Richard Francis Burton |
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Nascimento | 19 de março de 1821 Torquay |
Morte | 20 de outubro de 1890 (69 anos) Trieste |
Nacionalidade | Britânico |
Ocupação | Escritor, tradutor, linguista, geógrafo, poeta, antropólogo, orientalista, erudito, espadachim, explorador, agente secreto e diplomata |
Capitão Sir Richard Francis Burton KCMG FRGS (
Torquay,
19 de março de
1821 —
Trieste,
20 de outubro de
1890) foi um
escritor,
tradutor,
linguista,
geógrafo,
poeta,
antropólogo,
orientalista,
erudito,
espadachim,
explorador,
agente secreto e
diplomata britânico.
Das explorações e aventuras como agente e estudioso na
Ásia e
África aos escândalos e controvérsias que permearam sua vida, Burton é sem dúvida uma das personalidades mais extraordinárias e fascinantes do século XIX. Falava 29
idiomas e vários
dialetos, sendo perito na arte do disfarce, o que lhe possibilitou em seus anos de militar na
Índia e em
Sindh viver entre os povos do
Oriente, os quais registrou em uma série de livros. Estudou os usos e costumes de povos asiáticos e africanos, sendo pioneiro em estudos
etnológicos. Viajou a cidade sagrada de
Meca, mortalmente proibida a não
muçulmanos, disfarçado de afegão, e também a Harar, capital da
Somália, de onde nenhum outro homem branco havia saído com vida. Junto com John Haning Speke explorou a região dos Grandes Lagos africanos e descobriu o
lago Tanganica. Serviu como cônsul em
Fernando Pó, atual
Bioko,
Damasco,
Santos e Trieste. Percorreu, também, o rio São Francisco, passando longo período em
Minas Gerais e na
Bahia. Traduziu uma versão não censurada de
As mil e uma noites, acrescentando uma série de notas a respeito de
pornografia,
homossexualidade e
sexualidade feminina. Sob o risco de ser preso, traduziu manuais eróticos, entre eles o
Kama Sutra, e mandou imprimi-los. Sua postura liberal e interesses eruditos contribuíram para torná-lo uma figura polêmica e controversa na
Inglaterra, pois despertou a fúria e o puritanismo
vitoriano. Casou-se com Isabel Arundell, uma católica inglesa. Recebeu o título de Cavaleiro da rainha
Vitória do Reino Unido em 1886. Faleceu na cidade de Trieste, onde recobria o cargo de cônsul britânico, em 1890.
Richard Francis Burton nasceu em Torquay, Devon, às 9:30 da noite, em 19 de março de 1821 (em sua autobiografia, ele erroneamente diz ter nascido em
Elstree,
Hertfordshire). Seu pai, Joseph Neterville Burton, ocupava a posição de tenente coronel do exército inglês e havia nascido na
Irlanda, embora de linhagem inglesa. A mãe de Burton chamava-se Martha Baker, herdeira de uma fortuna considerável. A criança foi batizada em 2 de Setembro de 1821 na Igreja de Elstree. Teve um irmão chamado Edward Burton e uma irmã chamada Marie Katherine Elizabeth Burton.
Devido a complicações respiratórias, Joseph Burton viajaria com sua família pelo continente, fixando-se ora em cidades francesas ora em cidades italianas, em busca de um clima ameno, puro e seco, o contrário da Inglaterra.
Preocupado com a educação de seus filhos, contratou professores particulares, mas o aprendizado dos meninos foi durante algum tempo negligenciado. E como se não bastasse o problema da instrução, havia as constantes brigas e desafetos, aventuras e travessuras em que Richard e seu irmão se metiam. O pequeno Burton "logo deu mostras de um traço violento em seu caráter. Aos cinco anos quis matar o porteiro por ter troçado de suas armas de brinquedo". Aos três anos de idade, Burton receberia as primeiras noções de latim. Aprenderia com facilidade e rapidez o
francês e o
italiano.
A indisciplina e a rebeldia dos irmãos Burton era tremenda: em
Nápoles, conheceram um grupo de prostitutas; em Pau, na
França, foram convidados por contrabandistas a fazerem parte de uma quadrilha. Durante a adolescência no continente eram ingovernáveis: "Experimentamos de tudo o que se possa imaginar, inclusive a mascar e a fumar
ópio".
Mas essa vida desregrada estava com seus dias contados. Em 1840, o coronel Burton e seus dois filhos retornam a Inglaterra. Estava decidido: Richard ingressaria no
Trinity College,
Oxford. De imediato a
universidade causou-lhe má impressão e não demorou muito para criar os primeiros atritos. Embora fosse bom aluno, suprindo as deficiências de sua
educação e se igualando aos colegas, Burton não sentia qualquer entusiasmo pela vida acadêmica. Logo ficaria conhecido por desafiar colegas para duelos, andar com
prostitutas e frequentar acampamentos
ciganos. Era patente o seu desprezo por colegas e professores, lamentando ter de passar a vida cercado de quitandeiros. Ele estava profundamente frustrado, pois via o modo como os outros estudantes "desaprovavam minhas maneiras estrangeiras, e minha aversão pelo colégio e pela universidade, em relação aos quais eu deveria me mostrar sentimental, terno e
romântico, era quase uma blasfêmia".
Na primavera de 1842, após desafiar a proibição da universidade e ir assistir a uma corrida de cavalos, Burton foi expulso de Oxford. Não que ele fizesse muita força para ficar. Na verdade tinha outros planos: ingressar na carreira
militar, nas fileiras da Ilustre
Companhia das Índias Orientais, a empresa que monopolizava o
comércio com a Índia e outras partes do Oriente. Ao abandonar a universidade sobre o alto de um coche, tocava uma trombeta de quase um metro. Com as rodas da carruagem destruiu os canteiros, acenando e mandando beijos para as moças das lojas.
Em 1842, Burton parte para a Índia com o intuito de engrossar as fileiras do 18.º Regimento da Infantaria Nativa de Bombaim,
exército da
Companhia das Índias Orientais. Mesmo sem saber, estava rumando para o que ficou conhecido com o Grande Jogo: a disputa entre as potências europeias por territórios na
Ásia Central e
Ocidental. Permaneceu em
Bombaim durante poucas semanas, mas foi ali que começou a exercitar e aprender as línguas
hindustâni,
guzerate e
persa, e onde também adentrou no fascinante e exótico mundo nativo por meio dos
bazares e
bordéis.
Recebendo ordens da Companhia, Burton parte para
Baroda, uma cidade em Gujerate. Lá se envolveria com aquela que ele chamou de "booboo", uma esposa nativa, costume amplamente disseminado entre os ingleses na Índia. Adentraria no
catolicismo, o que faria Isabel Burton afirmar que Richard era um católico. É mais provável, no entanto, que ele fosse
agnóstico, embora posteriormente nutrisse franca veneração pelo
Islamismo. Foi iniciado como
brâmane em uma
seita das mais misteriosas e primitivas, cujos sacerdotes adoravam a serpente, “naga”. Chegou ao ponto de receber uma honra nunca antes concedida a um ocidental ou recente convertido: a autorização para usar o
Janeo, o cordão bramânico de três fios de algodão. Isso dava a Burton o direito de pertencer a mais elevada
casta hindu.
Seu constante interesse e sua participação contínua na vida social e cultural nativa rendeu-lhe por parte dos colegas oficiais o apelido de "negro branco".
Em 1843 foi requisitado em
Karachi, na província de
Sindh, onde iria servir sob o
Almirante Charles Napier. A serviço deste percorreu as mais diversas regiões de Sindh, o
delta do Indo, chegando às fronteiras do
Punjab, atravessando as colinas
baluchis, usando sempre do disfarce (
comerciante,
peão,
dervixe), conseguindo transitar por diversas
tribos, numa época em que outros foram mortos em pleno exercício da
espionagem. Embora bastante conhecida e mencionada, de sua participação como
agente secreto pouco se sabe, pois Burton não a menciona abertamente em seus livros.
Data dessa época seu envolvimento com o
islamismo, que ele defendeu como a verdadeira fé salvadora, sendo um praticante confesso durante toda a sua vida, embora com algumas recaídas. Foi iniciado também na via mística do Islamismo, o
sufismo, e entraria para a ordem Qadiris, a mais poderosa e difundida até então. Richard seria um pioneiro na divulgação dessa
doutrina.
Burton esteve ligado ao Setor de Levantamentos de Sindh, um departamento de pesquisas e informações topográficas, aprendendo com o uso de equipamentos rústicos e simples a medir distâncias, conhecimento que seria válido em suas futuras explorações na
Arábia e na
África Oriental.
Designado por Napier para investigar os bordéis de Karachi, iria denunciar em um relatório o envolvimento de oficiais britânicos com jovens rapazes que se prostituíam, o que lhe valeu sérios danos a sua reputação, pois seus detratores logo levantaram a hipótese da participação de Burton nos bordéis.
Em março de 1849, após contrair uma séria enfermidade, frustrado com a vida na Índia (onde despertou a fúria de muitos e poderosos inimigos), Burton retorna a Inglaterra.
Cerca de um ano após seu retorno, Burton se instala em
Boulogne. Dá início a um estudo exaustivo e rigoroso de
esgrima, e seu manejo se tornaria célebre entre ingleses e franceses. Dividia seus interesses entre a escrita e as mulheres: estava envolvido com a redação de quatro livros ao mesmo tempo. Prolífico e criativo, mesmo assim Burton logo se viu visitado pela melancolia e seria assaltado por sérias depressões no decorrer de sua vida. Apaixonou-se por uma de suas primas, Elizabeth Stisted. Richard fazia muito sucesso entre as damas e teve inúmeros casos amorosos. "Como era não apenas um homem bonito, mas de forte magnetismo, as mulheres se apaixonavam por ele às dúzias". Acabaria conhecendo em Bologne sua futura esposa, Isabel Arundell.
Em 1853 parte para o Cairo com o intuito de visitar a cidade sagrada de Meca e "estudar meticulosamente a vida íntima do muçulmano". Sob os auspícios da
Royal Geographical Society de
Londres e a licença de um ano do exército, Burton iria realizar o famoso
hajj, a peregrinação que todo devoto deve fazer à Meca pelo menos uma vez na vida, tendo condições físicas e financeiras para tal. Além do interesse religioso, havia a finalidade de conhecer e preencher lacunas cartográficas a respeito das regiões orientais e centrais da
Arábia que eram desconhecidas.
Suas experiências anteriores seriam de grande importância, uma vez familiarizado com o comportamento e costumes dos muçulmanos, pois disfarçado de peregrino teria que seguir à risca detalhes do modo de ser dos islâmicos: vestimenta, as minúcias de beber e comer, sentar e urinar, defecar, dormir e rezar, sem falar na prova inconteste de ser ou não um muçulmano, a
circuncisão. Se Burton cometesse algum erro e fosse descoberto poderia ser morto.
Foi aconselhado por outro peregrino a abandonar o disfarce de hajj
ajami e assumir o de
pathano, homem nascido na Índia e de pais
afegãos, uma vez que esse novo disfarce justificaria qualquer peculiaridade de seu
sotaque. De toda a sua experiência nessa perigosa viagem resultaria um livro,
The pilgrimage to Al-Medinah and Meccah (1855).
Em 1854, segue em direção a Bombaim de onde começou a formular uma nova aventura: uma expedição à
África, mais especificamente à costa da
Somalilândia, que seguiria então para o interior até
Harar, rumando em seguida para o sul, na esperança de localizar as famosas e misteriosas fontes do
rio Nilo. A
África Oriental e seus portos apareciam, então, aos olhos da
Companhia das Índias Orientais, ávida em seus interesses estratégicos e comerciais.
O objetivo mais imediato de Burton era a lendária cidade de Harar. Mas de início ele logo sofreu oposição por parte de seus inimigos quanto à expedição pela
Somália, que fariam de tudo para prejudicar seus planos. Em setembro desse ano conheceria o Capitão
John Haning Speke, a princípio seu companheiro e amigo e logo um terrível rival.
Seguiu sozinho para a cidade sagrada de Harar, cujos muros nunca haviam sido ultrapassados por nenhum europeu. Seus líderes eram hostis até mesmo com os
cristãos abissínios. Contava com a fama de ser um centro do islamismo e também como ponto do
tráfico negreiro. Existia uma tradição que a cidade encontraria sua ruína à entrada do primeiro cristão.
Superstição ou não, Harar cairia vinte anos após a visita de Burton.
Ao entrar na cidade, foi apresentado ao governador, o
Emir. Sob suas dependências, correndo o risco de ser morto, não ousou sequer tomar notas. A expedição durou quatro meses e trocando cumprimentos e votos mútuos, Burton se despediu do Emir.
Em companhia do Capitão
Speke, do tenente
G. E. Herne e do tenente
William Stroyan, junto com um contingente de carregadores africanos, Burton seguiu com os objetivos da Expedição Somali: a busca da nascente do Nilo. Mas em
Berbera a expedição foi terrivelmente atacada por um grupo de
tribos somalis. As consequências foram trágicas: Stroyan foi barbaramente assassinado; Speke fora capturado mas escapou com inúmeros ferimentos e Burton teve um dardo penetrado pela sua face esquerda, o qual saiu pela direita, arrancando dois molares e cortando o céu da boca.
Os detratores e opositores de Burton e da Expedição logo acharam a oportunidade de culpar o Capitão pelo fracasso da missão. Houve uma investigação, mas mesmo não tendo culpa no ocorrido, o fato contribuiria negativamente para a carreira de Burton.
Em 1855, reincorporou-se ao exército a partiu para
Balaklava, esperando participar da
guerra da Crimeia. Conseguiu um posto numa unidade de
cavalaria chamada "Cavalaria de Beatson", cujo nome popular era "Cabeças Podres". Estes se envolveram em um motim e durante a investigação, Burton teve seu nome citado. Conseguiu, contudo, contornar a situação, apesar dos novos danos a sua reputação.
Explorações de Burton, Speke e Grant pela África Oriental.
Conseguindo um novo patrocínio da
Royal Geographical Society, em 1857, Burton partiu para a sua mais famosa exploração e também para o desfecho amargo e trágico com John Haning Speke. Eles partiriam de
Zanzibar para explorar o
coração da
África e tentar descobrir as lendárias nascentes do
Nilo, uma empresa romântica e altamente perigosa. Contudo, seu verdadeiro objetivo era levantar um conjunto de informações a respeito de erros geográficos e também verificar os possíveis recursos da
África Central e intertropical.
A expedição sofreu com vários contratempos: roubos e problemas de conduta por parte dos carregadores e também as várias moléstias que acometeram Burton e Speke (Richard contraiu
malária e teve inúmeras febres, sendo carregado em algumas partes da expedição; John contraiu uma espécie de
cegueira e teve problemas em um dos ouvidos). Ambos prosseguiriam constantemente doentes África adentro. Em 1858, apesar de todos os percalços, Burton descobriu o
lago Tanganica. Seu companheiro, ainda sofrendo de cegueira, foi incapaz de divisar o lago. O mal tempo e a perda de instrumentos preciosos, bem como a hostilidade dos nativos, foram os grandes vilões da expedição.
O lago Tanganica visto de um satélite.
Em suas constantes conversas com mercadores
árabes, Burton tomou conhecimento da existência de um grande lago mais ao
norte. Para evitar problemas, enviou Speke com o intuito de fazer um reconhecimento da região, uma vez que a presença deste junto dos nativos e árabes que acompanhavam a expedição não era bem quista. Speke demonstrava aos poucos a verdadeira têmpera de sua personalidade: um homem intolerante e bruto, insensível e profundamente ignorante quantos aos costumes dos nativos, ambicioso, sendo que frequentemente ofendia os carregadores, o que contribuiu muito para sua impopularidade na expedição.
Speke acabaria encontrando o
lago Vitória, afirmando prematuramente ter descoberto a verdadeira fonte do Nilo. Os dois companheiros discutiriam a validade de tal afirmação, o que aumentou ainda mais o fosso entre os dois: Burton lamentaria que desde a descoberta do Vitória, seu amigo mudara radicalmente.
A disputa pública que se seguiu na Inglaterra acabaria por desfazer qualquer laço de
amizade. Speke não cumpriria o combinado de apresentar-se em conjunto com Burton, pois ambos fariam um
discurso aberto a respeito da expedição. Ao chegar em
Londres, Richard encontrou Speke transformado em uma celebridade, vendo todo seu desempenho reduzido.
Inúmeras vezes Speke tentou denegrir e manchar a reputação de Burton. A descoberta do Vitória, entretanto, não mostrou conclusivamente que a fonte do Nilo era o lago. Burton e outros alegaram que as informações de Speke eram superficiais e imprecisas.
O desfecho de tão amarga, controversa e pérfida disputa ocorreu em 16 de setembro de 1864: Burton e Speke iriam se encontrar frente a frente para um debate público na região da
British Association. Mas uma
tragédia ocorreu: Speke morrera atingido por sua própria arma. Aquilo abalaria Burton profundamente. Visivelmente transtornado, Richard decidiu não dar o seu discurso.
Com influência de sua esposa, Burton conseguiu uma transferência para
Santos, no
Brasil, que descreveu em seus livros. Em 1869 foi nomeado para o
consulado de
Damasco, o que de imediato despertou controvérsias. Seus inimigos se movimentariam bastante para que seu desempenho no consulado fosse prejudicado.
Embora seus livros abrissem caminhos por onde outros poucos e ousados escritores penetraram, de fato essas obras não eram bem recebidas pela crítica, tanto por serem novas quanto por abordarem temas que a
Inglaterra vitoriana não se atrevia a comentar. Traduziu obras clássicas que contribuiriam para ampliar a visão
ocidental sobre o
sexo. As mais conhecidas foram o
Kama Sutra (1883);
O livro das mil e uma noites (1885), cuja tradução causou frênesi entre os vitorianos devido a uma série de notas onde figuravam temas polêmicos considerados tabus na época, e também por seu erudito Ensaio Final, onde apresenta a história, os usos e costumes, os princípios e a religião de vários povos, além de relacioná-los com outras culturas. O Ensaio ficou famoso por discursar sobre a
homossexualidade, um feito corajoso e ousado em uma sociedade que condenaria o ilustre
Oscar Wilde a dois anos de prisão por
sodomia. (Traduziu também
Os Lusíadas de
Luís de Camões, para o inglês, em 1880.)
Em 1886, Burton recebeu o título de Sir da
Rainha Vitória, por serviços prestados a Inglaterra (recompensa um tanto quanto relutante por parte do governo por suas descobertas e contribuições científicas).
Recebeu o consulado de
Trieste, em 1872,como um
exílio, comparando-se ao poeta latino
Ovídio quando este havia sido banido para uma pequena cidade portuária no
delta do Danúbio por sustentar opiniões impopulares. Não pode deixar de fazer uma analogia entre o nome Trieste e a obra de Ovídio no exílio,
Tristia.
A tumba onde estão sepultados Richard e Isabel.
Na manhã de 20 de outubro de 1890, Burton faleceu vítima de um
ataque cardíaco. A conduta de sua esposa, que providenciou um padre para realizar os ritos no mais exato estilo católico, gerou controvérsias entre ela e os amigos de Burton que a condenaram. Mas o que se seguiu foi ainda mais grave: preocupada com a reputação e memória do marido, Isabel ordenaria a queima de inúmeros materiais, notas, diários e documentos acumulados por Burton em quarenta anos de viagens e pesquisas. Isabel e Burton estão sepultados em uma
tumba em forma de tenda árabe em
Mortlake.
Burton ao longo de sua vida foi ao mesmo tempo um brilhante
linguista e aventureiro temerário, bem como uma figura complexa e polêmica. Sobre sua existência pairava uma série de rumores e suas opiniões (o abuso de poder inglês nas novas colônias e a iminência de uma revolta nativa, o ensino universitário deficiente, a
liberalização sexual, a
abolição do tráfico negreiro) e seus interesses singulares (
afrodisíacos,
circuncisão,
castração,
poligamia) contribuiriam para torná-lo uma pessoa não muito bem vinda nos lares vitorianos.
Em seus livros e traduções, notas e ensaios, comentou abertamente os mais variados hábitos sexuais dos povos que explorou, sendo preciso e minucioso: chegou a medir o
pênis de um africano. Os inúmeros detalhes e temas e a maneira franca e ousada como os dissertava ofendiam a moral vitoriana e a
classe media inglesa. Sua vida na Índia demonstra que participou ativamente de rituais sexuais e religiosos dos nativos, o que representou uma quebra e uma afastamento da moral cristã ocidental, rompendo com tabus sexuais, raciais e sociais de seu tempo.
Após relatar a ocorrência de oficiais britânicos que usavam dos serviços de jovens rapazes nos bordéis de
Karachi, não faltaram rumores relacionando Burton e a
homossexualidade, que pairou sobre sua vida desde então, especulada ainda mais por sua amizade com o poeta
Algernon Swinburne e por andar frequentemente em companhia de jovens rapazes. Era viciado na maioria das drogas na época, fazendo uso do
ópio e
haxixe. Sofria de constantes depressões e durante o início da vida adulta teve problemas com o
alcoolismo.
Os biógrafos estão em desacordo sobre se Burton teve ou não relações homossexuais (ele mesmo jamais o reconheceu explicitamente em seus escritos). Estas alegações tinham começado no
Exército por ocasião de uma investigação secreta a pedido do almirante
Charles Napier, efetuada dentro de uma casa fechada masculina frequentada por soldados britânicos. Alguns enxergaram na precisão de detalhes do relato de Burton uma indicação de que ele próprio frequentava o estabelecimento. Seus escritos posteriores sobre o tema da
pederastia e o fato de que o casal Burton tenha se mudado sem filhos alimentaram ainda mais as especulações.
[1]
Burton possuía uma natureza explosiva e irascível, seu temperamento irônico despertou inimigos em diversos cantos do mundo.
Notas e referências
- ↑ (em inglês) BURTON, Richard F. The Book of the Thousand Nights and a Night (Volume 10, ensaio final, seção "D"), 1885.
- A Rage to Live: A Biography of Richard & Isabel Burton by Mary S. Lovell (W.W. Norton & Company Inc.: New York 1998).
- Journey to the Source of the Nile by Christopher Ondaatje (HarperCollins Publishers Ltd.: Toronto 1998).
- Sindh Revisited: A Journey in the Footsteps of Captain Sir Richard Francis Burton by Christopher Ondaatje (HarperCollins Publishers Ltd.: Toronto 1996).
- Burton: Snow on the Desert by Frank McLynn (John Murray Publishing 1993).
- Of No Country: An Anthology of Richard Burton by Frank McLynn (Charles Scribner's Sons: New York 1990).
- Captain Sir Richard Francis Burton: The Secret Agent Who Made the Pilgrimage to Makkah, Discovered the Kama Sutra, and Brought the Arabian Nights to the West by Edward Rice (Charles Scribner's Sons: New York 1990).
- Burton and Speke by William Harrison (St Martins/Marek & W.H. Allen 1984).
- The Devil Drives: A Life of Sir Richard Burton by Fawn M. Brodie (W.W. Norton & Company Inc.: New York 1967).
- Burton: A Biography of Sir Richard Francis Burton by Byron Farwell (Penguin Books: London 1963).
- Death Rides a Camel by Allen Edwardes (The Julian Press, Inc.: New York 1963).
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