O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Solidariedade com as mulheres, e todos os homens do Irã, dominado por uma teocracia impiedosa (Signal, GZERO Media)

 Centenas de mulheres e homens já morreram, pela repressão do regime teocrático do Irã, inclusive um primeiro condenado à morte "por ofender Deus".

   

The actions of Iranian protesters over the past two months – particularly women – have been awe-inspiring. Despite the prospect of incarceration, and worse, they’ve refused to kowtow to the bushy-eyebrowed mullahs calling the shots in the Islamic Republic. Fear of execution looms large, but Iranian women continue to abandon their headscarves and chant in the streets for regime change.

Things are only getting more dangerous after Iran’s parliament recently voted in favor of the death penalty for protesters. The first such sentences were handed down in recent days. Indeed, the stakes could not be higher, and yet hopeful Iranians continue to risk their lives.

As the government crackdown intensifies – there have been 300 deaths and 15,000 arrests to date – is the West doing enough to support the protesters in their bid for freedom?

Defying the despots. Iranians took to the streets in September in the aftermath of the in-custody death of Mahsa Amini, 22, who was arrested and reportedly beaten by Iran’s “morality police” for improperly donning her hijab. 

Many young Iranians have died in custody over the past decade, but Amini’s story has galvanized a generation of millennial and Gen-Z women who have no recollection of the 1979 Islamic Revolution that brought down a corrupt Shah and have zero affinity for the mullahs who rule their lives.

As the human rights situation in Iran deteriorates, what’s the West doing about it?

Suit-clad politicians in Brussels and Washington have imparted all the right platitudes expressing support for Iran’s women-led movement. 

More substantially, the US and EU, the UK, and Canada have expanded on Western sanctions in recent weeks – in place for the better part of a decade – aimed at stopping Iran from further developing its nuclear program. The Western alliance has sanctioned a host of officials from the Islamic Republican Guard Corps, a key unit of Iran's armed forces, as well as high-ranking government officials and regime loyalists.

These new measures come on top of long-term sanctions that have sought to cut Tehran off from the global financial system in hopes of strangling Iran’s most lucrative export – oil – and bringing the regime to its knees. 

Still, while these established measures remain in place, the Biden administration has so far been unwilling to up the ante by implementing a cohesive strategy for further inflicting pain on the Iranian energy sector. Consider that in the fiscal year leading up to March 2023, Iran is expected to export 1.4 billion barrels per day, compared to around 500,000 bpd or less when former President Donald Trump was in the White House and enforced a “maximum pressure” campaign on Iran. 

This suggests, analysts say, that the West, long trying to keep the dialogue open with Tehran in hopes of reviving the now-defunct nuclear deal, has overseen a lax enforcement system. 

Many observers point to the latest developments in Ukraine as a case in point. Despite Western sanctions intended to stop Iran from developing its military-industrial complex, Iran has succeeded in building one of the world’s biggest drone fleets – and is supplying the Russians with thousands of sophisticated “killer drones” that the Kremlin is using to pummel Ukraine. 

What’s more, debris from the battlefield suggests that Iranians have been able to rely on Chinese copies of Western parts to build their drone stockpile, while they’ve also acquired Western-made parts to power their drones. Clearly, Western sanctions haven’t had the intended effect of cutting Iran off and making it squirm. (To be sure, the EU has recently imposed sanctions on Iran drone makers, while the US sanctioned Iranian flight companies for helping transfer drones to Russia. Still, it comes after Iran had already developed one of the best arms games in the business.)

Moreover, that countries including China and the United Arab Emirates have had no qualms about flouting Western sanctions on Iranian energy exports suggests that the perceived cost of buying and selling Iranian oil has waned. 

What more could be done? The US could sanction Iran’s drone program and increase the pace of its ad-hoc sanctions regime. What’s more, while hundreds of Russian diplomats have been expelled from Europe and the US, many Iranian dignitaries continue to get the royal treatment in global forums.

Looking ahead. The UN Human Rights Council says it will hold a special session to discuss Iran on Nov. 24. Meanwhile, the world's largest and most influential economies are currently gathering at the G-20 summit to talk about all things geopolitics. Will their response to Iran be united and stern? Don’t hold your breath.

terça-feira, 13 de abril de 2021

Novas regras de trânsito: o genocida pretende continuar matando, alem da pandemia - Roberto Andrés

Roberto Andrés (@rrandres) preparou uma excelente informação sobre a próxima carnificina assinada pelo mesmo genocida que já matou milhares de brasileiros pela sua atitude de psicopata perverso na pandemi:

“Hoje entram em vigor novas regras de trânsito, aprovadas pelo governo de Jair Bolsonaro no Congresso. 

O Brasil, que tem um dos trânsitos mais violentos do mundo, verá essa carnificina aumentar. 

O Brasil tem a maior taxa de mortes por acidentes de trânsito da América Latina. No quesito matança nas estradas, estamos à frente de TODOS os nossos vizinhos e de praticamente todos os países da Ásia, da Europa e da América do Norte.

https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_traffic-related_death_rate

Nem sempre foi assim. Até a década de 1950, os trens transportavam parte relevante das cargas e das pessoas no país. Esse é um modo de deslocamento de baixo percentual de acidentes. A rodoviarização excessiva do Brasil, acelerada na ditadura, está no centro do problema.

Além da alta rodoviarização, há quatro fatores relevantes para altas taxas de mortes:

- Más condições de estradas

- Políticas de segurança no trânsito frágeis

- Tolerância com altas velocidades

- Má fiscalização

As condições de estradas variam de acordo com a condição econômica dos países. Mas, mesmo países que tem boas estradas, como os Estados Unidos, têm taxas de mortes relativamente altas (uma das maiores do mundo rico), devido à tolerância com altas velocidades.

Via de regra, o controle de velocidade costuma reduzir significativamente acidentes e mortes. Isso é comprovado em diversos estudos empíricos. Ocorre que a redução de velocidade demanda fiscalização e controle. E as novas regras de trânsito afrouxam o controle e as punições.

Ao aumentar os pontos das carteiras de motorista, as novas regras de trânsito estimulam os motoristas a cometerem mais infrações: a furarem sinais e excederem a velocidade. Os estudos empíricos já mostraram que o resultado será aumento imediato de acidentes e mortes.

Quando Dória aumentou a velocidade nas marginais em São Paulo, o resultado imediato foi o aumento de mortes e acidentes. Em fevereiro e março de 2017, esse aumento foi de 51% em relação ao ano anterior, quando as velocidades eram mais baixas. Infelizmente, isso já era previsto.

Na década de 1980, o pesquisador Goran Nilsson concluiu que o aumento de 1km/h em vias de até 50km/h resulta no aumento de 4% de acidentes. Se a fórmula fosse aplicada ao aumento médio de 13km/h nas marginais paulistanas, o crescimento de seria de 52%. 1% a mais que o ocorrido.

Há diversos estudos que demonstram correlação entre aumento de velocidade e aumento de acidentes e mortes. As novas regras de trânsito operam como a versão bolsonarista para o aumento de velocidades: ampliando a margem para que os motoristas possam desrespeitar as regras.

Segundo dados da ONG InfoSiga, apenas 6,4% dos acidentes graves no estado de SP ocorreram com motoristas mulheres no ano de 2017, contra quase 94% dos homens. A alta velocidade, a furação de sinal e a matança resultante são empreitadas da masculinidade.

Se esse governo não destruir os dados do Datasus que hoje registram as mortes por acidentes de trânsito, em alguns anos veremos as taxas subirem. À matança da pandemia que, espera-se, vai acabar, o atual governo quer amplificar a carnificina permanente nas estradas.

Escrevi um ensaio mais longo sobre a história dos acidentes de trânsito no Brasil, as políticas a favor da contravenção de Jair Bolsonaro e os modos de distinção e violência que prosperam nas ruas no Brasil.

https://t.co/YE9YUXqtsU

Hello, you can read it here: Hoje entram em vigor novas regras de trânsito, aprovadas pelo governo… threadreaderapp.com/thread/1381723… Have a good day. 

🤖 https://threadreaderapp.com/thread/1381723906332094468.html 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

The Deadliest Year In the History of U.S. Drug Use: além da pandemia, os americanos continuam a ter anti-racionais e usuários de drogas

THE OTHER EPIDEMIC 
The New York Magazine, Intelligencer, 

The Deadliest Year In the History of U.S. Drug Use

By  

https://nymag.com/intelligencer/2020/12/cdc-drug-overdose-deaths-in-2020-on-track-to-break-record.html 

While over 300,000 Americans and counting have died from COVID-19 since the beginning of the pandemic, another public-health disaster is taking more lives than ever before: drug overdoses.

Overdose deaths in 2019 were significantly higher than 2018, jumping from 67,367 deaths in 2018 to 70,630 overdose deaths in 2019, marking a nearly 5 percent increase, according to a new report issued Tuesday by the Centers for Disease Control and Prevention. If that’s not grim enough, a separate health alert published by the CDC this week reports a “concerning acceleration” in overdose deaths for 2020, which provisional data show is on track to be the deadliest year for U.S. drug overdose deaths in recorded history. Complete data for 2020 is not expected to be available until some time next year.

The CDC estimates that 81,230 drug overdose deaths occurred from June 2019 to May 2020. The largest overdose spike happened from March to May of this year, which coincides with the beginning of the pandemic when the economy collapsed, lockdowns were imposed and “social distancing” became a new way of life. In addition to unemployment and financial precarity driving up despair, public-health experts have also suggested that isolation during the pandemic has led more people to use drugs alone with no one around to revive them or call 911 if they overdose.

“I’m horrified by the increases across the board,” Dr. Kim Sue, a physician-anthropologist who studies addiction at Yale University’s School of Medicine, told Intelligencer. “Even before the pandemic, the U.S. was going in the wrong direction.”

Illicit fentanyl, an Über-potent opioid manufactured around the world in clandestine labs and used to adulterate heroin, is largely responsible for the soaring death rate, according to the CDC. While illicit fentanyl used to be concentrated in New England, it has rapidly spread across the Midwest and in recent years has made its way to the West Coast. In San Francisco, more people have died this year from overdoses than from COVID-19. In 2019, the city saw 441 overdose deaths compared to 621 so far this year, a 40 percent jump. Across the country, deaths are also steeply rising from stimulants like cocaine and methamphetamine, the CDC found, and many deaths involve a combination of different kinds of drugs, not just opioids.

America’s overdose crisis is proving to be a dynamic and ever-changing phenomenon that experts say has played out in three waves. The first wave began in the early 2000s and mainly comprised deaths from opioid pain relievers like oxycodone. After a crackdown on prescription pills, people flocked to a ballooning heroin market as pills became scarce and expensive. The third and much more deadly wave that sent the overdose rate soaring was driven primarily by powerful illicit fentanyl analogues that began to be used in heroin.

Now the U.S. may be entering a fourth wave, or something more like a tsunami. Illicit fentanyl and stimulants such as meth and cocaine now account for the bulk of overdose deaths. From 2012 through 2019, the rate of overdose deaths involving cocaine increased more than three-fold, and stimulants like methamphetamine increased more than six-fold, according to the CDC. Trends in stimulant overdoses are also on track to worsen during 2020. Deaths involving cocaine increased by 26.5 percent from June 2019 to May 2020, while deaths involving stimulants such as meth increased by 34.8 percent during the same period.

President Trump took credit in 2018 for a meager decline in overdose deaths, but they have skyrocketed even as the federal government made $3.4 billion available to states to fund addiction-treatment services and purchase the opioid-overdose-reversal drug, naloxone. A new report by the Government Accountability Office shows why that funding has made little impact: Over $1 billion in federal grant money meant for the opioid crisis has yet to be spent by states. Addiction experts cite burdensome bureaucracy, needless paperwork, and poor use of existing treatment infrastructure as reasons why so much federal money that was earmarked for the overdose crisis remains unused. “Bureaucracy is literally killing people,” Robert Ashford, an addiction researcher who studies recovery, tweeted. The latest pandemic-relief package contains another sizable investment in mental-health and addiction services. Experts also lament that federal grant money specifically intended for the treatment of opioid-use disorders wasn’t available to people who needed treatment for other substance-use disorders — such as stimulant and alcohol addiction.

Yale’s Sue and many of her colleagues believe that America’s “drug war” approach is outdated and that it has caused more harm than it aims to prevent. Focusing on suing Big Pharma, ramping up trafficking busts, and sending people suffering from addiction to drug courts are “myopic” and “misguided” approaches, Sue said. “We have to innovate and pivot quickly, enacting evidence-based harm-reduction strategies to keep people alive,” she added.

There’s a long list of policies and interventions Sue hopes to see in the near future. “I am heartened to see in the CDC report that drug checking, mobile buprenorphine or telemedicine, wrap-around post-overdose care, and diversion from jail or prison, are critical components of a novel and engaged response,” Sue said, adding she’d also like to see supervised consumption sites and much greater access to effective medications that treat addiction.

Meanwhile, the Biden-Harris administration has yet to select a director for the Office of National Drug Control Policy (ONDCP), a.k.a. the “drug czar,” but whoever takes the job surely faces an uphill climb in their effort to prevent the crisis from getting even worse. If Biden keeps up the trend of hiring from the Obama administration and the Washington drug policy blob, America’s approach to addiction is unlikely to dramatically change anytime soon.

“Why must U.S. drug policy be led by people who continue doing the same thing, putting a square peg in a round hole and expecting improvement?” Sue said.


sábado, 25 de agosto de 2018

O caminho do totalitarismo - Uki Goñi (NYRBooks)

Uma sociedade que separa as crianças dos pais, já está no caminho do totalitarismo.
Isso aconteceu, pela primeira vez, no período do Holocausto nazista.
Voltou a acontecer sob a ditadura militar argentina.
E foi o que fez o governo Trump, recentemente...
Paulo Roberto de Almeida

Uki Goñi at The Buenos Aires Herald, in 1982

On the NYR Daily this week

The New York Review of Books, August 25, 2018

The genesis of “‘Silence Is Health’: How Totalitarianism Arrives,” Uki Goñi’s chilling essay about how a society slides from democracy to dictatorship, was a conversation on a warm Sunday afternoon in early fall last year on a park bench looking out over New York Harbor. Uki had just given a talkat the Museum of Jewish Heritage in Lower Manhattan about how his country, Argentina, had offered sanctuary to numerous Nazi war criminals, including, most notoriously, Adolf Eichmann. It’s a story brilliantly told in his 2002 book on the subject, The Real Odessa.
Because we’d worked together in the past, Uki had asked me to be his interlocutor at the event, and it was afterwards, outside in the September sunshine, that we got to talking about authoritarianism, the 1976–1983 military dictatorship in Argentina, and the disturbing trends in American politics. And that was the seed of what became this week’s featured essay on the Daily. I asked Uki how he’d come to make these connections.
“Researching the Nazi arrivals helped me understand how secret policies are decided on and carried out, in this case the Vatican, Argentine, and Swiss policies to aid fleeing Nazis,” he said. “I also wanted to determine if it was just a historical coincidence that Nazi-like extermination policies were carried out in the country where so many Nazis found refuge after the war.”
The essay relates how Uki had a ringside seat for the deadly collapse of democracy in his country, when he went to work for the English-language Buenos Aires Herald, the only newspaper to report on the junta’s abuses even as thousands of people were “disappeared.” Didn’t he feel vulnerable, wasn’t it terrifying?
“You did it despite the fear. It was like being in a slow-motion car crash. You knew you’d come out damaged, but there was no way out,” he said. The paper’s ethos owed much to its editor Robert Cox—though, eventually, he was forced into exile by death-threats.
“After Cox left, the newspaper toned down its human rights reporting,” Uki recalled. “It was a sad, muted epilogue to a truly unique journalistic crusade to save lives.”
One of the most telling moments in the piece, for me, was an epiphany about family separation. Among the Argentine dictatorship’s roundup of opponents were several hundred pregnant women; the regime waited until they had given birth before executing them, placing their orphaned babies with approved conservative-Catholic, “patriotic” families. This chimed with me because General Franco’s Falangist Spain had done the exact same thing, and on an industrial scale, as I learned this week in Omar Encarnación’s powerful essay “Spain Exhumes Its Painful Past.” But I know that’s not what Uki, who grew up in the US, was thinking of when he wrote: “A society that separates children from their parents, for whatever reason, is a society that is already on the path to totalitarianism.” 
Considering that, I was rather desperate for some ray of hope—and I wanted to get Uki’s perspective on how a renewal of democracy, too, can come about, since he had seen out the junta’s bloody rule. “Argentina is a unusual case in that it put its own generals on trial after the return of democracy. But the dictatorship did not fall because of widespread civic resistance, or outspoken politicians or churchmen demanding its end,” he explained. “[It] fell because its mismanagement of the economy left it no other choice but to take the exit door. It was not the triumph of good; it was more evil taking a rest.”
Hmm. Not quite the sunburst of optimism I was looking for. The nearest to that, perhaps, came from the surprise gift Uki sent along after we’d posted his piece—a tweetfrom the British ambassador to the Argentine Republic, Mark Kent: “Total respect to @ukigoni. Military dictatorship is abhorrent wherever and whenever. Well said Uki.” Now, that is Excellency.

For everything else we’ve been publishing, visit the NYR Dailysection of our site. And remember, you can reach the editors of the Daily, me and Lucy McKeon, with your comments and feedback via daily@nybooks.com.
Matt Seaton
Editor,NYR Daily

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Venezuela: mortes infantis por fome se acentuam

Até quando a América Latina suportará esse espetáculo propriamente "africano" num país que já foi, outrora, o de maior renda per capita da região?
Até quando crianças morrerão de fome na Venezuela, na total indiferença dos países vizinhos?
Até quando teremos de assistir realidades brutais como essa, ao lado do Brasil?
Paulo Roberto de Almeida

Crise se agrava e crianças morrem de fome na Venezuela

O Estado de S. Paulo, 18/12/2017

 

 Nos últimos cinco meses, ‘New York Times’ visita 21 hospitais em 17 Estados e constata a falência do sistema de saúde venezuelano
CARACAS - O problema da fome assola a Venezuela há anos, mas agora a desnutrição está matando as crianças em ritmo alarmante. Por cinco meses, o New York Times acompanhou o cotidiano hospitais públicos venezuelanos e, segundo os médicos, o número de mortes por desnutrição é recorde.
Desde que a economia da Venezuela começou a ruir, em 2014, protestos por falta de comida se tornaram comuns. Também virou rotina ver soldados montando guarda diante de padarias e multidões enfurecidas saqueando mercados.
As mortes por desnutrição são o segredo mais bem guardado do governo de Nicolás Maduro. Nos últimos cinco meses, o New York Times entrevistou médicos de 21 hospitais em 17 Estados. Os profissionais descrevem salas de emergência cheias de crianças com desnutrição grave, um quadro que raramente viam antes da crise.
“As crianças chegam em condições muito graves de desnutrição”, disse o médico Huníades Urbina Medina, presidente da Sociedade Venezuelana de Pediatria. De acordo com ele, os médicos venezuelanos têm se deparado com casos de desnutrição semelhantes aos encontrados em campos de refugiados.
ara muitas famílias de baixa renda, a crise redesenhou completamente a paisagem social. Pais preocupados ficam dias sem comer, emagrecem e chegam a pesar quase o mesmo que seus filhos. Mulheres fazem fila em clínicas de esterilização para evitar bebês que não possam alimentar.
Jovens que deixam suas casas e se juntam a gangues de rua para vasculhar o lixo atrás de sobras carregam na pele cicatrizes de brigas de faca. Multidões de adultos avançam sobre o lixo de restaurantes após os estabelecimentos fecharem. Bebês morrem porque é difícil encontrar e pagar pela fórmula artificial que substitui leite materno, até mesmo nas salas de emergência.
“Às vezes, eles morrem de desidratação nos meus braços”, afirmou a médica Milagros Hernández, na sala de emergência de um hospital pediátrico na cidade de Barquisimeto. Ela diz que o aumento de pacientes desnutridos começou a ser notado no fim de 2016. “Em 2017, o aumento foi terrível. As crianças chegam com o mesmo peso e tamanho de um recém-nascido.”
Antes de a economia entrar em colapso, segundo os médicos, quase todos os casos de desnutrição registrados nos hospitais públicos eram ocasionados por negligência ou abusos por parte dos pais. Quando a crise se agravou, entre 2015 e 2016, o número de casos no principal centro de saúde infantil da capital venezuelana triplicou.
Nos últimos dois anos, a situação ficou ainda pior. Em muitos países, a desnutrição grave é causada por guerras, secas ou algum tipo de catástrofe, como um terremoto”, disse a médica Ingrid Soto de Sanabria, chefe do departamento de nutrição, crescimento e desenvolvimento do hospital. “Mas, na Venezuela, ela está diretamente relacionada à escassez de comida e à inflação.”
O governo venezuelano tem tentado encobrir a crise no setor de saúde por meio de um blecaute quase total das estatísticas, além de criar uma cultura que deixa os profissionais com medo de relatar problemas e mortes ocasionados por erros do governo.
As estatísticas, porém, são estarrecedoras. O relatório anual do Ministério da Saúde, de 2015, indica que a taxa de mortalidade de crianças com menos de 4 semanas aumentou em 100 vezes desde 2012, de 0,02% para pouco mais 2% - a mortalidade materna aumentou 5 vezes no mesmo período.
Por quase dois anos, o governo venezuelano não publicou nenhum boletim epidemiológico ou estatísticas relacionadas à mortalidade infantil. Em abril, porém, um link apareceu subitamente no site do Ministério da Saúde conduzindo os internautas a boletins secretos. Os documentos indicavam que 11.446 crianças com menos de 1 ano morreram em 2016 - um aumento de 30% em um ano.
Os dados ganharam manchetes nacionais e internacionais antes de o governo declarar que o site tinha sido hackeado. Em seguida, os relatórios foram retirados do ar. Antonieta Caporale, ministra da Saúde, foi demitida e a responsabilidade de monitorar os boletins foi passada aos militares. Nenhuma informação foi divulgada desde então.
Os médicos também são censurados nos hospitais e frequentemente alertados para não incluir desnutrição infantil nos registros. “Em alguns hospitais públicos, os diagnósticos clínicos de desnutrição foram proibidos”, afirmou Urbina.
No entanto, médicos entrevistados em 9 dos 21 hospitais investigados mantiveram ao menos algum tipo de registro. Eles constataram aproximadamente 2,8 mil casos de desnutrição somente no último ano - e crianças famintas regularmente sendo levadas para a emergência. Quase 400 delas morreram, segundo os pediatras. “Nunca na minha vida vi tantas crianças famintas”, afirmou a médica Livia Machado, pediatra que oferece consultas grátis em uma clínica particular.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Hayek, Mao e o grande salto para a fome que eliminou 30 milhoes de chineses - Yang Jisheng

Não preciso acrescentar absolutamente nada ao que já escreveu esse autor chinês, autor de um dos mais recentes estudos sobre a mortandade inimaginável causada por Mao Tsé-tung na China, com o seu "grande salto para a frente", entre 1958 e 1962. Foi, na verdade, um enorme salto para trás, pior: um salto no precipício da fome, do canibalismo, do morticínio sistemático de milhões de chineses.

Yang Jisheng — How Hayek Helped Me Understand China’s Tragedy

By Greg Ransom
Hayek Center, on May 29th, 2013
Yang Jisheng’s 2013 Manhattan Institute Hayek Prize lecture:
In the space of four years, from 1958 to 1962, China experienced a disaster of historic proportions – the death by starvation of more than 30 million people. This occurred in a time of peace, without epidemic or abnormal climatic conditions. A confluence of historical factors caused China’s leadership clique to follow the path of the Soviet Union, which was supposed to make China strong and prosperous. Instead, it brought inconceivable misery, bearing witness to what Friedrich Hayek wrote in The Road to Serfdom: “Is there a greater tragedy imaginable than that, in our endeavor consciously to shape our future in accordance with high ideals, we should in fact unwittingly produce the very opposite of what we have been striving for?”
Why did Mao Zedong’s great ideals create such great tragedy? The answer can be found in Hayek’s writings. China’s revolutionaries built a system based on what Hayek called “the Great Utopia,” which required “central direction and organization of all our activities according to some consciously constructed ‘blueprint’” and for a “unitary end” while “refusing to recognize autonomous spheres in which the ends of the individuals are supreme.” In China’s case, this “unitary end” was the “Great Utopia” of communism.
In order to bring about this Great Utopia, China’s leaders constructed an all-encompassing and omnipotent state, eliminating private ownership, the market and competition. The state controlled the vast majority of social resources and monopolized production and distribution, making every individual completely dependent on it. The government decided the type and density of crops planted in each location, and yields were taken and distributed by the state. The result was massive food shortages, as the state’s inability to ration food successfully doomed tens of millions of rural Chinese to a lingering death.
The designers of this system expected an economy organized under unified planning to result in efficiency. Instead, it brought shortage. Government monopoly blunted the basic impetus for economic function – personal enthusiasm, creativity and initiative – and eliminated the opportunity and space for free personal choice. Economic development ground to a halt. The extreme poverty of Mao’s China was the inevitable result.
An economy with “everything being directed from a single center” requires totalitarianism as its political system. And since absolute power corrupts absolutely, the result was not the egalitarianism anticipated by the designers of this system, but an officialdom that oppressed the Chinese people.
Hayek championed classical liberalism based on the principle that “in the ordering of our affairs we should make as much use as possible of the spontaneous forces of society, and resort as little as possible to coercion.” In today’s China, such liberals are found either among the very old or the very young, skipping a generation in between. I happen to belong to the skipped generation that had little exposure to liberalism under Mao. Up until I was 40 years old, I still believed in collectivism, which fettered my thinking and confined my insight. Reading The Road to Serfdom gave me a new perspective on economics, politics, the state and society. Hayek helped me understand China’s tragedy; my research into the disasters China suffered helped me understand Hayek.
Whether or not Beijing will admit it, China is beholden to Hayek’s thinking in relinquishing the highly centralized planning of its economy in favor of competitive markets and private enterprise. This choice is making China prosperous and has elevated it to the world’s second largest economy.
Yet, while China has accepted some of Hayek’s thinking on markets, it continues to insist on “socialism with Chinese characteristics.” The powerful run and control the market in a system I call the “power market economy.” The greatest problem with a power market economy is its inequity. Hayek noted that “a world in which the wealthy are powerful is still a better world than one in which only the already powerful can acquire wealth.” In today’s China, only the well-connected can acquire great wealth; society’s riches are concentrated among those in power. This is the source of the current popular resentment against officialdom and the wealthy elite. A power market economy cannot possibly meet the Chinese government’s vaunted objective of a stable and harmonious society.
China’s path to harmony and stability is to reject this system and instead to heed Hayek’s call to avoid government coercion, respect individual freedom and allow further economic and political liberalization. Will it? Li Shenzhi, one of China’s great proponents of liberalism, voiced a generally held pessimism to me in 2001, two years before his death: “We’ve entered a new century, and liberals face a hard winter. Even so,” he continued, quoting the poet Shelley, “if winter comes, can spring be far behind?”
The fate of liberalism in China is the fate of Hayek’s teachings, which must endure a harsh and bitter winter but could yet see a resplendent spring.
Yang Jisheng is the author of Tombstone, an account of the Great Famine in China during the Great Leap Forward.  Yang and his book were awarded The Manhattan Institute’s 2012 Hayek Prize, honoring the book published within the last two years that best reflects F.A. Hayek’s vision of economic and individual liberty.
- See more at: http://hayekcenter.org/#sthash.fz6mla0b.dpuf

quarta-feira, 6 de março de 2013

Josip Stalin-Hugo Chavez: RIP; solidarios na morte?

Parece que é mais uma dessas ironias da história, essa matreira, astuta e imprevisível mestra de todas as ciências (e crendices também): sessenta anos depois da morte de um dos maiores tiranos da humanidade, superior a Gengis Khan e Atila reunidos, mais mortífero que Hitler (embora com outros métodos e intenções), Stalin, desaparece também Hugo Chavez, um pálido aprendiz das técnicas de repressão do ditador soviético e do déspota chinês, mas um grande praticante das mesmas técnicas de manipulação das massas pela propaganda política mistificadora.
OK, Hugo Chávez não dispunha de Gulag, como seus (talvez admirados) predecessores "socialistas", mas também fez o possível para eliminar qualquer oposição ao seu governo.
O "Gulag" de Chávez era ter de assistir suas arengas de 10 horas em rede de televisão, o que, convenhamos, deve ser insuportável para quem quer apenas passar o domingo com programas de auditório e em concursos de "quem ganha mais?".
Assistir televisão, em certos países, se tornou um gulag similar...
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Agradeço ao meu amigo Vinicius o envio desta matéria, que teria passado despercebida, mesmo eu recebendo os boletins do Le Monde todos os dias (mas não consigo ler tudo...). 

Soixante ans de la mort de Staline : un fantôme omniprésent

LE MONDE | • Mis à jour le

Célébration à Moscou du cent-trentième anniversaire de la naissance de Staline, le 21 décembre.

En 1991, au moment de l'effondrement de l'URSS, il ne se trouvait plus que 12 % des Russes pour faire de Staline une grande figure historique. Aujourd'hui, la moitié d'entre eux font du "Petit Père des peuples" le champion incontesté des héros nationaux, loin devant Lénine ou Pierre le Grand. Soixante ans après la mort de l'homme qui régna sur l'URSS durant trois décennies et envoya à la mort entre 10 et 20 millions d'individus (sans compter les victimes de la guerre), tel est le résultat d'un sondage de la Fondation Carnegie publié le 1er mars.

Avec l'arrivée au Kremlin de Vladimir Poutine, Staline est redevenu un personnage mythique, victorieux du nazisme en 1945 et bâtisseur "de la société la plus juste au monde (...) et d'une grande puissance industrielle", selon l'un des principaux manuels scolaires. Rien ou très peu n'est dit des massacres perpétrés par une police politique dont le président russe est si fier d'être issu.
Pour les soixante ans de sa mort (le 5 mars 1953), c'est aux victimes de Staline que Le Monde consacre un supplément, plus particulièrement à celles de la Grande Terreur de 1937-1938, lorsque 1.600 personnes étaient exécutées chaque jour. Ces documents exceptionnels, les Russes n'y ont pas accès. Les archives du KGB sont hermétiques et ceux qui s'y intéressent sont soupçonnés de trahison.
Staline est désormais fantomatique mais omniprésent, jamais loué explicitement par le pouvoir, jamais critiqué non plus. Sa mémoire fleurit sans qu'une seule rue ne porte son nom. Les manifestations de cette présence sont rares : un slogan restauré en lettres d'or à la station de métro Kourskaïa de Moscou et quelques portraits sur les autobus au moment des grandes fêtes commémoratives de la victoire contre le nazisme – jours durant lesquels, c'est officiel depuis février 2013, la ville de Volgograd reprendra son nom de Stalingrad.
Les Russes n'ont jamais été aussi libres de surfer sur Internet, de voyager et de consommer, à condition de ne pas faire de politique. Les opposants qui ont osé élever la voix contre la "démocratie dirigée" à l'hiver 2011-2012 sont harcelés. Depuis le retour de M. Poutine au Kremlin pour un troisième mandat, on se croirait revenu à l'époque des campagnes contre le "cosmopolitisme".
Deux mémoires se chevauchent. Staline le bâtisseur de l'empire soviétique fait oublier le tyran sanguinaire. C'est comme si la Russie tout entière était frappée de schizophrénie. L'élite politico-militaire au pouvoir achète des propriétés en Floride ou sur la Riviera tout en fustigeant les "agents étrangers". L'homme de la rue, lui, révère Staline mais ne voudrait à aucun prix se retrouver dans l'URSS des années 1930. En jouant sur la psychologie de l'Homo sovieticus – la peur, le paternalisme, la forteresse assiégée –, Vladimir Poutine prive le pays de son devoir d'inventaire. Difficile de moderniser la Russie avec un tel héritage.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Mais uma morte em posto diplomatico: evitavel?; inevitavel? - dois protestos

Recebido pela internet e postado aqui, sem necessidade de qualquer comentário de minha parte, apenas como manifestação de solidariedade, pois que muitos já sabem o que, ou como eu penso a respeito disso. 
Não preciso de adjetivos ou palavras eloquentes para expressar minha desconformidade com o que vem acontecendo em certos postos, criados pela diplomacia ativa e altiva de certos protagonistas da fase recente.
Paulo Roberto de Almeida 

Addendum em 17/11/2012: A AC Berenice Ferreira, segundo laudo médico efetuado por dois médicos especialistas, aferiu que a causa de sua morte não foi provocada por malário ou febre, mas por aneurisma. Fica, portanto, descartada a razão apressadamente alegada pelo sindicato e por colegas da vítima. Ainda que ela também tivesse sido afetada por malária, se tratava de doença contraída no Brasil em fase anterior, não diretamente relacionada a sua morte.
PRA


Um diplomata de muito valor, ética e coragem postou a seguinte mensagem acerca da morte da Assistente de Chancelaria Berenice Ferreira:

'Peço desculpas desde já pelo desabafo muito longo no Facebook, mas é necessário. Tudo que digo aqui - com exceção do texto que cito ao final - é de minha inteira responsabilidade e autoria. Reajam como bem entenderem, mas é algo que precisa ser dito.

Anteontem, 7 de novembro, faleceu Berenice Ferreira, servidora do Ministério das Relações Exteriores, em decorrência de malária e febre tifóide adquiridas durante missão realizada a Malabo, Guiné Equatorial.

Menos de um ano atrás, em dezembro de 2011, a Milena, minha colega de turma no IRBr, também faleceu em decorrência de malária adquirida em missão a Malabo.

Casos de profissionais da iniciativa privada ou do serviço público que sucumbem por motivos semelhantes não faltam. Milena e Berenice não foram as primeiras vítimas das intempéries várias que encontramos no serviço exterior. Infelizmente não devem ser as últimas, se virmos o que foi feito pelo Itamaraty a respeito - e principalmente o que não foi feito.

O que foi feito até agora? O MRE colocou no formulário de autorização de viagens a trabalho uma cláusula - que deve ser obrigatoriamente assinada pelo funcionário que viaja - que afirma que este funcionário está ciente dos riscos e das orientações a serem seguidas em viagens a locais com endemias e epidemias, bem como da necessidade de se consultar médicos antes e depois da viagem.

Problemas com a ideia e com a execução dessa cláusula não faltam. Implicitamente, ela busca eximir o MRE de qualquer culpa no envio de seus funcionários a locais de risco, uma vez que a responsabilidade pela prevenção (quando possível e necessária) passa a ser do funcionário. Na prática, incorre em gastos de capital e de tempo adicionais, porque se o funcionário resolve levar essa disposição a sério, acabará gastando um bom tempo para atendimento no serviço de saúde pública ou um bom dinheiro com o (horrível) atendimento da saúde particular em Brasília. O serviço de atendimento médico do MRE não tem sequer remédios para dor de cabeça ou gripe; quem dirá instrumentos para diagnóstico de malária, que são facilmente encontráveis na África e no Norte do Brasil.

Essa cláusula foi introduzida ao dito formulário algumas semanas após a morte da Milena. Não por acaso, a sensação de asco e de revolta não foi pouca.

Mas - como boa parte dos problemas relacionados à "coisa pública" e ao Estado no Brasil - isso é apenas a ponta do iceberg; apenas um sintoma de um mecanismo "decisório" há muito apontado como falho e pouco profissional.

O próprio procedimento de autorização de viagens é feito por via completamente manual. Você imprime o formulário e tem que sair caçando assinaturas de seus superiores em um processo por vezes humilhante, quando sistemas informatizados e impessoais já existem e já são utilizados por outros órgãos do serviço público brasileiro. Casos em que viagens são perdidas porque o formulário misteriosamente sumiu são inúmeros. Evidentemente, considerando que a diplomacia é uma profissão que precisa de viagens, termos - em 2012! - um sistema que dependa de carimbos e de "lobby" pessoal é, no mínimo, patético.

O processo de remoção de funcionários do serviço exterior é notoriamente complexo, pouco transparente e muitas vezes pré-arranjado. Todo e qualquer funcionário do Itamaraty, de qualquer geração, de qualquer categoria, conhece histórias de horror de pessoas que tinham qualificação e até especialização acadêmica para servir em um posto X, mas por razões de politicagem (me recuso a chamar de "política" ou "interesse da administração") acaba sendo mandado para outro posto Y. Pessoas desperdiçam estudos e esforços em prol de um melhor serviço exterior porque não há um planejamento e uma análise objetivos sobre as reais necessidades da política externa brasileira.

Seria possível escrever um livro sobre tudo isso. Mas o Itamaraty, do alto da torre de marfim na qual acredita estar empoleirado, tenta tratar disso tudo com aquela pretensa altivez romântica da diplomacia - altivez essa que já não existe há muito tempo. Todos esses problemas - os citados acima e outros tantos que quem me ler aqui e for "da Casa" saberá - são sintomáticos de uma crise seríssima de mentalidade, que poderia ser tomada em tom mais leve se não tivesse levado à morte irresponsável de duas funcionárias nos últimos 12 meses.

Ao contrário do que qualquer romântico ou aposentado disser, diplomacia - seja lá por quem seja exercida - não é sacerdócio, não é militar, não é uma casta, não é a realeza da República. É uma profissão civil. Tem suas peculiaridades, obviamente. Mas, como qualquer profissão, deve conter como elementos essenciais à sua sobrevivência duas coisas: respeito à pessoa do profissional e respeito às regras do jogo.

O que se vê no Itamaraty - não apenas hoje, embora recentemente isso tenha vindo à tona mais vezes - é exatamente o oposto: todos nós cansamos de ouvir episódios grotescos de desrespeito, de descaso, de desatenção com o trabalho alheio, de assédio moral... Ou casos de distorções das regras para benefício de poucos, aplicação seletiva de restrições, indefinições, medo de decidir...

Eu tenho muito respeito e muita admiração pelas pessoas do MRE que tentam, por todas as vias possíveis, fazer e administrar a diplomacia de um jeito diferente. Elas não poucas, algumas delas felizmente estão em posições de chefia e elas sabem quem são. Tenho ainda mais respeito por aqueles que tentam fazê-lo em ambientes insalubres e/ou perigosos, em postos em locais difíceis, ou junto a chefias que claramente perderam - ou sequer tiveram - o equilíbrio psicológico e o conhecimento necessários para exercer a diplomacia (ou qualquer outro cargo de chefia em qualquer lugar da iniciativa privada ou do serviço público). Mas é profundamente desanimador perceber que, por mais que tentamos fazer as coisas melhor, o "sistema" impede que esse avanço se consolide.

O Itamaraty só terá uma chance de ser relevante dentro e fora do País se acordar para a realidade. O processo decisório deste Ministério tem que mudar para se adaptar às reais necessidades da diplomacia do século XXI. Não é necessário desmontar a tal hierarquia que alguns da velha guarda tanto defendem; hierarquias são necessárias para a plena execução de planos e políticas. Basta apenas que essa velha guarda lembre-se de um aspecto simples de qualquer sociedade republicana: uma instituição é feita de pessoas, não de peças ou de papéis.

Não somos fungíveis. Somos profissionais. E já passou da hora do Itamaraty profissionalizar-se. Só assim para que o MRE esteja preparado para prevenir e ajudar em casos como os da Berenice, da Milena e de tantos outros.

Da minha parte, se o MRE não descer da torre de marfim, não sou eu que vou ficar.
Xxxxx
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Segue, abaixo, mensagem publicada hoje pela Erika Vanessa, amiga da Berenice, na página do MRE no Facebook.

"Venho manifestar o meu repúdio a uma situação infelizmente tão comum no MRE, mas pouco conhecida de toda sociedade. Veio a falecer uma querida colega que estava em Malabo. A Assistente de Chancelaria Berenice Ferreira faleceu em decorrência do agravamento do quadro de malária e febre tifóide adquiridos durante sua missão. Foi mandada com urgência ao Brasil e não resistiu. Muito se falou e muito se repercurtiu após o falecimento da Diplomata Milena, mas o que acontece de fato é que pessoas continuam morrendo. Servidores públicos a serviço do país continuam morrendo de graves doenças, principalmente em postos C e D no exterior. Muita coisa precisa ser mudada e repensada no tratamento dos servidores públicos a serviço do Governo brasileiro em outros países. Não se pode mais admitir tanto descaso. O apoio necessita ser integral, efetivo. Quantos mais precisarão morrer até que finalmente alguma providência efetiva possa ser tomada? Quantos mais precisarão perder a vida? Isso precisa ser divulgado para toda sociedade, para aqueles que, por desconhecimento, muitas vezes pensam que nós vivemos vida de luxo no exterior. Casos como o da AC Berenice não são divulgados, mesmo sendo o retrato da realidade. Fica aqui o meu manifesto, o meu repúdio à falta de estrutura no exterior. Queremos DIGNIDADE!"'

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Venezuela: muertos, mortes, deads, deaths, you choose...

Venezuela, More Deadly Than Iraq, Wonders Why
By SIMON ROMERO
The New York Times, August 22, 2010

CARACAS, Venezuela — Some here joke that they might be safer if they lived in Baghdad. The numbers bear them out.

In Iraq, a country with about the same population as Venezuela, there were 4,644 civilian deaths from violence in 2009, according to Iraq Body Count; in Venezuela that year, the number of murders climbed above 16,000.

Even Mexico’s infamous drug war has claimed fewer lives.

Venezuelans have absorbed such grim statistics for years. Those with means have hidden their homes behind walls and hired foreign security experts to advise them on how to avoid kidnappings and killings. And rich and poor alike have resigned themselves to living with a murder rate that the opposition says remains low on the list of the government’s priorities.

Then a front-page photograph in a leading independent newspaper — and the government’s reaction — shocked the nation, and rekindled public debate over violent crime.

The photo in the paper, El Nacional, is unquestionably gory. It shows a dozen homicide victims strewn about the city’s largest morgue, just a sample of an unusually anarchic two-day stretch in this already perilous place.

While many Venezuelans saw the picture as a sober reminder of their vulnerability and a chance to effect change, the government took a different stand.

A court ordered the paper to stop publishing images of violence, as if that would quiet growing questions about why the government — despite proclaiming a revolution that heralds socialist values — has been unable to close the dangerous gap between rich and poor and make the country’s streets safer.

“Forget the hundreds of children who die from stray bullets, or the kids who go through the horror of seeing their parents or older siblings killed before their eyes,” said Teodoro Petkoff, the editor of another newspaper here, mocking the court’s decision in a front-page editorial. “Their problem is the photograph.”

Venezuela is struggling with a decade-long surge in homicides, with about 118,541 since President Hugo Chávez took office in 1999, according to the Venezuelan Violence Observatory, a group that compiles figures based on police files. (The government has stopped publicly releasing its own detailed homicide statistics, but has not disputed the group’s numbers, and news reports citing unreleased government figures suggest human rights groups may actually be undercounting murders).

There have been 43,792 homicides in Venezuela since 2007, according to the violence observatory, compared with about 28,000 deaths from drug-related violence in Mexico since that country’s assault on cartels began in late 2006.

Caracas itself is almost unrivaled among large cities in the Americas for its homicide rate, which currently stands at around 200 per 100,000 inhabitants, according to Roberto Briceño-León, the sociologist at the Central University of Venezuela who directs the violence observatory.

That compares with recent measures of 22.7 per 100,000 people in Bogotá, Colombia’s capital, and 14 per 100,000 in São Paulo, Brazil’s largest city. As Mr. Chávez’s government often points out, Venezuela’s crime problem did not emerge overnight, and the concern over murders preceded his rise to power.

But scholars here describe the climb in homicides in the past decade as unprecedented in Venezuelan history; the number of homicides last year was more than three times higher than when Mr. Chávez was elected in 1998.

Reasons for the surge are complex and varied, experts say. While many Latin American economies are growing fast, Venezuela’s has continued to shrink. The gap between rich and poor remains wide, despite spending on anti-poverty programs, fueling resentment. Adding to that, the nation is awash in millions of illegal firearms.

Police salaries remain low, sapping motivation. And in a country with the highest inflation rate in the hemisphere, more than 30 percent a year, some officers have turned to supplementing their incomes with crimes like kidnappings.

But some crime specialists say another factor has to be considered: Mr. Chávez’s government itself. The judicial system has grown increasingly politicized, losing independent judges and aligning itself more closely with Mr. Chávez’s political movement. Many experienced state employees have had to leave public service, or even the country.

More than 90 percent of murders go unsolved, without a single arrest, Mr. Briceño-León said. But cases against Mr. Chavez’s critics — including judges, dissident generals and media executives — are increasingly common.

Henrique Capriles, the governor of Miranda, a state encompassing parts of Caracas, told reporters last week that Mr. Chávez had worsened the homicide problem by cutting money for state and city governments led by political opponents and then removing thousands of guns from their police forces after losing regional elections.

But the government says it is trying to address the problem. It recently created a security force, the Bolivarian National Police, and a new Experimental Security University where police recruits get training from advisers from Cuba and Nicaragua, two allies that have historically maintained murder rates among Latin America’s lowest.

The national police’s overriding priority, said Víctor Díaz, a senior official on the force and an administrator at the new university, is “unrestricted respect for human rights.”

“I’m not saying we’ll be weak,” he said, “but the idea is to use dialogue and dissuasion as methods of verbal control when approaching problems.”

Senior officials in Mr. Chávez’s government say the deployment of the national police, whose ranks number fewer than 2,500, has succeeded in reducing homicides in at least one violent area of Caracas where they began patrolling this year.

Still, human rights groups suggest the new policing efforts have been far too timid. Incosec, a research group here that focuses on security issues, counted 5,962 homicides in just 10 of Venezuela’s 23 states in the first half of this year.

Meanwhile, the debate over the morgue photograph published by El Nacional is intensifying, evolving into a broader discussion over the government’s efforts to clamp down on the news outlets it does not control.

The government says the photograph was meant to undermine it, not to inform the public. The authorities are also threatening an inquiry into “Rotten Town,” a video by a Venezuelan reggae singer that shows an innocent child struck down by a stray bullet. For all the government’s protests, the video has spread rapidly across the Internet since its release here this month.

Given the government’s stance in these cases, many here worry it is focusing on the messenger, not the underlying message.

Hector Olivares, 47, waited outside the morgue early one morning this month to recover the body of his son, also named Hector, 21. He said his son was at a party in the slum of El Cercado, on the outskirts of Caracas, when a gunman opened fire.

Mr. Olivares said Hector was the second son he had lost in a senseless murder, after another son was killed four years ago at the age of 22. He said he did not blame Mr. Chávez for the killings, but he pleaded with the president to make combating crime a higher priority.

“We elected him to crack down on the problems we face,” he said. “But there’s no control of criminals on the street, no control of anything.”

María Eugenia Díaz contributed reporting.