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terça-feira, 10 de julho de 2018

Fim da Unasul, fim do lulopetismo diplomático: seria real? - PRAlmeida

Na apresentação à compilação que efetuei de alguns trabalhos meus –  poucos, fui seletivo – sobre o que chamei de "lulopetismo diplomático", e colocada à disposição dos leitores com este título: 
Apogeu e declínio do lulopetismo diplomático
(disponível neste link: https://www.academia.edu/s/e421c22bd9/miseria-da-diplomacia-apogeu-e-declinio-do-lulopetismo-diplomatico)
eu perguntava o seguinte: 
    Treze anos de misérias diplomáticas: estaria o Brasil vacinado?

Creio sinceramente que não. Grande parte da academia, e algumas partes da própria diplomacia profissional parecem achar que a tal de "ativa e altiva" era a melhor diplomacia que o dinheiro pode comprar (ou roubar). Muitos suspiram de saudade em relação a essa estupidez geográfica chamada "Sul Global", imaginando que um país "periférico" como o Brasil só poderia mesmo praticar essa burrice da chamada "diplomacia Sul-Sul". Alguns, não sei se ingênuos, desinformados, ou simplesmente de má-fé acham que agora passamos a olhar só para o Norte, esperando as diretrizes desse monstro metafísico chamado "Consenso de Washington". 
Mas, a desocupação da sede da Unasul pelo governo pouco leninista de Lenin Moreno, no Equador, prometer encerrar com a triste trajetória desse outro avatar bolivariano que foi a Unasul, uma invenção original do lulopetismo para escapar da "tutela do império", e logo dominada, desviada e dominada pelos petrodólares chavistas para cumprir um triste papel de linha auxiliar do Foro de S. Paulo, essa emanação do Partido Comunista Cubano, orquestrada servilmente pelos companheiros alinhados do Brasil para servir como uma espécie de Cominform do castrismo enquanto durou a aventura dos ineptos e corruptos.
Ainda há muita coisa a ser feita para limpar o entulho totalitário deixado pelos êmulos do neobolchevismo latino-americano.  Mas já é alguma coisa.
Reproduzo aqui o sumário dessa minha compilação e a sua introdução escrita rapidamente no primeiro semestre deste ano, mais exatamente em fevereiro.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de julho de 2018

Apogeu e declínio do lulopetismo diplomático

Índice geral

Treze anos de misérias diplomáticas: estaria o Brasil vacinado? , 9

1.     Epitáfio do lulopetismo diplomático , 15
2.     O Itamaraty e a diplomacia em tempos não convencionais , 19
3.     Do lulopetismo diplomático a uma política externa profissional , 29
4.     O renascimento da política externa , 37
5.     Política externa e política econômica no Brasil pós-PT , 51
6.     O que faria o Barão hoje, se vivo fosse? , 57
7.     Auge e declínio do lulopetismo diplomático , 65
8.     O lulopetismo diplomático: um experimento exótico , 85
9.     O Itamaraty e a nova política externa brasileira , 91
10.   A política externa e a diplomacia no século XXI , 109
11.   Crimes econômicos do lulopetismo na frente externa , 123
12.   Uma visão crítica da política externa: a da SAE-SG/PR , 131
13.   Depois da diplomacia companheira: o que vem pela frente? , 153
14.   A diplomacia na construção da nação: qual o seu papel? ,  157
15. Política externa brasileira recente: algumas questões tópicas , 167

Relação cronológica dos trabalhos recentes sobre diplomacia brasileira , 179
Livros de Paulo Roberto de Almeida ,  181
Nota sobre o autor  ,  185

Treze anos de misérias diplomáticas: estaria o Brasil vacinado? 

Esta nova compilação de trabalhos sobre a política externa e a diplomacia brasileira pode ser vista como dando continuidade a uma assemblagem anterior, que eu havia feito apressadamente para apoiar um curso sobre esses temas no primeiro semestre de 2017: Quinze anos de política externa: ensaios sobre a diplomacia brasileira, 2002-2017(Brasília: Edição do Autor, 2017, 366 p.; blog Diplomatizzando: (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/05/quinze-anos-de-politica-externa-ensaios.html). Essa coletânea, por sua vez, já incorporava uma relação preliminar feita ao final de 2016: “Uma seleção de trabalhos sobre a política externa brasileira na era Lula, 2002-2016” (Brasília, 6 junho 2016, 13 p.; também disponível no blog Diplomatizzando:http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/06/a-politica-externa-brasileira-na-era.html). Ambas se ocupavam, basicamente, da política externa e da diplomacia nos primeiros três lustros do século XXI, quando vigorou aquilo que eu logo chamei de “lulopetismo diplomático”, uma das principais facetas do lulopetismo em geral, que havia literalmente atropelado o país durante todo aquele período. 
Tanto a política lulopetista em geral, quanto sua vertente externa foram por mim acompanhadas atentamente, a cada passo, a cada medida, a cada iniciativa do bizarro regime, que no entanto dispunha de amplo apoio na sociedade, nos meios políticos e especialmente na academia, sem esquecer a própria diplomacia. Na postagem dessa relação de junho de 2016 eu dizia que os trabalhos possuíam um “caráter geralmente acadêmico, mas não posso recusar certa orientação opinativa (e portanto subjetiva, mas bem informada, pela minha condição de diplomata) sobre esses tempos não convencionais nas relações exteriores do Brasil, um período no qual a diplomacia brasileira esteve associada ao Foro de São Paulo (uma organização controlada pelos comunistas cubanos) e aos chamados bolivarianos. Agora que isso passou, posso ser mais crítico, e incisivo, sobre esses anos de chumbo da diplomacia brasileira.”
Mas, antes mesmo de ser enterrado o bizarro regime, e sem ter certeza de que a sociedade conseguiria superar a fraude e a mistificação daqueles anos excepcionais, eu já tinha publicado um livro inteiro sobre o “rabo diplomático” do “cachorro lulista”, este aqui: Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014). Esse livro não foi feito pensando nas eleições presidenciais daquele ano, mas não deixou de ser surpreendente que, consideradas todas as informações já disponíveis sobre os descalabros econômicos, as fraudes políticos, e o espetáculo de corrupção desvendado desde o início daquele ano, que os companheiros obtivessem mais um mandato para arruinar o país. Por uma dessas ironias da história, a continuidade das investigações revelou que o candidato da oposição também estava profundamente envolvido numa gigantesca teia de corrupção, que unia as grandes empresas do país aos principais partidos políticos e seus líderes.
Seria inevitável que o ativismo lulopetista em todas as direções, por quaisquer meios disponíveis, não poupasse tampouco o lado internacional das políticas públicas. Aliás, o “rabo” da diplomacia chegou mesmo a abanar o “cachorro” do lulopetismo, tal a importância dada a essa política pelo chefe da “organização criminosa” – segundo o ministro Celso Melo, do STF – que dominou o país desde o início de 2003, como já tinha sido evidenciado por ocasião do Mensalão, em 2005. Essa importância foi bastante ressaltada pelas investigações de um jornalista, Fabio Zanini, cujo livro foi objeto de uma resenha aqui inserida; mas, à diferença do Mensalão, não haviam sido detectadas até recentemente todas as manobras criminosas empregadas pela tropa de meliantes políticos que desviou recursos de fontes brasileiras e estrangeiras.
Minha relação de trabalhos cobrindo essas áreas é bem superior, mas coletei neste volume apenas aqueles que já tinham sido publicados ou divulgados pelos canais habituais que utilizo. Alguns outros serão divulgados oportunamente, o que permitirá justificar plenamente o título escolhido para este volume e esta apresentação: “miséria da diplomacia”, o que me parece muito evidente, sobretudo a partir de uma visão interna, portanto bem informada e “prevenida”, sobre as iniciativas tomadas na vertente externa do Brasil. Essa visão precede, inclusive, a própria diplomacia e o regime dos companheiros, pois se estende, originalmente, às organizações da esquerda armada que provocaram a radicalização do regime militar desde meados dos anos 1960 até o final do período autoritário. Um conhecimento sobre os métodos de atuação dos militantes neobolcheviques que se integraram ao partido hegemônico da esquerda, aqueles que eu chamei de “guerrilheiros reciclados”, permitiu retirar elementos de convicção quanto à ação deletéria, em grande medida encoberta, desenvolvida por eles igualmente na frente externa, o que entretanto é difícil de ser evidenciado, em virtude, precisamente, da falta de provas documentais de muitas dessas ações nessa vertente (sobretudo aquelas feitas em direção, e em acordo com regimes vinculados ao Foro de São Paulo). 
Esse lado da “miséria diplomática” talvez não possa ser exposta em toda a sua extensão, pois, à diferença daquilo que ocorreu com os papeis da Stasi, no momento da queda do muro de Berlim e da incorporação relativamente rápida da RDA à República Federal da Alemanha, os companheiros e seus aliados externos tomaram as devidas precauções para “neutralizar” possíveis evidências da diplomacia paralela conduzida de modo obscuro durante toda a duração do regime companheiro. Em alguns dos meus escritos aqui coletados eu abordo esse aspecto da “miséria diplomática”, que é o seu lado obscuro, mas que ainda não foi objeto de estudos mais detalhados. 
Como conhecedor de longa data do movimento comunista internacional, e de seus “derivativos” nacionais, surpreende-me que doutrinas, práticas e argumentos já devidamente denunciados e expostos claramente desde os estertores do regime stalinista nos anos 1950 – objeto de inúmeros livros esclarecedores a esse respeito, entre eles um dos mais famosos, O Ópio dos Intelectuais, de Raymond Aron, prefaciado no Brasil por Roberto Campos, o Aron brasileiro –, ainda tenham plena vigência nos meios políticos e acadêmicos do Brasil, e encontrem bastante aceitação em camadas mais amplas da opinião pública. Mais surpreendente ainda é que, a despeito de todas as denúncias e condenações já oficializadas quanto aos atos criminosos perpetrados pelos principais chefes do partido hegemônico da esquerda, várias dessas pessoas bem informadas ainda insistam em apoiar os personagens. Não é preciso lembrar aqui que o próprio chefe da chancelaria brasileira durante boa parte do regime lulopetista, diplomata de carreira, figura nessa tropa de choque constituído para uma defesa quase impossível, de certo modo desesperada, do grande responsável pela corrupção avassaladora a que assistimos durante todos esses anos de euforia, de fraudes e de mistificações. 
Meus textos não se ocupam de tais crimes comuns, mas várias das ações externas conduzidas pelo poder petista, com base em recursos nacionais, podem configurar o que eu chamaria de “crimes econômicos” (talvez não muito diferentes de crimes comuns), uma vez que diversas “intervenções” externas pelo então chefe de Estado, depois ex-presidente, foram precipuamente conduzidas para se integrar a essa cadeia de corrupção montada deliberadamente por esses líderes políticos em pleno acordo com os dirigentes de grandes empresas geneticamente corruptas. Por outro lado, pontos obscuros da ação externa dessa diplomacia lulopetista foram diversas vezes detectados em determinados episódios – nacionalização de ativos brasileiros no exterior, apoio financeiro a aliados ideológicos, por exemplo – também poderiam ser catalogados sob a rubrica de “crimes diplomáticos”, ou seja, mais um aditivo definidor da “miséria da diplomacia” que legitima a opção pelo título deste compêndio. Continua a existir uma imensa zona de sombras sobre o desenvolvimento de toda a diplomacia lulopetista.
Ainda assim, e a despeito de todas as evidências e sinais “precursores” de que coisas estranhas estavam acontecendo na diplomacia brasileira durante esses anos de euforia do lulopetismo, sua vertente diplomática continuou a dispor de amplo apoio entre os principais formadores de opinião no Brasil, notadamente nos meios acadêmicos e jornalísticos, com ampla capacidade de convencimento dos “corações e mentes” dos brasileiros comuns, simples eleitores ou até membros das chamadas elites. Nisso, a esquerda em geral e o lulopetismo em particularmente foram particularmente eficientes – sobretudo usando recursos do Estado para divulgar sua versão deformada da realidade e sustentar propaganda mentirosa por diversos canais de comunicação – na veiculação e na disseminação de uma visão do mundo conforme a seus princípios ideológicos, que encontram, por isso mesmo, grande aceitação em diversos meios. 
Tenho plena consciência de que meus escritos destoam, em grande medida, das análises acadêmicas e dos próprios argumentos diplomáticos normalmente encontrados nos diferentes veículos que se dedicam à discussão e análise da política externa, das relações internacionais e da diplomacia brasileira. Talvez porque eu me dedique não só a uma exposição descritiva do que é feito na vertente externa das políticas públicas do Brasil, mas também por que é feito, e por quem é conduzido, e com quais motivações. Começo, aliás, por discordar frontalmente da terminologia geralmente empregada nas exposições e análises “normais”, que tendem a caracterizar as ações diplomáticas como sendo “do Brasil”, quando eu me inclino a falar diretamente da “diplomacia lulopetista” como sendo diferente, específica e peculiar às forças que controlaram o poder do Estado durante os anos de seu controle dos executivos federais (e até de outros poderes). 
Meus artigos – os aqui compilados, os demais em livros ou periódicos, inclusive os ainda não divulgados  – não esgotam, obviamente, a análise de todos os aspectos conceituais e operacionais daquilo que eu chamei de “miséria da diplomacia” no Brasil. Isso que vai requerer ainda certa pesquisa (mas existem muitos fatos sem documentação adequada) e acesso adequado a atores envolvidos em vários episódios não devidamente documentados ao longo desses anos de fraudes, mentiras, de mistificações e de crimes, de diversas ordens. De minha parte não tenho nenhuma hesitação em expressar minha opinião fundamentada sobre esses anos pouco gloriosos de nossa trajetória política. Só não tenho certeza de que o Brasil e os brasileiros estejam devidamente vacinados contra essa “doença de pele”, que representou o lulopetismo, a despeito de todos os crimes desvendados e de todos os processos concluídos ou em curso. Talvez ele seja mais do que uma simples “doença de pele”, e conforme uma predisposição “genética” na incorporação de concepções políticas e econômicas absolutamente nefastas e prejudiciais à boa governança do país, e nisso se confunda com outras “epidemias” muito comuns no Brasil: patrimonialismo tradicional, corporativismo entranhado, protecionismo exacerbado, nepotismo e fisiologismo extensivos, nacionalismo primário e ingênuo, estatismo atávico e outros “ismos” desde longe presentes em nossa cultura e no sistema político. 
Na diplomacia, no entanto, vigorava, um profissionalismo meritocrático – ainda que contaminado por diversos resquícios “feudais” – e uma excelente capacitação dos recursos humanos, o que sempre distinguiu o serviço exterior no conjunto das carreiras de Estado e das instituições de boa qualidade a serviço do Estado e dos governos. O período lulopetista afetou apenas superficialmente o serviço diplomático em si, ainda que tenha contaminado mais amplamente a orientação da política externa e da atuação do Estado brasileiro em escala regional e internacional. Esperemos que ao menos o serviço diplomático tenha sido vacinado contra o exotismo e a bizarrice dessa presença deformadora em nossa diplomacia, com um mínimo de efeitos colaterais sobre suas ações futuras. É o que posso esperar como participante e analista – relativamente objetivo e independente – de nossa política externa e de nossa diplomacia nos últimos 40 anos de atividades e de reflexões nesse campo especializado da ação estatal.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de fevereiro de 2018

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