A batalha contra os livros e o legado do capitão
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: discussão sobre a governança
no Brasil; finalidade: debate público]
O que terá levado
dirigentes políticos e responsáveis setoriais da educação em Roraima a ordenar
o recolhimento de “livros inadequados” – Machado de Assis, Mario de Andrade, Euclides da Cunha – à
juventude estudantil do estado?
Seria apenas um simples
caso de burrice estúpida (com perdão pela redundância), ou algo bem mais grave,
estupidez conjugada ao fundamentalismo sectário (novas desculpas pelo sic), de
gente que acha que todas essas leituras aparentadas a um vago progressismo à la
Paulo Freire são nocivas à formação ideológica dos jovens?
Se for por qualquer uma
dessas razões, sempre conjugadas à estupidez, seria bem mais grave, pois
sabemos quem anda reclamando dessa literatura didática que “tem muita coisa
escrita” e nem tem a bandeira e o hino nacional. Mas mesmo Machado, que vem do
Império?
Por que o Brasil retrocede?
A promessa de certo
dirigente, por uma “educação sem
ideologia”, teria algo a ver com o
zelo pedagógico de fiéis militantes da causa?
Esse zelo vai se manifestar
na confecção dos próximos livros didáticos?
A educação brasileira vai
finalmente se ver livre de todas as influências indevidas?
O capitão pensa que está
empenhado na construção de um novo Brasil?
Sem dúvida: um Brasil mais
estúpido, piegas, simplório, anacrônico.
O chefe do Executivo age motivado não por considerações institucionais,
de respeito à Constituição, mas por preconceitos pessoais e motivações
irracionais – vide essa briga insana com os governadores por causa do ICMS
sobre a gasolina – que redundam em MPs INCONSTITUCIONAIS e diversas outras
medidas que diminuem o grau de segurança no país e aumentam o número de mortos
(cinto, controles nas estradas, carteira de habilitação, exames de
toxicologia), agridem o meio ambiente (e prejudicam o agronegócio e o próprio
Brasil), reincidem no protecionismo comercial (antidumping do leite em pó,
bananas do Equador, subsídios a setores industriais, perdão de dívidas, etc.) e
muitas outras medidas que revelam o alto grau de IRRACIONALIDADE e de
inconsistência econômica e jurídica de seu governo.
Sinceramente, eu sou pela boa governança, e não creio que o capitão seja
um bom exemplo nessa matéria. Assusta-me a adesão de vários militares graduados a um
capitão francamente despreparado para o cargo que ocupa, e que está retrocedendo
o Brasil, sobretudo na esfera diplomática e educacional.
Esse será o legado do
capitão, e tem muita gente (especialmente em certas seitas religiosas) que acha
que assim está bem e que assim deve continuar, inclusive um famoso ex-juiz, um
economista “liberal”, militares e outros técnicos saídos das melhores
universidades. Tem até um diplomata que finge concordar com o besteirol de
certos gurus quanto a que o tal de globalismo — uma legítima e fantasmagórica
conspiração de ricaços esquerdistas — seria um atraso monumental para o Brasil.
Será que o Brasil
degringolou?
Eu sempre achei que, muito
pior que o atraso material e social do Brasil, é o atraso mental de nossas
elites.
Só posso reafirmar minha
tristeza...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de fevereiro de 2020
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