A
LEI DA HISTÓRIA
Milton
Simon Pires
Dias atrás escrevi que não sabia o que era a
História. Afirmei também que chegava a ver, nas Teorias de Conspiração, uma
oportunidade (talvez a única) de oposição à ideia de entender a História como
um “gigantesco mecanismo”, uma máquina com leis e regras a serem descobertas.
Nesse sentido, imagino que historiadores seriam uma espécie de relojoeiros do
tempo...pessoas com a habilidade (ausente em todas as outras) de definir o que
é e o que não é História...
Pois bem, meus amigos - nosso problema acabou. O Projeto de Lei
4699/2012 (denominação atual), do Senador Paulo Paim (PT), que propõe regular o
exercício da profissão de historiador no Brasil, entrou em tramitação de
urgência em Brasília em junho recente, o que fez com que o debate a seu
respeito ganhasse novo fôlego nos últimos dois meses. Agora, no Brasil, ninguém
mais vai “especular” sobre o que é a história. Chega de imaginar a história
como luta de classes, repressão ou vontade de poder. Os professores de
história, para que tenham esse título, hão de sujeitar-se a lei. Vejam que não
é muito importante, para o partido do autor da lei, uma regulamentação
específica para definir quem pode atender pessoas doentes, mas não há dúvida
nenhuma de que “contar oficialmente como a pessoa foi atendida; tem sim!” Nesse
sentido, imagino que o PT vai conseguir o que nenhum partido comunista do mundo
conseguiu – criar uma lei específica para definir quem pode ou não ensinar a
todo um país aquilo que é ou não é (na sua opinião) a verdade histórica. Teria
isso alguma relação com a “Comissão da Verdade”?? Haveria no Brasil algum
historiador criando problema para a
companheirada?? Imagino que não! Isso, afinal de contas, só poderia ser
delírio de gente conservadora e da direita como eu, não é meus amigos?
"Those who cannot remember the past, are
condemned to repeat it". Quando George Santayana disse isso eu tenho
certeza que ele não imaginava que alguém escreveria uma lei definindo a
exclusividade para que somente alguns pudessem dizer o que é – exatamente – o
passado a ser lembrado. Caso a lei existisse no tempo de Santayana, sua frase
seria desnecessária pois ficaria evidente
a característica mais específica, mais definidora, mais covarde e
nojenta de um regime totalitário como é o petista no Brasil - a apropriação da
noção de tempo e de História. O Partido-Religião, nascido em 1980, veio para
encantar a todos com a sua noção daquilo que poderia ser o futuro. Essa etapa
já terminou; agora a história nacional vai ser recontada pois o PT vai
reescrever o passado aparelhando todo o ensino de História no país com seus
malditos militantes. Tenho certeza que nessa altura do artigo alguns estão
pensando - “Mas Milton, isso já não era assim há muito tempo?” - Resposta –
claro que era! A diferença é que não havia ainda uma lei definindo essa
barbaridade como parece que vai haver agora. Dizer que em 1964 houve uma
contrarrevolução ao movimento comunista no Brasil ainda seria uma possibilidade
à medida que dentre os professores das escolas e das universidades pudesse
haver a chance de alguém dizer isso e ser reconhecido, oficialmente, como
historiador. Agora essa chance vai ser nula! Só vai receber essa titulação quem
o Partido-religião quer! Será, meu Deus, que ninguém consegue ver isso?
Meus amigos, o PT é composto da ralé da escória
da sociedade e principalmente da intelectualidade brasileira, mas por favor não
o subestimem. Essa gente sabe que nem o Olavo de Carvalho nem a Marilena Chauí
nem ninguém nesse mundo pode dizer exatamente o que é a História... que esse
é um tema aberto uma questão cuja
indefinição define a própria beleza, a honestidade e o compromisso com a
verdade da profissão de historiador. Desse compromisso resulta uma luta
constante por saber mais sobre aquilo
que aconteceu e que pode nos oferecer uma vida mais plena e rica em liberdade.
É mudando a verdade sobre o passado que o PT
quer construir seu futuro diabólico! É tornando-se senhor da verdade e
proprietário privado do tempo que ele vai fazer isso pois há de dizer quem no
Brasil pode pensar, falar e escrever
sobre o assunto.
Sem ter a mínima noção daquilo que venha a ser a
História, os malditos petistas resolveram criar uma lei que determina quem pode
falar sobre ela – inventaram a Lei da História!
Porto Alegre, 4 de setembro de 2013.
2 comentários:
E por falar em PT,
http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/direto-ao-ponto/a-vigarice-do-mes-lula-culpa-o-fim-do-imposto-do-cheque-pelo-fracasso-do-sistema-de-saude-que-achava-perto-da-perfeicao/
Novas propostas da ANPUH e de outras associações de redação para o projeto de lei de regulamentação da profissão de historiador:
http://profissao-historiador.blogspot.com.br/2013/09/reuniao-realizada-no-dia-0309-para.html
Realizou-se na tarde do dia 03 de setembro de 2013, na sede da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em São Paulo, uma reunião com a participação de diversas associações, para discutir o projeto de lei 4699/2012 de regulamentação da profissão do historiador.
Há três propostas de mudanças do projeto de lei, apresentadas nestes links:
http://profissao-historiador.blogspot.com.br/2013/09/anpuh-propoe-mudancas-do-projeto-de-lei.html
http://profissao-historiador.blogspot.com.br/2013/09/sbhc-propoe-emendas-ao-projeto-de-lei.html
http://profissao-historiador.blogspot.com.br/2013/09/sugestao-de-emenda-substitutiva-ao.html
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