Nos últimos meses a universidade sofreu ataques sistemáticos. A comunidade científica sentiu na pele a descontinuidade de seus projetos de pesquisa, vivenciou o corte de bolsas na pós-graduação e a perda de apoio para realização de eventos acadêmicos. Além disso, também nos vimos interpelados por acusações exdrúxulas como a de que os campi universitários possuem extensivas plantações de maconha. Agora, diante de uma crise global sem precedentes os pesquisadores são lembrados. Consultam os epidemiologistas, os estatísticos, os físicos, enfim, acionam a extensa rede de especialistas para entender o que está acontecendo, o que há por vir e como devemos agir. Nessas horas parece ser mais fácil de lembrar como o financiamento de pesquisa não é o mesmo que gasto puro e simples.
A pandemia do Corona colocou em nas nossas conversas cotidianas pelo menos três tópicos: questões biológicas sobre a dinâmica do vírus, a gestão política em tempos de epidemia e o crescente e generalizado pânico das populações. Sobre esses temas e, principalmente, sobre a articulação entre eles, as ciências sociais têm se dedicado há décadas. Somente nos últimos anos podemos recuperar os trabalhos sobre Zica, ebola, aids, malária e SARS. Pesquisas que receberam financiamento, que foram conduzidas com rigor e que agora nos ajudam a entender o momento que vivemos e também a imaginar algumas saídas para reduzir o impacto que o Corona terá em nossas vidas.
Com relação ao COVID-19, especificamente, houve uma uma resposta rápida por parte do site “somatosphere”, que publicou no dia 06/03 um fórum de debates que reuniu historiadores, cientistas políticos, sociólogos e antropólogos dispostos a refletir sobre os impactos dessa nova pandemia.
Este também é um momento oportuno para revisitarmos o blog da antropóloga Soraya Fleischer (UnB), que junto com seu grupo de pesquisa, apresenta histórias das pessoas que continuam vivendo os impactos da epidemia do Zica Virus. O Zica também foi tema da produção audiovisual de Debora Diniz, cujo curta metragem nos permite chegar mais perto dos dramas e dilemas de ser afetado por uma epidemia.
Como já temos percebido, os efeitos do Corona estão muito além de ser contagiado ou não. As ciências sociais nos ajudam a perceber como as epidemias nos afetaram ao longo da história e como o debate sobre as formas de reagir a ela sempre envolvem questões que extrapolam o agente biológico. Essa também é a hora de olharmos para o conhecimento produzido pelas Ciências Sociais.
Rodrigo Toniol
Professor de Antropologia da Unicamp
Links:
Textos Epidemia, saúde e antropologia - https://drive.google.com/open?id=1QdOEf3XSIqJwAXvL4qSELE1pop51jYqm
Documentário Zica, Debora Diniz - https://www.youtube.com/watch?v=m8tOpS515dA
Fórum Covid-19. http://somatosphere.net/2020/covid-19-forum-introduction.html/?fbclid=IwAR2wGhzy45BFBOqGAWLVX8G9RnX0Qc4IxQjNNT0FFq823OBNxGqagzdz3HA
Blog pesquisa Zica. https://microhistorias.wixsite.com/microhistorias
- Financiamento de pesquisa não é o mesmo que gasto - https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,o-exemplo-da-fapesp,70003213012
- Por que financiar pesquisas? https://revistapesquisa.fapesp.br/2016/08/18/os-impactos-do-investimento/
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