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segunda-feira, 30 de março de 2020

Entrevista do chanceler sobre a Covid-19 - Fernando Rodrigues, SBT, Poder 360


Liderança de combate à covid-19 é de países, não da OMS, diz Ernesto Araújo

Isolamento total é draconiano
Não há conflitos com a China
Ministro foi ao Poder em Foco
Poder em Foco com Fernando Rodrigues em parceria editorial do Poder 360 com o SBT, entrevista ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo. Sérgio Lima/Poder360 17.dez.2019

30.mar.2020 (segunda-feira) - 0h01
atualizado: 30.mar.2020 (segunda-feira) - 7h46
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Henrique Fraga Araújo, 52 anos, diz ser contra a liderança da OMS (Organização Mundial da Saúde) no combate à pandemia da covid-19 –doença causada pelo novo coronavírus.
Para o chanceler, apesar de a propagação da doença ter se estabelecido como uma crise global, “isso não significa necessariamente que a solução tenha que ser única”. O ministro defende a liderança dos países. Considera que deve ser levada em conta a especificidade demográfica e econômica de cada nação.
“A liderança disso [do combate à covid-19] tem que ser dos países, pois cada governo nacional sabe qual é a sua situação e pode avaliar, sobretudo países que têm a capacidade de ação, como nós temos, que têm serviços de saúde, que têm ao mesmo tempo uma economia com as características que a gente tem”, defende Ernesto Araújo em entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues, apresentador do programa Poder em Foco, uma parceria editorial do SBT com o jornal digital Poder360.
“Acho importante que as pessoas vejam a OMS como algo que facilita a coordenação entre os países”, diz. Para ele, o  organismo mundial não tem condições de impor políticas globais para todos os seus membros.
Assista à entrevista gravada em 27 de março de 2020 (47min01s):
O ministro defende que os órgãos internacionais atuem somente como 1 espaço para que as nações se coordenem, compartilhem estudos e facilitem a resolução dos problemas com novas ideias. No entanto, essas entidades multilaterais não devem se “sobrepor aos países”.
“Em qualquer ramo, 1 organismo internacional [que venha a] se sobrepor aos países, aos governos nacionais, que sabem o que eles precisam, não é a melhor prática. Respeitamos muito a OMS, mas talvez parte desse problema seja oriundo dessa percepção de que aquilo que a OMS diz tenha que ser uma regra mundial”, afirma.
Ernesto Araújo afirma que a OMS é uma “organização importantíssima” e está cumprindo seu papel de “chamar a atenção para o tema”, divulgando informações relevantes diariamente. Porém, segundo ele, a entidade deve ser vista como “1 intercâmbio de ideias sobre o que os países estão fazendo” e não 1 órgão que centraliza as medidas que devem ser adotadas no mundo.
“É claro que essas organizações têm prestígio, mas esse prestígio não deve levar [ao pensamento de] que se tenha essa obrigação de se ter políticas mundiais. Acho que está claro isso, [quando se percebe] que os grandes países no mundo estão com políticas diferentes. Alguns fecharam logo as fronteiras, outros não. A própria OMS, se eu não me engano, era contra [ao fechamento das fronteiras]”, diz.

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Na entrevista, o chanceler também fala sobre como o governo se posicionou em reunião do G20 –grupo das 20 maiores economias do mundo– e como as medidas adotadas pelos países em relação ao coronavírus podem servir de exemplo ao Brasil.
Segundo Ernesto Araújo, além do Brasil, apenas 6 dos 20 países do grupo adotaram o isolamento horizontal (para toda a população). O presidente Jair Bolsonaro é contrário à medida, que foi implementada pelos governos estaduais, e defende o isolamento vertical (somente para os grupos de risco).
Ao tratar sobre o processo de repatriação dos brasileiros, o ministro afirma que até o momento houve 14.000 pedidos de assistência para retorno ao país. Já foram atendidos 7.000.
O chanceler comentou as declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que culpou a China pela pandemia da covid-19. Segundo ele, a declaração do filho do presidente “não é a opinião do governo”. Indagado sobre se os chineses teriam demorado em informar ao mundo sobre a doença, o ministro disse que não adianta olhar para trás, pois o momento agora é “de evitar o colapso econômico” e se concentrar no combate ao novo coronavírus.
Ernesto Araújo afirma que a aproximação de Bolsonaro do governo dos Estados Unidos não afeta as relações comerciais com o país asiático. “Nossa aproximação dos Estados Unidos, que tem sido muito intensa e produtiva, não significa problema ou afastamento da China”, diz.
O ministro descreve ainda como é sua relação com Olavo de Carvalho e a influência que o escritor conservador brasileiro radicado nos EUA tem sobre a política externa do país. A respeito de Nicolás Maduro, afirma que o governo venezuelano tem “simbiose com o narcotráfico”.

SÓ 6 DOS 20 PAÍSES ESTÃO EM ISOLAMENTO

Ernesto Araújo diz que, além do Brasil, apenas 6 países do G20 fazem isolamento horizontal (confinamento de toda a população para conter a propagação do coronavírus): África do Sul, Argentina, Itália, Espanha, Índia e França. Os Estados Unidos e a Alemanha têm quarentena total em alguns Estados. Para o chanceler, a adoção da medida “depende da realidade de cada país”.
“Cada país sabe o que é melhor para a sua população de acordo com sua estrutura demográfica e econômica”, defende.
Ao se posicionar contra o isolamento integral no Brasil, o ministro diz que o confinamento promovido em alguns países europeus não deve ter 1 impacto econômico tão grande quanto pode haver ao realizado no Brasil em 1 mesmo período.
“Alguns países europeus em confinamento integral têm a população com a estrutura etária bem mais idosa e com todo tipo de mecanismos sociais. São países que praticamente não têm uma economia informal. Então, uma pessoa [desses países] ficar em casa 1 ou 2 meses recebendo algum tipo de subsídio é uma coisa. Outra coisa é no Brasil, com a quantidade de pessoas que são autônomas e que dependem de estar na rua, de haver uma circulação de pessoas para conseguir desempenhar sua função e conseguir renda”, argumenta.
Depois da gravação da entrevista, o ministro conversou por telefone com o Ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, que confirmou que também adotou o isolamento compulsório total. Com isso, 7 países do G20, além do Brasil, adotam o isolamento horizontal. São eles: África do Sul, Argentina, Itália, Espanha (não faz parte do G20, mas é convidada para as reuniões do grupo), Índia, França e Reino Unido.

ISOLAMENTO TOTAL É DRACONIANO

Ernesto Araújo rebate críticas à estratégia defendida por Bolsonaro de isolar somente as pessoas que estão no grupo de risco (idosos, diabéticos, hipertensos e quem tem insuficiência cardíaca, renal ou doença respiratória crônica) da covid-19.
O posicionamento do presidente foi manifestado em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV na última 3ª feira (24.mar.2020). Ao menos 13 governadores criticaram e lamentaram a fala do chefe do Executivo.
Para o ministro, o isolamento integral, adotado nos Estados por determinação dos governadores, é uma medida draconiana.
“De repente, começou-se a achar que todos os países começaram a determinar a quarentena integral e só o Brasil e só o presidente Jair Bolsonaro que quer uma solução diferente. Não é. A maioria dos países, dentro do G20, pelo menos, estão implementando outro tipo de medida que não essa medida tão draconiana, que digamos [que seja] a quarentena integral”, diz.
Segundo o ministro, a proposta de fazer com que a população deixe o isolamento horizontal e seja implementado o confinamento só para os mais vulneráveis à doença ainda está em estudo. “Há 1 esforço de todo o governo. Estamos fazendo 1 esforço de coordenação diária, várias reuniões por dia. Isso [o fim do isolamento horizontal] tem que ser visto”, afirma.
Na última semana, o governo lançou nas redes sociais vídeo com o slogan “O Brasil não pode parar”. O comercial reforça mensagens pregadas nos últimos dias pelo presidente Jair Bolsonaro, que critica a paralisia da economia em nome do isolamento social para prevenção à covid-19.
A Justiça mandou o Planalto suspender a campanha porque a medida propagada pelo presidente “pode violar os princípios da precaução e da prevenção”, impactando e colocando em risco “os grupos vulneráveis, notadamente os idosos e pobres”.
O governo contratou por R$ 4,8 milhões a agência iComunicação para cuidar de serviços digitais. A contratação foi classificada como “emergencial” e realizada sem licitação.
Em nota, o governo negou que a campanha fosse oficial, embora o site do próprio Planalto tenha divulgado (e depois apagado) o slogan.

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