O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Hugo Chávez. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Hugo Chávez. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 14 de março de 2013

Chavez continua como presidente da Venezuela!

Hugo Chavez Will Remain President of Venezuela

The Daily Currant, March 11, 2013
article-2288895-187B8EC2000005DC-708_634x424Venezuela’s late President Hugo Chavez will continue to serve until the next presidential election in 2019, officials said.
Chavez, a former military officer who led the country for 14 years, died Tuesday, March 5, at age 58 following a long battle with cancer.
Citing the widespread support and outpouring of grief since Chavez’s death, Vice President Nicolas Maduro and officials with Chavez’s United Socialist Party (PSUV) said the controversial firebrand will complete his fourth presidential term of six years.
“There is no need to change presidents, especially when our president has a popularity level that most living presidents can only dream of,” Maduro said. “I believe Hugo would have wanted to continue serving the people, even in death.”
Maduro says Chavez's embalmed body will be wheeled into cabinet meetings where the display will "inspire" policy making until his term has expired.
The flamboyant and controversial Chavez used the country’s vast oil wealth to institute a number of socialist policies during his 14 years in power. Broad popular support, buoyed by Venezuela’s poor, enabled him to change the constitution and to win four presidential elections, most recently in October 2012 when he received 55 percent of the vote with a high turnout.
More than 30 world leaders attended his state funeral Friday in the Venezuelan capital Caracas. Millions of supporters lined the streets, and more than 2 million people have visited his body lying in state at a military academy.
La Egoista
Maduro told news reporters that Chavez was needed as figurehead president in order for the party to successfully continue his numerous socialist reforms, known as the Bolivarian Revolution.
Venezuela’s constitution states that an election must be held within 30 days if the president dies or is unable to take office.
However, PSUV officials said they plan to follow the Chavez playbook and change the constitution to enable him to remain president.
“We have the technology to keep (Chavez) preserved for decades, much like the Russians keep Vladimir Lenin.” Maduro added. "He could run for president again in 2019 if he's still popular."
Maduro said Chavez’s national talk show, “Alo Presidente,” which broadcasted for about six hours on Sundays, would continue to air each week with guest hosts.

La Oposicion
Opposition politicians quickly denounced plans to keep Chavez as president.
“Hugo Chavez ran this country into the ground through corruption and cronyism,” said Juan Grande Culo, an opposition member of the National Assembly. “Now it’s our turn to do the same.”
“The good thing about Chavez’s death is that things might get back to normal in Venezuela,” said Manuel Enfermar, governor of Sucre state. “Politicians are supposed to serve the rich, not the poor.”
Miguel Pensador, a political scientist at the Central University of Venezuela, said Chavez left an indelible mark on Venezuela's history.
“In our history, Venezuela was governed by behind-the-scenes interests and foreign companies,” Pensador said. “The president was largely a figurehead meant to serve the elites at the expense of the majority. As a result, Venezuelans are used to cabrones as presidents. It's rare for a majority of poor Venezuelans to like their president, even if he was a bit of an autocrat like the other presidents.
“Chavez also told George W. Bush to f**k off before other world leaders started doing it,” Pensador added. “People will love him just for that.”

segunda-feira, 11 de março de 2013

O caudilho e os seus desastres - Mario Vargas Llosa

Interessante artigo do Prêmio Nobel peruano de literatura: toca em vários pontos relevantes no plano conceitual e termina com uma expressão de confiança na possibilidade de vitória da oposição, achando que as massas podem ser racionais, o que me parece ilusório.
Mas deixou de tocar em duas questões importantes: as milícias fascistas, criadas pelo caudilho, e o Exército, aparentemente já controlado totalmente pelos êmulos do coronel, não por que o amassem de verdade, ou porque acreditam no tal de socialismo do século 21.
Acontece que essas forças fascistas -- algumas com comandantes que também fazem negócios no narcotráfico -- precisam que o sistema continue, pois esse é o seu modo de vida -- para os simples mercenários das milícias fascistas -- e este é a sua maneira de enriquecer, no caso dos comandantes.
Eles não podem abandonar o poder: já roubaram muito e querem continuar roubando e talvez já tenham cometido alguns crimes, e isso não pode ser exposto.
O próprio caudilho virou, ao que parece, e antes do tempo, um boneco de cera, o que assegura que a máquina de mentir e roubar, criada por eles, e seus mentores cubanos, já está bem montada.
Por isso sou menos otimista do que Vargas Llosa. Acho que os venezuelanos ainda têm muitos desastres pela frente...
Paulo Roberto de Almeida 

A morte do caudilho
Mario Vargas Llosa
O Estado de S.Paulo, 10/03/2013

O comandante Hugo Chávez Frías pertencia à robusta tradição dos caudilhos que, embora mais presentes na América Latina que em outras partes, não deixaram de se assomar a toda parte, até em democracias avançadas, como a França. Ela revela aquele medo da liberdade que é uma herança do mundo primitivo, anterior à democracia e ao indivíduo, quando o homem ainda era massa e preferia que um semideus, ao qual cedia sua capacidade de iniciativa e seu livre-arbítrio, tomasse todas as decisões importantes de sua vida.

Cruzamento de super-homem e bufão, o caudilho faz e desfaz a seu bel prazer, inspirado por Deus ou por uma ideologia na qual, quase sempre, se confundem o socialismo e o fascismo ─ duas formas de estatismo e coletivismo ─ e se comunica diretamente com seu povo mediante a demagogia, a retórica, a espetáculos multitudinários e passionais de cunho mágico-religioso.

Sua popularidade costuma ser enorme, irracional, mas também efêmera, e o balanço de sua gestão, infalivelmente catastrófico. Não devemos nos impressionar em demasia pelas multidões chorosas que velam os restos de Hugo Chávez. São as mesmas que estremeciam de dor e desamparo pela morte de Perón, de Franco, de Stalin, de Trujillo e as que, amanhã, acompanharão Fidel Castro ao sepulcro.

Os caudilhos não deixam herdeiros e o que ocorrerá a partir de agora na Venezuela é totalmente incerto. Ninguém, entre as pessoas de seu entorno, e certamente em nenhum caso Nicolás Maduro, o discreto apparatchik a quem designou seu sucessor, está em condições de aglutinar e manter unida essa coalizão de facções, de indivíduos e de interesses constituídos que representa o chavismo, nem de manter o entusiasmo e a fé que o defunto comandante despertava com sua torrencial energia nas massas da Venezuela.

Uma coisa é certa: esse híbrido ideológico que Hugo Chávez urdiu chamado revolução bolivariana ou socialismo do século 21, já começou a se decompor e desaparecerá, mais cedo ou mais tarde, derrotado pela realidade concreta: a de uma Venezuela, o país potencialmente mais rico do mundo, ao qual as políticas do caudilho deixaram empobrecido, dividido e conflagrado, com a inflação, a criminalidade e a corrupção mais altas do continente, um déficit fiscal que beira a 18% do PIB e as instituições ─ as empresas públicas, a Justiça, a imprensa, o poder eleitoral, as Forças Armadas ─ semidestruídas pelo autoritarismo, a intimidação e a submissão.

Além disso, a morte de Chávez coloca um ponto de interrogação na política de intervencionismo no restante do continente latino-americano que, num sonho megalomaníaco característico dos caudilhos, o comandante defunto se propunha a tornar socialista e bolivariano a golpes de talão de cheques. Persistirá esse fantástico dispêndio dos petrodólares venezuelanos que fizeram Cuba sobreviver com os 100 mil barris diários que Chávez praticamente presenteava a seu mentor e ídolo Fidel Castro? E os subsídios e as compras de dívida de 19 países, aí incluídos seus vassalos ideológicos como o boliviano Evo Morales, o nicaraguense Daniel Ortega, as Farc colombianas e os inúmeros partidos, grupos e grupelhos que por toda a América Latina lutam para impor a revolução marxista?

O povo venezuelano parecia aceitar esse fantástico desperdício contagiado pelo otimismo de seu caudilho, mas duvido que o mais fanático dos chavistas acredite agora que Maduro possa vir a ser o próximo Simon Bolívar. Esse sonho e seus subprodutos, como a Aliança Bolivariana para as América (Alba), integrada por Bolívia, Cuba, Equador, Dominica, Nicarágua, San Vicente e Granadinas, Antígua e Barbuda, sob a direção da Venezuela, já são cadáveres insepultos.

Nos 14 anos que Chávez governou a Venezuela, o preço do barril de petróleo ficou sete vezes mais caro, o que fez desse país, potencialmente, um dos mais prósperos do planeta. No entanto, a redução da pobreza nesse período foi menor que a verificada, por exemplo, no Chile e no Peru no mesmo período. Enquanto isso, a expropriação e a nacionalização de mais de um milhar de empresas privadas, entre elas 3,5 milhões de hectares de fazendas agrícolas e pecuárias, não fez desaparecer os odiados ricos, mas criou, mediante o privilégio e o tráfico, uma verdadeira legião de novos ricos improdutivos que, em vez de fazer progredir o país, contribuiu para afundá-lo no mercantilismo, no rentismo e em todas as demais formas degradadas do capitalismo de Estado.

Chávez não estatizou toda a economia, como Cuba, e nunca fechou inteiramente todos os espaços para a dissidência e a crítica, embora sua política repressiva contra a imprensa independente e os opositores os reduziu a sua expressão mínima. Seu prontuário no que respeita aos atropelos contra os direitos humanos é enorme, como recordou, por ocasião de seu falecimento, uma organização tão objetiva e respeitável como a Human Rights Watch.

É verdade que ele realizou várias consultas eleitorais e, ao menos em algumas delas, como a última, venceu limpamente, se a lisura de uma eleição se mede apenas pelo respeito aos votos depositados e não se leva em conta o contexto político e social no qual ela se realiza, e na qual a desproporção de meios à disposição do governo e da oposição era tal que ela já entrava na disputa com uma desvantagem descomunal.

No entanto, em última instância, o fato de haver na Venezuela uma oposição ao chavismo que na eleição do ano passado obteve quase 6,5 milhões de votos é algo que se deve, mais do que à tolerância de Chávez, à galhardia e à convicção de tantos venezuelanos que nunca se deixaram intimidar pela coerção e as pressões do regime e, nesses 14 anos, mantiveram viva a lucidez e a vocação democrática, sem se deixar arrebatar pela paixão gregária e pela abdicação do espírito crítico que o caudilhismo fomenta.

Não sem tropeços, essa oposição, na qual estão representadas todas as variantes ideológicas da Venezuela está unida. E tem agora uma oportunidade extraordinária para convencer o povo venezuelano de que a verdadeira saída para os enormes problemas que ele enfrenta não é perseverar no erro populista e revolucionário que Chávez encarnava, mas a opção democrática, isto é, o único sistema capaz de conciliar a liberdade, a legalidade e o progresso, criando oportunidades para todos em um regime de coexistência e de paz.

Nem Chávez nem caudilho algum são possíveis sem um clima de ceticismo e de desgosto com a democracia como o que chegou a viver a Venezuela quando, em 4 de fevereiro de 1992, o comandante Chávez tentou o golpe de Estado contra o governo de Carlos Andrés Pérez. O golpe foi derrotado por um Exército constitucionalista que enviou Chávez ao cárcere do qual, dois anos depois, num gesto irresponsável que custaria caríssimo a seu povo, o presidente Rafael Caldera o tirou anistiando-o.

Essa democracia imperfeita, perdulária e bastante corrompida, havia frustrado profundamente os venezuelanos que, por isso, abriram seu coração aos cantos de sereia do militar golpista, algo que ocorreu, por desgraça, muitas vezes na América Latina.

Quando o impacto emocional de sua morte se atenuar, a grande tarefa da aliança opositora presidida por Henrique Capriles será persuadir esse povo de que a democracia futura da Venezuela terá se livrado dessas taras que a arruinaram e terá aproveitado a lição para depurar-se dos tráficos mercantilistas, do rentismo, dos privilégios e desperdícios que a debilitaram e tornaram tão impopular.

A democracia do futuro acabará com os abusos de poder, restabelecendo a legalidade, restaurando a independência do Judiciário que o chavismo aniquilou, acabando com essa burocracia política mastodôntica que levou à ruína as empresas públicas. Com isso, se produzirá um clima estimulante para a criação de riqueza no qual empresários possam trabalhar e investidores, investir, de modo que regressem à Venezuela os capitais que fugiram e a liberdade volte a ser a senha e contrassenha da vida política, social e cultural do país do qual há dois séculos saíram tantos milhares de homens para derramar seu sangue pela independência da América Latina.

TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

quinta-feira, 7 de março de 2013

Triste Fim de Policarpo Albalino Bolivariano (com perdao de Lima Barreto)

Decadente, Alba caminha para a desintegração Luiz Raatz
O Estado de S. Paulo, 6/03/2013

A morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, preocupa os países da Aliança Bolivariana das Américas (Alba), grupo criado por ele para projetar sua influência regional, em 2004. Sem seu principal ideólogo, o bloco caminha para a agonia.
"Não vejo futuro para Alba. Ela foi criada sob uma condição ideológica anticapitalista e anti- imperialista, mas o sonho de Chávez não se cumpriu", disse ao Estado o cientista político Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela, especialista em política externa venezuelana.
Sem Chávez, a legislação venezuelana determina que novas eleições presidenciais sejam convocadas. O candidato do chavismo será o vice-presidente, Nicolás Maduro, escolhido definitivamente por Chávez como seu sucessor meses antes de sua morte. A oposição, provavelmente, deverá organizar novas votações primárias para definir seu candidato.
Mesmo que Maduro consiga manter o chavismo no poder sem seu carismático padrinho político, o bloco está condenado, acreditam analistas. "A Alba não foi eficaz em seu modelo de integração. O grupo não tem consenso sobre o que deve fazer", acrescentou Romero. "Muitos países, como a Bolívia, têm se aproximado dos EUA. Outros países caribenhos pequenos, como Dominica, votaram de maneira distinta da Venezuela em organismos internacionais."
Sem Chávez, o protagonismo da esquerda "bolivariana" deve ser requisitada pelo presidente do Equador, Rafael Correa. "Corrêa é ambicioso, mas não tem os recursos abundantes dos quais Chávez dispunha", disse o presidente do Diálogo Interamericano, Michael Shifter.
O presidente equatoriano ganhou, neste ano, os holofotes ao conceder asilo diplomático ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que vive há nove meses na Embaixada do Equador em Londres. Antes da última cirurgia de Chávez, Correa o visitou em Cuba e informou a imprensa sobre o início da operação.
Com uma mudança de governo em Caracas, no entanto, países pequenos da América Central, como a Nicarágua, do sandinista Daniel Ortega, Antígua e Barbuda, Dominica e São Vicente e Granadinas manteriam seus subsídios petrolíferos.
"A questão do petróleo é uma política de Estado. Se Maduro assumir ou a oposição ganhar novas eleições, não imagino que haverá grandes mudanças", disse o analista venezuelano.
Farc. As boas relações com a Colômbia, tumultuadas durante o mandato de Álvaro Uribe, mas retomadas com Juan Manuel Santos, devem se manter. Nos últimos anos, Chávez extraditou e colaborou com a prisão de guerrilheiros em território venezuelano. "Essa questão é política de Estado", disse Romero.
 ===========

A revolução depois de Hugo
Mac Margolis
O Estado de S. Paulo, 6/03/2013

Se em vida Hugo Chávez mobilizou multidões com suas exortações ao "libertador" Simón Bolívar e ao socialismo "do século 21", o que dizer da morte do presidente venezuelano? Coronel, comandante, companheiro e príncipe-palhaço, o líder bolivariano preencheu um espaço imenso no imaginário na Venezuela - e talvez em toda a América Latina. Após os quase 14 anos em que governou soberano, praticamente inconteste, sua repentina ausência deixa órfãos seus milhões de aliados.
Uma amostra do tamanho do vazio foi a cúpula de emergência da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), em dezembro, quando líderes dos Estados-membros do bloco reuniram-se em Caracas um dia depois da quarta e última cirurgia de Chávez em Havana. A pauta única: O que será de um dos experimentos político-sociais mais ousados do Hemisfério Ocidental ocorridos nos últimos 50 anos?
A angústia em Caracas atesta tanto a força do chavismo - que criou raízes em oito países no Ocidente - quanto também seu maior fracasso. A clamada revolução bolivariana tem exatamente o tamanho do seu fundador. Socialismo crioulo? Absolutismo com assistencialismo? Ditadura com aval das urnas? Independentemente de1 como se define o movimento, seu desenho e modelagem dependiam desde sempre da cabeça e dos caprichos de seu patriarca e mais ninguém. A Venezuela de Chávez era o socialismo de uma pessoa só.
Já na era pós-Chávez, ninguém arrisca dizer. Enquanto ainda agonizava o comandante, as apostas giravam em torno de três nomes. Um é do vice-presidente Nicolás Maduro, chavista "rojo rojito" e amigo do peito de Cuba.
No mesmo gabarito está o líder da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, com trânsito fácil entre os militares. Ainda há o ex-vice e atual chanceler, Elias Jaua, que perdeu as eleições regionais em Miranda, Estado matriz da maior esperança oposicionistas, para o opositor Henrique Capriles.
Em comum, os três chavistas ostentam a lealdade feroz a seu líder. E só. Quanto aos atributos de Chávez - visão, carisma, lábia, oportunismo e mão de ferro - todos deixam a desejar. Qualquer desfecho imaginável para o pós- chavismo passa impreterivelmente por uma negociação entre os três.
Ainda assim, não será fácil. Chávez deixou uma pegada enorme nas Américas. Com a crise galopante em Cuba e a doença do velho Fidel Castro, o venezuelano consolidou-se como herdeiro autorizado do desgastado socialismo latino. Mais notável, o chavismo prosperou justamente quando sua força motriz já caducara. Quando assumiu o governo, em 1999, o imperialismo ianque clássico e a ditadura militar à moda antiga, que tanto turbinaram a revolução castrista, já eram páginas viradas. Ensaiaram uma reprise na pele de George W. Bush, cuja inépcia e antipatia global Chávez conseguiu explorar ao máximo, para o aplauso geral. Sim, a democracia e o capitalismo de mercado despontaram como apostas vencedoras da região, convertendo até líderes da outrora esquerda (Lula, Alan Garcia, o uruguaio José Mujica) em paladinos da responsabilidade fiscal. Mesmo assim, Chávez resistia e conseguia imprimir e fortalecer sua pegada antigringos, capitalizando o descontentamento com a exclusão e as falhas do novo momento.
Graças à demografia e ao desenvolvimento, a América Latina emplacou uma temporada impressionante de mudança e melhoramento. A taxa de pobreza não sumiu, mas despencou. A distância entre ricos e pobres, sempre abismai, também encolheu. Fica para os estudiosos a missão de explicar porque o canto do bolivarianismo ganhou ouvidos ao mesmo tempo em que a pobreza encolheu mais e as classes médias latinas avançaram tanto.
Sim, os programas sociais do chavismo, bancados por petrodólares, ajudaram. Mas a ascensão dos excluídos foi a tendência em toda a região, onde de 2003 a 2010 a renda média latino-americana cresceu 30% e 73 milhões atravessaram a linha pobreza. Foi a combinação de políticas de mercado temperada por programas sociais - uma receita lu- lista e não bolivariana - que alçou a historicamente anêmica classe média brasileira à maioria. E não foram as missiones chavistas, mas os inovadores programas de transferência condicional de renda (a Bolsa Família brasileira, o Chile Solidário e o Oportunidades do México) que se tornaram tecnologia modelo de combate à pobreza latina, estudada e replicada no terceiro mundo afora.
Na balança, o PIB dos oito países da Alba, de US$533 bilhões, representa modestos 11% do PIB latino-americano, de $5,6 trilhões, segundo o Banco Mundial.
A urgência da reunião dos aliados em Caracas, que nada mais foi que a disputa antecipada de herdeiros da partilha do espólio do patriarca, explica-se. As dúvidas são existenciais. Que fará Cuba se for cortado o envio de mais de 100 mil barris de petróleo por dia para ilha? E Nicarágua, que recebeu de bondade US$ 609 milhões em petróleo venezuelano, equivalente a 10% de seu PIB de 2011? Como fica Bashar Assad, o déspota sírio, cuja sobrevida se deve, em boa medida, aos petroleiros venezuelanos, que ignoraram o bloqueio internacional?
A conta não é apenas econômica. A lacuna deixada por Chávez inclui todo um estilo de governança que impulsiona o carisma e força eleitoreira do grande líder para desbastar as instituições democráticas. Assim, uma vitória nas urnas "autorizou" Chávez a reescrever a Constituição, lotear os tribunais com magistrados amigos, intimidar a mídia independente e retalhar os distritos eleitorais - para garantir o domínio completo.
Mas tudo dependia da vara de condão do comandante. Chávez mantinha sua ascendência sobre as tendências bolivarianas com uma mistura entre cacetadas e confeites. Comprou lealdade, distribuindo benesses à hierarquia chavista - os "boligarcas" - que se serviram de sobras de orçamentos opacos e alheios à fiscalização. Era a corrupção do século 21. E ainda desequilibrava os potenciais rivais, passando-lhes descomposturas em praça pública, no seu programa dominical, o Alô, Presidente, e até demitindo-os ao vivo por seus deslizes.
A alta-costura do chavismo só não contava com a mortalidade. Desde meados de 2011, quando, enfim, divulgou-se o câncer do líder, a sorte da Venezuela mudou. Analistas, militantes políticos, chavistas e milicianos - todos na Venezuela viraram oncologistas. Pois, conforme as palavras astutas de Moisés Naím, a revolução bolivariana passou a depender mais da biologia do que da ideologia. Agora, depende de uma ciência bem menos exata e muito mais imprevisível. A disputa é entre rivais no seio do chavismo, cada qual de posse de um pedaço do legado bolivariano, mas nenhum com o cacife ou muito menos a aura do líder original.
 ==========

Um caudilho singular e de muitas faces
Demétrio Magnoli
O Estado de S. Paulo, 6/03/2013

Depositei minha esperança no tempo. Seu ventre enorme abriga mais esperanças do que os acontecimentos do passado - e os eventos do futuro devem ser superiores aos do passado." Hugo Rafael Chávez Frías apelou, como ; sempre, a Simón Bolívar para abrir o discurso aos venezuelanos no qual comunicou que se submetera a uma : cirurgia de remoção de um tumor pélvico, em Havana, em junho de 2011. O ventre do tempo, mesmo enorme, não tinha espaço suficiente para as esperanças incomensuráveis do caudilho. Chávez deixa o mundo dos vivos quatro cirurgias e uma reeleição depois. Na derradeira partida para Cuba, pela viatransversa da nomeação de um sucessor, ele final- I mente disse a seus concidadãos a verdade sobre o câncer que o destruía.
Nas democracias de massas, quando se trata da saúde, da doença e da morte, espera-se dos estadistas nada menos que a transparência absoluta. Chávez, porém, nunca acreditou na noção "burguesa" do interesse público. A sua vida estava consagrada a algo diferente: uma missão histórica. Por coerência, uma qualidade da qual não carecia, a doença e a morte precisavam se subordinar ao mesmo imperativo. O segredo férreo sobre o tipo de câncer, a opção desastrosa pelo tratamento em Cuba, a encenação eleitoral da cura e da reabilitação inscrevem-se na lógica política que marca o chavismo com um sinete singular. Como regra, caudilhos são líderes destituídos de ideologias. Chávez foi, sob esse aspecto decisivo, um caudilho especial.
A visão de mundo de Chávez não surgiu pronta da leitura de algum livro, mas evoluiu ao longo de uma trajetória em três etapas. O primeiro Chávez emergiu após o golpe frustrado de 1992, na roupagem do condotttieri nacionalista, antiamericano, hipnotizado pelos mitos românticos de Bolívar e do ex-presidente Cipriano Castro (1899-1908) - este, um caudilho extravagante, ganhou essa alcunha de "Bruto Louco" do ex-secretário de Estado americano Elihu Root por desafiar o presidente Theodore Roosevelt.
Moldado em parte pelo pensamento do sociólogo argentino Norberto Ceresole, o chavismo original flertava com o antissemitismo e almejava construir um Estado autoritário, de   traços fascistas. Sua meta histórica era a restauração da Grã-Colômbia, ou seja, a reunificação geopolítica de Venezuela, Colômbia e Equador.
O chavismo de segunda água organizou-se em 1999, no alvorecer do mandato presidencial pioneiro, quando o caudilho rompeu com Ceresole e aproximou-se de outro sociólogo, o alemão Heinz Dieterich, um obscuro professor no México que alcançou notoriedade com o conceito do "socialismo do século 21". A expressão significa, essencialmente, capitalismo de Estado.
Nos anos seguintes, Chávez iniciou um programa de nacionalizações, controles de preços e "missões sociais" e concluiu um pacto estratégico com Cuba. Criou a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), converteu a petroleira PDVSA em aríete de política externa e engajou-se no financiamento dos governos de Bolívia, Equador, Nicarágua e Honduras.
Na versão chavista, o sonho bolivariano de unidade da América hispânica foi traduzido como um projeto de unificação da América Latina sobre o alicerce da Grã-Colômbia. Durante a etapa ascendente da "revolução bolivariana", o líder venezuelano qualificou a Colômbia como " Israel da América Latina", "um Estado terrorista subordinado ao governo dos EUA", e apostou suas fichas na guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
"O Ayacucho deste século é a Colômbia", proclamou Chávez no seu discurso mais aventureiro, referindo-se à Batalha de Ayacucho, de 1824, um triunfo decisivo do general Sucre na guerra de Bolívar contra os espanhóis. A falência militar das Farc, evidenciada em 2008, assinalou o encerramento da fase ofensiva da política externa do caudilho venezuelano.
Da derrota no referendo constitucional de 2007, que coincidiu com a ruptura com Dieterich, surgiu um terceiro Chávez. A reinvenção ideológica já se esboçava desde a reeleição, no ano anterior, quando o caudilho anunciou a decisão de substituir a coalizão de partidos chavistas por um Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSITV). A ideia não era dele, mas do trotskista britânico Alan Woods, um novo confidente e crítico feroz do "socialismo do século 21". Woods propunha a radicalização socialista da "revolução bolivariana".
Em tese, o PSUV deveria cumprir a função de organização revolucionária de massas, corrigindo o traço caudilhesco do regime chavista, que se equilibrava sobre uma coleção de máfias lideradas por burocratas e militares ligados ao condottieri. Na prática, o partido incorporou à sua máquina diversas facções chavistas, reproduzindo no seu interior o sistema de arbitragem política típico do caudilhismo.
Palimpsesto é o manuscrito várias vezes reescrito, pela superposição de camadas sucessivas de texto que não recobrem totalmente as camadas anteriores, de modo que a escritura mais recente mantém relações complexas com as precedentes. O chavismo é uma doutrina de palimpsesto que mistura a Pátria Grande bolivariana, os impulsos românticos do nacionalismo, um visceral antiamericanismo e os dogmas do marxismo.
O bizarro caldo ideológico resultante não apontou um rumo, mas conservou as portas abertas para as opções táticas do caudilho. Nos últimos dois anos, sob os impactos combinados dos fracassos econômicos, do crescimento da oposição e da batalha de Chávez contra o câncer, a "revolução bolivariana" . quase estancou, frustrando suas correntes mais radicais.
"Chávez une o que é diverso: o povo", explicou Aristóbulo Istúriz, um dirigente do PSUV, sintetizando a natureza do caudilhismo. A obsessão chavista pela reeleição presidencial ilimitada não refletia um apego excepcional do condottieri pelo poder, mas a sua aguda percepção da fragilidade da "revolução bolivariana".
Nos primeiros, gloriosos tempos do chavismo, o regime patrocinou a publicação de uma edição de centenas de milhares de exemplares do Quixote de Cervantes para distribuição gratuita entre os venezuelanos. Dom Quixote descreve sua missão como a destruição da injustiça - mas a injustiça definitiva é a morte. Chávez sabia que não tinha o direito de morrer pois, sem ele, não há chavismo nem "revolução bolivariana".

Noticias de certo continente...

A gente sempre se surpreende com as manchetes do dia:

 Ansa Latina (Itália) – Rousseff organiza frente contra golpe en Venezuela
Uau? Um golpe estava em curso? Então é preciso salvar o país dos conspiradores...

Venezolana de Televisión – Patriota: Chávez es un líder que quedará en la memoria de los venezolanos
Disso não existe a menor dúvida: HC é inesquecível...

El Nacional (Venezuela) – Aseguran que Maduro no puede ser candidato si ejerce como vicepresidente
Ops, os conspiradores se agitam; vamos fazer uma frente contra o golpe...

BBC (Reino Unido) – Chávez era "el mesías", según Ahmadinejad
Vamos ter de descobrir agora os fundamentos teológicos do novo culto...

Reuters (Reino Unido) – Una Cuba conmocionada empieza a imaginar el futuro sin Chávez
Uh, lá, lá: a mesada vai diminuir agora...

E assim vamos indo...
Sexta-feira tem mais...

quarta-feira, 6 de março de 2013

HC, o breve (brevissimo para certos personagens...)

A charge definitiva de Amarildo:
 (eu não disse que teríamos luto?; vamos ver agora a procissão, e os salmos...)

Josip Stalin-Hugo Chavez: RIP; solidarios na morte?

Parece que é mais uma dessas ironias da história, essa matreira, astuta e imprevisível mestra de todas as ciências (e crendices também): sessenta anos depois da morte de um dos maiores tiranos da humanidade, superior a Gengis Khan e Atila reunidos, mais mortífero que Hitler (embora com outros métodos e intenções), Stalin, desaparece também Hugo Chavez, um pálido aprendiz das técnicas de repressão do ditador soviético e do déspota chinês, mas um grande praticante das mesmas técnicas de manipulação das massas pela propaganda política mistificadora.
OK, Hugo Chávez não dispunha de Gulag, como seus (talvez admirados) predecessores "socialistas", mas também fez o possível para eliminar qualquer oposição ao seu governo.
O "Gulag" de Chávez era ter de assistir suas arengas de 10 horas em rede de televisão, o que, convenhamos, deve ser insuportável para quem quer apenas passar o domingo com programas de auditório e em concursos de "quem ganha mais?".
Assistir televisão, em certos países, se tornou um gulag similar...
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Agradeço ao meu amigo Vinicius o envio desta matéria, que teria passado despercebida, mesmo eu recebendo os boletins do Le Monde todos os dias (mas não consigo ler tudo...). 

Soixante ans de la mort de Staline : un fantôme omniprésent

LE MONDE | • Mis à jour le

Célébration à Moscou du cent-trentième anniversaire de la naissance de Staline, le 21 décembre.

En 1991, au moment de l'effondrement de l'URSS, il ne se trouvait plus que 12 % des Russes pour faire de Staline une grande figure historique. Aujourd'hui, la moitié d'entre eux font du "Petit Père des peuples" le champion incontesté des héros nationaux, loin devant Lénine ou Pierre le Grand. Soixante ans après la mort de l'homme qui régna sur l'URSS durant trois décennies et envoya à la mort entre 10 et 20 millions d'individus (sans compter les victimes de la guerre), tel est le résultat d'un sondage de la Fondation Carnegie publié le 1er mars.

Avec l'arrivée au Kremlin de Vladimir Poutine, Staline est redevenu un personnage mythique, victorieux du nazisme en 1945 et bâtisseur "de la société la plus juste au monde (...) et d'une grande puissance industrielle", selon l'un des principaux manuels scolaires. Rien ou très peu n'est dit des massacres perpétrés par une police politique dont le président russe est si fier d'être issu.
Pour les soixante ans de sa mort (le 5 mars 1953), c'est aux victimes de Staline que Le Monde consacre un supplément, plus particulièrement à celles de la Grande Terreur de 1937-1938, lorsque 1.600 personnes étaient exécutées chaque jour. Ces documents exceptionnels, les Russes n'y ont pas accès. Les archives du KGB sont hermétiques et ceux qui s'y intéressent sont soupçonnés de trahison.
Staline est désormais fantomatique mais omniprésent, jamais loué explicitement par le pouvoir, jamais critiqué non plus. Sa mémoire fleurit sans qu'une seule rue ne porte son nom. Les manifestations de cette présence sont rares : un slogan restauré en lettres d'or à la station de métro Kourskaïa de Moscou et quelques portraits sur les autobus au moment des grandes fêtes commémoratives de la victoire contre le nazisme – jours durant lesquels, c'est officiel depuis février 2013, la ville de Volgograd reprendra son nom de Stalingrad.
Les Russes n'ont jamais été aussi libres de surfer sur Internet, de voyager et de consommer, à condition de ne pas faire de politique. Les opposants qui ont osé élever la voix contre la "démocratie dirigée" à l'hiver 2011-2012 sont harcelés. Depuis le retour de M. Poutine au Kremlin pour un troisième mandat, on se croirait revenu à l'époque des campagnes contre le "cosmopolitisme".
Deux mémoires se chevauchent. Staline le bâtisseur de l'empire soviétique fait oublier le tyran sanguinaire. C'est comme si la Russie tout entière était frappée de schizophrénie. L'élite politico-militaire au pouvoir achète des propriétés en Floride ou sur la Riviera tout en fustigeant les "agents étrangers". L'homme de la rue, lui, révère Staline mais ne voudrait à aucun prix se retrouver dans l'URSS des années 1930. En jouant sur la psychologie de l'Homo sovieticus – la peur, le paternalisme, la forteresse assiégée –, Vladimir Poutine prive le pays de son devoir d'inventaire. Difficile de moderniser la Russie avec un tel héritage.

terça-feira, 5 de março de 2013

Venezuela: la se foi o comandante...

Muitas lágrimas, enxurradas delas, provavelmente mais sinceras do que as derramadas quando da morte de Stalin, ou de Mao Tsé-tung, dois tiranos que mataram muitos, milhões, de seus compatriotas.
Chávez nunca chegou a tanto, inclusive porque as condições eram bem diversas; foi apenas um autoritário caricato, quase de opereta, ou talvez totalmente de opereta.
Deixa a economia do país em frangalhos, e muito mais dependente do petróleo do que quando entrou, e justamente havia prometido fazer o contrário. Seria apenas a conhecida maldição do petróleo? Provavelmente não. Como Lênin, era um gênio político, mas um total incompetente econômico: o líder bolchevique também destruiu a economia russa, e Stalin passou a construir a economia soviética com basea no mais completo escravismo conhecido na era moderna. Mao foi muito pior, mas não inovou quase nada em relação a Stalin, apenas matou mais gente, mais por incompetência do que pod desejo de matar. Chávez não chegou a tanto, mas seria interessante saber quantos milhares de venezuelanos fugiram do seu socialismo do século 19, ou 18, sim, porque do século 21 não tinha absolutamente nada, só o calendário errado, torto, completamente deformado.
Herança pesada que deixa para os sucessores, de qualquer tendência e inclinação política e econômica. Herança muito pesada. Pobre Venezuela.
Ah, sim, vamos ter luto de três dias, querem apostar?
Não tenho nenhum sentimento adverso em relação à pessoa de Chávez, inclusive porque teria de ter também contra outros líderes populistas incompetentes da nossa região, o que não é o caso. Apenas tento compreender as circunstâncias pelas quais foi possível chegar a tamanha decadência política (mas que não é inédita na história da Venezuela; basta ver um perfeito antecessor de Chávez, cem anos atrás, na pessoa do coronel Cipriano Castro; depois houve outros ditadores). Muito pode ser atribuído a elites corruptas, certamente, mas tam∫ém se deve à falta de educação política, ou de educação simplesmente, da maior parte da população. Conhecemos isso, também, pois temos o mesmo fenômeno, apenas com menos desastres. O que faço, geralmente, é apenas analisar, e criticar, políticas públicas, meu terreno preferencial de debate intelectual. Registro que as da Venezuela, e da Argentina, foram muito mais incompetentes, dezenas de vezes mais do que as do nosso vidente.
Transcrevo abaixo pequena alegoria que fiz no começo deste ano, quando já era evidente que os dias do candidato a ditador estavam contados. Prolongaram seu sofrimento durante muito tempo, como aliás ocorre com os verdadeiros ditadores: Stalin, Mao, Tito, Franco, Salazar e outras figuras caricatas da América Latina. El colonel ya no tiene quien le escriba, mas muitos vão chorar nos próximos dias.
Paulo Roberto de Almeida

Uma lágrima para Chávez; nenhuma para o socialismo do século 21
Paulo Roberto de Almeida
Alegoria política estilo século 20
Juca Chávez se foi. Uma pena. Era um bom cantor e compositor. Encantava o público, que podia passar horas escutando-o deblaterar contra os poderosos, os políticos tradicionais, os mercados, o capitalismo, a ganancia, a cupidez dos homens, enquanto versejava sobre um futuro melhor, feito de abundância, de solidariedade, de muito amor e compreensão. Embaladas nos acordes de um velho violão, as canções soavam simpáticas, sempre prometendo justiça e bem-estar para todos, mesmo sem esclarecer como tudo isso seria alcançado, já que trovas políticas precisam ter recados curtos para serem eficazes. Ele chamava tudo isso de “socialismo do século 21”, um título curioso, pois suas ideias recendiam mais ao século 19. Enfim, a vida é feita de contradições.
Era um mestre das palavras e das rimas. Sabia tocar os corações e mentes das pessoas, sobretudo os mais humildes, aqueles afastados dos círculos de poder, que só têm uma vaga ideia sobre como são complexos os mecanismos da dominação política e ainda mais as engrenagens dos circuitos produtivos. Chávez era um carismático, com sua retórica poderosa, certamente convencido de seu próprio poder sobre as pessoas. Mas ele não descuidava de fazer sua autopromoção, ressaltando suas qualidades e escondendo habilmente seus defeitos. Acompanhado de seu violão, era capaz de reter as pessoas durante horas, frente às telas da televisão, ou ao som do rádio.
A isso chamamos liderança natural: Juca Chávez a tinha de sobra. Pena que usou muito mal de todas as suas habilidades, prometendo muito e, afinal, entregando muito pouco. Suas ideias econômicas eram bizarras, feitas de uma mistura de estatismo e socialismo rústico: acabou desmantelando as bases da economia de mercado, e deixando o país pior do que se encontrava quando assumiu sua posição de líder, o que lhe converteu numa espécie de caudilho da música popular. Primeiro, passou a achar que só as suas músicas eram as boas: daí praticamente monopolizou as rádios e TVs para seu estilo de música, banindo todos os demais. Depois decretou que todos (ou quase todos) passariam a usar a mesma cor de camisa, que ele dizia ser a cor do amor. Tanto carinho e dedicação a suas causas nobres encantavam os já conquistados ao seu charme e pregações, mas deixavam poucas opções de escolha aos demais, aqueles que simplesmente gostariam de usufruir de suas boas promessas, sem necessariamente ter de aderir a todas as suas maneiras e trejeitos.
Juca Chávez, como trovador, era mesmo contraditório: queria fazer o bem, mas achava que todos deviam concordar com a sua maneira especial de fazer o bem. Na verdade, ele não estimulava a criatividade nas ou das pessoas; pretendia simplesmente à agregação de todos e cada à sua visão peculiar do que fosse o bem, ao seu projeto pessoal de engenharia social. E a sua engenharia padecia de sérios erros estruturais.
Juca Chávez se foi. O mundo da canção latino-americana já não será mais o mesmo, pois Chávez o transformou irremediavelmente. Deixou seguidores, mas nenhum à sua altura, ou dispondo de seus recursos pessoais e materiais. Vai fazer falta para muitos, sobretudo porque era generoso com os humildes, embora impiedoso com quem não partilhava de seu “socialismo do século 21”. Este nunca chegou a ser formulado explicitamente e, de fato, era muito confuso para funcionar de verdade. Imagina-se que nunca funcionaria na prática, já que poetas e trovadores jamais conseguem articular soluções a problemas concretos: ele só alimentam sonhos.
Uma lágrima para Juca Chávez; nenhuma para o seu socialismo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2 de Janeiro de 2013.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Cuba e' o centro do mundo? Se nao e', parece...

Incrível capacidade que possuem os líderes latino-americanos, especialmente os hispano-americanos, de fazer de uma ilha decadente economicamente o foco de suas tratativas puramente bilaterais entre si, ou para questões que não necessariamente precisam do aval dos cubanos.
PRA

Canciller de Venezuela suspende visita a Perú por llamado desde Cuba

Elías Jaua
Elías Jaua, canciller de Venezuela, canceló su cita con el presidente del Perú, Ollanta Humala.

Según el diario El Universal de Caracas, Elías Jaua canceló cita este viernes con Ollanta Humala.

El ministro de Relaciones Exteriores de Venezuela, Elías Jaua, suspendió la visita que tenía agendada para este viernes con el presidente peruano Ollanta Humala y su homólogo peruano, Rafael Roncagliolo, en Lima, confirmó la Cancillería peruana.
Mientras que la agencia de noticias Efe habla de la suspensión de su visita “por problemas de agenda”, el periódico El Universal afirma que esta se dio por un llamado a Jaua desde La Habana, donde permanece internado y bajo estricta observación médica el presidente venezolano Hugo Chávez.
De otra parte, la agencia AFP señaló que una fuente diplomática dijo que "El presidente Hugo Chávez ha llamado al canciller Elías Jaua a La Habana, la visita (a Perú de Jaua) se ha postergado".
Horas después del anuncio de la visita hecho por un portavoz de la Cancillería se produjo la suspensión de la misma por problemas de agenda del ministro venezolano, con la posibilidad de ser reprogramada en las próximas semanas, según la agencia Efe.
La visita de Jaua a Lima fue anunciada después de que el presidente Humala estuviera en Cuba y se interesara por la evolución de la salud de su colega venezolano, Hugo Chávez, operado en ese país en diciembre último y que permanece aún en La Habana.
Humala se reunió el pasado 11 de enero con algunos familiares del mandatario venezolano y con el vicepresidente de Venezuela, Nicolás Maduro, en La Habana, tras manifestar a su llegada a Cuba que indagaría por la salud de Chávez.
La última vez que Humala visitó a Chávez en Caracas fue hace un año cuando acudió a un encuentro bilateral que concluyó con la firma de varios acuerdos de cooperación política y comercial.
LIMA
EFE y EL UNIVERSAL

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Karaoke bolivariano: nao fala, mas presta uma atencao...

Parece cruel fazer piada com doentes, no caso o grande cantor e o maior discursador da história do continente (estava quase ultrapassando a marca de Fidel Castro, em menos tempo), mas essa história de cantar parece se encaixar na personalidade do presidente: ele adorava cantar nos seus programas de televisão, que costumavam durar horas e horas...
Como mostra a matéria seguinte, ele monopolizou os meios de comunicação por mais de dez anos seguidos. Vai fazer falta...
Paulo Roberto de Almeida

Patriota é informado de que Chávez até canta
Eliane Oliveira
O Globo, 10/02/2013

Mas o 'ABC' diz que presidente perdeu a voz e dificilmente reassumirá suas funções

BRASÍLIA - No mesmo dia em que o jornal espanhol "ABC" anunciou que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, não estaria mais em condições de retornar ao comando de seu país e que ele teria perdido a voz completamente, como consequência do tratamento de combate ao câncer, o governo venezuelano passou ontem outra versão ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Durante uma reunião com o chanceler da Venezuela, Elias Jaua, Patriota foi informado de que, na última quinta-feira, Chávez participou de um sarau em Havana, onde está internado em um hospital, e até cantou.

- A mensagem que nos foi passada é que há um esforço de restabelecimento do presidente Hugo Chávez, o que muito nos alegra - disse ao GLOBO o embaixador Tovar Nunes, que acompanhou o ministro brasileiro em sua visita a Caracas.

Já o jornal "ABC" publicou em sua edição de ontem que a família de Chávez teria sido avisada pelos médicos de que o presidente venezuelano não se recuperará.

O jornal cita fontes em contato com a equipe médica que atende Chávez em Havana, que teriam afirmado que o presidente sofreu danos permanentes em suas cordas vocais e que dificilmente vai recuperar a voz. Sem poder falar e sair da cama, em uma condição que persiste há dois meses, o presidente estaria "muito deprimido".

Segundo o diário espanhol, o governo venezuelano fará um pronunciamento nos próximos dias para anunciar a incapacidade de Chávez reassumir suas funções. O Tribunal Supremo, que em janeiro autorizou o adiamento da posse do presidente e sua ausência da Venezuela durante o tratamento em Cuba, já teria sido informado sobre a situação.
================
Dois meses sem a onipresença midiática de Hugo Chávez
Ariel Palácios
O Estado de S. Paulo, 10/02/2013

Neste sábado dia 9 completaram-se dois meses desde o desembarque do presidente Hugo Chávez em Havana, Cuba, para preparar-se para sua 4ª. cirurgia para extirpar o câncer que o assolava. Nesta segunda-feira dia 11 completam-se dois meses de sua operação. De lá para cá nunca mais os venezuelanos e o resto do planeta puderam ver uma imagem nova de Chávez, sequer ouvir sua voz em um áudio recente. Neste período, o vice-presidente Nicolás Maduro somente mostrou documentos que estavam, segundo sustentou, assinados por seu chefe.

Na semana passada, para demonstrar que o documento havia sido realmente assinado por Chávez, mostrou a pasta de cartolina onde estava o papel, com o escudo presidencial. “Vejam só, é a pasta presidencial”, ilustrou Maduro, indicando que exibia uma prova irrefutável da permanência de Chávez com vida. “E tem o escudo presidencial”, ressaltou.

O cenário dos últimos dois meses foi radicalmente diferente do panorama anterior, já que durante os anteriores 13 anos a presença midiática de Chávez foi praticamente onipresente na Venezuela.
“Mejor que decir es hacer” (Melhor do que dizer é fazer). A frase é um dos top ten dos epigramas do general e presidente argentino Juan Domingo Perón. No entanto, o laconismo que Perón pregava não foi seguido por seus admiradores (se bem que o próprio fundador do peronismo tampouco seguia o que dizia). Um deles, declarado peronista em versão caribenha é o presidente venezuelano Hugo Chávez, fez da atividade midiática permanente sua marca de governo.

A verborragia do líder bolivariano foi pesquisada detalhadamente por seu compatriota, o sociólogo Andrés Cañizales. No livro “A presidência midiática” o acadêmico cita como exemplo o discurso de 10 horas que Chávez fez no dia 13 de janeiro de 2012 perante o Parlamento venezuelano. Nesse monólogo – o mais longo de um presidente na História desse país perante os deputados – Chávez pronunciou a palavra “eu” um total de 586 vezes.

Do total de vezes em que Chávez fez referências sobre políticas pública, falou sobre si próprio em terceira pessoa 75% das vezes

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) fez uma medição dos discursos que Chávez proferiu nos primeiros dez anos de seu governo, entre 1999 e 2009. Ao longo dessa década os canais de TV e estações de rádio venezuelanos transmitiram 1.992 redes nacionais de TV e rádio protagonizadas por Chávez.

O total equivale a 1.252 horas e 41 minutos.

Se por acaso Chávez pudesse ter concentrado todos seus discursos em rede nacional, para falar de forma corrida, essas horas equivaleriam a 52 dias seguidos. Isto é: seria como ter alguém em casa sem parar de falar durante quase dois meses de forma ininterrrupta.

Os líderes da oposição venezuelana não poupavam críticas sobre a presença ostensiva de Chávez e acusavam o presidente de tentar uma virtual onipresença midiática. Enquanto Chávez estava presente dicursando de forma constante não faltaram irônicas alusões ao “Grande Irmão”, o personagem do livro “1984”, do britânico George Orwell, que estava de forma quase permanente nas telas dos habitantes de Oceania, um país ditatorial.

Segundo Cañizales, Chávez aplicou durante seu governo (e possivelmente continuaria aplicando, em um virtual e hipotético retorno) o “decisionismo midiático”, já que muitas decisões governamentais – estatizações, acordos internacionais, entre outros – eram tomadas na hora, ao vivo para toda a nação, para surpresa dos próprios ministros, ocasionalmente.
POEMAS & HIGIENE. E MARTE - O presidente Chávez dissertava sobre os mais variados assuntos em seus speeches.

O líder bolivariano dedicava tempo para intercalar piadas durante sua fala e conversa com o público (quase um monólogo, pois dificilmente dá para ouvir as breves respostas das pessoas na audiência).

Chávez também cantava e declamava poesias durante suas falas em rede nacional de TV. Além disso, dava ordens sobre o modus operandi no qual seus compatriotas devem proceder com a higiene em 2009 quando a Venezuela estava em crise energética: “há pessoas que cantam no banheiro meia hora. Ora, mas que comunismo é esse? Eu contei o tempo: três minutos é mais do que suficiente, não fiquei fedendo. Um minuto para se molhar, outro para ensaboar. E um terceuro para enxaguar. O resto do tempo é um desperdício”.

Polifacético, o tenente-coronel das brigadas para-quedistas que chegou à presidência venezuelana, também fazia peculiares alusões político-astronômicas, tal como na ocasião em que avaliou que existiu vida no planeta Marte, mas que esta teria acabado pela ação do capitalismo marciano.

Mas apesar da verborragia, existem assuntos que Chávez esquiva. No discurso em janeiro do ano passado no Parlamento – que conteve 60 mil palavras – ele citou a expressão “falta de segurança” somente duas vezes, enquanto que “desemprego” foi dita apenas uma vez.

A ausência dos discursos de Chávez nos últimos dois meses está sendo parcialmente coberta pela presença constante do vice-presidente Nicolas Maduro na mídia, bem como o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, além do genro de Chávez, o ministro do Poder Popular para a Ciência, Jorge Arreaza, e o ministro do Poder Popular da Informação, Ernesto Villegas.

Nenhum deles conta com o carisma e a verbe de Chávez, embora Maduro, nos últimos discursos, tenha se esforçado em copiar seu líder convalecente, emitindo frases com tom exaltado e declarações nacionalistas.

O mise-em-scène não eximiu o vice de recorrer a alguns momentos de efeito, como o de, no 10 de janeiro, dia da virtual posse de Chávez sem Chávez, após anunciar a permanência das medidas revolucionárias, Maduro recorreu a outras medidas, impactantes, de 90-63-90 centímetros de busto, cintura e quadril da curvilínea miss Mundo de 2011, a venezuelana Ivian Lunasol Sarcos, estudante de Relações Internacionais e ativa militante chavista, que subiu no palanque para declarar seu respaldo ao governo em meio a aplausos e “fiu-fius”.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Prospective zombie; or "It had to be you"...

Médicos comunican a familia de Chávez que éste no se recuperará

El Nuevo Herald, 10/02/13.

El diario español ABC.es en su version digital informa de que el presidente venezolano Hugo Chávez no se recuperará de su dolencia.
Según el diario español, los médicos que atienden a Chávez en La Habana ya han comunicado a su familia, a los hermanos Castro y a la cúpula chavista, que el mandatario no está en condiciones de regresar a Venezuela para ejercer la presidencia.

El medio sostiene que fuentes en contacto con el equipo médico indicaron que Chávez ha perdido la voz por completo “a consecuencia del tratamiento médico recibido” y que no puede moverse de la cama. Dicho tratamiento, “ha causado daño permanente en sus cuerdas vocales y difícilmente va a poder recuperar la voz”, según el rotativo español. Las mismas fuentes que cita el diario agregan que el presidente se encuentra muy deprimido.
Acorde con ABC, en los próximos días el gobierno venezolano daría a conocer la incapacidad del presidente para asumir el cargo.
El diario, que ha recibido fuertes críticas del gobierno venezolano —que lo acusa de participar en una campaña de calumnias contra Venezuela— reitera informaciones previas acerca del aspecto demacrado y la persistente dificultad respiratoria de Chávez. Además, señala que los síntomas del avance de su enfermedad (rabdomiosarcoma) “son de nuevo claramente manifiestos”.
En contrate, el canciller de Venezuela, Elías Jaua, aseguró el sábado que el jefe de Estado, Hugo Chávez, está “al mando” y “tomando decisiones estratégicas”, y señaló que en el país hay estabilidad, sus instituciones funcionan con normalidad y la comunidad internacional lo respalda.
“El presidente está al mando y tomando decisiones de carácter estratégico para el desarrollo económico productivo del país”, aseguró Jaua a periodistas tras sostener un encuentro con su par brasileño, Antonio Patriota, apuntando que hay “un país en paz”, con “un normal funcionamiento de todas sus instituciones”.
Jaua respondió así al ser preguntado por la preocupación manifestada en algunos sectores empresariales en el exterior para invertir en Venezuela por la situación de salud del mandatario, quien se recupera de una intervención quirúrgica en Cuba desde hace dos meses.
“Esas preocupaciones, entre comillas, solo existen en los laboratorios mediáticos que por el mundo intentan hacer ver que en Venezuela hay unas condiciones de desestabilización que no existen por ningún lado”, apuntó.
Jaua quien viajó esta semana a La Habana a visitar a Chávez en compañía del vicepresidente, Nicolás Maduro, y la procuradora general, Cilia Flores, dijo que el presidente los había recibido con un “sarao” de música llanera, y muy agradecido por las muestras de solidaridad con lo que destacó el buen ánimo del gobernante.
El viernes, Maduro se refirió a una conversacion sostenida con Chávez en La Habana. Según ésta, Chávez reconoció que el proceso de recuperación de su cuarta operación de cáncer era “lento” y que seguía en “batalla” aferrado a Cristo.
Chávez también “estuvo conversando” de la imagen de un Cristo en su habitación que le regaló el ministro de la Defensa, Diego Molero, relató Maduro.
“También nos ratificó que tiene gran confianza en el equipo médico, en el tratamiento que está haciendo de manera disciplinada”, explicó el funcionario.
Según Maduro, ante las “expresiones de amor diarias” que le expresa el pueblo venezolano, Chávez dijo: “todo eso me da mucha fortaleza, el cariño y el afecto me levanta aún más la voluntad de luchar y vivir” y “darle gracias” al pueblo.
Read more here: http://www.elnuevoherald.com/2013/02/10/1404102/medicos-comunican-a-familia-de.html#storylink=cpy

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O fim da esquerda latino-americana? - Alvaro Vargas Llosa


The End of the Latin American Left

Will Hugo Chávez's revolution die with him?

BY ALVARO VARGAS LLOSA 

Foreign Policy, February 7, 2013

The exact condition of Hugo Chávez continues to be a Churchillian riddle wrapped in a mystery inside an enigma. The Venezuelan president, who won his third reelection last October and has been hospitalized in Cuba for many weeks with cancer, missed his own inauguration in January. In his absence, Vice President Nicolás Maduro, Chávez's hand-picked successor, has been left in charge of the government indefinitely. But Maduro is no Chávez, lacking both the charisma and the power base of Venezuela's mercurial leader. And it's not just a problem for the chattering classes in Caracas: The question haunting the Latin American hard left, which Chávez has dominated in the last decade, is who will take his place.
In explaining the rise of the political left in Latin America over the past decade, Chávez's persona looms large. Politicians like Evo Morales, Rafael Correa, and Cristina Fernandez de Kirchner owe an enormous debt of gratitude to Chávez for laying the groundwork toward a renewed form of populism, Latin America's version of socialism. Chávez's illness has only served to highlight that debt. "The issue of the health of brother Chávez is a problem and a worry not just of Venezuela, but of all the anti-imperialist, anti-capitalist people," Morales said in January, speaking from behind a podium reading, "We Are All Chávez." But Chávez's charisma and ruthless political genius fail to explain why he has been able to achieve such regional clout. Through a canny use of petrodollars, subsidies to political allies, and well-timed investments, Chávez has underwritten his Bolivarian revolution with cash -- and lots of it. But that effective constellation of money and charisma has now come out of alignment, leaving a power vacuum that will be difficult for Chávez's political heirs across the hemisphere to fill.
Several Latin American leaders would like to succeed him, but no one meets the necessary conditions: Cuba's blessing, a fat wallet, a country that carries enough demographic, political and economic weight, potent charisma, a willingness to take almost limitless risks, and sufficient autocratic control to allow him or her to devote major time to permanent revolution away from home.
What will happen is partly in Cuba's hands. Because Cuba has made Venezuela into its foreign-policy proxy, the Castro brothers need Caracas to remain the capital of the movement for it to retain any vitality. While Cuba is dependent on the roughly 100,000 barrels of heavily subsidized oil Chávez's regime supplies to Cuba daily, the island nation has a grip on Venezuela's intelligence apparatus and social programs. Chávez himself acknowledged last year that there are almost 45,000 Cuban "workers" manning many of his programs, though other sources speak of an even larger number. This strong connection allows Cuba to exercise a vicarious influence over many countries in the region. Caracas's clout in Latin America stems from Petrocaribe, a mechanism for helping Caribbean and Central American countries purchase cheap oil, and ALBA, an ideological alliance that promotes "21st century socialism." The combination of the two gives Caracas, and therefore Havana, some authority over the politics of 17 other countries.
What does this mean for the future of the left? Essentially that Cuba will do its utmost to prop up Maduro. Chávez's chosen man will never be a revered figure -- his talents as a politician are lackluster -- but with Havana's backing and control of the money funneled to the region's leaders, he will retain some of Chavez's stature. In recent months, he and what might be called the civilian nucleus of the Venezuelan government have been a constant presence in Havana, where they have relied on the information supplied to them by Cuba about Chávez's real condition. This clique is comprised mainly of Rosa Virginia, Chávez's eldest daughter; her husband Jorge Arreaza, who is also a minister; Cilia Flores, Maduro's wife and the prosecutor general of the regime; and, finally, Rafael Ramírez, the head of the oil giant PDVSA.
Maduro has made most of his key political announcements from Havana, often flanked by some of these people as a way to consolidate his legitimacy inside the Venezuelan military, where he has rivals, and of course the Latin American left writ large. It seems to have worked for now: The region's left lent him dutiful support through various regional bodies when the opposition denounced the arrangements that have turned him into an acting president indefinitely. In a statement put out by Secretary General José Miguel Insulza, the Organization of American States supported the constitutional arrangements in Venezuela in the wake of Chavez´s absence -- and incurred the ire of MUD, the united opposition.
Critical in all of this is the money at Maduro's disposal. The sales of PDVSA, the state-owned oil cash cow, amounted to $124.7 billion in 2011, of which one-fifth went to the state in the form of taxes and royalties, and another fourth was channeled directly into a panoply of social programs. This kind of management makes for very bad economics, a reason why the company needs to resort to debt to fund its basic capital expenditures, and for decreasing productivity, but it remains crucial for the regime and the Latin American left. Funding social programs at home and subsidizing oil shipments abroad, as well as giving cash to various foreign entities, is in good part what makes Caracas the epicenter of the left. Consequently, the support Maduro enjoys from Cuba and the money at his disposal offsets his lack of Chávez-like charisma.
Although Venezuela's current economic debacle has had a debilitating effect on the system described above, as has Chávez's ill health, China has helped mitigate the impact. The China Development Bank and the Industrial and Commercial Bank of China have lent Caracas $38 billion to fund some social programs, a bit of infrastructure spending, and purchases of Chinese products and services. Another $40 billion has been promised to fund part of the capital expenditures needed to maintain the flow of oil committed to Beijing. The oxygen provided by Beijing gives Caracas some ability to grease the regional machinery despite the domestic crisis.
Cuba's support for Maduro and his oil money notwithstanding, there will still be a vacuum of sorts at the top of the Latin American left after the vice president takes over from Chávez on a permanent basis -- assuming he is able to consolidate his own power internally and fend off his military rivals. Other Latin American leaders will clearly see an opening at least to enlarge their role if not lead the left outright.
Argentina's Kirchner is already trying. As she has further radicalized in response to an acute economic crisis at home and the rise of an opposition both within the ranks of her party and among the large middle class, in looking for a major Latin American role she has departed from traditional Peronismo. In the last year, she has made her country's claim to the Falkland Islands, now under British control, a focal point of her foreign policy, obtaining explicit support at Mercosur (the South American common market) and UNASUR (the Union of South American Nations). Until recently, she limited her rapport with Caracas to business and occasional gestures rather than ideology -- Buenos Aires sold sovereign bonds to Caracas a few years ago and was later able to import fuel cheaply and sign trade deals. Now she makes trips to Havana too and has raised her voice in denouncing the usual imperialist suspects -- certain liberal democracies, foreign investors, international courts, and the IMF. By adopting this tone, she hopes to rally the base at a difficult time. She is currently barred from seeking reelection in 2015 but is aiming to change the constitution to allow her to seek another term, a move laden with certain Chávismo overtones.
There are, however, limits to her potential role as a leader of the Latin American left. The most important one is economic. The statist, populist Argentine model is now bankrupt. Economic growth was minimal in 2012, a year that also saw record inflation and the expansion of capital controls to prevent a stampede of dollars. This would not be an insurmountable political obstacle were it not for the fact that a majority of Argentineans are now opposed to her -- her approval rating is down to 30 percent -- and that her own party is fractured. It is one thing to fight the "fascist right" as the head of a united Peronista front. But it is quite another for Kirchner to be denounced more stridently by her leftist base than by the center-right. Apart from the fact that she lacks the funds to finance regional revolution -- despite running the largest populist economy in Latin America -- Kirchner can ill afford to devote her attention to foreign matters. Last but not least, Argentina is too large and too proud a country for it to accept near-subordination to Cuba, a key condition for leading the Latin American rebels.
What about Bolivia's Morales? Given the symbolism of his indigenous roots, he seems a strong prospective candidate. But he is geographically too far from Havana -- Chávez´s constant pilgrimages to Cuba would be hard for Morales to replicate. He too has mounting problems at home, where his social and political base is now severely split. Unlike Chávez, who has been able to group his different supporters under a socialist umbrella organization, Morales's party, MAS, has become isolated from the myriad social movements that once backed him and now claim he is not delivering on promises of social justice. His main fights have not been with the right but with these organizations, which have paralyzed the country at various times.
Like other populists, Morales has some cash at his disposal through the sale of natural resources. But private investment is tiny in Bolivia, and Morales has doubled the proportion of the economy directly under government control. Because he needs to pour resources into populist economic programs to keep his enemies at bay, Morales cannot afford to fund foreign adventures. In fact, his need for cash is forcing him to charge Kirchner, a close ally, about four times more for Bolivia's natural gas than the going rate in Argentina's own gas-producing region, the Neuquen Basin. Lastly, Bolivia's economy is tiny, amounting to just 8 percent of Venezuela's.
Correa, who as president of Ecuador heads an oil-producing country, is another possibility. He certainly has the ambition and is the intellectual alpha male of the pack. His inevitable reelection this month will give him renewed vigor. But his country produces five times less oil than Venezuela and, with an economy less than a fifth the size, is in no position to command leadership regionally. After tripling government spending since he came to power in 2007, Correa's coffers face a fiscal deficit of 7.7 percent of GDP. And because it defaulted on part of the national debt in 2008, Ecuador is barred from capital markets. If not for the $7 billion-plus lifeline China has thrown Correa in advance payments for oil and credits, the country's financial situation would be dire. Given that 80 percent of Ecuador's oil exports have been pledged as guarantee against these loans, Correa would never be able to subsidize other countries.
That leaves Brazil, the single most powerful Latin American country and a symbol of ideological moderation that may well hold the key to the destiny of the Latin American left -- if only it wanted to. Until now, Brazil has deliberately given Chávez the space to play a disproportionate role in the neighborhood. Since former president Luiz Inácio Lula da Silva had Marxist roots and a radical base to please, he made up for his responsible domestic policies by tolerating, and sometimes encouraging, Chávez's leadership of the regional left. In foreign policy, Lula preferred to spend his time cementing ties with the other BRIC countries and collecting allies in Africa, partly with a view to building up support for a permanent seat at the U.N. Security Council. The rest was spent cozying up to the United States's adversaries, including Iran, and proposing solutions to the Israeli-Palestinian question (an initiative for which he teamed up with Turkey).
Dilma Rousseff, the current Brazilian president and Lula's political heir, has moderated her country's foreign policy but is conscious of the fact that her overbearing predecessor and the party base want close relations with the left. This is a major reason for having kept Marco Aurélio Garcia, a man umbilically connected with the regional populists, as a foreign policy advisor.
But Dilma is not personally interested in leading Latin America's left. Her country's main economic tool in Latin America, the Brazilian development bank BNDES, funds mostly domestic companies investing in the region, not other governments, and its disbursements in Latin America totaled a mere $1 billion last year. An initiative for integrating South America's infrastructure led by Brazil, known as IIRSA, lacks a political or ideological imprint. Dilma also confronts an economic challenge that Lula was spared. Growth has stalled (it barely cracked 1 percent last year), and some serious soul-searching is underway about why the emerging star of the last decade is now facing the prospect of a mediocre future if new reforms are not undertaken.
All of this points to the Cuba-Venezuela connection continuing to play a pivotal role through Maduro. That said, Maduro will have considerably less ability to project influence than when Chávez was at the helm. Presumably, the vacuum partially left by Chávez will see various forces vying for an increased role, including Kirchner as the radicalized Peronista running the largest populist economy, while Morales and Correa, as well as Nicaragua's Daniel Ortega, call attention to themselves without the necessary power to back their chutzpah. Brazil will arbitrate among these leftists and wait to see what emerges before throwing its lot with anyone.
With no viable leader to take up Chávez's mantle, the future portends disarray for the Latin American left. Fearful that this may spell the end of the movement, there is but one miracle the left can cling to -- that Chávez finds a way to rise from his Havana deathbed.
LEO RAMIREZ/AFP/Getty Images
 
Alvaro Vargas LLosa is senior fellow at the Independent Institute. His new book, Global Crossings: Immigration, Civilization and America, will be published in June.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Comissao orwelliana da verdade: estilo chavista-bolivariano

A verdade é relativa, certo? Cada um tem a sua, por certo.
E existem verdades mais verdadeiras do que outras verdades, que também podem se revelar mentiras, dependendo de quem está escrevendo a história.
Como escreveria George Orwell, aquele que controla o passado, controla o presente, e quem controla o presente, controla o futuro, pelo menos acredita que pode fazê-lo.
Os aprendizes de feiticeiro do chavismo-zumbi estão aplicando na prática estes ensinamentos de George Orwell, formulados primeiro no seu pioneiro Hommage to Catalonia (Lutando na Espanha), quando ele descobriu que as verdades do stalinismo eram mais contundentes, digamos assim, depois abordadas metaforicamente no Animal Farm (A Revolução dos Bichos), quando alguns animais passaram a ser mais iguais do que outros, e desenvolvidas magistralmente no 1984, onde justamente aprendemos uma nova linguagem, na qual a mentira é verdade, e vice-versa.
Pois é isso que estão fazendo os companheiros chavistas, sem precisar ter lido Orwell, Arthur Koestler, Ignazio Silone, e outros renegados, e sem sequer precisar ler Marx, Lênin, Gramsci, enfim toda essa chatice, que ninguém mais lê, e se lesse tampouco compreenderiam.
O importante é a praxis, certo? E a praxis recomenda botar a oposição na cadeia, mesmo se para isso eles precisam fazer como o lobo e o cordeiro da fábula, onde este contaminava a água que aliás provinha do primeiro. Não importa, alguém da familia do cordeiro contaminou primeiro a água do lobo, por isso ele vai adotar uma justa reprimenda, que na prática significa comer o cordeiro, despedaçá-lo, esquartejá-los, estripá-lo, enfim, eliminar os inimigos de classe da face da terra, como Chávez prometeu fazer com a burguesia, certo?
Enfim, cada um com a sua verdade, mas a do mais forte é mais verdadeira, como vocês já perceberam.
Paulo Roberto de Almeida 

Caracas, Venezuela | AFP y EFE

Venezuela creará comisión de la verdad

El 54% de los ciudadanos opina por extender el permiso de ausencia del presidente

Por elnuevodiario.com.ni | Globo

Venezuela creará comisión de la verdad
El vicepresidente Nicolás Maduro llamó a “instalar la comisión de la verdad para que en Venezuela se investiguen todos los crímenes y asesinatos cometidos por… la democracia representativa burguesa, represora y asesina”. AFP / END
El vicepresidente venezolano, Nicolás Maduro, anunció este martes una “comisión de la verdad” para investigar los “crímenes y asesinatos” políticos cometidos entre 1958 y la llegada al poder de Hugo Chávez en 1999, al tiempo que volvió a identificar al líder opositor, Henrique Capriles, con la “burguesía” gobernante que precedió al actual mandatario.
Maduro hizo un llamamiento a los chavistas para que el próximo 27 de febrero salgan a la calle a “instalar la comisión de la verdad para que en Venezuela se investiguen todos los crímenes y asesinatos cometidos por el puntofijismo, por la democracia representativa burguesa, represora y asesina”.
El ‘puntofijismo’ fue la alternancia en el poder de los partidos Copei y Acción Democrática, desde el fin de la dictadura militar en 1958 hasta que Chávez ganó sus primeras elecciones en 1998.
Maduro, que habló desde la Asamblea Nacional en cadena de radio y televisión, no dio detalles sobre la futura comisión, pero la justificó “para que haya justicia” y “sea un proceso pedagógico de formación de las generaciones que están por venir”.
A finales de 2011, la Asamblea Nacional aprobó una ley para “sancionar los crímenes, desapariciones, torturas y otras violaciones de los Derechos Humanos por razones políticas” en ese periodo.
Según la historiadora Margarita López Maya, la mayoría de esos episodios se dieron durante los años 1960, cuando el gobierno se enfrentó a la lucha armada de grupos izquierdistas, mientras que más tarde se dieron también “casos puntuales”.
“Hay que reescribir las páginas de la verdad de esta época horrorosa donde la barbarie burguesa se ensañó contra la humanidad de una juventud idealista”, defendió Maduro, la cara más visible del gobierno durante la ausencia de Chávez, hospitalizado en Cuba desde el 10 de diciembre.
El gobierno de Chávez identifica con la burguesía a los ejecutivos que le precedieron y a la oposición actual, liderada por Capriles, del joven partido socialcristiano Primero Justicia, que se define de centro.
Maduro incrementó en las últimas semanas las acusaciones contra Capriles, a quien acusó el sábado de conspirar contra el gobierno desde Colombia, donde se reunió con el expresidente del gobierno español Felipe González.

Fuego contra Capriles

“Si en algún momento de los últimos 50 años la burguesía rancia, heredera del mantuanaje, puso a un candidato de sus apellidos, con sus cuentas bancarias y sus grandes empresas (...) fue el 7 de octubre” pasado, cuando el opositor Henrique Capriles perdió las elecciones contra Chávez, dijo Maduro.

Mayoría por prolongar permiso a Chávez

 Un 54% de los venezolanos cree que “lo mejor para el país es prolongar el permiso” del cual goza el presidente del país, Hugo Chávez, para que atienda sus problemas de salud en Cuba, según un sondeo revelado ayer.
El director de la encuestadora GIS XXI, Jesse Chacón, indicó que el sondeo, realizado entre el 19 y el 23 de enero, reveló que al ser preguntados por “lo mejor para el país en esta coyuntura” otro 38% de encuestados opinó que Chávez “debería renunciar” y un 5% pidió una junta médica que evaluara la condición del gobernante en Cuba.
La encuesta “Barómetro enero de 2013” tiene un margen de error de +/- 2% y fue elaborado tras consultar a 2,500 personas, agregó en una rueda de prensa.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Yo, El Supremo (pero desaparecido) - Editorial Estado sobre o presidente fantasma

A literatura latino-americana já produziu algumas obras primas no gênero realismo mágico, mas poucas peças igualam a situação atual da Venezuela, governada por um presidente que simplesmente desapareceu do mapa, do cenário, do mundo físico, mas que permanece presente no noticiário e na vontade dos militantes da causa.
Vamos ver até onde vai a novela, ou a farsa...
Paulo Roberto de Almeida

O presidente fantasma
Editorial O Estado de S.Paulo, 17 de janeiro de 2013
Já se disse, mas é apropriado repetir: a situação criada com o autogolpe chavista, referendado por um Judiciário submisso ao regime, que prorrogou indefinidamente o mandato do caudilho venezuelano, que terminou no último dia 10, transpôs para o mundo dos fatos o realismo mágico que projetou a literatura latino-americana desde o lançamento, em 1967, de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Em algum lugar na ilha de Cuba, o dirigente supremo de outro país também banhado pelo Mar do Caribe se recupera - ou não - da quarta cirurgia a que se submeteu ali para extirpar o câncer que o acometeu há um ano e meio em uma porção não revelada de sua anatomia pélvica. Hugo Chávez, o paciente, deixou Caracas em 8 de dezembro para se operar três dias depois. Ao se despedir, pediu aos venezuelanos que votassem no seu vice, Nicolás Maduro, "se se apresentar alguma circunstância inesperada que requeira novas eleições presidenciais".

Nos 40 dias que se seguiram, ele foi visto - e quem sabe ouvido - por muito poucos: além dos médicos, atendentes e familiares, apenas os hierarcas do chavismo e a cúpula castrista hão de ter tido esse peculiar privilégio. Ao mundo se informou, sucessivamente, que a cirurgia tinha sido bem-sucedida, que o enfermo teve uma hemorragia, depois uma infecção pulmonar, alegadamente superada, e problemas respiratórios dos quais estaria se recuperando. "Nosso comandante está subindo a montanha", rejubilou-se Maduro em seguida a mais um bate-volta entre Caracas e Havana. "Provas" disso seriam a minirreunião de gabinete que teria conduzido na terça-feira e o suposto ato de nomeação, no mesmo dia, do novo chanceler do país, o linha-dura Elías Jaua, seu vice até outubro passado, quando saiu para disputar (e perder) a eleição para o governo do Estado de Miranda. Na Venezuela, o vice-presidente no exercício da presidência, como é o caso de Maduro, tem apenas uma parte dos poderes do titular. Ele não pode, por exemplo, nomear e demitir ministros.

O substituto de Chávez fez o anúncio na Assembleia Nacional, sem exibir o documento da designação, com a imprescindível assinatura do Comandante. Devem se esperar novos capítulos dessa farsa que só acabará na improvável hipótese de sua alta médica, ou quando ele falecer - mais precisamente, quando os chavistas, em acordo com seus mentores cubanos, acharem oportuno dar a notícia. Em tese, o regime poderia esperar 180 dias a contar do início do mandato do qual o líder não tomou posse para declarar a sua "ausência absoluta", como prevê a Constituição (para presidentes efetivamente empossados), com a convocação de novas eleições. Mas a sobrevida do presidente fantasma, que promove reuniões de trabalho e nomeia ministros em circunstâncias igualmente fantasmagóricas, parece convir - por ora - ao aparato chavista. De outro modo não se explica por que, impedido o chefe de assumir, não se marcaram novas eleições no prazo constitucional de 30 dias. No país em transe, a oposição teria escassas chances contra Maduro, o herdeiro ungido.

Ungido, mas não necessariamente a salvo de rivalidades e conflitos de interesses nas entranhas do sistema. Por exemplo, entre nacionalistas próximos às Forças Armadas, como o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, e a ala "cubana" que detém amplo espaço no partido oficial, o PSUV. Num prognóstico otimista, a interinidade prolongada de Maduro criaria as condições para a afirmação de sua liderança - embora ele tenha de afirmar e reafirmar que o seu patrono é quem governa -, estabilizando o chavismo sem Chávez. Mas está para nascer a autocracia que não sofra fraturas, menos ou mais expostas, quando o autocrata se vai. A virtual certeza de que a Revolução Bolivariana seria legitimada pelo voto, na pessoa de Maduro, se a eleição fosse hoje, tem prazo incerto de validade. Os chavistas, se pudessem, aplicariam a fórmula cubana que permitiu a Raúl Castro suceder a Fidel mediante a formalidade de sua sagração pelo Parlamento de partido único. Devem estar se perguntando a que artes de realismo mágico poderiam recorrer para chegar ao mesmo resultado, exorcizando o "risco urna".
==========
Reflexões sobre a situação da Venezuela
Opinião - 20 de janeiro de 2013
Celso Lafer - O Estado de S.Paulo
O grave estado de saúde do presidente Hugo Chávez impossibilitou-o de tomar posse, no último dia 10, para o exercício de um terceiro mandato presidencial, para o qual havia sido eleito. Esse fato frustrou o cumprimento de uma posse expressamente prevista pela Constituição do país, elaborada na vigência do chavismo. Acabou levando a uma juridicamente discutível fórmula voltada para dar continuidade ao seu regime de mando. Essa fórmula, que teve o respaldo do Legislativo e do Judiciário, afastou a via constitucional contemplada para uma situação dessa natureza: a realização de nova eleição em 30 dias.

Na perspectiva das relações internacionais, a análise desta situação passa por uma avaliação sobre em que medida a fórmula acima mencionada, que conferiu poder a Nicolás Maduro, ungido como vice-presidente pelo presidente Chávez em dezembro, no exercício do seu anterior mandato, configura ou não uma ruptura de ordem democrática nos termos do Protocolo de Ushuaia de 1998, do Mercosul, com o qual a Venezuela está comprometida. Também cabe levar em conta a Carta Democrática Interamericana de 2001, à qual a Venezuela está ligada como Estado-membro da OEA, ainda mais que serviu de base para deslegitimar a tentativa de golpe de Estado contra o presidente Chávez em 2002.

A cláusula democrática consagrada nos dois textos citados tem como objetivo realçar a importância das afinidades que resultam da forma compartilhada de conceber a vida em sociedade, seja para o desenvolvimento dos processos de integração (no caso do Mercosul), seja para reconhecer que a democracia representativa é indispensável para a estabilidade, a paz e o desenvolvimento da região (no caso da OEA).

A cláusula democrática guarda relação com as características ora mais homogêneas, ora mais heterogêneas dos regimes políticos dos Estados que integram o sistema internacional. A distinção homogêneo/heterogêneo deve-se a Raymond Aron. Em Paz e Guerra entre as Nações realça que a conduta dos Estados não se circunscreve à mera afirmação de interesses nacionais e à luta pelas posições de poder no plano internacional. No plano externo é movida também pelas ideias e pelos valores que norteiam, no plano interno, os seus regimes políticos.

Na vigência dos regimes autoritário-militares na América Latina, as afinidades provenientes da concepção política dos governantes daquela época levaram ao conceito das fronteiras ideológicas. As transições democráticas na região trouxeram uma contestação a essa visão autoritária do papel das fronteiras. A cláusula democrática foi fruto dessa realidade política. Parte do potencial de convergência cooperativa no campo econômico e estratégico, proveniente da proximidade no campo dos valores, tutelado pela cláusula democrática. Com efeito, no campo dos valores, a democracia, porque postula no plano interno o reconhecimento do Outro, favorece, no plano internacional, a aceitação das normas jurídicas, a moderação das pretensões e a limitação da violência nas relações entre os Estados que a praticam.

Bobbio ilustra as consequências para a vida internacional de um regime antidemocrático na sua análise do fascismo. Aponta que o fascismo se contrapôs muito mais à democracia do que ao socialismo e ao marxismo; realça que a violência era a sua ideologia e, por isso, a exaltação da guerra foi uma de suas características mais constantes; anota o significado da afirmação do primado da ação sobre o pensamento, que substitui o "penso, logo existo" pelo "agitamos, logo somos", e assinala que Mussolini via na democracia representativa e no seu antibelicismo a mediocridade de uma vida cotidiana cerceadora de uma ação voltada para a criação de uma "nova ordem".

Na vida de um sistema internacional há modalidades e gradações diversas de homogeneidade e heterogeneidade, variáveis em função das estruturas sociais e da dinâmica dos regimes políticos dos Estados. Assim, por exemplo, no momento atual, o componente democrático do "governo das leis" é muito mais nítido no Brasil e no Uruguai do que na Argentina. São as gradações e os matizes que tornam complexa a avaliação da condição democrática de um país.

Nessa avaliação, no caso específico da Venezuela, cabe examinar o tema da degeneração do poder democrático, seja por falta de título para o seu exercício, seja como resultado do abuso no seu exercício. O título para o exercício do poder do vice-presidente Nicolás Maduro é juridicamente discutível, mas foi respaldado pelo Legislativo, pelo Judiciário e pelo Executivo do país. Daí a importância de se examinar se provém de uma degeneração do poder democrático que ocorre quando se configuram significativos desrespeitos aos direitos humanos, à independência e à separação dos Poderes, à liberdade de expressão e de imprensa e à vigência plena do Estado de Direito.

O regime do presidente Chávez vem se caracterizando pelo crescente fomento da hiperpersonalização da política, que visa ao fortalecimento do Executivo e ao enfraquecimento dos vínculos e controles que caracterizam a arquitetura constitucional democrática em matéria de aquisição e exercício do poder. É representativo do primado da ação do governo de um homem que, lastreado numa autocracia eletiva, promoveu a subordinação do Legislativo e do Judiciário para permitir o culto à política como espaço para o pleno desenvolvimento da vontade da potência.

É por obra da natureza monocrática do regime político da Venezuela que a fórmula encontrada para manter, no momento, ainda que indiretamente, o mando do presidente Chávez se fez per leges, ou seja, por meio da lei, mas não sob o império do governo das leis. É por isso que ela é democraticamente discutível e juridicamente frágil. A evolução da conjuntura dirá se a democracia vai ou não enfraquecer-se ainda mais na Venezuela e se vai ou não contribuir para aumentar a heterogeneidade não democrática da região.

PROFESSOR EMÉRITO DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO