Coligação anti-Haddad
Tiberio Canuto
Formou-se uma coligação de ministros do governo Lula contra o ajuste fiscal pretendido por Haddad. Quanto mais Lula demora em bater o martelo, mais resistências se articulam. Dentro e fora do governo. Duas consequências são previsíveis:
1 - Em vez de um ajuste estruturante como prometiam o ministro da Fazenda e Simone Tebet teremos um ajustezinho que levará o Brasil, no médio prazo, a mais um voo de galinha, com um pibinho, aumento da inflação e dos juros. Lula cede às pressões dos seus ministros e das corporações, mas pode ter de disputar a reeleição em um quadro inflacionário e de baixo crescimento econômico e a consequente volta do desemprego. Se a sua preocupação é não ver sua imagem agastada por ser obrigado a tomar medidas de reajustes antipáticas, mais à frente sofrerá um desgaste bem maior se, como é previsível, venha disputar a reeleição em um quadro de crise econômica e social. Os brasileiros aprenderam a não ter tolerância com a inflação. O s anos Dilma, particularmente os do seu segundo mandato fazem parte da memória recente dos brasileiros.
Imaginem o tamanho do estrago Lula tendo de disputar a reeleição com inflação de 7% a 8%, dólar valendo sete reais, taxa básica de juros básico superior a 14%, a dívida pública chegando a 84% do PIB. Isso não é terrorismo. É o que acontecerá se o ajuste fiscal for um traque.
2 – Ao não conseguir convencer o governo – e aí principalmente ao não conseguir convencer Lula da necessidade de tomar medidas estruturantes – Hadad sofre uma derrota séria. Sairá bem menor deste embate com a imagem desgastada. Só um governo esquizofrênico conspira para enfraquecer seu próprio ministra da Fazenda. O que pode acontecer de pior para a política econômica é ter um ministro da economia sem autoridade, combatido pelos seus próprios pares. Isso afeta as expectativas, que em economia são fundamentais.
O fato é mais grave quando se leva em consideração que Haddad é a única alternativa do PT e do seu campo para ser o sucessor de Lula. É muita autofagia expô-lo, publicamente, ao desgaste. Toda a credibilidade e respeitabilidade do ministro da Fazenda está indo de água abaixo por erros de condução de Lula, na definição do pacote a ser adotado.
A estratégia de Lula de deixar seus ministros se digladiar para depois arbitrar que caminho seguir leva a um assembleísmo como estamos vendo. Isso alimenta a leitura que o próprio Lula tem interesses em desidratar o pacote e estimula seus ministros da área social a oferecer tenaz resistência às propostas de Haddad. É um absurdo o presidente assistir em seu gabinete os .inistros do Trabalho e da Fazenda baterem boca.Ou alguém acredita que Rui Costa lideraria a coligação anti-ajuste fiscal à revelia de Lula?
O governo e a autoridade do presidente também se enfraquece. Instala-se a anarquia, com ministros publicamente dizendo que em suas áreas não se mexe a não ser que os demitam. Outros dizem que deixam o governo se houver corte em suas áreas. Ora, ao não efetuar cortes nas áreas dos ministros verborrágicos Lula passa recibo de que cedeu à chantagem.
Lula deveria fazer o que faria um presidente a altura das exigências. Inquerir e questionar seu ministro da Fazenda, até chegar a um consenso com o responsável pela política econômica sore as medidas necessárias. A partir daí comunicar aos outros ministros, proibindo-os de torpedear publicamente o pacote do reajuste, que deixaria de ser do ministro da Fazenda para ser do próprio presidente da República.
Mas é exigir muito que Lula atue como um estadista que pense no Brasil, mesmo que isto provoque desgastes momentâneos à sua imagem.
Em vez disso, deixou correr solto a coligação anti-haddad , engrossada pelas centrais sindicais e pela direção do PT.
A aliança Rui Costa-Gleisi Hoffman está desmoralizando Haddad.
Trotsky dizia que a revolução era como a figura mitológica Cronos, o deus do tempo que comia os próprios filhos. É o que o governo e o PT estão fazendo com o seu melhor quadro.