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domingo, 23 de fevereiro de 2020

A batalha do 5G: entre os EUA e a China - Eliane Cantanhede (OESP)

Acho muito simplista apresentar essa questão do 5G como uma batalha pela dominação mundial entre os EUA (que estão atrasados nessa tecnologia, mas ainda são uma grande potência tecnológica) e a China (que já fez um avanço inacreditável na 5a revolução industrial).
Para mim, não vai haver batalha nenhuma, ou será como a "batalha de Itararé", aquela que não houve.
O que temos até aqui é os EUA atrasados nessa corrida tecnológica (inevitável e bem vinda), tentando  segurar nacos de mercado para si mesmos, mas sobretudo sua capacidade de penetrar sistemas de difusão de dados entre as novas ferramentas de comunicações e informações.
Essa acusação de que os chineses vão nos roubar "segredos de Estado" é risível, pois é o que mais os americanos fazem, contra inimigos e amigos...
O Brasil não deve se deixar pressionar pelos americanos, ainda que o presidente seja um fiel sabujo de Trump, junto com sua família e o chanceler acidental.
Temos de fazer uma análise isenta do que está em jogo, e entregar a decisão aos técnicos e economistas industriais, não aos políticos.
Paulo Roberto de Almeida

O controle do mundo

Recado dos EUA: opção pelo 5G chinês pode comprometer negociações na área de defesa

Eliane Cantanhede
O Estado de S. Paulo, 23/02/202

O Brasil está sofrendo pressões dos dois lados de uma guerra pós-contemporânea que tende a ter grande impacto na humanidade e tem nome curto, na verdade, uma sigla: 5G. Por trás desse avanço revolucionário há uma disputa entre Estados Unidos e China pela dominação do mundo no futuro.  
Parece exagero? Pode ser, mas os estrategistas dos países desenvolvidos se debruçam sobre o tema e o governo brasileiro, providencialmente cauteloso, criou um grupo de trabalho para analisar a questão sob os vários aspectos que ela abrange: financeiro, tecnológico, econômico e político, considerando a segurança de dados públicos, privados e individuais. Não é pouco. E não é fácil.  
Tanto os chineses pressionam o Brasil a favor do 5-G da Huawei, alegando preços menores e capacidade maior, quanto os americanos trabalham em sentido contrário, alertando para a “ameaça” que pode representar para a soberania nacional uma empresa estatal da China na área de dados.  
Em resumo, há temor de que a China, hoje segunda maior potência, possa usar o 5G para não só coletar, mas manipular dados de defesa, comunicações, energia elétrica, estradas, controle aéreo e florestas. Além de reunir o maior banco de dados de indivíduos do mundo. O governo chinês, que não é exatamente uma democracia, teria o controle de algo preciosíssimo nas disputas entre potências: informação. E, pior: poderia ter o controle remoto do funcionamento de todo o País. Com um botão, desligar uma hidrelétrica.  
Evidentemente, nenhum dos dois lados é santo e os Estados Unidos não estão preocupados em preservar dados e bases estratégicas brasileiros, mas sim sua própria hegemonia. Aliás, faz pouco tempo, uns cinco anos, que se descobriu que a NSA, agência de espionagem americana, grampeava a presidente Dilma Rousseff, 29 membros do governo e estatais, como a Petrobrás.  
Já que o presidente Jair Bolsonaro vai aos EUA em março, é bom lembrar que a diplomacia, a economia e a agricultura brasileiras têm recolocado no eixo as relações com a China, que haviam sido ameaçadas pelo presidente, mas a prioridade das prioridades é a parceria com os EUA, ou melhor, com o governo Donald Trump.  
Essa parceria vai bem, com pelo menos dez pontos prioritários. Trump lota aviões de brasileiros ilegais (que aumentaram entre 700% e 1000% em 2019) para despejá-los de volta, mas Bolsonaro lava as mãos e até estimula, considerando que esse é um problema menor. Quem arrisca que se vire. O importante é o interesse nacional.  
Brasil e EUA, que se unem a regimes como o da Hungria Polônia tendo como pretexto uma tal de “Aliança pela Liberdade Religiosa”, estão na verdade construindo um eixo internacional ideológico, de direita. E isso serve de liga para uma aproximação bilateral crescente em comércio, investimentos, energia, uso da Base de Alcântara (MA), pesquisa, tecnologia, cooperação em diferentes áreas, inclusive defesa, tão cara a Bolsonaro.  
E é precisamente aí, nesse pacote, que o governo americano tem mandado um recado nada sutil para o brasileiro: as negociações e acordos vão de vento em popa, mas uma eventual adesão do Brasil à tecnologia 5G da China terá consequências e poderá prejudicar a aproximação, principalmente na área de defesa.  
As guerras já foram com soldados em terra, passaram a ser por mísseis, resvalaram para uma fase nuclear e agora caminham para ser mais sofisticadas. A nova guerra é digital, pelo controle do mundo via dados. Não tem jeito: o 5G veio para ficar e, assim como todos os países, o Brasil vai ter que optar pelo modelo que melhor lhe convier, estrategicamente. Mas todo cuidado é pouco na hora de decidir. Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. 

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