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Marcelo LourençoColunista da EPL Comunicação
Hoje o convidado do EPL Entrevista é o economista Rodrigo Constantino. Formado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Constantino é presidente do Instituto Liberal e membro-fundador do Instituto Millenium. Com um blog no site de Veja e uma coluna quinzenal no jornal O Globo, ele se tornou um grande expoente da defesa do liberalismo no país. Além disso, está lançando seu oitavo livro: “Esquerda Caviar”.
Você escreveu um livro chamado “Economia do indivíduo: o legado da Escola Austríaca” e também é conhecido pela sua defesa do livre mercado, se baseando na maioria das vezes nos economistas austríacos. Onde você conheceu a EA?
No trabalho. Um dos sócios da gestora em que trabalhava era Paulo Guedes, doutor pela Universidade de Chicago. Foi ele quem me recomendou a leitura de Mises e Hayek. Comecei por “The Constitution of Liberty”, de Hayek, e fiquei encantado. A partir de então, fui descobrindo os demais autores e lendo, tanto os mais antigos (Menger e Bohm-Bawerk), como os mais novos. Eu já era um liberal, pois nunca fui outra coisa. Mas o contato com a EA me deu uma base e uma visão diferentes.
Há não muito tempo, você passou a se considerar um conservador, o que desagradou muitos, mas rendeu a admiração de outros. De onde partiu essa mudança?
Eu disse isso, mas não sei se sou um conservador, e tenho receio de rótulos. Ainda me considero um liberal, mas há diferentes tipos de liberais. Sempre fui mais cético, avesso às utopias. E isso me aproxima de uma linha mais conservadora, que rejeita revoluções, soluções mágicas ou definitivas. Não sei dizer o que me trouxe aqui, mas diria, para irritar um pouco mais os colegas libertários radicais, que foi maturidade. Uma filha pré-adolescente também te faz enxergar o mundo com mais atenção no que diz respeito aos valores morais e o entorno. Boas leituras também me ajudaram, como Theodore Dalrymple, Kirk, João Pereira Coutinho, entre outros. O que significa ser um liberal com tendências um pouco mais conservadoras? Que você irá rejeitar revoluções, que será cético contra utopias, que não pensará que basta acabar com o estado que tudo será uma maravilha, que certas tradições são fundamentais para preservar nossas liberdades, que não existe algo como “liberdade plena” na vida em sociedade, que a razão é limitada e devemos tomar muito cuidado com a “arrogância fatal”, de que falava Hayek.
O seu novo livro, Esquerda Caviar, é caracterizado por Luiz Felipe Pondé como “uma pérola em meio ao mar de obviedades e mentiras comuns na literatura ‘intelectual’ nacional.” Comente sobre sua nova obra.
Considero meu melhor livro de longe, e também o mais conservador. É um ataque fulminante à hipocrisia daqueles que valorizam mais as aparências do que os resultados concretos de suas ideias. Querem apenas monopolizar as boas intenções e buscar o regozijo pessoal dessa sensação de superioridade moral proveniente apenas dos discursos retóricos. Os chamamos de “posers” nas redes sociais. Amam as causas nobres, desde que não precisem gastar duas calorias para defendê-las, e que não precisem realmente viver de acordo com elas na prática. O capítulo que mais vai incomodar alguns libertários é justamente aquele que fala de uma postura que os aproxima da esquerda: o pacifismo. Geopolítica não é para românticos ou inocentes, que habitam o fantástico mundo das torres de marfim. Guerra se vence ou se perde. Não dá para ser contra tudo e todos que estão aí, sem tomar algum partido, quando a própria sobrevivência está em jogo.
Um detalhe importante: conforme dito acima, Esquerda Caviar é o meu livro mais conservador, mas não acho que um liberal vá discordar de muita coisa. Posso ter carregado mais no ataque aos que tentam degradar valores morais e culturais, mas compreendo que isso não precisa ser bandeira exclusiva dos conservadores. Liberal não tem que ser sociopata. O entorno tem influência em nossas vidas. Se os valores estéticos desaparecem, isso tem impacto nos valores éticos também. A ditadura do politicamente correto é duramente condenada no livro, e isso deveria ser do interesse dos liberais e libertários também. Os movimentos coletivistas racial, sexual e de gênero também podem e devem ser combatidos pelos liberais. Não é atacar o gay, por exemplo, mas o movimento gay. O gay, enquanto indivíduo, merece respeito dos liberais. O movimento não. São coisas bem diferentes.
Recentemente você assumiu a presidência do Instituto Liberal, uma organização que fora muito influente quando estava sob o comando de seu fundador, Donald Stewart Jr., mas que nos últimos anos esteve pouco atuante. Como você, agora na presidência, pretende continuar o grande legado desse Instituto?
Nosso foco principal tem sido o blog, em uma linguagem dinâmica voltada para um público mais jovem. As redes sociais são nossa grande oportunidade. Com custo reduzido, podemos ter um alcance maior. O IL se tornou uma espécie de “vigilante da mídia”, trazendo alguns textos diários sobre temas do cotidiano, sempre com uma lupa mais liberal e crítica, pois a grande imprensa tende a ser mais de esquerda. Palestras têm sido realizadas pelo Brasil também. Na frente, queremos voltar a publicar livros, talvez uma revista eletrônica, ter inserção na rádio e na TV. O principal é divulgar os valores liberais. Os instrumentos podem variar.
Há dois meses você iniciou o seu blog no site de Veja, que conta também com outros blogueiros, como Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes e Caio Blinder. Como está sendo essa experiência?
Fantástica. Adoro o que faço, e a vantagem do blog é sua informalidade. É um bate-papo com meus leitores, e isso é muito legal. Só que nunca trabalhei tanto na vida. Não há horário. A qualquer momento posso escrever um texto novo. A linha divisória entre semana e fim de semana desaparece um pouco. E assunto é o que não falta nesse país. Resultado: tenho escrito uma média de 5 a 10 textos por dia! Mas a reação tem sido positiva. O blog nasceu com 850 mil visitas no primeiro mês, e repetiu o montante no segundo. É uma audiência respeitável, e uma incrível oportunidade para divulgar as ideias liberais. Quando que os austríacos teriam tanto espaço assim no “mainstream”? Ventos de mudança? Espero.
O senhor criou algumas desavenças com os libertários/anarcocapitalistas, aos quais tece muitas críticas. Em seu ver, qual o grande problema nos admiradores de Rothbard e Hoppe?
A intolerância. Quando o sujeito pensa que descobriu uma pedra filosofal, uma receita mágica que responde tudo, um critério ou um único valor ético absoluto que servirá de base para definir todos os aspectos da vida em sociedade, ele passa a ser intolerante com as divergências, com a pluralidade. A vida é mais complexa que isso, conta com valores em choque, muitas vezes incomensuráveis, em conflito insolúvel. Há apenas “trade-offs” nesses casos, não soluções. Essa deve ser, em minha opinião, a postura realmente liberal. Mas alguns “ancaps” não aceitam isso, pois eles “sabem” o que é certo, em todos os casos, sempre, com base nessa receita de bolo simples (simplista). É limitado demais, até infantil. E essas pessoas acabam flertando com um radicalismo que me parece incompatível com a postura mais humilde do liberalismo.
Quais são os pensadores que melhor representam o seu pensamento político e econômico como um todo?
Difícil dizer, mas poderia colocar uma lista de importantes influências: Thomas Sowell, Isaiah Berlin, Ludwig von Mises, Hayek, Ayn Rand, Theodore Dalrymple, Mario Vargas Llosa, Karl Popper, Milton Friedman, Nelson Rodrigues, Roberto Campos e Luiz Felipe Pondé, para incluir autores brasileiros.
Em sua opinião, qual a importância do EPL, uma redes estudantil que busca a propagação das ideias de liberdade na universidade?
A importância é enorme. Acredito muito no poder das ideias, e acho que temos que mudar a mentalidade das pessoas, levar a mensagem liberal para mais gente. Isso é fundamental para mudar os rumos do país: investir em ideias! Sem isso, seremos prisioneiros dos mesmos equívocos ideológicos que têm atrasado nosso país. Os jovens precisam ter acesso a outra visão além da marxista ou keynesiana predominantes nas universidades.
Considerações finais do entrevistado.
Agradeço pela oportunidade e pelo espaço, e gostaria de finalizar fazendo um apelo: não se fechem em sistemas completos, que possuem todas as respostas para a complexa vida em sociedade. E também não leiam apenas aqueles autores que reforçam as crenças pré-estabelecidas. Inclusive, acho muito saudável ler coisas fora do tema específico, como literatura ou psicologia (Freud). Isso dá uma abrangência maior, um escopo de visão mais robusto para apreender o mistério da vida humana. Devemos ter nossas convicções, após bastante reflexão, mas sempre buscar entrar em contato com o contraditório para mudar ou fortalecer nosso ponto de vista. Mantenham a cabeça aberta. Mas como diria Chesterton, também não tão aberta a ponto do cérebro cair fora dela!
EPL Entrevista é uma coluna publicada todos os sábados sob a condução do estudante Marcelo Lourenço, da equipe EPL Comunicação.
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