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sábado, 31 de outubro de 2015

Venezuela: a farsa do julgamento de Leopoldo Lopez e o juiz arrependido

Das declarações (confusas, totalmente confusas) deste juiz que participou da farsa do julgamento do líder opositor Leopoldo Lopez se conclui que qualquer que fosse o juiz, quaisquer que fossem as acusações, a intenção claríssimo da ditadura chavista era simplesmente a de fazer o líder do movimento democrático amargar anos de prisão.
Essa farsa nos remete aos piores momentos do stalinismo paranoico dos anos 1930, quando todas as personalidades que poderiam fazer sombra ao tirano Stalin foram objeto de julgamentos pré-fabricados, e condenados à morte.
O que vão fazer a Unasul, a OEA, o Mercosul, o governo brasileiro ante essas revelações?
Nada, repito NADA...
Paulo Roberto de Almeida



“Saí porque não queria defender a farsa contra Leopoldo López”
O procurador venezuelano Franklin Nieves, de 51 anos, é hoje uma das pessoas mais procuradas do planeta. Ele está angustiado com o alvoroço provocado por sua fuga da Venezuela depois de denunciar que o Governo de Nicolás Maduro fraudou provas no julgamento do líder da oposição, Leopoldo López. Há cinco dias, ele está escondido com a esposa e as duas filhas pequenas em Miami, nos Estados Unidos, onde tramita o pedido de asilo político. O papel de Nieves foi decisivo na condenação de López a 13 anos de prisão pelas manifestações de 12 de fevereiro de 2014, que terminaram com 43 mortos. Ele garante que responsáveis pelo Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional lhe disseram que Maduro deu a ordem de agir contra López e, durante a ação, montou a acusação. “Um embuste”, diz Nieves, que na entrevista ao El PaÍs, relata as maracutaias do Governo para acusar López e mostra seu arrependimento.
Pergunta. Quando e por que o senhor decidiu fugir da Venezuela e denunciar a manipulação de provas no julgamento de Leopoldo López?
Resposta. Na Venezuela há perseguição de promotores e juízes e eu estava com medo porque lá funciona a lei do medo. No dia 19 de outubro eu disse à minha esposa que estávamos indo. Alonguei minhas férias, comprei as passagens para Aruba e de lá para os Estados Unidos.
P. O senhor denunciou pressões para acusar López. Em que consistiam?
R. Em obrigar especialistas, funcionários e testemunhas que respondessem às perguntas que lhes fazíamos. Preparávamos as respostas, eles assinavam e pronto.
P. Pessoalmente, sofreu ameaças?
R. Não, não, mas estavam latentes.
P. O senhor levantou objeções às pressões e às provas falsas?
R. Às pressões não, mas denunciei que o procedimento não era correto. As provas falsas estão no processo, mas quando fizemos a acusação, deturpamos a informação. E onde não havia fogo, nós colocávamos que havia existido fogo.
P. Quando ia para casa, o que pensava?
R. Estava em choque. Leopoldo López é inocente, em nenhum momento clamou pela violência. Em vídeos postados no YouTube ou nas redes sociais se comprova que ele disse aos seus seguidores para não caírem em provocações. Nós colocamos na acusação que quando ele saiu das manifestações começaram os ataques contra o edifício do Ministério Público e isso é totalmente falso.

Se me prenderem e me colocarem numa cela, quero que a cela seja grande! Nela têm de entrar Nicolás Maduro e Diosdado Cabello

P. Como se sente sabendo que falsificou provas contra um inocente?
R. [Pausa] Imagine... é por isso que venho aqui dizer a verdade, a violação dos direitos de Leopoldo López. Eu jurei defender a Constituição e as leis. Onde ficou isso, Franklin Nieves? Onde te ensinaram na Universidade a cometer delitos, a violar direitos humanos? Pisei tudo na minha carreira, os estudos de Direito Penal, de Direito Internacional Humanitário... O que fiz? Tanto tempo me preparando para no fim...
P. Qual seria a sua pena?
R. Imagino que prisão perpétua, porque nunca vou esquecer isso.

No dia que libertarem Leopoldo López, eu serei seu melhor amigo

P. Que provas o senhor tem da manipulação do processo?
R. Não subtraí nenhuma prova física, mas tenho alguns casos que podem ser interessantes.
P. O senhor pôde fazer algo para que o processo contra López não avançasse?
R. Não, não. Comigo ou sem mim, a condenação era certa. Se eu renunciasse, moveriam um processo contra mim, uma perseguição... ou me matariam.
P. O Governo lhe prometeu algo para incriminar López?
R. Não, não.
P. Parte dos exilados venezuelanos desconfia do seu arrependimento. O senhor entende isso?
R. Claro, mas eu não acredito que seja tarde para reconsiderar. Poderia ter julgado o recurso que López fez, ter pedido minha aposentadoria e não o fiz. Vim para cá cinco dias antes de ter que julgar o recurso porque não queria defender essa farsa.

Comigo ou sem mim, a condenação era certa

P. O governo venezuelano tentou entrar em contato com o senhor?
R. Não. O que fizeram foi invadir a minha casa e uma da minha esposa. Foram ao meu escritório, revistaram-no sem um mandado, levaram os discos rígidos e amedrontaram minha equipe.
P. Depois de confessar que manipulou provas, o senhor teme alguma ação judicial?
R. Não, não. Estou dizendo a verdade, não estou fugindo da minha responsabilidade penal. Se me prenderem e me colocarem numa cela, quero que a cela seja grande! Nela têm de entrar Nicolás Maduro e Diosdado Cabello [presidente da Assembleia Nacional e número dois do regime].
P. O senhor havia feito alguma acusação irregular antes?
R. Todas as acusações que fiz, todas menos essa, foram corretas. Sempre agi em conformidade com a lei.

Algum dia terei de me ajoelhar e pedir perdão a essas pessoas

P. O pedido de perdão a Leopoldo López e sua família é suficiente?
R. Espero que surta efeito na consciência e nos corações dos venezuelanos, pelo menos no do cidadão Leopoldo López Mendoza. Especialmente nos corações de seus filhos, Manuela e Leopoldito. Algum dia terei de me ajoelhar e pedir perdão a essas pessoas. No dia que libertarem Leopoldo López, eu serei seu melhor amigo.
P. López vai sair logo da prisão?
R. A justiça venezuelana tem agora a responsabilidade de anular o julgamento. As garantias constitucionais e o direito de defesa foram violados... Mas o que vigora na Venezuela é uma sociedade de cúmplices, protegem-se uns aos outros porque muitas pessoas conhecem os segredos de outras.
  

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Venezuela: resgatando a memoria dos lutadores democraticos: Raul Leoni

Por uma vez, os latino-americanos vivendo na França deixam de homenagear Hugo Chávez, o ditador fascista transformado em líder da esquerda, e rememoram um dos atores fundamentais da luta pela democratização venezuelana, um combatente pela causa das liberdades, no curso das várias ditaduras militares que teve esse infeliz país (infeliz pelo petróleo, que alimenta essa obsessão pelo poder das oligarquias e lideranças militares).
O resumo do documentário permite descobrir uma parte da vida desse lutador democrático.
No retorno à democracia, em 1958, foi avançada uma cláusula de reconhecimento diplomático dependente do tipo de regime político, conhecida como "doutrina Betancourt". Ela fez com que a Venezuela rompesse relações diplomáticas com o o Brasil em 1964, no seguimento do golpe militar. Depois, tendo constatado a inocuidade da doutrina para fins práticos, os venezuelanos acabaram restabelecendo as relações com o Brasil.
No período atual, é o Brasil quem reconhece um regime formalmente legítimo, mas de fato ditatorial.
Paulo Roberto de Almeida

France-Venezuela FRAVEN
Association pour le développement des échanges entre la France et  le Venezuela

30 octobre 2015 à 19 heures
Maison de l’Amérique latine
217, boulevard Saint- Germain, 75007 Paris
métro rue du Bac ou Solférino

Projection  du documentaire :
« RAUL LEONI :   constructeur de démocratie »

Raúl Leoni 1965
 
Production : Collection Ciné Archivo de Bolivar Films,  Caracas, Venezuela  58 minutes vo.

Raúl Leoni est né à El Manteco (Etat Bolivar) le 26 avril 1905 et décédé à   New York le 5 juillet 1972. Avocat, politicien, diplômé de l’UCV de Caracas, docteur en droit et sciences sociales de l’Université Externe de Bogota.  Président du Sénat et du Congrès de la République entre 1959-1963 a été Président du Venezuela 1964/1969. Il a été un dirigeant universitaire de la « generación del 28 », premier mouvement de masse d’opposition à la dictature de Juan Vicente Gómez. 
Obligé à l’exil, il retourne au Venezuela sous le gouvernement de   Eleazar López Contreras.  Raul Leoni   est encore  expulsé pour être dirigeant de la gauche politique vénézuélienne.
En 1941, il retourne au Venezuela et fonde avec d’autres dirigeants de gauche le parti « Accion Democratica » AD. En 1945, après le coup d’état du 18 octobre 1945, il est nommé membre de la junte  révolutionnaire du gouvernement, une junte civico-militaire qui prendra le pouvoir  pendant trois ans. Il occupe le poste de ministre de travail et  formera partie du gouvernement de Romúlo Betancourt jusqu’en 1948.
Cette même année une junte militaire accède au  pouvoir et Raúl Leoni sera emprisonné pendant huit mois jusqu’à sa nouvelle expulsion.  
Il rentre au Venezuela après la chute de la dictature de Marcos Perez Jimenez. En 1964 le 13 mars, il est élu  Président  de la République. Son mandat se caractérise par un gouvernement d’ouverture et  d’une volonté de pacification nationale. Raúl Leoni  dont le père Clemente Leoni   -  né à Murato  (Corse) -  est arrivé au Venezuela en 1898, a été un des fondateurs de la démocratie au Venezuela et sous son gouvernement le Venezuela a « grandi à pas de géants » : Education, Santé, droits et protection  des travailleurs,  développement des grandes infrastructures.   
« Je serai un président qui gouvernera pour tous les vénézuéliens et qui se laissera dominer par la passion de  servir son peuple et de ne pas trahir ceux qui ont la foi de croire en moi ».
En 1970, lors d’un voyage officiel en France, Raúl Leoni se rend à Murato,  village de la haute Corse à 25kms de Bastia.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Conflito Colombia-Venezuela: diplomacia do Brasil trata igual agressor e vitima - Clovis Rossi

A questão mais importante é a postura que o Brasil deveria assumir no conflito da Colômbia com a Venezuela (ou o contrário, pois foi a Venezuela quem agrediu colombianos, expulsando-os de maneira desumana e arbitrária).Segundo o jornalista, o Brasil não deveria colocar no mesmo plano agressor e vítima.
Pois é...
Paulo Roberto de Almeida

Em busca do "país que falta"
Clóvis Rossi
Folha de S. Paulo, 8/10/205

Visita de Dilma à Colômbia busca atrair para o Sul o olhar dos colombianos, hoje voltado para o Norte

A presidente Dilma Rousseff está hoje na Colômbia em busca do "país que nos falta", conforme se diz no Itamaraty. Tradução: a Colômbia, durante os últimos anos, olhava acima de tudo para o Norte (leia-se: Estados Unidos) e o Brasil quer que passe a olhar mais para o Sul.
Não que esse olhar já não exista: o intercâmbio comercial cresceu 165% de 2005 a 2014, passando de US$ 1,5 bilhão para US$ 4,1 bilhões.
Mas é pouco, acha a diplomacia brasileira, ainda mais quando se sabe que a Colômbia é a terceira maior economia da América do Sul, mas apenas o sétimo parceiro comercial do Brasil na região.
O olhar da Colômbia para o Norte tinha plena justificação nos anos da guerra contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia): os EUA financiavam o chamado "Plano Colômbia", essencial no combate aos guerrilheiros. Agora que o processo de paz está para ser concluído (a previsão é fevereiro de 2016), o Brasil pode ser mais útil.
De fato, já está sendo, informa o Itamaraty: "A contribuição brasileira concentra-se, sobretudo, na transferência da tecnologia social do Programa de Aquisição de Alimentos, que tem como objetivos principais fortalecer a agricultura familiar e promover o acesso à alimentação às populações em situação de insegurança alimentar".
Parece uma contribuição técnica, mas é também política, talvez acima de tudo.
Afinal, a guerra na Colômbia nasceu no campo e foi travada em boa medida em torno da questão fundiária. Tanto é que um dos pontos principais do acordo com as Farc girou exatamente em torno do problema agrário, que pressupõe reassentamentos, posse da terra e afins. Se a operação for bem sucedida, a paz terá mais chances de se afiançar.
Adicionalmente, o Brasil também coopera com os colombianos no processo de retirada das minas semeadas pelos guerrilheiros durante os anos de conflito.
O que não se comenta no Itamaraty é que a visita de Dilma visa também a desfazer um certo incômodo dos colombianos com a neutralidade do Brasil no confronto Colômbia/Venezuela em torno da fronteira, ainda aberto.
O Brasil absteve-se de votar, na Organização dos Estados Americanos, a proposta colombiana de se convocar uma reunião de chanceleres para discutir a crise. O Itamaraty ficou com medo de desagradar Nicolás Maduro, o presidente venezuelano –medo que explica a neutralidade na questão.
Para os colombianos não é uma posição aceitável porque consideram, com toda a razão, que há um lado agressor (a Venezuela, que tomou a iniciativa de fechar a fronteira e deportar ilegalmente colombianos) e uma vítima, a Colômbia.
Tratar igualmente vítima e agressor não é de fato decente, mas as autoridades colombianas não pretendem criar caso com o Brasil.
A crise fronteiriça é um problema conjuntural, ao passo que o processo de paz é a prioridade estrutural do presidente Juan Manuel Santos.
Nesse item, o Brasil pode e tem ajudado, ao contrário da omissão na crise da fronteira.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A Tale of Two Inflations: Venezuela (highest), Peru (lowest)

Não há muito espaço para Charles Dickens, aqui, ou se houver, é apenas para relatar a miséria dos cidadãos venezuelanos, que além de suportar uma crônica falta de produtos básicos ainda precisam se confrontar a uma inflação que é, provavelmente, a maior do mundo, mas uma coisa é consequência da outra não é mesmo?
Enquanto isso, um pouco mais abaixo, o Peru conhece sua mais baixa inflação do ano, coisa que os brasileiros não podem proclamar...
Paulo Roberto de Almeida

Venezuela economía
Inflación en Venezuela habría alcanzado el 180 % anual
InfoLatam, 2/10/2015

La inflación mensual de Venezuela de septiembre habría sido la más alta en un cuarto de siglo, un 16,9 por ciento, y la tasa interanual habría alcanzado a un 179,5 por ciento, dijo el jueves un periódico opositor, citando una fuente cercana al Banco Central.

Perú economía
La inflación en Perú llegó a 0,03 % en septiembre, la más baja del año
 InfoLatam, 2/10/2015

La inflación en Perú durante septiembre pasado fue de 0,03 %, la mas baja del año, con lo que se llegó a un acumulado de 3,43 % durante el año, informó el Instituto Nacional de Estadística e Informática (INEI).

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Venezuela ameaca perigosamente a pequena Guiana: Brasil tem responsabilidade na escalada verbal...

... que pode descambar irresponsavelmente para a guerra, se o Brasil, e outros países da região, assim como a Unasul, o Mercosul, a OEA, e a própria ONU não atuarem para desativar um imitador dos militares argentinos, que para desviar a atenção da população para a crise econômica no país iniciaram a guerra nas Falklands/Malvinas.
O Brasil tem especial responsabilidade no assunto, pois pelo menos metade do território terrestre reivindicado pelos caudilhos bolivarianos lhe pertencia historicamente, até a arbitragem enviesada conduzida pelo rei italiano em favor da Grã-Bretanha, mais de cem anos atrás.
O Brasil tem do dever de deixar bem claro aos caudilhos bolivarianos que qualquer agressão é inaceitável, sob qualquer critério e sob todos os padrões diplomáticos.
Paulo Roberto de Almeida

Presidente da Guiana avisa que Maduro, Venezuela, quer a guerra para anexar seu País

Em Georgetown, capital da Guiana, é fácil constatar que o país não faz parte da América Latina, apesar de estar situado, geograficamente, na América do Sul. A população fala inglês e o volante fica do lado direito do carro. O maior grupo étnico é o de descendentes de indianos, trazidos para substituir os escravos africanos nas lavouras de cana-de-açúcar do século XIX.
Nos arredores da cidade, há mais templos hinduístas e mesquitas do que igrejas cristãs. Neste ano, a sensação entre os guianenses de não pertencer ao mundo latino cresceu quando o governo venezuelano reivindicou dois terços do território da Guiana e uma parte correspondente de seu mar. O presidente David Granger, eleito em maio, contou à VEJA que espera a arbitragem da ONU sobre a pendenga.
O presidente Nicolás Maduro tem dito que a região do Essequibo, na Guiana, na realidade pertence á Venezuela. Faz sentido?
Não. As fronteiras ocidentais de nosso país com o Brasil e com a Venezuela foram demarcadas por um tribunal de arbitragem em 1899. Isso foi há 116 anos. Os mapas internacionais reconhecem as fronteiras entre a Guiana e os vizinhos Venezuela e Brasil. Maduro não tem razão.
Essequibo sempre pertenceu à Guiana?
Depois das guerras napoleônicas, a Inglaterra tomou posse de todas as colônias holandesas, em 1814, inclusive os três territórios que hoje compõem a Guiana. O acordo de 1899 resolveu as pendências que surgiram com os vizinhos e, por cinquenta anos, não houve nenhuma obstrução. Quem for até os pontos mais ao norte, mais ao leste e mais ao sul do Essequibo vai constatar que os cidadãos estão sob a jurisdição guianense. Foi somente com a então iminente independência da Guiana, conquistada em 1966, que a Venezuela começou a exigir o território para si.
Os moradores do Essequibo gostariam de ser cidadãos venezuelanos?
Eles sabem muito bem que essa é uma reivindicação espúria. Esses cidadãos votam nas eleições da Guiana. Têm certidão de nascimento e passaporte guianenses. Recentemente, ocorreu uma conferência dos chefes das tribos indígenas, muitas das quais estão localizadas perto da fronteira. Eles publicaram uma resolução em que expressam solidariedade ao meu governo na resistência à agressão venezuelana. A ONU também mandou uma delegação para lá, que conversou com vários habitantes. Ninguém apoiou a reivindicação venezuelana. Posso dizer com segurança que estamos todos unidos nisso.
Por que Maduro insiste tanto?
Essa questão voltou à tona principalmente por causa da exploração de petróleo no fundo do mar pela companhia americana EXXON. Desde março deste ano, quando a empresa anunciou ter encontrado uma grande reserva nas nossas águas territoriais (700 milhões de barris de petróleo, o dobro das reservas comprovadas na Bahia), começamos a ouvir com mais força as batidas dos tambores. Vale lembrar que a Venezuela perdeu um litígio com a EXXON anos atrás e foi obrigada a pagar uma compensação por causa da nacionalização de propriedades da companhia. Isso explica a feroz reação do governo venezuelano à descoberta feita pela EXXON. Além disso, parte do território reivindicado também é rica em ouro e diamantes.
Qual o impacto da disputa territorial com a Venezuela em seu país?
A Venezuela tem obstruído consistente e persistentemente nosso desenvolvimento econômico nos últimos cinquenta anos. Em outubro de 2013, a Marinha venezuelana mandou uma corveta, a PC 23 Yekuana, para ameaçar o barco de outra empresa de petróleo que estava conduzindo pesquisas em uma área não muito longe do campo da EXXON. Com a ameaça de uso da força, os venezuelanos impediram que o navio Teknik Perdana continuasse a prospecção. Mais recentemente, em maio, um decreto publicado pela Venezuela deu à Marinha a autoridade para atuar em nossas águas. Esse tipo de coisa assusta os investidores. Embora nenhuma empresa tenha deixado a Guiana por essas medidas, muitas hesitam em vir para cá.
“Venezuela está se comportando de maneira agressiva, o que é inaceitável neste milênio. Seu governo quer um território que não é do país. Eu não chamaria isso de imperialismo, mas certamente é algo que vai contra as leis”
Qual tem sido a posição da EXXON após os decretos de Maduro?
Nós temos falado com seus executivos. Na minha visão, a determinação continua porque petróleo é o negócio deles. Foram eles que acharam as reservas. Por isso, devem continuar por aqui.
Há razões geopolíticas para Maduro ter iniciado essa pendenga com a Guiana?
A Venezuela não possui litoral no Oceano Atlântico. O país tem um extenso litoral para o Mar do Caribe (uma fileira de pequenas ilhas separa o Caribe do Atlântico). Para aumentarem o poder da Marinha, os venezuelanos têm falado muito de ter um acesso ao Atlântico. Querem usar essa reivindicação absurda de território para garantir outro direito espúrio, o de ter um corredor para o Atlântico.
Como o senhor define esse tipo de comportamento?
A Venezuela está se comportando de maneira agressiva, o que é inaceitável neste milênio. Seu governo quer um território que não é do país. Eu não chamaria isso de imperialismo, mas certamente é algo que vai contra as leis.
Essa disputa é uma questão bilateral ou envolve mais países?
A reivindicação territorial é essencialmente bilateral. Mas a marítima afeta outros países, como Barbados e Suriname.
Maduro expulsou milhares de colombianos que viviam na Venezuela acusando-os de ser paramilitares e de fazer contrabando. Isso tem alguma similaridade com o que está acontecendo com a Guiana?
Não gostaria de comentar as relações entre a Colômbia e a Venezuela, mas é certo que qualquer distúrbio de fronteira neste continente vai acabar afetando outras nações. Nós queremos uma região pacífica.
Presidente da República Cooperativa da Guiana, David Granger 

No dia 17 de Julho de 2015, em uma reunião do MERCOSUL a preidente Dilma Rousseff recebeu o Presidente da República Cooperativa da Guiana, David Granger. Ao saber disso o Presidente Nicolas Maduro retirou-se intempestivamente da reunião e partiu de Brasília  - DF, 17/07/2015 Foto Palácio do Planalto
O Brasil deveria ajudar a resolver a disputa?
Em 7 de setembro, durante comemoração da Independência, Lineu Pupo de Paula, o embaixador brasileiro na Guiana, deixou claro para nós que seu país não tem interesse em turbulências em nenhuma fronteira no nosso continente. Em julho, eu estive em Brasília e falei com a presidente Dilma Rousseff. Na ocasião, ela fez a mesma afirmação. Tudo indica que o Brasil não quer mudanças nas nossas fronteiras.
O que Dilma lhe disse, exatamente?
Ela não falou especificamente sobre a controvérsia. Não mencionou a Venezuela. Mas Dilma manteve a posição brasileira de rejeitar distúrbios nas fronteiras.
Como a UNASUL e o MERCOSUL estão lidando com essas questões?
O MERCOSUL foi feito para ser um bloco econômico. Não é, portanto, uma questão que o MERCOSUL deva decidir. Também não vi nenhum envolvimento da UNASUL. A ideia por lá é que se deve aguardar uma posição da ONU. Tenho falado com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Ele ficou de marcar um encontro entre os dois lados. Agora, está tudo nas mãos da ONU.
Maduro insinuou que pode usar da força para conseguir o que quer. A Venezuela tem um contingente militar vinte vezes maior que o da Guiana. Seu país teria condições de responder a uma agressão armada?
Dependemos da diplomacia, do estado de direito, das Nações Unidas, das forças multilaterais como a UNASUL e da Organização dos Estados Americanos (OEA). Temos de confiar nisso porque somos um país pequeno e sem interesse em um conflito militar com a Venezuela ou outro país. Esse não é o debate que gostaríamos de ter neste novo milênio. Vivemos em um mundo civilizado e acreditamos que a comunidade internacional possa atuar para garantir que a América do Sul seja uma área de paz. Nossa opção tem sido não investir nossos esparsos recursos em defesa militar.
A reserva de petróleo sob  águas guianenses é estimada em 40 bilhões de dólares, o equivalente a treze vezes o PIB anual do país. Qual a melhor maneira de usar os royalties?
 Somos um país pequeno, um dos menores na América do Sul, apesar de termos uma área maior que a da Inglaterra e da Escócia juntas. Nossa população é de apenas 750 000 pessoas. Por razões históricas, temos um nível muito alto de pobreza. Os holandeses e os ingleses vieram aqui para produzir algodão e depois açúcar. Ainda exportamos basicamente açúcar, arroz, madeira, ouro e bauxita. A receita do petróleo nos permitirá diversificar a economia mais rapidamente. Nossa geografia oferece um grande potencial hidrelétrico. Infelizmente, até agora, não temos tido recursos financeiros suficientes para construir mais usinas. Com isso, a energia tem um custo muito alto, o que restringe várias formas de industrialização. Se essa barreira for superada, a economia ganhará dinamismo e a pobreza será aliviada.
“Não temos interesse  em um conflito militar com a Venezuela ou outro país. Esse não é o debate que gostaríamos de ter. Acreditamos que a comunidade  internacional possa atuar para garantir que a América do Sul seja uma área de paz”
Em muitos países, a abundância de petróleo serviu para financiar governos autoritários. A Guiana corre o risco de seguir esse caminho?
O Brasil produz petróleo e não é uma ditadura. Não acho que exista essa maldição. Antes de as receitas do petróleo começarem a entrar, o que deve demorar alguns anos, queremos estabelecer um fundo soberano para ter certeza de que o dinheiro não será desperdiçado. Queremos deixar algo para a posteridade. O fundo vai garantir que a riqueza possa ser compartilhada pelas futuras gerações e manterá a inflação sob controle.
Por que a Guiana tem uma das maiores taxas de suicídio do mundo?
É difícil saber o que leva uma pessoa a fazer isso, porque é uma questão individual. Não podemos saber o que se passa na mente dela. Os fatores podem ser familiares ou econômicos. Muitos casos acontecem em áreas rurais, com a ingestão de substâncias químicas agrícolas, como inseticidas. Não é um fenômeno disseminado em todo o país, mas concentrado nas áreas mais pobres.
Quase não se ouve falar sobre a Guiana no Brasil. Como mudar isso?
Historicamente, o desenvolvimento do meu país se concentrou no litoral. Temos relações econômicas mais fortes com o Caribe, a Inglaterra, os Estados Unidos, o Canadá e a União Europeia. Queremos dar mais atenção à integração com a América do Sul. Dos três países vizinhos (Venezuela, Brasil e Suriname), os laços com o Brasil são os mais fortes. Recentemente, o Brasil construiu uma ponte sobre o Rio Itacutú ligando os dois países. Há um destino continental para a Guiana.
Como o senhor se define ideologicamente?
Sou nacionalista.
O senhor é membro de um partido que se define como socialista, o PNC (Congresso Nacional do Povo, na sigla em inglês). Em que o socialismo do PNC é diferente do "socialismo do século XXI" pregado por Hugo Chávez?
 O socialismo do PNC nasceu defendendo a ideia de que cidadãos pobres pudessem participar de cooperativas. Continuamos impulsionando as cooperativas. Também temos, ainda, algumas poucas empresas estatais no país, mas encorajamos a iniciativa privada. Queremos garantir que a população tenha uma educação de qualidade, que a economia possa crescer com energia renovável, que empresários tenham sua parcela na produção da riqueza e que os cidadãos sejam parte da economia. Maduro é chavista. Ele segue o seu mentor, Hugo Chávez. Sua ideologia é parte do chamado socialismo bolivariano. Não sigo esse caminho.
O senhor já foi jornalista. O respeito à liberdade de expressão também é uma diferença sua em relação ao go-verno venezuelano?
Não posso falar sobre o que acontece em outros países. Na Guiana, insisto que a liberdade de imprensa deve ser respeitada. Temos tentado fazer isso da melhor maneira possível. Mesmo nas empresas que são propriedade do governo, existe liberdade editorial. Vou continuar apoiando isso. ?

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Venezuela: o desrespeito aos principios democraticos se aprofunda: o que faz o Mercosul?

Seria interessante ler uma nota a esse respeito da Unasul (uma criação da diplomacia brasileira), uma outra nota do Mercosul, uma outra criação do governo brasileiro (e parece que a Venezuela faz parte do Mercosul, ou estou enganado?), e mais algumas notas de quem sempre expede muitas notas, a respeito dos assuntos mais anódinos, ou importantes (também cabe). Se trata de uma simples questão de dignidade, de respeito aos direitos humanos, da mais elementar adesão aos princípios democráticos. Ou tudo isso não vale nada. Ou a tal de "plena vigência das instituições democráticas" só vale para determinadas ocasiões? Com a palavra os que sempre falam...
Paulo Roberto de Almeida 

Lilian Tintori, esposa de Leopoldo López, leu uma mensagem enviada por ele na Praça José Martí, em Caracas, há pouco. O líder da oposição, condenado por Nicolás Maduro a quase 14 anos de prisão, convocou os venezuelanos às ruas no dia 19 de setembro.
Leiam o texto (em espanhol):

"No espero que mis cadenas sean removidas por la dictadura. Por eso, los convoco a que, desde hoy, con mis hermanos de la Unidad, salgamos el sábado 19 de septiembre a tomar las calles en paz y en democracia, bajo estricta disciplina no violenta y vestidos de blanco, junto a nuestros candidatos de la Unidad. Que el próximo sábado se convierta en el inicio del cambio del 6 de diciembre.
Venezuela quiere cambio, quiere voto, quiere calle. Sí se puede. Fuerza y fe.
Nunca me voy a cansar de luchar por Venezuela.
Hace más de 1 año, dije que la élite corrupta que gobierna Venezuela había ordenado meterme preso, con la intención de que yo abanadonara el país. No dudé en dar un paso enfrente, para enfrentar a esta dictadura en un juicio infame.
Hoy, cuando he sido condenado, por la infamia y la mentira sin escrúpulos, les digo que no me arrepiento de la decisión que tomé. Porque las grandes causas ameritan grandes sacrificios.
Estoy convencido de la bondad de nuestra causa, que no es otra que la liberación de todo un pueblo que hoy sufre las consecuencias de un modelo fracasado. Una causa justa y democrática, que busca un país de paz, bienestar y progreso; una causa humana, que busca que todos los derechos sean para todas las personas. Una causa moral, que nos obliga a estar de lado de las víctimas y no de los victimarios.
Esta sentencia no es solo en mi contra, sino contra todos aquellos quienes luchamos por un mejor país. Nadie está más tentando a caer en la frustración que yo, pero les confieso que estoy más fuerte que nunca y decidido a levantarme una y otra vez hasta lograr pacíficamente el cambio que requiere nuestro país.
Por eso, el único acto de solidaridad que pido ante mi sentencia es que no se rindan, porque, como una vez dijo Ghandi: los caminos de la verdad y el amor siempre han triunfado.
El 6 de diciembre tenemos una excelente oportunidad para quitarle el poder a quienes hoy lo tienen. Con revire democrático, salgamos a expresarnos en las urnas.
Finalmente, a mi amada esposa: dale a nuestros hijos un mensaje muy especial. Van a escuchar de boca de algunos que su papi es culpable, que estará preso unos años más. No es cierto. Hoy su papá es más libre que nunca. Mi alma, mis ideas, mi amor por ustedes vuela alto, vuela muy alto, en el cielo de nuestra hermosa Venezuela. Estoy aquí y no me iré, no podrán separarnos.
Muy pronto, juntos, viviremos en la mejor Venezuela, donde reiremos, jugaremos y cantaremos sin sentir miedo.
En estos momentos difíciles, recuerdo a Luther King: Hagas lo que hagas, tienes que salir hacia adelante. Venezuela saldrá adelante. Yo les juro que vamos a vencer".


Lilian Tintori lê carta de Leopoldo López na praça José Martí, em Caracas:
"No espero que mis cadenas sean removidas por la dictadura"