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terça-feira, 15 de agosto de 2017

A dimensão diplomatica no pensamento economico de Roberto Campos - Paulo Roberto de Almeida

Este foi o primeiro trabalho que fiz, ao correr da pena, ou direto no teclado, sobre o Roberto Campos, preparatório a todos os demais trabalhos feitos em 2017, e que resultaram nas colaborações a dois livros, um que eu próprio organizei, este aqui: 

Paulo Roberto de Almeida (org.), O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Editora Appris, 2017, 373 p.; ISBN: 978-85-473-0485-0)


com dois capítulos, ademais de outros acréscimos editoriais: 
“Roberto Campos: o homem que pensou o Brasil” [Introdução], pp. 19-33 
 e “Roberto Campos: uma trajetória intelectual no século XX”, pp. 203-355

e este outro, com o qual colaborei nada menos do que três vezes, ou seja três capítulos distintos:
Ives Gandra da Silva Martins e Paulo Rabello de Castro (orgs.), Lanterna na Proa: Roberto Campos ano 100 (São Luís, MA: Resistência Cultural Editora, 2017, 344 p; ISBN: 978-85-66418-13-2) 


“Bretton Woods: o aprendizado da economia na prática”,  pp. 52-56
“Fundando um banco de desenvolvimento: o BNDE”,  pp. 71-74
 “Roberto Campos: receita para desenvolver um país”,  p. 245-248

O trabalho foi feito sem consulta a fontes, apenas destacando o que eu mesmo conhecia das atividades de Roberto Campos, pela leitura anterior de suas Memórias, ou de outros textos. Eu ainda não tinha buscado todos os seus livros, os quais li, ou reli, nos dois primeiros meses de 2017.
Este aqui foi escrito improvisadamente em meados de novembro de 2016.
Paulo Roberto de Almeida 


A importância da dimensão diplomática no pensamento econômico e na atividade pública de Roberto Campos

[Notas preliminares]

Todos os homens públicos chamados a exercer funções executivas pela via do  mandato popular, e mesmo tecnocratas guindados a posições de igual responsabilidade sem dispor necessariamente de um mandato político, moldam suas ações e decisões por meio de uma combinação variável entre formação teórica – geralmente de tipo acadêmico, mas também resultante de uma educação qualquer – e experiência prática, ou seja, aquela que se adquire ao longo da vida, no contato com a máquina pública ou com atividades no setor privado. Os polos inevitáveis de qualquer ação governamental são justamente constituídos pelo relacionamento complexo entre esses três fatores: uma formação teórica do indivíduo chamado a desempenhar funções públicas, o peso das atividades produtivas, que são majoritariamente dominadas, nas economias de mercado, por empresários privados, e a própria atividade governamental, que é representada pelo ambiente regulatório criado pelo Estado para enquadrar essas atividades privadas.
Roberto Campos não foi, provavelmente, o primeiro, ou o único, membro do Serviço Exterior brasileiro dotado de formação econômica que tivesse desempenhado funções importantes na burocracia pública, ao longo da República de 1946 e, depois, durante o regime militar, e mesmo mais além. Mas ele foi certamente um dos poucos, senão o único, economista de formação que tenha se beneficiado de suas atividades enquanto agente diplomático para moldar suas ações e decisões de cunho econômico enquanto exercendo funções públicas de relevo, ao longo desses diferentes regimes políticos, que se estendem de meados dos anoso 1940 até praticamente o final do século 20. Essa rara combinação de sólida formação teórica, no campo da economia, com a experiência prática adquirida na diplomacia, e seu envolvimento em conferências diplomáticas em momentos decisivos da formulação e implementação da ordem econômica mundial que, de certa forma, ainda é a nossa – qual seja, o universo conceitual e organizacional de Bretton Woods e do sistema multilateral de comércio – permitiu que Roberto Campos combinasse essa expertise nascida do estudo da economia com a vivência real em instâncias definidoras da estrutura contemporânea da economia mundial para exercer seus talentos na burocracia pública o com brilho invulgar que sempre o caracterizou, e que o marcaram como um dos homens públicos que mais influência exerceram tanto sobre o ambiente regulatório brasileiro dessas décadas, quanto sobre o próprio debate público na área econômica (e até política), ou seja, sobre o pensamento econômico brasileiro da segunda metade do século 20 (e de certa forma ainda hoje). Ele se coloca naquela categoria de pensadores levados ocasionalmente a se desempenhar em funções públicas, capazes, assim, de exercer tremendo impacto sobre as ações e as concepções de muitos outros homens públicos, e mesmo sobre a sociedade em geral.
Numa comparação talvez exagerada, Roberto Campos poderia ser equiparado a homens da estatura de George Kennan, nos Estados Unidos, ou da de Raymond Aron, na França, ou seja, cidadãos dotados dessa rara combinação de conhecimento derivado do estudo e de uma grande experiência de vida obtida na convivência direta com momentos decisivos da história mundial – as duas grandes guerras da primeira metade do século, a depressão econômica, a emergência do socialismo como força mundial, a reconstrução econômica das democracias de mercado, a Guerra Fria e a descolonização, a inserção dos países em desenvolvimento na ordem mundial – e que puderam, a partir daí, influenciar políticas públicas e o próprio debate de alta qualidade na sociedade de forma geral, vindo a converterem-se em referências obrigatórias tanto na definição prática dessas políticas, quanto no conteúdo e no estilo do pensamento político e econômico, e diplomático também, que marcaram suas sociedades respectivas.
Roberto Campos teve a rara chance de, começando sua carreira diplomática pela embaixada em Washington, integrar a delegação brasileira à conferência de Bretton Woods, em julho de 1944 nos Estados Unidos (não propriamente como delegado, mas como assessor diplomático da delegação), e de ter assim assistido ao momento definidor da ordem econômica mundial do pós-guerra. Posteriormente, ele também integrou, sempre como assessor e não delegado, a representação brasileira à Conferência das Nações Unidas sobre comércio e emprego, realizada em Havana, de novembro de 1947 a março de 1948, e que, na sequência das primeiras negociações do Gatt, em Genebra, definiu algumas das grandes linhas do sistema multilateral de comércio que, com as mudanças institucionais posteriores, ainda é o nosso. Mesmo que a Organização Internacional do Comércio, aprovada pela Carta de Havana, não tenha se materializado na prática, permanecendo o Gatt provisoriamente em vigor durante aproximadamente meio século (até a constituição da OMC, em 1994), foi ali que foram longamente discutidos todos os temas que integram o debate econômico mundial das últimas seis décadas, e praticamente até hoje. Como diria o ex-Secretário de Estado americano Dean Acheson – bem mais a propósito da ONU do que das demais organizações do multilateralismo contemporâneo – em suas memórias, Roberto Campos esteve “presente na criação” das mais importantes organizações do multilateralismo econômico, quando também se tratava de integrar as economias socialistas e as em desenvolvimento numa ordem que, até a primeira metade do século 20, era dominada exclusivamente por um pequeno número de potências econômicas e militares do Atlântico norte, exercendo sua influência, ou controle direto (pelo colonialismo europeu) sobre mais de dois terços da população mundial.
Pouco depois dessas duas experiências decisivas em sua vida pessoal e enquanto agente diplomático, o jovem Roberto Campos engajou-se num mestrado em economia na Universidade George Washington, na capital americana. Sua dissertação defendida em 1948 se situa, justamente, na confluência do pensamento econômico neoclássico – como aliás era o de Keynes, em sua formação inicial – e das novas ideias que estavam emergindo nessa mesma época a partir do mestre de Cambridge (e ex-funcionário do Tesouro britânico na conferência de Paris ao final da Grande Guerra), com sua críticas ao Tratado de Versalhes de 1919 (As Consequências Econômicas da Paz) e às limitações da economia convencional para tratar dos profundos desequilíbrios surgidos a partir daquela guerra global, definida por George Kennan como o mais importante conflito seminal (isto é, geradora de novos conflitos) do século 20. Entre a Economics de Marshall (mestre de Keynes) e a Macroeconomics do próprio Keynes, a ciência econômica conheceu progressos teóricos relevantes, e aplicações práticas imediatas, influências absorvidas pelo jovem diplomata economista na sua trajetória posterior como homem público chamado a posições de relevo sem necessariamente dispor de mandato popular durante a parte mais ativa de suas atividades governamentais.
Essa combinação de sólida formação teórica e contato íntimo com os intensos debates práticos que se travaram nas grandes conferências econômicas do pós-guerra, e imediatamente depois do mestrado em Washington, uma nova experiência prática no âmbito da Comissão Econômica Mista Brasil-Estados Unidos, entre o final do governo Dutra e o início do mandato constitucional de Getúlio Vargas, no quadro da República de 1946, permitiram a Roberto Campos usar tanto a Economics neoclássica, quanto a nova Macroeconomics, de inspiração keynesiana, para moldar o seu pensamento e ação no curso das décadas seguintes de atividades governamentais e diplomáticas. Elas foram basicamente duas: primeiro a de diretor do BNDE, criado em 1953 sob recomendação direta do relatório da Comissão Mista Brasil-EUA, e que teve papel importante na montagem do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek em meados dessa década; e a de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, nos governos Jânio Quadros e João Goulart, numa das mais conjunturas mais dramáticas da história política, e econômica, do Brasil moderno, quando processos inflacionários e estrangulamentos cambiais impactaram tremendamente o debate político em curso no governo e na sociedade, culminando, como se sabe, no golpe militar de 1964.
Roberto Campos já se tinha afastado de suas funções diplomáticas à frente da embaixada em Washington quando o golpe ocorreu, e não o fez porque participasse de qualquer conspiração contra o governo em vigor, mas porque estava em desacordo com várias das medidas adotadas de modo intempestivo por Goulart, sob a recomendação de conselheiros basicamente ignorantes em matéria econômica, mas que comprometiam profundamente a credibilidade do Brasil junto aos países credores, essencialmente os próprios Estados Unidos. Era natural, assim, que, dotado de capacidade intelectual e de experiência prática no terreno das relações econômicas internacionais, ele fosse chamado a colaborar com o novo regime, o que ele fez na posição de ministro do Planejamento, convertido em órgão permanente da administração pública. Tratou-se, sem qualquer exagero, do mais profundo e do mais impactante processo de reformas econômicas e administrativas de que se tem notícia em qualquer fase da vida política da nação, caracterizado por mudanças que exerceram influência sobre as décadas seguintes, de certa até a atualidade.
Interessante considerar que, contrariamente às suas inclinações perfeitamente liberais da última fase da sua vida, a atividade pública de Roberto Campos nos anos 1950 e 60 estiveram inseridas num molde conceitual e operacional que privilegiava a ação do Estado na definição das grandes linhas da construção de uma moderna economia de mercado no Brasil, país marcado pela insuficiência de poupança privada, de competências técnicas na própria sociedade e de um empresariado ainda tateante em face das novas características da economia mundial, o que fazia com que o governo fosse chamado a atuar na ausência de mercado de capitais próprios e de capital humano para impulsionar a atividade produtiva a partir unicamente da iniciativa privada. Roberto Campos participou, e comandou, ativamente, desse processo de Nation building e de economic construction, que em grande medida foi feito “pelo alto”, como nas experiências precedentes da Alemanha, ou do Japão, que supriram pela ação do Estado as deficiências do setor privado que tinham sido determinantes no caso da primeira revolução industrial, a da trajetória britânica de desenvolvimento original.
Esse “estatismo” de Roberto Campos, do qual ele viria parcialmente a se arrepender em fases posteriores de sua vida – quando condenava o “dinossauro” da Petrobras e o gigantismo de todo o aparato estatal na vida econômica da nação –, não o impediu de reconhecer a validade da ação pública na definição das grandes linhas de políticas públicas na área econômica e da formulação de projetos de desenvolvimento nos mais variados setores da atividade produtiva. Ele apenas pretendia limitar a ação do Estado ao mínimo indispensável para garantir a solidez da iniciativa privada, nacional ou estrangeira – uma vez que ele era totalmente aberto aos investimentos diretos estrangeiros em várias, senão todas, áreas da economia nacional – com aquele sentido de planejamento que ele tinha conhecido nos primórdios de sua vida ativa entre o final dos anos 1940 e meados dos 50: Plano Salte, do governo Dutra, criação de várias estatais no segundo governo Vargas, inclusive o BNDE ao qual esteve ligado desde o início, Plano de Metas na campanha de JK à presidência e diversas outras iniciativas de que participou na passagem para a década seguinte, como as negociações em torno da dívida pública externa brasileira, junto a credores bilaterais e internacionais.
Em todas essas etapas de sua vida pessoal e nas atividades públicas que foi chamado a exercer, as experiências obtidas e consolidadas por Roberto Campos no decorrer de sua vida diplomática inicial foram essenciais, senão decisivas e mesmo indispensáveis para a formação e a formulação de um pensamento econômico eclético, aberto às mais diferentes influências de escolas econômicas e, sobretudo, marcadas pela observação e participação direta em momentos decisivos do ordenamento econômico mundial em curso no imediato pós-Segunda Guerra, quando ele ainda era um simples assessor das delegações brasileiras. Seu senso prático, sua flexibilidade de ação, e o seu vasto conhecimento (e até erudição) com respeito ao debate econômico em curso no mundo praticamente não conhecem equivalente em quaisquer outros representantes da vida pública nacional nessas cinco décadas a partir da República de 1946 e durante todo o regime militar e mais além.
Praticamente, Roberto Campos ainda é influente no debate público de qualidade, tendo sido pioneiro, e até premonitório, na formulação de políticas públicas que seriam adotadas apenas posteriormente, como as privatizações, um necessário rigor no trato do orçamento público e na definição das mais importantes políticas setoriais (a comercial e a industrial, por exemplo, mas também na tributação e nos mercados de capitais). Como Raymond Aron, ele teve razão antes do seu tempo, e por isso foi, em grande medida, denegrido por contemporâneos – chamado, por exemplo, de Bob Fields pela esquerda e até por colegas diplomatas, por se posicionar claramente em favor da participação do capital estrangeiro na economia nacional – e condenado por supostos nacionalistas antigos e estatizantes de sempre, por sua postura essencialmente liberal e esclarecida no trato das políticas econômicas. Ele foi certamente único entre os diplomatas, mas também original entre os economistas, e a combinação entre essas duas qualidades é que fizeram dele o grande estadista que foi na história contemporânea do Brasil.

[19/11/2016]

domingo, 6 de agosto de 2017

A Ordem do Progresso (9): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

Continuidade da transcrição da resenha de Gladson Miranda, desde as postagens anteriores:
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-8-resenha-de.html
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-7-resenha-de.html
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-6-resenha-de.html
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-5-resenha-de.html
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-4-resenha-de.html
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-3-resenha-de.html
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-2-resenha-de.html
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-1-resenha-de.html
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-0-resenha-de.html


Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
A Ordem do Progresso: dois séculos de política econômica no Brasil
2. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014, ISBN 978-85-352-7859-0
íntegra da resenha 
(...)



CAPÍTULO 9 - INFLAÇÃO, ESTAGNAÇÃO E RUPTURA, 1961-1964

Mário M.C. Mesquita
Durante o período que compreendeu os anos de 1961 a 1964 o Brasil experimentou diversas inquietações políticas, “teve três presidentes, cinco chefes de governo e seis ministros da Fazenda”. (pg.179)
Os primeiros anos da década de 60 foram marcados por inflação alta, desestabilização política, e os problemas já iniciados nos anos 40 e 50 foram se tornando cada vez mais intensos. (pg.179)

1.     A Tentativa de Estabilização sob Quadros

Em janeiro de 1961 foi a vez de Jânio Quadros assumir como Presidente da República por meio de voto popular, sendo um dos mais expressivos da história. As dificuldades enfrentadas na política se deram em grande parte por causa da herança deixada por Kubitscheck. (pg.180)
“As iniciativas de política econômica do governo seguiram essa ordem de prioridades: redução do desequilíbrio do balanço de pagamentos, renegociação da dívida externa e combate à inflação, em linhas gerais de forma consistente com o que se entendia na época como a visão ortodoxa”. (pg.180)
Jânio possuía um programa ligado a estabilização político-econômica do país, o que foi por água abaixo com sua renúncia em agosto do mesmo ano, sendo que até setembro foi vivenciado um descontrole fiscal, monetário e creditício. (pg.183)

2.     O Impasse Parlamentarista

A renúncia de Jânio fez com que fosse adotado o regime parlamentarista, posto que os militares vetaram a posse do Vice, João Goulart. O programa de governo que foi sugerido pelo primeiro-ministro possuía bons objetivos e intenções, era ousado e extensivo. (pg.183)
“A política econômica externa sob o parlamentarismo foi marcada por três eventos: o abandono do movimento em direção à unificação cambial, a negociação do primeiro Acordo Internacional do Café e a aprovação da Lei nº 4.131, a chamada Lei de Remessa de Lucros, que ainda regula aspectos importantes dos fluxos de capitais entre o Brasil e o exterior”. (pg.186)
Mesmo com as relações Brasil-Estados-Unidos abaladas, ambos se uniram para negociar o Acordo Internacional do Café, tendo este logrado êxito em consolidar os valores da commodity em seu período de validade. (1963 a 1968). (pg.187)

3.     A política econômica sob o presidencialismo restaurado

No ano de 1963 foi votado por meio de plebiscito o retorno do presidencialismo, e nesse embalo foi aprovado Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social. (pg.188)
Ainda em março deste ano foi implementado um plano para conter as despesas da União em conjunto com as políticas restritivas da SUMOC. Porém, no mês de maio o plano passou a ser deixado de lado, até porque foi estabelecido um reajuste do funcionalismo. (pg.190)
“Se os resultados domésticos mostraram-se decepcionantes, a evolução do setor externo da economia teve aspectos favoráveis. (...) O abandono do realismo cambial coincidiu com o fracasso das negociações, lideradas por Santiago Dantas, para reescalonar os compromissos externos do país”. (pg.191)
As forças políticas durante esse período foram pequenas, Goulart não se demonstrava capaz o suficiente para resolver os problemas macroeconômicos, apesar disso não pode esse fato ser o responsável pelo golpe militar inteiramente, mas certamente teve contribuição. (pg.194)

4.     Avaliação do período

Em resumo, o período de 1961 a 1964 se caracterizou pela recessão de 1963, o crescimento do PIB foi o mais baixo desde o fim da Segunda Guerra, a restrição de liquidez influenciou o desempenho da indústria. (pg.194)
A estabilidade procurada durante esse período não foi alcançada, pode-se explicar pela ausência de espaço, as ideias de expansão eram limitadas pelas posturas dos governantes. (pg.195-196)

(continua...)

A Ordem do Progresso (4): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

Continuidade da transcrição da resenha de Gladson Miranda, desde as postagens anteriores:
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-3-resenha-de.html
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-2-resenha-de.html
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-1-resenha-de.html
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-0-resenha-de.html


Abreu, Marcelo de Paiva (org.):
A Ordem do Progresso: dois séculos de política econômica no Brasil
2. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014, ISBN 978-85-352-7859-0
íntegra da resenha 
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CAPÍTULO 4 - CRISE, CRESCIMENTO E MODERNIZAÇÃO AUTORITÁRIA, 1930-1945

Marcelo de Paiva Abreu
O presente capítulo tratará sobre a elaboração e efetivação da política econômica durante o período de 1930 a 1945. A repercussão da “grande depressão” na economia mundial ocasionou a redução da importância dos fluxos financeiros e comerciais externos. (pg. 79)

1.     Superação da crise e política econômica do Governo Provisório, 1930-1934

O conflito externo no tocante à economia do Brasil interferiu diretamente nos pagamentos, especialmente no que tange à baixa dos preços de exportação, as quais não alcançaram a compensação mesmo com o aumento da quantidade de produtos exportados e pela suspensão do “influxo de capitais estrangeiros”. (pg. 80)
No ano de 1930, o Brasil tinha inúmeras dívidas com empréstimos internacionais, cerca de 65% correspondia à dívida britânica e 30% à dívida com os estadunidenses. “Os empréstimos norte-americanos eram menos sólidos (mais importantes na área estadual e municipal) e mais onerosos, em vista de terem sido negociados na década de 1920, quando as taxas de juros eram mais elevadas do que no período pré-1914”. (pg. 81)
Dos anos 1930 a 1936 o Brasil passou por algumas dificuldades, grande parte delas relacionadas a economia internacional e também à crise cambial experimentada pelo país. Durante esse período houve redução de capital de algumas empresas, outras chegaram a falir, algumas foram nacionalizadas e até mesmo transferidas dos europeus para os norte-americanos. (pg. 82)
Em 1933 houve um reajuste econômico o que fez com que a situação financeira do café melhorasse, inclusive as dívidas dos produtores tiveram redução de 50% e renegociadas por um prazo de 10 anos. (pg. 84)
No ano de 1930 o padrão-ouro foi posto de lado o provocou o rompimento do vínculo entre o choque externo e o estreitamento monetário. Contudo, a base monetária só veio se recuperar da queda a partir de 1931, depois de o Ministro da Fazenda, Whitaker, sair do posto. (pg. 85)
“Após cair 9% entre 1928 e 1930, e permanecer praticamente estagnado em 1931-1932, o produto industrial cresceu 10% ao ano entre 1932 e 1939. A participação das importações na oferta total (a preços de 1939) caiu de 45% em 1928 para 25% em 1931 e 20% em 1939”. Esses dados nos levam a perceber que o comportamento da indústria não era exclusivamente dependente do café. (pg. 86)

2.     Boom econômico e interregno democrático, 1934-1937

O câmbio não teve melhora, nem com a atenuação do balanço de pagamentos relacionado com o “descongelamento de atrasados cambiais”. Em 1934 as pressões dos norte-americanos ficaram mais fortes a fim de que o país realizasse uma mudança no regime cambial. (pg. 86-87)
A partir do início de 1935, apesar de a taxa de câmbio de importação ter se mantido estável até o ano de 1937, a de exportação teve variações consideráveis. Em razão disso, o Conselho Federal de Comércio Exterior chegou a autorizar situações de isenção parcial ou total das taxas de câmbio. Essa atitude gerou o aumento em 19% do valor das exportações entre o período de 1935 a 1936. (pg. 87-88)
Apesar de inúmeras dificuldades com o balanço de pagamento, a economia manteve o crescimento de 8% ao ano durante 1934 a 1937. “Entre 1919 e 1939, a despeito de o produto industrial haver triplicado, a participação dos gêneros industriais produtores de bens de consumo no valor agregado industrial caiu apenas de 80% para 70% (Fishlow, 1972)”. (pg. 88-89)
Em 1934 houve uma reforma tributária e em 1935 o Brasil assinou um tratado com os Estados Unidos, a fim de impedir danos consideráveis à “produção industrial doméstica”. Esse acordo ocasionou para o Brasil a mais importante negociação comercial da década de 1930. (pg. 89)
O Brasil vinha sofrendo pressões dos norte-americanos, mas no ano de 1934, contrariando as ideias de seu aliado, consolidou um acordo comercial com a Alemanha para intercâmbio de mercadorias. Em razão deste acordo as vendas de algodão e café para a Alemanha aumentaram significativamente. (pg. 91)
Neste ano ainda o Brasil enfrentava dificuldades com o preço do café, que teve diminuição, inclusive em razão da queda nas exportações com os Estados Unidos, entretanto, as exportações para a Alemanha e Reino Unido continuaram a crescer e até para o Japão ganhou importância. (pg. 92)
Os Estados Unidos mantiveram sua posição como exportador, tendo uma participação de cerca de 23-25%, já a Alemanha e o Reino Unido trocaram de posição, enquanto a Alemanha aumentava sua parcela o Reino Unido diminuía. Pode-se afirmar que houve uma substituição dos produtos, sendo que os britânicos tiveram sua participação reduzida de 19% para 11% e os alemães aumentaram de 12% para 20%. (pg. 92-93)

3.     Estado Novo e economia de guerra, 1937-1945

A chegada do Estado Novo em 1937 fez com que algumas tendências amadurecessem. Novas agências do governo foram criadas a fim de que o poder central fosse fortalecido para que a área econômica conseguisse alcançar seus objetivos reguladores. (pg. 93)
Ainda naquele ano, houve a adesão de um “monopólio cambial do governo”, o qual teve como justificativa a escassez de divisas, responsável principal pelo aumento das importações. (pg. 93)
As relações com os Estados Unidos permitiram a criação de uma missão promovida por Aranha. Esta tinha como tópicos, dentre outros, “questões relacionadas à defesa nacional, às relações comerciais, à dívida pública externa e ao tratamento recebido pelos investimentos diretos norte-americanos no Brasil a serem discutidos com o Departamento de Estado – e assuntos ligados à política cambial, criação de banco central e planos de desenvolvimento de longo prazo na órbita do Tesouro norte-americano”. (pg. 94)
Os compromissos foram respeitados, entretanto, esta missão foi uma tentativa de reaproximação do Brasil com os Estados Unidos, em detrimento da Alemanha. (pg. 95)
A início da guerra não foi inteiramente favorável as exportações brasileiras, contudo, durante os anos de 1941-1942 os Estados Unidos e o Reino Unido tiveram uma diminuição em suas exportações em razão da guerra, o que fez com que o Brasil assumisse o posto de suprir essa falha. (pg. 95)
“As dificuldades relativas à obtenção de importações resultaram em efeitos contraditórios sobre o desempenho da economia. Por um lado, a produção de determinados bens podia desenvolver-se sem a alternativa de suprimento externo; por outro, o crescimento industrial era limitado pela dificuldade de obtenção de insumos essenciais e de bens de capital que possibilitassem a ampliação da capacidade”. (pg. 96)
As limitações do comércio do Brasil ocasionaram uma subordinação do Brasil aos Estados Unidos, tanto com relação as importações, como das exportações. O Brasil ainda ficou condicionado com relação aos preços do café, que independentemente da pressão realizada ainda teve de se sujeitar aos Estados Unidos. (pg. 97)
A relação brasileira com os britânicos durante o período da Segunda Guerra se baseou principalmente no fato de ambos estarem preocupados em: “minimizar o custo imediato das importações necessárias ao esforço de guerra numa conjuntura de notável escassez de reservas de moeda conversíveis, especialmente dólares”. (pg. 98)
Durante o governo Vargas, especialmente no ano de 1937, havia uma preocupação em investir em transporte e nas forças armadas, mais do que quitar a dívida externa. Em razão deste fato, o Brasil naquele ano pagou menos do que presumidamente teria condições, ao contrário do ocorrido no ano de 1930, o qual o país arcou com muito mais do que poderia. (pg.100)
A dívida pública foi negociada por duas vezes durante o período da guerra. A primeira vez no ano de 1940 e a segunda, de forma definitiva no ano de 1943. (pg.100-101)
“Ao período de guerra correspondeu a estagnação do total de capitais estrangeiros privados investidos no Brasil (algo inferior a US$700 milhões), ocorrendo um aumento das inversões norte-americanas, especialmente a partir de 1943 (em atividades manufatureiras) e redução das inversões europeias”. Com a guerra se encaminhando para o final, o Brasil começou a se sentir incomodado com as relações com os Estados Unidos e tentou usar o Reino Unido como sobrecarga, uma vez que aquele país se demonstrava cada vez mais hostil. (pg.102)
Os Estados Unidos se demonstravam insatisfeitos com países que não tinham representantes eleitos de forma democrática. No ano de 1945 Vargas foi deposto e houve uma mudança nas políticas norte-americanas com relação ao Brasil. Após essa fase, iniciou-se um ciclo de supremacia política e econômica das preferências norte-americanas no Brasil. (pg.103)

(continua...)

A Ordem do Progresso (1): resenha de Marcelo de P. Abreu, por Gladson Miranda

Continuidade da transcrição da resenha de Gladson Miranda, iniciada na postagem anterior:
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/a-ordem-do-progresso-0-resenha-de.html


Abreu, Marcelo de Paiva (org.):

A Ordem do Progresso: dois séculos de política econômica no Brasil
2. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014, ISBN 978-85-352-7859-0
íntegra da resenha 

(...)


CAPÍTULO 1 - A ECONOMIA BRASILEIRA NO IMPÉRIO, 1822-1889

Marcelo de Paiva Abreu e Luiz Aranha Correa do Lago
O primeiro capítulo trata da introdução ao tema e se divide em 10 seções, além disso, tem como propósito apresentar as concepções sobre o estudo minucioso da política econômica ao longo do período republicano, que será tratado no restante do livro. (pg. 01)
O Brasil, a partir de 1580, estabeleceu-se como maior produtor de açúcar no mundo, alicerçado no trabalho advindo de escravos africanos, e se manteve nessa situação até a segunda metade do século XVII. No final desde século, a competição de colônias holandesas no Caribe, franceses e inglesas causou danos à economia açucareira brasileira, a qual deixou de ser soberana, tendo retornado a este status com a exploração de ouro a partir do ano de 1690. (pg. 01)

1.     População

Em 1822, na época da Independência, o Brasil contava com “uma população entre 4,5 e 4,8 milhões de habitantes e cerca de um terço era escrava”. “Em 1850, a população brasileira possuía cerca de 7,5 milhões de habitantes, com os escravos ainda respondendo por volta de 30% do total”. Pesquisas no ano de 1872 demonstraram uma população em torno de 10,1 milhões de habitantes, sendo que 1,5 milhão eram escravos. Já em 1890, a pesquisa mostrou uma população de 14,3 milhões. (pg. 02)

2.     Estimativas de produto

Durante o século XIX, informações sobre renda e produto são profundamente escassas. Como consequência, as aferições devem ser vistas como suposições imensamente irregulares. (pg. 03)
De 1862-1889, por exemplo, Contador e Haddad afirmaram que a taxa de crescimento anual do PIB era o total de 2,68% “e de 0,86% do PIB real per capita (Goldsmith, 1986, p. 20)”. “Um intervalo amplo para a taxa de crescimento anual do PIB per capita entre 0,2 e 0,5% para o período imperial poderia ser adotado como conjectura razoável, com base nas evidências que sugerem importantes diferenças regionais.” (pg. 03-04)

3.     Atividade

3.1.  Agricultura e regiões

No momento da Independência, podia notar que a principal atividade era  a agropecuária, a qual representada a maior parte das exportações e do produto interno, entretanto, não existem estatísticas no século XIX para a produção agrícola. (pg. 04)
Durante o Império, três produtos na agricultura detinham maior importância, o fumo, o algodão e o açúcar, contudo, em 1830 o café ultrapassou a importância do açúcar como maior produto exportado. A influência destes quatro produtos evidencia a atuação associada no que diz respeito a totalidade das exportações. (pg. 04)
Neste período, a exportação do café cresceu com relação ao total das exportações, passou de 20% para mais de 60%. O café tinha produção apenas no Rio de Janeiro e em uma parte de São Paulo. Por outro lado, o açúcar teve sua importância reduzida de 30% para 10%, assim como a do algodão que também reduziu de 21% para 4% com relação ao total das exportações. (pg. 05)

3.2.  Indústria

Nos primeiros 25 anos após a independência do Brasil, os custos relacionados às concessões à metrópole anterior e à Grã-Bretanha tiveram grande importância e possuíram papel intermediador para que o novo regime fosse legitimado. No período do Império, a agricultura ainda predominava na economia brasileira. (pg. 06-07)

3.3.  Mineração

A atividade de mineração, por sua vez, em especial o ouro e os diamantes, tiveram seu ápice na década de 1850 e em seguida iniciaram um declínio lento. As exportações de ambos diminuíram, do ano de 1850-1880, cerca de 5% do total para menos de 1%. (pg. 07)

3.4.  Serviços

As informações sobre o setor de serviços são parciais, com exceção do setor ferroviário que será tratado posteriormente. É importante salientar que em 1870 a rede de tráfego possuía 700km em operação e em 1889 passou para 9.583 km. (pg. 08)
Outros serviços, como o varejo, atacado e serviços domésticos, também faziam parte da rotina de muitas pessoas, contudo, o emprego rural ainda era o predominante, sendo que 2/3 da população ainda estava envolvida, fato este limitador da expansão do setor de serviços. (pg. 08)

4.     Fatores de produção: trabalho

4.1.  Imigração: trabalho assalariado

Entre os anos de 1822 e 1850 a imigração europeia não foi expressiva, ainda mais quando se compara com a abundância de escravos africanos. No entanto, a partir da metade do século o tráfico de africanos foi interrompido, gerando crescimento do da imigração de europeus para as regiões produtoras de café. (pg. 08)
Estudos oficiais apontam um número de 219.229 imigrantes entre os anos de 1851 e 1870. Já na década de 1871 e 1880, o número foi aproximado ao das duas décadas anteriores, ou seja, 219.128 imigrantes, tendo como média por ano 11 mil imigrantes. “Entre 1881 e 1885, as entradas no Brasil alcançaram mais de 133 mil imigrantes, média anual de quase 27 mil, entrando mais de 32 mil em 1886. Foi entre 1887 e 1889 que a imigração aumentou consideravelmente, alcançando pelo menos 252 mil pessoas.” (pg. 09)

4.2.  Escravidão

De 1800 até 1850 a importação dos escravos para os produtores de café era equivalente a 2/3 das importações totais, as quais chegaram a alcançar cerca de 2 milhões de pessoas. (pg. 09)
A cessação do tráfico gerou importantes consequências, a oferta era muito menor do que a procura, ocasionando um aumento desenfreado do preço dos escravos e até a compra desses escravos dentro do Brasil, levando a acumulação de escravos na região produtora de café. (pg. 10)
Apenas em 1884 foi retirado o empecilho dos fazendeiros, ano em que São Paulo legislou sobre a permissão de a própria província arcar com os preços do transporte para os imigrantes estrangeiros. Sendo que entre 1887 e 1889 houve uma entrada densa de imigrantes estrangeiros para a substituição dos ainda 107 mil escravos para o trabalho assalariado. (pg. 11)

5.     Fatores de produção: terra

“A versão extrema da hipótese afirma que ‘dos três elementos de uma estrutura agrária em estudo – terra livre, camponeses livres e proprietários de terras inativos (ou seja, que não trabalham na terra diretamente), dois elementos, mas nunca os três, podem existir simultaneamente’”. (pg. 12)
O aumento da produção cafeeira teve um impacto grande no que diz respeito à ocupação de terras, muitas foram tomadas ilegalmente durante a colonização do Brasil. Durante décadas o Império se omitiu legislativamente para sobrepor o “sistema colonial de concessão de terras”, sendo posteriormente aprovada a “Lei de Terras” para corrigir este defeito. (pg. 12)

6.     Fatores de produção: capital

“A crescente produção cafeeira gerou demanda por infraestrutura de exportação, incluindo ferrovias, portos, cabos telegráficos submarinos e empresas de navegação a vapor”. No meio de tudo isso, a urbanização tomava lugar, investimentos estavam sendo feitos em empresas prestadoras de serviços públicos como gás, água, saneamento, energia, transporte público e até telefonia. Além do investimento de outros países, o governo investiu bastante, principalmente nas ferrovias. (pg. 13-14)

7.     Comércio exterior

O Brasil tinha grande importância econômica como exportador. Teve de ser realizada uma mudança estrutural nas exportações, realocando-se geograficamente, sendo que a Grã-Bretanha deixou de ser a principal transferindo esta importância para os Estados Unidos e para Europa Continental.  “A mudança da estrutura de origem das importações no período imperial refletiu o declínio da capacidade competitiva das importações britânicas paulatinamente substituídas por produtos concorrentes, especialmente da Alemanha e dos Estados Unidos”. (pg. 18)

8.     Regimes monetários, câmbio e sistema financeiro

8.1.  Regimes monetários

“Depois da Independência, o Banco do Brasil continuou a emitir cédulas que constituíam boa parte do meio circulante. Em 1829 não existia praticamente nenhuma circulação metálica, a não ser de cobre”. (pg. 19)

8.2.  Câmbio e preços

No período do Império, o câmbio se manteve incerto, oscilando drasticamente, ainda que em alguns momentos tenha havido uma constância, especialmente nos anos d e1850 e 1870. (pg. 20)

8.3.  Sistema financeiro

Em 1829 o primeiro Banco do Brasil foi fechado, e a partir de 1837 criaram-se bancos privados. Entre 1850 até o fim da década de 1860, o papel-moeda teve sua importância ampliada, chegando a quase 80%, em razão disto, houve uma baixa na relevância das moedas metálicas. (pg. 20-21)

9.     Finanças públicas

9.1.  Receita

“A preeminência brasileira no mercado mundial de café, somada à inelastidade-preço da demanda pelo produto, tinha importantes implicações sobre a incidência da taxação sobre o café. Houve, no período imperial como um todo, uma tendência à desvalorização cambial, embora em 1889 a taxa de câmbio tivesse voltado à paridade de 1846”.  (pg. 22-23)
Impor taxas às províncias era de suma importância, uma vez que as receitas advindas representavam cerca de 25% das receitas totais do governo. Apesar de o recolhimento de impostos ser ilegal, “subterfúgios nos anos 1830 abriram caminho para a sua adoção”. (pg. 24)
Não obstante as discussões no âmbito do Legislativo na década de 1880, não se pôde chegar a um acordo com relação ao modo de disposição das receitas entre as províncias. Então o governo central entendeu por ignorar a ilegalidade do recolhimento de taxas das importações das províncias. (pg. 24)

9.2.  Despesa

“O nível de despesas do governo central dependia em grande medida dos gastos militares relacionados a operações internas e externas. O Sul e a Corte contribuíam com dois terços da receita do governo central, em contraste com um terço do Norte e do Nordeste. A receita do governo central em São Paulo era de 7% do total, inferior à do Pará e à de Bahia e Pernambuco, mas a despesa era de apenas 2% do total”. (pg. 25)

9.3.  Dívida pública

Entre os anos de 1824 e 1889, o Brasil observou sua dívida externa crescer deliberadamente, de £5,1 milhões para £33,6 milhões. “As distorções das avaliações devem-se em parte à concentração de interesse nos empréstimos norte-americanos que só ocorreram depois da Primeira Guerra Mundial, em parte à omissão do período anterior a 1850 quando, em contraste com o resto da América Latina, o Brasil não suspendeu o pagamento do serviço da dívida externa”. (pg. 26)

10.  Conclusões

No ano de 1820 o PIB brasileiro poderia ser comparado ao mexicano e equivalia a pouco mais da metade do PIB per capita dos Estados Unidos. “A expansão do café foi acompanhada pela retração relativa, e em certos casos, absoluta da exportação/produção de commodities tradicionalmente exportadas pelo Nordeste como algodão, açúcar e fumo”. (pg. 27)
No âmbito político, interesses paulistanos se sobressaíram aos interesses nordestinos. Após a Guerra do Paraguai, com a vitória, os militares republicanos tiveram sua influência aumentada. Os resultados econômicos em razão do adiamento da abolição da escravatura e o cansaço das instituições imperiais ocasionaram a proclamação da República e “ à rápida reversão do quadro econômico favorável da segunda metade da década de 1880”. (pg. 28)

(continua...)