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domingo, 9 de fevereiro de 2020

Por que suprimir livros? Paulo Roberto de Almeida


A batalha contra os livros e o legado do capitão

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: discussão sobre a governança no Brasil; finalidade: debate público]
  

O que terá levado dirigentes políticos e responsáveis setoriais da educação em Roraima a ordenar o recolhimento de “livros inadequados” Machado de Assis, Mario de Andrade, Euclides da Cunha à juventude estudantil do estado?
Seria apenas um simples caso de burrice estúpida (com perdão pela redundância), ou algo bem mais grave, estupidez conjugada ao fundamentalismo sectário (novas desculpas pelo sic), de gente que acha que todas essas leituras aparentadas a um vago progressismo à la Paulo Freire são nocivas à formação ideológica dos jovens?
Se for por qualquer uma dessas razões, sempre conjugadas à estupidez, seria bem mais grave, pois sabemos quem anda reclamando dessa literatura didática que “tem muita coisa escrita” e nem tem a bandeira e o hino nacional. Mas mesmo Machado, que vem do Império?
Por que o Brasil retrocede?
A promessa de certo dirigente, por uma “educação sem ideologia”, teria algo a ver com o zelo pedagógico de fiéis militantes da causa?
Esse zelo vai se manifestar na confecção dos próximos livros didáticos?
A educação brasileira vai finalmente se ver livre de todas as influências indevidas?
O capitão pensa que está empenhado na construção de um novo Brasil?
Sem dúvida: um Brasil mais estúpido, piegas, simplório, anacrônico.
O chefe do Executivo age motivado não por considerações institucionais, de respeito à Constituição, mas por preconceitos pessoais e motivações irracionais – vide essa briga insana com os governadores por causa do ICMS sobre a gasolina – que redundam em MPs INCONSTITUCIONAIS e diversas outras medidas que diminuem o grau de segurança no país e aumentam o número de mortos (cinto, controles nas estradas, carteira de habilitação, exames de toxicologia), agridem o meio ambiente (e prejudicam o agronegócio e o próprio Brasil), reincidem no protecionismo comercial (antidumping do leite em pó, bananas do Equador, subsídios a setores industriais, perdão de dívidas, etc.) e muitas outras medidas que revelam o alto grau de IRRACIONALIDADE e de inconsistência econômica e jurídica de seu governo.
Sinceramente, eu sou pela boa governança, e não creio que o capitão seja um bom exemplo nessa matéria. Assusta-me a adesão de vários militares graduados a um capitão francamente despreparado para o cargo que ocupa, e que está retrocedendo o Brasil, sobretudo na esfera diplomática e educacional.
Esse será o legado do capitão, e tem muita gente (especialmente em certas seitas religiosas) que acha que assim está bem e que assim deve continuar, inclusive um famoso ex-juiz, um economista “liberal”, militares e outros técnicos saídos das melhores universidades. Tem até um diplomata que finge concordar com o besteirol de certos gurus quanto a que o tal de globalismo — uma legítima e fantasmagórica conspiração de ricaços esquerdistas — seria um atraso monumental para o Brasil.
Será que o Brasil degringolou?
Eu sempre achei que, muito pior que o atraso material e social do Brasil, é o atraso mental de nossas elites.
Só posso reafirmar minha tristeza...

 Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de fevereiro de 2020

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