Sobre a afirmação do assessor presidencial dizendo que "respeita o sofrimento do povo ucraniano". Trata-se de uma zombaria e de uma ofensa
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2 de junho de 2024
A afirmação do assessor internacional é estranha, começando pelo fato dele dizer, em nome do Brasil, que "respeitamos o sofrimento do povo ucraniano."
Respeitar sofrimento é uma forma de diminuir a importância do verdadeiro morticínio a que vem sendo submetido aquele povo sob mísseis e bombardeios diários (e noturnos) sobre alvos civis, justamente para causar o maior número de mortos. São incontáveis, milhares os crimes de guerra, contra a paz e contra a humanidade perpetradas pelas forças russas na Ucrânia.
A afirmação seguinte é ainda mais desprovida de sentido e de qualquer conexão com a realidade, ao mencionar que é preciso "levarmos em consideração as preocupações das partes, o que pressupõe diálogo entre elas". Uma frase velha, equivocada e deliberadamente enganosa, como se houvesse, antes e agora qualquer ameaça à segurança da Rússia vinda da Ucrânia ou mesmo da OTAN, que não tem a Ucrânia entre seus membros. A Rússia NUNCA pretendeu diálogo: invadiu sem sequer um ultimatum, que costuma ser uma prévia a uma declaração de guerra, segundo as leis da guerra, que a Rússia nunca respeitou e desrespeita continuamente.
O Brasil está sim alinhado com a Rússia e não é apenas por razões comerciais ou econômicas, como afirmou Zelensky (o que não deveria ter feito), mas que não deixa de ser uma verdade, mas apenas meia verdade, e talvez 1/4 de verdade. Independentemente de qualquer comércio, antes e depois da guerra de agressão – e cabe ressaltar que Lula aumentou em mais de 200% a importação de combustíveis russos para o Brasil, o que não deixa de ser uma forma de alimentar a máquina de guerra de Putin –, vamos convir que Lula e o lulopetismo já estavam predispostos a apoiar Putin EM QUALQUER CIRCUNSTÂNCIA, dada a aproximação e a verdadeira aliança politica-ideológica com o regime russo, no seu empreendimento de se opor ao "hegemonismo americano" no mundo e de construir uma "nova ordem global", como Lula, o próprio Putin e Xi Jin Ping já proclamaram várias vezes.
Considero a postura de Lula, do PT, do governo brasileiro e do Itamaraty (por submisso) indigna das tradições diplomáticas brasileiras, de respeito (sim) e de defesa ativa do Direito Internacional, da solução pacífica das controvérsias (como reza a Constituição) e de real neutralidade nos conflitos interimperiais. Mas não é disso que se trata e sim de uma agressão ilegal e criminosa contra um país soberano, com o qual mantemos relações diplomáticas, mas que não mereceu até aqui qualquer sombra de apoio na sua luta dificílima contra uma superpotência agressora e criminosa.
Lula e a sua diplomacia petista envergonham o Brasil e os brasileiros, a mim particularmente.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2 de junho de 2024
ELIANE OLIVEIRA
BRASÍLIA
Em resposta às declarações do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que acusou o Brasil de se aliar à Rússia por razões comerciais, o Itamaraty negou ontem que o governo brasileiro tenha tomado partido na guerra entre os dois países. Segundo o Ministério das Relações Exteriores, não há e jamais houve engajamento brasileiro no conflito.
Por sua vez, o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, disse que o Brasil "respeita o sofrimento dos ucranianos".
- Respeitamos o sofrimento do povo ucraniano. Queremos contribuir para uma paz alcançável. Isso só será possível se levarmos em consideração as preocupações das partes, o que pressupõe diálogo entre elas, preferencialmente com apoio de países que gozem de confiança de ambos - declarou.
Em entrevista a um grupo de jornais latino-americanos na quinta-feira, da qual O GLOBO fez parte, Zelensky insinuou que o Brasil se aliou à Rússia por razões comerciais.
- A economia é importante até que chega uma guerra, e quando a guerra chega os valores mudam - disse.
Em entrevista a jornalistas latino-americanos, Zelensky ressaltou o clima de perplexidade que existe na Ucrânia em relação ao Brasil
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, voltou a criticar Lula (PT) por "priorizar a aliança com um agressor", referindo-se à Rússia, do ditador Vladimir Putin.
Em entrevista a jornalistas latino-americanos em Kiev, publicada por O Globo, o chefe de Estado ucraniano expressou desejos de cooperação com países da região como Argentina, Chile, Colômbia, Peru e El Salvador, mas ressaltou o clima de perplexidade que existe na Ucrânia em relação ao Brasil.
"O Brasil deve estar do nosso lado e dar um ultimato ao agressor [a Rússia] por que temos de voltar a repetir estas coisas? Pela memória histórica, por temas econômicos? A economia é importante até que chega uma guerra, e quando a guerra chega os valores mudam. Pesam mais as crianças, a família, a vida, só depois está o comércio com a Federação Russa", afirmou.
"Acho que uma aliança do Brasil com os países da América Latina é muito mais potente do que apenas com a Rússia. E seria justo que nos dessem esse apoio. Não tive uma declaração conjunta com o presidente Lula, ou entre Ucrânia e Brasil por que é assim, se nós somos os atacados?", questionou.
A visita de Amorim, do Itamaraty paralelo, a Pequim
Segundo o jornal, a recente declaração conjunta de Brasil e China, dada durante a visita de Celso Amorim a Pequim, na qual os dois países defenderam que Moscou participe da conferência que será realizada em junho, na Suíça, sobre a invasão russa à Ucrânia, apenas reforçou a convicção de Zelensky e dos diplomatas ucranianos de que Lula está do lado de Putin.
"Não entendo. Por que não confirmar [a participação dos presidentes no encontro]? A última sinalização é de que Brasil e China estariam dispostos a participar se a Rússia participar. Mas a Rússia nos atacou. Por acaso o Brasil está mais próximo da Rússia do que da Ucrânia? A Rússia é hoje um país terrorista", disse Zelensky.
"Estamos esperando os líderes de todos os países do mundo que querem terminar com esta guerra, mas não nas condições e com os ultimatos russos", acrescentou o presidente ucraniano, que acusa a Rússia de ter bloqueado todas as tentativas de negociações realizadas.
As consequências da queda da Ucrânia
Para Zelensky, falta ao governo Lula "prever as consequências de uma [eventual] queda da Ucrânia".
"Isso faria com que existisse uma alta probabilidade de que países pequenos possam ser suprimidos por países grandes", afirmou.
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