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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia: respostas a um questionário para tese de doutoramento (2021) - Paulo Roberto de Almeida

 O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia

respostas a um questionário para tese de doutoramento


 

Paulo Roberto de Almeida

Respostas a questões prévias a entrevista sobre o tema, por demanda de doutorando, seguida de entrevista oral, em 9/09/2021. 

 

 

1)    Qual é a sua avaliação da política comercial brasileira nas últimas décadas? 

 

PRA: Poucas mudanças substantivas depois das grandes mudanças no curto governo Collor: reforma da Tarifa brasileira com rebaixa geral das alíquotas, que Itamar tentou interromper, mas não conseguiu, pois Collor também mudou a metodologia do Mercosul e deu início à negociação de uma Tarifa Externa Comum, base da união aduaneira e do mercado comum, que por sinal espelhava em grande medida a Tarifa brasileira (daí a fragmentação posterior). 

            Depois disso, não houve nenhuma mudança substantiva, a não ser ajustes tópicos, geralmente num sentido protecionista, ou seja, de retrocesso. Em 1994 foi assinado o compromisso de Miami, para a negociação da ALCA, que se levada a termo teria, sim, representado uma enorme mudança na política comercial do Brasil; mas os governos FHC foram relutantes e o lulopetismo se empenhou em sabotar deliberadamente, e por razões ideológicas, a ALCA. O acordo Mercosul-UE, que começou a ser negociado por causa da ALCA, ficou em estagnado por 20 anos. Em síntese, não houve mais avanços desde 1994.

 

2)    O Itamaraty teve um papel importante na formulação da política comercial?

 

PRA: Sim: desde o início do Sistema Multilateral de Comércio teve papel extremamente relevante, não tanto na formulação, mas na negociação externa dessa política comercial, muitas vezes obstando intenções e medidas ainda mais protecionistas do setor econômico dos governos e do setor privado, sempre, e em todas as épocas extremamente protecionista. O Itamaraty sempre levou um combate de retaguarda, mas muito importante, tentando evitar que o Brasil fosse acusado de práticas desleais de comércio em Genebra (Gatt e depois OMC). 

 

3)    De maneira geral, qual é a sua impressão sobre o acordo entre o Mercosul e a União Europeia (MSL-EU)? Acredita que, caso ratificado, será benéfico para o Brasil?

 

PRA: Todo e qualquer acordo de liberalização comercial é potencialmente benéfico para o país, sobretudo para os consumidores, mas também para o setor produtivo, exposto à concorrência. O problema é que, salvo acordos gerais de abertura econômica e liberalização comercial, os acordos bilaterais ou plurilaterais de livre comércio são sempre discriminatórios em sua essência, e podem mais desviar comércio do que criar novos fluxos: ocorre uma mudança na estrutura geografia pelo abatimento de tarifas, não porque tenha havido modernização da oferta; essa é a maldição do minilateralismo. 

No caso do acordo com a União Europeia, seria importante pela dimensão dos fluxos de comércio e de investimentos, mas sempre nessa perspectiva de desvio de comércio, com cláusulas especificamente talhadas para proteger ou promover setores politicamente fortes dentro de cada bloco. Aliás, ele só estava sendo negociado, por causa da ameaça da ALCA: quando esta foi implodida pelos petistas, a negociação birregional estagnou completamente, e só foi retomada por causa dos problemas criados por Trump no SMC e com a China; foi a maneira dos europeus dizerem: “estamos vivos, vamos negociar alguma coisa”.

Ele, se e quando for ratificado (o que não ocorrerá sob Bolsonaro) será de fato importante para o Brasil, mas ele empalidece em face de outros grandes acordos regionais e plurilaterais de comércio que existem e que consolidam importantes cadeias globais de valor já existentes em outras regiões (TPP e RCEP, por ex.).

 

4)    Na sua opinião, qual foi a importância do Itamaraty durante as negociações? 

 

PRA: Ela sempre foi extremamente relevante desde o início, nas várias etapas, mas depois o Itamaraty teve de se dobrar às idiossincrasias petistas nas áreas da economia e da política comercial e suas fantasmagorias Sul-Sul. Praticamente, só decolou depois com o governo Temer, que preparou todo o terreno para a conclusão do acordo, quando a posição da Economia foi talvez mais importante.

 

5)    O senhor acredita que o Itamaraty perdeu protagonismo para outros ministérios ao longo dos anos?

 

PRA: Provavelmente sim, talvez não na parte operacional da representação, mas certamente na questão da fundamentação substantiva da postura negociadora. O Itamaraty não fixa tarifas, não trata de defesa comercial, não decide sobre políticas setoriais da área econômica (indústria, agricultura, saúde, normas, etc.). O Itamaraty vinha perdendo terreno paulatinamente nos últimos anos, em função da qualificação de funcionários preparados nas demais áreas setoriais, mas a derrocada maior ocorreu certamente com o governo Bolsonaro, que praticamente retirou do Itamaraty qualquer competência negociadora efetiva, deslocando-o para o Ministério da Economia, na Secretaria de Comércio Exterior e (atenção para o acréscimo) Assuntos Internacionais. Foi ela quem negociou o final do acordo com a União Europeia, junto com a Agricultura. 

 

6)    O acordo MSul-UE foi retomado pelo governo Dilma e não teve êxito; depois, já no governo de Michel Temer, o tema voltou com força. De qual ministério partiu essa retomada? Em sua avaliação, qual seria o interesse do governo Temer?

 

PRA: O governo Temer representou a normalização da diplomacia brasileira, nas bases em que ela sempre funcionou até o advento do PT, que introduziu deformações ideológicas na condução da política externa, inclusive com um G20 comercial esquizofrênico, na reunião ministerial da OMC em Cancún (2003) e depois implodindo a ALCA (2005), achando que se chegaria a um acordo melhor com os europeus, o que era uma completa ilusão. Quando terminaram os desvios petistas, o governo Temer (antes com Joaquim Levy) retomou o processo negociador, ou seja, de iniciativa da Fazenda, e não do Itamaraty, que continuou operando na parte negociadora, mas com uma pauta fixada pela área econômica, que na verdade responde aos conhecidos lobbies protecionistas. 

 

7)    Qual ministério liderou a conclusão do acordo no governo Bolsonaro e qual foi a participação do Itamaraty?

 

PRA: Claramente o ministério da Economia, pela Secretaria de Comércio Exterior, na época dirigida pelo Marcos Troyjo (hoje no banco do Brics), com o Itamaraty operando em todas as fases, já que tinha toda a memória das fases anteriores e mantendo contato direto entre Brasília e Bruxelas (Comissão).

 

8)    Qual foi o impacto da junção dos ministérios da Fazenda, do Planejamento e do MDIC no início do governo Bolsonaro para a política comercial brasileira?

 

PRA: Pode ter facilitado o processo decisório interno, ao ter unificado três grandes agências relevantes (menos o Planejamento, que é menos relevante), mas os lobbies protecionistas empresariais operam da mesma forma, com um ou quatro ou cinco ministérios. Quem manda na política econômica, macro e setorial, é o Grande Capital, de forma centralizada (CNI, CNA, Fiesp, etc.) ou nas associações produtoras (Abinee, Abimaq, Anfavea, Abint, Abifina, etc.)

 

9)    O atual ministro da Economia mudou de opinião sobre o Mercosul desde a campanha eleitoral de 2018. Antes refratário, em 2019 comemorou o encerramento das negociações. Na sua visão, quais ganhos o governo Bolsonaro vislumbrou no acordo?

 

PRA: O Ministro Paulo Guedes sempre foi um completo ignorante em matéria de política externa, de política econômica externa, e de políticas governamentais de maneira geral. Um simples negociador de investimentos de mercado, não tinha nenhuma competência tecnocrática, e desprezava o Mercosul, como a própria Argentina. Mas, o acordo Msul-UE foi vendido pelo governo como cortina de fumaça, como uma grande pauta liberal do governo, junto com a demanda de ingresso na OCDE (feita pelo governo Temer), o que nunca foi, e tem dificuldades para se concretizar, pois o governo é caótico, sem qualquer direção definida nas grandes definições de política externa. Pode-se dizer, sem sombra de erro, que o governo é uma barata tonta em quase todas as áreas que requerem grandes definições de políticas estratégica, só se salvando em áreas específicas – agricultura, energia e transportes – porque estão praticamente dominadas pelos interesses do Grande Capital em cada um dos setores. O “governo Bolsonaro” NÃO EXISTE como governo, e ele só está interessado em gestos propagandísticos, sem qualquer conexão com algum planejamento integrado da ação governamental (que praticamente não existe). 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 8/09/2021 

Leitura recomendada: 

Rogério S. Farias: A palavra do Brasil no Sistema Multilateral de Comércio (disponível na Biblioteca Digital da Funag).

 

terça-feira, 26 de julho de 2022

China diz estar aberta à 'cooperação' com o Mercosul - France Presse

 Não é bem o Brasil que é contra um acordo de livre comércio entre a China e o Mercosul, e sim a CNI, a FIESP, as associações setoriais de produtores, que são protecionistas desde a pré-história...

China diz estar aberta à 'cooperação' com o Mercosul

Governo chinês negocia tratado de livre comércio com Uruguai nesta terça-feira (26) e diz que está disposta a fazer o mesmo com todo o bloco sul-americano interessados. Governo uruguaio precisa de aval dos países membros para fechar acordo.

Por France Presse
26/07/2022 08h56  Atualizado há 3 horas

O diretor-geral para América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores da China, Cai Wei, afirmou nesta segunda-feira (25) que Pequim está aberta à "cooperação" com "o Mercosul em seu conjunto".

Wei está em Montevidéu, onde negocia um tratado de livre-comércio (TLC) com o Uruguai.

"A parte chinesa está aberta à cooperação tanto com o Mercosul em conjunto como com o país-membro particular [o Uruguai]", assinalou o chefe de uma delegação oficial chinesa que se reuniu com integrantes do governo do presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, incluindo o chanceler, Francisco Bustillo, e a ministra da Economia, Azucena Arbeleche.

"A China é uma firme defensora do livre-comércio" e está "disposta a negociar e a firmar TLCs com todos os países interessados", assinalou o funcionário chinês, segundo a tradução oficial de sua declaração à imprensa publicada em vídeo no site da Presidência uruguaia.

O Uruguai iniciou tratativas para um tratado de livre-comércio com a China depois que ambos os países realizaram um estudo de viabilidade de um acordo com essas características, que gerou polêmica no Mercosul, o bloco econômico sul-americano que também reúne Argentina, Brasil e Paraguai.

O Mercosul não permite que um de seus membros negocie acordos comerciais sem a anuência dos demais, mas o Uruguai, que há quase duas décadas pede uma flexibilização dessa decisão adotada pelo grupo, resolveu tratar individualmente com a China.

Na última cúpula do Mercosul, celebrada na semana passada em Assunção, no Paraguai, o presidente argentino, Alberto Fernández, um dos principais críticos da iniciativa uruguaia, propôs que o acordo com a China fosse negociado por todo o grupo em conjunto.

Por sua vez, Lacalle Pou argumentou, durante o encontro de presidentes, que também era o desejo do Uruguai a incorporação dos demais países do bloco às negociações com o gigante asiático em etapas posteriores.

"Esperamos e prevemos que, em algum momento, o restante dos países-membros [do Mercosul] se juntará às negociações" com a China, reiterou Bustillo nesta segunda, em imagens emitidas por meios locais.

"Esperamos que as partes do Mercosul possam negociar de maneira amistosa entre si, a fim de criar um ambiente melhor para a cooperação de livre-comércio sino-uruguaia", assinalou, por sua vez, o líder da delegação chinesa.

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2022/07/26/china-diz-estar-aberta-a-cooperacao-com-mercosul.ghtml


quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Brasil-EUA vao adotar livre-comercio??? - Parece possivel, mas vai ser dificil... - CNI

 CNI propõe acordo de livre comércio com EUA ao governo brasileiro.
Por Adriana Nicacio
CNI. 07/12/2016.
Setores privados dos dois países elaboraram, pela primeira vez, estudo para um amplo tratado bilateral. A ideia é que o tema seja debatido na primeira reunião entre autoridades nacionais e americanas em 2017

As tarifas devem ser eliminadas em todo o comércio entre Brasil e Estados Unidos, incluindo agricultura e produtos não-agrícolas, num período máximo de 10 anos a partir da data que os dois países assinarem um acordo de livre comércio. Esta é a primeira linha de uma extensa proposta da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos (AmCham), e a entidade empresarial americana U. S. Chamber of Commerce, para um acordo de livre comércio.

O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, entregou ao ministro do Desenvolvimento, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Pereira, o “Roteiro para o Alcance de um Acordo de Livre-Comércio entre Brasil e Estados Unidos” nesta quarta-feira (7). O ministro participou da 34ª Reunião Plenária do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (CEBEU), que comemora 40 anos. A U.S. Chamber entregará o estudo ao novo governo americano, em janeiro.

A proposta também trata de parcerias setoriais em aviação, biocombustíveis, tecnologia da informação e comunicação, defesa e segurança, infraestrutura, além de cooperação bilateral em eficiência energética e na área de inovação.

CNI. 07/12/2016. Isenção de vistos, livre comércio e acordo para evitar dupla tributação são prioridades para relação Brasil-EUA em 2017. Agenda de trabalho do setor privado brasileiro e americano foi apresentado durante a reunião do CEBEU. Criado em 1976, o conselho comemora 40 anos
Por Adriana Nicacio

Plenária do CEBEUSelo CEBEUO presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, afirmou que entre os objetivos para os Estados Unidos em 2017 estão a concretização da adesão do Brasil aos programas de visto americano, Global Entry e Visa Waiver, a definição de uma agenda temática para iniciar negociações para o Acordo de Livre-Comércio, a negociação do Acordo para Evitar a Dupla Tributação (ADT) e a celebração final do Acordo de Reconhecimento Mútuo de Operador Econômico Autorizado.

“O comércio exterior, a atração de investimentos e a inovação devem fazer parte de uma agenda permanente para o aumento da competitividade de nossos países”, afirmou Robson Braga de Andrade, que participou da abertura da 34ª reunião plenária do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (CEBEU).

No evento, o presidente da CNI entregou ao ministro do Desenvolvimento, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Pereira, um Roteiro para o Alcance de um Acordo de Livre Comércio. A proposta foi construída em parceria com a U.S. Chamber of Commerce e a Câmara Americana de Comércio do Brasil e é dividida em partes. Há temas, como vistos e ADT, que podem ser negociados antes do acordo de livre comércio.

Segundo Marcos Pereira, os Estados Unidos são um parceiro central para o Brasil e as relações devem se fortalecer acima da transitoriedade dos governos. “Os insumos do setor privado são subsídios diretos para o diálogo MDIC-DOC (ministério do Desenvolvimento do Brasil e do Comércio dos Estados Unidos) que se reunirá na primeira semana de abril de 2017”, garantiu o ministro.

Avanço na relação bilateral nos últimos anos:

2012: reconhecimento mútuo da cachaça como produto tipicamente brasileiro e do uísque Tennessee e do Bourbon como tipicamente americanos.

2013: Brasil e Estados Unidos chegaram a solução sobre o contencioso na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre suco de laranja.

2014: Os dois países firmaram o memorando que encerrou o contencioso do algodão na OMC.

2015: O Sistema Geral de Preferências dos Estados Unidos foi renovado, com a manutenção do Brasil como país beneficiário.
O Acordo FATCA, que prevê assistência mútua em assuntos tributários, e era considerado uma condição para a negociação de um convênio para evitar a dupla tributação, entrou em vigor.
Acordo de Previdência Social foi celebrado entre os dois países.
Plano de Trabalho Conjunto entre Brasil e Estados Unidos sobre Reconhecimento Mútuo dos Programas de Operador Econômico Autorizado.
Acordo sobre Cooperação em Matéria de Defesa cumpriu todas as etapas para a sua vigência
2016: Programa Piloto do Acordo sobre Compartilhamento de Exame de Patentes
Acordo Relativo a Medidas de Segurança para a Proteção de Informações Militares Sigilosas, reforçando a cooperação da indústria de defesa;
Convenção Multilateral sobre Assistência Administrativa Mútua em Assuntos Fiscais, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) entrou em vigor
Abertura do mercado americano para a carne bovina in natura brasileira;
Acordo Céus Abertos foi enviado ao Congresso brasileiro para aprovação.
CNI. 29/11/2016. 6 acordos entre Brasil e EUA que estão prontos para sair do papel. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), agenda entre os dois países deve avançar a curto prazo. Empresários brasileiros e americanos se reúnem na próxima semana no Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (CEBEU), em Brasília
Por Adriana Nicacio

A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos não deve mudar o foco do setor privado brasileiro na relação entre Brasil-EUA. Apesar da transição ainda estar marcada pela incerteza sobre o futuro com a América do Sul, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que é possível avançar numa agenda de curto prazo. 

Na quarta-feira da próxima semana, 7 de dezembro, os setores privados do Brasil e dos Estados Unidos se reúnem no Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (CEBEU),  na sede da CNI, em Brasília. A Confederação exerce atualmente a secretaria-executiva do conselho, que completou 40 anos em 2016. Confira seis acordos que estão próximos de serem finalizados pelos dois países:

1. Global Entry: rapidez na imigração
O Global Entry é um programa de facilitação de fluxo de pessoas. Não dispensa o visto entre os países, mas permite a rápida liberação de viajantes pré-aprovados e de baixo risco na chegada aos Estados Unidos.

Como funciona o Global Entry?
As pessoas cadastradas entram nos EUA por meio de quiosques automáticos. Apresentam seu passaporte, colocam suas impressões digitais no scanner e completam uma declaração alfandegária. O quiosque emite ao viajante um recibo de entrada. Todos os candidatos são submetidos a uma rigorosa verificação de antecedentes e entrevista pessoal antes da inscrição. Os Estados Unidos mantém esse programa com Alemanha, Cingapura, Colômbia, Coreia do Sul, México, Países Baixos, Panamá e Reino Unido.

2 . Visa Waiver Program (VWP): Programa de Isenção de Vistos
Permite que cidadãos de 38 países viajem aos Estados Unidos para negócios ou turismo para estadias de até 90 dias sem a exigência de visto.

Quais requisitos para entrar no Visa Waiver Program?
Esse programa é possível para países que cumpram com as condições previstas na legislação americana, como, por exemplo, apresentar baixos percentuais de vistos negados; cumprir com requisitos relativos a documentos de viagens; cooperar com as autoridades americanas em questões de segurança; e dar reciprocidade na isenção de vistos para cidadãos americanos.

3. Acordo sobre Transportes Aéreos ou Céus Abertos
O acordo sobre Transportes Aéreos ou Céus Abertos foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, em 11 de outubro de 2016. O projeto ainda depende da avaliação do plenário da Casa e do Senado. Assinado em 19 de março de 2011, entre os dois países, o texto do acordo trata da livre concorrência entre empresas aéreas dos dois países.

Quais as mudanças com o acordo?
Ele prevê que cada país "concederá às empresas aéreas da outra parte o direito de vender e comercializar, em seu território, serviços aéreos internacionais diretamente ou por meio de agentes ou outros intermediários à escolha da empresa aérea, incluindo o direito de estabelecer escritórios". O objetivo do acordo é reduzir o custo do transporte e melhorar o serviço.

4. Acordo Previdenciário
O Acordo de Previdência Social entre Brasil e Estados Unidos foi assinado em 30 de junho de 2015, mas ainda aguarda a aprovação do Congresso Nacional. O acordo dará cobertura previdenciária a 1,4 milhão de brasileiros que trabalham nos Estados Unidos e contribuíram para a previdência brasileira.

Quais os benefícios do acordo previdenciário?
Ele permite somar os períodos de contribuição realizados nos dois países e evita a bitributação quando um trabalhador é transferido temporariamente. Desta forma, o segurado pode utilizar os períodos de contribuição em um dos países para atingir o tempo necessário para obter o benefício no Brasil ou nos Estados Unidos.

O Brasil possui acordo previdenciário com: Alemanha, Bélgica, Canadá, Cabo Verde, Chile, Espanha, França, Grécia, Itália, Japão, Luxemburgo e Portugal. Nos últimos anos, o Brasil negociou novos acordos que estão em processo de tramitação para entrarem em vigor com: Coreia, Israel, Moçambique, Quebec, Suíça e com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

5. Acordo de Reconhecimento Mútuo do Operador Econômico Autorizado (OEA)
O reconhecimento mútuo dos programas de Operador Econômico Autorizado do Brasil e do Customs-Trade Partnership Against Terrorism (C-TPAT) dos Estados Unidos vai acelerar o processo de despacho aduaneiro das empresas brasileiras e americanas no Brasil e nos EUA, pelo estabelecimento de padrões de segurança e informações aceitáveis para ambos. O Brasil ainda não possui nenhum acordo de reconhecimento mútuo, pois o programa brasileiro ainda está em construção. Os Estados Unidos já firmaram dez acordos.

O que é o programa Operador Econômico Autorizado?
O programa OEA acelera o processo de despacho aduaneiro das empresas cadastradas. O OEA é considerado fundamental para aumentar a competitividade da indústria por facilitar a integração das cadeias produtivas e ampliar a fluidez do comércio internacional.

6. Acordo de Compartilhamento de Exame de Patentes (Patent Prosecution Highway - PPH)
O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e o Escritório Americano de Patentes e Marcas (USPTO)  assinaram projeto piloto do Patent Prosecution Highway (PPH) em novembro de 2015. O programa está restrito ao setor de petróleo e gás e deve ser revisto no final de 2017. O Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos (CEBEU) entende que o PPH é benéfico para as duas economias por facilitar o exame de pedidos de patentes depositados normalmente nos Estados Unidos e no Brasil.

Quais vantagens do PPH?
O acordo evitará a duplicação de esforços dos examinadores do Brasil e dos Estados Unidos ao assegurar o acesso recíproco e uso voluntário das análises realizadas pelos escritórios, de modo a permitir que uma patente seja concedida em tempo reduzido, contribuindo para promover a inovação e o investimento nas economias de ambos os países.

CNI. 07/12/2016. Propostas para Livre Comércio entre Brasil e EUA
DOCUMENTO: http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/conteudo_18/2016/12/07/12417/AF_CNI_CEBEU_Roadmap_EUA.pdf

domingo, 22 de junho de 2014

Alianca do Pacifico: avancando para o Pacifico e sobre o Mercosul (El Pais)

El País, 22/06/2014

A Aliança do Pacífico amplia seus alvos. Depois de um fulgurante início, que levou esta plataforma de integração econômica formada por México, Colômbia, Chile e Peru, a converter-se em apenas três anos em uma das turbinas comerciais da América Latina, inicia uma etapa de expansão para seus dois polos naturais de atração: as potências asiáticas e o Mercosul. Este planejamento estratégico foi o assunto da cúpula que reuniu nesta sexta no enclave tropical de Punta Mita (Nayarit, México) os presidentes dos quatro países associados.
“Estamos frente à uma integração pragmática e aberta; baseada no livre mercado, o respeito aos direitos humanos e as políticas de redistribuição. Agora se inicia uma segunda etapa de desenvolvimento e aprofundamento, na qual é necessário buscar áreas de colaboração”, afirmou o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, após assumir a chefia da aliança substituindo seu homólogo colombiano, Juan Manuel Santos. A área, que deu um grande passo ao eliminar recentemente as tarifas alfandegárias de 92% dos produtos, também agilizou as transações comerciais e reduziu a exigência de vistos.
A abertura programada para os titãs do oeste, incluindo o Japão, representa um objetivo a médio prazo e de difícil realização, mas mostra a vitalidade de uma zona que representa 36% do PIB da América Latina, 41% do investimento estrangeiro e 50% de seu comércio internacional. “A Aliança é um projeto maduro em seu núcleo de fundação, chegou o momento de abri-lo para o Pacífico. A cooperação com os países asiáticos não tardará, será um processo rápido”, assinalou Guajardo, que incluiu na esfera de interesses potências como a Austrália e Nova Zelândia.
Junto com sua expansão asiática, a primeira linha estratégica traçada na cúpula é a aproximação com o Mercosul, a outra grande área comercial da América Latina, formada pelo Brasil, Argentina, Venezuela, Bolívia, Uruguai e Paraguai. Este enfoque coloca dúvidas sobre a rivalidade entra ambas as entidades, não apenas por motivos de concorrência econômica, mas também pelos modelos de redistribuição e gasto social que representam. “Nos parece que além das legítimas diferenças, um acordo é possível e necessário”, disse a presidente chilena, Michelle Bachelet.
Muito mais antigo do que a Aliança, o Mercosul entrou em uma fase de letargia. O Brasil, seu gigantesco sócio, sofre claros indícios de anemia econômica, enquanto a Venezuela e a Argentina, cada uma a seu modo, são submetidas a fortíssimas turbulências. O resultado é que as previsões de crescimento para o Mercosul não passam de 1,1% para este ano, três vezes menos do que a Aliança do Pacífico, segundo o BBVA Research. “Não buscamos competir, e sim colaborar. A união faz a força. A América Latina não existe sem o México ou o Brasil. E existem elementos de cooperação comum fáceis de abordar”, detalhou para este periódico o secretário de Economia mexicano, Ildefonso Guajardo, um dos cérebros da decisão.
A cúpula, a nona desde seu nascimento, criou um instrumento de cooperação com a OCDE para fortalecer as pequenas e medias empresas. Este segmento possui um enorme peso. Só no caso do Peru representa 70% dos empregos, como lembrou o presidente peruano, Ollanta Humala. Esta atomização da estrutura empresarial tem também um forte impacto no México, aonde mais de 90% das companhias são de pequeno tamanho. “É necessário desregular para aumentar a competitividade das empresas”, indicou Peña Nieto.

A reunião dos presidentes, diferentemente da anterior, terminou sem grandes avanços, mas com a ideia, expressada por todos os mandatários, de que o caminho empreendido em abril de 2011 sugere um “modelo de sucesso”. “Cada vez que nos reunimos avançamos. Parecemos apaixonados”, brincou Santos.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Franceses apavorados (como sempre) com o livre comercio: acordo transatlantico - Le Monde

Il pourrait changer la face de l'Europe : le traité transatlantique décodé

Le Monde.fr |  • Mis à jour le  |Par 
Le traité transatlantique TAFTA vise à établir une zone de libre-échange entre l'Union européenne et les Etats-Unis, créant un gigantesque marché de plus de 800 millions de consommateurs.

Négocié dans le plus grand secret par les Américains et les Européens depuis bientôt un an, le traité de libre-échange transatlantique suscite une opposition de plus en plus virulente de la part des ONG et des partis politiques. En France, leFront de gauche a même décidé de placer le combat contre TAFTA au coeur de sa campagne pour les élections européennes en mai, qu’elle entend transformeren référendum pour ou contre le traité. Dans une moindre mesure, les écologistes et le Front national se sont également saisis du dossier, alors que l’UMP, le PS etFrançois Hollande restent très discrets sur le sujet.


De quoi s’agit-il ?

Un accord de libre-échange entre les Etats-Unis et l’Union européenne, préparé depuis une dizaine d’années, et officiellement négocié depuis l’été 2013. Il a pour but de constituer un marché commun de 820 millions de consommateurs, qui représenterait la moitié du PIB mondial et le tiers des échanges commerciaux : pourses défenseurs, il pourrait faire gagner jusqu'à 0,05 points de PIB par an aux économies américaine et européenne, boostant les échanges et les créations d'emplois.
Quatre rounds de négociation rassemblant à chaque fois une centaine de personnes ont déjà eu lieu à Bruxelles et Washington. Les négociations, menées par la Commission européenne de ce côté de l’Atlantique, sont censées aboutir en 2015. Le traité devra alors être validé par les Vingt-Huit Etats-membres de l’Union européenne, puis voté par le Parlement européen.

PTCI, TAFTA ou TTIP ?

Le traité devait originellement s’appeler TAFTA, pour Transatlantic Free Trade Area (zone de libre-échange transatlantique). Il a été depuis rebaptisé TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership), car son nom ressemblait trop à celui du traité ACTA, rejeté par le Parlement européen en 2012 à l’issue d’un long combat politique. En français, cela donne PTCI : le « partenariat transatlantique de commerce et d'investissement ». Pour autant, ses adversaires, rassemblés depuis plusieurs mois sous l'étendard #STOPTAFTA, ont décidé de continuer à utiliser son nom original.

Qu’en sait-on exactement ?

Les négociations sur le traité transatlantique se déroulant dans le plus grand secret entre les responsables européens et américains, on en sait peu sur son contenu. Les seules sources à notre disposition sont les documents qui ont fuité sur Internet ou dans la presse depuis un an :
Tout juste sait-on donc que TAFTA/TIPP vise :
  • La suppression des tarifs douaniers
  • L’harmonisation progressive des règlementations de part et d’autre de l’Atlantique
  • La mise en place d’un mécanisme de règlements des différends entre lesentreprises et les Etats

4 affirmations sur TAFTA passées au crible

Pour démêler les mythes de la réalité, Les Décodeurs se sont penchés sur quatre affirmations couramment relayées, par les détracteurs et les promoteurs de TAFTA :

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Acordo de livre-comercio transatlantico: um acordo de anexacao da Europa pelos EUA (ou ao menos da Franca)

Lembram-se daquele frase estúpida de que a Alca não era um acordo de integração, mas sim um acordo de anexação?
Deixo a vocês lembrarem-se também do autor, e dos usuários das frase: eles ainda estão por aí.
Pois bem: não temos o monopólio das estupidezes. Os gauleses também acham isso...
Pois é... no que depender da França, esse acordo não sai nos próximos 75 anos...
Paulo Roberto de Almeida


Accord de libre-échange Etats-Unis-UE : une menace pour le modèle européen

Le Monde.fr |  • Mis à jour le 
Par 

Depuis plusieurs semaines, l'idée d'un accord de libre-échange entre les Etats-Unis et l'Union européenne refait surface. Les défenseurs de ce projet vantent un accord bénéfique pour les deux zones. La Commission européenne y voit un futur "moteur pour l'emploi et la croissance" et ne veut pas rater cette "chance unique" de sortirde la crise. Il est pourtant impossible à ce stade d'évaluer les bénéfices réels d'un tel accord. On peut en revanche s'inquiéter de l'importance des enjeux qu'il soulève.

Le projet divise largement, notamment au moment de déterminer les secteurs qui pourraient ou non être concernés. Angela Merkel et David Cameron pensent que plus l'accord sera global, plus il sera profitable.
Pour la France, certains secteurs doivent être maintenus hors du libre-échange. Le président de la République, François Hollande, et la ministre du commerce extérieur, Nicole Bricq, ont été très clairs : le champ des négociations doit être strictement défini. Au nom des exceptions culturelles, François Hollande a déjà exigé que les services audiovisuels soient exclus des négociations. Il considère ce point "non négociable" et a été rejoint sur cette position par treize autres Etats-membres. Sur ce point, la menace américaine est claire : libéraliser le secteur de laculture en Europe, réduisant à néant les politiques favorisant la diversité culturelle mises en œuvres jusqu'à présent.
Dans les faits, l'accord envisagé n'est pas neutre pour l'avenir européen. Aujourd'hui, ce ne sont pas les tarifs douaniers qui empêchent un libre-échange total entre l'Union européenne et les Etats-Unis, car ils sont déjà faibles. Le seul obstacle, ce sont les différences de règlementations entre les deux zones.
UNE MENACE : L'HARMONISATION DES RÈGLEMENTATIONS
Si un tel accord devait aboutir, ces normes devraient être harmonisées. Cela est à nos yeux une menace pour les acquis de la construction européenne, car ce rapprochement des règlementations se fera fatalement aux dépens des normes européennes, plus contraignantes car plus ambitieuses.
Considérons par exemple la question des marchés publics. Une libre-circulation totale des biens et services entre les deux zones implique une ouverture des marchés publics européens aux entreprises américaines, et réciproquement.
Or, l'Etat fédéral américain ne peut prendre un tel engagement pour ses entités fédérées, seules compétentes dans ce domaine. Les entreprises européennes se verraient-elles écartées des marchés publics américains quand, dans le même temps, les entreprises américaines répondront aux offres publiques européennes ?
Un domaine plus sensible encore illustre le gouffre qui sépare les règlementations commerciales européennes et américaines : les normes sanitaires dans la production agricole.
C'est là un motif régulier de friction entre les deux zones. Exigeante en matière de sécurité alimentaire, l'Union européenne observe le principe de précaution et adopte des normes sévères. Cela conduit à des désaccords continus avec les Etats-Unis : OGM, hormones de croissance, décontamination chimique des viandes... Au regard de cette profonde divergence idéologique, il semble difficile pour les marchés agricoles américains et européens de s'interpénétrer.
UN ACCÉLÉRATEUR DE DÉLOCALISATIONS ?
Le risque le plus sérieux réside sans doute dans le déséquilibre de change qui existe entre les deux zones. Dépourvue de politique de change et dotée d'un euro surévalué par rapport au dollar, la zone euro souffre d'un déficit de compétitivité.
Un accord de libre-échange pourrait conduire à une fuite d'entreprises européennes vers les Etats-Unis, qui auraient tout avantage à s'y installer pour produire et...exporter vers l'Europe. Par ailleurs, la baisse du coût de l'énergie aux Etats-Unis qui suivra l'exploitation des gaz de schiste devrait faire des délocalisations une aubaine difficile à contenir. Voila un nouvel avantage pour les Etats-Unis, toujours au détriment de l'Europe.
LA PRÉCIPITATION DE LA COMMISSION EST DANGEREUSE
On voit bien que les positions sont contrastées, que l'idée même d'un accord et sa portée inquiètent. Le débat s'annonce tendu et on comprend les appels en faveur d'une limitation des secteurs concernés par les négociations.
Pourtant, l'heure semble à la précipitation. Fin mars, le Congrès américain a donné trois mois au président Obama pour lancer des négociations. De leur côté, le président de la Commission européenne José Manuel Barroso et la Commission européenne espèrent obtenir des 27 un mandat de négociations avant le 14 juin. Et David Cameron, décidément pressé d'avancer, plaide pour un lancement des négociations dès le 17 juin.
Un accord de libre-échange entre les deux zones les plus riches du monde doit fairel'objet d'une réflexion intense, d'autant plus qu'il aurait sur le projet européen un impact considérable. En cherchant à imposer un calendrier accéléré et des négociations immédiates, la Commission cède à un empressement coupable. Les calculs politiques personnels de M. Barroso, dont le mandat expire en mai 2014, n'y sont probablement pas étrangers.
Les enjeux soulevés sont trop lourds et les sujets de friction trop sensibles pour que nous puissions nous permettre de conclure un accord précipité. Il faut donc s'interroger sur l'opportunité même d'un tel accord.
AVEC UN ACCORD, MÊME LIMITÉ, L'EUROPE A PLUS À PERDRE QU'À GAGNER
Dans de trop nombreux secteurs, cet accord reviendrait à hypothéquer les acquis communautaires et à oublier les préoccupations des peuples européens en faveur du principe de précaution, de la protection environnementale, de la qualité des services publics... De plus, les Etats-Unis bénéficient d'accords bilatéraux déjà conclus avec une majorité des 27 Etats-membres. Ils pourront donc jouer sur plusieurs tableaux, à l'inverse de l'Union européenne.
Washington voit en cet accord un moyen de faciliter ses échanges avec l'Allemagneet le Royaume-Uni. Il n'est pas étonnant que l'eurosceptique David Cameron y soit si favorable, lui d'ordinaire peu motivé par le projet européen, et qui va mêmesoumettre l'appartenance à l'UE au vote des britanniques d'ici 2017. Des esprits malicieux pourraient y voir un lien de causalité.
Dès lors, au regard des dégâts potentiels d'un tel accord pour le modèle européen, pourquoi prendre le risque de se faire déborder par les Etats-Unis ? Plutôt qu'un mandat réduit à son strict minimum, pourquoi ne pas décider le retrait pur et simple des négociations, pour garantir la sauvegarde des acquis européens ?
La Commission est attirée par les bénéfices attendus de l'accord, mais ne mesure pas les bouleversements qu'il impliquerait. Certes, la recherche de la relance reste un objectif dans la crise que nous traversons, mais pas à tout prix. Nous ne pouvons pas accepter une option qui signerait la fin du projet européen. C'est pour cette raison que nous avons toujours refusé l'austérité comme politique économique.
CROIRE EN LA RAISON DES ETATS-MEMBRES ET DU PARLEMENT EUROPÉEN
L'accord de libre-échange envisagé est potentiellement dévastateur. Il est donc préférable de ne pas mettre le doigt dans l'engrenage et d'écarter cette idée tant qu'il est encore temps.
Il s'agit d'un accord mixte, qui nécessitera donc une ratification de l'ensemble des Etats membres et du Parlement européen. Avant même d'envisager une ratification, les Etats-membres auront à approuver le mandat de négociations confié à la Commission.
Il faut avoir confiance en le jugement des représentants des peuples européens, notamment des eurodéputés, et espérer que le projet d'accord sera vite enterré. Il n'est pas exclu que certains pourraient s'interroger sur la nature de cette entité "occidentale" en gestation. Le risque est, ni plus ni moins, de sacrifier la destinée commune des citoyens de l'Union européenne sur l'autel du libre-échange.
Lire : L'accord de libre-échange Europe-Etats-Unis en débat, avec les contributions de l'économiste Marie-Françoise Calmette, le ministre britannique Ken Clarke, l'avocat Olivier Amiel, des membres du Parti socialiste et la députée européenne (UMP, PPE) Tokia Saïfi.