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domingo, 8 de abril de 2018

Mini-reflexao sobre as deformacoes da historia no Brasil - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre as deformações da história no Brasil

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: comentário sobre a atualidade;finalidade: esclarecimento dos incautos]


Não a partir dos recentes eventos de caráter policial-judiciário, envolvendo a prisão – delongada, custosa, espetaculosa, pirotécnica, estrepitosa – do maior meliante político da história do Brasil, mas desde sempre, e com mais acuidade desde o assalto ao poder, no Brasil, em 2003, por uma organização criminosa travestida em partido político, percebe-se claramente a continuidade da construção de uma versão deformada de toda a história, versão tanto mais bem sucedida que ela é veiculada por jornalistas simpáticos à causa representada por esse partido, depois sistematizada por acadêmicos também simpáticos à mesma causa, e consolidada num imenso esforço de publicidade pelos responsáveis por essa organização. Acresce que existe uma ENORME ignorância no exterior, sobre a real situação politica no e do Brasil, fruto de uma campanha de desinformação sistemática, interna e externamente, conduzida pelo partido e suas correias de transmissão em todos os meios de comunicação, bem como por seus aliados em vários outros partidos ditos de esquerda e movimentos afins.
Como conhecedor da história, como observador da história brasileira e mundial no último meio século, como leitor de todos os livros de história, de todas as tendências, a que tive acesso sobre a história mundial do movimento comunista, não tenho nenhuma hesitação em afirmar que muito do que se faz atualmente conserva o estilo reconhecido da III Internacional (isto é, da Internacional Comunista criada por Lênin, em 1919, extinta por Stalin em 1943, para servir às suas necessidades conjunturais e táticas de aliança com as potências democráticas ocidentais), ou do Cominform, o mesmo tipo de organização centralizada controlando todos os partidos comunistas ao redor do mundo (com poucas exceções, na China e na Iugoslávia), que existiu no auge e no começo da decadência dos tempos stalinistas. Isso ocorre porque o PT, ademais dos sindicalistas corruptos do tipo de Lula, também é conduzido por uma categoria de apparatchiks que eu chamo de “guerrilheiros reciclados” – ou seja, os militantes que foram derrotados nos experimentos de guerrilha urbana y rural dos anos 1960-70, duramente reprimidos pela ditadura militar, mas que voltaram para a luta política ao seio das organizações de esquerda pós-anistia, sobretudo no PT. Todos eles, mas sobretudo os segundos, nisso ajudados pelos “cérebros” engajados dos gramscianos de academia, fazem um trabalho quase perfeito, de estilo gramsciano, de constante fabricação da sua versão da história, com grande capacidade de ser ela aceita pelos jornalistas e observadores estrangeiros, a começar pela população brasileira, partindo dos simples estudantes e professores.
Também ajuda nisso o fato de que o mesmo bando de políticos corruptos que apoiou os petistas durante todo o seu reino de submissão dos demais poderes, por meio da compra, da chantagem, de diversos tipos de aliança, permaneceu no poder após o processo de impeachment, que apenas retirou do poder os representantes do PT, nele seguindo todos os demais no comando do país, agora lutando contra os poucos juízes que tentam combater a corrupção.
Registro, por necessário, que mesmo a história passada, seja a da era Vargas, seja a do período militar, está e continua sendo profundamente deformada, pelos mesmos historiadores de esquerda e por sociólogos comprometidos com a mesma visão, uma vez que a academia é, a 90%, “progressista” ou simpática às causas da esquerda. 
Uma reflexão final: custará muito à cidadania honesta e consciente, à fração trabalhadora da sociedade brasileira – aquela que produz as riquezas apropriadas pelo chamado “estamento burocrático” do Estado – libertar o Brasil dos políticos corruptos, bem mais do que seria desejável. Mas ouso afirmar que nos custará muito mais, em tempo e esforços, restabelecer a verdade histórica.


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de abril de 2018.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Grande Marcha do PT para tras: atrasando o pais em um seculo -Reinaldo Azevedo

Impressionante o desfilar de sandices, mas que segue um plano bem concebido: consolidar essa versão da História para melhor assentar o seu poder totalitário (pelo menos em intenção).
Eu antes pensava que o Brasil era "apenas" um país mentalmente atrasado.
Agora me dou conta de que não, pois a coisa é muito pior: estamos ativamente, deliberadamente, rapidamente, andando para trás.
Ou seja, ademais de completamente anacrônicos, e de partilhar com os militares a mesma concepção nazista de economia e o mesmo entusiasmo por todo esse stalinismo industrial que estão praticando, os petistas são reacionários e, como encerrava Marx em seu Manifesto de 1848, querem fazer girar para trás a roda da História. Parece que estão conseguindo, com a colaboração dedicada de toda a direita conservadora, que nisso mostra que ela também é mentalmente atrasada e totalmente despreparada para governar.
Quanto aos social-democratas, eles são patéticos: querem ser melhores que o PT naquilo que o PT faz melhor, ou seja, mistificar a História, enganar os humildes e construir o seu sistema clientelístico, que só funciona com o dinheiro que os idiotas dos capitalistas repassam direta e indiretamente para eles, legal e ilegalmente.
Não tenho nenhuma dúvida: o Brasil atravessa o seu pior momento em 124 anos de regime republicano, e as tendências atuais devem atrasar o país pelos próximos 20 anos, pelo menos.
Gostaria de estar errado...
Paulo Roberto de Almeida

João Goulart: desenterrando os mortos para servir ao baixo proselitismo dos muito vivos 
Por Por Reinaldo Azevedo, 14/11/2013 

Leitores cobram que eu escreva sobre a exumação dos restos mortais de João Goulart. Escrevo, sim, embora, confesso, certas coisas me provoquem uma imensa preguiça — e olhem que, como é sabido, esse não é um dos meus defeitos. Mas supero. Por vocês! É claro que se está tentando exumar a história para tentar, mais uma vez, recontá-la aos olhos dos vitoriosos e oportunistas de agora. Não é isso o que se pretende com a dita Comissão da Verdade? Nesse caso, reparem: as chamadas vítimas da ditadura — as reais e as criadas por mistificadores — já obtiveram (ou estão em vias de) a reparação. O estado já reconheceu as suas "culpas". Notórios militantes de ideologias facinorosas posam por aí de heróis da resistência — quando seu repúdio à democracia era evidente. Assassinos ganham pensão. Não deixa de ser um desrespeito à memória das verdadeiras vítimas a vizinhança com aproveitadores. Mas não entrarei nessas minudências agora. O fato é que as reparações estão dadas. Mas isso não basta: é preciso inventar também uma narrativa oficial sobre aquele passado; é preciso escrever uma história que consagre a luta do Bem (as esquerdas e seus associados; o populismo doidivanas de Goulart é um "associado") contra o Mal.
E então se vai lá desenterrar os ossos do ex-presidente. Não há um só indício crível, uma só nesga de evidência, um só elemento plausível — além do depoimento de uma figura suspeitíssima — que sugiram que Jango possa ter sido envenenado. Aliás, se foi — e isso teria se dado por intermédio da troca de remédios —, então se deve supor que alguém da sua intimidade compactuou com a tramoia. Remédios são coisas mais ou menos íntimas, não? Nota à margem: diga-se o mesmo, nesse particular, sobre Yasser Arafat. Se é verdade que foi envenenado com plutônio, certamente foi com o concurso das forças de segurança da Fatah, não é? Mas voltemos ao essencial.
Que risco real Goulart representava ao regime militar em 1976? Tinha planos de voltar para o Brasil? Pretendia retomar a luta política? Ele, que não se mobilizou para sufocar um golpe dado em câmera lenta — a fase aguda começou no dia 29 de março a só chegou ao ápice a 1º de abril —, pretendia retomar a um Brasil absurdamente diferente daquele que abandonara 12 anos antes? Não custa lembrar: o sindicalismo do ABC, que já se adensava, indicava a existência de outro país, com um operariado de classe média, formado de consumidores, que aposentara suas apostas nos políticos de perfil populista, como Jango. Vejam os fiascos acumulados por Leonel Brizola, seu cunhado, que encontrou em Luiz Inácio Lula da Silva, o "sapo barbudo", o seu maior opositor. Quem pagou o pato da velharia ideológica do brizolismo, coitado!, foi o Estado do Rio... O que estou dizendo é que era preciso ter um motivo para a ditadura matar Jango. Qual é a hipótese?
Imaginem se, em 1995, em vez de cuidar do Plano Real, FHC estivesse dedicado a exumar os cadáveres do Estado Novo, que terminou em 1945. Sim, senhores! No ano que vem, o golpe militar completa CINQUENTA ANOS. À diferença do getulismo — de que Goulart era caudatário —, o regime militar não deixou herdeiros políticos; não se constituiu numa corrente de pensamento; não tem presença ativa nos debates e embates ideológicos; não detém lugares de poder. Nada! Se é que o atual PP pode ser considerado, por conta de umas duas três figuras, o herdeiro político da Arena, cumpre lembrar que o partido é um caro aliado do governo petista, com assento na Esplanada dos Ministérios. O czar da economia do regime militar, Delfim Netto, é um dos principais conselheiros econômicos do lulo-petismo. O maior herdeiro intelectual que os militares deixaram, no que concerne à concepção de economia e de estado, é mesmo o... PT!
Ocorre que exumar os restos mortais de Goulart alimenta a fantasia da luta das "forças populares" contra as "forças da reação", do "nós, os bons", contra "eles, os maus"; dos supostos defensores dos interesses nacionais (hoje, como na ditadura, fartamente financiados com dinheiro público) contra os vendilhões da pátria... Vale dizer: desenterram-se mortos, embalados por teorias conspiratórias meio alucinadas, para, de fato, servir aos interesses dos vivos — no caso, de vivaldinos.
Ademais, cumpre perguntar: o político João Goulart fazia mesmo o perfil do herói? O presidente de 1964 se encaixava no figurino de um defensor da democracia? Era zeloso com as instituições? Dosava, então, ousadia e prudência no melhor interesse da população? O líder deposto em 1964 respeitava as instâncias representativas e o estado de direito? Ora, tenham paciência, não é!? Ainda que não houvesse condições de se instaurar a tal República Sindicalista que muitos temiam, o fato é que investiu, com energia e determinação, na República Baguncista.
Afirmar que os militares deram um golpe para preservar a democracia é, obviamente, uma tolice. Sustentar, no entanto, que Goulart fosse um democrata é tolice de igual tamanho. Em 1964, a democracia foi abandonada à própria sorte. Faltavam forças relevantes que a defendessem.
O mais patético nessa conversa, caso nos fixemos na história das ideias, é que o petismo, que está a sustentar essa patuscada toda, se constituiu na contramão de tudo aquilo que Jango representava. Em algum momento da história, o PT representou um sinal de aggiornamento, de modernização, quando se toma o varguismo como referência. O partido, também nesse particular, mudou. E, como não poderia deixar de ser, para pior.
O Brasil deveria estar pensando em 2064. Mas está ocupado em rever 1964. Na prática, um século de atraso.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A mistificacao da Historia pelos companheiros "istoriadores" - Milton Simon Pires

A LEI DA HISTÓRIA

Milton Simon Pires

Dias atrás escrevi que não sabia o que era a História. Afirmei também que chegava a ver, nas Teorias de Conspiração, uma oportunidade (talvez a única) de oposição à ideia de entender a História como um “gigantesco mecanismo”, uma máquina com leis e regras a serem descobertas. Nesse sentido, imagino que historiadores seriam uma espécie de relojoeiros do tempo...pessoas com a habilidade (ausente em todas as outras) de definir o que é e o que não é História...
Pois bem, meus amigos -  nosso problema acabou. O Projeto de Lei 4699/2012 (denominação atual), do Senador Paulo Paim (PT), que propõe regular o exercício da profissão de historiador no Brasil, entrou em tramitação de urgência em Brasília em junho recente, o que fez com que o debate a seu respeito ganhasse novo fôlego nos últimos dois meses. Agora, no Brasil, ninguém mais vai “especular” sobre o que é a história. Chega de imaginar a história como luta de classes, repressão ou vontade de poder. Os professores de história, para que tenham esse título, hão de sujeitar-se a lei. Vejam que não é muito importante, para o partido do autor da lei, uma regulamentação específica para definir quem pode atender pessoas doentes, mas não há dúvida nenhuma de que “contar oficialmente como a pessoa foi atendida; tem sim!” Nesse sentido, imagino que o PT vai conseguir o que nenhum partido comunista do mundo conseguiu – criar uma lei específica para definir quem pode ou não ensinar a todo um país aquilo que é ou não é (na sua opinião) a verdade histórica. Teria isso alguma relação com a “Comissão da Verdade”?? Haveria no Brasil algum historiador criando problema para a  companheirada?? Imagino que não! Isso, afinal de contas, só poderia ser delírio de gente conservadora e da direita como eu, não é meus amigos?
"Those who cannot remember the past, are condemned to repeat it". Quando George Santayana disse isso eu tenho certeza que ele não imaginava que alguém escreveria uma lei definindo a exclusividade para que somente alguns pudessem dizer o que é – exatamente – o passado a ser lembrado. Caso a lei existisse no tempo de Santayana, sua frase seria desnecessária pois ficaria evidente  a característica mais específica, mais definidora, mais covarde e nojenta de um regime totalitário como é o petista no Brasil - a apropriação da noção de tempo e de História. O Partido-Religião, nascido em 1980, veio para encantar a todos com a sua noção daquilo que poderia ser o futuro. Essa etapa já terminou; agora a história nacional vai ser recontada pois o PT vai reescrever o passado aparelhando todo o ensino de História no país com seus malditos militantes. Tenho certeza que nessa altura do artigo alguns estão pensando - “Mas Milton, isso já não era assim há muito tempo?” - Resposta – claro que era! A diferença é que não havia ainda uma lei definindo essa barbaridade como parece que vai haver agora. Dizer que em 1964 houve uma contrarrevolução ao movimento comunista no Brasil ainda seria uma possibilidade à medida que dentre os professores das escolas e das universidades pudesse haver a chance de alguém dizer isso e ser reconhecido, oficialmente, como historiador. Agora essa chance vai ser nula! Só vai receber essa titulação quem o Partido-religião quer! Será, meu Deus, que ninguém consegue ver isso?
Meus amigos, o PT é composto da ralé da escória da sociedade e principalmente da intelectualidade brasileira, mas por favor não o subestimem. Essa gente sabe que nem o Olavo de Carvalho nem a Marilena Chauí nem ninguém nesse mundo pode dizer exatamente o que é a História... que esse é  um tema aberto uma questão cuja indefinição define a própria beleza, a honestidade e o compromisso com a verdade da profissão de historiador. Desse compromisso resulta uma luta constante por saber  mais sobre aquilo que aconteceu e que pode nos oferecer uma vida mais plena  e rica em liberdade.
É mudando a verdade sobre o passado que o PT quer construir seu futuro diabólico! É tornando-se senhor da verdade e proprietário privado do tempo que ele vai fazer isso pois há de dizer quem no Brasil pode pensar,  falar e escrever sobre o assunto.
Sem ter a mínima noção daquilo que venha a ser a História, os malditos petistas resolveram criar uma lei que determina quem pode falar sobre ela – inventaram a Lei da História!


Porto Alegre, 4 de setembro de 2013.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A historia e suas versoes: companheiros pretendem continuar escrevendo a sua

Nosso dever moral é sempre contar a versão correta, ou seja, aquela que se atém aos fatos, tais como eles efetivamente ocorreram, como diria Leopold Von Ranke.
Os companheiros pretendem contar a sua: espíritos totalitários sempre pretendem controlar o passado, para melhor se apossar do presente e determinar o futuro.
Não contarão com a minha omissão: pretendo relatar as coisas exatamente como as coisas são.
Vou deixar o meu registro, sobre nossa democracia de baixa qualidade e suas imensas deformações, que permitem, justamente, que indivíduos sem qualquer caráter se apossem de instituições do Estado para manipulá-las em seu favor.
Não com a minha conivência, e sempre com minha denúncia.
Na falta de tempo de elaborar meu próprio testemunho, começo transcrevendo o que disse um jornalista conhecido, que reflete exatamente o que vai pela cabeça desses totalitários em projeto.
Paulo Roberto de Almeida 


Reinaldo Azevedo, 23/10/2012

Não pensem que o julgamento do mensalão acabou. Sob certo ponto de vista, ele mal começou. Depois do maiúsculo trabalho feito pelo Supremo Tribunal Federal — que deu aos crimes os nomes que, durante um bom tempo, as oposições se negaram a dar —, resta agora o que chamarei de disputa pela narrativa histórica, que não coincide necessariamente com os fatos, sobejamente relatados e provados pela Procuradoria-Geral da República, com o endosso da maioria dos ministros. Depois de examinar severamente as provas, o resultado é o que se viu: gestão fraudulenta, corrupção ativa, corrupção passiva, peculato, formação de quadrilha… A soma de horrores tinha um propósito, como também restou cristalino: executar um projeto de poder que buscava — busca ainda — tornar inermes as instâncias da República. O que o Supremo fez foi punir a extrema ousadia. Depois disso, aquela gente se tornou um pouco mais prudente, mas não quer dizer que tenha mudado de propósitos. Para os petistas, gosto de lembrar a frase de Talleyrand ao definir os Bourbons: “Não aprenderam; não esqueceram nada!”. Quem vai se apossar dessa narrativa?
Na academia, alguns poucos aos quais restou, intocada, a honestidade intelectual buscarão relatar a história. Uma grande maioria certamente se calará porque os fatos, afinal, não obedeceram aos desígnios do “Partido”, o ente de Razão que escolheram como senhor da história, numa evidência de sua mediocridade intelectual, de sua fraqueza moral e de sua baixeza ética. É preciso, é evidente, que os políticos de oposição se encarreguem de transformar a evidência dos fatos numa herança histórica a ser lembrada pelas gerações futuras. Até porque estamos falando de um mal de muitas cabeças. Não pensem que o petismo vai se conformar com o veredicto do Supremo. Muito pelo contrário: tentará usar a condenação para partir para o ataque.
Não me refiro às muitas notas disparadas pela Executiva do PT, por José Dirceu ou por José Genoino. Não me refiro às tolices do stalinismo bolorento de Marilena Chaui, que segue a trajetória inversa à dos bons vinhos. Refiro-me aqui a outra coisa. Os petistas tentarão se vingar institucionalmente. E já emitem sinais nesse sentido, com o que terão de tomar cuidado também os partidos da base aliada.
No domingo, em entrevista ao Estadão, quando posou uma vez mais de herói, José Genoino defendeu, do nada, o financiamento público de campanha, no bojo de uma “reforma política profunda”… Por que um partido que exerce o terceiro mandato consecutivo segundo as regras que aí estão, que se constituiu, na sua vigência, como uma das maiores legendas do país, quer mudar “profundamente” as regras do jogo? A resposta é uma só: para se eternizar no poder. Ora, o financiamento público, se fosse instituído, teria de obedecer a algum critério, como a distribuição dos recursos segundo a atual bancada dos partidos, por exemplo, o que daria ao PT uma enorme vantagem. Imaginem vocês: os petistas querem fazer uma “reforma política profunda”, que terá como fundamento o atual tamanho das bancadas, quando os partidos de oposição vivem o seu pior momento. E não está de olho só nisso, não! Também vê com desconfiança o crescimento de alguns aliados. Antes que o mal cresça, pretende lhe cortar a cabeça.
Tentará ainda mecanismos para controlar a imprensa e, como já anunciaram alguns representantes do partido, o próprio Poder Judiciário. É pouco provável que consiga realizar esses intentos. Todas as iniciativas, no entanto, constituem esse esforço de ser o senhor da narrativa.
O mensalão por outros meios
Cumpre ter muito claro uma coisa: essa gente não tem limites e não reconhece os valores que orientam uma democracia e uma República. Nem a própria imprensa, com raras exceções, vocês já sabem disso, se dá conta das barbaridades que são cotidianamente ditas e cometidas. No fim de semana, em Santo André e Mauá, Lula disse, com todas as letras, na presença de ministros de estado, que vai atuar junto à presidente Dilma para que não faltem recursos a cidades cujos prefeitos sejam petistas. E isso passa como coisa normal. A própria presidente sugeriu, em Salvador, que a eleição de um candidato do PT facilita o trabalho com o governo federal.
Isso tudo é um acinte. Essa é, provavelmente, a forma mais escancarada de uso da máquina pública de que se tem notícia. Não deixa de ser uma espécie de mensalão, executado por outros meios. Trata-se de deixar claro aos eleitores que o estado foi capturado e que fazem dele o que lhes der na telha: havendo um prefeito aliado, chegará dinheiro; não havendo, então não!
Por que se constituiu a quadrilha do mensalão? Porque os petistas não reconhecem os fundamentos de uma República democrática, que prevê a alternância de poder se for essa a vontade do povo. Não para eles. Poder conquistado é poder acumulado, e não se concebe que outro lhes tome o lugar. Por isso buscaram fraudar as regras do jogo com aquela cadeia de crimes; por isso voltam a falar em reforma política e financiamento público de campanha; por isso ficam a fazer chantagem sobre os palanques.
Os partidos de oposição têm de denunciar toda essa gente ao Tribunal Superior Eleitoral, sempre tão célere em censurar meras mensagens de propaganda. Quero ver é um TSE que coíba o uso da máquina pública e o abuso do poder econômico nas eleições. O PT recebeu um baita golpe moral. Por isso mesmo, está mais perigoso do que nunca!

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Reinaldo Azevedo, 23/10/2012

Haverá hoje sessão extraordinária no Supremo para encaminhar as questões pós-coleta de votos. Será preciso definir o que fazer nos casos de empate — provavelmente, o réus serão absolvidos — e começar a cuidar da dosimetria, vale dizer, da atribuição de penas aos condenados. Podem ser sessões turbulentas, sim, vamos ver. À note, no debate da VEJA.com, a gente comenta tudo. Quero aqui cuidar de outra coisa.
A maioria dos ministros do Supremo não fez o que Lula queria. Para ser mais amplo: a maioria dos ministros do Supremo não fez o que o PT queria. Quem sintetizou com maior percuciência a boçalidade petista foi um senador considerado “moderado” (imaginem os radicais…): Jorge Viana, do Acre. Disse com todas as letras:
“Só não vale nossos governos indicarem ministros do Supremo e eles chegarem lá e votarem contra por pressão da imprensa”.
Em frase tão curta, tão longa tradição totalitária. Em primeiro lugar, não foi o “nosso (dele) governo” que indicou os ministros, mas uma instituição chamada Presidência da República, que é o topo de um Poder, o Executivo. Como instâncias da República, não são entes que “pertençam” ao PT. Não são “nosso” — isto é, deles. Em segundo lugar, os ministros foram aprovados pelo Senado, fatia de outro Poder, o Legislativo, que é, pasme Jorge Viana!, do povo, não dos petistas.
Em terceiro lugar, quem disse que os ministros votaram “por pressão da imprensa”? Então só haveria um modo de não fazê-lo, a saber: votando de acordo com a vontade do PT? Quem faz o que quer o partido é, pois, “independente”; quem não faz, é mero capacho da mídia? A fala, no entanto, trai uma intenção, que talvez não se tenha cumprido por erro de cálculo: os petistas esperavam, sim, “fidelidade” dos ministros indicados e nomeados. Traidores que são, no entanto, decidiram servir às leis e à Constituição. E isso parece inaceitável mesmo a um “moderado” como Jorge Viana.
Pois bem. No dia 18 de novembro, Ayres Britto faz 70 anos e deixa o Supremo. Abre-se uma vaga. É bem possível que Celso de Mello, infelizmente, antecipe a sua aposentadoria de 2014 para o começo do ano que vem em razão de problemas de saúde. Outra vaga.
O resultado do julgamento do mensalão aumentou nos petistas a convicção de que só ministros “de confiança” podem ser nomeados. No imaginário do partido, um STF tem de contar com 11 Lewandowskis; não sendo possível, até se aceitam um Dias Toffoli ou outro. Ainda há petistas inconformados com a sua decisão de condenar José Genoino por corrupção ativa. A grita foi de tal sorte que, ontem, o ministro não demorou nem 30 segundos para concordar com o revisor e inocentar todo mundo. Dispensou até os fundamentos. Foi um desrespeito ao tribunal, mas também foi um jeito de deixar claro aos companheiros que ele está um tanto amuado. A petezada acha que faltou a Toffoli o espírito de luta companheiro que enxergou em Lewandowski, que está sendo saudado como um verdadeiro herói.
Mais duas nomeações de igual jaez, a Corte ficará com quatro ministros — vamos ver como se comporta Teori Zavascki — que podem estar menos preocupados com a lei e  com as instituições do que com aqueles que lhes garantiram o posto honorífico. Insisto: há um frenético movimento de bastidores sustentando que conspiradores pretendem atacar a reputação do partido pela via judicial e que cumpre ao governo do PT proteger o… PT!
Que a sociedade brasileira fique vigilante! Os petistas consideram que foram malsucedidos até aqui em controlar o Supremo. E é grande a pressão em favor de ministros comprometidos com a causa. Não fosse assim, não se diria com tamanha ligeireza e desfaçatez que José Eduardo Cardozo é candidato a integrar a Casa.
Lula já andou cochichando por aí que só restam dois inimigos aos petistas: a “mídia” e o Judiciário. Não é o primeiro a ter essa sacada. Os fascistas originais já achavam isso, é óbvio, antes dos epígonos…

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sobre a fraude quilombola: mais uma mistificacao dos petistas e militantes do Apartheid

Um amigo me envia este artigo sobre a indústria dos quilombos, fabricados artificialmente para não se sabe que finalidades políticas, econômicas ou sociais. Certamente não estão sendo inventados para melhorar o Brasil, mas talvez sim a vida de certos companheiros...
Paulo Roberto de Almeida 


Sobre Quilombo e caviar

            Roque Callage Neto, Doutor em Ciências Sociais pela UNB
Recentemente, o presidente da Fundação Palmares brindou o público com um artigo no jornal Zero Hora do Rio Grande do Sul, intitulado “Quilombo e caviar”, no qual traçava analogia entre ambos. Sugerindo ser a apreciação cultural sobre quilombo uma refinada iguaria e preciosidade como o caviar, lamentava o que chamava de ignorância que cerca o assunto.
            A analogia não poderia ser mais feliz, contribuindo para demarcar perfeitamente como devem ser a análise e  debate sobre tão relevante tema. Para que os brasileiros possamos todos apreciar  e respeitar a memória da africanidade  de resistência à escravidão de nossos irmãos negros, é preciso porém atentar que quilombos necessariamente são raros e poucos – pois  correspondem a um período passado, do qual restaram como remanescentes. .Por isto mesmo apreciados como preciosidade no espaço nacional.
Entretanto , não é isto o que tem ocorrido, porque vulgarizam-se declarações de autodefinição, multiplicando-se em progressão geométrica a partir do decreto lei 4.887/2003 na presidência Lula da Silva, que pretendeu regulamentar o Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitorias da Constituição de 1988. Dando às comunidades a prerrogativa da autodefinição como remanescentes de quilombos, e sempre usando critérios ambíguos e abstratos, considera terras ocupadas pelos remanescentes as “utilizadas para garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural”. E ainda aponta que para  medição das terras, serão levadas em conta os “critérios de territorialidade apontados pela comunidade”.
Para ampliar ainda mais a insegurança jurídica e a incerteza conceitual que predominam na questão, antropólogos  afoitos ou mesmo militantes da causa, declararam em documentos que a noção de quilombo deve ser “móvel” ou em deslocamento, sofrendo  ressignificação ou ressemantização, pois ela não deve ficar “congelada” no tempo. Crtiticaram a noção colonial do jurista Perdigão Malheiros ou do Conselho Ultramarino, que consolidavam uma visão de quilombos como negros fugidos em arranchamento ou não em números definidos, sendo mais do que cinco. Assim, quilombo deveria ser uma visão dinâmica que se estenderia no tempo, para atingir situação contemporânea de uma resistência sempre presente.
Ledo engano.
Para entendimento preliminar deve-se dizer, desde logo, que quilombo não é uma abstração inerente a cada sujeito social particular, ou auto identificação suposta a cada grupo que assim o deseje segundo suas reminiscências específicas. Mas uma organização social com características de cidadania civil, perfeitamente identificável por sua rebeldia contra a ordem colonial e  monárquica nos séculos XVIII e XIX; formada por comunidades majoritariamente africanas (incluindo outros participantes), com hierarquia politica e estabilidade e permanência mínima no território.Visava abrigar fugitivos, construindo esboço de uma ordem política republicana, ou seja, conflagrando-se à ordem política existente. Não pode haver quilombo sem esta representação diferenciada sobre a ordem então existente – a ordem imperial monárquica ou ordem colonial e inclusive esta é sua auto-definição sociológica, tipificada pela antropologia jurídica.. Não tratamos aqui das diversas conotações que quilombo possa ter na terminologia ancestral africana, mas sim da que teve no território colonial e imperial brasileiro. É desta que os Constituintes de 1988 trataram.
Seja qual fôr o tamanho e a proporção do quilombo, estaremos diante de uma organização social com direitos civis diferentes dos súditos da Coroa portuguesa ou brasileira , hierarquizados politicamente por obediência a chefes constituidos de forma precocemente republicana. Foram variados no Brasil, e os quilombos de Minas Gerais chegaram a ter ampla constituição territorial, lideranças consentidas ou legitimadas pelos liderados, comercio ativo entre suas subdivisões territoriais, fluxo constante de produtos, abastecimento, grande divisão e  especialização de trabalho, especialização doméstica e vários ofícios.
Quilombolas, são, portanto, os representantes desta comunidade, e não têm qualquer conotação étnica, mas sim representam uma identidade civil de várias etnias africanas.Mais bem caracterizando uma etnia social compósita, antes que se viesse a formar a vasta macro-etnia de afro-brasileiros.
            A partir da abolição mas principalmente da República, não há o menor sentido falar-se em “quilombos” , e por isto mesmo,  exemplarmente os Constituintes de 88, no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias escreveram que .."aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos".
            Os negros ex-escravos se tornarão após camponeses em comunidades rurais, proletários urbanos, artesãos, serviçais ou peregrinarão pelas cidades buscando ocupações. Por certo, este período representará uma das mais injustas páginas da história brasileira, onde as terras, principalmente terras públicas, foram negadas a quem certamente deveria nelas trabalhar.Mas o que realmente ocorre, é a formação de mocambos, cortiços, favelas, nunca de quilombos. Estes não existem mais, apenas, bem acentuaram os Constituintes de 88, como remanescentes.
Por isto mesmo, são raros e poucos, merecendo a analogia com o caviar, feita pelo presidente da Fundação Palmares. E são raridades que nos convocam à seriedade, , cuidado, apreciação e até reverência.Um País que se quer uma potência social e econômica certamente deseja um futuro onde esta lembrança ocorra mais como metáfora do que como realidade de injustiça.
Entretanto, a  justiça deve ser feita sem cometer outra.
Nos últimos anos, a partir do decreto já citado, que equivocamente franqueou a auto-atribuição do imaginário mítico como regra fundamental para caracterização e  delimitação de quilombos, proliferaram pedidos de reconhecimento em todo o Pais. Um surto de novos quilombolas se estabeleceu de norte a sul. Enquanto de 1995 a 2002, haviam sido identificados 743 quilombos , a partir de 2003 até 2009, depois do decreto 4887, este numero passou para 3.524, sendo que 1.342 foram certificados pela Fundação Palmares. Até 2011, o total de certificações atingiu 1.711. A certificação é o passo inicial para a ação do Incra e a eventual desapropriação.
Se o movimento quilombola  acusava o governo anterior de lentidão em fazer justiça, o posterior passou a ser geométrico, certificando quilombos em toda a parte. A partir do decreto 98/2007, houve alguma sobriedade, e a Fundação Palmares passou a exigir maiores procedimentos ao que era simples reconhecimento completo de auto-definição. Mesmo assim, os movimentos sociais continuam a pressionar por reivindicações duvidosas, que não resistem a laudos criteriosos de contestação à sua demanda. Simplesmente, camponeses rurais não são quilombolas, e agricultores negros tampouco o são, faltando o essencial: sua definição civil e sua organização hierárquica básica que os caracterizaram como descendentes do periodo em questão como contestadores   à ordem existente.
O passo posterior normalmente requerido é o do laudo antropológico  e o relatório técnico, quando então estas comunidades podem vir a ser em tituladas. A titulação é coletiva, criando uma propriedade comunista do solo com usufruto, algo que já está sendo contestado pelos próprios beneficiários. Todas as experiências mundiais de comunização da agricultura fracassaram pela falta de produtividade e ambição individual em produzir, e basta-se verificar o que ocorreu nos kolkhozes soviéticos para se ter certeza na inevitabilidade deste fracasso. Se os ancestrais quilombolas a praticavam na ordem monárquica , nada indica que os contemporâneos a desejem.
            É justamente toda esta concepção de fazer justiça que está congelada, contrariando o que dizem alguns antropólogos, até reunidos em associações profissionais. Laudos se apressam a justificar reivindicação de amplas áreas para supostos quilombolas com argumentos de que as comunidades precisam reproduzir seu histórico modo de vida . Mesmo que se admitisse  suposta hereditariedade quilombola em várias regiões reivindicadas, pesquisas demonstram que netos e bisnetos de quilombolas não têm o menor interesse em trabalhar na terra como seus antepassados e muito menos de viver em territórios negros fechados. Mas sim em usufruirem da vida urbana , de estudarem e terem bom emprego moderno.Não têm o menor vínculo com suposto ritual mítico que os unificaria a uma causa quilombola, mas sim, uma interação constante com suas familias miscigenadas, ativos na brasilidade de suas vidas republicanas nas cidades e em seus projetos de classe média .Consideram-se sim, afro-ibero-europeus-brasileiros e mantém estas conquistas étnicas como patrimônio, desejando desenvolvê-las. Para eles, a identidade civil de quilombola  não é relevante. Não estão congelados no tempo e não querem ser congelados por antropólogos que lhes prometem o apartheid social.
            Estes antropólogos, influenciados por teorias antropológicas internacionais que visualizam o conflito permanente como forma de uma consciência diacrítica (diferenciadora)  da identidade, subscrevem documentos de apoio à segregação étnica e à constituição de territórios racialmente homogêneos. Isto acaba revivendo a noção antropogeográfica de “espaço vital”, surgida com Friedrich Ratzel e que levou ao nacional-socialismo. Não há o menor sentido em aplicar políticas de identidade sobre territórios fechados, denominados como “quilombolas”, expulsando agricultores familiares brancos ou miscigenados, incluindo familias mistas brancas e negras - todas convivendo há mais de um século em aceitação recíproca.E há muitos casos assim..
            A política quilombola terá que necessariamente passar por profunda revisão. A  melhor forma de homenagear os sobreviventes culturais de um passado de injustiça que se quer eliminar para o futuro , mantendo-o somente como metáfora simbólica em patrimônio cultural não congelado, é expor este patrimônio à convivência diária multicultural com vizinhos bem contemporâneos de nossa civilização brasileira em construção.Titulando a quem mereça, mas sem desapropriações absurdas e fantasiosas.

A deformacao da Historia (por aqueles mesmos que voces conhecem)

Apenas transcrevendo, mas aproveitando para dizer que subscrevo todos e cada um dos argumentos. Já escrevi um trabalho sobre os mitos acumulados em torno do golpe e do regime militar de 1964, que caberia recordar aqui: 
Falácias acadêmicas, 7: os mitos em torno do movimento militar de 1964, Brasília-Rio de Janeiro, 20 março 2009, 23 p. Sobre o maniqueísmo construído em torno do golpe ou da revolução de 1964, condenando a historiografia simplista que converteu-se em referência nos manuais didáticos e paradidáticos. Espaço Acadêmico (n. 95, abril 2009; arquivo em pdf). 
Paulo Roberto de Almeida 



OPINIÃO

Sobre ruas e ditadores

Para determinadas ideologias, a história funciona como uma despensa onde se apanha as receitas do momento. Por Percival Puggina*

Opinião e notícia, 11/12/2011
Está em discussão na Câmara de Vereadores de Porto Alegre um projeto de lei que pretende mudar o nome da Avenida Castelo Branco para Avenida da Legalidade. A vereadora do PSOL que teve a iniciativa do projeto alega que Castelo Branco foi o primeiro presidente do regime militar, um ditador segundo ela, e que a homenagem, portanto, não se justifica.
A primeira contestação salta aos olhos de qualquer analfabeto. Como ficam, perante esse critério, tantas ruas, praças e avenidas com o nome de Getúlio Vargas (para não mencionar Floriano Peixoto, Julio de Castilhos, Borges de Medeiros e tantos outros)? Getúlio implantou uma ditadura duríssima entre 1937 e 1945. A vereadora contrapôs aos que lhe apresentavam esse argumento, que Getúlio, antes de ser ditador, havia sido eleito… Impressionante desconhecimento de história! Getúlio Vargas disputou a eleição presidencial de 1930 contra o paulista Julio Prestes e perdeu por uma diferença de 300 mil votos, numa eleição com 1,8 milhão de votantes. As alegações de fraudes surgiram de parte a parte e parecem bem prováveis diante do fato de que nosso conterrâneo fez 100% dos votos do Rio Grande do Sul! Aliás, João Neves da Fontoura, logo após o pleito, afirmou, em um dos muitos prenúncios da revolução que se seguiria: “Com esses homens e essas leis essa foi a última eleição presidencial no Brasil”. Portanto, Getúlio assumiu a presidência em 1930 conduzido por um levante armado que depôs o presidente Washington Luís e impediu a posse do recentemente eleito Júlio Prestes. Foi como chefe de um Governo Provisório que exerceu o poder até 1934, revogadas por decreto as garantias da Constituição de 1891. Em 1934, ante as insistentes pressões legalistas que já haviam eclodido em São Paulo em 1932, convocou uma Constituinte. Foi essa Constituinte que, por via indireta, o elegeu para um novo mandato com início em 1934 (Castelo, aliás, também foi eleito pelo Congresso). Quando se aproximava o fim desse segundo período, Vargas instaurou o Estado Novo, tornando-se ditador até ser deposto em 1945. Portanto, ele só chegou ao poder pelo voto popular na eleição presidencial de 1950.
Não surpreende a incoerência da vereadora nem seu desconhecimento da recente história republicana. Para determinadas ideologias, a história funciona como um armário de utilidades, uma despensa onde se apanha o que for necessário para cozinhar segundo as receitas do momento. Reprovar a ditadura de Vargas não serve porque o são-borjense foi mitificado no imaginário nacional. O afastamento entre a deposição de Getúlio e a posse de Castelo foi de apenas vinte anos. E nós estamos a meio século dos fatos de 1964! Contudo, embora as circunstâncias nacionais e internacionais de cada época estejam devidamente disponíveis nas prateleiras da história, não há, para a esquerda hegemônica conveniência política em ir buscá-las. Por quê? Porque existem correntes políticas que precisam do conflito, do antagonismo. Quanto maior aquele e mais exarcebado este, melhor.
Não se trata de andar na direção de qualquer êxito político porque o sucesso da política é a superação do conflito. Aliás, a política não existe para promover confrontos, mas para superá-los. E incontáveis vezes, na história dos povos, ela dá solução a traumas e disputas que o Direito não consegue resolver. Foi o caso das tantas anistias ocorridas ao longo da nossa história. Foi o caso, inclusive, desta última, constitucionalizada, que as mesmas correntes ideológicas de hoje querem revogar por muitos modos. Entre eles, pela substituição de nomes de logradouros públicos. Em quaisquer de suas expressões, andam além da margem de qualquer êxito político, no bom sentido dessa palavra. São, isto sim, sintomas de uma nostalgia enfermiça em relação àquele terrível ambiente político, geopolítico e ideológico que instauraram, em escala mundial, durante o século passado.
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* Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões

segunda-feira, 2 de maio de 2011

MECdoPT: a deformacao da Historia em construcao...

Certas pessoas não se contentam em apresentar a sua versão da história; elas também querem transformá-la em versão oficial, com todas as deformações e simplismos que suas mentes deformadas concebem conceber.
Paulo Roberto de Almeida

Livros aprovados pelo MEC criticam FHC e elogiam Lula
Obras atacam privatizações feitas pelo tucano e minimizam o mensalão

LUIZA BANDEIRA - RODRIGO VIZEU
Folha de S.Paulo, Domingo 1 de maio de 2011

Comissão formada por professores avalia os livros, que são usados por 97% das escolas da rede pública de ensino

DE SÃO PAULO - Livros didáticos aprovados pelo MEC (Ministério da Educação) para alunos do ensino fundamental trazem críticas ao governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e elogios à gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Uma das exigências do MEC para aprovar os livros é que não haja doutrinação política nas obras utilizadas.
O livro "História e Vida Integrada", por exemplo, enumera problemas do governo FHC (1995-2002), como crise cambial e apagão, e traz críticas às privatizações.
Já o item "Tudo pela reeleição" cita denúncias de compra de votos no Congresso para a aprovação da emenda que permitiu a recondução do tucano à Presidência.
O fim da gestão FHC aparece no tópico "Um projeto não concluído", que lista dados negativos do governo tucano. Por fim, diz que "um aspecto pode ser levantado como positivo", citando melhorias na educação e a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Já em relação ao governo Lula (2003-2010), o livro cita a "festa popular" da posse e diz que o petista "inovou no estilo de governar" ao criar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
O escândalo do mensalão é citado ao lado de uma série de dados positivos.
Ao explicar a eleição de FHC, o livro "História em Documentos" afirma que foi resultado do sucesso do Plano Real e acrescenta: "Mas decorreu também da aliança do presidente com políticos conservadores das elites". Um quadro explica o papel dos aliados do tucano na sustentação da ditadura militar.
Quando o assunto é o governo Lula, a autora -que à Folha disse ter sido imparcial- inicia com a luta do PT contra a ditadura e apenas cita que o partido fez "concessões" ao fazer "alianças com partidos adversários".
Em dois livros aprovados pelo MEC, só há espaço para as críticas à política de privatizações promovida por FHC, sem contrabalançar com os argumentos do governo.

MENSALÃO
Já na apresentação da gestão Lula, há dois livros que não citam o mensalão.
Em "História", uma frase resume o caso, sem nomeá-lo: "Em 2005, há que se destacar, por outro lado, a onda de denúncias de corrupção que atingiu altos dirigentes do PT, inúmeros parlamentares da base do governo no Congresso e alguns ministros do governo federal".
A Folha não conseguiu falar com os autores da obra.
Uma das críticas feitas a Lula é o fato de ter continuado a política econômica do antecessor.
Os livros aprovados pelo MEC no Programa Nacional do Livro Didático são inscritos pelas editoras e avaliados por uma comissão de professores. Hoje, 97% da rede pública usa livros do programa.
São analisados critérios como correção das informações e qualidade pedagógica. As obras aprovadas são resenhadas e reunidas em um guia, que é enviado às escolas públicas para escolha dos professores

domingo, 21 de novembro de 2010

Construindo o Apartheid no Brasil e deformando a História...

Raramente se tem a oportunidade de constatar uma violação flagrante da verdade histórica tão patente, tão descarada, tão mentirosa quanto a que segue abaixo, nesse texto que me dou ao cuidado de transcrever por inteiro, exemplificativo de como se pode deformar a História de maneira tão vil como poucas vezes se viu nos últimos anos de construção do racismo negro no Brasil.
O texto não é apenas anacrônico, no sentido mais completo da palavra, ao pretender ver em Zumbi -- um personagem envolvido em controvérsias suficientes para desacreditar essa história idílica e totalmente falsa que pretendem criar -- um representante do pensamento e democrático e socialista. Ele é também um exemplo do tipo de mistificação da verdade que estão construindo nessas ONGs de Governo (pois é isso o que são) que se encarregaram de deformar a História e de construir o Apartheid racial no Brasil.
De fato, não se consegue imaginar tamanha mistificação da realidade, apenas comparável ao trabalho conduzido no tristemente famoso "Ministério da Verdade" do justificadamente famoso livro de George Orwell, 1984, um monumento da inteligência sincera, individual, por um socialista democrático, em defesa da verdadeira verdade, se ouso dizer, em face da mentira oficial, difundida coletivamente, pelo aparelho do Estado. Exatamente como ocorre neste caso que segue abaixo, um texto pateticamente orwelliano (pelas más razões, claro).
Lamento que material indecoroso como este esteja sendo divulgado neste meu blog, em todo caso voltado para as ideias, mesmo as más, que merecem nosso repúdio e a lata de lixo da História.
Paulo Roberto de Almeida

Zumbi, Comandante Guerreiro da Democracia


Oscar Henrique Cardoso (*)


Me chamou a atenção ao verificar a postagem de um internauta falando sobre o que ele sabia ou pensava sobre Zumbi dos Palmares. A referência feita por este brasileiro, usuário da Internet, me fez pensar em um detalhe que pode ainda mais reforçar a importância de Zumbi dos Palmares na construção da história democrática brasileira. O fato citado por ele fez referência a Zumbi como o primeiro "líder socialista de fato que o Brasil já conheceu".

Zumbi dos Palmares não só foi o comandante guerreiro, o líder da resistência dos quilombolas de Palmares. Zumbi dos Palmares implantou na Serra da Barriga um modelo social o qual todos nós perseguimos: um modelo social que proporciona a todos os cidadãos a divisão compartilhada da produção e das riquezas, o debate democrático sobre os destinos de uma comunidade e também a auto-estima dos seus moradores. No caso que falo, os quilombolas que se abrigavam em Palmares tinham orgulho de lutar por um ideal de liberdade, contra a escravidão e o domínio imperialista da coroa portuguesa.

Palmares não está somente viva nos livros históricos e também viva na Serra da Barriga, a qual inúmeros peregrinos e militantes do Movimento Negro subiram no último dia 20 de Novembro. Zumbi foi o líder de uma revolução social a qual todos nós sonhamos. Uma revolução que não queremos que se faça pelas armas, mas sim pela construção de um processo cidadão, o qual dê aos negros brasileiros e aos mestiços, o direito de nascer, crescer, viver e morrer em um país digno. Digno por cada um de nós ver resultados concretos e efetivos nos sistemas públicos de saúde, educação, moradia e trabalho e renda.

A nação que Zumbi construiu em Palmares foi em minha opinião, sem dúvida, um modelo de sociedade democrática e igual. Fugitivos das senzalas encontravam em Palmares um espaço para desenvolver sua formação cidadã. Uma construção democrática coletiva, onde o direito de ser e de viver era plenamente respeitado. Uma antítese aos tempos de escravidão.

O gosto de ver nas ruas deste país a celebração da população negra em razão ao dia 20 de Novembro me faz promover a seguinte leitura. Nós negros queremos ver a sociedade que Zumbi constituiu no Quilombo de Palmares implantada. Nossa população, jovem ou mais velha, ainda deseja assistir a uma partilha de bens iguais dentro de nossa sociedade. Partilhar bens se reflete em dar acesso a negros, pardos e mestiços uma educação de qualidade, a um serviço de saúde que contemple as nossas especificidades raciais e a um pleno desenvolvimento de trabalho e renda para os negros que vivem no campo e nas grandes cidades.

Nosso herói Zumbi dos Palmares não foi só um herói abolicionista. Foi também o herói de toda uma parcela da nação brasileira que não concordava com a escravidão imposta pela coroa portuguesa. O sonho de liberdade que Zumbi implantou na Serra da Barriga era também o sonho de inúmeros abolicionistas, que desfilavam em meio à aristocracia o desejo de ver o fim da chibata. Hoje os negros brasileiros esperam derrubar uma versão moderna da chibata. A versão da invisibilidade.

A luta é árdua, mas estamos conseguindo começar a nos organizar para deixar para as novas gerações os ideais de igualdade e democracia que foram perseguidos por Zumbi dos Palmares. Ele foi um herói de verdade. Ele fez no seu quilombo o Brasil que todos nós sonhamos. Verdadeiramente Zumbi foi o nosso herói, pois deu sua vida pela igualdade racial e social em um Brasil Colônia que era explorado e usurpado de suas riquezas.

Ao voltar a falar sobre este mail que declarava Zumbi como o primeiro líder socialista já conhecido de fato pelo Brasil, me faz acreditar que a importância de Zumbi em nossa história foi muito maior do que simplesmente lembrar dele como mártir. Zumbi foi construtor, mesmo que por um curto espaço de tempo, de um Brasil para o futuro. Um país onde todos sonhamos que um dia existirá. Nosso compromisso é trabalhar para que a imagem de Zumbi dos Palmares não fique configurada apenas nos livros didáticos como mais um herói. Este negro guerreiro deve sim ser lembrado como um cidadão pleno, um empreendedor, construtor de um quilombo que serviu não só de resistência à escravidão. Palmares foi sim o nosso primeiro modelo e exemplo de sociedade democrática, onde todos os fugitivos e não fugitivos exerciam a plenitude da democracia.

(*) Oscar Henrique Cardoso, natural de Porto Alegre/RS é jornalista, radialista e atual assessor de Comunicação Social da Fundação Cultural Palmares/Ministério da Cultura, em Brasília/DF. È responsável pela execução de projetos em Comunicação Social junto ao Governo Federal, voltados para a cultura e a história afro-brasileira. Edita o Portal da FCP/MinC e o blog A CASA DO OSCAR.