Transcrevo abaixo, texto-guia que preparei para minha intervenção, muito rápida, no sseminário de amanhã. Como não pretendo ler, considero ser um suporte textual eventualmente útil aos que se interessam pela trajetória da RBPI, justamente, o que lhes habilita a conhecer mais um pouco, incita a curiosidade, e pode suscitar, talvez, algumas perguntas inteligentes na fase de debates do seminário.
Preparei, igualmente, um PowerPoint, resumindo, e fracionando, a informação aqui inserida, de maneira a tornar mais fácil a visualização das grandes etapas da revista, em conexão com os grandes eventos mundiais e brasileira no plano das relações internacionais e das relações exteriores e diplomacia do Brasil, objeto, igualmente, de uma ampla tabela cronológica que elaborei quando dos 60 anos do IBRI (1954-2014), dois anos atrás, portanto, quando eu me encontrava fora do Brasil, e só pude participar virtualmente. Esse quadro cronológico está referido e linkado abaixo.
Estes dois trabalhos, este texto, e o PowerPoint, estão disponíveis na plataforma
Academia.edu:
texto:
http://www.academia.edu/29702781/3054_60_Anos_em_Revista_a_trajetoria_da_RBPI_2016_
PP:
http://www.academia.edu/29703025/3055_Apresentacao_PowerPoint_60_Anos_RBPI_Seminario_UnB_2016_
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 de novembro de 2016
60 anos em Revista: a trajetória da RBPI
Paulo Roberto de Almeida
Diretor do Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais, Funag-MRE.
Editor-associado da RBPI, professor de
pós-graduação no Uniceub.
Seminário “Sessenta anos da Revista Brasileira de Política Internacional”
(IRel-UnB, 7 de novembro de 2016).
Vamos caracterizar as
grandes etapas do itinerário intelectual do IBRI e da RBPI, desde 1954 até a
atualidade. O período pode ser dividido em distintas fases, tanto em função das
grandes fases da história mundial contemporânea, quanto da trajetória política,
econômica e social do Brasil, com algumas interfaces mais evidentes entre elas,
mas também com nítidas diferenças entre as evoluções respectivas do sistema
mundial e do Brasil. O IBRI foi fundado em 1954, no velho Palácio Itamaraty, no
Rio de Janeiro, com a participação de diplomatas e outros próceres da
República, tendo seus primeiros 60 anos sido comemorados em 2014, como informei
numa série de postagens feitas em meu Diplomatizzando
(seis, sob a rubrica “60 Anos da RBPI”, remetendo a materiais na RBPI, em
Meridiano 47 e na plataforma Academia.edu). A RBPI, por sua vez, deu início a
seu itinerário editorial em 1958, tendo igualmente contado com diplomatas,
tribunos e famosos historiadores entre seus editores – como José Honório
Rodrigues, por exemplo –, mas de fato dirigida, financiada e mantida, corajosa
e constantemente, por Cleantho de Paiva Leite. Eu passei a colaborar com a RBPI
na redemocratização do Brasil, depois de voltar de meu primeiro posto e do
doutoramento na Europa, em 1985.
Com a morte de Cleantho,
em 1992, tomei pessoalmente a liderança de um grupo de colegas diplomatas e
acadêmicos, num esforço coletivo para a manutenção dessa revista que se
identificava intimamente com o itinerário da política externa e da diplomacia
brasileira desde o final dos anos 1950 até o início dos 90. Nossa iniciativa
teve sucesso na transferência – na verdade recriação – tanto do IBRI quanto da
RBPI para Brasília no primeiro semestre de 1993, e desde então a revista assumiu
feições e características bem mais acadêmicas do que profissionais, como era o
caso na sua encarnação anterior, com total sucesso na sua consolidação enquanto
instrumento científico mais importante nessa área no Brasil.
Papeis importantes
assumiram nessa feliz trajetória do IBRI e na da revista o professor José
Carlos Brandi Aleixo, o primeiro e atual Diretor honorário do IBRI, e os
professores Amado Luiz Cervo e Antonio Carlos Lessa, os dois editores da RBPI
desde 1993. Meu próprio papel, nesses anos todos, foi eminentemente assessório,
mas tenho orgulho de afirmar que sem a minha iniciativa imediata, no final de
1992, a revista talvez teria deixado de existir naquele momento. Esta é uma
brevíssima história do IBRI e da RBPI, com o que podemos agora repassar, ou
revisitar, estes 60 anos decorridos desde meados dos anos 1950, e o papel da
RBPI no seguimento dos mais importantes eventos e processos brasileiros e
internacionais ao longo desse período.
Vejamos como ficaria um
quadro com a periodização intercalada das diferentes fases registradas no
mundo, no Brasil e na revista. Antes de iniciar, contudo, gostaria de chamar a
atenção para um número especial da RBPI, que eu coordenei em 1998, na passagem
dos seus primeiros 40 anos, e que contém uma síntese analítica, oferecida nos
diferentes temas cobertos pela revista por vários colegas acadêmicos, vários
dos quais aqui presentes. Esse número especial pode ser consultado na base de
dados do Scielo, neste link: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0034-732919980003&lng=en&nrm=iso. Talvez se possa refazer
um exercício similar, seja como número especial, seja como uma espécie de Reader, numa próxima oportunidade.
Mundo,
Brasil, IBRI e Revista Brasileira de
Política Internacional, 1954-2016
Grandes
etapas de trajetórias interligadas
|
Anos
|
Sistema
mundial
|
Brasil
|
IBRI-RBPI
|
1954
a
1955
|
Auge da Guerra Fria; término da
Guerra da Coreia se materializou na doutrina MAD; tremores da descolonização.
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Alinhamento com os EUA (acordo
militar) a despeito do nacionalismo econômico; crise política, suicídio de
Vargas.
|
Fundação do Instituto
Brasileiro de Relações Internacionais no velho Palácio Itamaraty do Rio de
Janeiro.
|
1955
a
1961
|
Primeiros ensaios de
coexistência pacífica; competição nuclear e espacial EUA-URSS; a terceira via
do MNA.
|
Desenvolvimentismo e atração de
investimentos diretos estrangeiros; um “plano Marshall”: OPA; criação do BID.
|
Primeiros ensaios de uma
Política Externa não alinhada com os EUA: o desafio de Cuba; criação da RBPI: visão ousada.
|
1961
a
1964
|
Crise dos mísseis russos em
Cuba; Kennedy lança Aliança para o Progresso; guerra do Vietnã.
|
Crises político-militares
superam experimento de Política Externa dita Independente; golpe.
|
RBPI divulga novas posturas da diplomacia:
diplomatas ativos na revista e nos debates.
|
1964
a
1967
|
Intensificação da guerra do
Vietnã; coexistência e expansão da influência soviética no mundo; guerrilhas
na AL.
|
Primeira fase do regime
militar: alinhamento diplomático com EUA; oposição se reorganiza; início da
luta armada.
|
José Honório Rodrigues, diretor
do IPRI e editor da RBPI, números
temáticos sobre grandes temas da diplomacia.
|
1967
a
1974
|
Tratados de controle de armas;
reintegração da China no sistema da ONU; guerras de países árabes contra
Israel.
|
Retorno a padrões mais
independentes na política externa, mas apoio a golpes de direita na América
Latina.
|
RBPI acompanha os grandes debates da
diplomacia: recusa do TNP, mar territorial, papel das multinacionais.
|
1974
a
1979
|
Deterioração do ambiente entre
grandes potências; novos mísseis na Europa; expansão socialista na África;
EUA se retiram humilhados do Vietnã.
|
Mudanças dramáticas na política
externa: relações com China, governo de Luanda; deterioração das relações com
Argentina; fricções com os EUA.
|
RBPI: nova ordem internacional; CPI
das multinacionais; denúncia do acordo militar com os EUA; crise energética e
seus efeitos no Brasil.
|
1979
a
1985
|
URSS atolada na guerra do
Afeganistão; Papa João Paulo II, Thatcher e Reagan enfrentam o comunismo;
retorno ao liberalismo econômico.
|
Segundo choque do petróleo e
aumento dos juros precipitam crise da dívida externa e aceleram a inflação;
regime militar chega a seu termo.
|
RBPI: debates sobre dívida externa,
crises na América Latina; relações Norte-Sul; entendimento com a Argentina; o
terror na política internacional.
|
1985
a
1994
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Crise final do socialismo,
implosão da URSS; fim da Guerra Fria; avanço das reformas na China; acordos
de Maastricht.
|
Redemocratização e
reconstitucionalização; planos fracassados de estabilização; abertura
econômica, privatização.
|
RBPI: acordos com a Argentina; dívida
externa e Gatt; morte de Cleantho e transferência da revista para Brasília:
nova fase.
|
1994
a
2002
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Crises financeiras em países
emergentes; euro na UE; ascensão da Ásia; Tribunal Penal da Haia.
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Plano Real; governos de FHC; crises
financeiras, acordos com o FMI; crise da Argentina: impactos.
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RBPI em Brasília: novos padrões; Amado
Cervo editor; Aleixo no IBRI; 1998: 40 anos da RBPI.
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2003
a
2010
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Emergência mundial da China;
crises nos EUA e no Oriente Médio.
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Lula-Amorim promovem diplomacia
ativa; novas posturas na diplomacia.
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IBRI: lançamento de vários
livros; RBPI: novo editor, Antonio
C. Lessa.
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2011
a
2016
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Lenta recuperação nos EUA e na
Europa; postura agressiva da Rússia; nova Guerra Fria.
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Governo desastroso de Dilma
Rousseff, recuos na diplomacia; processo de impeachment.
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RBPI: estabelecimento de padrões
científicos de nível mundial; edições digitais: fluxo contínuo.
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2017
e
2018
|
Guerra Fria econômica e possível
nova Guerra Fria geopolítica?
|
Governo de transição: reformas
econômicas; diplomacia profissional.
|
RBPI: agenda aberta para comemorações
dos 60 anos; novos projetos.
|
Concepção e elaboração: Paulo
Roberto de Almeida, 6/11/2016.
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Referências úteis de pesquisa:
4) Paulo Roberto
de Almeida: “O Brasil e suas relações internacionais de 1954 a 2014: O que
mudou em 60 anos? O que ficou? O papel do IBRI”. Nota sobre o Instituto
Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI) e as relações internacionais do
Brasil, entre 1954 e 2014. Postado no blog Diplomatizzando
(2/11/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/11/60-anos-da-rbpi-1-preparando-o.html).
5) Revista Brasileira de Política Internacional:
número especial sobre os primeiros 40 anos, de 1958 a 1998” (vol. 41, n. especial,
1998; disponível no link: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0034-732919980003&lng=en&nrm=iso; com colaborações de Eiiti Sato, Antonio Carlos Lessa, Amado
Luiz Cervo, Eugênio Vargas Garcia, Antonio Jorge Ramalho da Rocha e Paulo
Roberto de Almeida).
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 novembro 2016.