.
Segundo o intelectual, que também tem formação jurídica, a prática de proibição das marchas sociais e o fechamento das escolas itinerantes cria um estado de exceção, com perda de direitos fundamentais.
(...)
==================
Basta isso, para revelar o energúmeno que ele é...
Paulo Roberto de Almeida

1874) Aos "frequentadores" de meus blogs e site: algumas considerações...

Por vezes, tenho a impressão de que estou sendo espiado por cima do ombro, enquanto trabalho, o que aliás não é apenas uma impressão, e sim a verdade.
Quem mantem um site como eu, por razões essencialmente didáticas, e diversos blogs especializados -- cada um para uma necessidade específica -- só pode se sentir espionado, pois é isso que ocorre de fato, ainda que eu apenas tenha indicações indiretas desses atos de "espionagem".
Algumas são explícitas, pois os mais corajosos fazem comentários, de diversos tipos, e só posso agradecer a atenção, mesmo quando me atacam, nesse caso anonimamente. Outras são apenas implícitas, e se revelam em comentários orais de interlocutores ocasionais.
Com base nessas impressões impressionistas, creio que posso traçar uma:

Tipologia dos frequentadores dos meus blogs

1) Fiéis leitores
Suponho que sejam todos aqueles inscritos como "seguidores" no rodapé desses blogs, em especial este aqui. Alguns têm sua identidade totalmente, revelada, outros assumem personalidades interessantes, atores ou personagens de cinema, de histórias em quadrinho, não importa. Também suponho que sejam pessoas que, como eu, sempre querem aprender algo novo, posto que meu blog é feito basicamente para meu próprio aprendizado, ademais de servir de "depósito de materiais úteis". Muitos deles dialogam comigo, através da janela de comentários. Quero dizer-lhes que muito aprecio seus comentários, posto que eles me dão a oportunidade de saber o que vai na cabeça de meus leitores, aprender um pouco com eles, e tentar aperfeiçoar a informação ou análises que disponibilizo nesses blogs. Grato, sinceramente.

2) Passantes ocasionais, leitores de oportunidade
São aqueles que buscam algo na internet, estudantes desesperados para terminar, na última hora, algum trabalho acadêmico, candidatos à carreira diplomática, pesquisadores de algum tema com interface em meus focos de trabalho, que acabam tropeçando com algum post meu -- geralmente algum antigo, do qual já me havia esquecido -- e, por acaso, vencendo a timidez, acabam deixando um comentário, não necessariamente de modo anônimo, posto que seu interesse é legítimo e focado naquela objeto ocasional. Eu também lhes sou grato pelos comentários -- embora saiba que a imensa maioria, a quase totalidade, passa sem deixar traços -- pois isso representa uma espécie de gratificação moral, já que indica que meus posts, muitos deles colocados laboriosamente madrugada adentro, podem ser de alguma utilidade para algum necessitado de ocasião. Muitos deles corrigem pequenos erros em minha informação, ou reclamam de que tal coisa está incompleta. Também tem aqueles que fazem comentários de natureza política, ou moral, o que também é interessante...

3) Anônimos, furiosos, ou não...
Devo dizer que a maior parte dos comentários que recebo são feitos por anônimos (enfim, alguns "anônimos" assinam o nome no corpo da mensagem, mas a maioria não o faz). Trata-se, portanto, de uma grande categoria de visitantes, alguns frequentes (que ficam me vigiando, ou seguindo), outros puramente esporádicos e erráticos (sua presença, não suas pessoas). Uma "espécie" de anônimos me descobriu por acaso e como algum post meu lhes deu prazer (quer dizer que se conformou às suas próprias opiniões) acabam escrevendo para me cumprimentar, apoiar, agradecer, whatever... Outra "espécie" de anônimos, ao contrário, fica furiosa, seja com a matéria postada, seja em relação às minhas posições; esses escrevem, então, de maneira indignada, por vezes até ofensiva, para retrucar, me chamar de idiota, ou algo do gênero. Confesso que costumo postar tudo -- de fato, provavelmente 99 por cento do me chega -- pois não me importam as críticas, a menos que sejam totalmente impertinentes ao objeto do post, ou estejam em linguagem ofensiva aos demais leitores (o que é extremamente raro, porém). Mesmo quando eles são especialmente ofensivos, ou agressivos, também creio que devo agradecer a esses anônimos furiosos, pois eles me ajudam a ser eu mesmo mais tolerante, a aperfeiçoar minhas postagens, enfim, a fazer deste instrumento livre uma fonte mais fiável e mais interessante de informações. Como esses anônimos me visitaram uma vez, existe alguma probabilidade de que o façam novamente, e não quero decepcioná-los novamente (embora eu não me incomode de decepcionar os intolerantes, os fundamentalistas, os sectários). Grato a todos, portanto.

4) Anônimos "anônimos", ou seja, visitantes incógnitos
Estes são uma categoria especial que confesso não sei como classificar. Alguns são simples curiosos, outros fofoqueiros, alguns tem ciume de minha produção, outros me detestam, de todo coração (se ouso dizer), vários percorrem meus posts simplesmente para terem motivo de me atacar, na academia, na carreira, por qualquer motivo que seja, dos mais desinteressados aos mais mesquinhos. Estou obviamente imaginando tudo isso, talvez me dando mais importância do que eu tenha, realmente, mas é o que sinto por vezes, por sinais indiretos (aquela coisa de um comentário rápido num corredor, num restaurante, numa menção de terceiros). Alguns desses comentários rápidos e muito ocasionais são até bem intencionados, do tipo: "Veja, andam dizendo por aí que você anda se expondo demais, exagerando nos seus textos, isso pode lhe prejudicar...". Outros não dizem absolutamente nada, embora eu perceba que viram alguma coisa e não dizem nada diretamente, mas vão comentar depois, geralmente de forma depreciativa ao meu comportamento. Creio que não tenho nada a agradecer a estes últimos, posto que eles não gostam de mim, mas eu pouco me importo com eles. Acho que sou indiferente ou infenso a fofocas...

A todos eles eu gostaria de dizer o seguinte:
Não tenho por hábito me preocupar com a opinião das pessoas sobre mim ou sobre o meu trabalho, minhas ideias, minha producao intelectual. Jamais eu faria algo para dar prazer a alguém, quero dizer, para ser Mister Nice Guy, simpático a alguém ou alguma causa, qualquer que seja ela. Eu apenas escrevo aquilo que desejo escrever, as simple as that... Não tenho por hábito pedir permissão a ninguém para expressar minhas opiniões; considero-me um ser absolutamente livre, tanto quanto possível no quadro de uma carreira burocrática que tem um pouco de Vaticano e outro tanto de Forças Armadas, ou talvez confraria maçônica. Tudo o que eu faço corresponde a uma necessidade interna, geralmente curiosidade intelectual, ou no caso dos blogs - que são por definição muito rápidos e por vezes irrefletidos -- uma simples necessidade de registro, de "depósito" de materiais para recuperar "algum dia".
Cada um deve assumir responsabilidade por seus atos, dizeres, escritos. Eu assino embaixo de cada peça terminada, e mantenho uma lista completa (ou quase) de todos os meus escritos, e não tenho absolutamente nada a esconder de ninguém. Quem não gosta de mim, ou de minhas opiniões, obviamente não é obrigado a ler meus textos ou a expelir algum comentário irritado em algum post meu.
De toda forma, creio que continuarei a agradar alguns, a irritar outros, a ajudar desconhecidos, mas sobretudo dar prazer a mim mesmo. Trata-se, provavelmente, de uma segunda natureza, esta minha, anárquica e irritante, de fato, mas não creio que deva mudar agora.

Em todo caso, boa noite a todos...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29.01.2010

1873) Pork-Viagra, viagra-suino, whatever, com sotaque argentino...

Este é um aspecto da integração no Mercosul que ainda não foi devidamente regulado, objeto de alguma resolução, liberalização tarifária, enfim algo do gênero.
Creio que os presidentes (e presidentas, if any) deveriam fazer uma Declaração solene a respeito...

Cristina Kirchner acha carne de porco mais eficiente que Viagra
France Presse, 28/01/2010

BUENOS AIRES - "Comer carne de porco melhora a atividade sexual", declarou a presidente argentina Cristina Kirchner durante um encontro com empresários do setor suíno na noite desta quinta-feira na Casa Rosada.

"Além do mais, acho que é muito mais gostoso comer leitãozinho assado do que tomar Viagra", acrescentou a presidente ante a surpresa dos presentes.

Ela confessou ainda que no fim de semana comeu, junto com o marido, o ex-presidente Néstor Kirchner, um leitão assado em sua residência de El Calafate, uma paradisíaca região patagônica, e o resultado "foi impressionante".

"Kirchner vai me matar quando eu chegar a Olivos!", acrescentou, sorrindo e se referindo à residência presidencial na periferia norte de Buenos Aires.

Ela aproveitou para anunciar uma redução do preço da carne suína.

O titular da Associação de Produtores Suínos, Juan Uccelli, confirmou as observações da presidente, assegurando que os dinamarqueses e japoneses, que consomem muito carne de porco, "têm uma sexualidade muito mais harmoniosa que os argentinos".

=====

PRA: Já sabemos como vai ser a próxima "cúpula" do Mercosul (eu disse cúpula...).

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

1872) FSM, dia 3: Brasil chamado de pais imperialista

No terceiro dia do Forum Social Mundial de Porto Alegre, o Brasil foi chamado de imperialista por um dos participantes, que foi pelo menos sincero, pois disse algo que vários outros pensam sem ousar dizer.

Seminário 10 anos depois – 28.01.2010
Mesa Novo Ordenamento Mundial


Eis o que disse um dos participantes:

"Eric Toussaint, do Comitê pela Anulação da Dívida (Bélgica) fez uma colocação que gerou polêmica. Para ele, além de a crise não ter fragilizado o poderio norte-americano, ele está sendo reforçado por atitudes imperialistas dos países do BRIC. “Podemos afirmar que o modo como o Brasil está presente na Bolívia, no Peru, no Equador é um tipo de imperialismo periférico, a reprodução da logica imperialista em escala regional”. Estes países, segundo Toussaint estão, em processos internacionais importantes e centrais, como foi a COP-15, pactuando com uma política imperialista e transformando seus países e regiões em zonas de reprodução desta lógica."

Ele continuou:
"Toussaint afirma que, para se contrapor a estas lógicas, os países deveriam, em lugar de reproduzir a dinâmica imperialista em escalas regionais, adotar posturas soberanas unilaterais e promover mobilizações de massa, como grandes greve internacionais, marchas, desobediências. “Por que não fazer auditoria da dívida, como fez o Equador? Por que não nacionalizar o petróleo o gás, como fez a Bolívia? Por que mandar tropas para o Haiti?”, questiona. Uma das agendas centrais para a região segundo ele é o Banco do Sul. “Seria um banco dos países da América Latina para financiar reforma agrária, soberania alimentar, indústria farmacêutica de genéricos. Um instrumento de implementação de outro modelo para a região e não para comprar bônus do tesouro americano, como os países fazem hoje em dia, ajudando a sustentar o poderio do EUA”."

Esse belga é, obviamente, maluco, o que se percebe facilmente pelas "soluções" propostas para as debilidades da região, mas parece ter percebido que os Brics reproduzem uma velha realidade da economia mundial: toda economia dinâmica constitui a sua própria periferia, acumulando capital e exportando esse capital para suas "dependências" regionais, ou seja, investimento direto de suas empresas nas economias vizinhas, o que é a própria definição de imperialismo segundo Hobson, Lênin e Rosa Luxemburgo.
Aqueles que recusam essa realidade, como os aliados "anti-imperialistas" do Brasil, querem dourar a realidade e recusam constatar o que parece óbvio a todos, inclusive a esse belga maluco.

Ou seja, o FSM revela as mesmas contradições que existem em qualquer situação da economia real.
Bem, continuo esperando o "outro mundo possível", ou pelo menos a exposição de sua arquitetura ideal.

1871) Ainda os aviões da FAB: uma opinião bem informada

Sobre a compra dos caças, recebi uma nota interessante escrita por alguem do ramo, o Brig R1 Teomar Fonseca Quírico, aposentado.
Ele me foi transmitido por um colega de lista, que se refere a um blog de aviadores neste link.
São elementos importante para a reflexão, inclusive porque os comentários da nota do Brigadeiro do Ar precedem o debate caótico que se seguiu à divulgação (parcial) do relatório da Aeronáutica que recusava o Rafale francês e recomendava a compra do Gripen sueco, colocando o avião americano em segundo lugar.

PROJETO FX-2: ALGUNS COMENTÁRIOS A RESPEITO NA ANTEVÉSPERA DA DECISÃO
Brig R1 Teomar Fonseca Quírico

Este artigo está sendo escrito no dia 21 de outubro de 2009, na antevéspera da decisão sobre o vencedor do chamado Projeto FX-2.
Nesses últimos meses tenho sido questionado com bastante frequência a respeito do que eu acho desse processo de seleção do mais novo avião de caça que o Brasil vai comprar: quem vai ganhar, qual dos três aviões é o melhor etc.
Companheiros da Força, amigos militares de outras forças, civis conhecidos e por vezes até desconhecidos (é impressionante a atração que o avião, em especial o avião de caça, tem sobre o homem comum!), eventualmente sabedores da minha condição de piloto de caça na reserva, todos querendo saber a minha opinião a respeito.
Eu sempre desconversei, no sentido de não tumultuar mais ainda um processo já por demais tumultuado, dentro da filosofia popular que diz que “piru de fora não se manifesta”! Um dia nós ainda vamos aprender a fazer como a Marinha, que compra 5 submarinos, um deles nuclear, troca de portaviões, compra aviões de caça, tudo com muito pouco ou quase nenhum ruído na mídia!
A todos eu dizia que os três aviões eram muito bons, que todos atendiam as nossas necessidades operacionais, e que o mais importante seria aquilo que o Brasil iria ganhar além dos aviões. Dizia, ainda, que independentemente da minha opinião, o parecer que fosse assinado pelo oficial responsável pela equipe técnica de avaliação eu assinaria embaixo porque, conhecedor do perfil e do profissionalismo desse oficial, tinha a certeza de que o que ele indicasse sem dúvida nenhuma seria a melhor alternativa a ser adotada pela FAB e pelo Brasil.
Naturalmente que tenho uma opinião em relação ao assunto e em respeito aos amigos que me questionaram em tempos atrás, resolvi colocar minhas considerações no papel neste momento, na antevéspera da decisão a ser tomada, mas somente tornando-a pública após o anúncio do projeto vencedor. Se não o fiz no passado para não tumultuar o processo, faço-o agora, antes da decisão, para não ser contaminado ou influenciado pelos comentários que certamente irão surgir e para não dar uma de “engenheiro de obra pronta”, figura que sempre abominei ao longo da minha carreira.
Naturalmente que faço isso com a irresponsabilidade da reserva, por não ser conhecedor de qualquer aspecto das propostas apresentadas e baseado apenas no sentimento e experiência angariados em mais de trinta anos de serviço dedicados em especial à aviação de caça do Brasil. Claro que é fácil falar quando não se tem a responsabilidade de uma decisão, mas dentro do mais puro espírito da “Tribuna Livre do Piloto de Caça” aí segue minhas considerações.

1- Qual dos três aviões é o melhor?
Para quem voa Mirage 2000, F-5E modernizado, A-1A/B ou AT-29 “é ruim” dizer que um Rafale, um F-18E/F ou mesmo um Gripen não atende às nossas necessidades operacionais!
Costumo comparar a situação com aquela em que um proprietário de um Monza 87, com o dinheiro da poupança no bolso, procurando um automóvel novo para comprar, recebeu ofertas de um Peugeot/Citroen último tipo, de um Cadillac também último tipo, bem como de um Volvo não menos atualizado; é difícil para o cara dirigindo aquele Monza antigo dizer que qualquer dos carros ofertados não atendem a sua necessidade de transporte!
Entretanto, se além do automóvel um fornecedor pouco ou nada oferece, um outro dá um ano de seguro total gratuito e o terceiro oferece, além do seguro gratuito, dois anos de assistência técnica e de peças de reposição também gratuitos, com quilometragem livre, agora nosso bravo proprietário do Monza já teria algumas vantagens adicionais em escolher um ou outro automóvel.
Ou seja, o que menos importa nessa competição é o avião, uma vez que todos, com certeza, atendem às nossas necessidades operacionais; o que importa mesmo é o que o Brasil vai receber ALÉM dos aviões!!A diferença está aí e, nesse sentido, estão certíssimas nossas autoridades que dizem que a transferência de tecnologia é que será o fator primordial para a decisão, muito embora essa expressão – transferência de tecnologia – mereça algumas considerações que serão feitas ao final.
Mas o que importa no momento é ressaltar que o fator de decisão não deve ser o avião, mas o pacote de benefícios que o Brasil irá receber além da aquisição pura e simples das aeronaves. A partir deste raciocínio, mesmo o homem comum, principalmente aquele ligado às coisas da aviação, já tem condições de fazer um prejulgamento considerando o histórico dos três países envolvidos na disputa.

2- França (Rafale), EUA (F-18E/F), Suécia (Gripen NG)
Novamente falando, todos os comentários a seguir eu os faço irresponsavelmente a partir da experiência acumulada ao longo da carreira, uma vez que não tive acesso a qualquer informação pertinente à disputa, além daquelas que se tornaram públicas pelos meios da imprensa.
Minha experiência com os franceses é a pior possível, vem de longa data, desde o início da minha carreira como piloto de caça, e a não ser que de alguma forma nossos amigos gauleses tenham mudado radicalmente e expressado isso nos documentos apresentados (o que também não garante nada!), minha opinião é de nem levá-los em consideraçãoab initio!
Ela se inicia com a comparação das publicações técnicas vindas com o Mirage III com aquelas que trouxemos junto com os nossos F-5. Basta pegar as TO-1 de ambas as aeronaves e se verá a pobreza das informações contidas na TO do Mirage em comparação com aquelas existentes na do F-5. Tradicionalmente as publicações técnicas francesas pouco informam de importante, em comparação com o nível de informações contidas nas publicações americanas, por exemplo. Gráficos de desempenho, gráficos de combate… basta comparar e ver a diferença entre elas!
Além disso, minha experiência com eles passa pela definição do canhão que equiparia a série das nossas aeronaves AMX. Poucos sabem, mas nossos protótipos de A-1 foram ensaiados com o canhão DEFA 554, uma versão melhorada daqueles canhões que equipavam nossos Mirage III. Pois bem, depois de toda uma campanha de ensaios feita com o DEFA 554, na hora em que fomos colocar nosso pedido de compra para a série, nossos amigos franceses colocaram tanta dificuldade e tanto sobre preço que, a despeito de todo o gasto que teríamos para ensaiar um novo canhão, saiu mais barato e conveniente trocarmos de armamento e começarmos tudo de novo, com um novo canhão de um outro país que poderia, inclusive, ser produzido no Brasil!
Essa experiência ruim continua com a gestão do contrato da troca dos helicópteros “Puminha” pelo Super-Puma onde, a despeito de contratualmente constar a implantação de um banco de provas do motor, para evitar o tremendo gasto das revisões gerais feitas na França, tivemos que suar várias camisas para convencer nossos amigos gauleses a simplesmente cumprirem as cláusulas previstas contratualmente que eles haviam concordado e assinado! E saí da logística sem saber se eles efetivamente cumpriram o contrato ou se estamos até hoje mandando nossas turbinas para fazerem revisão geral na França!
E falando em logística, só quem trabalhou nessa área para saber o elevadíssimo custo de manutenção dos produtos franceses, quase que inviabilizando, economicamente, a operação desses equipamentos.
Quanto à transferência de tecnologia, bem, basta alguém procurar saber hoje, passadas algumas dezenas de anos, qual é o índice de nacionalização dos nossos helicópteros Esquilos montados em Itajubá para se ter uma idéia da filosofia francesa em relação ao assunto.Um companheiro antigo da Força costuma dizer que a diferença entre o americano e o francês é que o americano pouco ou nada entrega, mas aquilo que ele se comprometeu a entregar ele o faz; já o francês, promete que vai entregar mundos e fundos e, ao final, apesar de compromissado e assinado, pouco ou nada entrega!
Eliminados os franceses restam, portanto, dois competidores.

3- EUA (F-18E/F) x Suécia (Gripen NG)
Ainda baseado na minha experiência de carreira e uma vez mais irresponsavelmente falando, entendo que a solução de menor risco é a americana, enquanto a alternativa que nos daria a maior independência é a sueca.
A solução americana é a de menor risco, uma vez que há centenas de F-18E/F voando em diversos países, com alguns milhares de horas de vôo acumuladas, além de ser o avião de primeira linha de combate da marinha americana nos dias de hoje. A versão ofertada é a do Super-Hornet (F-18 E/F) e não a do Hornet antigo (F-18 A/B ou mesmo C/D). Isso nunca tivemos antes, uma vez que os americanos sempre nos ofertaram aviões de segunda linha e que não estavam sendo empregadas operacionalmente pelas suas próprias forças armadas.
A FAB já possui longa tradição em operar aeronaves americanas, temos já toda uma cultura operacional assimilada bem como uma completa cadeia logística implantada com nossos amigos americanos do norte. Táticas de combate, canais de suprimento, escritórios de ligação, tudo implantado e funcionando (bem)!
Além disso, se olharmos para frente e visualizarmos necessidades futuras para o nosso País, há já uma versão de combate eletrônico dessa aeronave, bem como ela própria é uma versão embarcada que poderia vir a preencher uma eventual necessidade futura da nossa marinha de guerra, com todas as vantagens que isso possa significar para ambas as Forças e para o nosso País.
Como ponto negativo, tradicionalmente nossos amigos do norte não fornecem os armamentos e os equipamentos mais atualizados e que na guerra fazem a diferença! Podemos até tentar, mas penso que dificilmente eles nos cederiam tudo aquilo que desejamos, seja por filosofia política seja pela arrogância típica americana! Entretanto, o pouco ou o muito que conseguirmos obter nas negociações de agora, ANTES da indicação da aeronave vencedora, certamente iremos receber; tradicionalmente os americanos cumprem o assinado em contrato, sem grandes desgastes por parte do contratante.
Se a alternativa americana é a de menor risco, é porque a solução sueca tem um risco maior. E isso é debitado ao fato de que a aeronave ofertada de fato não existe, é um projeto em desenvolvimento, com todos os riscos e custos que isso possa significar. Paradoxalmente, é exatamente por isso – ser um projeto em desenvolvimento – a razão para a maior independência que o nosso País teria ao operar essa aeronave.
Por estar em desenvolvimento, poderíamos desde já participar com as nossas empresas em projetos, processos, testes, ensaios, fabricação etc., nas áreas de nosso maior interesse, nos mesmos moldes utilizados do desenvolvimento da aeronave AMX, com uma grande e marcante diferença, com toda a experiência do que deu certo e do que não deu certo naquele projeto!
Essa é a única forma de se ter independência, é conhecer o porquê (know-why) das coisas, e não apenas o como fazer (know-how) dessas coisas.
É importante ressaltar que a forma de participação nesse desenvolvimento, as áreas em que atuaríamos, os compromissos e documentos que norteariam esse trabalho, tudo que dissesse respeito a isso teriam de ser definidos e assinados ANTES da indicação do projeto vencedor, enquanto o poder de barganha está conosco; se deixarmos para depois, o poder de barganha passa para o outro lado e só teremos aquilo que ele quiser nos dar!
Quanto ao risco em escolher uma aeronave em desenvolvimento, em minha opinião esse risco é bem reduzido; não podemos esquecer que a versão ofertada (Gripen NG) é uma versão melhorada de uma aeronave já existente e voando em diversas Forças Aéreas no mundo, e que a Suécia é um país com grande tradição e sucesso no desenvolvimento de aeronaves de caça, com soluções pioneiras que, posteriormente, algumas delas se tornaram presentes em outras aeronaves (a aerodinâmica utilizando o duplo delta da aeronave Draken, a superfície canard totalmente móvel usada no Viggen, o trem de pouso principal em tandem e o uso de reverso no motor do mesmo Viggen).
Além do mais, a experiência que tivemos recentemente com os suecos no desenvolvimento da versão de vigilância aérea da aeronave E-99, utilizando o radar Erieye, sugere que teríamos um ambiente de extrema e profícua colaboração entre os dois países e as empresas participantes.
Bem, depois de tanto falar, resta ainda a pergunta – qual dos dois projetos seria, em minha opinião, o melhor para o nosso País: o de menor risco (Super-Hornet) ou o da maior independência (Gripen NG)?
O cachimbo deixa a boca torta, assim diz um dito popular. Talvez por ter participado do desenvolvimento da aeronave AMX, por ter percebido as chances enormes que nosso País teve em termos de obtenção de conhecimento, tecnologia, trabalho com elevado valor agregado etc., por ser um incorrigível entusiasta da indústria nacional sou levado dizer que em minha opinião a melhor solução a ser adotada pelo Brasil é a solução sueca. Já que, por definição, todos os aviões atendem às nossas necessidades operacionais, participar do desenvolvimento da versão NG da aeronave Gripen, com nossos amigos suecos, certamente é a alternativa que maior possibilidade dá de transferência de tecnologia e aquisição de conhecimentos para o nosso País.
E em relação a isso – Transferência de Tecnologia – vale à pena fazer alguns comentários em função de experiências passadas.

4- Transferência de Tecnologia: Falácia ou Panaceia?
Ao longo de todo esse processo de escolha tenho ouvido diversos companheiros se manifestarem a respeito da cláusula mandatória de transferência de tecnologia (off-set) que todos os fornecedores de alguma forma devem aderir.
Muitos entendem que isso ao final de nada vale, pois na prática ninguém transfere conhecimento que custou milhões e milhões de dólares para ser obtido simplesmente porque está vendendo um determinado equipamento.
Além do mais, transferir tecnologia pressupõe alguém capacitado em receber, seja em termos materiais e humanos, e aí o problema se agiganta pelo fato de termos pouca ou nenhuma empresa em condições.
Da minha parte, eu sou um eterno entusiasta da política de Off-Set, convicto de que para um País como o nosso, com todas as nossas dificuldades, ela é a única forma de desenvolvimento científico e tecnológico capaz de superar o imenso gap existente entre nós e as nações mais desenvolvidas.
Entretanto, da mesma forma que sou um incorrigível entusiasta em incentivar a indústria aeroespacial brasileira, eu sou um eterno frustrado pelos resultados obtidos até agora pelo nosso País, em especial pela Força Aérea.
Recordo neste instante uma frase do Maj.Brig. José Rebello Meira de Vasconcellos, herói da FAB e veterano piloto de caça com 93 missões na Segunda Guerra Mundial que dizia num outro contexto, mas que se pode usar para o tema em discussão: “Não se pode ensinar nada a quem não quer aprender e não se aprende nada sem que alguém saiba ensinar”!
Neste instante em que estamos definindo todos os aspectos concernentes à transferência de tecnologia que o vencedor da concorrência terá que cumprir, é bom olharmos para a experiência e resultados que a FAB obteve com o Programa de Industrialização Complementar (PIC) do programa AMX para não cometermos os mesmos erros que nos levaram a resultados tão pífios para o montante investido.
Em minha modesta opinião, o Programa AMX, por meio desse PIC, oferecia (e dava) o paraíso que qualquer empresário sempre desejou: aquisição de tecnologia de ponta em determinadas áreas, capacitação de pessoal, ampliação e adequação de instalações, aquisição de máquinas e equipamentos e, talvez o mais importante, uma carga de trabalho garantida por várias décadas (enquanto a aeronave estivesse voando!).
Naquela ocasião, selecionou-se um leque de empresas para receberem esse pacote por meio de um contrato de capacitação tecnológica e de industrialização de determinados equipamentos, e o resultado que temos hoje é ZERO ou muito próximo de ZERO! Á exceção da EMBRAER, quase todas as demais empresas desapareceram, obviamente após receberem todo o pacote de bondades governamental, de forma que hoje temos que recorrer ao exterior para fazer revisões gerais dos nossos equipamentos. Chegamos a montar uma fábrica completa para a fabricação de trem de pouso e componentes hidráulicos e qual é o resultado que temos hoje? Na área do motor, chegamos a comprar a sublicença de fabricação de componentes com alto teor tecnológico para que pudéssemos ter uma empresa capacitada a, no futuro, revisar nossos motores internamente, fabricar componentes e, eventualmente, até desenvolver motores aeronáuticos… e o resultado hoje é nenhum. Nossos motores de AMX têm que ser enviados para o exterior para revisões gerais com todo o enorme custo financeiro que isso significa.
E não adianta considerar que a posse de uma “Golden-Share” por parte do governo na composição acionária da empresa é garantia de que tudo irá correr conforme desejamos, porque na prática isso pouco adianta se não sabemos como e quando usar essa “Golden-Share”, ou tivermos vontade política para usar.
Recordo-me de ainda na ativa ouvir de oficiais mais antigos, por diversas vezes, em situações em que estava gerenciando o desenvolvimento de algum sistema, um quase mantra: “Nós não queremos repetir os erros do AMX”!
Embora defenda com todas as forças o Programa AMX, seja pela aeronave fantástica que ele forneceu à Força Aérea, seja pelos pequenos, mas significativos resultados tecnológicos obtidos no desenvolvimento do avião, sou forçado a concordar que certas filosofias de Off-Set, de transferência de tecnologia etc. não deram certo e que é importante que neste momento nos voltemos para as experiências vividas no passado para não cometermos os mesmos erros.
Transferência de tecnologia não é falácia, mas também não é a solução para todos os nossos problemas. O leque de empresas que temos é esse que existe aí, para o bem ou para o mal; eventualmente podemos até recorrer a uma multinacional que aqui venha a se estabelecer! Os pífios resultados do passado não justificam que não tentemos mais uma vez. A Força Aérea sempre foi assim, sempre considerou as necessidades do País antes da sua própria necessidade; assim foi no passado e assim terá que ser agora. É a única forma de legarmos um País melhor a quem nos seguirá!

5- Decisão Política vs Decisão Técnica
Durante o processo de seleção conduzido pela Força Aérea muito se falou de que a decisão seria política e não técnica. O próprio Presidente da República manifestou publicamente que, ouvida a Força Aérea, a decisão seria dele e de ninguém mais.
Creio que ele está mais do que certo e que ninguém jamais colocou isso em dúvidas, pelo menos no âmbito da Força Aérea! Uma aquisição dessa monta, envolvendo uma imensa soma de recursos, com uma gama infindável de impactos na área geopolítica, tem que levar em conta os interesses maiores da nação e que somente o Presidente da República tem condições de avaliar concretamente.
Entretanto, decisão política não significa uma decisão qualquer. Decisão política deve obedecer a pressupostos básicos que irmanam a nação em torno de seus objetivos nacionais permanentes e não, apenas, as conveniências do momento.
Decisão política também exige explicações e justificativas coerentes a serem prestadas a toda a sociedade brasileira. Enganam-se aqueles que pensam que quanto maior o nível funcional menor é a necessidade de explicações e justificativas de seus atos! É exatamente o contrário pois maiores e mais amplas são as implicações daquilo que fazem e que falam!
Nesse sentido, quanto mais completo, consistente e baseado em avaliações objetivas for o relatório técnico que a Força Aérea está produzindo, maior será a chance de que a decisão final, política, esteja em linha com a avaliação técnica e que a aeronave ao final escolhida atenderá, não apenas aos interesses políticos da nação, mas, também, às necessidades operacionais da Força Aérea.
Em minha opinião, se na avaliação técnica duas aeronaves tiveram pontuação semelhante – por exemplo, numa escala de zero a cem, uma recebeu 95 pontos e uma outra 90, enquanto a terceira recebeu uma pontuação de apenas 30 pontos – uma decisão política que escolha a aeronave de 90 pontos em detrimento daquela com pontuação ligeiramente maior é perfeitamente aceitável. O que fica difícil de aceitar, e de justificar, mesmo politicamente, é que a escolha recaia naquela com pontuação extremamente inferior!
De qualquer forma, como já disse no início desse artigo, independente das minhas opiniões e da decisão final a ser adotada, serei um ardoroso defensor da opção indicada pelo oficial responsável pela equipe técnica de avaliação; o relatório técnico assinado por ele eu assino embaixo, “em cruz”, sem dúvidas de que ela é a melhor para o nosso País e para a FAB.
Nesse sentido, cabe um comentário final em relação a isso.

6- Decisão Final vs Disciplina Intelectual
Nós, profissionais da Força Aérea, ao longo da carreira, somos treinados e incentivados a tomar decisões. Nosso métier – voar e combater – pressupõe análise permanente do cenário que nos cerca, das condições das nossas aeronaves, das condições meteorológicas e operacionais reinantes, das condições das nossas equipagens de combate, de todas as variáveis, enfim, envolvidas no voo para decidirmos o que é melhor para a nossa missão.
Nossa rotina nos ensina e nos torna líderes naquilo que fazemos. Somos treinados para decidir, e decidir bem! Isso de alguma forma nos leva a ser extremamente críticos com alguma atitude diferente daquela que seria a nossa; até porque decisões erradas ou não apropriadas podem levar ao fracasso da missão e, por vezes, até a morte. Buscamos a perfeição e apenas o perfeito é aceito!
Nesse sentido, os puristas que me perdoem, somos até um pouco indisciplinados!
Mas como alguém já disse, não são as respostas que movem o mundo, mas, sim, as perguntas, os questionamentos, e é assim que chegamos aos dias de hoje, de uma Força Aérea altamente operacional, doutrinada e coesa, da qual temos orgulho de pertencer!
Apesar disso, do nosso apurado espírito crítico, conclamo a todos a nos unirmos em torno de nosso comandante da Força Aérea e adotarmos como nossa a decisão que ele entender ser a melhor para a FAB.
Todo e qualquer assessoramento já foi prestado, tudo que alguém havia de falar devia ter sido dito ao longo das análises feitas e, agora, temos que ter apenas uma escolha: a escolha que o comandante da Força Aérea tiver feito.
Esqueçamos nossas diferenças, nossos conceitos, nossas concepções etc. Não podemos fazer como alguns ainda hoje fazem ao se manifestarem contra determinados projetos, décadas depois de eles terem sido implantados na Força. O que fazer com eles – jogar fora?
Em verdade nem sei muito bem por que estou escrevendo tudo isso uma vez que estou na reserva, sou página virada, em nada contribuo e quando ele se tornar público, daqueles poucos que me questionaram a respeito, a decisão já terá sido tomada e ele pouco ou nada ajudará no processo. De qualquer forma, em respeito a esses amigos, fica registrado aqui o que penso em relação ao assunto; pode ser que no futuro, ele possa servir para alguma coisa!
Um forte abraço e até o FX-3!!!!

Brig R1 Teomar Fonseca Quírico
21 de outubro de 2009

1780) Enquanto isso, no outro Forum, o capitalista...

Primeiro a nota:

Lula vai criticar ricos em Davos
Coluna diária de Luis Nassif, 28.01.2010

O Fórum Econômico Mundial será o palco em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá “jogar na cara dos países mais ricos" a crise financeira e o "abandono" do Haiti. “Se o mundo desenvolvido tivesse feito a lição de casa na economia, não teríamos tido crise”, disse, durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre. No fórum, Lula vai receber a primeira edição do prêmio de Estadista Global.

Agora dois pequenos comentários:
Paulo Roberto de Almeida
1) Se o mundo desenvolvido tivesse feito o seu "dever de casa", ou seja, equilibrar contas e diminuir os déficits, o mundo provavelmente não teria conhecido o extraordinário surto de crescimento que experimentou de 2002 a 2008, e o Brasil não teria sido beneficiado tremendamente com o aumento significativo de suas exportações (aliás, bem mais em valor do que em volume, e bem mais em commodities do que em manufaturados).
2) Não foi o mundo que abandonou o Haiti, foi o Haiti que "abandonou" o mundo, ou seja, se descolou em relação à evolução democrática e inserção na globalização da maior parte dos países. A culpa está com as elites haitianas, não com o mundo...

Addendum em 28.01.2010, 12hs: O PR Lula não foi a Davos, por razões médicas, mas isso não retira ou diminui nada do que foi dito ou escrito acima. Ou seja: ele pretendia dizer aquilo que foi resumido pelo Luis Nassif, e embalado como estava, provavelmente teria se excedido mais um pouco, dando lições de crescimento aos países desenvolvidos, criticando-os por não se entenderem, condenando banqueiros pela crise e, sobretudo, promovendo aquilo que já foi chamado de"Plano Lula para o Haiti". Pode-se, portanto, manter os comentários exatamente como foram escritos. E acrescento:
1. A despeito de seu baixo crescimento, os mercados dos países desenvolvidos, pelo seu tamanho, abertura e diversificação, constituem ainda oportunidades importantes para o comércio exterior brasileiro, posto que a China e outros emergentes tendem a importar bem mais produtos de baixo valor agregado.
2. O Haiti, com "Plano Lula" ou sem ele, continuará subdesenvolvido por décadas, até que suas elites possam fazer aquilo que normalmente elites dirigentes fazem: construir um Estado minimamente eficaz, inserir o país no mundo e viver de seus próprios recursos, sem tutela ou assistência internacional. O resto é conversa humanitária que pode até confortar as boas consciências mas que certamente não resolve o problema do Haiti, estruturalmente.

1779) FSM imaginario: nunca antes neste País...

Acho que nunca antes neste País alguém abusou tanto da tergiversação e da arte de iludir o próximo, no caso muitos "próximos" que adoram ser enganados, estão pedindo para serem mantidos na ilusão, querem continuar acreditando que esse mundo imaginário é possível.
Tudo é possível, sobretudo e principalmente a auto-ilusão...

O salvo-conduto de Lula
Editorial O Estado de S. Paulo, 28.01.2010

Se o mote do Fórum Social Mundial (FSM) é Outro mundo é possível, o do presidente Lula bem que poderia ser Todos os mundos são possíveis. Os políticos convencionais de qualquer latitude, como se sabe, estão sempre prontos para dar o dito pelo não dito ou para dizer uma coisa e fazer outra, tendo sempre pronta também uma alegação, ou enrolação, que justifique as suas guinadas. Às vezes, pega, às vezes, não - e, nesse caso, o zigue-zague será punido nas urnas. Com Lula é diferente. Decerto ele é o único líder democraticamente eleito da atualidade a desfrutar de uma espécie de salvo-conduto que lhe permite, diante dos mais diversos públicos, trafegar sem restrições pelos mundos da retórica, dizendo uma coisa e o seu contrário, construindo verdades de ocasião e exercendo, como já se apontou, o seu notável talento para a quase-lógica.

No devido tempo, os historiadores, sociólogos e cientistas do comportamento tratarão de dissecar as origens dessa imunidade adquirida pelo singular dirigente brasileiro e a sua consolidação nos anos recentes. Ao observador do cotidiano cabe registrar a desenvoltura com que Lula se entrega à sua arte e o deslumbramento das plateias que, a julgar por sua reação, devem se considerar privilegiadas pela oportunidade de assistir ao espetáculo. É o caso do show de 50 minutos que ele protagonizou anteontem para cerca de 7 mil embevecidos participantes da 10ª edição do Fórum Social Mundial, reunidos no Ginásio do Gigantinho, em Porto Alegre. Com exceção dos puros e duros do PSOL e de ajuntamentos como o PSTU, a esquerda superou com galhardia o desconforto que levou parte dela a vaiar o presidente no fórum de 2005 - quando rebentou o escândalo do mensalão.

A grande maioria comprou com indisfarçado alívio a teoria lulista de que tudo não passou de uma conspirata da mídia e da oposição para derrubá-lo do Planalto. Além disso, cada vez mais compreensiva com o seu ídolo, e tendo se despojado dos escrúpulos de consciência de outrora, não será agora que a esquerda irá cobrá-lo pelas profanas alianças que celebrou com figuras como o senador José Sarney e o ex-presidente Fernando Collor, de quem disse no fórum de 2003 ter perdido o mandato por roubalheira. Afinal, para tornar possível o outro mundo de suas aspirações, eis o raciocínio reconfortante, não raro é necessário compactuar com o que este tem de pior. Não se dizia que os fins justificam os meios- E não foi o próprio Lula quem disse que, se estivesse no Brasil, Cristo teria de se aliar a Judas?

Um dos mais formidáveis atributos do presidente é a sua sensibilidade para os públicos a que se dirige. Ele navega por eles de olhos fechados e chega onde quer - a intuição dispensando a bússola. Em Porto Alegre, como quem pede desculpas, mas fazendo jus astutamente à indulgência plena recebida, observou: Sabemos que há diferenças fundamentais entre o que um governante sonhou a vida inteira e o que conseguiu realizar. Deliciou ainda a audiência comparando o FSM com a sua abominada antítese, o Fórum Econômico de Davos. O fórum social, louvou, continua intacto depois de 10 anos. Já o outro não tem mais o glamour que eles achavam que tinha.

Com isso passou batido por um detalhe: amanhã, nesse santuário onde se cultua a exploração do homem pelo homem, Lula será contemplado com o prêmio Estadista Global de 2009. Nada que deva deixar estomagado o pessoal do outro mundo. O presidente aproveitará o momento para tornar a dizer algumas verdades aos loiros de olhos azuis que o homenagearão. Como antecipou o Planalto, defenderá a reforma do sistema financeiro, a conclusão da Rodada Doha de liberalização do comércio e uma reforma abrangente da ONU - codinome para a ambição por um assento permanente em um Conselho de Segurança ampliado. Assim como nenhum radical o censurou em Porto Alegre, nenhum adorador do mercado deixará de aplaudi-lo em Davos, quanto mais não seja por polidez.

O salvo-conduto com que Lula circula tem uma página que ele não cessa de abrir: a que o autoriza a fazer descarada campanha antes da hora para a sua candidata Dilma Rousseff, a Dilminha, como falou dela no FSM. Em 2011, palanqueou, no seu lugar estará uma pessoa com o mesmo compromisso e talvez com mais capacidade para anunciar ao País as coisas que têm que ser feitas daqui para a frente.

1778) Meu proximo "livro": um iPad...

Bem, ainda não assisti nenhuma apresentação específica, por falta de tempo, mas acho que "já comprei" este pequeno device que vai revolucionar minha maneira de trabalhar e de me comunicar (parece que falta apenas uma câmera, para fazer chat visual).
Em todo caso, vejamos por enquanto apenas esta matéria do NYTimes.

iPad Blurs Line Between Devices
By BRAD STONE
The New York Times, January 27, 2010

SAN FRANCISCO — After months of feverish speculation, Steven P. Jobs introduced Wednesday what Apple hopes will be the coolest device on the planet: a slender tablet computer called the iPad.
For all the hoopla surrounding it, however, the question is whether the iPad can achieve anything close to the success of the iPhone, which transformed the cellphone and forced the industry to race to catch up.

Apple is positioning the device, some versions of which will be available in March, as a pioneer in a new genre of computing, somewhere between a laptop and a smartphone. “The bar is pretty high,” Mr. Jobs acknowledged. “It has to be far better at doing some key things.”

Half an inch thick and weighing 1 1/2 pounds, the device will vividly display books, newspapers, Web sites and videos on a 9.7-inch glass touch screen. Giving media companies another way to sell content, it may herald a new era for publishing.

But the iPad, costing $499 to $829, also lacks some features common in laptops and phones, as technology enthusiasts were quick to point out. To its instant critics, it was little more than an oversize iPod Touch. A camera is notably absent, and Flash, the ubiquitous software that handles video and animation on the Web, does not work on the device.

Another thing missing is an alternative to the AT&T data network, which is already buckling under the strain of traffic to and from iPhones. Some versions of the iPad can, for a monthly fee, use a 3G data connection like cellphones, but the only carrier mentioned was AT&T.

The event, in typical Apple style, was tightly scripted and heavy on theatrics and hyperbole. But the success of the iPhone, and the hive of rumors and leaks surrounding the iPad, raised expectations and made this perhaps Mr. Jobs’s most highly anticipated product unveiling yet.

It was one that he clearly cared deeply about. Mr. Jobs, a consummate showman, presented the iPad to an enthusiastic crowd of around 800 employees, business partners and journalists, some of whom shoved their way in when the doors opened to grab the best seats. It was only his second public appearance since a leave of absence for health reasons last year.

Mr. Jobs posited that the iPad was the best device for certain kinds of computing, like browsing the Web, reading e-books and playing video.

The iPad “is so much more intimate than a laptop, and it’s so much more capable than a smartphone with its gorgeous screen,” he said in presenting the device to a crowd of journalists and Apple employees here. “It’s phenomenal to hold the Internet in your hands.”

One question Apple faces is whether there is enough room for another device in the cluttered lives of consumers.

“I think this will appeal to the Apple acolytes, but this is essentially just a really big iPod Touch,” said Charles Golvin, an analyst at Forrester Research, adding that he expected the iPad to mostly cannibalize the sales of other Apple products.

Mr. Golvin said book lovers would continue to opt for lighter, cheaper e-readers like the Amazon Kindle, while people looking for a small Web-ready computer would gravitate toward the budget laptops known as netbooks.

But other analysts say they have heard similar criticism before — once aimed at the iPhone, which has now been bought by more than 42 million people around the world. These believers say Apple’s judgment on the market is nearly infallible.

“The target audience is everyone,” said Michael Gartenberg, vice president for strategy and analysis at Interpret, a market research firm. “Apple does not build products for just the enthusiasts. It doesn’t build for the tens of thousands; it builds for the tens of millions.”

Apple says the iPad will run the 140,000 applications developed for the iPhone and the iPod Touch, but the company expects a new wave of programs tailored to the iPad.

One of the most significant applications for the iPad may be Apple’s own creation, called iBooks, an e-reading program that will connect to Apple’s new online e-bookstore.

Mr. Jobs said Apple so far had relationships with five major publishers — Hachette, Penguin, HarperCollins, Simon & Schuster and Macmillan — and was eager to make deals with others. Publishers will be able to charge $12.99 to $14.99 for most general fiction and nonfiction books.

Apple’s announcement that it was diving into the growing e-book business put the company on a collision course with Amazon. Mr. Jobs credited Amazon with pioneering e-readers with the Kindle but said “we are going to stand on their shoulders and go a little bit farther.”

John Doerr, a Silicon Valley venture capitalist who serves on Amazon’s board and is also an adviser to Apple, said there could be room for both companies, noting that Amazon sells many books to iPhone owners who use its Kindle application, which will also work on the iPad.

“I don’t think Jeff Bezos is going to leave the e-book business,” he said, referring to Amazon’s chief executive, “and I don’t think it will be confined to the Kindle.”

Three models of the iPad, $499 to $699, will connect to the Internet only via a local Wi-Fi connection. Three other versions will include 3G wireless access and will be available later in the spring, costing an additional $130 and requiring a data plan from AT&T. Owners of the iPhone who already pay at least $70 a month to AT&T will not be getting any breaks.

Other companies have sold tablet computers for years, but they never caught on with consumers. In 2001, Bill Gates predicted at an industry trade show that tablets would be the most popular form of PC sold in America within five years.

“The fact that he and Microsoft didn’t deliver is surprising,” said Tim Bajarin, a longtime industry analyst. “It has taken Apple to bring this to consumers and make it work.”

Apple has been working on a tablet computer for more than a decade, according to several former employees. Improved technology has helped the company to finally bring a model to market, as has the ubiquity of wireless networks.

The success of the iPhone and its cousin, the iPod Touch, have shown a path for tablets. People have been willing to pay to customize those devices with applications, turning them into video game machines, compasses, city guides and e-book readers.

The iPad will be a big opportunity for software developers, said Raven Zachary, president of Small Society, an iPhone development company based in Portland, Ore. “Although I think some of us were a bit surprised we only have 60 days until it launches to develop for it.”

Jenna Wortham contributed reporting from New York.

Slide show

1777) A piada do ano de 2009 (demorou mas saiu...)

Bem, eu estava com dificuldades para selecionar a piada do ano de 2009, para encerrar o ano com um toque de humor (ou talvez de desespero). Passei semanas tentando selecionar algum evento, processo, discurso que simbolizasse, da melhor forma possível, a coisa mais engraçada que possa ter acontecido em 2009. Foi realmente duro, não porque faltassem exemplos, mas porque, consoante o espírito deste blog, eu precisava encontrar algo que se situasse no âmbito de minhas preocupações cidadãs e intelectuais. Então, tinha de ser uma piada política e relativa às relações internacionais.

Ok, todo mundo sabe, que comemoramos, em 2009, os 20 anos da queda do muro de Berlim. Eu aliás escrevi um trabalho (neste link), no qual recuso o substantivo queda, preferindo em seu lugar o de derrubada. Pois bem, encontrei a minha piada do ano de 2009. Está aqui"

Queda do Muro de Berlim: a piada de 2009 por um jornalista brasileiro (órfão do socialismo, viuvo do marxismo, por sinal)


"Nunca houve socialismo na Alemanha, nem na URSS", diz jornalista que cobriu a queda do muro
Guilherme Balza
Do UOL Notícias
Em São Paulo, 05/11/2009 - 07h00

Transcrevo o início e alguns trechos selecionados desta matéria, onde estão os trechos que considero uma piada (do contrário eu seria obrigado a gozar da cara desse jornalista, o que ainda posso fazer). Quem desejar ler a matéria completa, clique no link acima indicado, na data.
Aliás, o jornalista saudoso do socialismo, e que continua marxista, hoje é professor, contribuindo, portanto, para deformar um pouco mais seus jovens alunos.

"O jornalista José Arbex Jr, 52, era o único brasileiro dentre os mais de 300 correspondentes internacionais que acompanhavam a entrevista coletiva dada por Günter Schabowski, porta-voz do Partido Comunista Alemão, no dia 9 de novembro de 1989, após um congresso que reuniu PCs de toda a Europa."

"Vinte anos após o evento, na avaliação do jornalista, hoje docente no departamento de jornalismo da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), a queda do muro representou o fim do stalinismo, e não do socialismo. Aliás, para Arbex, nunca houve socialismo na Alemanha Oriental, nem na URSS."

"Sempre houve um investimento em transformar Berlim Ocidental em uma vitrine. De um lado [o oriental] havia os Trabant, um carro minúsculo, feio. Do outro lado, várias Mercedes, centros culturais, entre outros. O capitalismo transformou o lado ocidental em uma vitrine, o que despertou uma ilusão na juventude. Vou fazer uma analogia: quando estava em Moscou, em janeiro de 1990, foi inaugurada uma loja do McDonald's em plena praça Vermelha. Milhares de pessoas ficaram uma hora e meia na fila, sob uma temperatura de -20ºC, para comer um lanche. Aquilo era um símbolo."

"A pior contribuição da queda do muro foi desmoralizar uma ideia, uma proposta, que é o socialismo. As pessoas, em geral, ficaram com a ideia que o socialismo fracassou, mas o que elas não sabem é que nunca houve socialismo na Alemanha, nem na URSS. O que havia era um regime autoritário, controlado pelo Estado, com um retórica marxista, socialista, mas sustentado por ditaduras corruptas, partidos únicos, algo que talvez pudéssemos chamar de "capitalismo de Estado"."

"As pessoas acreditaram no capitalismo, mas hoje são um bilhão de famintos. Existe um desejo de o mundo ser transformado, mas a queda do muro e a frustração posterior com os rumos do capitalismo deixaram um legado de desilusão. E isso é a pior coisa que poderia ter acontecido."

"Eu não acho que a esquerda deveria ter defendido o regime da Alemanha Oriental, corrupto, truculento... Eu jamais defenderia um regime desses, mas, por outro lado, querendo ou não, a derrota desse regime acabou sendo a derrota da perspectiva socialista. A imensa maioria da população mundial acha que o socialismo é uma grande porcaria, e isso é uma derrota. Por outro lado, 20 anos depois, está provado que o capitalismo não oferece mais saída. É um sistema que não é capaz de alimentar os seres humanos, que está falido. Nesse sentido a tarefa hoje está mais fácil. O capitalismo conduz à miséria, fome, degradação ambiental, desemprego, recessão... Uma série de dados nos mostram que o capitalismo está num impasse."

PRA: Bem, ao ler estes dois trechos finais da matéria com esse jornalista detrator do capitalismo e saudoso, ou desejoso de um socialismo "verdadeiro", eu só tenho duas atitudes possíveis:
1) Considerá-lo um energúnemo completo, um exemplo de cidadão que, mesmo tendo tido uma experiência direta e conhecido os socialismos reais, não aprendeu absolutamente nada, ou melhor pretende ignorar o mundo real, e continuar a viver de fantasias; nesse sentido, ele pode ser considerado um energúnemo, pois nem ignorante ele é;
2) Considerar que suas colocações constituem a piada do ano de 2009.

Como não pretendo ofender um colega hoje acadêmico -- mas acho que já ofendi -- prefiro a segunda hipótese.

Esta é a minha piada do ano de 2009.

Paulo Roberto de Almeida (28.02.2010)

1776) FSM, dia 2: piada ou falta de alternativas?

Bem, sinceramente não sei como classificar esta entrevista (abaixo) de um dos gurus -- eu nunca o chamaria de intelequitual -- do Forum Social Mundial. Quero dizer, classificar eu sei: na classe das embromações continuadas, of course.
Mas quero dizer que não sei exatamente qual a categoria de embromação: piada ou confissão? Provavelmente nas duas categorias. Vejamos:

1) There is No Alternative
Ele, por um lado confessou que o FSM não tem alternativas e não sabe bem como, qual, enfim, que tipo de "outro mundo possível" oferecer; os altermundialistas sequer conseguem desenhar o contorno. Eis o que esse guru disse, exatamente:
"Agora o Fórum tem de mostrar alternativas", afirma. "A denúncia vale, mas é para mostrar um diagnóstico. A denúncia da crise não foi acompanhada no FSM de Belém por alternativas, quem esteve lá não saiu armado. não quero que tenha uma, quero que tenham várias alternativas.
Inclusive há uma coisa catastrofista: o neoliberalismo acabou. Não é verdade. A crise é oportunidade, mas oportunidade pra eles também. Estamos dando tempo e espaço pra eles se recomporem. Então eu acho que pra ser coerente com esse diagnóstico, que se revelou correto, o Fórum não deve ser apenas diagnóstico e intercâmbio. O fórum tem que ter alternativa. Qual é o Estado que queremos?
"

Portanto, não sou eu que estou dizendo que eles não tem NENHUMA alternativa possível, é o próprio guru do movimento. Dixit!

2) Eis finalmente, a grande alternativa: a Bolívia
Eis o que disse o guru:
O sociólogo cita a Bolívia como exemplo de "outro mundo possível". "Isso o FSM não toma conhecimento. Se não for o que está acontecendo na Bolívia, eu não sei que outro mundo é possível".

OK, OK, então já temos alternativa, mas por outro lado o FSM não consegue definir alternativas, entenderam?
Eu não...
Paulo Roberto de Almeida (27.01.2010)
Bem, fiquem agora com esse horror de entrevista...

Idealizador do Fórum defende papel secundário para ONGs
Jair Stangler, do estadao.com.br, 27.01.2010

Sociólogo Emir Sader acha que organizações deveriam deixar protagonismo para os movimentos sociais
Para Sader, são os movimentos, e não as ONGs, que levam as pessoas para as manifestações

PORTO ALEGRE - O sociólogo Emir Sader, professor aposentado da USP e um dos idealizadores do Fórum Social Mundial, expôs uma divisão entre os movimentos sociais e as organizações não-governamentais (ONGs). Ele conversou com jornalistas após participar de uma das mesas de discussões na manhã desta terça-feira, 26, em Porto Alegre.

"A particularidade do Fórum é ter movimentos sociais. As ONGs têm papel secundário, que é de ajudar os movimentos sociais a se organizar. Tem que abrir caminho. Mas não. O comitê organizador do FSM, essas pessoas que estão aí desde o início, são de oito
organizações, e seis são ONGs! É tão sem representatividade que tem uma lá que é Abong, Associação Brasileira de ONGs. Usurpam o espaço não havia espaço para os movimentos sociais. Mas agora eu acho que eles deveriam se retirar do primeiro plano e ajudar os movimentos sociais a protagonizarem", afirmou.

Sader disse apreciar a atitude de solidariedade das ONGs, mas criticou a limitação delas ao intercâmbio: "Então acabou o evento e vamos todos pra casa, enriquecidos ou não. Mas a realidade está pedindo outras propostas. Nós podemos estabelecer propostas consensuais, como a regulamentação do capital financeiro, a água como bem público. A vida das ONGs não está ruim, tem financiamento. Mas quantas pessoas as ONGs
levam na marcha?", questiona.
Para ele, essa postura das ONGs acaba limitando a ação do Fórum.
"Agora o Fórum tem de mostrar alternativas", afirma. "A denúncia vale, mas é para mostrar um diagnóstico. A denúncia da crise não foi acompanhada no FSM de Belém por alternativas, quem esteve lá não saiu armado. não quero que tenha uma, quero que tenham várias alternativas.
Inclusive há uma coisa catastrofista: o neoliberalismo acabou. Não é verdade. A crise é oportunidade, mas oportunidade pra eles também. Estamos dando tempo e espaço pra eles se recomporem. Então eu acho que pra ser coerente com esse diagnóstico, que se revelou correto, o Fórum não deve ser apenas diagnóstico e intercâmbio. O fórum tem que ter alternativa. Qual é o Estado que queremos?"

O sociólogo cita a Bolívia como exemplo de "outro mundo possível". "Isso o FSM não toma conhecimento. Se não for o que está acontecendo na Bolívia, eu não sei que outro mundo é possível".

Sader criticou também que o Fórum ainda não tenha criado um canal de comunicação mais eficiente. "Nós não temos uma cadeia de televisão! Pela internet, que seja."

Governo Lula
"Eu preferia que Lula não fosse a Davos", diz Sader. Mas ele vem ao Fórum como o primeiro presidente que está levando a cabo uma política externa independente, um presidente que pela primeira vez reduziu a desigualdade no Brasil. O FHC esteve oito anos lá, com toda a imprensa a favor dele, o queridinho da mídia... Quebrou o País três vezes e tinha uma política externa subalterna aos EUA. O governo Lula em tudo é melhor. Por isso que a oposição não gosta da comparação. Não gostam do filme Lula, façam um filme do FHC..."
Ele classificou ainda como "simplistas" algumas afirmações sobre a preservação do meio ambiente. "Isto deveria estar no centro do Fórum: um modelo de desenvolvimento com sustentabilidade ecológica e social. O governo Lula não é nenhuma maravilha, mas diminui a desigualdade social. A discussão das políticas sociais deveria estar no centro do debate".

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

1775) Von Mises (1938) - A Planned Economy

What Price a Planned Economy?
by Friedrich A. Hayek
Contemporary Review of London, April 1938

I

The link between classical liberalism and present-day Socialism — often still misnamed liberalism — is undoubtedly the belief that the consummation of individual freedom requires relief from the most pressing economic cares. If this seems attainable only at the price of restricting freedom in economic activity, then that price must be paid; and it may be conceded that most of those who want to restrict private initiative in economic life do so in the hope of creating more freedom in spheres which they value higher.

So successfully has the socialist ideal of freedom — social, economic and political been preached that the old cry of the opponents that socialism means slavery has been completely silenced. Probably the great majority of the socialist intellectuals regard themselves as the true upholders of the great tradition of intellectual and cultural liberty against that threatening monster — the authoritarian Leviathan.

Yet here and there, in the writings of some of the more independent minds of our time who have generally welcomed the universal trend toward collectivism, a note of disquiet can be discerned. The question has forced itself upon them whether some of the shocking developments of the past decades may not be the necessary outcome of the tendencies which they had themselves favored.

There are some elements in the present situation which strongly suggest that this may be so, such as the intellectual past of the authoritarian leaders, and the fact that many of the more advanced socialists openly admit that the attainment of their ends is not possible without a thorough curtailment of individual liberty.

We see that the similarity between many of the most characteristic features of the "fascist" and the "communist" regimes becomes steadily more obvious. Nor is it an accident that in the fascist states a socialist is often regarded as a potential recruit, while the liberal of the old school is recognized as the arch-enemy.

(See the complete text in this link)

1774) FSM, dia 2: piadas involuntarias...

Eu já estava mesmo sentindo falta de alguma piada no Forum Social Mundial. Talvez seus participantes estivessem mais contidos, sei lá, com tantas tragédias, aqui e ali.
Mas alguns desses piadistas involuntários do FSM não se esquecem também da necessidade de rir um pouco e não nos deixam sem uma oportunidade para tal.
Vejamos o que eu coletei na imprensa diária:

A esquerda e a crise do capitalismo
Na avaliação de ativistas do movimento altermundista, nem governos nem movimentos populares apresentaram alternativas concretas à ultima crise sistêmica do capital, perdendo uma oportunidade histórica para, de fato, superá-lo. Buscar essas respostas é mais um desafio colocado para o Fórum Social Mundial. Para o venezuelano Edgardo Lander, "o capitalismo, como sistema global, é incompatível com a preservação da vida". Quem quiser discutir superação do capitalismo sem discutir o Estado que queremos estará girando em falso. A resistência eterna é o caminho da derrota", diz Emir Sader.

David Harvey defende transição anti-capitalista
Após a derrocada da União Soviética e dos regimes socialistas do Leste Europeu, e a queda do Muro de Berlim, falar em anti-capitalismo tornou-se proibido. O comunismo fracassou, o capitalismo triunfou e não se fala mais no assunto: essa mensagem cruzou o planeta adquirindo ares de senso comum. Mas os muros do capitalismo seguiram em pé e crescendo. E excluindo, produzindo crises, pobreza, fome, destruição ambiental e guerra. Para David Harvey, o capitalismo entrou em uma fase destrutiva que recoloca a necessidade de se voltar a falar de anti-capitalismo, socialismo e comunismo.

Boletim Carta Maior, 27 de Janeiro de 2010

Retomo (PRA):
1) O venezuelano, por exemplo, acha que "o capitalismo, como sistema global, é incompatível com a preservação da vida".
Puxa vida, tem tanta gente que vive sob o capitalismo e não sabe disso.
A população sob o jugo do capitalismo aumentou muito, inclusive, com a implosão dos socialismos reais, um sistema totalmente compativel com a preservacao da vida, como se pode constatar em Cuba, na Coréia do Norte, e quem sabe até na propria Venezuela...

2) O inglês (ele também pode ser americano, mas é mais fácil achar true believers na Inglaterra) acredita que o capitalismo destruidor precisa novamente ser substituido por sistemas anti-capitalistas, aqueles velhos conhecidos: socialismo, comunismo....
Que gracinha... Ele deve ter hibernado nos últimos 40 ou 50 anos...
Nao o acordem, por favor...

Minha dose de riso diário está completa, por hoje.
Vamos ver o que nos reserva como piada o FSM amanhã...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
(27.01.2010)

1773) Um suposto post sobre uma suposta materia sobre uma suposta presuncao...

Confesso que estou ficando cansado de tantos supostos, no jornalismo e na política do Brasil.
Hoje, eu ouvi um jornalista que falava da corrupção no Governo do Distrito Federal, e confesso que o "suposto" preencheu a minha cota de supostos pelo resto do ano, e observem que estamos ouvindo "supostos" já faz um bocado de tempo, desde que o atual ciclo de corrupção começou no presente governo.
O jornalista disse que havia um "suposto dinheiro de propina paga" a não sei mais quem...

Como "suposto dinheiro"? O dinheiro era real, a propina, segundo o jornalista, é que era suposta, até prova em contrário, ou para falar a língua dos tribunais: "sentença transitada em julgado".

Essa hipocrisia do suposto ainda vai me levar a escrever um mini-tratado das suposições, ou pelo menos uma crônica irônica (rimou, mas foi involuntário) a respeito.

Algo do gênero:

Um suposto diplomata escreve, supostamente, obras de relações internacionais, talvez supostas

Um suposto personagem, que supostamente ingressou numa suposta carreira diplomática por suposto concurso, vem escrevendo, supostamente, supostos trabalhos que pretendem ser, supostamente, de relações internacionais e até mesmo de uma suposta política externa brasileira, que se supõe existir num suposto governo de um suposto Grande Líder.
Ele mantem um suposto blog e um suposto site, onde divulga trabalhos que são supostamente seus, supostamente para informar (alguns diriam para supostamente seduzir) supostos estudantes que fazem de conta que estão estudando, supostamente, claro.
Não se deve, no entanto, levar muito a sério seus supostos trabalhos, que são todos supostamente escritos de boa-fé, mas tampouco se pode excluir uma suposta motivação menos nobre, supostamente feita para confortar seu ego, que supostamente faz parte de suas supostas más-intenções.

Ele supostamente se despede, prometendo retomar trabalhos supostamente mais sérios quando supostamente deixar de apresentar cacoetes de linguagem deste tipo.

Paulo Roberto de Almeida (supostamente em 27.01.2010)

1772) Haiti: feliz o pais que tem amigos ricos e poderosos...

Amorim anuncia ajuda do Brasil ao Haiti superior a R$ 375 milhões
Boletim do PT na Câmara, 27.01.2010

O governo brasileiro reiterou na última segunda-feira (25), em reunião internacional realizada no Canadá, a intenção de ajudar o Haiti com mais de R$ 375 milhões em doações, obras e custeio das tropas que mantém naquele país, devastado por um terremoto no dia 12. O anúncio foi feito pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, durante encontro com o primeiro-ministro haitiano, Jean Max Bellerive; a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton; o chanceler francês, Bernard Kouchner, e representantes da Argentina, Chile, Costa Rica, Espanha, Japão, México, Peru e Uruguai.

Amorim disse, em discurso, que o presidente Lula da Silva determinou a doação de US$ 15 milhões ao Haiti, a título de ajuda humanitária emergencial, dos quais US$ 5 milhões foram repassados à ONU e os outros US$ 10 milhões serão repassados nos próximos dias. “Mas isso é apenas uma fração da ajuda que o Brasil está estendendo aos haitianos, em alimentos, água, remédios, equipes de resgate, hospitais de campanha, máquinas para a remoção de entulhos e abertura de vias, entre outros itens”, afirmou o chanceler, para logo informar que o pacote total de ajuda proposto ao Congresso chega a R$ 375 milhões de reais – cerca de US$ 210 milhões.

“Esse valor inclui as doações, os gastos das forças militares com atividades diretamente relacionadas à assistência humanitária no Haiti, e a construção de dez unidades de saúde em território haitiano. Trata-se do maior pacote de ajuda internacional já prestado pelo Brasil, e de um montante muito significativo para um país em desenvolvimento como o nosso.”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou na semana passada uma medida provisória (MP) em que destina R$ 375 milhões aos ministérios da Defesa, Relações Exteriores e Saúde, para diversas ações de socorro ao Haiti. Dos R$ 375 milhões para o Haiti, R$ 205 milhões serão destinados ao Ministério da Defesa; R$ 135 milhões para a construção de dez unidades de pronto atendimento médico de 24 horas; e R$ 35 milhões para o Ministério das Relações Exteriores, para reforço à embaixada brasileira. O Itamaraty abriu uma conta corrente para o depósito de doações. A conta número 85.000-4, agência Itamaraty (1503-2) do Banco do Brasil (001), em nome do Ministério das Relações Exteriores - Ajud Humanitária ao Haiti.

1771) Crescimento economico do Brasil - excesso de otimismo?


Brasil será a 5ª economia do mundo em 2013, diz estudo

O Brasil será a quinta maior economia do mundo já em 2013, pelos cálculos da PricewaterhouseCoopers, divulgados na última quinta-feira, em Londres. Até lá, o País terá ultrapassado gigantes como Alemanha, Reino Unido e França. Os prognósticos econômicos indicam ainda que até 2020 o Produto Interno Bruto (PIB) do grupo de sete maiores emergentes – chamado E-7 e formado por China, Índia, Brasil, Rússia, México, Indonésia e Turquia – será maior do que o do G-7. Cinco das 10 maiores economias, até 2030, serão países hoje tidos como emergentes.

O relatório leva em consideração o ritmo de crescimento e a valorização média das moedas de cada país para traçar perspectivas de médio e longo prazos. Para a PriceewaterhouseCoopers, E-7 e G-7 terão pesos equivalentes por volta de 2019. A diferença de riquezas vem caindo – em 2000, o PIB dos sete países mais ricos do mundo era o dobro dos países hoje considerados emergentes pela consultoria – e, este ano, deve sofrer sua maior redução: 35%.

Após a ultrapassagem, a distância seguirá aumentando: em 2030, o E-7 será 30% mais rico que Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália (G-7).

“Em 2030, nossas projeções sugerem que o top 10 global do ranking de PIB terá a liderança da China, seguida dos Estados Unidos, Índia, Japão, Brasil, Rússia, Alemanha, México, França e Reino Unido”, afirmou o relatório, assinado pelo diretor de Macroeconomia da PwC, John Hawksworth. Nesse horizonte, as 10 maiores economias serão, pela ordem: China, Estados Unidos, Índia, Japão, Brasil, Rússia, Alemanha, México, França e Reino Unido. Entre os reposicionamentos, três chamam mais atenção: a China, que ultrapassa os EUA, a Índia, superando o Japão, e o Brasil deixando para trás todos os gigantes europeus. Outra constatação do estudo é que a economia indiana crescerá mais rápido que a chinesa na década de 20 “A influência do E-7 já é enorme e esta análise mostra que a questão não é se o E-7 ultrapassará o G-7, mas quando”, explicou Ian Powell, economista da PwC.

Para Powell, as mudanças econômicas já resultam em uma nova geopolítica. “O G-7 já foi expandido para G-20 como o fórum-chave para decisões de economia global.” De acordo com a PwC, o Brasil contará com o crescimento e a exposição internacionais obtidas com a Copa do Mundo de 2014 e com a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro. Já a Rússia conta com superpoderes na área de energia e a Índia, graças a seu crescimento demográfico, passará a crescer mais que a China.

As estimativas da PwC são ainda mais otimistas sobre a performance dos países em desenvolvimento do que as feitas por Jim O”Neill, chefe de pesquisa em Economia Global do banco de investimentos americano Goldman Sachs e autor do acrônimo Bric, sigla com a qual destacou a emergência de Brasil, Rússia, Índia e China na década passada.

Segundo O”Neill afirmara em novembro do ano passado, a China superará os Estados Unidos em 2027. Sua previsão anterior, feita há sete anos, indicava que a ultrapassagem aconteceria em 2041.

=========

Minha opinião é a de que essas previsões pecam por excesso de otimismo. PRA.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

1770) FSM, dia 2: movimentos sociais apoiam Chavez

Bem, acho que ninguém esperava outra coisa. Apenas transcrevo, sem nenhum comentário.
Certos personagens, o principal e o secundário, não merecem sequer uma única letra digitada...

Movimientos apoyan a Chávez en Foro Social Mundial
26 de Enero de 2010, 01:49pm ET

PORTO ALEGRE, Brasil, 26 Ene 2010 (AFP) -
Pocas críticas y mucho apoyo consiguió este martes el presidente venezolano, Hugo Chávez, en el Foro Social Mundial, el mayor evento de la sociedad civil antineoliberal, reunido en la ciudad de Porto Alegre (sur de Brasil) y acostumbrado a recibir con los brazos abiertos a presidentes izquierdistas de la región.

La reciente polémica por la salida del aire en Venezuela de la televisora RCTV Internacional, muy crítica con el gobierno, y la de otras cinco pequeñas emisoras por un supuesto incumplimiento de una ley que entre otras cosas determina la difusión obligatoria de los discursos a la nación de Chávez, llegó a oídos del Foro.

"La relación de los medios con Chávez no es democrática, viven criticando, En cambio, creo que Chávez está intentando una democratización de los medios, que son oligopolios familiares", declaró a la AFP el sociólogo brasileño Emir Sader.

El sociólogo recordó que Chávez ha sido un tradicional participante de las reuniones del Foro Social Mundial, siempre bien recibido por los altermundialistas.

"Entendemos bien a Chávez, porque en Argentina tenemos un problema muy grande con los medios, que crean un clima destituyente. Una frase popular dice que son suficientes diez tapas de (el diario) Clarín para hacer caer un gobierno", declaró el médico y activista argentino Horacio Barri.

"Creo que algunos servicios son bienes públicos. Si RCTV no respetó las reglas, Chávez hizo bien en cancelarle la señal, qué pena que otros presidentes no tengan ese coraje", expresó el brasileño Luis Bernardo Bieber, funcionario público llegado al foro de Brasilia.

En cambio, la activista italiana Rafaella Bollini, de la Associacione di Promozione Soziale, lo criticó: "Respeto profundamente la dinámica de cambio en América Latina, pero si los gobiernos progresistas no son capaces de conectar las dinámicas de cambio con los derechos humanos y democráticos, no podrán construir ese cambio. Estoy en contra del cierre de canales televisivos".

1769) Honduras: fim de crise (talvez...)

HONDURAS!
Ex-Blog do Cesar Maia
26 de janeiro de 2010

1. Hoje é véspera da posse do novo presidente de Honduras, Pepe Lobo. Nesses sete meses, o chavismo recebeu o primeiro contragolpe de resistência democrática. Frustrou-se a tentativa de atropelar a constituição hondurenha e impor a reeleição de um presidente que havia perdido o controle de si mesmo, na medida em que se submetia a sua ministra de relações exteriores, Patricia Rodas, ideologicamente e pessoalmente. A ordem de prender o presidente golpista foi transformada por um general em exílio. Por quê?

2. Honduras, em toda a sua história, desde a União Centro-Americana de 1822, passando por sua autonomia em 1838, sempre viveu um quadro de instabilidade política até os anos 1980. Mas diferente dos demais países centro-americanos (Nicarágua, Guatemala e El Salvador), esta instabilidade e os golpes se davam internamente às elites e sem guerra civil, sem derramamento de sangue. As guerrilhas dos anos 70/80 naqueles países não se repetiram em Honduras.

3. Zelaya e Chávez levaram Honduras à Alba em praça pública, em Tegucigalpa, em 2008. As pesquisas indicavam que Zelaya contava com um apoio relativo de opinião pública nos segmentos mais populares movidos a golpes de demagogia. Quando Zelaya, orientado por Chávez, provocou o confronto, não contava que os números das pesquisas não iriam se transformar em mobilização popular. Interessante é que alguns generais e líderes políticos e empresariais acreditavam que Zelaya produziria aquela mobilização.

4. Chávez enviou muito dinheiro paralelo, militantes profissionais e armas. O presidente da Câmara de Deputados, Micheletti, pagou para ver e nada ou quase nada ocorreu, mantendo a tradição pacifista do hondurenho. Até a comunidade internacional (OEA, EUA, UE) acreditava na capacidade de confronto dos zelayistas-chavistas. Erraram. A resistência democrática num pequeno país contra todo esse envolvimento internacional foi exemplar.

5. Chegou-se às eleições gerais de Presidente, deputados, prefeitos e vereadores, de forma tranquila e com uma participação bem maior que na eleição anterior, desmistificando a proposta de não comparecimento às urnas, com eleições claras e limpas. O resultado é que Honduras ganhou um destaque por sua firmeza e se destacou de seus pares centro-americanos, onde a instabilidade e a insegurança jurídica projetam incertezas. Com isso, a atratividade econômica de Honduras -paradoxalmente- cresceu e passou a ser um espaço importante para os investimentos internacionais. A aposta em Honduras é ganho certo daqui para frente.

6. Pepe Lobo tem tido a humildade, como vencedor incontestável, de chamar a todos para a participação num governo de conciliação. Assume com esta presença e liderança. Honduras e a democracia latino-americana venceram e derrotaram o chavismo.

7. E Lula expôs a diplomacia brasileira a seu maior vexame -quem sabe único vexame- em nossa história de país independente.

1768) As multinacionais brasileiras

As multinacionais brasileiras
O Estado de S. Paulo - 26/01/2010
EDITORIAL

Se a valorização da moeda nacional em relação ao dólar dificulta as exportações das empresas instaladas no Brasil, de outra parte o real forte lhes dá mais cacife para aquisição do controle de companhias estrangeiras, participação em seu capital ou fusão com algumas de suas unidades, além de instalação de subsidiárias. Por exemplo, dois grandes grupos nacionais, a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) e a Camargo Corrêa, estão disputando a aquisição do controle ou fusão de uma de suas unidades com a portuguesa Cimpor, que opera em 13 países, inclusive no Brasil.

O negócio em perspectiva chama a atenção do mercado, mas não é extraordinário. Existem hoje dezenas de empresas brasileiras com braços no exterior, que podem ser consideradas como autênticas multinacionais. Essa evolução, sem dúvida, tem sido possibilitada pelos bons fundamentos da economia, pela vitalidade do mercado de capitais e pela boa reputação de empresas originárias do País.

Não se pode dizer que tais empresas, em sua maioria, sejam de capital puramente nacional, já que às vezes estão associadas a companhias internacionais ou, como as inscritas no Novo Mercado da BM&F Bovespa, têm papéis negociados na Bolsa de Nova York.

Pode-se dizer que a expansão das empresas brasileiras no exterior é uma contrapartida dos investimentos estrangeiros diretos (IEDs) que têm afluído ao Brasil em volumes cada vez maiores. Segundo as estimativas correntes, os IEDs devem ter alcançado US$ 28 bilhões em 2009 (o total líquido até novembro era de US$ 26,68 bilhões, segundo o Banco Central - BC). Estima o mercado que os IEDs somem US$ 37,5 bilhões este ano, podendo superar a casa de US$ 40 bilhões.

Uma boa parte desse dinheiro ingressa no País para a compra ou associação com indústrias manufatureiras, agroindústrias e empresas de serviço. O inverso também ocorre, ou seja, empresas do Brasil estão indo às compras no exterior. Dados do BC indicam saídas de investimentos diretos brasileiros de US$ 6,58 bilhões em 2009 (até novembro), total que pode aumentar bastante com a recuperação da economia mundial.

Ainda que o real possa vir a ter uma desvalorização moderada, não parece provável que esse movimento arrefeça. Muitas vezes, a internacionalização das empresas resulta de circunstâncias específicas. No caso de indústrias siderúrgicas, essa foi a válvula de escape para exportar para o mercado americano produtos semiacabados de aço, que são transformados por usinas adquiridas naquele país. Há também empresas que instalaram unidades em países que mantêm acordos comerciais com os EUA para facilitar o ingresso de seus produtos no mercado americano.

A necessidade de diversificar mercados ditou a expansão de empresas brasileiras em países da América Latina, da União Europeia (UE), do Oriente Médio, da África, do sudeste Asiático e da China. No caso do Mercosul, foram criadas condições mais favoráveis à integração por meio de binacionais ou associadas. Contudo, o que se nota hoje não é um processo condicionado apenas pelo comércio exterior. Há também a busca de oportunidades lucrativas nos quatro cantos do mundo.

Não se trata também de buscar mão de obra mais barata em outros países. A expansão é motivada, principalmente, pela necessidade de ganhar escala e, assim, poder competir melhor, de várias formas, ampliando e diversificando atividades. Além disso, atuando na arena internacional, as empresas aprendem muito, reforçam seu capital humano, aperfeiçoam técnicas de gerência e criam meios para absorver novas tecnologias.

Grandes empresas e até mesmo as de porte médio não podem, conforme sua área de atividade, ficar na dependência exclusiva do mercado doméstico, onde também enfrentam concorrentes transnacionais. Elas são empurradas para o exterior até para tentar firmar-se entre os "players" de expressão.

A ativação de negócios no exterior pelas multinacionais brasileiras atesta o grau de desenvolvimento capitalista do País.

1767) Presidente do Chile quer acordo nacional

A pior coisa que acontece na política de um país é o sectarismo de certos partidos. Em lugar de examinar uma política de acordos baseados em programas e realizações projetadas, alguns se refugiam na recusa principista, que é uma recusa ao diálogo em favor do país, apenas para satisfazer orgulhos feridos ou

Piñera chama oposição para fazer no Chile governo baseado em política de acordos
25/01/2010

Uma semana depois de eleito presidente do Chile, Miguel Sebastián Piñera, da coligação Alianza, apelou para que a oposição, derrotada no último dia 17, participe de um governo de coalizão em favor dos chilenos. A oposição é liderada pela Concertación, coligação da atual presidente Michelle Bachelet, cujo candidato, o senador e ex-presidente Eduardo Frei, perdeu para Piñera.

O presidente eleito, que defende uma "política de acordos", fez o apelo baseado em uma experiência anterior no Chile: eleito em 1989, depois de 17 anos de gestão do ditador Augusto Pinochet, Patricio Alwin, da Concertación, buscou unir as forças políticas em torno de ações comuns.

Segundo Piñera, apenas uma "política de acordos" será capaz de tirar o Chile da lista de países subdesenvolvidos e incluí-lo na relação dos desenvolvidos e sem pobreza. "Hoje queremos uma democracia de acordos para transitar de um país subdesenvolvido, com muitas desigualdades, a um país desenvolvido e sem pobreza. E assim chamamos a reviver a democracia dos acordos", disse ele.

No entanto, o chamamento de Piñera pode não surtir os efeitos desejados. O presidente do Partido Comunista e deputado eleito, Guillermo Teillier, pediu aos partidos que integram a oposição a Piñera que se unam em uma frente "ampla e firme" contra o futuro governo. (fonte: Agência Brasil)