Com mais um tombo da exportação e déficit comercial de US$ 2,56 bilhões, o ano começou mal para as contas externas. Com reservas de US$ 359,39 bilhões, o País continuou capaz de pagar suas contas sem dificuldade, mas o sinal amarelo nas transações correntes ficou mais forte. Janeiro terminou com um déficit mensal de US$ 11,88 bilhões nessa conta. Em 12 meses o resultado negativo chegou a US$ 52,28 bilhões, valor correspondente a 2,85% do Produto Interno Bruto (PIB). O buraco ainda foi coberto facilmente, nesse período, com o ingresso líquido de US$ 78,35 bilhões de investimento estrangeiro direto. Mas o tamanho do rombo começará a chamar a atenção dos analistas, se o balanço externo do Brasil continuar piorando. Não há ponto preciso onde o alerta se torne assustador, mas um déficit acima de 3% do PIB é com frequência considerado motivo de séria preocupação.
Em janeiro, o investimento direto ficou em US$ 5,62 bilhões, bem abaixo do necessário para equilibrar o jogo nesse mês. O balanço foi divulgado na sexta-feira passada pelo Banco Central (BC).
No Brasil, a segurança do setor externo depende normalmente de um bom superávit na balança de mercadorias. A conta de serviços, onde se incluem viagens, fretes e seguros, entre outros itens, é geralmente deficitária. A movimentação de rendas (como juros, lucros, dividendos e remessas particulares) também é em geral fechada no vermelho. Na tradição brasileira, o superávit comercial atenua o desequilíbrio e permite manter em nível administrável o déficit em transações correntes.
Um déficit moderado pode ser vantajoso, quando financiado de forma segura com dinheiro vindo de fora. A poupança externa absorvida complementa a interna e permite elevar o investimento na capacidade produtiva, favorecendo o crescimento da economia.
Mas o quadro é muito menos tranquilo e há motivos especiais para preocupação. As contas tendem a ficar mais apertadas quando a economia cresce e a demanda de importações aumenta. É normal e saudável o aumento de gastos com produtos de consumo, matérias-primas, bens intermediários destinados à produção e bens de capital, como máquinas e equipamentos. Mas a piora do comércio vem ocorrendo numa fase de baixa expansão econômica. Não é, portanto, sinal de condição saudável, mas sintoma de sérios problemas.
Alguns desses problemas são externos. A disputa comercial entre os governos americano e chinês, o protecionismo crescente e a desaceleração do comércio global são exemplos óbvios.
São evidentes, também, as perdas associadas à crise na Argentina, terceiro maior mercado para exportações brasileiras. Além disso, o mercado argentino absorve grande parcela das exportações da indústria brasileira.
Mas os problemas made in Brazil são os mais importantes. Há o chamado custo Brasil, composto de vários fatores, como deficiência logística, entraves burocráticos, capital muito caro, incerteza jurídica, insegurança pública, má tributação, escassez de mão de obra qualificada e pouca inovação.
Esses problemas são emoldurados por erros políticos, como proteção exagerada e pouca integração nas cadeias produtivas globais. A excessiva dependência das compras argentinas de bens industriais e a relação quase colonial com a China exemplificam essas falhas, agravadas no período petista. O presidente Michel Temer ensaiou atacar alguns desses problemas com o colega argentino Mauricio Macri, mas a tentativa pouco avançou. O melhor resultado foi a conclusão das negociações entre Mercosul e União Europeia, consumada na gestão do presidente Jair Bolsonaro, mas garantida pelo governo precedente.
As promessas do atual governo de maior integração internacional foram pouco além da retórica. Também modestos foram os avanços no resgate da indústria. Permanece o cenário de economia em marcha lenta, com pouco investimento e projeções baixas para os próximos anos. O balanço externo reflete o marasmo interno e a pobreza das medidas para dinamizar a indústria.
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