O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 9 de abril de 2018

Uma mensagem aos meus leitores (2010 e 2018) - Paulo Roberto de Almeida

Quando este blog completou 200 seguidores, mais de sete anos atrás, eu escrevi um texto dirigido a essas duas centenas de inscritos como recipiendários de minhas postagens. Confesso que raramente me dirijo aos leitores habituais ou eventuais, pois não tenho por hábito incomodar a privacidade de qualquer pessoa. Eu costumo colocar meus textos à disposição de qualquer leitor, seguidor ou não, postando-o neste espaço, eventualmente chamando a atenção no Facebook (mais recentemente), ou inserindo esses arquivos na minha página na plataforma Academia.edu ou na Research Gate.
Nunca faço lista de remessas de textos a "parceiros", ou recipiendários, pois acho que não tenho o direito de invadir a caixa postal de ninguém para enviar textos não solicitados.
Antigamente, eu recebi mais comentários críticos – sempre bem-vindos – mas me parece que os mecanismos do Blogspot mudaram, convertendo os comentários para a plataforma Google +, que nem sempre me permite responder imediatamente a esses comentários.
Em todo caso, constatei agora que estou próximo de ter 800 seguidores, o que significa 4 vezes mais do que quando escrevi o texto abaixo, em Shanghai, numa missão provisória.
Ele trata de minha relação com este espaço, por isso resolvi posta-lo novamente.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de abril de 2018

Aos leitores deste blog: conversa tete-a-tete (ou blog-au-blog)...

Aos leitores deste blog Diplomatizzando
Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 28.09.2010

Tendo ultrapassado a marca de 200 seguidores, conforme constato por uma simples consulta ao rodapé desta página, este blog “obriga” seu responsável a efetuar pequena reflexão sobre suas responsabilidades enquanto “escrevinhador” voluntário, enquanto disseminador de materiais de terceiros (informações de imprensa, estudos e ensaios ocasionais) e enquanto veiculador e debatedor de “ideias”, como indicado na caixa de apresentação, com especial ênfase nos temas que motivaram sua criação e que estão simbolizados em seu título: relações internacionais e política externa do Brasil. Aqui seguem, portanto, estas minhas reflexões, no que talvez possa vir a constituir uma série de cartas mensais de interação entre este autor e seus leitores.
Entendo que muitos dos que aqui se inscreveram, o fizeram com objetivos e por motivos eminentemente práticos, sabedores da condição profissional de seu responsável e unicamente interessados, portanto, em materiais relevantes vinculados à sua preparação para a carreira diplomática. Outros, que nele esbarraram por acaso, podem ter ficado apenas curiosos, e resolveram então testar o blog, para ver o que ele poderia trazer de novo ou de interessante em função de suas preocupações específicas ou de seus objetos de pesquisa acadêmica. Muitos já podem ter desistindo de acessar o blog, ou descartam alertas eventuais que entram em suas caixas ou “assembladores” de notícias; não tenho ideia do que pode estar ocorrendo com os 200 e tantos alinhados no bloco dos seguidores. Sei apenas que eles existem.
Por não dispor de instrumentos adequados, e tampouco dispor de tempo para esse tipo de verificação, não tenho condições de afirmar se estou satisfazendo, ou não, a gregos e goianos, ou seja, a todos aqueles que resolveram seguir regularmente os posts aqui colocados (além daqueles que podem passar ocasionalmente). Apenas sei dizer que, tendo alcançado a marca de quase 120 mil visitas desde o início deste ano, quando resolvi colocar o sitemeter que figura na banda direita, isso representa aproximadamente 630 visitas por dia e mais de 4 mil por semana, o que é, sem dúvida, uma tremenda responsabilidade para quem assina os comentários e textos pessoais aqui postados. Provavelmente, mais de 80% dos materiais aqui constantes são feitos de empréstimos involuntários a terceiros autores, ou a despachos de agências de comunicações, o que talvez conforma um simples serviço público de compilação de materiais diversos. Algo é meu, no entanto, os comentários iniciais colocados em quase todos os posts, e alguns textos para leitura mais pausada, por representarem produção acadêmica ou de cunho jornalístico. 

Quaisquer que seja os motivos dos freqüentadores aqui presentes, e quaisquer que sejam os materiais aqui colocados, creio que meu dever, para com todos, a começar para comigo mesmo, seria estabelecer claramente o seguinte conjunto de compromissos. 
Meu único critério de produção – ou seja, de leitura, resumo, compilação, síntese e produção original de textos – é o esclarecimento inteligente a respeito de questões relevantes, brasileiras e internacionais.
Meu único critério de seleção – dos materiais e do que eu mesmo possa escrever, como elaboração original – é a discussão honesta e bem informada dessas realidades, sem quaisquer compromissos partidários, políticos, ideológicos, religiosos ou de natureza associativa. Entre a tela, ou o teclado, e o meu cérebro, ou o meu pensamento, está apenas uma única pessoa e uma única vontade: ler um pouco de tudo, refletir sobre o que foi lido, tentar sintetizar esse conjunto de informações e de ideias, e depois devolver à “sociedade” aquilo que dela retirei como inputs e ensinamentos, da maneira mais aberta, transparente e honesta possível. 
Não pretendo converter a ninguém, e não envio textos não solicitados a ninguém: apenas exponho o que penso sobre as questões que me interessam. Assumo plena responsabilidade pelo que escrevo e declaro ser imputável pelas minhas ideias e posições, mesmo as mais erradas, equivocadas ou aparentemente chocantes. 
Meu único critério de interação é de haver um debate inteligente sobre temas relevantes, descartando o anedótico, o superficial e o apenas formal, ou circunstancial. Não me recuso a publicar posições contrarias às minhas, desde que incidam sobre o objeto em discussão, e não constituam mera expressão de discordância descortês, ou seja, ataques sem qualquer argumento substantivo. 
Gostaria de agradecer a confiança de todos e dizer que estou ciente de minha responsabilidade em manter o nível deste blog, ao cumprir os objetivos que são os dele: informar, refletir, debater, contribuir para o avanço do Brasil na construção de uma sociedade melhor, mais educada e, por que não dizer?, mais refinada.

Paulo Roberto de Almeida (Shanghai, 28.09.2010)

Os dez mandamentos, revistos, e criticados - Ladislau Dowbor, Paulo Roberto de Almeida

Uma de minhas principais atividades, enquanto observador cético das propostas governamentais e aquelas dos críticos sociais, é justamente capturar tudo o que existe de novo, no debate público, e agregar meus comentários contrarianistas.
É o que ocorre neste texto que praticamente não teve divulgação à época.
Faço isto agora, para ver se o debate avançou desde então.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 9 de abril de 2018


Os dez mandamentos de um novo profeta

Paulo Roberto de Almeida
Shanghai, 12 de abril de 2010. 

O sociólogo brasileiro Ladislau Dowbor elaborou uma nova versão para os dez mandamentos. [Ver o Le Monde Diplomatique Brasilde abrilde 2010 e o site Carta Maior de 7 de abril de 2010; também disponível no site do autor: http://dowbor.org/10dez%20mandamentos.doc.] Ele pretende, com sua “edição atualizada” de uma peça tão antiga quanto... Moisés, contribuir para tornar o mundo um lugar melhor do que ele é hoje. Ele acredita que vários dos “seus” mandamentos, “já foram experimentados e estão sendo aplicados em diversas regiões do mundo” e que são “iniciativas que deram certo, e cuja generalização, com as devidas adaptações e flexibilidade em função da diversidade planetária, é hoje viável”. 
Como eu considero que diversas recomendações são ou economicamente inviáveis ou politicamente ingênuas, permito-me aqui comentar cada uma delas, desculpando-me previamente pela redução necessária das notas explicativas a esses mandamentos, para não tornar o texto ainda mais longo do que o original. Convido, portanto, os leitores deste meu texto a visitar primeiro o link indicado para ler em sua integralidade, e sem qualquer “contaminação” prévia de meus argumentos, o pensamento do autor (aqui referido simplesmente como LD, com a transcrição do seu texto em itálico), para depois, então, voltar a este meu texto para conferir o que de eventualmente válido eu tenho a dizer sobre essa parábola pouco bíblica.
Metodologicamente, LD apresenta seus novos mandamentos como elementos de “processos decisórios”, ou seja, eles se destinam, claramente, a orientar políticas públicas, e por isso carregam singular responsabilidade. É a esse título que eu me permito comentar e criticar sua formulação, já que também pretendo tratar de políticas públicas. Os mandamentos de LD são seguidos, depois do enunciado propriamente dito, de uma “nota de explicação”, que é “destinada aos impenitentes”, ou seja, aos que eventualmente pensariam ou ousariam contrariar as recomendações do novo profeta. Coerentemente com esse tipo de exercício, eu também acrescento, às curtas explicações selecionadas a partir do original, minhas próprias notas explicativas (aqui referidas como PRA); elas se pretendem essencialmente críticas, tanto da metodologia quanto da substância dos argumentos defendidos por LD. 

I – Não comprarás os Representantes do Povo
LD: Resgatar a dimensão pública do Estado: Como podemos ter mecanismos reguladores que funcionem se é o dinheiro das corporações a regular que elege os reguladores? Se as agências que avaliam risco são pagas por quem cria o risco? Se é aceitável que os responsáveis de um banco central venham das empresas que precisam ser reguladas, e voltem para nelas encontrar emprego? 

PRA: A afirmação é de cunho eminentemente moral, como aliás era o espírito dos mandamentos originais, mas ela é politicamente ingênua a mais de um título. Já sabemos, desde Maquiavel pelo menos, que a questão do poder político não é tanto regulada pela dimensão moral, quando pelos interesses concretos de grupos, de categorias sociais ou de indivíduos, que conseguem se apropriar dos comandos do Estado em circunstâncias determinadas. A ingenuidade se reflete no fato que, nas sociedades modernas, complexas por definição, é bem conhecido que não é apenas o dinheiro das corporações que elege e “regula” representantes, se por corporações ou autor entende apenas aquilo que os marxistas chamavam de “capital financeiro”.
Basta olhar para qualquer parlamento do mundo democrático para constatar que ali estão representantes de todas as corporações, inclusive daquelas que representam legitimamente o povo trabalhador (sindicatos operários, de policiais militares, de líderes evangélicos, professores, militantes de partidos de esquerda, etc.). Se não fosse assim como explicar a eleição de tantos representantes do povo para o governo central em tantos países, inclusive e principalmente na América Latina? Ou algum sociólogo são de espírito acha que Chávez, Morales, Correa e o próprio Lula são os representantes das corporações do dinheiro? Eles são, sim representantes de corporações, mas sempre estiveram bem mais identificados com os interesses dos trabalhadores do que com os do capital. Ao menos até certo ponto...
Nem por isso o poder regulador do Estado se encontra diminuído, já que o novo chefe de governo pode propor medidas que diminuam o poder das corporações do dinheiro. Se Lula “regulou” mais em favor dos banqueiros e dos capitalistas do que dos trabalhadores, isto significaria, para o profeta dos novos mandamentos, que ele traiu sua classe de origem, que ele se vendeu às corporações do dinheiro? Contrariamente, também, ao que LD crê, o sistema de financiamento público das campanhas não representa uma garantia de que os que hoje figuram nos parlamentos deixariam de ser eleitos; afinal de contas, os sindicatos de trabalhadores também elegem seus representantes, aliás, em maior número do que os banqueiros: basta conferir o diretório dos parlamentares para constatar esta verdade elementar. 

II – Não Farás Contas erradas
LD: As contas têm de refletir os objetivos que visamos. O PIB indica a intensidade do uso do aparelho produtivo, mas não nos indica a utilidade do que se produz, para quem, e com que custos para o estoque de bens naturais de que o planeta dispõe. Conta como aumento do PIB um desastre ambiental, o aumento de doenças, o cerceamento de acesso a bens livres. O IDH já foi um imenso avanço, mas temos de evoluir para uma contabilidade integrada dos resultados efetivos dos nossos esforços, e particularmente da alocação de recursos financeiros, em função de um desenvolvimento que não seja apenas economicamente viável, mas também socialmente justo e ambientalmente sustentável. As metodologias existem, aplicadas parcialmente em diversos países, setores ou pesquisas. 

PRA: Trata-se de um debate tão antigo quanto a introdução da própria noção de produto agregado nas contas nacionais. Diversas adaptações são possíveis, em especial para acomodar o patrimônio ambiental e outros elementos qualitativamente mais importantes do que sua mera expressão monetária. Mas o mandamento de LD é capcioso, ao sugerir que os responsáveis pela atual metodologia das contas nacionais fazem “contas erradas”. Trata-se de uma acusação totalmente gratuita, e ofensiva, que não merece o nome de mandamento, lembrando que existe um Comitê na ONU que se ocupa precisamente de estatísticas nacionais, ademais de todos os demais organismos internacionais que tratam dessa matéria complexa. O IBGE, aliás, poderia reclamar...
O novo profeta LD pretende que seja “medido o que efetivamente interessa: o desenvolvimento sustentável, o resultado em termos de qualidade de vida da população. Muito mais do que o produto (output), trata-se de medir o resultado (outcome)”. Como LD não introduz nenhuma nova metodologia para permitir que isso seja possível – mesmo referindo-se a diversos exercícios de revisão em curso – podemos descartar o seu “mandamento” como a expressão de um mero desejo.

III – Não Reduzirás o Próximo à Miséria
LD: Algumas coisas não podem faltar a ninguém. A pobreza crítica é o drama maior, tanto pelo sofrimento que causa em si, como pela articulação com os dramas ambientais, o não acesso ao conhecimento, a deformação do perfil de produção que se desinteressa das necessidades dos que não têm capacidade aquisitiva. 

PRA: Ao que consta, Moisés não inventou a seguridade social, nem o Estado previdência, deixado à providência divina, e a própria iniciativa individual, cuidar de si próprio, do seu bem-estar e o de sua família. Essa tendência de achar que “algumas coisas não podem faltar a ninguém” é relativamente recente na história da humanidade, tendo surgido, provavelmente, depois que o pensamento socialista passou de sua fase pretensamente utópica para supostamente científica. Os resultados são conhecidos, tanto nos próprios experimentos socialistas – mais propensos a redistribuir velhas misérias do que a criar novas riquezas, segundo um conhecido crítico – como nos declaradamente capitalistas, nos quais tanto por mecanismos de mercado quanto pela ação redistributiva do Estado – via impostos e gastos sociais – as iniqüidades mais gritantes do velho capitalismo foram corrigidas ou contornadas. 
A verdade é que a pobreza extrema foi uma característica comum na maior parte das sociedades humanas até uma data ainda recente, tendo começado a reverter após a revolução industrial do século 18. Em quase todas as sociedades, é bom que se diga, existiram elites mais ou menos opulentas, pois isto corresponde a certa “lógica” do processo social: as tentativas de eliminação dessas elites, em projetos milenaristas ou declaradamente igualitaristas, desde a “conjuração dos iguais” de Babeuf, até os experimentos ainda remanescentes de Cuba e da Coréia do Norte, indicam o que se pode esperar desse tipo de engenharia social. Elites ainda existem e estão em permanente construção, como atestam certas máfias sindicais em ativo processo de ascensão social num país não muito longe daqui, ou no país de maior crescimento econômico do planeta, a China, que em algum momento superará o número de bilionários do maior país capitalista do mundo, os Estados Unidos. 
Não consta que, nos dois casos, o aparecimento desses bilionários se tenha dado à custa da transformação dos demais em miseráveis, como parece acreditar o novo profeta, ou toda uma tribo de ingênuos distribuidores da riqueza alheia. Os ricos são ricos por uma variedade de fatores, mas em nenhum caso por provocar a miséria dos seus concidadãos, o que só ocorre em casos extremos e não convencionais. LD, autor deste mandamento economicamente inepto, acredita que bastaria a ONU aplicar “300 bilhões de dólares [para] tirar da miséria um bilhão de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia”. Pode ser, mas não é seguro que isso ocorra. Ele talvez não saiba, ou prefira ignorar, que desde o surgimento da cooperação oficial ao desenvolvimento (bilateral e multilateral), já foram transferidos 2,5 trilhões de dólares aos países em desenvolvimento, sem resultados visíveis até o momento.
Já esta na hora de desmantelar a “ideologia da ajuda ao desenvolvimento”, que não produziu nenhum exemplo de desenvolvimento sustentável com base na assistência financeira externa. Convido o profeta LD a indicar-me um caso, apenas um, de desenvolvimento, que seja o resultado da ajuda externa. E convido-o a ler o livro de William Easterly, economista do Banco Mundial por 16 anos: The White Man’s Burden: Why the West’s Efforts to Aid the Rest Have Done So Much Ill and So Little Good(New York: Penguin Books, 2007). Ele terá exemplos eloqüentes de como a ajuda externa pode, na verdade, prejudicar o processo de desenvolvimento, em lugar de promovê-lo. Ele talvez ignore também os trabalhos de Peter Bauer, economista britânico nas antigas colônias de Sua Majestade na África oriental e que, anos antes das independências, já recomendava que não se prestasse ajuda aos países africanos, e sim que eles fossem integrados aos circuitos comerciais do mundo. Nosso profeta também faria bem em refletir sobre os casos de Hong Kong, Cingapura e Dubai, que de pequenas localidades inóspitas – ainda que geograficamente bem localizadas – se converteram em gigantes financeiros e comerciais, apenas graças aos mercados, não à ajuda externa. Livres mercados funcionam: acredite nisso LD...

IV – Não Privarás Ninguém do Direito de Ganhar o seu Pão
LD: Universalizar a garantia do emprego é viável. Toda pessoa que queira ganhar o pão da sua família deve poder ter acesso ao trabalho. Num planeta onde há um mundo de coisas a fazer, inclusive para resgatar o meio ambiente, é absurdo o número de pessoas sem acesso a formas organizadas de produzir e gerar renda. Temos os recursos e os conhecimentos técnicos e organizacionais para assegurar, em cada vila ou cidade, acesso a um trabalho decente e socialmente útil. 

PRA: Garantia de emprego nunca houve, em nenhuma sociedade, antes do socialismo real, onde todo mundo, como se sabe, é empregado do Estado (como em Cuba, por exemplo). O seguro-desemprego, que o profeta LD recomenda, é o mais seguro meio de produzir desemprego que se conhece, só existindo em sociedades opulentas, com renda acumulada para exercer esse tipo de caridade social (à custa dos que trabalham e pagam impostos, obviamente). Essa concepção de que alguém está sendo privado de trabalho, ou da possibilidade de ganhar o dinheiro do seu pão diário, é de uma ingenuidade não existente nos mandamentos originais; os mandamentos mosaicos eram simples e diretos, e não exigiam nenhuma autoridade estatal para distribuir benesses sob a forma de empregos públicos ou seguro-desemprego. 
O profeta LD acredita que aumentar o salário mínimo e reduzir a jornada de trabalho levariam a uma “prosperidade mais democrática” (sic; pergunto eu: não pode haver uma prosperidade não democrática?; qualquer economista diria que isso é teoricamente possível, como ocorreu, talvez, na Alemanha hitlerista, mas acho que eles passaram a trabalhar mais). Obviamente, LD não pretende que isso seja feito por mecanismos de mercado, do contrário não colocaria esse seu argumento sob o escopo de um dos seus novos mandamentos. Não; o que se pretende é “decretar” o aumento gradual do salário mínimo e a redução da jornada de trabalho por via legislativa, não por negociações diretas entre as partes. Mais uma vez, não é seguro que ocorra o efeito benéfico; as experiências conhecidas oferecem resultados contraditórios, se não negativos: tudo o que se faz em detrimento das condições de competitividade em mercados integrados redunda em perdas de espaço para os produtores nacionais, diminuindo, portanto, a prosperidade de suas sociedades, democráticas ou não. 

V – Não Trabalharás Mais de Quarenta Horas
LD: Podemos trabalhar menos, e trabalharemos todos, com tempo para fazermos mais coisas interessantes na vida. A sub-utilização da força de trabalho é um problema planetário, ainda que desigual na sua gravidade. 

PRA: Trata-se de uma variante da recomendação anterior, e que portanto não poderia aspirar à condição de verdadeiro mandamento. É uma outra ilusão acreditar que reduzindo a jornada de alguns, mandatoriamente entende-se, isso criará mais empregos no setor. O mais provável é que essa determinação crie mais incentivos e estímulos para a automação e a terceirização, diminuindo, portanto, o emprego global e as possibilidades de empregabilidade. Não existe nenhum estudo empiricamente fundamentado que consiga provar que a diminuição da jornada produziu, em qualquer país, maior volume total de emprego, sendo mais provável ter ocorrido o contrário. 
O limite das 40 horas existe desde um século aproximadamente e na prática vem sendo alterado por experimentos difusos, implementados diretamente pelas partes (como o teletrabalho, por exemplo, geralmente pouco regulamentado nas legislações nacionais). Esse limite corresponde mais a um paradigma cultural do que a uma norma moral. Moisés, finalmente, decretou apenas um dia livre na semana, para honrar o deus único, tendo ele sido impreciso quanto à carga de trabalho nos demais dias. O novo profeta parece acreditar que os 50% do setor informal da PEA, no Brasil, se devem, talvez, a uma insuficiência de regulação social quanto a normas de trabalho, quando o contrário, mais uma vez, deve ser verdadeiro. 
Em todo caso, seu raciocínio econômico está, aqui, abaixo dos requerimentos desejáveis para um verdadeiro mandamento, pois ele parece acreditar que “ilhas tecnológicas ultramodernas” podem ser responsáveis pela geração de uma “massa de excluídos”, o que é totalmente incorreto, teórica e empiricamente. Não existe nenhuma correlação historicamente verificada quanto a que avanços tecnológicos tenham gerado maior desemprego global nas sociedades tocadas pelo fenômeno. LD também é ingênuo a ponto de acreditar que a “redução da jornada não reduzirá o bem estar ou a riqueza da população, e sim a deslocará para novos setores mais centrados no uso do tempo livre, com mais atividades de cultura e lazer”. Existem evidências, sim, de que se essa redução for operada compulsoriamente, ela pode reduzir o nível de prosperidade global na sociedade; o mercado já faz isso de forma bem mais eficiente, mas o novo profeta, diferente de Moisés, não acredita nos mercados.

VI – Não Viverás para o Dinheiro
LD: A mudança de comportamento, de estilo de vida, não constitui um sacrifício, e sim um resgate do bom senso. Neste planeta de 7 bilhões de habitantes, com um aumento anual da ordem de 75 milhões, toda política envolve também uma mudança de comportamento individual e da cultura do consumo. O respeito às normas ambientais, a moderação do consumo, o cuidado no endividamento, o uso inteligente dos meios de transporte, a generalização da reciclagem, a redução do desperdício – há um conjunto de formas de organização do nosso cotidiano que passa por uma mudança de valores e de atitudes frente aos desafios econômicos, sociais e ambientais. 

PRA:So what?, poderia perguntar o operário desejoso de comprar um carro, mais aparelhos eletrônicos e um iPhone para a sua filha. “Agora vem esse sociólogo e pretende matar o meu desejo de consumo?!” Essa mania de pretender reduzir o “consumismo” das pessoas, vinda de quem já tem um bom nível de vida, é propriamente autoritária, e se não fosse ingênua, seria patética em sua pretensão totalmente inoperante na prática e irrealizável sequer em intenção. O exemplo dado é o apagão no Brasil – que ocorreu em 2001, e não no final dos anos 1990 – que, em função da “punição sistemática dos excessos” teria supostamente permitido “uma racionalização generalizada do uso doméstico da energia”. Independentemente dos esforços de racionalização e de reciclagem que se façam, o fato é que as sociedades e as pessoas vão consumir mais, e gastar mais energia, em qualquer cenário prospectivo que se possa humanamente conceber. Os profetas apostam errado aqui.
Não tenho certeza de que Moisés teria sido ingênuo a ponto de emitir algum decreto contra o “martelamento publicitário que apela para o consumismo desenfreado”. Provavelmente não teria tido sucesso, nem em sua época, nem em qualquer outra que se possa conceber: é o consumismo das pessoas que produz emprego, renda e riqueza, que faz as sociedades avançarem tecnologicamente para resolver os problemas criados pela produção e consumo de bens e serviços, e que traz “prosperidade democrática” num ambiente de bem-estar generalizado. Profetas da austeridade deveriam retirar-se para uma montanha e lá viver, com suas raízes e cabras, e deixar o resto da sociedade produzir e consumir. 
Crentes de hoje (e de qualquer época), tenham apenas uma certeza: quando você virem ou ouvirem um novo profeta anunciando que “Precisamos de uma política pública de mudança do comportamento individual”, estejam certos de que o profeta em questão é profundamente autoritário e pretende alterar arbitrariamente seus hábitos ancestrais. Não se deixem convencer por ele: enxotem-no para a montanha...

VII – Não Ganharás Dinheiro com o Dinheiro dos Outros
LD: Racionalizar os sistemas de intermediação financeira é viável. A alocação final dos recursos financeiros deixou de ser organizada em função dos usos finais de estímulo e orientação de atividades econômicas e sociais, para obedecer às finalidades dos próprios intermediários financeiros. A atividade de crédito é sempre uma atividade pública, seja no quadro das instituições públicas, seja no quadro dos bancos privados que trabalham com dinheiro do público, e que para tanto precisam de uma carta-patente que os autorize a ganhar dinheiro com dinheiro dos outros. 

PRA: Em nenhuma outra relação social tão típica e tão indispensável nas sociedades modernas quanto a intermediação financeira existe um preconceito tão arraigado quanto à multiplicação do dinheiro pelo uso do próprio dinheiro: são enfadonhas as diatribes de velhos e novos profetas quanto à intermediação financeira, equiparada a algo maléfico, ou incapaz de gerar riqueza, como parece acreditar nosso novo profeta: “O dinheiro não é mais produtivo onde rende mais para o intermediário: devemos buscar a produtividade sistêmica de um recurso que é público.”
Engano total, não se trata de um recurso público, muito pelo contrário: durante a maior parte de uma história hoje dez vezes milenar, desde o aparecimento das primeiras sociedades agrícolas sedentárias – e potenciais usuárias, portanto, de meios de pagamentos para suas trocas –, o monopólio da emissão monetária e sua manipulação pelos poderes ditos públicos não existiu senão durante pouco mais de dois décimos desse longo itinerário. O que o profeta LD não percebe é uma coisa muito simples: o “recurso” só é “público” por que os Estados modernos se arrogaram o direito de apenas eles emitirem dinheiro, quando nenhum deles, repito NENHUM, cria a renda e a riqueza correspondentes; apenas tomam uma parte da riqueza da sociedade para legitimar uma série de serviços coletivos que servem de justificativa para o monopólio emissionista. O monopólio dos bancos centrais está conosco por não mais que duzentos anos, com resultados variáveis segundo os países...
O novo profeta comete um outro engano ingênuo: a intermediação financeira só rende mais do que a atividade produtiva lá onde o Estado, por apropriar-se de uma parte maior da riqueza da sociedade, paga juros nominalmente mais elevados do que os que seriam obtidos numa situação de equilíbrio de mercado, com livres fluxos de capitais. Ou o profeta dos novos mandamentos acredita que são os “banqueiros gananciosos” que fixam os juros de referência, aqueles que servem para remunerar o serviço dos títulos da dívida pública? Se ele acredita nisso, além de ingênuo, seria mal informado, pois quem cria as condições para que os intermediários financeiros tenham lucros de intermediação bem mais elevados do que o valor de juros que os mercados pagariam é o próprio Estado e suas práticas financeiras manipuladoras. 
Todos os mercados financeiros, em todos os países, são regulados, e não foi a ausência de regulação que provocou o caos financeiro de 2008, nos Estados Unidos, e a crise econômica mundial de 2009; o novo profeta não deve ter lido nada sobre a “regra de Taylor” ou sobre as garantias indevidas concedidas pelas agências públicas de financiamento de hipotecas, do contrário não alimentaria esse velho preconceito. 
LD repete uma obviedade: “A intermediação financeira é um meio, não é um fim.” Ele parece acreditar – mas não o prova absolutamente – que a “intermediação especulativa” gera “uma pirâmide especulativa e insegurança”, o que não quer dizer rigorosamente nada, a não ser que especuladores especulam. So what?, repetimos: e daí? Quando o profeta compra um bilhete de loteria ele também está “especulando”, e milhões com ele: o único a ganhar é o dono da loteria, o Estado, que concede uma esmola para atrair os incautos. Será que o profeta LD sabe, ou adivinha, quem é o dono da “intermediação financeira” nesse jogo especulativo que são as loterias?

VIII – Não Tributarás Boas Iniciativas
LD: A filosofia do imposto, de quem se cobra, e a quem se aloca, precisa ser revista. Uma política tributária equilibrada na cobrança, e reorientada na aplicação dos recursos, constitui um dos instrumentos fundamentais de que dispomos, sobretudo porque pode ser promovida por mecanismos democráticos. O eixo central não está na redução dos impostos, e sim na cobrança socialmente mais justa e na alocação mais produtiva em termos sociais e ambientais. A taxação das transações especulativas (nacionais ou internacionais) deverá gerar fundos para financiar uma série de políticas essenciais para o reequilíbrio social e ambiental. O imposto sobre grandes fortunas é hoje essencial para reduzir o poder político das dinastias econômicas (10% das famílias do planeta é dono de 90% do patrimônio familiar acumulado no planeta). O imposto sobre a herança é fundamental para dar chances a partilhas mais equilibradas para as sucessivas gerações. O imposto sobre a renda deve adquirir mais peso relativamente aos impostos indiretos, com alíquotas que permitam efetivamente redistribuir a renda. É importante lembrar que as grandes fortunas do planeta em geral estão vinculadas não a um acréscimo de capacidades produtivas do planeta, e sim à aquisição maior de empresas por um só grupo, gerando uma pirâmide cada vez mais instável e menos governável de propriedades cruzadas, impérios onde a grande luta é pelo controle do poder financeiro, político e midiático, e a apropriação de recursos naturais. 

PRA: Não taxar iniciativas meritórias, como empreendimentos culturais, por exemplo, pode até ser um mandamento recomendável, assim como a parte relativa à justa repartição e operacionalização da carga impositiva, mas aqui não se trata de um mandamento e sim de um “arranjo social” – de preferência não constitucional, pois economias são singularmente dinâmicas – que deve ser medido em função das características e peculiaridades de cada sociedade. A progressividade é um princípio que deve ser seguido, mas ela costuma adquirir tonalidades vingativas em certas áreas identificadas com os que pretendem atribuir “grande poder redistributivo ao Estado”.
O novo profeta tem uma ojeriza especial contra as grandes fortunas e contra as “atividades especulativas”, típica de certa tribo de redistribuidores da riqueza alheia. Ele acredita, por exemplo, que a “forte presença das corporações junto ao poder político constitui um dos entraves principais ao equilíbrio na alocação de recursos”, o que é uma repetição do seu primeiro mandamento, que já vimos ser em grande medida equivocado. LD também pretende que o Estado se ocupe mais fortemente de uma “política redistributiva que envolve política salarial, de previdência, de crédito, de preços, de emprego”. Já conhecemos a política estatal de controle de preços, e não parece que ela tenha funcionado bem, em qualquer lugar que tenha sido aplicada. 
Enfim, o tema é complexo e não pode ser esgotado aqui, mas vale uma última reflexão sobre o que o novo profeta designa como o seu “eixo central”, no que LD, aliás, é mais velho do que novo profeta: “o eixo central não está na redução dos impostos, e sim na cobrança socialmente mais justa”. Quem determinará o que é socialmente mais justo?: burocratas governamentais, o parlamento dominado pelas corporações rentistas – e os sindicatos de trabalhadores também são extremamente rentistas – ou a sociedade pretensamente “organizada”? Quando algum profeta falar que não pretende reduzir impostos, apenas torná-los mais “justos”, já se pode esperar exatamente o oposto, como a nossa experiência, infelizmente, ensina...

IX – Não Privarás o Próximo do Direito ao Conhecimento
LD: Travar o acesso ao conhecimento e às tecnologias sustentáveis não faz o mínimo sentido. A participação efetiva das populações nos processos de desenvolvimento sustentável envolve um denso sistema de acesso público e gratuito à informação necessária. A conectividade planetária que as novas tecnologias permitem constitui uma ampla via de acesso direto. O custo-benefício da inclusão digital generalizada é simplesmente imbatível, pois é um programa que desonera as instâncias administrativas superiores, na medida em que as comunidades com acesso à informação se tornam sujeitos do seu próprio desenvolvimento. A rapidez da apropriação deste tipo de tecnologia até nas regiões mais pobres se constata na propagação do celular, das lan houses mais modestas. O impacto produtivo é imenso para os pequenos produtores que passam a ter acesso direto a diversos mercados tanto de insumos como de venda, escapando aos diversos sistemas de atravessadores comerciais e financeiros. A inclusão digital generalizada é um destravador potente do conjunto do processo de mudança que hoje se torna indispensável. 

PRA: Meritório quanto aos fins, duvidoso quanto aos meios. Quando um profeta amigo do Estado afirma pretender oferecer “inclusão digital generalizada”, você já pode esperar um grande programa estatal de lan-housescomunitárias, banda larga a custo mínimo e outras maravilhas do gênero. O mais provável que ocorra é que o governo aumente a taxação sobre o setor ou sobre toda a sociedade, criando um fundo mágico de “inclusão digital social”, que depois será empregado em vários programas geniais de acesso à internet e ao computador: no que ele arrecada 100 unidades monetárias, pelo menos 20 já ficarão por conta da sua “intermediação financeira” estatal, e outros tantos se perderão em licitações públicas viciadas, desvios para fornecedores privilegiados, superfaturamento, gestão deficiente, etc.
Melhor seria se ele reduzisse a carga fiscal de toda a cadeia, ampliando o acesso e permitindo que a população utilizasse da melhor maneira que desejar o dinheiro não arrecadado por profetas amigos do povo, inclusive comprando computadores baratos e assinando provedores de acesso em total concorrência de oferta, para evitar os custos do atual oligopólio de redes, só rentável para o próprio governo (que fica com 40% do faturamento gerado). Esteja absolutamente seguro, cidadão, religioso ou não: esse novo mandamento da inclusão digital vai lhe custar uma parte da sua renda, antes de lhe entregar (ou não) o que promete... 

X – Não Controlarás a Palavra do Próximo
LD: Democratizar a comunicação tornou-se essencial.A comunicação é uma das áreas que mais explodiu em termos de peso relativo nas transformações da sociedade. Estamos em permanência cercados de mensagens. As nossas crianças passam horas submetidas à publicidade ostensiva ou disfarçada. A indústria da comunicação, com sua fantástica concentração internacional e nacional - e a sua crescente interação entre os dois níveis - gerou uma máquina de fabricar estilos de vida, um consumismo obsessivo que reforça o elitismo, as desigualdades, o desperdício de recursos como símbolo de sucesso. O sistema circular permite que os custos sejam embutidos nos preços dos produtos que nos incitam a comprar, e ficamos envoltos em um cacarejo permanente de mensagens idiotas pagas do nosso bolso. 

PRA: Mais um mandamento autoritário de quem pretende “democratizar o acesso aos meios de comunicação”. Conhecemos essa conversa de velhos profetas e o seu resultado não é bom; pior ainda: se trata de um retrocesso monumental no caminho da liberdade de expressão, como revelado nesta intenção: “a corporação utiliza este caminho [a tal da “indústria da comunicação, com sua fantástica concentração internacional e nacional”] para falar bem de si, para se apresentar como sustentável e, de forma mais ampla, como boa pessoa”; ou seja, a solução é penalizar a grande indústria, supostamente deixando tudo nas mãos do Estado justo e bom. 
O vezo autoritário, típica de novos profetas de um velho mundo, se revela em passagens como esta: “há como introduzir uma cultura nova, outras visões de mundo, cultura diversificada e não pasteurizada, pluralismo em vez de fundamentalismos religiosos ou comerciais”. Tudo isto a pretexto de “construir uma vida mais digna para o ‘andar de baixo’, para os dois terços de excluídos”, enfim, muito da cultura do “controle democrático dos meios de comunicação” que é típica daqueles que pretendem construir os seus próprios meios, supostamente não capitalistas e não monopolizadores, quase criando o “homem novo”. Sabemos também em que isso resultou, nas sociedades que foram mais longe nessa direção.Vade retro, profeta...
Trata-se, aliás, de um suposto mandamento contraditório: aplicado ao pé da letra, essa outra “visão do mundo” pretendida poderia cercear completamente o trabalho de exegese, que está na origem da genial criatividade do povo judeu, desde Moisés, e que também se transmitiu em certa medida para as religiões cristãs que emergiram dessa tradição. Creio que Moisés não aprovaria o princípio da coisa...

Finalmente, o novo profeta se arvora em “assessor do Altíssimo”, e pretende se apoiar nessa condição para recusar toda e qualquer avaliação negativa de seus novos mandamentos (como, por exemplo, esta aqui conduzida). Autoritariamente, LD proclama: “críticas, naturalmente, deverão ser endereçadas a Instâncias Superiores”, e declara-se disposto a acolher apenas “apreciações positivas e sugestões de outros Mandamentos”, o que é profundamente anti-acadêmico e anti-intelectual.
Sabemos que Moisés era passavelmente autoritário, mas não desconfiávamos que esse traço menos nobre do seu caráter tinha sido transmitido também aos novos profetas. Em todo caso, um acadêmico totalmente irreligioso como este que aqui escreve não pode considerar-se limitado por esse tipo de proibição unilateral. Afinal de contas, uma “outra visão do mundo” também tem o direito de se manifestar, por quaisquer meios disponíveis, mesmo aqueles dominados pelas “gigantescas corporações do dinheiro”, que não são nem um pouco relutantes em transmitir qualquer tipo de avaliação, mesmos as mais críticas e as menos positivas, desde que isso lhes garanta algum lucro na sua atividade de “intermediação” das comunicações.  
Ao fim e ao cabo, considero que o novo profeta falhou totalmente em sua missão de nos prover com um conjunto original de mandamentos, adequados às modernas sociedades de comunicação instantânea, de liberdade de expressão, de total criatividade e de completa abertura às iniciativas individuais. Isto se aplica mesmo àquelas iniciativas que possam conduzir a monopólios – de fato, não de direito – temporários, como é o caso de Mister Gates, um adolescente de classe média que começou na garagem da sua casa e que hoje está, pouco a pouco, perdendo o controle sobre as ferramentas que criou inovadoramente e que lhe permitiram lucros extraordinários nos últimos trinta anos. Nas sociedades livres, tudo isso é passageiro, e novas formas de comunicação e de criação de riqueza estão sempre sendo gestadas, bem mais, é verdade, na esfera privada do que na pública, como anacronicamente pretenderiam os velhos profetas de um mundo hoje virtualmente desaparecido. 
Sociedades inerentemente democráticas, aliás, não precisam de profetas ou de mandamentos: elas se organizam naturalmente, no respeito às liberdades individuais e na negociação recíproca de algumas poucas regras de convivência social – usualmente consolidadas num instrumento chamado constituição – que estão ali justamente para assegurar o direito de todos e cada um ao livre usufruto de suas iniciativas pessoais (o que inclui o direito de ficar rico, muito rico). Apenas mentalidades autoritárias pretendem regular compulsoriamente, taxar, extrair, criar direitos a muitas coisas – empregos, inclusão digital, igualdade, etc. – para, ao fim e ao cabo, fazer menos, com o nosso dinheiro, do que aquilo que nós mesmos poderíamos fazer na ausência de todos esses programas governamentais que pretendem oferecer maravilhas sociais e que só conseguem criar uma redistribuição da penúria. Tudo isso é conhecido...
Desde Moisés, aliás, podemos observar as sociedades que funcionam – ou seja, que criam riqueza e tornam as pessoas mais livres – e as que não funcionam, aquelas dotadas de um mandarinato extenso, que está ali para nos dizer o que é bom para nós mesmos. Não precisamos desse tipo de profeta ou de seus mandamentos autoritários. Preferimos um Moisés que apenas liberte o povo de seus grilhões; isso já basta. Todo o resto pode ficar com o próprio povo...
Shanghai, 12 de abril de 2010. 

domingo, 8 de abril de 2018

A neoliberalização e os seus descontentes (2003) – Paulo Roberto de Almeida

Em novembro de 2003, recém retornado ao Brasil depois de 4 anos no exterior, encontrei um ambiente muito confuso entre os tradicionais apoiadores do partido da reforma integrantes da minha "classe", ou seja, a dos acadêmicos engajados. Desde o início do governo Lula, em janeiro de 2003, como o governo confirmasse as políticas cautelosas, prudentes, "neoliberais", do governo anterior, essa classe autodenominada de "intelectuais" começou a publicar manifesto atrás de manifesto condenando essas políticas e exigindo uma "política desenvolvimentista", no velho estilo daquilo que já tinha sido praticado no Brasil antes e durante o regime de 1964, e que resultaram naqueles desastres que todos conhecemos: hiperinflação, dívida externa, desvalorização, crise de balanço de pagamentos, recessão, desemprego, etc.
Sem qualquer mandato do governo, escrevi alguns textos criticando, não o governo – o que eu também fiz, aberta e "secretamente" –, mas esses intelectuais desmiolados (e muitos sairiam do PT, batendo a porta, para se abrigar no PSOL, outros foram expulsos, por recusar reformas que o governo estava promovendo, acusadas de serem "neoliberais").
O texto abaixo é um retrato dessa luta solitária que mantive durante bastante tempo, de um lado contra as inconsistências do governo – que eu considerava, ao início, serem apenas resultado da incompetência dos companheiros, de sua inépcia administrativa, e que mais adiante eu descobri que eram deliberadas, medidas e políticas criminosas, feitas expressamente para roubar – e, de outro lado, contra as loucuras dos intelectuais de academia.
Como atualmente, essa mesma classe retorna para apoiar agora o personagem a quem acusou de se render aos capitalistas e neoliberais (o que é verdade, diga-se de passagem), e que se revelou o maior bandido da história política do Brasil, considero ser interessante republicar esse meu texto de crítica à minha "classe" (mas que não deve considerar que eu pertenço às suas fileiras, por sectarismo, claro). Toda a esquerda e grande parte da academia progressista juntou-se aos "mortadelas" – os militantes voluntários ou os mercenários pagos para gritar em prol do meliante corrupto – e denuncia o julgamento "político" do chefe da quadrilha, inclusive um ex-chanceler que vive pateticamente repetindo mentiras e atuando contra o Brasil.
Eis o artigo, escrito no final de 2003.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de março de 2018

A neoliberalização e os seus descontentes:
os órfãos do old-PT e os filhos (confusos) do new-PT

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de novembro de 2003

A sociedade brasileira, na interpretação de muitos intelectuais, estava pronta para grandes mudanças no decurso do processo eleitoral de 2002. Mais do que isso, ela exigia mudanças, cansada que estaria da “mesmice” dos oito anos de tucanato, ou pior, das velhas receitas de política econômica do Consenso de Washington, com o apoio dos políticos fisiológicos dos partidos aliados, a começar pelo PFL mas também pelo PMDB. Como resultado desse grande movimento para a frente, eis que surge um novo poder, liderado pelo partido que tinha prometido mudanças durante toda a sua vida de lutas em direção ao poder. Mais do que isso, ele era a própria encarnação das mudanças, ou pior, um partido em mudanças constantes, apenas que muito mais para dentro do que para fora de si mesmo.
Pois bem, quando esse partido finalmente mudou, a começar pelos compromissos assumidos pelo candidato a presidente em carta ao povo brasileiro, divulgada em junho de 2002, e depois novamente ao assumir finalmente o poder, em janeiro seguinte, os mesmos intelectuais fingem se surpreender e reagem indignados às muitas mudanças que o, agora, maior partido do Ocidente passou a defender, em defesa de teses tão antigas quanto legítimas, como a justiça e a inclusão sociais, a correção das enormes e gritantes desigualdades da sociedade brasileira e a decisão de colocar o Estado a serviço da maioria da população, e não apenas dos privilegiados de sempre. Estas reações parecem evidentes, a partir da gritaria em torno da reforma da Previdência – aprovada com o apoio de grande parte do PFL e da maioria do PMDB -- e em função das principais medidas de política econômica defendidas pela equipe dirigida pelo ministro da fazenda. Por que tudo isso?
Com efeito, enquanto a economia bate recordes de recessão, ou de estagnação, e a população economicamente ativa soçobra gradualmente no desemprego, a academia jamais apresentou níveis tão elevados de produtividade intelectual e de pleno emprego de suas forças produtivas, ainda que na redação de simples manifestos, abaixo-assinados e outras manifestações de “horror econômico”. O motivo? Os acadêmicos protestam contra essa realidade tão prosaica quanto chocante: o mundo mudou, o Brasil mudou e o PT também mudou, como o provam as medidas econômicas, as alianças políticas e o novo discurso social. Quem não mudou, finalmente, foram os acadêmicos, que continuam onde sempre estiveram: no alto de suas cátedras, escrevendo manifestos e assinando cartas ao presidente nos quais exigem mudanças na política econômica do governo.
Em face de um novo manifesto em prol de mudanças na política econômica de Lula, recentemente dado a luz com a fanfarra de sempre, pode-se perguntar: estaríamos em presença de uma nova traição dos clérigos? Ou se trata apenas de um velho cenário que já começa a cansar pela mesmice aborrecedora dos propósitos e argumentos?: os acadêmicos de sempre, “surpreendidos” e “frustrados” com as medidas do governo, lançam mais um “abaixo-assinado” para alertar contra a gravidade da situação e pedir mudanças na política econômica oficial. Déjà vu all over again

Eles só tem a perder os grilhões mentais…
O que terá acontecido com os acadêmicos brasileiros? A Nação vive um momento político sem precedentes em sua história republicana mas eles não parecem se dar conta da importância das mudanças ocorridas no partido governista, que se prepara agora para mudar o País a partir de novas bases conceituais. Bye byevelhas receitas estatizantes e dirigistas e bem-vindas sejam as novas parcerias público-privadas e a reorientação dos gastos sociais do governo. É o novo PT em ação.
Isso, entretanto, não parece impressionar os acadêmicos, encerrados como de hábito em sua torre de marfim, mas que pretendem ainda assim falar em nome da Nação: sem ter obtido nenhum voto popular, nenhum mandato executivo, sem arriscar cargos ou posições, eles pretendem encarnar a vontade do povo e promover, por indução própria e pela enésima vez, as mudanças que eles imaginam ser necessárias na condução da política econômica do País. Eles ainda não conseguiram se libertar de velhos grilhões mentais que os prendem a antigas receitas econômicas, que só falam de controle de capitais, gastos públicos, câmbio administrado, “administração” estatal da dívida pública e outras coisas do gênero.
Quem mudou, na verdade, foi o presidente: um líder operário que no passado prometia mudanças radicais na política econômica assumiu a presidência, tomando então consciência dos problemas que deve enfrentar todo líder político investido de um cargo dessa natureza. A “revolução pelo voto” com que sonhavam os acadêmicos teve de se confrontar aos constrangimentos por que passam todos os que assumem cargos dotados de tais responsabilidades: limitações orçamentárias, constrangimentos fiscais, ausência de base congressual adequada, fragilidade financeira externa, demandas sociais e setoriais em muito superiores às disponibilidades efetivas, enfim problemas com que se defronta todo presidente responsável, o que só parece fugir à compreensão dos acadêmicos. Estes se permitem falar em “elite financeira nacional e internacional” porque têm dela uma noção puramente abstrata e não se consideram, eles mesmos, como parte da “elite financeira nacional”, com suas aplicações em banco. Eles querem nos convencer que vivem, como a maioria do povo brasileiro, apenas de seus salários, mês a mês, e que não possuem sequer uma única aplicação bancária. Eles pretendem falar em “racionalidade econômica abstrata”, mas vivem de abstrações, não da racionalidade concreta dos números do orçamento.

A herança imaginária e a miséria da filosofia acadêmica

A “herança maldita” de que falam os acadêmicos – e mesmo muitos defensores do governo atual – constitui uma bela construção mental, feita metade de problemas reais, estruturais da economia e da sociedade brasileira, a outra metade tendo sido o resultado do próprio processo eleitoral, que, aceitem ou não os promotores dessa tese fragilíssima, provocou uma deterioração geral dos indicadores econômicos relevantes, processo que o governo atual apenas agora está conseguindo reverter. Os atuais indicadores voltam a ser o que eles eram em abril de 2002, e em alguns casos em meados de 2000, depois de superada a crise da desvalorização. Isso parece evidente a qualquer observador isento, mas os acadêmicos insistem em não olhar para os números.
A despeito dessa extraordinária produtividade escrevinhadora demonstrada pelos acadêmicos na produção de “manifestos econômicos” (de vários tamanhos, estilos e conteúdos), eles falharam miseravelmente, até aqui, em oferecer contorno, substância ou coerência ao que eles mesmo chamam de “política econômica alternativa” (que só parece existir na mente abstrata dos que assim escrevem). Em nenhum momento, eles expuseram a factibilidade de uma tal política econômica, não com base na retórica habitual, mas em números, relações de causa a efeito e sobretudo em condições de sustentabilidade fiscal e de adequação orçamentária. Uma avaliação correta dos custos e benefícios de uma “outra política econômica” nunca foi de fato tentada pela nomenklatura da academia. Essa política econômica “alternativa” é aventada, sugerida, invocada, clamada, exigida e até implorada nesses manifestos, mas nunca exposta de forma clara e coerente, com todas as limitações e constrangimentos efetivamente existentes na realidade econômica brasileira.
Pode-se perguntar: qual o mandato concedido aos acadêmicos para fazerem tais tipos de exigências? Que autoridade política possuem eles para pretender que suas idéias sejam implementadas? Aliás, em uma frase: quem avalia as propostas acadêmicas? Ou eles pretendem que seus requerimentos de política econômica alternativa sejam aceitos sem discussão no parlamento, sem exame dos responsáveis pelas contas públicas, por aqueles que, finalmente, foram investidos de tais responsabilidades pelo voto popular ou por decisão presidencial?
O novo Brasil está assistindo, infelizmente, ao velho espetáculo de acadêmicos sem responsabilidade executiva que se dedicam a fazer circular papeis abstratos como se eles fossem dotados de uma legitimidade intrínseca para que seus conceitos vagos e idéias alternativas fossem imediatamente aceitos pela sociedade e incorporados por aqueles que detêm a responsabilidade de conduzir a Nação.

Velhas alternativas e novas mudanças

Afinal de contas, o que pretendem os clérigos acadêmicos? Eles desejam, segundo um desses manifestos abstratos, “promover o desenvolvimento econômico, estabelecer condições para o pleno emprego e empenhar-se pela inclusão social, até que o ciclo de desenvolvimento alcance a totalidade dos brasileiros”. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma bela invocação de um estado ideal, com o qual sonham brasileiros e brasileiras. A essa invocação não corresponde, infelizmente, nenhuma descrição mais precisa dos meios, instrumentos, mecanismos ou modalidades de políticas setoriais e medidas administrativas que permitiriam atingir tal nirvana de felicidade bruta nacional. Não há, sobretudo, nesse meio etéreo em que flutuam os acadêmicos, nenhum constrangimento fiscal, nenhuma limitação orçamentária, nenhuma fragilidade externa, nada que possa opor-se, de fato, à concretização da cornucópia idealista na qual eles parecem se comprazer.
O que dizer, por outro lado, desta invectiva dirigida ao próprio presidente, numa dessas peças da imaginação acadêmica?: “(ele) sabe que terá que abandonar este modelo e lançar as bases de um novo paradigma. E a mudança a ser empreendida não admite meio termo.” Tanta certeza e segurança poderiam fazer pensar que os acadêmicos descobriram o Santo Graal do desenvolvimento econômico por moto-contínuo, a felicidade social a custo zero, a prosperidade de todos como um manancial dos céus, e a distribuição de riquezas sem limites na realidade.
Na verdade, eles oferecem algumas vias para o nirvana: o “abandono das metas de elevadíssimos e desnecessários superávits fiscais primários”, o “controle seletivo sobre o fluxo de capitais externos”, a “recuperação do controle estatal sobre a administração da dívida pública” e outras fórmulas do gênero. Qualquer semelhança com políticas econômicas de um passado não muito distante poderia ser mera coincidência, mas não é: são os mesmos personagens de sempre, voltando a velhas fórmulas de um passado que insiste em não passar.
E como se poderia conseguir o capital político e econômico para ter êxito nessa missão hercúlea? Pasmem os leitores, mas segundo os acadêmicos à custa de força moral, do apoio de todos os brasileiros, da mobilização política nacional, enfim do que eles chamam de “opinião pública mobilizada”, tendo à sua frente os mesmos acadêmicos que sempre nos prometem facilidades mas não conseguem conviver com a realidade.
O que se deve esperar, desse tipo de atitude, é que, mais uma vez, os acadêmicos conseguem se auto-excluir, totalmente, de um debate responsável sobre os rumos da política econômica no País. Este deveria idealmente ser feito com base em argumentos racionais, em evidências empíricas, em dados concretos da situação econômica do País, não a partir de julgamentos apressados, politicamente motivados e de natureza subjetiva, como aqueles que lemos em manifestos e abaixo-assinados universitários. Eles constituem, literalmente, abaixo-assinados, não propostas de alto significado econômico ou político.
Como já ocorreu tantas vezes, trata-se de uma manifestação de protesto de pessoas ressentidas com o fato de que suas “propostas” – de fato um confuso emaranhado de receitas antigas -- não foram acatadas pela equipe dirigente e não foram, portanto, convertidas em políticas públicas. De resto, sua aplicação teria constituído um rápido itinerário em direção ao descontrole inflacionário, à fuga de capitais, ao descalabro fiscal e ao estrangulamento externo, situações já conhecidas por essa mesma geração de acadêmicos que ainda insiste em tentar promover idéias ultrapassadas e propostas surrealistas de política econômica. 
Tudo indica, felizmente, que aqueles que assumiram responsabilidade governativas em janeiro de 2003 possuem bom senso suficiente para não arriscar um mandato duramente conquistado na arena da irresponsabilidade econômica e do aventureirismo político. Como diria o técnico Parreira, “cada macaco no seu galho”. Os dirigentes com mandato exercem sua responsabilidade no comando da Nação, e os acadêmicos escrevem manifestos para deleite dos mesmos crentes de sempre.

Paulo Roberto de Almeida é sociólogo e diplomata e autor do livro A Grande Mudança: conseqüências econômicas da transição política no Brasil(Editora Códex).
Brasília, 27 de novembro de 2003
(www.pralmeida.org)


Mini-reflexao sobre as deformacoes da historia no Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre as deformações da história no Brasil

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: comentário sobre a atualidade;finalidade: esclarecimento dos incautos]


Não a partir dos recentes eventos de caráter policial-judiciário, envolvendo a prisão – delongada, custosa, espetaculosa, pirotécnica, estrepitosa – do maior meliante político da história do Brasil, mas desde sempre, e com mais acuidade desde o assalto ao poder, no Brasil, em 2003, por uma organização criminosa travestida em partido político, percebe-se claramente a continuidade da construção de uma versão deformada de toda a história, versão tanto mais bem sucedida que ela é veiculada por jornalistas simpáticos à causa representada por esse partido, depois sistematizada por acadêmicos também simpáticos à mesma causa, e consolidada num imenso esforço de publicidade pelos responsáveis por essa organização. Acresce que existe uma ENORME ignorância no exterior, sobre a real situação politica no e do Brasil, fruto de uma campanha de desinformação sistemática, interna e externamente, conduzida pelo partido e suas correias de transmissão em todos os meios de comunicação, bem como por seus aliados em vários outros partidos ditos de esquerda e movimentos afins.
Como conhecedor da história, como observador da história brasileira e mundial no último meio século, como leitor de todos os livros de história, de todas as tendências, a que tive acesso sobre a história mundial do movimento comunista, não tenho nenhuma hesitação em afirmar que muito do que se faz atualmente conserva o estilo reconhecido da III Internacional (isto é, da Internacional Comunista criada por Lênin, em 1919, extinta por Stalin em 1943, para servir às suas necessidades conjunturais e táticas de aliança com as potências democráticas ocidentais), ou do Cominform, o mesmo tipo de organização centralizada controlando todos os partidos comunistas ao redor do mundo (com poucas exceções, na China e na Iugoslávia), que existiu no auge e no começo da decadência dos tempos stalinistas. Isso ocorre porque o PT, ademais dos sindicalistas corruptos do tipo de Lula, também é conduzido por uma categoria de apparatchiks que eu chamo de “guerrilheiros reciclados” – ou seja, os militantes que foram derrotados nos experimentos de guerrilha urbana y rural dos anos 1960-70, duramente reprimidos pela ditadura militar, mas que voltaram para a luta política ao seio das organizações de esquerda pós-anistia, sobretudo no PT. Todos eles, mas sobretudo os segundos, nisso ajudados pelos “cérebros” engajados dos gramscianos de academia, fazem um trabalho quase perfeito, de estilo gramsciano, de constante fabricação da sua versão da história, com grande capacidade de ser ela aceita pelos jornalistas e observadores estrangeiros, a começar pela população brasileira, partindo dos simples estudantes e professores.
Também ajuda nisso o fato de que o mesmo bando de políticos corruptos que apoiou os petistas durante todo o seu reino de submissão dos demais poderes, por meio da compra, da chantagem, de diversos tipos de aliança, permaneceu no poder após o processo de impeachment, que apenas retirou do poder os representantes do PT, nele seguindo todos os demais no comando do país, agora lutando contra os poucos juízes que tentam combater a corrupção.
Registro, por necessário, que mesmo a história passada, seja a da era Vargas, seja a do período militar, está e continua sendo profundamente deformada, pelos mesmos historiadores de esquerda e por sociólogos comprometidos com a mesma visão, uma vez que a academia é, a 90%, “progressista” ou simpática às causas da esquerda. 
Uma reflexão final: custará muito à cidadania honesta e consciente, à fração trabalhadora da sociedade brasileira – aquela que produz as riquezas apropriadas pelo chamado “estamento burocrático” do Estado – libertar o Brasil dos políticos corruptos, bem mais do que seria desejável. Mas ouso afirmar que nos custará muito mais, em tempo e esforços, restabelecer a verdade histórica.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de abril de 2018.

Trabalhos mais acessados em Academia.edu: lista seletiva - Paulo Roberto de Almeida

Trabalhos mais acessados em Academia.edu: lista seletiva

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: Tabela construída a partir do Analytics da plataforma Academia.edu; finalidade: seleção dos mais acessados, transcritos de forma sumária]
Listagem efetuada em 8 de abril de 2018.


Introdução
A seleção abaixo apresentada foi feita por meio de uma consulta ao Analytics da minha página na plataforma Academia.edu, com base nas informações ali indicadas, tendo eu operado apenas uma seleção dos trabalhos mais vistos em “todos os tempos”, mas excluindo todos aqueles trabalhos de terceiros, que eu também coloquei nessa página, para informação de alunos ou demais curiosos. A lista completa está no link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida/Analytics/activity/documents/36092063. Aqui figuram apenas os meus trabalhos com mais de 100 acessos, uma vez que a lista completa, com poucos acessos representaria uma relação muito longa. 
Como sempre faço, registro escrupulosamente todos os trabalhos finalizados, dotando-os de um número na lista geral de “originais”, ao mesmo tempo em que mantenho, paralelamente, uma lista geral de “publicados”. Os números constantes da relação abaixo podem dar uma impressão de caos, mas é que também costumo dividir essas listas gerais em listas mais restritas de “livros próprios publicados”, “edição de livros”, “colaborações a obras coletivas” (e são quase duzentas), “outros livros” (além de teses e dissertações) e trabalhos diversos, publicados ou não, que nem sempre levaram números indicativos nesta lista de Academia.edu. Independentemente, porém, dessa numeração confusa, os trabalhos estão disponíveis sob diversas categorias no Academia.edu, e os visitantes podem se servir à vontade.
A lista abaixo representa, portanto, a “popularidade” de cada trabalho, sem qualquer esforço especial de publicidade, a não ser o anúncio de sua disponibilidade em meu site (www.pralmeida.org, hoje menos funcional por problemas com um servidor anterior), em meu blog (http://diplomatizzando.blogspot.com) ou em canais sociais. Ao lado da lista dos mais vistos, figura a lista dos mais “descarregados”, e a diferença se deve a que muitos leem no próprio site de Academia.edu, sem descarregar em seu computador, ou desistem de continuar lendo após as primeiras linhas. De fato, eu tenho esse péssimo hábito de escrever demais, de escrever de maneira prolixa, e de fazer longas digressões em todas as partes de cada trabalho, ao início, no meio e no fim, bem como de escrever longas frases, com apostos, complementos, explicações, tudo entre vírgulas ou travessões. Sempre prometi me policiar, mas nunca consegui, pois adquiri esses hábitos desde muito cedo, ao começar a escrever precocemente (mas ao publicar tardiamente), com uma história “editorial” muito errática. 
Em todo caso, creio que cumpri a função que me auto-atribui desde o início de minha carreira intelectual, feita de leituras anotadas, reflexões e escritos diversos, ao tomar a iniciativa de divulgar livremente muito, a maior parte, do que escrevo sobre os mais variados assuntos desde meio século aproximadamente. Ficam apenas fora dessa divulgação aqueles textos publicados em formato de livros por editoras comerciais. Ainda assim, partes deles (prefácios, posfácios, introduções, partes de capítulos) ficam disponíveis nestes espaços de amplo acesso. Abaixo uma relação dos mais acessados.

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Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de abril de 2018