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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 9 de fevereiro de 2020

Por que suprimir livros? Paulo Roberto de Almeida


A batalha contra os livros e o legado do capitão

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: discussão sobre a governança no Brasil; finalidade: debate público]
  

O que terá levado dirigentes políticos e responsáveis setoriais da educação em Roraima a ordenar o recolhimento de “livros inadequados” Machado de Assis, Mario de Andrade, Euclides da Cunha à juventude estudantil do estado?
Seria apenas um simples caso de burrice estúpida (com perdão pela redundância), ou algo bem mais grave, estupidez conjugada ao fundamentalismo sectário (novas desculpas pelo sic), de gente que acha que todas essas leituras aparentadas a um vago progressismo à la Paulo Freire são nocivas à formação ideológica dos jovens?
Se for por qualquer uma dessas razões, sempre conjugadas à estupidez, seria bem mais grave, pois sabemos quem anda reclamando dessa literatura didática que “tem muita coisa escrita” e nem tem a bandeira e o hino nacional. Mas mesmo Machado, que vem do Império?
Por que o Brasil retrocede?
A promessa de certo dirigente, por uma “educação sem ideologia”, teria algo a ver com o zelo pedagógico de fiéis militantes da causa?
Esse zelo vai se manifestar na confecção dos próximos livros didáticos?
A educação brasileira vai finalmente se ver livre de todas as influências indevidas?
O capitão pensa que está empenhado na construção de um novo Brasil?
Sem dúvida: um Brasil mais estúpido, piegas, simplório, anacrônico.
O chefe do Executivo age motivado não por considerações institucionais, de respeito à Constituição, mas por preconceitos pessoais e motivações irracionais – vide essa briga insana com os governadores por causa do ICMS sobre a gasolina – que redundam em MPs INCONSTITUCIONAIS e diversas outras medidas que diminuem o grau de segurança no país e aumentam o número de mortos (cinto, controles nas estradas, carteira de habilitação, exames de toxicologia), agridem o meio ambiente (e prejudicam o agronegócio e o próprio Brasil), reincidem no protecionismo comercial (antidumping do leite em pó, bananas do Equador, subsídios a setores industriais, perdão de dívidas, etc.) e muitas outras medidas que revelam o alto grau de IRRACIONALIDADE e de inconsistência econômica e jurídica de seu governo.
Sinceramente, eu sou pela boa governança, e não creio que o capitão seja um bom exemplo nessa matéria. Assusta-me a adesão de vários militares graduados a um capitão francamente despreparado para o cargo que ocupa, e que está retrocedendo o Brasil, sobretudo na esfera diplomática e educacional.
Esse será o legado do capitão, e tem muita gente (especialmente em certas seitas religiosas) que acha que assim está bem e que assim deve continuar, inclusive um famoso ex-juiz, um economista “liberal”, militares e outros técnicos saídos das melhores universidades. Tem até um diplomata que finge concordar com o besteirol de certos gurus quanto a que o tal de globalismo — uma legítima e fantasmagórica conspiração de ricaços esquerdistas — seria um atraso monumental para o Brasil.
Será que o Brasil degringolou?
Eu sempre achei que, muito pior que o atraso material e social do Brasil, é o atraso mental de nossas elites.
Só posso reafirmar minha tristeza...

 Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de fevereiro de 2020

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Criacionismo paira sobre o ensino cientifico no Brasil: campanha de Bolsonaro

Não bastasse o atraso normal da educação brasileira, esse atraso pode se aprofundar mais ainda, se propostas idiotas como essa tiverem apoio em nível federal para inviabilizar um ensino decente de ciências nas escolas públicas...
Paulo Roberto de Almeida
Rabat, 15/10/2018

‘É preciso nova bibliografia para escolas’, diz assessor de Bolsonaro para a Educação

General que ajuda a fazer plano de Educação quer retirada de livros com 

‘ideologia’ e ensino da ‘verdade sobre 64’

Entrevista com
Aléssio Ribeiro Souto, general e integrante da equipe de campanha de Jair Bolsonaro (PSL)
Renata Agostini, O Estado de S.Paulo
15 Outubro 2018 | 05h00

À frente do grupo que elabora propostas para o Ministério de Educação de um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL), o general Aléssio Ribeiro Souto diz que “é muito forte a ideia” de se fazer ampla revisão dos currículos e das bibliografias usadas nas escolas para evitar que crianças sejam expostas a ideologias e conteúdo impróprio. Ele defende que professores exponham a "verdade" sobre o “regime de 1964”, narrando, por exemplo, mortes “dos dois lados”. "Existe a verdade, quer se queira ou não. E ela nem sempre tem sido retratada", afirmou o general em entrevista ao Estado.
Ex-chefe do Centro Tecnológico do Exército, foi chamado a coordenar debates de ciência e tecnologia, mas acabou acumulando educação “por afinidade”. Contrário à política de cotas, defende a “prevalência do mérito” e diz que, se a ideia for aceita por Bolsonaro, serão estudadas medidas “não traumáticas” para substituir as regras. “Querem atribuir a Bolsonaro condição ditatorial. É chamado até de nazista. É mentira deslavada”, disse.
Aléssio Ribeiro Souto
General Alessio Ribeiro Souto, assessor de Bolsonaro para a área da Educação Foto: Dida Sampaio/Estadão
Qual a proposta para o desenho do Ministério da Educação?
Há preferência do grupo por manter educação e ciência e tecnologia separados. Achamos que ambos cabem na nova quantidade de ministérios, que será reduzida, mas não entramos na questão. É preciso valorizar os professores e os cientistas, não importa em qual estrutura organizacional estejam. Preconizamos que esporte e cultura devam estar dentro do Ministério da Educação. Ah, o pessoal da cultura é contra. Mas isso é uma besteira tão grande. O Estado pode ser pequeno. O  importante é a funcionalidade e a gestão.
Quais as mudanças na área da educação o senhor vê como prioritárias?
Levantamos 14 “ideias básicas” para educação. Elas incluem valorização dos professores, motivação dos alunos, treinamento continuado dos 2,6 milhões professores que aí estão, alteração da formação das licenciaturas, revisão completa dos processos educacionais da base curricular, efetivo emprego dos recursos. Há muito dinheiro indo para o ralo da corrupção e há má gestão pura e simples. Você não pode dobrar o recurso para a educação, mas pode a cada ano aumentar 0,5% a mais do que a média do orçamento e, assim, em dado momento, terá aumento real.
Preveem reorganização na destinação dos recursos?
Em qualquer país razoável, 30% ou 40% dos recursos são destinados ao ensino superior. Este ano, aqui, a matriz deve ter chegado a 70% dos recursos para o ensino superior. Precisamos alterar, mas não se faz facilmente, porque teria de mandar metade das pessoas embora, professores e funcionários. Não é assim que as coisas acontecem, não queremos o regime ditatorial. Na democracia é diferente, tem de ser pactuado, aos poucos. Nossas “14 ideias básicas” darão resultado em médio e longo prazos. Para ter transformação efetiva da sociedade, como ocorreu no Japão e na Finlândia, precisamos de 60 anos. Estamos pensando em medidas para o curtíssimo prazo, como replicar a experiência de escolas públicas de bom desempenho para outras do mesmo Estado. Além disso, tudo que é de médio e longo prazo tem de ser desencadeado agora. Valorizar professor não dá resultado agora, mas tem de começar agora.
Inclui melhorar a remuneração?
A remuneração é quinto ou sexto tópico a se considerar. Pagar muito bem é uma absoluta impossibilidade agora. Antes disso, precisa do discurso de que magistério é importante. Os professores que estão aí precisam começar a acreditar que são importantes, porque hoje ninguém quer ser professor. Discurso, formação, aperfeiçoamento dos que já estão aí, resgate da autoridade do professor. Depois dos pais, tem de ter a ideia de que, em segundo lugar, reverenciamos professores. É absolutamente inaceitável a agressão ao professor. Isso tem de ser reprimido.
Como fazer isso nas escolas públicas?
Dentro dos meios democráticos e legais. Aquele que ameaçar agredir o professor, que dirigiu a palavra mal dita para o professor, tem de haver repressão. Democrática.
Como é repressão democrática?
Tem de ser retirado da sala. E, se agredir, polícia. Vai a polícia, leva as crianças e atua naquele que agrediu fisicamente através do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente)para os menores. E, para os adultos, polícia pura e simples. Delegacia. Não pode haver dúvida quanto a isso.
Mas há propostas de modificações?
O candidato Jair Bolsonaro é acusado de misógino porque queria a punição de alguém que estuprou a namorada e depois a matou. E a punição desse menor? Na minha visão, o menor bandido deve ser preso. Mas vai colocar na prisão junto dos maiores? Não. No pavilhão dos menores bandidos,  precisa ter tratamento do psicólogo, educador etc. Agora, nesse sentido, o ECA tem de ser mudado. Se ele permite que bandidos sejam protegidos, discordo. Assim que eu vejo.
Isso está na proposta?
Não entramos nesse tipo de detalhamento agora. Estamos levando as ideias básicas que passarão pela equipe de transição e para quem for o ministro.
Como ficará a política de cotas?
Uma das ideias básicas é a prevalência do mérito. O País deve chegar ao momento que não precisará de cotas. A cota é um remendo. Sou de família extremamente modesta, saí de casa aos sete anos de idade. Sou neto de negro e bisneto de índia. Nunca precisei disso, porque o Estado, a sociedade e a Nação me propiciaram educação pública de qualidade.
Cotas então não são necessárias?
Elas estão sendo necessárias para alguns e mal utilizada por outros para resolver um problema de má gestão governamental. Nossa proposta é a prevalência do mérito. Mas como fazer? Eliminar agora? É preciso equilíbrio. Que tal  ensino complementar aos desassistidos?
Quem são os desassistidos?
Pobre branco de olhos azuis não tem direito? Existem no Nordeste e no Rio Grande do Sul. No meu dicionário, não pode ter cor para o ser humano. Que tal se, em vez de cota, propiciarmos ensino adicional, correção dos erros existentes, complementariedade?
O senhor fala em reforço escolar, mas a cota garante o ingresso na universidade.
Quis mencionar minha posição pessoal. Nossa equipe não está tratando especificamente disso.  Se a ideia da prevalência do mérito for acolhida por Bolsonaro, estudaremos soluções não traumáticas (para mudar a política atual). Querem atribuir ao Bolsonaro a condição ditatorial. É chamado até de nazistas. É mentira deslavada.
Como ficariam Prouni e Fies?
Achamos que é preciso continuar o financiamento do estudo. O País nunca vai transformar os pobres em ricos. Não é todo mundo que chegará lá. Mas os mais talentosos entre os pobres precisam ter acesso ao nível superior. O Prouni requer estudo, mas, pelo que li, não vejo razão para pensar em acabar.
Por que é necessário revisar o currículo escolar?
É muito forte a ideia básica de revisão dos processos curriculares, das bibliografias.  Isso precisa ser muito cuidado para não termos absurdos que vimos na TV como livros distribuídos para crianças de sete anos que deixa mães estupefatas. Determinadas coisas são responsabilidade dois pais. A escola tem de tratar do problema, mas não tem de influenciar para uma direção ideológica. E, nesse sentido, estamos colocando uma revisão completa dessas questões curriculares.
Com qual objetivo?
Impedir que tenhamos na escola a orientação de um determinado partido ou corrente ideológica em dado momento. Isso é inaceitável. Foi pregado pelo Bolsonaro que ele vai combater num eventual governo dele a ideologização das escolas, a transmissão das questões relacionadas à sexualidade, à ideologia de gênero, que é um direito inalienável dos pais. Ele transmitiu isso e por isso me convenceu de que eu poderia contribuir para a campanha dele.
E se um pai desejasse que o professor ensinasse criacionismo em vez de a teoria da evolução?
Isso que eu saiba não está errado. Foram questões históricas que ocorreram. Se a pessoa acredita em Deus e tem o seu posicionamento, não cabe à escola querer alterar esse tipo de coisa, que é o que as escolas orientadas ideologicamente querem fazer, mudar a opinião que a criança traz de casa. Cabe citar o criacionismo, o darwinismo, mas não cabe querer tratar que criacionismo não existe.
Mas no currículo escolar não consta o criacionismo. Fala-se da teoria da evolução.
A questão toda é que muito da escola na atualidade está voltada para a orientação ideológica, tenta convencer de aspectos políticos e até religiosos. Houve Darwin? Houve, temos de conhecê-lo. Não é para concordar, tem de saber que existiu.
O senhor já se manifestou a favor de retirar livros que não contassem “a verdade” sobre 1964.
A única coisa que vou falar sobre 64 é que eu só aceito ler e debater aspectos do regime de 64 à luz da liberdade e de praticar a verdade, a coragem e a ética. Fora disso, sequer aceito a ideia de debater.
O senhor entende que os livros de história não refletem a verdade ao tratar 1964 como golpe militar?
Não entro na questão de golpe, porque é algo menor. Há quem diga que o afastamento da Dilma, feito no âmbito do Congresso e do Poder Judiciário, foi golpe. Felizmente, o povo mineiro disse para ela: você não estava falando a verdade. Impediram que ela fosse eleita. A questão da palavra golpe me parece menor. Agora, sonegar para crianças de dez, 12, 16 anos o que ocorreu? Não concordo. Não gostaria de falar mais sobre o assunto.
Mas é preciso esclarecer sua posição.
Não tenho medo de debater com transparência. No período de 1945, cerca de 400 e poucos brasileiros morreram para derrotar o nazismo. Em 1964, houve 450 mortes dentre aqueles que queriam implantar a ditadura do proletariado. Mas houve 117 mortes daqueles que não queriam. Quando você trata dos problemas e das mortes  - e guerra traz mortes - tem de tratar dos dois lados. Existe a verdade, quer se queira ou não. E ela nem sempre tem sido retratada. Com frequência, minhas filhas chegam em casa falando coisas que não posso aceitar. Mas não está no livro de história, está na boca do professor.
Como pretende atacar isso?
Orientar toda a cadeia de gestão, até o professor na sala de aula, que nós buscamos a paz e a harmonia através da democracia e de praticar a verdade. E não usar a mentira e a canalhice. E aí é a mudança que Bolsonaro ofereceu ao povo brasileiro e foi acolhida majoritariamente.

terça-feira, 1 de março de 2016

A lei paranoica da biodiversidade e o atraso mental das elites - Joana Duarte (ON)

Agradeçam à "deusa da floresta", quando era Senadora pelo PT, depois ministra do Meio Ambiente, atualmente numa tal de Rede de Sustentabilidade -- mais uma dessas iniciativas de ecologistas malucos, com pouca formação científica e imensos preconceitos contra os mercados e os lucros, especialmente de multinacionais farmacêuticas, consideradas monstros capitalistas, sugadores de nossas riquezas ambientais -- e a toda a sua tribo de ecomilitantes desmiolados, a existência dessa lei esquizofrênica que, a pretexto de defender a nossa biodiversidade (não se sabe de quais ameaças imperialistas), dificulta as pesquisas e sobretudo o intercâmbio saudável com pesquisadores de outros países.
O problema do Brasil, tenho repetido, não é tanto o atraso material e econômico, mas o atraso mental de certas "elites", verdadeira indigência intelectual que nos trava no atraso e no subdesenvolvimento.
Paulo Roberto de Almeida

TENDÊNCIAS E DEBATES

Uma mordaça em pesquisas no Brasil

Lei da biodiversidade entrou em vigor em 2015 sem regulamentação, travando pesquisas que englobam desde conhecimentos indígenas ao zika vírus


Uma mordaça em pesquisas no Brasil
Desde novembro do ano passado, pesquisadores estão legalmente impedidos de publicar resultados de pesquisas com espécies nativas (Foto: Pixabay)
Desde novembro de 2015, pesquisadores brasileiros não podem, legalmente, publicar estudos relacionados a espécies nativas do país ou enviar remessas dessas amostras biológicas ao exterior.
O motivo do impedimento é uma nova lei que entrou em vigor no final de 2015 sem regulamentação. A chamada Lei da Biodiversidade— muito celebrada no meio acadêmico como uma legislação que veio para reduzir a burocracia e estimular a pesquisa e inovação com espécies nativas — revogou a lei anterior e passou a valer em 17 de novembro do ano passado sem, no entanto, dar aos pesquisadores os instrumentos para cumpri-la.
Leia também: Governo elabora MP do Zika Vírus
Até a publicação de um decreto que regulamente a lei, todas as pesquisas envolvendo qualquer recurso genético nativo do Brasil publicadas este ano– sobre o zika vírus isolado no país, por exemplo – estão ilegais. Isso porque a lei determina que antes da publicação de estudos do tipo, o pesquisador preencha um cadastro eletrônico com dados sobre a pesquisa — um sistema que não existe ainda porque depende da regulamentação da lei.
“A gente está numa situação muito estranha”, diz Manuela da Silva, assessora da Vice-Presidência de Pesquisa e Laboratórios de Referência da Fiocruz, no Rio de Janeiro. “Temos uma nova lei que era muito aguardada, e era para que quando ela entrasse em vigor tivéssemos a publicação do decreto e o sistema eletrônico onde nós faríamos os cadastros. Legalmente só podemos mandar material para fora do país ou publicar resultados depois que fizermos o cadastro. Mas como a gente não tem o sistema de cadastro porque a gente não tem o decreto, legalmente, a gente não pode fazer isso.”
Proteção ao patrimônio ou paranoia? 
Na nova lei, a biodiversidade brasileira é chamada de “patrimônio genético” e engloba desde um vírus isolado no Brasil ao conhecimento tradicional de uma comunidade indígena associado a uma determinada espécie nativa. É este último ponto – a exploração do conhecimento tradicional de comunidades nativas — que vem causando a maior discórdia e travando a regulamentação de uma lei abrangente.
Para lideranças indígenas e ativistas dos direitos de comunidades tradicionais, a lei não foi suficientemente debatida antes de ser aprovada. Eles reclamam que não houve um processo adequado de consulta e que estariam ameaçados pela aplicação da lei. Apoiadas por ONGs verdes como o Instituto SocioAmbiental, lideranças indígenas boicotaram uma audiência pública do Ministério do Meio Ambiente, promovida em outubro do ano passado, no intuito de debater o escopo da lei e ouvir opiniões. Em contrapartida, divulgaram uma carta aberta exigindo a revogação da lei.
Para o diretor do Departamento do Patrimônio Genético do MMA, Rafael de Sá Marques, a rejeição inicial à lei foi pautada por muita desinformação, mas desde então muitos mitos foram desfeitos, o que diminuiu a resistência dos povos, que agora defendem a manutenção de alguns pontos da minuta do decreto. “Uma das maiores críticas dos indígenas era que a lei não dava aos povos o direito de negar acesso aos seus conhecimentos, mas isso é não é verdade. A lei diz que não haverá acesso ao conhecimento tradicional sem consentimento prévio e informado”, diz Marques.
A última previsão do MMA é que o decreto seja aprovado em abril deste ano, após passar por uma consulta pública de 30 dias.
Enquanto isso… 
O pesquisador alemão Jonas Schmidt-Chanasit lidera um programa no Rio de Janeiro financiado pelo governo de Angela Merkel para monitorar doenças transmitidas por mosquitos na cidade olímpica, em colaboração com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ele em ao Rio, em média, cinco vezes por ano e diz que é praticamente impossível transportar qualquer tipo de amostra biológica dentro ou fora do país. Conta que já chegou a ser tirado de um avião pela Polícia Federal e forçado a abrir amostras carimbadas com selo oficial do ministério da Agricultura.
“É uma atitude paranoica das autoridades”, diz. “É claro que o Brasil tem o direito de proteger seus recursos genéticos, mas o processo de colaboração é necessário para avançar nas pesquisas. Nem todos querem roubar da floresta.”

domingo, 11 de outubro de 2015

Politica brasileira: ninguem mais ama os companheiros? (1) - Paulo Roberto de Almeida

Parece que os companheiros andam reclamando da campanha de ódio contra eles, que seria provocado pela direita liberal, e pelos membros da elite. Eles estão se sentindo abandonados, coitadinhos, e acham que ninguém mais os tolera como antigamente. Enfim, eles eram até amados, por muita gente, e agora só sobrou mesmo o pessoalzinho da mortadela e do subsídio-manifestações a favor, cada vez mais minguadas.
Para não dizer que eles merecem o que recebem hoje pelo que fizeram ontem, vou transcrever aqui dois retratos do que eles representavam, e do que passaram a representar.
Eles andam de crista baixa, e todo mundo acha que eles estão mentindo, e com razão, pois se até o filho do chefe da quadrilha vive de propina institucionalizada.
O primeiro retrato se passa em salas de aulas, e eu apaguei os nomes e locais para não constranger ninguém. Foi recebido no momento das eleições e postado entre o primeiro e o segundo turno neste mesmo blog.
Se coloco novamente agora, é para sentir a mudança de humor e de postura que se passou na sociedade, um ano depois das eleições fraudadas de 2014.
Fica o registro.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 11/10/2015

Recebi hoje, e quase apago (pois entrou direto na minha caixa de Junk mail), a mensagem abaixo de um aluno, a propósito de um entrevero recente que mantive com alguns professores que não merecem esse nome:

On Oct 23, 2014, at xx:xx, Xxxx Xxxxx <xxxxx@hotmail.com> wrote:

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.

Nome: Xxxx Xxxxx
Cidade: Xxxx
Estado: XX
Email: xxxxxx@hotmail.com
Assunto: Opiniao
Mensagem: Prezado Sr. Paulo Roberto,

Meu nome é Xxxxx e sou estudante de Xxxxxxxxx da Universidade Federal de XX. Eu gostaria de agradecê-lo por ter defendido, o que nós, poucos alunos de Xxxxxxx da UFXX não podemos expressar. O partidarismo político do meu curso tem sido extremamente abusivo e perverso. As aulas são praticamente somente para explicar os porquês que o governo da Dilma são benéficos à população. Os Professores Fulano e Beltrano que deveriam nos ensinar xxxxxxx, nos ensinam somente sobre o comunismo. Eu e mais três alunos do curso somos liberais e já sofremos com atos abusivos por tal. Nossos colegas e professores nos ridicularizam. Como estou no meu último semestre, infelizmente não posso defender as ideias que julgo como justas e honestas. E por tal motivo, senti a necessidade de agradecê-lo por ter apontado o abuso que nossos professores fizeram e têm feito diariamente através da publicação daquele "manifesto". Fica aqui o meu muito obrigada.
Respeitosamente,
Xxxxx Xxxxxx.

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Respondi o que segue:

    Xxxxx,
    Muito grato pela sua mensagem e pelas palavras sensatas que voce me escreveu.
    Toda a minha ação, como professor, todas as minhas atividades, como profissional da diplomacia, têm sido sempre no sentido da informação de boa qualidade, do questionamento crítico de qualquer argumento ou informação que lemos ou que recebemos, de reflexão ponderada sobre esses temas, e de tentativa de educar, didaticamente, os mais jovens, com base nas minhas leituras, na minha experiência de vida, no meu conhecimento do mundo, como o conheci, diverso e contraditório, todos os socialismos (reais e surreais) e todos os capitalismos, ideais, periféricos, miseráveis, e alguns fascismos também (o que temo para o Brasil).
    Infelizmente, atravessamos, no plano cultural, educacional, e até mental, uma fase muito difícil para o Brasil, com essa miséria da academia, com esse recuo da inteligência, com essa renúncia a pensar.
    Isso um dia passa, mas deixa marcas, e nos deixa para trás na simples escala da inteligência humana.
    Persistiremos, com alunos como você e seus colegas.
    Somos hoje, um quilombo de resistência intelectual, mas a verdade sempre acaba prevalecendo no final.
    É por isso que lutamos, se mais não fosse apenas para preservar nossa dignidade como cidadãos conscientes.
    Cordialmente,

PS.: Se você não se incomoda, vou apagar as referências reais e postar a sua bela mensagem para que outros a leiam. Quem sabe, alguém gostará, quem não sabe, se interessará, e talvez ajude a pensar...

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Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Banco do Brasil Carnavalesco? Seus computadores foram desfilar na passarela?

Reparem nestas remessas que efetuei online no BB, entre o sábado de Carnaval e a segunda-feira idem (as datas efetivas estão nas segundas linhas):

18/02/2015 XXXX    Transferência on line
14/02 XXXXX XXXXXXXX

    50,00 D
18/02/2015
   Transferência on line
15/02 XXXX XXXXXXXXX

100,00 D
18/02/20151403-6   Transferência on line
17/02 XXXX XXXXXXXXXX

350,00 D


 Todas elas foram feitas antes do dia 18/02, certo? Respectivamente dias 14, 15 e 17 de fevereiro.
E quando elas foram creditadas? Ontem, depois que acabou o Carnaval.

E o BB pode alegar o que?
Que os seus computadores também têm direitos humanos, e que eles tinham o direito de sair por aí no Carnaval, deixando de trabalhar?
Que os seus computadores são sindicalizados, e que o sindicato exige descanso obrigatório nos feriados, dias santificados e outras pausas para descansar?

O Banco do Brasil é um banco atrasado, ou ele é assim mesmo porque estatais no Brasil não têm nenhum respeito pelos seus clientes?
Gostaria de ouvir uma explicação...
Paulo Roberto de Almeida



















domingo, 29 de junho de 2014

Nosso fascismo ordinario: o Estado proibe o cidadao de ser livre

As novas formas de transporte "solidário" (ou seja, de fato com pagamento partilhado) ou baseados em esquemas tipo Uber, são importantes, pois podem justamente desafogar as cidades de milhares de carros individuais.
As autoridades, seja porque estão a serviço de concessionários oligopolistas e geralmente corruptos, seja porque são justamente de mentalidade fascista, querem proibi-las, regulamentar e taxar. 
Paulo Roberto de Almeida 

"Carona paga" é ilegal, diz agência reguladora sobre app Uber

Segundo ANTT, oferta de transporte em troca de pagamento sem autorização pública desrespeita resolução

Renata Honorato
Veja.com, 28/06/2014
Rafiq Maqbool
Aplicativo Uber instalado em um smartphone (Rafiq Maqbool)
O Uber, aplicativo americano de "carona" mais popular do mundo, anunciou sua chegada ao Brasil em maio, pouco antes de ser avaliado em 18,2 bilhões de dólares. A startup já oferece corridas no Rio e em São Paulo, a taxas que variam de 15 a 12 reais, abrindo uma guerra com taxistas — que se dizem prejudicados. Agora, o governo entrou na discussão, afirmando que o modelo é ilegal. Questionada pela reportagem de VEJA.com, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) diz que a resolução 4.287 "considera serviço clandestino o transporte remunerado de usuários, realizado por pessoa física ou jurídica, sem autorização ou permissão do poder público competente". 
Segundo Beto Aquino Agra, coordenador do Laboratório de Inovação Digital da ANTT, a cobrança pelo serviço, como feita pelo Uber, caracteriza a modalidade de transporte público: se realizado sem a devida autorização do poder público, é ilegal. Uber e similares, como o Zaznu, que sugerem uma taxa de pagamento em troca do transporte, portanto, não obedecem à resolução.
O Uber respondeu. "Oferecemos um serviço mais sofisticado, com carros executivos, diferente do que é oferecido por táxis. Não somos um concorrente direto dos taxistas e nem de qualquer outro transporte público", diz Solamon Cruz Estin, responsável pela expansão internacional da companhia. "Estamos dispostos a colaborar com a comunidade e com o governo para criar um ambiente de harmonia para todo o ecossistema de transporte urbano."
Para coibir a "carona paga", a ANTT promete realizar inspeções, embora reconheça que não será fácil identificar os motoristas que burlam a lei. "Vamos intensificar as nossas fiscalizações, porque em muitos casos os piratas dizem se tratar de carona solidária, uma prática não considerada irregular pela resolução 4.287 ou pelo artigo 736 do Código Civil, que diz: 'Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia'", diz Agra. Quem for pego, contudo, será multado e poderá ter o seu carro retido por 72 horas. O valor da multa pode chegar a 5.000 reais. 
A rede Uber é composta por usuários — qualquer pessoa que baixar o app em seu smartphone — e motoristas profissionais. "Avaliamos experiências anteriores na profissão, porque nos preocupamos com o bem-estar dos nossos clientes. Para ser um motorista Uber, é preciso ter um carro executivo — modelos Chevrolet Zafira, Toyota Corolla ou Hyundai Azera —, possuir habilitação e seguro de automóvel para uso comercial", afirma Estin. Os colaboradores do Uber não têm contrato de exclusividade com a companhia e 80% do valor pago nas corridas são repassados como remuneração ao motorista. 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

O grande apagao mental do governo brasileiro - setor eletrico em pane

O apagão elétrico talvez não fosse tão dramático se não existisse um apagão mental no governo brasileiro, uma estupidez crônica, não se sabe de onde veio, que faz com que os dirigentes tomam todas as decisões erradas ao mesmo tempo.
Uma tempestade perfeita de arrogância, estupidez, bloqueio mental e ignorância crassa, e quem sofre é o povo brasileiro.
Os companheiros merecem ganhar o Prêmio IgNobel de besteirol acumulado...
Paulo Roberto de Almeida



Quem quiser entender o tamanho do problema do setor elétrico sugiro que assista ao programa da jornalista Miriam Leitão da semana passada na Globo News. Um post sobre o programa e o link para o programa podem ser acessados aqui no blog da Miriam Leitão.
Miriam entrevistou um dos maiores especialista do setor elétrico no Brasil, Mario Veiga da PSR. Em 2012, Mario era um dos consultores do governo federal e um dos defensores da MP No 579 de 11 de setembro de 2012, que definiu o novo marco regulatório para o setor elétrico. Lembro de um debate que participei , em 2012, no qual ele defendia o novo marco do setor elétrico e Elena Landau criticava fortemente.
A suposta lua de mel entre Mario Veiga e o governo terminou ao que parece porque o governo não concordou com as análises do consultor ao longo de 2013 e, possivelmente, o consultor deve ter discordado da redução forçada do preço da energia apesar do uso da térmicas ao longo de 2013.  Hoje o consultor é uma das pessoas na lista negra do governo, com todas aquelas que ousam a discordar das projeções, em geral erradas, do governo.
A entrevista que Mario Veiga deu à Miriam Leitão é uma verdadeira aula sobre o problema do setor elétrico. Vou destacar quatro pontos. Primeiro, o nível dos reservatórios, em abril deste ano, está no menor nível desde 2001. O gráfico abaixo apresentado no programa deixa isso muito claro.

Segundo, os reservatórios perdem grande parte do seu volume ao longo do ano, como se observa em outro gráfico apresentado no programa e reproduzido abaixo para 2010 e 2012. O volume dos reservatórios baixam de um valor próximo a 80% no inicio do ano para 30% no final do ano em anos com período chuvoso normal. Agora já estamos com um nível dos reservatórios de 37%. Qual será o nível mo final do ano?

Mesmo com o acionamento das térmicas ao longo do ano, como em 2013, isso não resolverá o problema como não resolveu em 2013 que não teve nem um evento atípico e os reservatórios estavam, em abril de 2013, acima de 60%. Mario Veiga mostra que, possivelmente, a oferta de energia das hidrelétricas está superestimada pelo governo e o valor real da capacidade do sistema é muito menor do que o dado divulgado pelo governo.
Terceiro, o custo da redução forçada da conta de energia, em 2013 e 2014, pode passar de R$ 50 bilhões. Em 2013, o governo bancou via Tesouro R$ 8 bilhões de subsídios e mais R$ 10 bilhões em empréstimos para distribuidoras que serão pagos pelos consumidores ao longo dos próximos anos. Mario lembra que a receita total das distribuidoras não chega a R$ 10 bilhões e, assim, o volume de subsídios e empréstimos as distribuidoras é bastante elevado.
Para 2014, o governo já garantiu um novo subsídio de R$ 10 bilhões do Tesouro Nacional e novos empréstimos às distribuidoras entre R$ 12 e R$ 24 bilhões. Assim, a conta de 2013 e 2014 com subsídios e empréstimos corresponderá a algo entre R$ 40 bilhões e R$ 52 bilhões, uma parte será paga por nós via impostos e outra parte via aumento na conta de luz que pode chegar a 35%.
Quarto e último ponto, apesar desse custo enorme, há ainda o risco sério de apagão se não houver racionamento. O que grande parte do mercado aposta a partir das estimativas de Mário Veiga é que, se não houver um racionamento imediato já a partir de maio, o racionamento inevitavelmente virá em 2015. Alguns bancos já falam até em recessão em 2015.
O que o governo diz? O governo fez nos últimos 30 dias duas reuniões com analistas de bancos para garantir que não há risco de racionamento. A primeira dessas reuniões foi em Brasília e, a segunda, na semana passada em São Paulo. A impressão que fica neste debate é que os números de Mario Veiga são muito fortes e mostram um problema real que o governo não consegue refutar.
Um amigo com trânsito na Empresa de Pesquisa Energética (EPE) me garantiu que o humor por lá na semana passada também não anda nada bem e que alguns técnicos já reconhecem a necessidade de medidas restritivas ao consumo: racionamento.  Ao longo do ano saberemos quem está com a razão neste debate. Se for o consultor Mario Veiga, isso significará mais um duro golpe não apenas na credibilidade do governo, mas também da ANEEL e da EPE. A ver.