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segunda-feira, 23 de março de 2020

Epidemias: artigos de cientistas brasileiros em diversas revistas acadêmicas

Este é o primeiro texto de uma série que será publicada ao longo das próximas semanas. Trata-se de uma ação conjunta, que reune a Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS), da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP)e da Associação dos Cientistas Sociais da Religião do Mercosul (ACSRM). Nos canais oficiais de comunicação dessas associações passarão a circular textos curtos que apresentarão trabalhos das ciências sociais que, ao longo do último século, refletiram sobre epidemias. Trata-se de um esforço para continuar dando visibilidade ao que produzimos e também de afirmar a relevância dessas ciências para o enfrentamento da crise que estamos atravessando. Acompanhe!

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Boletim n. 1 - Cientistas Sociais o o coronavirus

Nos últimos meses a universidade sofreu ataques sistemáticos. A comunidade científica sentiu na pele a descontinuidade de seus projetos de pesquisa, vivenciou o corte de bolsas na pós-graduação e a perda de apoio para realização de eventos acadêmicos. Além disso, também nos vimos interpelados por acusações exdrúxulas como a de que os campi universitários possuem extensivas plantações de maconha. Agora, diante de uma crise global sem precedentes os pesquisadores são lembrados. Consultam os epidemiologistas, os estatísticos, os físicos, enfim, acionam a extensa rede de especialistas para entender o que está acontecendo, o que há por vir e como devemos agir. Nessas horas parece ser mais fácil de lembrar como o financiamento de pesquisa não é o mesmo que gasto puro e simples.

A pandemia do Corona colocou em nas nossas conversas cotidianas pelo menos três tópicos: questões biológicas sobre a dinâmica do vírus, a gestão política em tempos de epidemia e o crescente e generalizado pânico das populações. Sobre esses temas e, principalmente, sobre a articulação entre eles, as ciências sociais têm se dedicado há décadas. Somente nos últimos anos podemos recuperar os trabalhos sobre Zica, ebola, aids, malária e SARS. Pesquisas que receberam financiamento, que foram conduzidas com rigor e que agora nos ajudam a entender o momento que vivemos e também a imaginar algumas saídas para reduzir o impacto que o Corona terá em nossas vidas.
Pensando nisso, reunimos uma breve bibliografia de textos que abordam o tema das epidemias, do contágio e do controle de doenças a partir de uma perspectiva das Ciências Sociais. Ao longo dos próximos dias incluiremos novas referências, que permanecerão disoníveis no link abaixo. 

Com relação ao COVID-19, especificamente, houve uma uma resposta rápida por parte do site “somatosphere”, que publicou no dia 06/03 um fórum de debates que reuniu historiadores, cientistas políticos, sociólogos e antropólogos dispostos a refletir sobre os impactos dessa nova pandemia. 

Este também é um momento oportuno para revisitarmos o blog da antropóloga Soraya Fleischer (UnB), que junto com seu grupo de pesquisa, apresenta histórias das pessoas que continuam vivendo os impactos da epidemia do Zica Virus. O Zica também foi tema da produção audiovisual de Debora Diniz, cujo curta metragem nos permite chegar mais perto dos dramas e dilemas de ser afetado por uma epidemia.

Como já temos percebido, os efeitos do Corona estão muito além de ser contagiado ou não. As ciências sociais nos ajudam a perceber como as epidemias nos afetaram ao longo da história e como o debate sobre as formas de reagir a ela sempre envolvem questões que extrapolam o agente biológico. Essa também é a hora de olharmos para o conhecimento produzido pelas Ciências Sociais. 

Rodrigo Toniol
Professor de Antropologia da Unicamp

terça-feira, 16 de abril de 2019

Acesso a artigos cientificos mais facilitado - Revista Pesquisa (Fapesp)

Como sobreviver sem assinar revistas científicas

Ferramentas digitais e redes sociais ajudam estudantes e pesquisadores a encontrar artigos na internet


Bárbara Malagoli
Universidades de vários países estão criando novos arranjos para ampliar o acesso à literatura científica depois de suspender contratos de assinaturas com grandes editoras, considerados caros e abusivos. Para atender ao menos em parte as necessidades de informação de seus alunos e pesquisadores, as instituições apostam em ferramentas que ajudem a localizar na internet cópias de papers disponíveis em acesso aberto e no apoio de redes de bibliotecas e de mídias sociais para obter artigos de conteúdo restrito. A Universidade da Califórnia (UC), nos Estados Unidos, por exemplo, anunciou em fevereiro o rompimento com a editora holandesa Elsevier, por meio do qual, a um custo de quase US$ 11 milhões por ano, seus 273 mil estudantes e 68,4 mil docentes e pesquisadores podiam ler documentos publicados em 2,4 mil periódicos. Responsável por cerca de 10% de toda a produção científica norte-americana, a UC pressionava a Elsevier a aceitar um novo acordo, em que fariam parte de um único pacote o preço das assinaturas e as taxas pagas pelos pesquisadores da universidade para publicar seus artigos em acesso aberto em títulos da editora. A Elsevier insistiu em manter o esquema tradicional para a maioria de seus periódicos, cobrando assinaturas e taxas de publicação de artigos e exigindo quantias extras quando o autor quer divulgar seu paper livremente na web.
Sem poder consultar as revistas, a UC reuniu em uma página da internet um conjunto de caminhos alternativos para seus estudantes e pesquisadores. Sugeriu a eles adotar estratégias como a busca de papers em bases de dados acadêmicas, a exemplo do Google Scholar e do PubMed, e o uso de programas plugins, que oferecem funcionalidades específicas em navegadores da internet – nesse caso, localizar cópias em PDF de artigos científicos. Se isso não for suficiente, a recomendação é pedir ajuda às bibliotecas de seus 10 campi, que integram redes nas quais se compartilham artigos e livros, ou então usar redes sociais acadêmicas, em que é possível solicitar trabalhos diretamente a seus autores. “Apoiamos nossos professores, alunos e funcionários empenhados em quebrar as barreiras que impedem o compartilhamento de pesquisas inovadoras”, disse, em comunicado, a presidente da universidade, a advogada Janet Napolitano.
A estratégia da UC não chega a ser original. Recentemente, instituições de ensino superior da Alemanha, da Suécia e da Noruega também decidiram não renovar assinaturas de revistas da Elsevier e adotaram expedientes parecidos. “Essas ferramentas digitais deram às universidades um poder de barganha inédito”, avalia Abel Packer, coordenador da biblioteca de revistas de acesso aberto SciELO Brasil. “Antigamente, cortar assinaturas seria impraticável, pois inviabilizaria o trabalho dos pesquisadores. Hoje, as universidades têm alternativas.” Esse movimento ganhou mais fôlego em setembro do ano passado, quando a União Europeia e agências de fomento à pesquisa de 14 países lançaram o Plan S, iniciativa de alcance internacional que estabelece a partir de 2020 a publicação imediata em acesso aberto de artigos que receberam financiamento público (ver Pesquisa FAPESP nº 276).
Uma consulta a sites de busca, às vezes, é suficiente para localizar o PDF de um artigo – se ele estiver disponível, naturalmente. Nos últimos anos, surgiu uma série de ferramentas digitais gratuitas que tornam essa tarefa mais simples. Uma das mais populares é o Google Scholar Button, plugin que dá acesso ao conteúdo do Google Acadêmico e permite localizar textos disponíveis na web e em bibliotecas universitárias. Basta selecionar o título do documento na página que estiver sendo visitada e clicar no botão para localizar a íntegra.
Há outras extensões com as mesmas características, como o Open Access Button, desenvolvido por um grupo do Reino Unido ligado a uma rede de bibliotecas que promovem a publicação em acesso aberto. O serviço tem uma funcionalidade importante: se o artigo não estiver disponível na web, solicita-se diretamente ao autor uma cópia do trabalho. A manutenção e a atualização do Open Access Button foram garantidas, nos últimos dois anos, por uma doação de US$ 420 mil feita pelo fundo filantrópico Arcadia, mantido por Peter Baldwin, filantropo e professor de história da Universidade da Califórnia, Los Angeles. “Essas ferramentas funcionam dentro da legalidade e têm boas intenções. Mas seus resultados são sempre limitados, porque há muita pesquisa que não é publicada em acesso aberto”, afirma Moreno Barros, bibliotecário na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em história da ciência.
Outro exemplo bem-sucedido é o Unpaywall, serviço gratuito criado nos Estados Unidos que dá acesso a 22,7 milhões de artigos e manuscritos em preprint disponíveis em acesso aberto e papers de acesso pago que tiveram uma cópia arquivada legalmente em repositórios de instituições. Segundo a ImpactStory, criadora da ferramenta, ela atingiu em fevereiro a marca de 200 mil usuários ativos. Não é a solução para todas as demandas de pesquisadores, mas resolve ao menos a metade delas sem desrespeitar direitos autorais. Um levantamento feito em 2017 com base em buscas feitas por usuários do Unpaywall mostrou que 47% dos papers solicitados estavam disponíveis para leitura em algum lugar na web. “Oferecemos limonada de graça bem ao lado das bancas de limonada das grandes editoras”, disse ao The Chronicle of Higher Education o cientista da informação Jason Priem, que lançou o serviço em parceria com Heather Piwowar, pesquisadora da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.
A popularidade dessas ferramentas se explica: nem sempre é fácil encontrar um artigo mesmo quando ele está disponível em acesso aberto. Uma coisa é localizar um paper publicado em uma revista que não cobra assinatura e oferece todo o seu acervo na web – uma simples pesquisa na internet, nesses casos, consegue resolver. Desafio mais complexo é encontrar um texto divulgado em um periódico de conteúdo restrito, que teve uma cópia arquivada no repositório de alguma instituição. Frequentemente, eles não ficam bem indexados em sites de busca. Essa situação é frequente e os plugins facilitam o acesso ao rastrear múltiplos repositórios.
Embora disponíveis em acesso aberto, artigos arquivados em repositórios nem sempre são fáceis de encontrar
Em fevereiro, a FAPESP aperfeiçoou sua política para acesso aberto a publicações científicas, que foi lançada em 2008 e resultou na criação do Repositório da Produção Científica do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), abastecido com artigos, teses, dissertações e outros trabalhos científicos publicados por pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp) e Estadual Paulista (Unesp). As novas diretrizes estabelecem que artigos que resultem, total ou parcialmente, de pesquisas financiadas pela Fundação deverão ser divulgados em revistas que permitam o arquivamento de uma cópia dos papers em um repositório público, onde eles possam ser consultados na web por qualquer pessoa.
O arquivamento da cópia deverá ser feito assim que o paper for aprovado para publicação ou em prazos compatíveis com as restrições de cada revista – algumas delas impõem períodos de embargo entre seis meses e um ano. Os pesquisadores têm liberdade para selecionar os títulos nos quais querem publicar seus artigos, mas a recomendação é que a escolha recaia sobre títulos que permitam o depósito de cópias em um repositório. Para saber qual é o modelo de cada periódico, a sugestão é consultar o site Sherpa-Romeo, um serviço oferecido por um grupo de universidades de pesquisa do Reino Unido que reúne as normas adotadas por editoras ou sociedades científicas em relação ao acesso aberto de suas publicações.
Há revistas que permitem o depósito não do artigo publicado, mas de versões do texto anteriores ao processo de revisão por pares. A ferramenta Kopernio, que funciona como uma extensão de browsers, rastreia também cópias preliminares. Segundo seus criadores, consegue encontrar 70% dos manuscritos procurados pelos usuários. O serviço foi criado por uma startup e adquirido em 2018 pela Clarivate Analytics, responsável pela base de dados Web of Science. Baseia-se em um plugin que utiliza um software de inteligência artificial e pode ser usado também por quem tem direito de acessar artigos de periódicos fechados. O usuário deve abrir uma conta no serviço e informar se é afiliado a uma instituição ou assinante de alguma revista.
Biblioteca Geisel, da Universidade da Califórnia, em San Diego: contrato da instituição com a editora Elsevier custava quase US$ 11 milhões por anoLou Stejskal/Flickr
O Kopernio armazena os direitos de acesso e remete instantaneamente ao conteúdo se o artigo solicitado for de uma revista fechada. Essa facilidade pode ser útil, segundo os criadores do plugin, para quem tem assinaturas legítimas patrocinadas por suas instituições mas usa ferramentas de busca ilegais, apenas porque elas fornecem artigos com mais rapidez. “Muitos pesquisadores usam sites piratas não por necessidade, mas porque é mais conveniente”, disse à revista TheBookseller o norueguês Jan Reichelt, um dos criadores do Kopernio. Ele se referia ao Sci-Hub, repositório que franqueia cópias obtidas irregularmente de 64 milhões de artigos científicos. Antes de fundar a Kopernio, Reichelt foi um dos criadores do Mendeley, software organizador de bibliografias acadêmicas que se converteu em uma rede social de pesquisadores e foi comprado pela editora Elsevier em 2013.
Redes sociais também podem desempenhar um papel importante na busca de artigos científicos. Às vezes, pesquisadores com perfis na Research Gate, Academia, Mendeley e Humanities Commons oferecem cópias de seus trabalhos para download. Também é possível enviar mensagens diretas ao autor pedindo o artigo desejado. Outras estratégias são menos eficazes e não garantem que a obtenção do arquivo respeitou direitos autorais. É o caso da hashtag #icanhazpdf, usada na rede social Twitter. Pesquisadores associam a palavra-chave ao endereço da publicação desejada e esperam que outro usuário com acesso ao documento o compartilhe. A rede social Reddit também tem uma página usada para solicitar e divulgar cópias de artigos e livros.
De acordo com Abel Packer, da biblioteca SciELO, o compartilhamento de artigos em meio digital tornou-se uma versão moderna do empréstimo interbibliotecário – antes do advento da internet, pesquisadores procuravam bibliotecas em busca de artigos e livros e elas obtinham cópias em papel de instituições parceiras. “Hoje isso se faz por meio de redes sociais. Quando preciso de um artigo de difícil acesso, peço para alguém que o tenha”, afirma. Em algumas situações, a fronteira da legalidade é ultrapassada, mas esse limite, observa Packer, tornou-se difuso na comunicação científica. Um estudo publicado em 2017 por Heather Piwowar, do Unpaywall, mostrou que 58% dos artigos consultados livremente na internet vinham de periódicos de acesso fechado e foram disponibilizados pelas próprias editoras sem que houvesse licença formal para isso. “Editoras acabam fazendo um jogo duplo, pois não querem reduzir as chances de que os artigos de suas revistas sejam citados e tenham impacto”, explica.
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