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domingo, 2 de novembro de 2025

Mercosul: a visão dos primeiros vinte anos e as perspectivas futuras: Prefácio PRA e livro sobre o Mercosul em 2012

 Devo participar, na próxima sexta-feira 7/11, de um seminário organizado pelo Prof. Antonio Carlos Lessa (IREL-UnB) sobre temas correntes da atualidade internacional, como já anunciei aqui mesmo. Constato agora, que além do Prof. Carlos Pio, velho amigo, estará presente ao evento a Profa. Erica Resende, co-organizadora de um livro sobre o Mercosul para o qual fui honrado em preparar um prefácio, como registro abaixo.

Como creio que esse prefácio ainda possui certo valor substantivo (uma vez que o Mercosul não fez praticamente progresso algum, desde 2012), permito-me postar novamente este registro e depois o próprio Prefácio. (PRA, 2/11/2025)

2420. “Mercosul: a visão dos primeiros vinte anos e as perspectivas futuras”, Brasília, 23 agosto 2012, 6 p. Prefácio ao livro Mercosul: 21 anos: Maturidade ou Imaturidade?; Organização: Erica Simone Almeida Resende (UFRRJ) e Maria Izabel Mallman (Puc-RS). (Curitiba: Editora Appris, 2013, 350 p.; ISBN: 978-85-8192-111-2; p. 5-12); disponível no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/11/mercosul-21-anos-prefacio-uma-obra.html). Relação de Publicados n. 1079.

Mercosul: a visão dos primeiros vinte anos e as perspectivas futuras

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor de Economia Política no
Centro Universitário de Brasília (Uniceub)
In: Erica Simone Almeida Resende e Maria Izabel Mallman (org.):
Mercosul: 21 anos: Maturidade ou Imaturidade?
(Curitiba: Editora Appris, 2012, 350 p.; ISBN: 978-85-8192-111-2; p. 5-12). Relação de Publicados n. 1079.


O Mercosul atingiu, ao que parece, a sua maioridade – convencionalmente fixada aos 21 anos – em meio ao que constitui, possivelmente, a sua mais grave crise, passadas duas décadas de sua criação e implementação progressiva, a partir de 1991. A crise, para todos aqueles que seguem os assuntos correntes do bloco do Cone Sul, foi constituída pela “suspensão” da participação do Paraguai de suas reuniões formais e pela “admissão plena” da Venezuela no que parece constituir uma “união aduaneira em implementação”, segundo a designação usualmente empregada para caracterizar o grupo. Ambas medidas foram adotadas na reunião de cúpula ocorrida em Mendoza, em junho de 2012, na ausência de qualquer delegação – técnica, ministerial ou presidencial – do Paraguai, a despeito do fato de que os principais instrumentos constitutivos do Mercosul, e até o Protocolo de Ushuaia sobre a cláusula democrática do bloco, sempre explicitaram a necessidade de consenso, ou da presença plena de todos os membros, para quaisquer decisões a serem adotadas formalmente pelo grupo. Ora, não foi exatamente isso que ocorreu na reunião de Mendoza (a três membros), ou nos encontros subsequentes entre os membros “remanescentes”, em presença da Venezuela (que não tinha ratificado nenhum dos instrumentos relevantes do bloco até essa data, a despeito de compromisso firmado por meio de seu protocolo de acesso em 2006).
Na verdade, a crise do Mercosul data de pelo menos uma década atrás, quando os mecanismos de liberalização comercial intra-bloco e de coordenação das medidas de política comercial, em relação a terceiras partes, foram sendo erodidos pela inadimplência dos países membros em relação aos dispositivos principais da zona de livre comércio – que deveria vigorar desde 1995 – e da união aduaneira, que deveria ter realizado as derradeiras convergências das exceções nacionais admitidas anteriormente nos cinco ou seis anos decorridos desde sua institucionalização pelo Protocolo de Ouro Preto de 1994, ou seja, ao início deste milênio. Essa crise apenas formalmente pode ser atribuída à crise cambial e financeira vivida pelo Brasil em 1999 – e que redundou na mudança de seu regime cambial de um sistema de bandas para um de flutuação – uma vez que a Argentina, prisioneira de seu regime cambial de livre conversibilidade e de rigidez na paridade com o dólar, estabelecido em 1991, já vinha enfrentando sérios desequilíbrios nos intercâmbios comerciais dentro e fora do bloco e, de forma geral, na sua conta de transações correntes. O Brasil, justamente, era possivelmente um dos poucos países com os quais a Argentina conseguia ainda realizar um superávit bilateral, em grande medida em função do comércio administrado no petróleo, no trigo e no setor automotivo, e tinha revelado, desde antes, notável tolerância em relação aos sucessivos descumprimentos argentinos com respeito ao livre comércio intra-bloco.
O Mercosul tinha alcançado, então (ou seja, em 1998), o máximo de comércio intra-bloco desde sua criação em formato quadrilateral em 1991 – embora este formato derivasse inteiramente do esquema bilateral Brasil-Argentina em curso desde meados da década anterior, consolidado no Tratado de Integração de 1988, cujas cláusulas de liberalização comercial e de constituição de um mercado comum foram reformuladas e aceleradas na Ata de Buenos Aires, de 1990 –, em patamares de intercâmbio não restabelecidos até bem adentrada a primeira década do milênio, mas já numa situação de erosão institucional, e de não cumprimento de suas regras comerciais básicas, da qual ele ainda parece não ter se recuperado. Ao adentrar em sua segunda década, o Mercosul parecia ter perdido o estímulo inicial para avançar a fases mais exigentes do desejado objetivo do mercado comum, estabelecido em seus instrumentos constitutivos.
Em resumo, as rupturas comerciais e cambiais demarcadas pela crise brasileira de 1999 e pela crise geral da economia argentina de 2001 romperam um movimento ascensional de integração seguido na década anterior e são, provavelmente, muito mais graves do que a pretensa “ruptura democrática” ocorrida no Paraguai, em junho de 2012, seguida da “ruptura institucional” que foi a admissão irregular da Venezuela no seguimento da sanção unilateral imposta pelos três outros membros plenos ao Estado guarani. Mais graves porque a “ruptura democrática” supostamente ocorrida no Paraguai será, provavelmente, superada pela realização de novas eleições em abril de 2013, ao passo que a inadimplência registrada em relação aos dispositivos básicos do Mercosul, em sua feitura comercial e econômica, não parece perto de ser superada pela adesão de todos os membros, e principalmente pela Venezuela, às regras essenciais do bloco no futuro previsível. A dinâmica integracionista perdida entre 1999 e 2001 não está perto de ter sido recuperada desde então; ao contrário: como ilustrado na velha canção de roda, o que era vidro se quebrou. O Mercosul certamente não foi feito de aço...
Estaria o Mercosul, nessas condições, destinado ao fracasso e a seu eventual desaparecimento? Provavelmente não, inclusive porque construções burocráticas desse porte, sustentadas politicamente, raramente vão à falência ou desaparecem, podendo, no máximo, subsistir em meio à indiferença geral e ao total descompromisso com seu mandato original, ainda que continuando a drenar recursos e energias de seus membros por um bom tempo antes de sua decadência efetiva. Mas este não é certamente o caso do Mercosul, que deve subsistir como um importante foro de coordenação política dos países membros, ainda que suas promessas comercialistas originais tenham sido gradativamente abandonadas em favor de uma configuração de natureza essencialmente política a partir das posses respectivas do presidente Lula, no Brasil, e de Nestor Kirchner, na Argentina, em 2003. Se algo deve ocorrer a partir da admissão formal da Venezuela, se ela for de fato confirmada institucionalmente e na prática, será, na verdade, um reforço ainda maior de seus componentes políticos, em detrimento de seus fundamentos econômicos, ou especificamente comerciais.
Essa evolução certamente não corresponde aos objetivos originais do Mercosul, embora ele deva continuar representando um importante processo de integração no contexto regional que é o seu – ou seja, o da América do Sul – e mantenha, do ponto de vista do relacionamento externo, excelentes oportunidades de investimentos diretos estrangeiros, dadas a dimensão de seu mercado, os recursos naturais existentes, as fontes de energia disponíveis (agora reforçadas pela “adesão” da Venezuela) e outros fatores atraentes do ponto de vista dos empresários locais e de terceiros países. Esse desvio de objetivos e, possivelmente, essa mudança de perfil institucional não devem obstar a que o Mercosul continue a ser um dos mais importantes blocos econômicos (e políticos, sublinhe-se) do hemisfério sul, o que provavelmente é mais devido à soma conjunta de suas potencialidades reais (ou seja, dos países membros, em especial do Brasil) do que propriamente em função da excelência de sua organização interna ou adequação às normas do sistema multilaterais de comércio.
Em outros termos, a despeito das frustrações ocorridas em sua trajetória econômica e comercial, e dos fracassos relativos no acabamento de seus objetivos institucionais, o Mercosul deve continuar a ser um espaço econômico de relativa magnitude material, e de grande importância política, não apenas para seus membros efetivos, mas também para a região, como um todo, e possivelmente também no âmbito hemisférico e no contexto do sistema multilateral de comércio, a despeito do enorme peso representado pelo Nafta nesta parte do planeta, e pelos vínculos de seus membros, em especial os EUA, com a maior parte dos países latino-americanos (os quais estão, inclusive, ligados ao hemisfério setentrional por acordos de liberalização comercial bem mais abrangentes e ambiciosos do que, até agora, os esquemas mantidos pelos países do Mercosul e pela quase inexpressiva Comunidade Andina de Nações). Não obstante os percalços, portanto, o Mercosul deverá continuar exercendo certa força gravitacional em seu imediato entorno regional, bem como alguma atração do ponto de vista do comércio, dos investimentos e de projetos conjuntos de cooperação com ampla gama de parceiros externos, a começar pela União Europeia e outros protagonistas mundiais, a começar pela China e os emergentes da Ásia e das demais regiões.
As evidências acima, de puro realismo político e de grande relevância econômica, justificam plenamente, portanto, a oportunidade da publicação do presente livro como um balanço oportuno e uma avaliação ponderada, em torno dos sucessos e das frustrações do Mercosul, ao iniciar-se a terceira década de sua existência. Os capítulos constantes desta obra – sobre o desenvolvimento do Mercosul, suas vicissitudes comerciais, sua dimensão securitária (ou seja, de defesa), a representação parlamentar, o funcionamento de seu sistema de solução de controvérsias, as questões de direitos humanos e institucional, sua importância para o Brasil e para a região, além de diversos outros temas paralelos –contribuem para uma visão ampla, embora diversificada metodologicamente, do itinerário do bloco e de seu potencial integrador, em sua dimensão própria e para o continente como um todo.
Como esperado, ou inevitável, em toda e qualquer compilação coletiva de estudos individuais, a metodologia e as abordagens adotadas podem divergir entre si, e mesmo as perspectivas analíticas não exibem, necessariamente, unidade conceitual ou uniformidade de propósitos. Estas características não impedem, contudo, o fato de ser esta obra um compêndio útil e oportuno para uma visão abrangente quanto aos fundamentos históricos, o itinerário prático e o funcionamento operacional do bloco mais importante da América do Sul, quiçá do hemisfério sul. Os organizadores lograram realizar um equilíbrio satisfatório entre os temas mais gerais, e conceituais, da primeira parte, e aqueles mais voltados para os aspectos práticos, na segunda parte, a qual transcende, inclusive, o contexto puramente nacional para tecer considerações sobre o contexto regional e as implicações do Mercosul para o desempenho da integração latino-americana, de modo mais amplo. Apropriadamente, a obra se conclui com as interrogações suscetíveis de serem feitas em torno do futuro do Mercosul nos próximos vinte anos, uma perspectiva agora tornada mais aleatória, em função das desventuras do Paraguai e das incertezas legítimas associadas ao ingresso da Venezuela bolivariana no bloco.
No conjunto, os textos aqui compilados oferecem um vasto panorama sobre o Mercosul, em todos os seus estados e em várias de suas dimensões. Particularmente importantes são os capítulos que tratam dos fatos objetivos relativos ao Mercosul, seja no plano comercial, seja no âmbito de seu impacto sobre a diplomacia brasileira ou o funcionamento do sistema de solução de controvérsias. Embora os capítulos conceituais, ou mais especulativos, sejam igualmente relevantes, qualquer empreendimento político coletivo – como é o processo de integração do Mercosul – sempre oferece a possibilidade de interpretações diversas quanto aos seus elementos inerentemente deixados ao arbítrio das decisões políticas (e de sua consideração por acadêmicos trabalhando nesses temas).
Pode-se aderir, por exemplo, à interpretação de que o Mercosul em sua primeira fase era excessivamente comercialista – ou neoliberal, como pretendem alguns – e que sua “correção” de natureza mais política, ou “social” na segunda, ou terceira, fase (ou seja, pós crise dos anos 1999-2002) era não apenas desejável como também necessária. Mas deve-se reconhecer que o que realmente faz diferença, em qualquer processo, são os resultados práticos, ou efetivos, como aumento ou diminuição de comércio, melhoria das condições de produtividade interna e de competitividade externa, criação de mais riqueza e prosperidade para as pessoas comuns (ou seja, mais emprego, maiores salários, e aumento da disponibilidade de bens e serviços de qualidade e a preços convidativos). No caso em espécie, não há como não reconhecer uma transformação do Mercosul e sua passagem de uma vertente econômica e comercial da primeira década – que é, finalmente, a essência do que estava escrito nos seus tratados constitutivos – para suas inclinações mais políticas e sociais da segunda década, sem que se disponha, ainda, de um balanço objetivo quanto aos méritos respectivos de uma e outra abordagem para fins dos objetivos originais do esquema de integração.
O presente livro ajuda a ver mais claro o que foi de fato relevante no Mercosul, nas suas diversas dimensões, nestas duas primeiras décadas e contribui para a construção de uma avaliação ponderada do que foi possível alcançar, ou não, no período decorrido desde sua fundação. Na verdade, a grande pergunta a ser feita, após concluir a leitura deste livro, sobretudo de seus capítulos descritivos e de avaliação, é a de saber se, ao cabo destas primeiras duas décadas, a região meridional e o continente sul-americano encontram-se, atualmente, mais ou menos integrados, em melhores condições sociais e de bem-estar, comparativamente ao quadro anterior, e se o processo de integração contribui, positiva ou negativamente para o atual estado de coisas. Provavelmente vai se descobrir que os laços comerciais, os investimentos recíprocos e os fluxos de serviços e de pessoas se intensificaram e se diversificaram, ao longo do período, mas é também visível que os processos de integração, ou seus projetos institucionais, não caminharam, exatamente, para uma convergência de propósitos ou homogeneidade de procedimentos. Parece claro, por exemplo, que entre a metodologia econômica do Mercosul e a abordagem fundamentalmente política da Alba existem enormes diferenças de visão e de intenções.
O futuro de médio prazo – ou seja, ultrapassada a situação corrente de estagnação, ou longa recessão, nos países desenvolvidos – dirá se o Mercosul continuará como uma grande promessa de integração comercial, caminhando no sentido de seu aprofundamento econômico e reforço institucional, ou se ele vai tornar-se irrelevante, como outros experimentos latino-americanos do passado, que figuram apenas, nos registros históricos, como os precedentes dos processos atuais. Uma visão abrangente do passado recente pode ajudar a ver mais claro nas possibilidades futuras: este livro é um bom começo para esse empreendimento. Tenham bom proveito em sua leitura, como eu tive ao preparar este prefácio.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, agosto de 2012
Blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2012/11/mercosul-21-anos-prefacio-uma-obra.html

segunda-feira, 10 de março de 2025

Mercosul: o último tango em Washington? - Assis Moreira (Valor Econômico)

 Acordo de livre comércio Argentina-EUA? Esqueçam!

Acordo de livre comércio Mercosul-EUA? Impossível!

Acordo de livre comércio Mercosul-China? Inimaginável!

Não vai acontecer NADA, como aliás já ocorre desde o início do século. (PRA)

Mercosul: o último tango em Washington?
Assis Moreira
Valor Econômico, segunda-feira, 10 de março de 2025
Países do bloco examinam negociações em curso, enquanto Milei visa acordo com Donald Trump

A partir desta semana começam efetivamente as reuniões da presidência rotativa da Argentina no Mercosul. Será a ocasião para os parceiros tentarem identificar como o governo de Javier Milei planeja realmente atuar à frente do bloco.
Milei insiste que trabalha intensamente em um projeto de acordo comercial com os EUA, aproveitando a afinidade ideológica com Donald Trump. De seu lado, Trump disse estar aberto à possibilidade de avançar num tratado comercial com o ‘grande lider’ Milei.
Por enquanto, o que há é retórica e nada de concreto. Entre sócios do Mercosul, alguns interlocutores acreditam que Milei vai respeitar as regras do Mercosul, sob pressão de parte de seu setor privado. Outros apontam para sua imprevisibilidade e o veem capaz de colocar em risco o mercado vizinho para produtos argentinos.
Milei fala algo diferente a cada momento. Já acenou que tentaria um acordo 4+1 (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e a Bolívia) com os EUA. Depois, se não desse, a Argentina iria fazer a negociação sozinha, o que é ilegal, viola as regras do Mercosul. O bloco estabelece que seus países membros devem negociar acordos comerciais de maneira conjunta.
No Congresso argentino, Milei disse que no caso de não poder obter flexibilização das condições para acordos, está disposto a sair do Mercosul, reclamando que o bloco ‘só beneficiou os industriais brasileiros em detrimento da economia argentina’.
Milei poderá abrir uma caixa de Pandora. Se sair do Mercosul, a situação estará clara: haverá um período de dois anos no qual a Argentina continuará sob direitos e obrigações do bloco. Depois, sofrerá tarifas dos parceiros, assim como levantará barreiras aos ex-sócios, causando destruição de riqueza nos dois lados.
Já no cenário em que a Argentina negociar com os EUA, mas querendo permanecer no Mercosul, apesar da mega perfuração das regras básicas, a reação do bloco não é automática. Será preciso que os parceiros abram procedimento para avaliar a violação argentina e os estragos previsíveis.
Certo mesmo é que o presidente da Argentina pode dar um golpe na já dificil integração econômica na América do Sul, assim como Trump vem fazendo na América do Norte na imposição de choque tarifário contra os vizinhos e sócios Canadá e México com argumentos ‘idiotas’.
No Mercosul, como no Nafta, o setor automotivo seria um dos mais afetados. Cerca de 28% das exportações argentinas para o Brasil no ano passado foram veículos em geral. Por sua vez, 22% das exportações brasileiras para a Argentina foram veículos e 9,7% partes e acessórios.
Não é para os EUA que a Argentina passaria a exportar carros que não poderia vender para o Brasil. Um acordo, modesto, poderia envolver vários produtos industriais suspensos hoje do Sistema Geral de Preferências (SGP americano), mas sem valor expressivo, na avaliação de fontes.
Esta semana, os países do bloco oficialmente passarão em revista negociações que estão realmente em andamento.
A União Europeia informou que a revisão legal do acordo com o Mercosul está quase concluída. Logo começarão as traduções dos tetos. Depois, em poucos meses poderia tentar ratificar o acordo para entrada em vigor num cenário geopolítico completamente diferente. Os europeus parecem ainda mais desesperada para implementar o acordo, que dará boa vantagem para as empresas europeias no Mercosul (tarifa menor), na competição com a China e os EUA.
Também há possibilidade de ainda na presidência argentina até julho o Mercosul concluir as negociações de acordo de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta, na sigla em inglês), formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein.
Para os países do Efta, o acordo é importante para assegurar pelo menos as mesmas preferências que serão obtidas pelas empresas dos países da EU. Isso e dá uma evidente vantagem competitiva nos negócios com um mercado de mais de 260 milhões de habitantes como é o caso do Mercosul. Os países do Efta são pequenos, mas muito ricos.
A China continua insistindo em ter um acordo comercial com o Mercosul. Mas o bloco reage com enorme prudência em relação aos asiáticos em geral. O setor privado considera arriscado e complicado movimento nessa direção, especialmente no contexto de política industrial. No Brasil, há segmentos que consideram que não dá para baixar a guarda para os asiáticos, ainda mais quando todo mundo está com um pé atrás em relação a abertura de mercado.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

O Acrônimo da Discórdia (na França): o Mercosul - Jean-Luc Demarty, François Kalfon (Institut Montaigne)

 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Países do Mercosul aprovaram texto de acordo com UE: 2024. Comecei a escrever sobre a relação bem antes disso - Paulo Roberto de Almeida

 Os jornalistas dizem que o acordo demorou 25 anos para ser concluído. Acho pouco. Eu comecei a acompanhar a aproximação dos dois blocos desde 1990, quando cheguei em Montevidéu, um ano antes da assinatura do Tratado de Assunção, do que é prova este primeiro artigo: 

186. “Europa e América Latina no rumo da Integração: Desafios do Presente, Promessas do Futuro”, Montevidéu, 29 junho 1990, 16 p. Texto de conferência sobre problemas da Europa e América Latina em perspectiva.

Depois, escrevi um artigo para ser publicado em nome do então presidente Fernando Collor num jornal uruguaio: 

220. “MERCOSUL: o Salto para o Futuro”, Montevidéu, 18 dezembro 1991, 4 p. Texto de artigo escrito para ser publicado na revista uruguaia La Comarca (“Negocios y Empresas del Mercosur”) em nome do Presidente Fernando Collor de Mello.

Logo em seguida, os europeus começaram a tentar fazer do Mercosul um bebé necessitando da mamadeira comunitária, para cresceer belo e forte. Escrevi um artigo sobre os primeiros esforços de cooperação: 

248. “Mercosul-CEE: Acordo de Cooperação”, Brasília: 29 maio 1992, 2 p. Nota informativa, sem assinatura, sobre a assinatura do Acordo de Cooperação Interinstitucional entre a Comissão das Comunidades Europeias e as instituições do Mercosul, realizada em Santiago do Chile nesse dia, descrevendo os objetivos e o contexto político do acordo. Publicado em forma resumida em diversos jornais do dia 30.05.92 e, em forma completa, sob o título “Mercosul e CEE abrem caminho da cooperação” no Correio Braziliense, Caderno Internacional, número especial sobre o Mercosul (Brasília: 7/07/1992, p. 4). Relação de Publicados n. 084.

Continuei escrevendo sobre a integração no bloco tendo em conta o exemplo europeu: 

257. “Tudo (ou quase tudo) que você sempre quis saber sobre o Mercosul ... e nunca teve a quem perguntar”, Brasília: 3 julho 1992, 9 p. Trabalho em forma de perguntas e respostas sobre aspectos diversos do Tratado de Assunção e do processo de integração sub-regional, numa perspectiva comparada com a experiência europeia. Publicado, sob o título “O que você quer saber sobre o Mercosul e não sabe a quem perguntar”, no Caderno Internacional do Correio Braziliense, especial sobre o Mercosul (Brasília: 7/07/1992, p. 6). Relação de Publicados n. 086.

Já então eu falava de Vidas Paralelas, Mercosul-UE: 

275. “CEE-Mercosul: Vidas Paralelas”, Brasília: 22 setembro 1992, 15 p. Texto de palestra proferida em Seminário sobre o “Mercosul e a Comunidade Econômica Europeia: Aspectos Legais Relevantes dos Processos de Integração”, organizado pelo Escritório Pinheiro Neto-Advogados, em São Paulo (23 de setembro de 1992).

Continuei nessa trilha, e vários dos trabalhos então produzidos serviram para preparar meu primeiro livro sobre o Mercosul, analisado sob a ótica do experimento europeu bem mais exitoso: 

286. “Mercosul e Comunidade Econômica Europeia: Aspectos Históricos e Políticos dos Processos de Integração em sua Dimensão Institucional Comparada”, Brasília: 12 outubro 1992, 19 p. Texto elaborado para consolidar a reflexão comparada sobre esses processos institucionais. Encaminhado ao IRI/PUC-RJ. Revisto e modificado parcialmente em 14/11/1992. Publicado no Boletim da Sociedade Brasileira de Direito Internacional (vol. XLV, n. 77/78, janeiro-março 1992, p. 143-151). Relação de Publicados n. 076.

Até passei a subsidiar palestras sobre o Mercosul na Europa, com base na minha expertise sobre o assunto: 

295. “Le Present et Le Futur du Mercosud: l’Optique Brésilienne”, Brasília: 29 outubro 1992, 16 p. Texto preparado para palestra do Emb. Jorio Dauster, Representante junto às Comunidades Europeias, no Colóquio “Le présent et le futur du MERCOSUD”, na “Académie Diplomatique Internationale” de Paris (30 outubro 1992).

Também cheguei a fazer artigos e subsídios para palestras para o então chanceler, futuro presidente: 

300. “Mercosul: A Integração em Marcha”, Brasília: 11 novembro 1992, 12 p. Artigo-ensaio sobre a integração regional preparado para publicação em nome do Chanceler Fernando Henrique Cardoso na revista em espanhol da UNESCO, Dialogo. Revisto e reduzido no Gabinete, sob o título “Mercosul: a perspectiva brasileira”.


311. “O Brasil, a Integração do Mercosul e a Integração Europeia”, Brasília: 13 janeiro 1993, 11 p. Subsídios para discurso do Chanceler Fernando Henrique Cardoso na “Chattam House”, Londres, em sua viagem à Inglaterra (27/01/1993).


313. “The Southern Common Market Integration Process, Mercosul: The Brazilian Perspective”, Brasília: 20 janeiro 1993, 12 p. Subsídios para discurso do Ministro de Estado na Canning House Conference “Latin American Integration: its potential and significance for business” (Londres 27/01/1993).

Esta palestra, em especial, serviu de base para escrever meu primeiro livro, que teve exatamente esse mesmo título: 

333. “O Mercosul no contexto regional e internacional”, Brasília: 5 abril 1993, 26 p. Texto-guia para palestra no Seminário “Mercosul e Comunidade Europeia: Os Trabalhadores no Processo de Integração” (IRES-DESEP-CESIT, Campinas, 5-6 de abril de 1993) e apresentado apenas parcialmente. Revisto em 14 de abril de 1993 e apresentado no Seminário Latino-Americano de Planejamento Urbano, promovido pelo Programa de Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS e realizado em Campo Grande/MS, de 4 a 8 de maio de 1993. Publicado nos Anais do seminário: O Desafio do Desenvolvimento (Campo Grande, UFMS, maio de 1993, p. 191-203). Publicado na revista Política Externa (São Paulo: vol. 2, nº 2, setembro-outubro-novembro 1993, p. 86-103). Relação de Publicados n. 127 e 147.


348. O Mercosul no contexto regional e internacional (São Paulo: Edições Aduaneiras, 1993, 204 p.). Relação de Publicados nº 141.

Esse meu primeiro livro está livremente disponível em minha página de Academia.edu: 

O Mercosul no contexto regional e internacional


segunda-feira, 6 de maio de 2024

Lista de trabalhos sobre Mercosul, integração e processos correlatos (1987-2024) - Paulo Roberto de Almeida

 Uma das muitas listas setoriais de trabalhos meus: 

4655. “Lista de trabalhos sobre Mercosul, integração e processos correlatos”, Brasília, 6 maio 2024, 32 p. Relação de todos os trabalhos vinculados aos conceitos referidos no título. Atualizado a partir de relações de trabalhos feitos em 31/01/2021 e em 01/04/2020, com integração de ambas as listas, relativamente diferentes. Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/118655495/4655_Lista_de_trabalhos_sobre_Mercosul_integracao_e_processos_correlatos_2024_).


Lista de trabalhos sobre Mercosul, integração e processos correlatos

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.compralmeida@me.com)

Relação de todos os trabalhos vinculados aos conceitos referidos no título. Atualizado em 06/05/2024, a partir de relações de trabalhos feitos em 31/01/2021 e em 01/05/2020, com integração de ambas as listas, relativamente diferentes. 

 

Livros:

O Mercosul e o regionalismo latino-americano: ensaios selecionados, 1989-2020, Edição Kindle, 453 p.; 1567 KB; ASIN: B08BNHJRQ4; ISBN: 978-65-00-05970-0; disponível neste link da Amazon: https://www.amazon.com/Mercosul-regionalismo-latino-americano-selecionados-Portuguese-ebook/dp/B08BNHJRQ4/ref=sr_1_1?dchild=1&keywords=Mercosul&qid=1593305045&s=digital-text&sr=1-1); Sumário e Prefácio e índice detalhado divulgados no blog Diplomatizzando (23/06/2020; links: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/06/o-mercosul-e-o-regionalismo-latino.html) e https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/06/o-mercosul-e-o-regionalismo-latino_23.html)Relação de Originais n. 3702.

 

A ordem econômica mundial e a América Latina: ensaios sobre dois séculos de história econômica, Brasília, 1 julho 2020, 308 p. Livro com textos de história econômica. Sumário no blog Diplomatizzando (link: https://www.academia.edu/43494964/A_ordem_economica_mundial_e_a_America_Latina_ensaios_sobre_dois_seculos_de_historia_economica_2020_). Publicado em Edição Kindle, 363 p.; 2029 KB; ASIN: B08CCFDVM2; ISBN: 978-65-00-05967-0; disponível neste link da Amazon: https://www.amazon.com.br/ordem-econ%C3%B4mica-mundial-Am%C3%A9rica-Latina-ebook/dp/B08CCFDVM2/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=I6QXH0T8I6L4&dchild=1&keywords=paulo+roberto+de+almeida&qid=1593992634&s=digital-text&sprefix=Paulo+Rob%2Caps%2C288&sr=1-1). Relação de Originais n. 3706.

 

- Integração Regional: uma introdução (São Paulo: Saraiva, 2013, 174 p.; ISBN: 978-85-02-19963-7; Academia.edu: https://www.academia.edu/5550117/19_Integra%C3%A7%C3%A3o_Regional_uma_introdu%C3%A7%C3%A3o_2013_).

 

- Le Mercosud: un marché commun pour l’Amérique du Sud, Paris: L’Harmattan, 2000, 160 p.; ISBN: 2-7384-9350-5; Academia.edu: https://www.academia.edu/5546907/07_Le_Mercosud_un_march%C3%A9_commun_pour_l_Am%C3%A9rique_du_Sud_2000_). 

 

- Mercosul: Fundamentos e Perspectivas (São Paulo: Editora LTr, 1998, 160 p.; ISBN: 85-7322-548-3; Academia.edu: https://www.academia.edu/42290608/Mercosul_fundamentos_e_perspectivas_1998_ )

 

- O Mercosul no contexto regional e internacional (São Paulo: Edições Aduaneiras, 1993, 204 p.; ISBN: 85-7129-098-9; Brasília, 23 março 2020, 143 p. Reformatação completa do livro para fins de livre acesso nas redes de intercâmbio acadêmico. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/mercosul-fundamentos-e-perspectivas.html); Academia.edu: https://www.academia.edu/42007009/O_Mercosul_no_Contexto_Regional_e_Internacional_1993_).

 

 

Artigos, papers, entrevistas, questionários:

 

4372. “Integração regional: uma perspectiva histórica e tipológica”, Brasília, 24 abril 2023, 5 p. Notas para digressão oral e de apoio a aula sobre essa temática no curso CACD em 28/04/2023. Divulgado no blog Diplomatizzando (7/05/2023; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/05/integracao-regional-uma-perspectiva.html).

 

4371. “Acordos regionais e esquemas de integração: diferentes tipos e medidas correlatas”, Brasília, 24 abril 2023, 1 p. Tabela analítica e cronológica dos diferentes esquemas de integração econômica, com correlação das medidas. Para aula no curso CACD em 28/04/2023. Postado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/100701630/Acordos_regionais_e_esquemas_de_integracao_diferentes_tipos_e_medidas_correlatas_2023_); informado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/acordos-regionais-e-esquemas-de.html). 

 

4369. “More of the same, all over again…”, Brasília, 21 abril 2023, 3 p. Nota sobre nova perda de oportunidades na integração regional e na inserção na economia mundial, pelo anacronismo das políticas econômicas do PT. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/04/more-of-same-all-over-again-paulo.html).

 

(...)


 

185. “10 Anos de ALADI: Lições e Perspectivas”, Montevidéu, 26 maio 1990, 13 p. Artigo de análise crítica sobre a experiência de dez anos de integração latino-americana e propostas de ação futura.

 

176. “América Latina: Entre a Estagnação e a Integração”, Genebra, 26 novembro 1989, 7 p. Ensaio crítico sobre a crise do desenvolvimento na América Latina e possíveis vias alternativas, elaborado com base em agenda de reunião do SELA.

 

154. “Europe-Amérique Latine: de l’Intégration Individuelle à la Coopération Commune”, Genebra, 30-31 janeiro 1988, 10 p. Artigo sobre as relações internacionais da Europa e da América Latina e sobre a crise do desenvolvimento latino-americano. Preparado, com base no trabalho n. 084, para o IVème Colloque Amérique Latine-Europe, Milão, 4-6/02/88. Não apresentado.

 

151. “Europa e América Latina no Limiar do Ano 2000: a Dimensão Leste-Oeste”, Genebra, 15 setembro 1987, 4 p. Considerações sobre uma relação assimétrica e sobre os principais eixos de política internacional em cada continente.

 

 

Livros de terceiros: 

Abdul-Hak, Ana Patrícia Neves TanakaO Conselho de Defesa Sul-Americano (CDS): objetivos e interesses do Brasil (Brasília: Funag, 2013, 280 p.).

Almeida Resende, Erica Simone; Mallman, Maria Izabel (orgs.). Mercosul: 21 anos: Maturidade ou Imaturidade?(Curitiba: Editora Appris, 2013, 350 p.).

Araújo, Ricardo Guerra de: O jogo estratégico nas negociações Mercosul-União Europeia (Brasília: Funag, 2018, 385 p.; ISBN: 978-85-7631-759-3; Curso de Altos Estudos; disponível na Biblioteca Digital da Funag).

Arslanian Neto, Michel: A Liberalização do Comércio de Serviços no Mercosul (Brasília: Funag, 2010, 408 p.).

Batista de Castro, Augusto César: Os bancos de desenvolvimento e a integração da América do Sul: bases para uma política de cooperação (Brasília: Funag, 2011, 176 p.).

Böhlke, Marcelo: Integração Regional e Autonomia do seu Ordenamento Jurídico (Curitiba: Juruá Editora, 2007, 264 p.).

Klingl, Bernard J. L. de G.: A Evolução do Processo de Tomada de Decisão na União Europeia e sua Repercussão para o Brasil (Brasília, Funag, 2014, 300 p.).

Marques, Renato L. R.: Duas Décadas de Mercosul (São Paulo: Aduaneiras, 2011, 368 p.).

Mazzuoli, Valério de Oliveira; Gomes, Eduardo Bacchi (orgs.): Direito da Integração Regional: diálogo entre jurisdições na América Latina (São Paulo: Saraiva, 2015, 590 p.).

Ribeiro, Elisa de Sousa (coord.): Direito do Mercosul (Curitiba: Editora Appris, 2013, 683 p.).

Santos, Luís Cláudio Villafañe G.: A América do Sul no discurso diplomático brasileiro (Brasília: FUNAG, 2014, 248 p.).

Trindade, Otávio Augusto Drummond Cançado: O Mercosul no Direito Brasileiro: incorporação de normas e segurança jurídica (Belo Horizonte: Del Rey, 2007, 180 p.).

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4655: 06/05/2024

 

Ver a lista completa dos trabalhos neste link: 

https://www.academia.edu/118655495/4655_Lista_de_trabalhos_sobre_Mercosul_integracao_e_processos_correlatos_2024_


quinta-feira, 2 de maio de 2024

Um caso para algum Sherlock literário: a biografia não autorizada do Mercosul que desapareceu dos registros - Paulo Roberto de Almeida

 Estou para escrever uma biografia não autorizada do Mercosul desde muitos anos.

Um esquema preliminar que elaborei em março de 2015 desapareceu misteriosamente de meus registros.

O Mercosul perdeu um de seus biógrafos, pelo menos até aqui: 


2797. “Mercosul: uma biografia não autorizada”, Hartford, 27 março 2015, 2 p. Esquema preliminar para livro a ser preparado para o início de 2016.

 

Esquema efetuado em original desaparecido, a ser refeito novamente.

 

 

segunda-feira, 29 de abril de 2024

Mercosul: unificação monetária (2003) - Paulo Roberto de Almeida

 Mercosul: unificação monetária

Paulo Roberto de Almeida

Washington, 5 mai. 2003, 5 p. 
Respostas a questionário voltado para preparação de tese sobre a possibilidade de um banco central no Mercosul, para doutorando em direito econômico internacional.
 

 

1. Objetivo:

 

A presente entrevista visa fornecer dados e elementos a fim de complementação de pesquisa cientifica realizada junto a Universidade de Paris I-Pantheon/Sorbonne.

 

  1. Pesquisadora/entrevistadora:  

    

(...)

 

  1. Tema de Tese 

 

“A criação de um Banco Central no Mercosul: viabilidade jurídica e sua relação com os bancos centrais nacionais” 

(Diretor : ...).

 

 

QUESTIONARIO PREVIAMENTE ELABORADO SOBRE O TEMA DE TESE

 

O presente trabalho tem por objetivo obter elementos e informações úteis ao bom desenvolvimento do tema que me foi proposto como sujeito de tese.  Este questionário é apenas um indicativo.  À critério do entrevistado poderão ser omitidas certas questões ou abordados temas não tratados.

 

1)    Entrevistado

Paulo Roberto de Almeida

 

2)    Profissão

Diplomata

 

3)    Cargo ocupado

Ministro Conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington

 

4)    Posição sobre o tema abordado : a) favorável  (X )    b) não favorável ( ) 

 

PLANO DO QUESTIONARIO:

 

1)    Lista de questões

2)    Observações pessoais do entrevistado


QUESTOES:

 

1)    Seria sustentável uma aproximação entre os sistemas monetários dos países membros do Mercosul?

 

 SIM ( X )    PORQUE

 

      Em termos, porque um projeto de aproximação, potencialmente tendente à união, implica em que os países envolvidos tenham decidido, efetivamente, implementar um mercado comum completo e acabado. Ou seja, a mera aproximação entre os sistemas monetários não é sustentável ou justificável em seus próprios termos, mas apenas como parte constitutiva de um projeto estratégico mais amplo visando à conformação de um espaço econômico unificado entre os países participantes.

      Se existe decisão e medidas efetivas em favor desse espaço unificado, então o objetivo de uma convergência monetária torna-se totalmente justificável e mesmo necessário.

 

NÃO (  )   PORQUE

 

1.     De que forma:

 

a)     moeda única              ( X ) 

b)    moeda de referencia  (  ) 

c)     taxa de cambio fixo   (  ) 

d)    outra                           (  ) 

 

Observação: a moeda única não pode ser vista como diferente das, ou oposta às demais alternativas oferecidas. Obviamente, para se chegar a uma moeda única tem de se passar por uma fase de convergência de políticas monetárias que normalmente envolvem a fixação do câmbio durante um certo período, como ocorreu na UE a partir de 1999 até a introdução da moeda única em 2001. Por outro lado, as moedas nacionais, antes e durante a fase de transição, adotam geralmente uma moeda de referência, que no caso tanto do peso argentino como do real brasileiro é o dólar. Essa referência pode ser flexibilizada pela adoção de um coquetel de moedas como referência.

 

2)    É sustentável uma zona monetária única para a região ?

 

Pode ser sustentável se as medidas corretas forem adotadas para assegurar a estabilidade dessa zona e a manutenção do poder de compra da nova moeda, ou seja, ela precisa ser aceita como reserva de valor, como instrumento de referência e como meio de intercâmbio, que são as funções clássicas de toda e qualquer moeda. Isso só se realiza quando existe confiança no novo meio circulante, o que depende basicamente do bom funcionamento das economias envolvidas no processo.

 

3)    A dolarização seria uma possibilidade de unificação monetária no Mercosul?

 

 

SIM  (  )    porque

 

NÃO ( X )   porque

            Dolarização NÃO representa unificação monetária, estrito ou lato senso, sendo única e exclusivamente uma renúncia a se ter moeda própria. Seria um simulacro de moeda única, pois que significando adesão ao padrão monetário de uma economia estrangeira, que continua a possuir os instrumentos e mecanismos de uma moeda (banco central emissor, agências reguladoras da oferta monetária, autoridades que fixam taxas de juros ou mesmo de câmbio, etc.). 

            Unificação monetária significa adoção independente e soberana daqueles mecanismos e instrumentos em torno de um padrão monetário livremente decidido.

 

4)    Uma nova instituição para administrar uma política monetária comum seria necessária?

 

SIM  ( X )   porque 

 

            Não se concebe uma moeda, no mundo moderno, sem os mecanismos reguladores de sua oferta (volume de emissão) e de seu preço relativo (juros e câmbio). Esses mecanismos ou instituições costumam significar Banco Central, Autoridade Monetária encarregada da política monetária (que pode não ser a mesma que o BC) e instituições de fiscalização e controle do sistema financeiro e bancário (que podem também não ser as mesmas que as anteriores). Em suma, o que existe no plano nacional teria de ser reproduzido no plano supranacional ou intergovernamental.

 

NÃO (  )  porque 

 

5.      A nova Instituição teria :

 

a) poder  consultativo     SIM  (  X )    NÃO (   ) 

b) poder de decisão         SIM ( X )     NÃO (   ) 

 


6.      Quem designaria os membros da nova Instituição ?

 

a)  representantes de cada país membro  SIM ( X  ) Qual organismo?   Ministérios nacionais da economia (fazenda, finaças) de cada país designam seus representantes para a nova instituição 

                                                                NÃO (   ) 

 

b) pelos Bancos Centrais Nacionais   SIM (   )  NÃO (   ) 

 

c) eleitos pelo povo     SIM  (   )    NÃO (   ) 

 

d. Outra forma  (   )  QUAL 

 

      Observação: a alternativa (a) não exclui a (b), pois o tratado regulatório ou o instrumento diplomático da zona monetária comum pode decidir que esses representantes nacionais sejam os presidentes dos bancos centrais respectivos. A eleição direta não se justifica, pois que em nenhum país as autoridades monetárias são objeto de voto popular.

 

7Como seria constituída a nova Instituição :

 

                 Obs.: As alternativas NÃO são alternativas reais, ou seja, escolhas opostas e excludentes entre si; as opções podem ser combinadas. O tratado diplomático que definir a instituição regulará o seu modo de constituição e de funcionamento.

 

a)     Seria independente das autoridades políticas locais  

 SIM  (  X )    NÃO (   ) 

 

                 Obs.: A menção a autoridades locais não se justifica, pois não se trata de referência local ou nacional, já que se está falando de um órgão supranacional ou intergovernamental.

 

b)    Seria independente das autoridades econômico-financeiras locais  

 SIM ( X  )   NÃO (   ) 

 

  Obs.: Em termos, pois a nova instituição pode ter de responder a um comitê composto por autoridades econômico-financeiras NACIONAIS dos países membros.

 

c. Seria constituída por representantes do Estado de cada país membro

SIM ( X )  NÃO (   )  

 

  Obs.: É inevitável que sejam “representantes” de cada país membro, mas seu mandato (definido em estatuto) pode implicar que eles não possam mais receber instruções dessas autoridades nacionais, passando a atuar em colegiado independente.

 

d. Outra (   )   QUAL (   ) 

 

8.     Como seria a representação de cada país- membro  ?

 

a) numero idêntico de representantes para cada país-membro (   )

  Neste caso:

A .1   01 membro ( X )

A .2   02 membros (   ) 

A .3   outro             (   )

 

b) numero proporcional ( X  ) neste caso, considerando:

 

b. 1 PIB  (   )

b.2  Numero de habitants (  )

b.3 outros     (  X )  quais: Combinação desses elementos, mais comércio exterior.

 

            Obs. Importante:  Número de representantes não quer dizer igualdade de votos. Acredito que se possa ter UM representante por país membro, dotado de um poder de voto diferenciado, pois a instituição pode (E, A MEU VER, DEVE) funcionar segundo critérios de proporcionalidade, em função do peso relativo de cada país. O que não se pode ter seria um representante de um país minúsculo, com população diminuta, regulando matéria monetária para um vizinho dez ou vinte vezes maior do que o seu. Um banco central pode ser uma “sociedade por ações” com proporcionalidades diferentes refletidas em seu processo decisório.

 

9.     Como seria composta a direção da nova Instituição?

 

a) Diretoria  (   )

b) Conselho fiscal (   )

c) Conselho Geral  (   )

d) Autoridade independente (   )

e) Outros   (   )

 

      Obs.: Autoridade independente NÃO é o equivalente de Diretor ou Fiscal: trata-se de uma função ou qualidade, não de um cargo definido burocraticamente. Um Diretor pode ser independente em relação aos países membros, mas não independente em relação a uma comissão fiscalizadora. O Banco Central da zona monetária unificada terá diretores, fiscais, etc, mas pode OU NÃO, ser independente dos países membros. Isso depende inteiramente da vontade desses países. Normalmente, num processo desse tipo, primeiro os bancos centrais nacionais ficam independentes de suas próprias autoridades, depois o Banco Central comum fica independente dos países, mas essa independência sempre é muito relativa, pois ele precisa refletir preocupações e objetivos dos países membros.

 

10.  Como seriam adotadas as decisões no âmbito da nova Instituição ?

 

a) à unanimidade (   )

 

b) decisão majoritária  (   )  neste caso:

 

b.1 todas as decisões (   )

b.2 determinadas decisões  (   ) quais 

 

            Não pode haver UM único processo decisório. Determinadas decisões, digamos de natureza administrativa, podem ser adotadas por maioria simples. Outras decisões, de caráter substantivo, ou de política econômica, devem ser adotadas de modo qualificado, ou por maioria absoluta (NÃO necessariamente de países membros, ou votos nominais, MAS de peso político específico, ou seja, voto ponderado pelo peso dos sócios constitutivos).

            Outras decisões, finalmente, de natureza “constitucional”, só poderão ser adiotadas por unanimidade, ou pelo menos sem veto expresso por nenhum dos membros, como pode ser a modificação do mandato, estatuto ou o próprio tratado constitutivo da instituição. 

            Tudo é uma questão de adequação ao objeto próprio que está em causa.

 

11)   Qual seria a relação entre a nova Instituição e os países-membros?

 

a) independência total em relação ao respectivo governo ( X  )

 

            Obs.: Difícil dizer em abstrato o que significa essa independência, pois os representantes podem ter mandato fixo ou serem revocados e substituídos pelos seus governos.

 

b) independência relativa com o respectivo governo (   ) neste caso :

 

b.1 a partir de instituiçoes comunitarias (  )  quais

b.2 com instituições nacionais (   )  quais 

b.3 Outras  (   )  quais 

 

            Obs.: Instituições comunitárias pressupõem que a instituição seja supranacional, o que pode não necessariamente ser o caso. Ainda que isso possa parecer estranho, uma zona monetária unificada pode teoricamente ocorrer num processo apenas intergovernamental, como deve continuar sendo o Mercosul.

 

11.  Como seria a forma de controle da nova Instituição  ?

 

a) controlada por um Tribunal de Justiça Nacional  (   )

b) controlada por um Tribunal de Justiça Comunitário  (   )  neste caso :

b.1 todas as competências (   )

b.2 determinadas competências (   ) 

c) Pelos respectivos governos (   )  através de qual organismo  ?

 

c)     Outras possibilidades ( X ) quais ?


Tribunal de Justiça se dedica a regular diferenças entre países. No caso de uma instituição como um BC comum, deve haver um tribunal de contas, submetido ao Parlamento Comum (se houver) ou ao Conselho da zona, e deve haver auditoria independente também. Mas tudo depende das formas de controle: existe um controle contábil, de caráter técnico, e um controle político, sobre objetivos e mandatos fixados pelos países membros. Nesse caso, uma Comissão supranacional deveria preparar relatório para o Conselho dos países membros.

 

12.  Como se conceberia o sistema de responsabilidade da pessoa moral  ?

 

a) responsabilidade da Instituição  (   )

b) dos representantes (   )

c) dos Estados (   )

d) Outros (   )  quais


      São matérias que devem ser definidas pelo Estatuto da Instituição: normalmente deveria ser dos diretores do banco, que respondem a uma comissão em nome dos países membros.

 

13.  Quem constituiria o Capital da nova Instituição ?

 

a) Os Estados (   )

b) Os Bancos Centrais Nacionais  (   )

c) Outros (   )  quais


      Tanto faz serem os Estados membros ou os BCs nacionais: em ambos os casos e em qualquer dos casos, o dinheiro só pode sair dos governos dos países membros. Mas não se pode excluir participação de instituições multilaterais no capital do banco, ainda que isso seja estranho, pois não se trata de banco de desenvolvimento ou de investimento, e sim de órgão regulador.

 

14.  Quais seriam os critérios de subscrição do capital da nova instituição ?

 

a) seria igual entre os paises (   )

 

b) contribuição proporcional ( X  ) neste caso :

b.1 à partir do PIB (   )

b.2 numero da população (   )

b.3 Outra ( X  ) qual ______________

      A proporcionalidade deve levar em conta vários critérios: PIB, população e participação no comércio exterior, entre outros.

 

15.  Qual seria o principal objetivo da nova Instituição ?

 

A 1 estabilidade de preços  (  X )

A .2  desemprego                 (   )

A .3   outros                          (   ) 

      Na verdade, estabilidade de preços é decorrência da defesa do valor de compra da moeda: ou seja, o critério é a estabilidade macroeconômica de modo amplo. Não é função de banco central cuidar de emprego: isso incumbe a outros órgãos econômicos e sociais nacionais.

 

 

16.  Qual seria a competência da nova Instituição ?

 

a) competência geral (   )

 

b) competencia determinada (   )  neste caso :

b.1 politica monetaria ( X  )

b.2 politica econômica (   )

b.3 politica de credito (   )

b.4 politica de cambio (   ) 

b.5  Outra  (   )

 

      O critério principal é o da política monetária, mas a política de câmbio e indiretamente a de crédito também fazem parte de uma definição ampla da política monetária.

 

17.  Quais seriam os poderes deixados aos Bancos Centrais Nacionais?

 

a) poder residual  ( X  ) 

b) poder delegado (   )

c) outros (   )    quais


      Administração local do meio circulante, fiscalização financeira e bancária.

 

18.  A ALCA  tornaria inútil uma tentativa de unificação monetária no Mercosul ?

 

SIM (   )   porque 

 

NÃO (  X )  porque


            A Alca é um acordo meramente comercial, que não visa à constituição de um mercado comum, portanto não pode interferir nas políticas monetárias dos países membros. Na prática, a pressão pela dolarização vai aumentar e com isso as pressões sobre as políticas monetárias dos países membros.

 

19.  O (A) Entrevistado (a) conhece o Sistema Europeu de Bancos Centrais - SEBC?

 

SIM ( X  )  neste caso :

a)     uma comparação “latu sensu” com um sistema desejado para o Mercosul

b)    constata falhas no SEBC; quais ?

c)     Quais seriam as grandes dificuldades para o Mercosul?

 

Existem enormes diferenças, de NATUREZA, entre o Mercosul, e a UE, e não se pode pretender para o Mercosul o mesmo que existe no SME e SEBCs. Quando E SE o Mercosul evoluir para um mercado comum unificado e acabado, então se poderá falar numa comparação entre ambos, por enquanto isso se afigura impossível.

 

NÃO (   ) 

 

 

20.  O (A)  Entrevistado (a) conhece o Systema norte- americano – FED ?

 

SIM ( X  ) neste caso :

a) quais as observações consideradas úteis num sistema aplicável ao Mercosul?

            Trata-se, como o nome indica, de um sistema federal, ou seja, comissões monetárias regionais (não são estaduais), o que permite coletar dados sobre as várias regiões do país. 

            O processo de constituição do FED, no começo do século XX, de certa forma se aproxima do objetivo de constituição de uma zona monetária unificada, já que antes disso dólares eram emitidos por entidades diversas, não apenas o Tesouro, mas bancos estaduais e privados. O Mercosul pode se aproximar de um modelo do FED.

 

NÃO (   ) 


 

II – OBSERVAÇOES PESSOAIS DO ENTREVISTADO:

 

1.     Outras proposições; 

 

Não se pode conceber o processo de constituição de uma zona monetária unificada no Mercosul como independente da consolidação do mercado comum dessa zona.

 

2.     Críticas ao questionário;

 

Existem algumas “alternativas” que, de fato, não representam opções excludentes, pois que podem ser complementares ou sucessivas.

 

3.     Lacunas importantes no questionário;

 

Parte da ideia de uma zona monetária, não da preparação e dos requisitos para essa zona, ou seja, dos chamados critérios de Maastricht. Eles são importantes, pois sem eles não se conseguirá atingir o objetivo final que seria a zona monetária unificada.

 

4.     posição da nova moeda no cenário internacional:

 

4.1  qual seria o papel na economia internacional?

4.2  relação com o Dólar, IEN, Euro, por exemplo;

4.3  constituiria uma maior estabilidade, independência e autonomia da região?

 

Trata-se de questão dependente da existência dessa moeda. Se existir, poderá ser um pequeno fator de autonomia num mundo que caminha para a diminuição do número de moedas. As que sobreviverem terão de lutar pela sua independência. São fato de estabilidade, DESDE QUE administradas corretamente, isto é, com responsabilidade e realismo.

 



1045. “Unificação do espaço monetário no Mercosul”, Washington, 5 mai. 2003, 5 p. Respostas a questionário voltado para preparação de tese sobre a possibilidade de um banco central no Mercosul, para doutorando em direito econômico internacional.

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