O Brasil isolado do mundo
Paulo Roberto de Almeida
A atitude do governo brasileiro, no mais alto escalão do executivo – que se reduz ao chefe do Estado e a um extremamente reduzido círculo íntimo –, assim como no plano de sua postura internacional, tem revelado um inacreditável isolamento em relação a certo consenso mundial em torno das melhores formas de se reduzir o impacto de calamidades naturais. Tal atitude irresponsável não vem de agora, vinculado especialmente ao fenômeno do Covid-19, mas já se manifestava desde o início do atual governo, em relação a meio ambiente, por exemplo, mas também aos direitos de minorias, assim como aos direitos humanos de maneira geral. O governo Bolsonaro se coloca voluntariamente na contramão de tendências globais, inclusive demonstradas agora no caso daquele a quem considera seu principal aliado externo, e se refugia num pequeno círculo de ideólogos supostamente antiglobalistas que só conseguem expressar preconceitos e ignorância, recusando os dados básicos da ciência e da pesquisa. Lamento profundamente o espetáculo de confusão que o Brasil oferece atualmente ao mundo."
Jamais, numa história de quase 200 anos, o Brasil e sua diplomacia tinham assistido a tal grau de isolamento internacional, jogando as elites dirigentes num descrédito nunca antes igualado, mesmo nas piores crises econômicas ou graves violações de direitos humanos, que invariavelmente atingiram populações autóctones, o povo mais pobre, crianças de rua, etc. Não creio que existam precedentes para a atual esquizofrenia de alguns membros dos círculos do poder.
Paulo Roberto de Almeida, embaixador, atualmente lotado na Divisão de Comunicação e Arquivo do Itamaraty, professor no Uniceub.
Brasília, 31 de março de 2020
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