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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 10 de novembro de 2024

Muro de Berlim: o retrato de uma época, de um mundo dividido - Paulo Roberto de Almeida

Muro de Berlim: o retrato de uma época, de um mundo dividido 

(continua dividido, não na economia, mas na política)


Paulo Roberto de Almeida


10 de novembro de 1989: estávamos ainda na Suíça, Carmen Lícia e eu, com nossos dois filhos, acompanhando por todos os canais de TV a derrocada do muro de Berlim (simbolicamente) em face da pressão da população da RDA por simples liberdade de movimento entre um lado e outro de uma “cortina de ferro” já esgarçada pelas iniciativas reformistas de Mikhail Gorbatchev, o burocrata russo que tentou salvar o comunismo soviético de si próprio. 

Não conseguiu, mas mereceu o Prêmio Nobel que lhe foi concedido mais tarde, por ter se recusado a reprimir pela força os impulsos liberalizantes dos povos dos países dominados e oprimidos pela até então totalitária URSS.

Francis Fukuyama já tinha publicado em junho de 1989 — ANTES, portanto, da “queda” do muro — seu famoso artigo sobre o “fim da História”, não premonitório, pois que nele sequer antevia o fim do comunismo ou o desaparecimento do império soviético,  apenas o fim das alternativas credíveis ou práticas às democracias de mercado.

Estava totalmente certo quanto aos sistemas de mercado — já em vigor na China de Deng desde 10 anos —, mas foi otimista demais quanto aos sistemas democráticos. 

A Rússia profunda NUNCA abandonou seus instintos totalitários, pois que Gorbachev, o estadista que tentou torná-la uma “democracia normal”, sempre foi odiado pela maioria da população, justamente por tentar mudar o sistema econômico, baseado num Estado supostamente protetor e garantidor da igualdade básica dos cidadãos. Nunca foi o caso, desde a origem bolchevique, uma contradição total no campo econômico, justamente, como visto por Mises desde 1919.

O “despotismo oriental” ainda triunfa no campo político, como visto pela estreita aliança entre as duas maiores autocracias do mundo contemporâneo, uma weberiana (burocraticamente racional), a outra apenas despótica, e na origem de uma nova divisão do mundo.

O novo “muro de Berlim” assumiu a forma de um agrupamento manipulado pelas duas grandes autocracias, o Brics+, que tenta seduzir incautos ou oportunistas do chamado Sul Global, uma construção puramente intelectual e tão diversa quanto o antigo “Terceiro Mundo”. 

As esquerdas, non variatur, apoiam a nova ficção, como antes apoiavam os poderes antidemocráticos da coalizão antiocidental, mais um sinal de que a democracia liberal não faz parte de seu universo mental no terreno político. Não por isso, as direitas fazem progressos em várias partes do mundo, mas seu universo mental tampouco se filia às democracias liberais, e sim a uma das variantes dos regimes autocráticos.

O novo “muro de Berlim” continuará dividindo o mundo por mais algumas décadas, e direitas e esquerdas seguirão, não coincidentemente, apoiando objetivos antiliberais. 

Erich Fromm, um frankfurteano escapado do nazismo, publicou um livro no qual examinava o “medo à liberdade” de muitos residentes dos sistemas liberais, mais uma evidência das contradições dos regimes de liberdades, que compreendem a esfera da política, mas têm dificuldades para concretizá-la na vertente econômica, o que já era uma dificuldade para o jovem Marx.

As soluções estatizantes nunca foram a resposta a essas contradições, mas os antiliberais à esquerda e à direita continuam tendo medo às liberdades econômicas, preferindo a suposta proteção do Estado. Bastiat, antes de Marx, já indicava ser o Estado a grande ilusão de pessoas que, economicamente, pretendem viver às custas de todos os demais.

Uma crença aparentemente inextinguível!

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20/11/2024


quarta-feira, 28 de agosto de 2019

30 Anos da queda do Muro de Berlim: meu artigo de 2009 - Paulo Roberto de Almeida

Aos 20 anos da queda do muro de Berlim, fui convidado para um seminário na UnB, organizado pelo professor Wolfgang Dopke. Eis minha contribuição ao seminário.


Um outro mundo possível:
Alternativas históricas da Alemanha, antes e depois do muro de Berlim

Paulo Roberto Almeida
Paris-Digne-Asti-Veneza-Torino-Lisboa, 25 setembro-6 outubro 2009, 18 p. 
Ensaio preparado como texto guia para o seminário “Além do Muro” 
(UnB, 12 de novembro de 2009). 
Sumário:
1. Berlim no centro da história alemã; a Alemanha no centro da história europeia
2. Die Deutsche Frage, a questão alemã: um longo e complexo problema
3. Berlim de volta ao centro da história contemporânea, por enquanto...
4. O que poderia ter ocorrido com Berlim, e com a Alemanha, e que não ocorreu?
5. O que poderá ocorrer com a nova Alemanha, e que ainda não ocorreu?
6. Alternativas e destino da nova Alemanha: um futuro imperfeito?

Resumo: Digressões histórico-analíticas sobre a trajetória da Alemanha, desde a fase pré-unificação de 1870, até o cenário pós-derrubada do muro de Berlim e a unificação das duas repúblicas criadas em 1949. A questão alemã, para o bem e para o mal, esteve no centro da história europeia e mundial, entre 1870 e 1945, e novamente entre 1949 e 1989, mas na fase da Guerra Fria de forma subalterna aos interesses das duas superpotências. Derrubado o muro e unificada a nação, a Alemanha e Berlim voltam a ocupar o centro nevrálgico do novo ordenamento europeu pós-Guerra Fria.
Palavras-chave: Guerra Fria. Alemanha. Muro de Berlim. Cenários históricos alternativos.

Texto disponível neste link

https://www.academia.edu/40192050/Um_outro_mundo_possivel_alternativas_historicas_da_Alemanha_antes_e_depois_do_muro_de_Berlim_2009_

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Este dia na Historia: construção do Muro de Berlim, 13 de agosto de 1961

Uma pequena nota sobre a construção do muro de Berlim, em 1961, mas antes, para quem desejar ler, a ficha meu artigo sobre a mesma questão, 20 anos depois da queda do muro de Berlim.

2048. “Outro mundo possível: alternativas históricas da Alemanha, antes e depois do muro de Berlim”, Paris-Digne-Asti-Veneza-Torino-Lisboa, 25 setembro-6 outubro 2009, 18 p. Ensaio preparado como texto guia para o seminário “Além do Muro” (UnB, 12 de novembro de 2009). Revisto em 25.10.2009. Revista Espaço Acadêmico (ano 9, n. 102, Novembro 2009, ISSN: 1519-6196, p. 25-29; link: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/8586/4777). Relação de Publicados n. 930. Feita versão resumida em 7 p., sob o titulo “Vinte anos da queda do muro de Berlim: uma visão retro-prospectiva”, para publicação na revista digital Prismas (Empresa de Consultoria dos Estudantes de RI da PUC-SP; novembro de 2009; link: http://prismajr.wordpress.com/2009/11/25/novembro-2009-queda-do-muro-de-berlim/).
Paulo Roberto de Almeida

Começa a construção do Muro de Berlim





Em 13 de agosto de 1961, soldados soviéticos começam a construção do Muro de Berlim

Começa a construção do Muro de Berlim
As origens da construção do muro encontram-se no fim da Segunda Guerra Mundial, com a derrota da Alemanha e sua consequente ocupação pelas forças aliadas (Reprodução/Infoescola)

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As origens da construção do muro encontram-se no fim da Segunda Guerra Mundial, com a derrota da Alemanha e sua consequente ocupação pelas forças aliadas. Cada país vencedor “herdou” um setor da cidade de Berlim, e desse modo foram criados um setor americano, um inglês, um francês e outro soviético. Os três primeiros uniram-se para formar a área da cidade que adotaria o regime capitalista, Berlim Ocidental, que seria anexada à nascente República Federal da Alemanha (a capitalista Alemanha Ocidental). O lado soviético daria origem a Berlim Oriental, que se tornaria a capital da Alemanha Oriental.
Tal situação gerou uma configuração inusitada dentro da Alemanha dividida, pois o setor capitalista de Berlim estava mergulhado em território da Alemanha Oriental, formando assim, um enclave capitalista dentro do país socialista, complicando as comunicações de Berlim Ocidental com seu próprio país. Tal dificuldade acentuou-se quando do lançamento do Plano Marshall, destinado a ajudar economicamente todos os países europeus do bloco capitalista afetados pela guerra, pois Stalin, contrariado pela negativa de cobertura do plano aos países socialistas, resolve impor um bloqueio a Berlim Ocidental, fechando todas as vias de comunicação. O objetivo dos russos era forçar os aliados a abandonar o controle de seu setor da cidade, porém tal manobra não deu os resultados desejados, pois os americanos quebraram o bloqueio por meio de rotas aéreas destinadas a abastecer e manter o status de Berlim Ocidental.